O Papel Das Representações Sociais Na Construção Da Identidade Docente
O Papel Das Representações Sociais Na Construção Da Identidade Docente
O Papel Das Representações Sociais Na Construção Da Identidade Docente
Mayara Aparecida Pereira Menezes, Augusta Boa Sorte Oliveira Klebis, Raimunda Abou Gebran
RESUMO
O presente artigo se constitui parte de uma pesquisa intitulada “Ser professor no século XXI: as
representações sociais de alunos ingressantes e concluintes de um curso de pedagogia”, com apoio do
PIBIC/CNPq/UNOESTE. Trata-se, nessa primeira fase, de uma pesquisa bibliográfica que se propõe trazer
para o debate o papel das representações sociais na construção da identidade docente e de como a
formação inicial pode contribuir nesse processo. Faz-se necessário discutir a influência das representações
sociais no processo de construção da identidade docente, devido ao papel que estas exercem na orientação
de condutas e de práticas sociais. Ademais, o estudo das representações sociais pode ser um caminho
promissor para atingir os propósitos educacionais. Pretende-se assim, ressaltar a importância da formação
inicial para a construção da identidade e profissionalidade docente, de modo a possibilitar um diálogo
permanente com a realidade do espaço escolar, em especial da escola básica pública.
Palavras-Chave: Formação de Professores. Identidade Docente. Representações Sociais. Formação Inicial
ABSTRACT
This article is part of a research entitled "Being a teacher in the XXI century: the social representations of
students entering and graduating from a course in pedagogy", with support from PIBIC / CNPq / UNOESTE.
It is in this first phase, a literature that aims to bring to the debate the role of social representations in the
construction of teacher identity and how the initial training can contribute to this process. It is necessary to
discuss the influence of social representations in the teaching identity construction process, due to the role
they play in guiding behavior and social practices. Furthermore, the study of social representations may be
a promising way to achieve educational purposes. The aim is to, emphasize the importance of initial
training for the construction of identity and the teaching profession in order to facilitate an ongoing
dialogue with the reality of the school environment, in particular the basic school.
Keywords: Teacher Education. Teacher identity. Social Representations. Initial formation
Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 14, n. 1, p.86-96 jan/mar 2017. DOI: 10.5747/ch.2017.v14.n1.h297
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mudanças ocorridas no decorrer do tempo, e de objeto. Para Jodelet (1986) apud Guimarães
diversas gerações. Nesta perspectiva: (2005, p. 38), na representação, existem cinco
todos os sistemas de características essenciais:
classificação, todas as Sempre é a
imagens e todas as representação de um
descrições que circulam objeto;
dentro de uma sociedade, Tem um caráter de
mesmo as descrições imagem e a propriedade
cientificas , implica um elo de poder modificar o
de prévios sistemas e sensível e a ideia, a
imagens, uma percepção e o conceito;
estratificação na memória Tem um caráter
coletiva e uma reprodução simbólico e significante;
na linguagem que, Tem um caráter
invariavelmente, reflete construtivo;
um conhecimento anterior Tem um caráter
e que quebra as amarras autônomo e criativo;
da informação presente
(2015, p. 37). Segundo Moscovici (2015), há dois
processos fundamentais que mostram como o
Por serem elaboradas e compartilhadas social transforma o conhecimento em
socialmente, as representações exercem forte representação e como esta, por sua vez,
influência na forma como os grupos sociais e transforma o social. Através de tais processos,
também os indivíduos observam a realidade, se emergem as representações sociais. São eles, a
comunicam e agem (GUIMARÃES, 2005). As ancoragem e a objetivação.
representações exprimem como um grupo de O primeiro mecanismo
pessoas interagem com um determinado objeto tenta ancorar ideias
social, como direcionam e orientam a estranhas, reduzi-las a
comunicação e as relações com o mundo e com categorias e imagens
os indivíduos. Ademais, oferecem referencias comuns, colocá-las em um
para a interpretar a realidade, além de favorecer contexto familiar [...] O
a construção de valores, necessidades, interesses objetivo do segundo
mecanismo é objetivá-los,
de um mesmo grupo.
isto é, transformar algo
Conforme a autora, grupos diferentes abstrato em algo quase
interpretam um mesmo objeto segundo diversas concreto, transferir o que
perspectivas, cada qual à sua maneira. Nesse está na mente em algo
sentido, em cada grupo, “o objeto apreendido que exista no mundo físico
passa a fazer parte das conversas e aparece na (MOSCOVICI, 2015, p. 60-
forma de frases, visões, jargões, ditados, 61)
preconceitos, estereótipos, soluções, etc, tendo
um efeito de realidade para o indivíduo” A ancoragem “é o processo que
(GUIMARÃES, 2005, p. 35). transforma algo estranho e perturbador, que nos
De acordo com Moscovici (2015) as intriga, em nosso sistema particular de categorias
representações não são criadas por um indivíduo e compara com um paradigma de uma categoria
de forma isolada, as pessoas e os grupos vão que nós pensamos ser apropriada” (MOSCOVICI,
criando as representações no decorrer da 2015, p. 61). De acordo com o autor, ancorar é
convivência e da comunicação. Após criadas, tais classificar, dar nomes às coisas. Algo sem
representações ganham vida própria, circulam, se classificação e sem nome é considerado, pelas
entrecruzam e possibilitam o surgimento de nossas estruturas de pensamento, estranhas e
novas representações, enquanto as velhas inexistentes. Nós apresentamos certa resistência,
desaparecem. distanciamento do que não é familiar. Somente a
As representações orientam as ações, partir do momento em que avaliamos,
enquanto reconstroem os componentes do meio categorizamos dado objeto, podemos reproduzi-
no qual o comportamento surge, incluindo-o a lo como uma cópia de um modelo que
uma série de significações em que pertence o consideramos familiar. Assim, “a representação é
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fundamentalmente, um sistema de classificação e que nós nos percebemos, nos vemos e queremos
de denotação, de alocação de categorias e que nos vejam.
nomes” (p.62). Em síntese, dois aspectos De acordo com Pimenta (1997, p. 6), “a
importantes da ancoragem das representações identidade não é um dado
são classificar e atribuir nomes. imutável. Nem externo, que possa ser adquirido.
Segundo Guimarães, o processo de Mas, é um processo de construção do sujeito
ancoragem configura-se pela “constituição de historicamente situado”. Para a autora:
uma rede de significações em torno do objeto, Uma identidade
relacionando-o a valores e práticas sociais. Trata- profissional se constrói,
se da inserção de um conhecimento em um pois, a partir da
pensamento já elaborado” (2005, p. 40). Para a significação social da
profissão; da revisão
autora, a ancoragem é o processo de atribuição
constante dos significados
de sentido, deste modo, os valores sociais sociais da profissão; da
influenciam fortemente na criação dessa rede de revisão das tradições.
significados ao redor do objeto. Como, também, da
Articulando-se diretamente com a reafirmação de práticas
objetivação, a ancoragem, articula três funções consagradas
básicas: a função cognitiva de integração das culturalmente e que
novidades, função de interpretação da realidade permanecem
e orientação de condutas e relações sociais significativas. Práticas que
(JODELET apud GUIMARÃES, 2005, p.40). resistem a inovações,
porque estão prenhes de
Adicionalmente, “a objetivação une a
saberes válidos às
ideia de não familiaridade com a de realidade, necessidades da realidade.
torna-se verdadeira essência da realidade” Do confronto entre as
(MOSCOVICI, 2015, p. 71). O autor aponta que teorias e as práticas, da
objetivar é descobrir a qualidade exata de uma análise sistemática das
ideia; é reproduzir um conceito em uma imagem. práticas à luz das teorias
De acordo com Guimarães, o processo de existentes, da construção
objetivação caracteriza-se "pela transformação de novas teorias, constrói-
de conceitos e ideias para esquemas ou imagens se, também, pelo
concretas, ou seja, trata-se da construção formal significado que cada
professor, enquanto ator e
de um conhecimento” (2005, p.39),
autor confere à atividade
transformando aquilo que é abstrato em algo docente no seu cotidiano a
concreto para o sujeito. partir de seus valores, de
seu modo de situar-se no
3 Identidade e representações sobre a profissão mundo, de sua história de
docente vida, de suas
representações, de seus
Atualmente evidencia-se no cenário saberes, de suas angústias
acadêmico, na sociedade e na mídia, uma grande e anseios, do sentido que
discussão a respeito da identidade docente. Uma tem em sua vida: o ser
professor (PIMENTA, 1997,
vez que entender o processo de constituição da
p. 7).
identidade docente é uma tarefa muito
complexa, e que passa pela compreensão de que
Nesta perspectiva, é necessário entender
ela foi sendo constituída por múltiplos contextos:
o conceito de identidade profissional como uma
sociais, históricos, culturais, políticos, dentre
realidade, por meio do qual espera-se que o
outros. Deste modo, é necessário considerar que
profissional docente evolua e se desenvolva,
esse processo de identificação com uma profissão
tanto pessoal como coletivamente. Há que se
por um determinado grupo, é um fenômeno
considerar, portanto, que identidade é um algo
histórico, portanto, como tal está sujeito a
que se desenvolve durante toda a vida, e que
transformações.
ocorre no campo da intersubjetividade,
Para Marcelo (2009), a reflexão sobre
constituindo-se como um processo em evolução,
identidade profissional docente é muito
relevante, pois, é por meio de nossa identidade,
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pelos diversos segmentos da sociedade civil como DUBAR, C. A socialização: construção das
pelo poder público. identidades sociais e profissionais. São Paulo:
Diante disso, é possível afirmar que Martins Fontes, 2005.
necessitamos políticas públicas sérias e efetivas
para que a formação inicial, aliada à formação DUVEEN, Gerard. Introdução: O poder das ideias.
continuada do profissional docente, assegure o In: MOSCOVICI, Serge. Representações sociais:
desenvolvimento de competências e saberes que investigações em psicologia social. 11. ed.
irão necessitar em sua trajetória profissional, Petrópolis: RJ: Vozes, 2015.
considerando o grau de complexidade dos
desafios que, certamente, irão se deparar. Há que TREVIZAN, Zizi; GEBRAN, R. A.. As representações
se considerar que a sociedade carece de bons sociais na construção da identidade profissional e
professores, cuja prática profissional esteja de do trabalho docente. Revista Acta Scientiarum.
acordo com os padrões profissionais de Education, 2017. No prelo.
excelência, capazes de garantir o compromisso
em relação ao direito que os alunos têm de GUIMARÃES, C. M. Aplicabilidade das
aprender com qualidade (MARCELO, 2009). Representações Sociais ao Estudo de Fenômenos
Além disso, cada setor sociocultural tem Educacionais - mudar as práticas de formação
um sistema de representação sobre os diferentes para mudar as práticas educativas do profissional
aspectos da vida. Em nosso meio de educação infantil. In: GUIMARÃES, C. M. (org)
socioprofissional e acadêmico, não é diferente, Perspectivas para educação infantil. Araraquara:
também construímos nossas próprias Junqueira & Marin, 2005.
representações e por meio delas, construímos as
práticas e impomos aos alunos formas de IMBERNÓN, F. Formação permanente do
aprendizagem, partindo do pressuposto que professorado: novas tendências. São Paulo:
sabemos o que é melhor para eles. No entanto, é Cortez, 2009.
fundamental considerar as representações sociais
dos nossos alunos, de suas famílias e as nossas JODELET, Denise. Representações Sociais: um
próprias, sobre os conhecimentos e valores domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org.). As
veiculados na escola, no sentido de superar os representações sociais. Ed. UERJ. Rio de Janeiro,
problemas educacionais e caminharmos para 2001. Disponível em:
uma maior valorização docente. https://pt.scribd.com/doc/61566294/Representa
Desta forma, um dos grandes desafios coes-Sociais-Cap-01-Jodelet. Acesso em: 19 de
que se coloca hoje é tornar os cursos de abr. 2015.
formação inicial um espaço propício à
constituição de uma identidade docente MARCELO, Carlos. A identidade docente:
transformadora, ou seja, que assuma o constantes e desafios. Revista Formação Docente
compromisso de pertencimento a uma profissão, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 109-131, ago./dez.
que almeja a emancipação social e humana de 2009. Disponível em
todos os alunos. http://formacaodocente.autenticaeditora.com.Tr
adução: Cristina Antunes. Acesso em: 06 de abr.
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representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P. e MAZZOTTI, Alda Judith Alves. Representações da
OLIVEIRA, D.C. Estudos interdisciplinares sobre identidade docente: uma contribuição para a
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Educ., Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 579-594,
OLIVEIRA, D. C. de (Orgs.) Estudos out./dez. 2007.
interdisciplinares de representação social. 2 ed.
Goiânia: AB, 2000. p. 27-38. MAZZOTTI, Alda Judith Alves. Representações
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CIAMPA, A. da C. A estória do Severino e a educação. Revista Múltiplas Leituras, v.1, n. 1, p.
história da Severina. São Paulo: Brasiliense, 2007. 18-43, jan./jun. 2008. Disponível em:
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