Dialogos PACS-1
Dialogos PACS-1
Dialogos PACS-1
ISBN: 978-65-992516-5-8
FICHA TÉCNICA
Coordenação Colegiada
Aline Alves de Lima
Marina Ferreira Praça
Entrevistadoras:
Ana Luisa Queiroz
Marina Ferreira Praça
Yasmin Bitencourt
Rafaela Dornelas
Ilustrações
Camila Schindler
Realização
Apoio
2
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Diálogos da terra
e das águas: entrevistas
da campanha
3
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
sumário
#MulheresTerritóriosdeLuta: formas de viver e (re)existir 6
Entrevista com Teresa Boedo:
Defensoras de direitos humanos na América Latina: os feminis-
10
mos, o corpo e o cuidado integral no centro da vida e da luta”
Apresentação e Campanha
#Mulheres Territórios de Luta
1. https://pacsinstituto.medium.com/
2. pacs.org.br/mulheresterritoriosdeluta
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
#MulheresTerritóriosdeLuta:
formas de viver e
(re)existir
Marina Ferreira Praça
9
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
10
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Teresa: Sou ativista desde muito jovem, natural da Galiza, uma região no
noroeste da Espanha. Também nasci em um lugar com muitos privilégios,
mas também com muitas desigualdades. Desde pequena estou no ati-
vismo, minha formação sempre me orientou a trabalhar com mulheres,
desde muito jovem e de uma forma muito organizada, mas também muito
necessário para mim. Sempre digo que o feminismo salvou minha vida,
de muitas maneiras, mas também conseguiu me tirar de transes e enre-
dos muito complexos. A aproximação ao feminismo foi orgânica. Estive
em diferentes espaços, mais territoriais, mais específicos, de diversidade
sexual, de diversidade funcional. Tenho trabalhado muito com organiza-
ções e povos originários, e sempre estive em espaços de articulação em
redes e na luta pelos corpos das mulheres, por justiça para as mulheres,
pelo bem-esta. Isto é construir um sonho emancipatório que nos permita
viver coletivamente, nós mulheres, e atender aos impactos e desgastes
que este sistema patriarcal, racista e capitalista tem sobre nossos cor-
pos, nossas emoções, mentes e energias.
Bom, para mim a luta é isso: articular, compartilhar, me enredar, pensar
junto. É construir uma ação política entre as mulheres. O feminismo sempre
foi meu espaço de luta, meu protetor, meu quadro político e minha proposta.
Também estou misturando minha carreira, ou seja, participei de di-
ferentes processos de criação de metodologias feministas, de sexualida-
des diversas, de processos multiculturais, de reflexão e ação conjunta,
de fortalecimento institucional, de criação e construção de pensamento
político. E mais recentemente estou entrando no tema da cura da violên-
cia estrutural, como o cuidado tem que ser uma prática cotidiana, políti-
ca, cultural e organizacional para construir esse bem-estar, fortalecer as 11
redes da vida, transformar memórias corporais, sistêmicas, ancestrais, e
dessa vida que todas nós levamos, certo?
1. A entrevista com Teresa Boedo foi dividida e publicada em duas partes no site e no Medium
do Instituto Pacs. Entrevista realizada em dezembro de 2019, a 1ª parte publicada em agosto
de 2020 e a 2º parte em abril de 2021
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Teresa: No que diz respeito à arte, me parece que cada vez mais esta-
mos nos aproximamos de propostas artísticas capazes de transmitir
esse sonho emancipatório que temos, porque nós, mulheres, estamos
ligadas à capacidade de criar e a arte vem muito com essa habilidade,
que sempre nos associou com a capacidade de criar vida. A energia
criativa que as mulheres têm é aquela que tem múltiplas manifesta-
ções por trás da arte, certo? Acredito que sejam múltiplas ferramentas
que nos ajudam a realizar nosso sonho emancipatório e nosso bem-
-estar. Porque é por lá que também nos permitimos deixar ir, nos ex- 12
pressamos e é uma forma muito das mulheres, porque também impli-
ca coletivizar, implica deixar ir, implica cura.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Em seu corpo, de onde você sente que vem a sua força e
onde você sente mais o impacto, a dureza?
Teresa: Acho importante falar nisso, eu tenho endometriose, que é su-
postamente uma doença que dizem que é crônica. Eu resistia muito em
aceitar isso e tive que trabalhar muito nessa condição. Mas para mim,
tudo realmente se manifesta no útero, primeiro se manifesta lá, nas ge-
nitais. Sinto também dores de cabeça e enxaquecas e toda a questão
da indigestão que tem a ver com não ser capaz de digerir tanta merda ...
abarriga incha, diarreia constantemente e, além disso, dores muscula-
res, ombros, cotovelos, articulações.
PACS: Como você se cuida, o que é cuidado para você? Como você
vê o cuidado? O que te deixa doente e o que te cura?
Teresa: Neste momento, me sinto muito desafiada a esse nível, devido ao
stress e responsabilidade com o que lidamos. Estou em um momento no
qual tenho que fazer muitos ajustes no meu dia a dia para ficar minima-
mente saudável. Neste processo de reflexão, porque o que quero dizer é
que não fiz tudo, longe disso, para mim é um processo de reflexão cons-
tante. O cuidado tem que ser algo cotidiano e que necessita ser traba-
lhado em diferentes níveis. Pessoalmente, estou trabalhando na minha
nutrição como um dos primeiros elementos que me causam cuidado e
bem-estar. Estou trabalhando no nível corporal, preciso caminhar, correr,
nadar, fazer algum tipo de massagem, etc. Quer dizer, estou dizendo a
você como dimensões, não é que eu pratico tudo, quem dera! Essa di-
mensão, aquela primeira da comida e do corporal, que diz respeito ao
corpo por fora e ao corpo por dentro, tem a ver com um trabalho emocio-
nal, preciso de um acompanhamento terapêutico, seja transpessoal, te- 13
rapia integrativa, algum tipo de terapia emocional que me permita colocar
tudo no seu lugar, ter um espaço para catarse, etc. Conhecer meus me-
dos, minhas frustrações, minhas emoções. Tenho que trabalhar no nível
energético e isso é algo que sempre esquecemos e acredito que os povos
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
19
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Mere: O que me move a estar na luta é me indignar com algo, quando eu me indigno,
eu entro de cabeça. Para mim, a minha história tem três fases. A primeira, quando eu
compreendi aos 17 anos a qual classe eu pertencia. Eu me questionava sobre por que
as outras pessoas tinham e eu não podia ter. Quando tive que largar a universidade, per-
cebi que eu tinha uma classe e a essa classe não era permitido fazer academia, eu era
obrigada a trabalhar para poder me sustentar. A minha segunda descoberta foi quando
eu comecei a trabalhar com movimento sindical. Nesse espaço eu via que as mulheres
sempre tinham o lugar da organização, das finanças… Na verdade eram elas que faziam
tudo, mas quem liderava, quem recebia as glórias, eram os homens.
Depois, quando me descobri negra, como mulher negra, aos vinte seis, vinte
sete anos de idade, foi uma coisa bem estranha… porque como eu entrei na luta
muito cedo, minha luta era por direito, por salário, por igualdade. Foi quando eu
comecei a ver que existe uma questão de gênero, raça e classe que determina o lu-
gar onde você está. Comecei a perceber também por que nas favelas a maioria é de
pessoas negras, por que nas comunidades pobres a maioria são pessoas negras,
por que a polícia só faz baculejo em pessoas negras. Foi aí que eu me descobri ne-
gra. Diferente dos meus filhos, os dois se descobriram negros desde bebê, porque
eu estou sempre dizendo.
Para mim a luta de ser feminista é diária, porque ser feminista não é
só dizer que sou. É uma luta todo dia, porque tem momentos que se você
não cuidar, você reproduz o machismo, que é uma coisa dada, que é o jeito
nosso de ser mãe. Pensar sobre isso é pensar sobre a minha mãe, ela nos
mostrava que somos negras. Hoje eu entendo que era isso o que ela queria
dizer, por isso que a gente tinha que ser muito boa. Não podia nunca pegar
em coisa de ninguém, nunca deixou a gente trabalhar na casa de nenhuma
família para não ser escrava de ninguém. Ela sempre dizia “Vocês nunca
vão ser escravas de ninguém, “Enquanto eu tiver vida, a gente vai se sus-
tentar!”. Ela sempre disse que trabalhar em casa de família era sempre
escrava da família. Ela preferia lavar roupa manhã, tarde e noite, e manter
a gente tudo em casa ajudando no trabalho, mas em casa.
Minha mãe é uma figura super importante para mim, na minha for-
mação, nos meus princípios, na minha indignação, em ajudar as outras
pessoas e a entender que o nosso corpo, de mulher negra, é o corpo do
trabalho. Eu pensava que eu não tinha nenhum trauma da minha infância,
por não ter as coisas, por exemplo, mas eu tenho em relação a minha vida
de mulher. É nesse sentido que eu digo que minha mãe me ensinou algo
muito importante, mas que também me deixou marcada, com algo que traz
dor. Ela ensinou a gente a trabalhar, sabe como é? Trabalha, trabalha, tra-
balha, e não cuidar de mim, de meu corpo, nunca dizer assim “Tô cansada.
Não aguento!”. É muito difícil fazer isso, para qualquer que seja a pessoa.
2. Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros — SUAPE, localizado nos mu-
nicípios de Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, no estado de Pernambuco. Ocupa atu-
almente uma região de aproximadamente 13.500 hectares.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
de vista que elas tinham que deixar as crianças, pesado no ponto de vista
financeiro, porque elas tinham que alugar um transporte. Além disso, o
cansaço, porque quando elas voltam com o pescado, como os mariscos,
têm que cozinhar, fazer tudo que elas já faziam quando elas pescavam ali
na porta de casa, como elas falavam. Então nesse processo, o impacto na
vida dessas mulheres foi enorme.
PACS: Diante disso tudo, de onde você acha que vem a sua força
e a das mulheres de Suape?
Mere: Das outras mulheres. E principalmente de olhar para elas e ver que,
numa situação muito mais difícil de vida, elas conseguem. Vem de fazer esses
trabalhos para as mulheres, de ver essas mulheres rindo, dançando, isso me
dá não só a força, mas me dá o oxigênio para respirar. Se você pega essas lide-
ranças, especialmente as mulheres pescadoras agora que eu estou muito pró-
xima, e mulheres catadoras também, que são duas categorias extremamente
invisibilizadas, talvez as catadoras muito mais ainda, muito mais massacrada
do ponto de vista de trabalhar diretamente com lixo, com o que as pessoas
jogam foram, e mal tratadas pelas pessoas quando estão executando o ser-
viço. São mulheres que quando a gente está junto, rindo e conversando, é
maravilhoso. Acho que é o coração que me move. Eu passei por muitas coisas
difíceis na Zona da Mata de Pernambuco, e nunca desisti, sempre tive vontade
de estar participando, estar lutando pelos direitos. Isso independe de quem
seja, mas logicamente, quando é do meu povo, eu me sinto mais atrevida com
relação a questão da política.
PACS: E o feminismo?
Mere: É uma coisa impressionante, porque vem de dentro dizer o que é ser feminista. 24
Para mim e para elas. É dizer para marido: “Lave a sua cueca! A partir de agora não lavo
mais”. Você imagina isso? Então uma mulher a vida inteira teve a obrigação de lavar a
cueca, chegar a esse ponto e dizer: “Eu não estou pedindo não, eu só tô te avisando
que eu vou pra uma reunião”. Isso é o que me dá o oxigênio para estar na luta.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Diante disso tudo, de onde você acha que vem a sua força e a
das mulheres de Suape?
Mere: Acho que o grande foco nosso hoje é nos unirmos e enfrentar a dor com
alegria. Atravessar esse momento em que as pessoas só trazem e só pensam
coisas tristes, além do que já se vive no cotidiano. Normalmente as pessoas
vão embora da luta, porque também ninguém aguenta. Então isso tem feito
com que a Fase tenham realizado encontros para discutir autocuidado, porque
as pessoas com quem trabalhamos estão demandado essa necessidade, e nos
coletivos que eu tenho atuado, que é a Rede de Mulheres Negras e o Fórum de
Mulheres de Pernambuco, nós buscamos tratar também do auto cuidado. Tra-
tar da questão política dura, mas também trazer a leveza, a alegria e o cuidado
entre nós. Nos juntar para rir, dançar, compartilhar práticas de cuidado, coisas
boas, alegres, que nos energizem. Para mim, não soltar a mão de ninguém tem
uma dimensão que é muito profunda, é se escutar de verdade, estar juntas,
discordar e se fortalecer. É a irmandade entre nós.
25
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Entrevista com
Ana Laíde Barbosa:
Potências ancestrais
às margens do Xingu1
26
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
ranças… Ela nem é considerada liderança, é uma ente viva que percebeu
esse processo da história. E é por isso que eu também tenho o poder
de escolha e são esses elementos, são essas coisas pequenas, que me
fazem ser Xingu Vivo. O Movimento nunca arredou o pé da sua história,
nunca mudou de percurso, porque ia privilegiar um ou outro. Ao contrá-
rio! Quem tem que ser privilegiado é o povo, são os povos e eles têm
nome e endereço. Povos indígenas, pescadores, extrativistas, agriculto-
res, quilombolas, jovens, crianças, mulheres… O povo que é violentado
24 horas nesse território
PACS: Como que você vê o seu corpo no meio disso? O que você carrega
no seu corpo?
PACS: E você consegue sentir de onde vem a sua força? Você sente no
seu corpo?
Ana: Da esperança dos olhos do povo, que mesmo perdendo tudo, ainda
acha que pode e acredita em uma possível mudança. E de que um dia eu
ainda posso ver o rio correr livre. Que a gente possa derrubar, destruir 30
Belo Monte e que a gente possa restaurar a floresta! No meu corpo vem a
força vem do coração! Eu também sinto no meu invisível, porque ele bro-
ta. É ele que dá essa força pulsante. Por exemplo, a gente tem que passar
por cima disso, tem algo muito mais forte que é ver justamente essa cla-
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
ridade que a água está turva, está barrada, mas ela pode ir escorrendo
aos poucos, deixar fluir como era naturalmente. Então a gente sente
isso, também. E como tu expressa isso? Não tem como tu expressar,
mas aí tu te movimentas. A tua língua fala muito. Os teus sentimentos fa-
lam. Os teus olhos falam. Meus olhos falam quando eu vejo a felicidade e
lágrima. Lágrimas também de felicidade, sabe? O abraço apertado. Sentir
o outro, é sentir essa energia que está vindo. É isso.
PACS: Como você respira em meio aos conflitos? De onde você acha
que tira oxigênio para seguir na luta?
Ana: Na criatividade! Uma criatividade que não vai para o papel. Uma cria-
tividade que não sei explicar. É uma criatividade que busca despertar a
gente! A gente busca dizer que a vida não é morte e que ainda não es-
tamos mortos, que podemos muito mais. É uma arte da linguagem, do
saber raciocinar, pensar e trazer tudo que aprendemos com nossos an-
cestrais, com a nossa floresta, com as nossas águas e dizer: “Vem junto,
né? Transforma conosco.”
PACS: E para finalizar, qual é a força que você traz dos encantados?
34
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
35
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: O que é luta para você? Por que você luta? O que
te move?
Zica: O que é ser mulher, de fato? Porque isso também é uma construção.
Ser feminino é uma construção. Eu sei que eu pertenço a uma natureza
diferente de outras naturezas. Essa natureza que eu sou hoje vai compor
outra que vai vir depois de mim. Eu não sei se eu me descobri mulher,
mas eu tenho certeza que eu me descobri natureza. A minha natureza é
um fragmento de uma maior. Eu não acredito muito nesses rótulos que
passam a dar. Na minha cabeça não funciona assim. Eu sinto que eu sou
uma natureza que não precisa de rótulo nenhum.
Zica: A minha força vem dessa ligação. Vem dessa passagem do pé. Se
eu não tenho contato, eu não consigo sentir as coisas. Eu tiro oxigênio
das folhas, literalmente das folhas, porque é o que ainda tem de puro.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Eu sou uma criatura do mato, então eu primeiro escuto o que tem aqui
para depois ouvir o que tem lá fora. Por isso, é importante respirar fun-
do e ter coragem de ir e lutar. Eu vou porque se eu não luto, eu não res-
piro, se eu não respiro, que sentido tem? Então eu preciso defender,
eu preciso garantir, tanto a minha sobrevivência quanto a dos outros.
Zica: Hoje é dia 21 de julho. Ontem foi 20. No lanche ontem foi servido
suco de manga. Eu não entendi o porquê. As mangueiras já trocaram
de folhagem pela terceira vez esse mês e tem umas que começaram a
estourar as folhas novas, porque tem umas que ficam cor de rosa. Da-
qui a um tempo, elas vão estourar umas flores e depois umas mangas
bem pequenininhas, os botões. Vão ficar o final de julho, agosto, se-
tembro e outubro, quatro meses. Daqui a quatro meses, no começo de
novembro, aparecem as primeiras mangas. No meio de novembro, vai
ter uma quantidade maior. No mês de dezembro vai ter muita manga.
Mas, curiosamente, foi servido suco de manga ontem. Eu não entendi.
A gente não sabe de nada. Se nós não respeitamos um ciclo natural, a
gente não respeita o que nós somos. Porque se eu conseguiria tomar
um suco de manga ontem, então eu vou subir nessa mangueira e co-
mer uma manga hoje. Mas não tem. Que manga misteriosa é essa? A
natureza não funciona assim, ela tem ciclos e aqui não é o momento.
O meu tempo é esse tempo de entender e respeitar isso. Eu não tomei
suco de manga porque não é época de manga. Mas me pergunta se
daqui a quatro meses eu não posso tomar? AÍ eu tomo. Porque essa
natureza (a minha) sabe respeitar esse tempo. Ela não vai sentir von-
tade de se alimentar de manga porque terão outras coisas. Então, o
meu tempo não é um tempo que fica preso porque a minha semana
passa em meses. Em tempos difíceis em que tende a se pensar muitas
coisas, o primeiro sentimento é de desespero. Se houvesse realmente
motivos para estarmos desesperados, a gente não teria todas as solu-
ções em volta. Só será realmente um momento de desespero quando
não tiver mais nada. Enquanto houver, é importante a gente saber que
é preciso se levantar, ficar de pé e se preparar, porque tem coisa muito
maior para ser defendida.
39
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
40
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Pacs: O que vocês veem nos seus corpos? O que vocês carre-
gam de dores e potências? É possível identificar nos corpos
os impactos vividos pelo megaprojeto?
Jamilly: Nesse contexto de pandemia e pessoalmente falando, sinto
um corpo cansado, porque muitas coisas mudaram nesse processo de
estar mais tempo em casa, para quem pode. Pode ser que para outras
pessoas não seja nessa forma, mas no meu caso é um corpo cansado,
porque está sobrecarregado, de afazeres que estão mais intensifica-
dos devido ao contexto, no tempo e espaço, no caso dos megaprojetos
e da pandemia. Cansado também de ver as pessoas falaram “você é
forte e consegue estar fazendo isso tudo”, mas que na verdade nem
queria estar fazendo isso tudo, porque nem precisava. Mas por ser um
corpo jovem, também é um corpo cheio de forças e energia para con-
seguir reunir tudo aquilo que estamos passando e conseguir encontrar
algum motivo para conseguir fazer e agir. A minha força está em cons-
tantemente olhar para o passado, pra todos os meus processos de luta
e para as pessoas que já fizeram e fazem por mim também.
Jamilly: Eu não tenho tanto contato direto, mas vejo que inicialmente
as pessoas achavam que não seria um processo tão demorado. As pes-
soas não tinham muito essa consciência, porque parecia meio óbvio o
impacto causado, tinha um nexo causal. Não foi algo que as pessoas
achavam que teriam que ficar brigando por tanto tempo.
47
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Luciana: Eu não tinha noção que minha vida em Belém era impactada
por coisas que estavam além da minha vida ali. O movimento estu-
dantil me dá uma leitura política que eu me deslumbrava. O massacre
de Carajás foi tema de vestibular para mim, que já me impactou. Mas,
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
50
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Como você acha que esses processos que você desen-
volve conseguem contrapor esse imaginário que é construído?
Luciana: De toda a forma, eu tive espaços muito favoráveis, então eu
vou dizer que é 100% (risadas). Eu estive nos cursos de formação de
educação do campo, que envolvia alunos do movimento também. Ga-
nhamos aqueles e aquelas que inicialmente não eram do movimento,
porque a gente consegue construir na prática real, coisas concretas e
eles conseguem perceber mudanças de perspectiva na forma de ser
mãe, pai, de ser educador, de ser patrão, empregado. Eles falam “o
que a gente aprende aqui a gente faz la, a gente faz em casa”. O fato
de colocar uma xícara em cima da mesa faz diferença pra gente almo-
çar, então é mudar as perspectivas. Eu não preciso comer num lugar
sujo sendo pobre. Então, nesse sentido, é fundamental a gente perma-
necer construindo.
54
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Vera: Luta para mim é o que a gente faz aqui, no Engenho Ilha, todos os dias. Luta
pela busca do direito, luta pela permanência dos modos tradicionais de viver no ter-
ritório. Todo dia na ativa, se reafirmando como agricultora, como fomentadora do
direito e nessa busca constante de intervir nessas decisões tão importantes em nos-
sas vidas. Luta faz parte da nossa existência.
Me movimenta a vontade de permanecer em nossos territórios, colocando os
pés no chão. Estar plantando e estar cultivando a nossa terra quando a gente quiser.
Me movimenta saber que o senhor José, a dona Maria, todos têm direito a ter sua
identidade preservada. Direito aos seus modos de vida tradicionais.
PACS: Que lugar do seu corpo você vê que vem a sua força?
dando informação de onde você vai, com quem você está, onde você
está. Uma pessoa que é livre como eu, que tem uma vontade de liber-
dade extraordinária, e tem que estar ali ó, regrada. Muitas vezes, eu
me vejo sufocada, desesperançosa. A maioria das vezes eu estou num
estado, absorvida pela luta e esqueço — na maioria das vezes — um
pouco de mim, deixo um pouco de quem eu sou, para viver mais a luta.
E eu vejo que não adianta, eu tenho que voltar, e eu volto, respiro fun-
do de novo. É aquilo que eu te disse, eu fujo e vou para um lugar que
pouca gente me conheça, e eu vou respirar fundo lá, vou escrever. Vou
botar no papel o que vejo, o que quero. Aí vou sonhar um pouco, e aí
a gente vai. A luta fortalece. Ela te dá fôlego também. Ela te torna mais
forte. Mas se você parar, você também não vai querer estar ali. Então,
a luta já faz parte da nossa vivência. A luta já é a nossa história. Agora
que, vez ou outra, a gente precisa dar uma emergida para respirar, a
gente precisa.
Vera: “A arte em mim”. Eu fui logo para um lado, que eu acho que foi
um lado que tanto me negaram. Então, eu fui negada a essa parte se-
xual da mulher, da volúpia da mulher, da vontade da mulher. Eu não
conheci isso de outra mulher, eu descobri isso em mim. É diferente, é
muito diferente! Hoje, eu converso com a minha filha abertamente so-
bre sexo, vontade, sexualidade, erotismo. A gente não tem que agra-
dar a ninguém, a gente tem que agradar a gente, a gente tem que olhar
para gente. Eu falo com meu filho, que tem 30 anos, e digo abertamen-
te: “O homem tem que tratar a mulher muito bem. E se ele não tratar
bem, outro vem e trate. Se o outro não tratar bem, ela sabe se tratar.”
Meu filho morre de rir! Então, eu descobri essa parte em mim da fera
contista, que gosta de contos eróticos. Foi dessa negação que eu en-
tendi a arte em mim. Eu gosto de contar para outras mulheres, para ou-
tras pessoas. Homens e mulheres, quem se identificar com eles. Que
a escrita seja livre, que voe, que tenha onde pousar, que pouse onde
quiser pousar. Eu me encontrei nos meus contos dessa forma, na ne- 60
gação. Foi negado uma vida inteira, e você sabe que aquilo existe, que
aquilo é importante, que as pessoas são hipócritas porque gostam,
mas não querem falar. Aí tem um monte de baboseira que a gente vai
desmistificando e vai colocando no papel para ficar legal. Para outras
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Vera: Eu vou te dizer que eu não só escrevo contos, né? Eu tenho outras
artes também, como pintura, como confecção de bonecas, artesana-
tos. Mas isso se dá no encontro entre mulheres, nos nossos espaços
de conversa. Mas, esses coletivos, das conversas que a gente tem, das
oficinas, no fazer junto e permitir com que as mulheres reflitam, se
escutem e entrem em contato. É nessa parte que eu uso muito minha
arte, dos meus contos, conversando sobre eles com as mulheres, e as
moças. Você faz com que outras meninas se identifiquem, se reconhe-
çam e não pratiquem os mesmos erros das mães, das avós… ninguém
pode tocar no que você não quer. Que você não se permita tanta coisa
que acontece com uma mulher. Então, eu sempre trabalho essa parte
com as nossas jovens, com as “meninas-moças”, que a gente chama
aqui, converso bastante com elas, elas gostam muito. Nesses coleti-
vos, eu passo a minha arte para essas pessoas. Bem com a linguagem
boa, que elas entendam. Eu sou apimentada, né? Aí eu deixo um pouco
de pimenta no fogo. Faço com que elas fiquem mais aguçadas, como
mulheres, para saber que não são esses machos que mandam em nada
não, quem manda somos nós. Quem tem que mandar, somos nós.
meu orgasmo enquanto mulher. Eu acho que esse está o meu cuidado.
E isso parte tanto de mim, tanto do corpo, quanto da minha mente. Se
o meu corpo estiver bem, a minha mente vai estar bem. É eu estar pre-
ocupada com o meu mínimo para que o meu máximo esteja bem. Me
olhar no espelho, gostar do que vejo. Dizer, ó: “Tô viva, tô pronta para
viver hoje. Se for somente até hoje, eu vou estar feliz comigo.”
63
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
64
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
<
A história de resistência
coletiva no Xingu1
65
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Porque Belo Monte não trouxe nada para eles, trouxe a criminalidade,
as drogas e a morte. As mulheres rurais lutam pelas políticas públicas
para o meio rural, pela questão ambiental, e estão nessa linha junto
conosco nessas bandeiras de lutas. Só não ocupamos o poder público.
Apesar de existirem algumas mulheres na Câmara de Vereadores, infe-
lizmente elas não nos representam. Apenas uma delas que é corajosa,
que fala. Fora esse exemplo, estamos ausentes no espaço político.
75
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
foi o grupo de força da região na luta pela defesa de seus territórios e suas
vidas. Não é à toa que o Ministério Público Federal tem 25 ações e, dessas
todas, o ponto focal são os impactos contra as comunidades indígenas.
Por fim, a última das ações é uma que condena a Norte Energia e o governo
por etnocídio dos povos indígenas aqui do médio Xingu.
Além desses dois grupos muito impactados, as famílias ribeirinhas
que foram expulsas de onde hoje é o lago aqui em Altamira, nos conselhos
elas foram obrigadas pelo Ibama, com o pedido do Ministério Público Fe-
deral para que elas fossem realocadas, reassentadas numa terra próxima
ao rio, na área do lago. Há quase três anos que essa briga acontece. Até
então, foram assentadas 140 e poucas famílias, mas tem mais de 200 para
serem reassentadas e, até agora, isso não saiu do papel. Essas pessoas
estão pela cidade, passando fome, algumas mais de idade já faleceram.
Perderam o rio ou moram longe do rio, sem condições de subsistência. As
que estão reassentadas não têm condições de produzir alimento, porque o
rio não tem mais peixe. Esse é o quadro extremamente violento, esse é um
crime contra a humanidade dos povos do médio Xingu. As outras comuni-
dades que na cidade moravam em bairros periféricos, mesmo no centro da
cidade em meio aos alagamentos, as pessoas viviam bem razoavelmente,
mas nós sempre lutamos para que fossem feitos aterros e melhorias nes-
ses bairros, mas eles não fizeram porque já esperavam por esse projeto
destruidor, que é Belo Monte. Essas populações foram arrancadas para
longe, ficaram desempregadas em sua grande maioria, sem condições de
sobrevivência, sem água. Vários pesquisadores do Brasil e do mundo que
vieram aqui, que todo ano vêm desenvolver teses de doutorado e mestra-
do, estudam esse impacto do projeto de Belo Monte e eles alegam que
depois de ouvir e fazer as pesquisas, que o maior impacto que Belo Monte
trouxe para a vida das pessoas foi a violência e a falta de água. Se você me
pergunta quem é mais impactado, são as comunidades ribeirinhas, depois
os indígenas, e por aí vai. E não podemos esquecer também que a infância
e juventude foi e está sendo ainda um grupo muitíssimo impactado, que
sofreu a destruição de seu futuro.
do é que se constrói a paz. É isso que nós estamos fazendo. Lutando para
a construção de um mundo ambientalmente, ecologicamente sustentável
e um mundo de paz para as presentes e as futuras gerações.
77
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
78
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Como foi a sua trajetória? De onde você saiu, onde você
nasceu, como você chega até aqui?
Ana: Nasci na Baixada Fluminense, em Nilópolis. Então, com nove
anos, começo a dar aula em casa e continuei até os 14, quando meu
pai morre. Desse tempo em diante, a gente tem que começar a rever a
nossa vida, e aí, eu tenho que trabalhar como babá, ajudar minha mãe
fora. Nossa vida já não era muito boa, mas ela fica muito ruim. Antes
do meu pai morrer, a gente já tinha uma decisão de vir para a Penha
e, quando eu faço 20 anos, eu decido vir. Falo: “Não, eu quero mesmo
ficar na Penha.” E a minha mãe não quis, minha mãe quis continuar
lá. Só que, para mim, era muito dolorido, porque logo depois que meu
pai morreu, a minha avó não aguentou e morreu também. O meu tio
foi assassinado logo em seguida, então era muito terror ficar no lugar
onde três pessoas que eu amava muito morreram.
Então, eu chego na favela mesmo com esse intuito de continuar o traba-
lho, porque em Nilópolis não tem o tráfico armado, mas tem o jogo de bicho. 80
Ele é muito massacrante ali, porque determina que empresa que vai ter, qual é
a cor que vai ser o turno, qual o dinheiro que vai entrar, e eles são donos de tudo
ali dentro. Então, a experiência que eu tinha era nenhuma com 18, 19 anos. Isso
me imobilizava. Me sentir imobilizada me parava, né? Como é que eu faço para
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
lutar? E eu vi que a favela era um lugar mais aberto, apesar de ter todo o tráfico,
a inserção de projetos aqui era muito mais fácil do que lá dentro.
81
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Enquanto essa mulher que luta, como você sente os im-
pactos dos megaprojetos dentro da favela?
Ana: Você consegue perceber esse grande impacto quando você sabe
que está dentro de uma área verde, em recuperação urbana, e que isso
não faz diferença nenhuma para a cidade. Que quanto mais se precisa
de cimento e de pedra, mais eles vão explorar a terra, mais a gente vai
estar fora dessa condição: “Que direito à cidade eu tenho?” Então, o
processo de militarização aqui em 2012, quando veio a UPP, foi muito
forte, porque um bairro que não tem escola técnica, que não tem hos-
pital que funciona direito e você vê uma unidade de polícia pacificado-
ra, de ocupação a cada 20 metros. Que crescimento é esse de cidade?
Segurança para quê? Quando você tem um parque da cidade, que ele é
gradeado por corrente e por arame farpado, e que a quadra é ocupada
pela polícia. Quando durante a copa, a pedreira que explodiu uma vez
por dia, passa a explodir duas vezes por dia. Para mim, ter ficado em
Vargem Grande foi muito sensível — Ana precisou passar um período
em Vargem Grande junto aos agricultores locais, fortalecendo a Feira
da Roça — porque eu fui para um lugar que é um território muito con-
flituoso, mas muito diferente da favela. As armas, as coisas são todas
invisíveis, mas que é uma violência muito forte, mas diferente. Só que
eu conseguia dormir, porque não tinha tiro, eu tinha facilidade de ir e
vir. E aí, quando eu volto, a primeira coisa que me aconteceu foi me
paralisar de novo, porque fica claro como a gente normaliza a situação
que a gente vive de violência. A gente naturaliza esse processo de vio-
lência contra os nossos corpos, para resistir e seguir vivendo.
Os jovens que participavam do projeto do CEM, que precisou ser
paralisado por forças externas, a metade morreu, gente. Porque quan-
do você está, você naturaliza tanto. E aí, eu falei: “Caralho, que lugar é
esse? Tipo… a metade morreu, e a outra metade hoje está no tráfico.”
Aí a gente via a importância do nosso trabalho e de coexistir aqui den-
82
tro, e de criar redes, de se fortalecer. Porque o projeto para favela, é
mesmo um projeto de vida, para a gente não viver muito tempo, né?
Quando eu vejo que a minha avó tem 100 anos, eu falo: “Gente, será
que eu chego a 100 anos aqui dentro?”
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Ana: Em alguns momentos, sim. Nos encontros, né? Até para você ver sua luta
por outro ângulo, quando você tem outras perspectivas. O encontro é um res-
piro. Viajar é um respiro. Eu só viajo por conta da luta, quando tem encontro da
Rede. Fora disso, eu acho que eu nunca ia viajar, pelo dinheiro, pelo acesso, ou
porque eu também não ia me dar esse luxo de sair, viajar… então, o respiro se
dá também nesses grandes encontros.
PACS: De que parte do seu corpo você sente que vem a sua força?
Ana: Minha força vem da minha garra, né? Do meu peito. Acho que é por isso
que a asma está sempre muito forte. Aqui, ó, no meu coração, no meu peito.
Isso me faz acreditar. E, ao mesmo tempo, isso também me paralisa.
PACS: Onde a arte está em você?
Ana: A arte está nos meus turbantes, a arte está na cozinha, porque eu
sempre cozinhei para as minhas irmãs. Eu não queria que elas tives-
sem que comer as sobras que a minha mãe trazia. Só que a variedade
de pratos era muito pouca e não tinha o Google nessa época. Então,
a arte começou a vir pela criatividade mesmo, de transformar o que
eu tinha. Minha avó tinha um quintal onde ela plantava. A gente tinha
muitas árvores frutíferas e isso que transformava todo nosso prato. Aí
sempre tinha um suco, sempre tinha um talinho no meio.
85
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
culação internacional, porque você vê que tem apoio, que algo está
acontecendo na Bolívia, no território, mas sabe que internacionalmen-
te também está sendo apoiado. As ações de advocacia são fundamen-
tais para se poder resistir. Outro eixo muito importante para a resistên-
cia é a documentação. Estamos trabalhando arduamente para poder
documentar, porque, por vezes, é como se a sua palavra não contasse,
mas se tiver algo escrito, só conta como prova. Assim, temos muitas
publicações que refletem a situação das comunidades, os casos, os
direitos que estão sendo violados, os impactos ambientais, mas agora
estamos também trabalhando em publicações para documentar os im-
pactos emocionais. Assim, produzimos um guia de acompanhamento
psicossocial, mas a beleza deste guia é que se trata de uma construção
coletiva. Não é algo que nós, como instituição, vemos e moldamos. Es-
tamos construindo com os nossos companheiros. E isto também tem
a ver com processos de investigação coletiva, porque na realidade o
conhecimento está nas mulheres, nas companheiras e no que elas sa-
bem. E acredito que cada um de nós tem conhecimentos, mas na me-
dida em que compartilhamos, esses conhecimentos são enriquecidos.
E estes são os processos coletivos que temos realizado.
Também para reforçar a resistência, é importante promover alter-
nativas ao extrativismo, para fazer as sementeiras, colheitas de água,
para valorizar as nossas sementes nativas, etc. Também trabalhar mui-
to no autocuidado, no cuidado coletivo, mas também na promoção
destes processos de acompanhamento psicossocial. No ano passado,
trabalhamos muito sobre isso, a partir de processos pessoais.
Sobre as organizações que nos apoiam, estamos ligados à Rede
Latino-Americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Am-
bientais, que é composta por 10 países, tanto na América do Sul, como
na América Central. Então há o Chile, Peru, Equador, Colômbia e nós.
Na América Central há o México, Honduras, Guatemala, El Salvador e
nós estamos numa pequena parte da Argentina. Assim, com esta Rede
Latino-Americana, o trabalho é muito bonito. Temos ações muito con-
cretas, em datas muito concretas, mas como há emergências, também
94
nos reunimos e realizamos ações conjuntas de advocacia. Temos as-
sembleias uma vez em cada dois anos, presenciais, mas também te-
mos assembleias que são de três em três meses, onde nos reunimos,
partilhando experiências, coordenando ações. Portanto, é um espaço
de construção conjunta.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
96
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Entrevista com
Francisca Fernandez:
A luta feminista, socioambiental e
ancestral contra o neoliberalismo e
pelo direito à água no Chile1
103
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
1. A entrevista com Francisca Fernandez foi dividida e publicada em duas partes no site e
Medium do Instituto Pacs. Entrevista realizada em abril de 2020, a 1ª parte publicada em
junho de 2020 e a 2º parte em abril de 2021.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
mulher. E aí, me dei conta do que é ser mulher. Quer dizer, acho que
parece terrível talvez, mas enquanto as opressões te ajudam a se reco-
nhecer e assumir um processo de luta, um processo de empoderamen-
to, também pode acontecer o contrário, “quanto mais oprimida, mais
cega”. Quando uma mulher começa a vivenciar as opressões, percebe
a necessidade de se fortalecer a partir dessa identidade oprimida para
transformar tudo.
PACS: De onde vem sua força? Tem alguma parte do seu corpo que
sente sua força chegando?
Francisca: Acho que minha força tem várias âncoras. Acredito que a
primeira âncora é o auto reconhecimento de quem eu sou, por todas
essas cruzes de coisas ruins, boas, positivas, negativas, nós de dor,
alegria, é também uma força vital, minha fortaleza, porque tem todos
os elementos com que eu trabalho, a fala, o que me dificulta respi-
rar, observar o que estou vendo, ouvindo, ou seja, todos os elementos
centrais estão aí. Também podem ser as mãos, sou muito expressiva
com as mãos e é também com elas que eu faço as minhas tarefas. É
como se eu pensasse imediatamente nisso, mas na verdade existem
muitas partes do corpo. Também, durante a quarentena, a força vem 108
da comunidade, ou seja, acho que é o essencial. Diferentes níveis de
comunitário, o comunitário familiar, o comunitário casa, o comunitário
trabalho, a militância comunitária, as lutas comunitárias.
E aí acredito que a nossa força, em todos os níveis, é o coletivo.
O coletivo da verdade, mais razão e sentido de ser. E eu sinto que a
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
espacial, e, por outro lado, é o único momento que estou feliz, que não
estou pensando, mas apenas fazendo. Quer dizer, acho que também
é muito curativo porque você está fazendo, mas é um fazer que corres-
ponde ao que você construiu em sua vida. Não é um fazer de guerra, um
fazer competitivo, mas com o que sai. Obviamente, outras vezes a raiva
surge também, a dor surge através da dança. Já fiz, pouquíssimas vezes,
mas dancei chorando, em funerais, em espaços de dor, em protesto,
onde tudo é remexido em você.
do, enquanto cuidava de seu filho menor e seu marido deixava o outro filho na
escola. Mais tarde, fizeram perícia e se comprovou que ela havia sido assassi-
nada e depois pendurada. Logo, tratamos de questões delicadas.
Outra agência do extrativismo feroz no extremo Sul é a salmoni-
cultura, a produção de salmões. Isso também degradou territórios, ge-
rou fontes de contaminação em um lugar muito importante na chama-
da Ilha Chiloé. Dessa forma, estou tratando de fazer caracterizações
territoriais. Há uma mistura, no Norte também há agronegócio e etc.
Aponto apenas o mais emblemático nesse percurso.
118
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
119
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
eu, ela está bem mais bonita do que eu. Eu ainda não tenho nenhum fi-
lho, e ela teve 12, deu conta de criar todos. O papai não ficava em casa.
A gente nunca teve uma ceia de Natal, desde criança, com panetone,
com peru. Mas tínhamos uma ceia de Natal com bolo de macaxeira,
com galinha de quintal, galinha caipira assada de forno, farofa. Ela
fazia das coisas que tinha no quintal de casa, e todo Natal ela fazia
uma ceia. E o papai não participava, porque ele ia para festa, mas
ela fazia para gente. E a gente ficava esperando dar meia-noite para
poder comer. A gente não teve brinquedo, mas a mamãe, dava o que
ela podia. Às vezes, eu evito o conflito, que também é uma forma de
resistência para mim. Dar um passo atrás, para a gente dar dois na
frente também é uma forma de resistência. De vez em quando, eu
tenho que abaixar a cabeça, para ali na frente eu ter que levantar.
Então, são estratégias que a gente usa também.
122
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Como você vê o seu corpo? O que você carrega nele? 123
Dayane: Ah, eu acho que eu carrego muita coisa. Não só no físico, mas
assim, no espírito. Eu acredito no espírito. Eu sempre converso, eu
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
digo: “Eu não sei quem me protege, mas alguém me protege.” Não sei
se são meus ancestrais, os orixás... Não sei se é Deus, mas de alguma
forma o meu corpo espiritual tem proteção. E esse corpo espiritual ele
acaba refletindo no meu corpo físico.
PACS: E sobre a arte, onde você acha que a arte está em você?
Dayane: A minha vida é arte, né? Eu acho que o conhecimento que a
gente tem sobre os nossos ancestrais é arte. O saber que a gente tem,
de trabalhar com as plantas medicinais é uma forma de arte. Se eu 126
serro um bambu pra fazer um vasinho, também é arte. É um conheci-
mento, que eu digo conhecimento tradicional, mas ele é arte. A forma
que eu me visto, o turbante que eu uso, a maquiagem que eu coloco,
os acessórios que eu uso. O momento que eu me monto, que eu me
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
128
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
129
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
a gente pensa não com a razão, a gente pensa com coração e age com
ele. Tentam banalizar, invisibilizar, nos colocar como menor, como pior
no que fazemos, nos colocar como seres que não tem muita signifi-
cância. Mas eu também aprendi que isso nunca foi verdade. Que foi
só uma forma de nos controlar para nos enfraquecer e deturpar todas
as coisas que a gente tem coragem de fazer e que os homens não têm.
Porque nós somos coração. Porque nós somos emoção. Nós somos
muito capazes.
Sandra: Sim, vejo. Eu só sou o que sou por isso, né? Eu só sou o
que sou porque eu aprendi com alguém, alguém deixou um legado. Al-
guém fez antes de mim. Muitas das coisas que eu faço hoje são porque
alguém fez um dia. Então não tem nada de novo. Na verdade, a gente
pode até inovar em algumas coisas, mas o básico, a base, ela veio do
passado. Para que eu esteja aqui agora falando dessas coisas, mulhe-
res tiveram que morrer. Outras mulheres tiveram que ser tombadas pra
garantir a minha fala, para garantir a minha liberdade, pra garantir o
meu espaço, pra garantir que eu pudesse puxar uma luta, pra garantir
que eu pudesse falar na frente de qualquer homem que eu quiser fa-
lar, o que eu quiser falar. Elas garantiram que eu pudesse ser o que eu
sou hoje, por causa de tudo que elas enfrentaram, por causa de todo
o tratamento que elas tiveram... Eu me vejo sim, muito nas mulheres
do passado, que construíram uma luta, que foram para frente, que le-
vantaram a bandeira, que não tiveram medo e que morreram por isso.
Derramaram seu sangue por causa disso.
de mim só, mas de todas as pessoas que estão morrendo por causa
da Vale. E aquelas que estão tendo morte em vida, porque, sim, o que
acontece em diversos lugares aí, é isso: é uma morte em vida.
É o sofrimento que está invisibilizado porque as autoridades não
querem saber disso. As autoridades estão a favor do empreendedor e
não estão a favor das pessoas. Não importa onde a mineração esteja,
não importa que seja a Vale. Onde tem um complexo minerário, tem
vítima, ainda que não seja fatal. E eu estou falando isso hoje por nós,
Morro D’Água Quente, Catas Altas. Eu estou falando isso por Barão de
Cocais, que vive o trauma, o terror, o pavor da lama invisível até os
dias de hoje. Eu estou falando isso por Bento Rodrigues, que teve suas
vidas assoladas, foram arrancadas do seu território, e fazem quase 6
anos agora que as pessoas que foram enterradas vivas e as suas situa-
ções ainda não foram resolvidas. E também por Brumadinho, com tan-
tas famílias que passaram por tudo que passaram, por toda perda que
sofreram. Alguns corpos que não foram identificados, outros que não
foram localizados... É uma luta e um sofrimento muito grande e não
tem como eu sofrer e sentir a minha dor e não sentir a dor do outro. A
dor é coletiva. A luta é coletiva e a dor também é.
Sandra: A gente não tem muito tempo para ficar sem pensar no que
fazer, porque sempre que não tem uma coisa, tem outra. E quem se
envolve com o povo, falaram ontem que é bruxa, eu não vejo como
bruxa, mas porque eles chamam a gente de outras coisas, de vagabun-
da, desocupadas, baderneiras, sem serviço, que “está precisando de
133
homem”. É coisa desse tipo “Na hora que arrumar um homem, para”,
mas, assim, na realidade, quando está no sangue - porque tá no san-
gue! Eu não sei nem como, mas está no sangue - tudo para a gente é
um motivo para luta.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
PACS: Esse prazer, ao mesmo tempo que você fala que você não
quer ser isso, também existe em ser e em estar na luta, né?
Sandra: Eu tenho muito prazer. Como eu contei, por exemplo, como foi
uma experiência. A gente baixou no ônibus aqui e foi parar lá do Pará,
porque era o lançamento do MAM. Isso dá prazer. É por causa da via-
gem? Não. A viagem é cansativa, a viagem é desgastante. Leva crian-
ça, no risco da estrada, mas dá prazer e dá prazer demais porque tem
umas coisas que, assim, que arrepiam o corpo. Que bate forte o cora-
ção e que você vê que, verdadeiramente, você está de alguma forma ali
representada por várias pessoas, que estão falando a mesma língua,
que estão na mesma luta e que, sim, um dia vai dar certo. Dá prazer. O
primeiro ato de rebeldia, quando a gente conseguiu invadir a Câmara
por causa do Código da Mineração, e a gente conseguiu travar o pro-
cesso, que ela já estava travando a pauta, a gente conseguiu continuar
travando e não deixamos que votassem. E que a gente conseguiu, com
aquela galera toda lá, claro que nós éramos só o povo do Morro, mas
nós éramos uma Van! E a gente nunca tinha ido num espaço de luta
e nós éramos do Morro na Van e nós rodamos daqui até Brasília. Nós
chegamos lá quebrada; E fomos para Câmara, nunca tinha pisado em
Brasília, e aí quando eles mudam a data de votação, porque souberam
que tinha aquele grupo lá, e a gente consegue através daquele povo
que morava lá, introduzir a gente na Câmara, e a gente consegue inva-
dir a plenária. E no grito, a gente conseguir chamar audiência pública
nos Estados minerários. Aquilo foi muito, muito, muito gratificante.
Você entender, assim, “ó, é verdade, a gente pode”, “o povo pode”. E
aí, quando nós tivemos a audiência no nosso estado, foi a audiência
que mais lotou. Foi a audiência mais participativa, foi a audiência que
a gente arrancou o povo deles da mesa, e colocou o nosso no grito!
Então, assim, “ah, mas tudo vocês resolvem no grito”. Algumas coisas
você tem que resolver no grito, sim. Então tem esses prazeres, mas é
prazer que vai continuar? É o prazer momentâneo, que importa! E a
gente faz um monte de bobagem, a gente faz da nossa vivência, nós
134
não somos técnicos, nós não. A gente fala da nossa realidade.
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
Sandra: Mas a gente pensa que não, né? Porque a gente pensa que o
povo está lá, e sabe tudo, né? Igual a Vale. Na hora que ela lá, aquele
monte de gente, que acha aqueles dados lá e que expõe aquilo. Nos-
sa, aí vai caindo baba, você vai limpando. Mas a gente fala de nós,
fala da nossa realidade. Numa audiência em Conceição do Mato Den-
tro nós fomos apoiar, numa van, e já sabíamos como reagir, falar e
reivindicar nossos direitos. E a empresa estava com muita segurança,
com muitos olheiros, toda articulada. E o povo de Conceição estava
frio na época. O povo das comunidades rurais estavam lá. Muita gente
com criança no colo, mas assim muita gente. Povo muito simples. E a
polícia com uma postura, assim, de se impor mesmo pra cima da gen-
te, pra cima do pessoal. Nós estávamos e fizemos cartazes, fizemos
faixas para constranger os empreendedores. Era essa nossa estraté-
gia! E aí na hora da apresentação do empreendimento, a gente fez um
combinado, que quanto mais a gente tirasse a atenção deles, menos
eles vão conseguir passar o que eles precisavam. E a gente tinha um
promotor na mesa, um promotor nosso. Descobrimos como fazer uma
sombra com nossos cartazes e atrapalhar a leitura do cara, E aí o cara
não conseguia ler, porque estava preso na leitura, e porque ele não
conseguia ler, ele não conseguia explicar o projeto. Porque ele estava
preso no texto, ele não conhecia o projeto.
Falávamos para o povo de Conceição “vocês não precisam ter
medo, não precisa nem saber falar, a gente nem sabe. A gente vai lá
e fala assim mesmo.” Tinha muita política, mas não nos intimidamos,
éramos muitos. E aí o pessoal começou ir para frente também. Vários
deles foram. Vários moradores, e foram porque a gente foi junto com
eles, articulados. Cada um falava num momento. E antes disso nós fi-
zemos ato na rua, reproduzindo o crime da Vale e Samarco em Bento
Rodrigues. Fizemos um ato no meio da rua, paramos com a carraiada,
coisa que a gente não planejou aconteceu. E foi muito massa, porque o
povo chorou. Assim, foi comovente o negócio. E isso acabou chamando
135
um pouco para audiência à noite. Esses são os ganhos que a gente tem.
A gente conseguiu atrasar muito o processo em Conceição, por
causa disso. E aí o povo também começou a entender que eles preci-
savam ir para as audiências. Começaram a fazer as assembleias po-
pulares em Conceição, e eles conseguiram avançar. Só que como que
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
avança com uma AngloAmérica, sabe? Avança até certo ponto, aí de-
pois foi aprovado projeto, e era para loteamento de barragem. Então,
assim, por mais que você ganhe um tempo pra respirar, você ganha
um tempo para pensar e ele precisam lá, na verdade, é serem retira-
dos, desapropriados, porque eles estão embaixo da barragem. Aí eles
estão já estão negociando, parte deles estão negociando processo de
desapropriação. É assim: extremamente difícil. Mas tem sim, tem es-
ses momentos.
Aí tem aqueles momentos também, o dia que eu não quero pen-
sar em nada, que eu não quero saber de nada, que eu não quero con-
versar sobre isso, que eu não quero falar sobre isso, eu gosto muito
de ficar sozinha. Eu gosto, eu gosto da minha presença, eu gosto da
minha companhia. Eu amo estar na minha companhia, então, assim,
a Sara fica muito com a minha mãe, e eu fico aqui em casa. E eu gosto
muito de jogar buraco...no celular com robô. E aí fica eu e Deus aqui.
PACS: Onde que você acha que está a arte em você? E aí a arte ela
tem múltiplas possibilidades, né?
Sandra: Nossa, arte? Eu? A arte em mim, está nos outros. Eu sou mes-
tre nisso.
PACS : Mas você tem arte da mobilização, né? Você tem a arte do
encontro...
tos pras 16, eu largo do serviço 16 horas, pra dizer que: o vereador de
Morro (Edvane) ia votar a favor, prometeram 20 obras do Morro pra ele
votar a favor. Nossa aí estavam esperando eu mandar as frases, para
escrever nos cartazes, para saber o quê que ia tá escrito nos cartazes
pra gente levar pra câmara. Quando eu soube disso, 20 pras 16 da tar-
de, e a reunião era 19 horas da noite. Então eu tinha o caminho de Ca-
tas Altas até o Morro para pensar. Vim pensando o que eu ia fazer. Pen-
sei: vamos matar ele através desses cartazes. Vamos escrever pra ele,
“pelo amor de Deus não vote”. “Edvane, o povo do Morro confia em
você, não vote”. “Edvane, o Prefeito não votou em você...” Tudo com o
nome dele, Edvane, Edvane, Edvane! Porque era ele que tinha vendido
o voto por 20 obras. Cheguei em casa com essas ideias, falei com as
meninas: Vamos escrever pra Edvane diretamente. Vamos mandar os
cartazes todos nele. A gente já tinha galera que ia para Câmara. Vamos
escrever, também, os cartazes pra Ronaldo, outro vereador. “Ronaldo,
a gente não esperava isso de você. A gente esperava que seu voto....”
Aí as meninas falaram assim, “calma, Sandra, não vamos bater nele
não. Vamos pegar ele pela emoção também, igual o Edvane. “Ronal-
do, nós confiamos em você, nós precisamos do seu voto”. E aí a gente
conseguiu com esses cartazes. A gente chega chegando... Aí chega,
se não for para causar, a gente nem vai. Aí chegamos com os cartazes
foi tudo para frente, para plenária. Colamos cartazes na plenária, mos-
tramos o cartaz na frente do vereador. Cartaz na frente do outro verea-
dor, povo pirou na Câmara, nós derrubamos todos os projetos que teve
nesse dia. Todos. Então, assim, essa arte aí, tem.
137
Diálogos da terra e das águas: entrevistas da campanha
138