Aula 15
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AULA
Padrões estéticos e
prática educativa
Meta da aula
Demonstrar que a questão do gosto e
da preferência estética pessoais deve ser
desenvolvida no processo educativo.
objetivos
INTRODUÇÃO Dar estilo a seu caráter – eis uma grande e rara arte! Aquele que a exerce
sua arte e sua razão. (...) Por fim, quando a obra está consumada, torna-se
nas coisas pequenas como nas grandes: se o gosto era bom ou ruim não é
algo tão importante como se pensa – basta que tenha sido um só gosto!
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Uma reflexão crítica sobre esses valores estéticos pode ser feita
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através do contato com obras de arte. Para isso, devemos compreender
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que o fazer artístico não se situa apenas no plano das sensações, dos
sentimentos, dos sentidos. A atividade racional não está dissociada da
Arte tendo em vista que, para que possamos desfrutar dela, precisamos
tanto de organizar ideias quanto de situá-las historicamente. A partir do
momento em que percebemos que há uma função pedagógica na obra
de arte, percebemos que os padrões estéticos com os quais convivemos Édipo Rei
decorrem de um determinado contexto sociocultural. A prática pedagó- Esta tragédia, escrita
pelo dramaturgo
gica, ao incorporar esse tipo de reflexão, está contribuindo, diretamente, grego Sófocles
(497-406 a.C) que
para que o aluno e futuro cidadão tenha uma compreensão crítica dos narra as desventuras
valores estéticos disseminados pelos meios de comunicação. Eis uma de um rei que mata
o próprio pai e casa
questão importante para analisarmos os padrões estéticos na nossa prá- com sua mãe, tem
uma vigência que
tica educativa. A arte não tem exclusivamente uma dimensão sensível; a ultrapassa as épocas.
Até a atualidade os
nossa percepção estética pode ser apurada, educada; há diversos critérios
seus densos conflitos
racionais para aproximarmos da arte; não se trata de pura efusão, sen- éticos, psicológicos
e religiosos causam
sação, sentimento. Assim, por exemplo, a educação estética pode nos impacto e são
fonte de intensas
ajudar a avaliar um drama sutil de situações bem tramadas, de conflitos emoções estéticas.
profundos, com personagens com um perfil psicológico definido – como
por exemplo, a tragédia Édipo rei, de Sófocles – e diferenciá-lo, talvez, da
última novela, em que as situações são apelativas, abusa-se da violência
e do sexo para gerar emoções rápidas, as personagens são caricaturas
para estimular o riso fácil etc.
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter percebido que, em nossa sociedade, somos
bombardeados por mensagens que nos ensinam o que é belo
e o que é feio. Geralmente essas mensagens visam estimular o
consumo: mulheres e homens de uma beleza padronizada nos
indicam que roupas devemos usar, que lugares freqüentar, que
obras de arte apreciar etc. Mas você pode ter percebido que há
outras formas de sentir e avaliar as coisas que nos cercam: uma
mulher julgada nos parâmetros convencionais como feia pode ser
bela para nós; um poema, profundamente triste, pode nos transmitir
alegria e beleza.
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ou simplesmente tradicionalmente aceitos. Para dar conta dessa proble-
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Estética
mática do gosto, surgiu, como dissemos na aula anterior, no Século XVIII,
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“Estética é a tradução
que tem por meta desenvolver uma reflexão que permita fundamentar da palavra grega
aesthesis, que significa
nossos juízos sobre o “belo” ou o “feio”, ou a arte em geral: a Estética. conhecimento
sensorial, experiência,
Nesse momento do nosso estudo, vamos aprofundar questões e definições
sensibilidade. Foi
que introduzimos na aula anterior. empregada para
referir-se às artes, pela
Para avançarmos na nossa reflexão, o uso dos dicionários, mais primeira vez, pelo
alemão Baumgarten,
uma vez, é um meio fecundo para esclarecermos o problema focalizado. por volta de 1750”
Assim, Abbagnano (1999) assinala: “É com a doutrina do Belo como (CHAUÍ, 2000, p. 321).
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Assim, os parâmetros estéticos mudam, nas diversas sociedades,
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nos diversos períodos históricos. Houve épocas, por exemplo na
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pintura, em que se cultuava a reprodução exata dos modelos. A beleza
estava associada a uma representação bastante fidedigna dos objetos
apresentados nos quadros. Neste ponto, a arte renascentista foi um
paradigma, um modelo que durante muitos séculos influenciou a
humanidade. Até nos nossos dias, artistas como Michelangelo, Leonardo,
Rafaelo são considerados gênios pictóricos, clássicos de todos os tempos.
Estes artistas se destacaram por tentar reproduzir a natureza, por mostrar
uma natureza embelezada. Um caso notável é o de Leonardo da Vinci
que estudava anatomia para recriar adequadamente as figuras humanas,
e aprofundava matemáticas para atingir formas e proporções geométricas
perfeitas nas suas pinturas.
Contudo, houve diversos movimentos, principalmente no século
passado, como cubismo, surrealismo, expressionismo, impressionismo e
outras correntes inovadoras que desdenharam reproduzir, mais ou menos
fielmente, a natureza e tentaram traduzir, mesmo de forma aparentemente
anárquica ou caótica, a expressão, a impressão, o inconsciente, o mundo
interno dos artistas. Esse tipo de arte visava inventar e recriar um mundo
próprio do artista, sem seguir um modelo predeterminado.
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Guernica _________________________________________________________________
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Mostra de forma não
naturalista o caos da _________________________________________________________________
Guerra Civil Espanhola _________________________________________________________________
e é considerada uma
das obras de arte mais
importantes do século RESPOSTA COMENTADA
XX. O autor espanhol Você pode ter percebido que os parâmetros de beleza mudam de
Paulo Picasso
época para época. Pode ter apontado que a Gioconda representa um
(1881-1973) foi
um artista genial, modelo de beleza que tenta recriar a imagem presente na natureza.
revolucionário. Já Guernica pode parecer feio, para quem espera a reprodução exata
de um modelo – no caso a Guerra Civil Espanhola –, pode sentir
que a imagem é caótica e não representa uma situação específica.
Mas você pode também perceber que Picasso, numa visão muito
pessoal, tentou traduzir o caos da guerra com imagens e projeções
interiores, subjetivas. Finalmente, você pode ter chegado à conclusão
de que, na arte, não é possível estabelecer critérios quantitativos,
determinando quando uma obra é mais bela do que outra.
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PEDAGOGIA E OBRA DE ARTE
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Abordar questões estéticas na prática pedagógica não se restringe
a fazer despertar sentimentos e sensações agradáveis: a atividade artística
representa um meio de expressar idéias de forma organizada. Para isso,
faz-se necessário entender o significado de uma obra de arte. Gallo (1997)
nos aponta várias funções que ela pode desempenhar:
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rádio ou tevê exploram hoje — sem o mesmo refinamento da arte
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— a capacidade que a feiúra tem de impressionar o espectador
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(FEITOSA, 2004, p. 136).
ATIVIDADE FINAL
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter percebido que os contos de fadas tradicionais mostram
uma imagem bastante estereotipada de beleza e feiúra, de bem e mal,
de bons costumes e maus costumes. Geralmente, há princesas bonitas
e bondosas, ogros e bruxas terríveis e maldosos; príncipes maravilhosos
e salvadores. Finalmente, triunfam os bons e bonitos e os maus e feios
são punidos justamente. Neste filme, você pode ter percebido que se
brinca com todos esses paradigmas: os príncipes nem sempre são tão
bonitos e bondosos, os ogros não são tão terríveis. Este desenho pode
ser entendido como uma brincadeira com a relatividade das categorias
estéticas e dos clichês de beleza existentes na sociedade consumista.
RESUMO
AUTO-AVALIAÇÃO
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Leituras recomendadas
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Explicando a filosofia com arte, de Charles Feitosa, analisa a importância que a arte teve na
história do pensamento. Nas obras de arte, encontramos ideias, expressões e visões de mundo
fundamentais para a nossa cultura. Além disso, o autor mostra como é possível enxergar uma
estética que não só acolha o convencionalmente denominado belo, mas também reflita sobre o
valor estético da feiúra.
O nascimento da tragédia, de Friedrich Nietzsche (1993). O autor alemão analisa a importância
da arte, fundamentalmente da arte trágica, para todas as instâncias da vida; inclusive, a arte é
um veículo fundamental para a formação integral do homem.
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