Texto A Iniciação A Vida Cristã

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A iniciação à vida cristã

Vivemos um tempo de mudança de época bastante agitado. De um lado se faz presente grandes avanços
em vários setores, a exemplo do grande desenvolvimento tecnológico, o maior acesso das pessoas aos
bens de subsistência, a ampliação dos meios de comunicação; mediações e estratégias de comunicação; a
ciberteologia, o cristianismo em tempos de redes sociais. Por outro lado, percebe-se o crescimento do
individualismo e as consequentes dificuldades nos relacionamentos. Em relação ao campo religioso, a
situação não é menos confusa. Existe uma grande busca pelo sagrado, mas de forma desordenada e
desorientada, o que não contribui para a formação de uma identidade religiosa, fundamentada em
autêntica experiência de fé, e muito menos sobre a pertença a uma comunidade.
É nesse contexto atual que, enquanto cristãos, ou ainda em busca do sentido de ser cristão, somos todos
convidados para experimentar a beleza e a grandeza de nos fazermos discípulas e discípulos missionários
do Cristo a partir das orientações do Papa Francisco e das cinco urgências apresentadas nas Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil:
1. IGREJA EM ESTADO PERMANENTE DE MISSÃO
2. IGREJA CASA DA INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ
3. IGREJA LUGAR DE ANIMAÇÃO BÍBLICA DA VIDA E DA PASTORAL
4. IGREJA COMUNIDADE DE COMUNIDADES
5. IGREJA À SERVIÇO DA VIDA PLENA PARA TODOS
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil concebe a Igreja em estado permanente de missão. Atentos a
esse “estado de missão” e às urgências apresentadas vamos assumindo a caminhada da Iniciação Cristã na
tentativa de renovar a vida comunitária e nela despertar o caráter missionário. Esse trabalho implica a
realização do anúncio e reanúncio de Jesus Cristo, possibilitando aos que não o conhecem ou que dele se
afastaram ouvir o núcleo da Boa-Nova da Salvação.
Na busca de novos caminhos para a evangelização, a Igreja nos convida a retomarmos as experiências das
comunidades no período pós-apostólico, quando, aos poucos, ela foi estruturando um processo de
iniciação de novos membros a uma nova identidade, como cristãos inseridos na comunidade eclesial,
prontos a celebrar a fé e a assumir a missão. Tal processo de iniciação, mais tarde, foi denominado
Catecumenato. Sua finalidade era possibilitar, por meio de um itinerário específico de iniciação, a
preparação, prioritariamente de pessoas adultas que tinham manifestado o desejo de assumir a fé da
Igreja. Ao longo desse itinerário catecumenal, havia uma série de ensinamentos, um conjunto de práticas
litúrgicas (imposição das mãos, orações sobre os catecúmenos, entregas simbólicas etc.).
O tempo do catecumenato e seus ritos, muitas vezes prolongados por vários anos, tinham como objetivo a
conversão e o amadurecimento da fé. Mediante uma formação adequada para a vida cristã integral, os
catecúmenos (os não batizados) são iniciados no mistério da salvação e na prática dos costumes
evangélicos, a partir de ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas e introduzidos na vida da fé, da
liturgia e da caridade do povo de Deus. O conteúdo de fé oferecido instruía para esclarecer a fé, dirigir o
coração para Deus, incentivar a participação nos mistérios litúrgicos, animar para o apostolado e orientar
toda a vida segundo o Espírito de Cristo.
O Catecumenato hoje
Aqui no Brasil, atualmente, temos várias propostas de conteúdo doutrinal para o Tempo do Catecumenato
e que conjugam temas catequéticos e tempos litúrgicos. Nas sucessivas apresentações de documentos que
a Igreja apresenta sobre o assunto, a partir do Concílio Vaticano Segundo, encontramos apontamentos
sobre a necessidade de uma revisão dos processos iniciáticos de crianças e adultos.
O decreto Ad Gentes (AG), sobre a Atividade Missionária da Igreja, pontua: “Aqueles que receberam de
Deus por meio da Igreja a fé em Cristo, sejam admitidos ao catecumenato, mediante cerimônias litúrgicas.
O catecumenato não é mera exposição de dogmas e preceitos, mas uma formação e uma aprendizagem de
toda a vida cristã; prolongada de modo conveniente, por cujo meio os discípulos se unem com Cristo seu
Mestre. Por conseguinte, sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério da salvação, na
prática dos costumes evangélicos, e com ritos sagrados, a celebrar em tempos sucessivos, sejam
introduzidos na vida da fé, da liturgia e da caridade do Povo de Deus. Em seguida, libertos do poder das
trevas pelos sacramentos da Iniciação cristã, mortos com Cristo e com Ele sepultados e ressuscitados,
recebem o Espírito de adoção de filhos e celebram, com todo o Povo de Deus, o memorial da morte e
ressurreição do Senhor” (n. 14).
O documento 107 da CNBB, “Iniciação à Vida Cristã: itinerário para formar discípulos missionários”, foi
publicado como resultado da 55ª Assembleia Geral dos nossos bispos, em maio de 2017. Sua justificativa
foi muito clara: “Sabemos que o processo de Iniciação à Vida Cristã requer novas disposições pastorais”.
São necessárias perseverança, docilidade à voz do Espírito, sensibilidade aos sinais dos tempos, escolhas
corajosas e paciência, pois se trata de um novo paradigma. Foi este o caminho percorrido por
evangelizadores como Paulo, os primeiros cristãos e muitos missionários (CNBB, doc. 107, n.9).
O processo de Iniciação à Vida Cristã
O processo de iniciação à vida cristã é muito mais exigente e comprometedor do que a tradicional
“preparação para os sacramentos” que fazemos atualmente como catequese, pois estes são instrumentos-
sinais que apontam para algo maior que eles. No caminho de preparação temos uma meta – o encontro
com Deus, que não vai acontecer no fim, mas que vai acontecendo ao longo da caminhada. Vamos fazendo
um caminho de pertencimento. Desde o princípio do caminho é Cristo que desperta e reveste o itinerante
de vida nova constituindo-o para o seguimento numa vida em conformidade com a Dele. Assim, aquele
com o qual nós vamos nos encontrar definitivamente, já está no meio de nós!
Ser iniciado na vida de Cristo, conformar-se a Ele, ser dele revestido, desperta a pessoa para a
missionariedade. O anúncio da vida do Cristo, ou seja, o Querígma, nos forma para a vida cristã, diz o Papa
Francisco, acrescentando: vai fazendo carne e permitindo-nos compreender o sentido dos vários temas que
se desenvolve na catequese. É vivendo o anúncio de cada dia que encontramos resposta ao anseio de
infinito que existe em todo coração humano.
A Iniciação à Vida Cristã, bem como a sua celebração eclesial nos sacramentos, não é apresentada como
uma necessidade jurídica ou meramente intelectual, mas, antes de tudo, como uma experiência de fé
humana, que busca em Deus a razão da própria caminhada: “É o encontro pessoal com Jesus Cristo, e não
o simples conhecimento de doutrina, que vai sustentar e fazer crescer a fé que vai ser a grande fonte
animadora de nossa vida” (n. 164).
Entendido o processo de Iniciação Cristã como catequese de inspiração catecumenal, as dioceses devem se
colocar abertas a essa proposta de renovação, num trabalho catequético que nos leve a fazer uma
caminhada que seja profundamente marcada e fecundada pela Inspiração catecumenal. Uma catequese
que tenha por finalidade a maturidade da fé, para que como São Paulo possamos dizer “já não sou eu mais
que vivo; é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,19).

Por: Victo Leal

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