Dissertação - Alice (Processual)
Dissertação - Alice (Processual)
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Chamamento ao processo
O chamamento ao processo, definido por Moacyr Amaral Santos (xxxx, p. 36) como:
“o ato pelo qual o réu, citado como devedor, chama ao processo o devedor principal, ou os
corresponsáveis ou os coobrigados solidários para virem responder pelas suas respectivas
obrigações”, é disciplinado pelo Código de Processo Civil de 2015 nos artigos 130 a 132
como uma das formas de intervenção de terceiros ao processo. Apesar de, por vezes, se
aproximar da denunciação da lide, é vantajoso - para a maior compreensão da matéria -
mencionar três diferenças principais existentes entre as modalidades, sendo elas: 1. o
chamamento ao processo é feito a partir da inserção, na ação existente, dos réus em
conformidade com as hipóteses legais, enquanto na denunciação uma outra ação é realizada;
2. logo, a primeira modalidade conta com apenas uma relação jurídica processual, na medida
em que a segunda conta com duas relações jurídicas; 3. por fim, o chamamento ao processo só
pode ser realizado pela parte passiva do processo, diferentemente da denunciação à lide que
pode ser feita por ambas as partes.
Logo, com a finalidade de “favorecer o devedor que está sendo acionado, porque
amplia a demanda, para permitir a condenação também dos demais devedores, além de lhe
fornecer, no mesmo processo, título executivo para cobrar deles aquilo que pagar” (BARBI,
1999, p. 359), bem como assegurar a economia processual, haja vista a existência de uma
única ação, e a não ocorrência de decisões contraditórias, o chamamento ao processo cria uma
relação litisconsorcial passiva entre os réus, recaindo sobre estes todos os pressupostos do
litisconsórcio como o efeito da coisa julgada material.
(...) em primeiro lugar, a relação de direito ‘material’ deve pôr o chamado também
como devedor (em caráter principal, ou em caráter subsidiário) ao mesmo credor, o
qual na demanda figura como autor. Em segundo lugar, é necessário que, em face da
relação de direito ‘material, deduzida em juízo, o pagamento da dívida pelo
'chamante' ao autor, em cumprimento da sentença condenatória, confira ao chamante
o direito de, no mesmo processo, exigir o seu reembolso (total ou parcial) pelo
chamado. (CARNEIRO, 2006, p. 161)
(...) cumpre lembrar que, caso o chamante indique o inciso errado, não será
necessariamente caso de indeferimento do chamamento ao processo. Isto em razão
dos princípios iura novit curia e, também, da mihi factum, dabo tibi ius, que não
obstam que o juiz defira o pedido, fundamentando sua decisão no inciso correto.
(JORGE, 1999, p. 80)
Por fim, apesar das divergências doutrinárias que cercam o tema, muitos autores
como Eduardo Arruda Alvim, Daniel Willian Granado e Eduardo Aranha Ferreira, acreditam
que a hipótese trazida pelo art. 788, o qual determina que: “Morrendo a pessoa sem
testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens
que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento
caducar, ou for julgado nulo", é mais uma hipótese de chamamento de terceiros em
decorrência da relação jurídica existente entre o direito material do segurado, bem como do
ação da ação e do réu demandado em primeiro lugar (ALVIM; GRANADO; FERREIRA,
2019).
Por fim, cabe enfatizar dois pontos demasiadamente relevantes: 1. no caso em que o
réu for o próprio afiançado, não é possível chamar ao processo o fiador, haja vista a ausência
de respaldo legal para tal hipótese; 2. não é possível a participação do devedor principal
apenas na fase de execução a partir do argumento de benefício da ordem, porque sua
participação deveria ter sido requisitada também em sede de cognição, assim:
O fiador é obrigado subsidiário e uma das maneiras de ele poder fazer valer esta
subsidiariedade é, justamente, tomar, já no processo de conhecimento, a providência
a que se refere o art. 77, n. I [art. 130, inc. I, do CPC/2015]. Se o fiador for
demandado e deixar de tomar a providência do art. 77, I, formar-se-á exclusivamente
contra ele, fiador, título executivo porque não exercer a função esta faculdade de
chamar o afiançado, no prazo para contestar, na forma do que dispõe o art. 78 [art.
131 do CPC/2015], ficará impossibilidade de utilizar-se no processo de execução do
benefício de ordem. (ALVIM, 1976, p. 346)
Como definido previamente pelo art. 131 do CPC/2015, o chamamento dos demais
réus da ação deve ser requerida na contestação no prazo de, no máximo, 30 (trinta) dias ou 60
(sessenta) dias - caso o chamado resida em outra comarca, seção, subseção judiciária ou local
incerto, nos moldes do parágrafo único do mesmo artigo. Cabe ainda ressaltar que, de acordo
com a Súmula 106 do STJ: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora
na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da
arguição de prescrição ou decadência”, ou seja, caso o prazo disposto nos artigos não seja
cumprido por falhas do serviço judiciário, não há como perder o efeito do chamamento.
Após a citação do chamado descrita acima, o indivíduo tem 15 (quinze) dias para
responder ao chamamento, isso posto, apresentando-se ou não, torna-se litisconsorte da ação
principal. Desse modo, no caso da improcedência da demanda, ambos (chamante e chamado)
se beneficiam da decisão, entretanto, caso seja procedente, valerá o procedimento trazido no
art. 132 do CPC/2015. Assim, sendo a decisão favorável ao autor, este poderá “(...) exigi-la,
por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção
que lhes tocar” (art. 132, CPC/2015). Logo, segundo Athos Gusmão Carneiro,
A rigor, a sentença de procedência é ‘por si’ título executivo apenas em favor do
autor, como qualquer outra sentença condenatória; mas, somada ao comprovante do
pagamento (feito ao autor), também será título executivo em favor daquele réu que
efetuou tal pagamento, se e na medida em que esse réu tiver direito de reembolso em
face dos demais litisconsortes. (CARNEIRO, 2006, p. 174)
Os Juizados Especiais Cíveis, disciplinados pela Lei n° 9.099 de 1995, têm como
critérios do processo a “(...) oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.” (art. 2°).
ARRUDA, Alvim. Código de Processo Civil Comentado, v. III São Paulo : RT, 1976.
CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros, 16. ed. Imprenta: São Paulo, Saraiva,
2006.
JORGE, Flávio Cheim. Chamamento ao processo, 2 ed. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1999.
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de
Processo Civil. Imprenta: São Paulo, Revista dos Tribunais, 2015.
OLIVEIRA, Bruno Vasconcelos de. A vedação da intervenção de terceiros e a efetividade da
prestação jurisdicional nos Juizados Especiais. Monografia (Bacharelado em Direito) -
Faculdade de Direito, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2007.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, 56 ed. Imprenta: Rio de
Janeiro, Forense, 2015.