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Rota 1

Este documento apresenta uma introdução sobre a história da arte e do design. Discute conceitos como fruição artística e princípios que acompanham o entendimento da arte. Também aborda a importância de estudar a arte dentro do seu contexto histórico e as relações entre os eventos e características da expressão artística de cada época.

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Tom Ferrer
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Rota 1

Este documento apresenta uma introdução sobre a história da arte e do design. Discute conceitos como fruição artística e princípios que acompanham o entendimento da arte. Também aborda a importância de estudar a arte dentro do seu contexto histórico e as relações entre os eventos e características da expressão artística de cada época.

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HISTÓRIA DA ARTE E DO

DESIGN
AULA 1

Profª Débora Jordão Cezimbra


CONVERSA INICIAL

Iniciar os estudos sobre a história da arte requer, antes de tudo,


compreender os princípios que acompanham a fruição artística, bem como o
próprio entendimento desse conceito. O termo fruir envolve “desfrutar o gozo,
tirar proveito” (Larousse, 2004). Na estética artística, fruição diz respeito “àquilo
que tem o fim em si mesmo e sem finalidade imediata, envolvendo a ação de um
sujeito a partir de um desejo consciente, ou inconsciente, de experimentar certo
tipo de relação com algo” (Oberg, 2007, p. 22). Interessa-nos aqui saber que
alguns princípios nem sempre serão convergentes quanto à natureza da arte,
mas fundamentam os conteúdos e suas relações históricas que serão
apresentadas a você em caráter cronológico.
Os movimentos se iniciam a partir dos primórdios da expressão artística
pelo homem — cerca de 30 mil anos a.C. — até a arte contemporânea do século
XX e XXI, encerrando com as rotas específicas sobre a história do design a partir
do fim do século XVIII até os anos 2000. Contudo, isso não define que o estudo
da história da arte e do design deva sempre se dar da origem à atualidade. Outra
questão importante é que você deve construir, sempre que possível, as relações
entre os eventos históricos ocorridos (econômicos, políticos e sociais, por
exemplo) com as características da expressão artística da época. Dessa forma,
evita-se posicionamentos críticos e preferências pessoais quanto a uma obra,
artista ou design, permitindo assim a aprendizagem da linguagem visual pelo
“olhar da história”.
Além dos textos sugeridos e que contextualizam as teorias, esquemas
gráficos e linha do tempo organizarão visualmente o período e os conteúdos
discutidos durante as aulas. Os links para acesso a diferentes materiais
permitem visualizar obras, imagens, galerias, museus e teorias complementares
fundamentais para que, de forma autônoma, seja possível construir seu
conhecimento no vasto campo da história da arte e do design. Nesta aula, você
será convidado a questionar o que é e o que pode não ser arte a partir do tema
introdutório, seguindo o estudo das descobertas arqueológicas na pré-história e
a arte nas civilizações egípcia, mesopotâmica e asiática.

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CONTEXTUALIZANDO

O designer é um profissional que atua em um campo sensorial. Isso quer


dizer que o que ele cria será posteriormente aceito, ou não, por mercados e
clientes e em caráter perceptivo. As informações visuais contidas na capa de um
livro, por exemplo, serão apreendidas pelas pessoas passando a ter um
significado dentro de suas preferências e conhecimento. Temos, então, num
primeiro momento, essa capacidade humana inventiva presente na solução dos
simples problemas do cotidiano, como também na composição de uma música
por um artista ou em um projeto editorial – a chamada criatividade.
A criatividade não é o tema de nosso estudo, porém envolve um
entendimento primordial e complexo, que nos faz refletir sobre o que, afinal, leva
as pessoas a expressarem materialmente suas ideias e a criarem coisas? A
simples vontade, o talento ou angústia, a necessidade profissional ou artística.
Podemos ir além e refletir que independentemente dos motivos, o objeto criado
se constituirá de informações e valores pertencentes a esse sujeito que o criou,
sendo então uma criação de natureza pessoal e individual, portanto subjetiva.
Podemos também pensar nas pessoas que irão ouvir uma música. Será
que concordarão totalmente com o artista quanto aos melhores acordes, a
melodia e letra, ou provavelmente irão expor neste “desfrute musical” seus
gostos e opiniões? Podemos inferir que a criatividade diz respeito a processos
de pensamento, a modelos mentais que estão normalmente associados à
inovação e à originalidade e que interagem de forma muito dinâmica com as
pessoas, normas culturais e técnicas de expressão (Soriano, 2005, p. 01).
Dessa forma, propomos novos questionamentos: quais seriam as técnicas
de expressão disponíveis aos homens das cavernas? Como era possível
conceber um quadro na Idade Média e a quem se destinava? E hoje, em pleno
século XXI, quais ferramentas digitais existem para valorizar uma imagem
postada na rede social de uma organização? Precisamos ter em mente que o
ato de criar coisas – artísticas ou não, e que irão servir à contemplação e
aceitação de outras pessoas –, engloba primeiramente o sujeito criador, mas
também a técnica, os costumes, os valores culturais e sociais e, até mesmo, os
estilos, modismos e tradições.

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TEMA 1 – O QUE É ARTE: INDAGAÇÕES

[...] posso despreocupar-me, pois nossa cultura prevê instrumentos


que determinarão, por mim, o que é ou não arte. Para evitar ilusões,
devo prevenir que, como veremos adiante, a situação não é assim tão
rósea. Mas, por hora, o importante é termos em mente que o estatuto
da arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do
conceito, mas de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura,
dignificando os objetos sobre os quais ela recai. (Coli, 1995)

De acordo com o dicionário Larousse da Língua Portuguesa (2004), a arte


pode ser entendida como “habilidade, talento, perícia para uma atividade, seja
ela intelectual (do pensar) ou do fazer (da práxis humana); caráter, produção,
expressão ou concepção do que é belo; objeto criado dentro desta concepção”.
Todo homem é dotado da capacidade da práxis, da ação sobre a
natureza, do fazer em oposição ao pensar utilizando de meios – técnica, techné
e tecnologia (Oliveira, 2008) – na produção de objetos que terão uma finalidade
e que poderão ser belos ou não. Podemos até mesmo dizer que tal capacidade
é a que realmente nos distingue das outras espécies. Todavia, o naturalista e
biólogo Charles Darwin (1809-1888) argumenta que a ação em prol da beleza
pode ser tida como uma sensação natural de alguns organismos vivos, já que
pássaros fazem uso da beleza de suas penas para atrair a atenção de fêmeas
da sua espécie.
Retomando a questão da práxis, consideremos o homem primitivo, que
necessita caçar e encontra na natureza uma pedra que pode auxiliá-lo no corte
da carne. Obtendo êxito com esta ferramenta, ele começa a aperfeiçoá-la, poli-
la, e esse conhecimento prático começa a se disseminar. Imaginemos agora o
artesão da Idade Média e sua exímia qualidade em produzir assentos de madeira
em entalhe fino, conhecimento que transmite aos seus aprendizes em ateliês.
Nesses dois exemplos, da pedra lascada à polida e do mobiliário, temos
realidades que não são naturais. São produtos artificiais, pois suas
configurações originais (da pedra e da madeira) foram moldadas. Da mesma
forma que a pintura de uma paisagem marinha. Tem-se na pintura a paisagem
real ou uma realidade produzida, uma ideia de como se parece tal paisagem?
Ou o artista torna visível o pensamento pela imitação (mímese) de algo que é
natural: o mar, o céu e o horizonte – dentro da noção tradicional aristotélica – e
reproduz o real, contudo idealizado por ele, uma ilusão.

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Tendo a arte como “prazer”, recorremos aos seus sinônimos: “estado de
satisfação dos sentidos ou da mente; alegria, contentamento, júbilo” (Michaelis,
2020). Percebe-se um caráter de resultado, uma resposta de nosso sistema
cognitivo na construção de um “juízo de valor”. No entanto, poderia ser
precipitado afirmar que o fim da pintura de uma paisagem marinha, seu vir a ser,
seja somente a alegria ou satisfação que ela nos proporciona. Afinal, “buscar o
objetivo e o fim da arte no prazer que ela nos produz seria um conceito tão
elementar quanto pensar que o fim da alimentação está no prazer em comer. O
prazer em ambos os casos é um elemento acessório” (Tolstói, 2020, p. 18).
Aparte de todas as significações que uma obra de arte possua, tomemos
o proposto pelo historiador da arte Ernst Hans Josef Gombrich (1909-2001): “[...]
não existe arte, e sim artistas, e estes, em momentos passados, desenhavam
com terra em paredes de cavernas, e hoje compram suas próprias tintas e criam
cartazes para expor em tapumes”. Dessa forma, poderíamos então desqualificar
o trabalho de um artista que não nos seja familiar? Ou preterir um quadro
abstrato por outro que nos represente melhor a realidade da natureza? Mesmo
na afirmativa de tais questões, é preciso ter em mente que teríamos um
julgamento individual, próprio, e não universal. É nesse ponto que o estudo da
história da arte se faz essencial, no entendimento que devemos explorar a arte
(no sentido de descobrir) também pelo seu contexto espaço-temporal, refletindo
que “a arte pode significar coisas muito diferentes e em tempos e lugares
diferentes” (Gombrich, 1981, p. 5).

TEMA 2 – ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA

O termo pré-história refere-se ao período em que a espécie humana não


fazia uso da linguagem escrita. Portanto, não existem documentos escritos que
registrem seus feitos e estilo de vida. Contudo, existem ainda hoje diversos
povos nas América e África que não utilizam dessa linguagem e que não estão,
desse modo, no que definimos como pré-história. A distinção não tão clara de
termos ocorre também no âmbito da história da arte, pois esse período já foi
tratado como arte primitiva, arte tribal ou arte não ocidental. Em partes, por não
se igualarem às tradições técnica e formal da arte europeia, que também se
rompeu inúmeras vezes no transcurso da arte.

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Como colocado por Myers (2005), no pós-modernismo, a “crítica do que
é ou não arte, ou o que é ou não boa arte, se expõe como uma resposta
defensiva de ‘ameaça à arte’, no caso do kitsch e da cultura de massa”. Todavia,
tanto pela abrangência geográfica (Américas, Ásia, Oceania e África) quanto
pela diversidade cultural e material produzida por esses povos, não podemos
diminuir sua relevância na história da linguagem visual. Aconselhamos, assim, a
leitura do texto A Arte dos Povos sem História, da antropóloga Sally Price,
disponível online no livro Arte Primitiva, de Franz Boas, assim como visitas a
museus locais e virtuais com acervos destinados a estas culturas.

2.1 A arte no paleolítico superior e no neolítico

No que diz respeito à história da arte, recortamos aqui as evidências


arqueológicas descobertas a partir do XVIII e definidas por seus aspectos
civilizatórios e geológicos em eras denominadas de da pedra (paleolítico e
neolítico) e dos metais (bronze e do ferro). Contudo, é no último estágio do
paleolítico que estão as descobertas mais significativas até hoje, como as
pinturas rupestres em paredes de cavernas, como no exemplo de Lascaux no
sudoeste da França, Chauvet ao sul e de Altamira no norte da Espanha. Nesse
período, os “artistas” utilizavam do naturalismo, em que se representava
somente aquilo que se via (animais de caça como bisões, cavalos, renas e
veados) e em determinada perspectiva (Proença, 1995).

Figura 1 – Pinturas na caverna de Lascaux

Fonte: thipjang/Shutterstock.

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Notamos o uso de contornos escuros na definição das formas e de
preenchimentos coloridos, sombreamentos e contrastes vivos na composição
dos volumes. Quanto aos motivos para tais representações, os historiadores
(Gombrich, 1981; Proença, 1995; Monterado, 1978) referem-se normalmente a
rituais mágicos em que o homem exerceria certo tipo de poder sobre o animal,
questão essa que atravessa a história da arte na pré-história e antiguidade, a
pouca diferenciação entre o que é real – neste caso, o animal – e sua imagem –
o poder das imagens.
Outra técnica encontrada nessas cavernas é a pintura das silhuetas das
mãos ou “mãos em negativo”. Atribui-se à técnica a utilização de canudos, por
onde eram soprados pigmentos produzidos a partir de óxidos minerais, carvão,
vegetais e sangue de animais. Já as pequenas esculturas do paleolítico
aparecem em ossos, chifres ou calcário e retratam figuras femininas corpulentas,
como a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria.

Figura 2 – Vênus de Willendorf

Fonte: frantic00/Shutterstock.

No período neolítico, as diferenças no modo de vida ocorridas aparecem


representadas em pinturas e escavações em pedra que abordam as tarefas
coletivas do dia a dia. Mesmo que de forma rudimentar, traços geometrizados
traduzem movimentos em cenas que sugeriam a compreensão do espaço
geométrico. Tal característica prenunciava umas das primeiras formas de
escrita, a da linguagem pictórica (Proença, 1995).

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Figura 3 – Pinturas na caverna de Malgura, Bulgária

Fonte: Eduard Valentinov/Shutterstock.

Supõe-se que com a domesticação dos animais o homem do neolítico


poderia ter sua atenção voltada a outras atividades além da caça, levando à
representação de figuras pelo pensamento (do autor), e não somente pelo que
era observado, como ocorria no paleolítico. Com o advento do fogo, foi possível
a manipulação dos metais e suas ligas (o ferro e o bronze) e a produção de
novas ferramentas e armas. O fogo também viabilizou a queima da argila,
permitindo a produção dos primeiros artefatos cerâmicos, por vezes
ornamentados com grafismos e esquemas simbólicos (arte esquemática) como
visto na arte levantina na Península Ibérica (Mateo, 2008).
Desenvolveu-se também a fiação e a tecelagem. Por passarem a se fixar
em territórios, nossos ancestrais elaboraram as primeiras construções
arquitetônicas com pedras sobrepostas e sem uso de aglutinantes, os nuragues
(Proença, 1995. pag. 16). Já os dólmens, como o grande círculo de Stonehenge
no Reino Unido, eram construções atribuídas a objetivos sagrados – neste caso,
um monumento ao sol –, tendo sido edificada para o ponto exato da nascente
desse astro no dia mais longo do ano (Janson, 1996).

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Figura 4 – Círculo de pedras de Stonehenge

Fonte: Drone Explorer/Shutterstock.

Quanto à arte rupestre no Brasil, Justamand et al. (2017) traçam a ampla


trajetória histórica dessa expressão em locais como Paraíba, Bahia, Minas
Gerais e Rio Grande do Norte, e suas relações com a cultura dos povos
originários do território brasileiro.

TEMA 3 – A ARTE NO ANTIGO EGITO

A produção artística no Egito Antigo, assim como a do fim da pré-história,


era orientada pelos aspectos sociais. Contudo, o que definiu essa sociedade foi
seu caráter religioso, sendo o seu governante uma divindade suprema
designada por faraó. Por esta razão e por considerarem que a vida após a morte
seria tão ou mais importante que a terrena é que se pôde ter acesso à cultura
material e histórica dessa civilização, já que as tumbas dos faraós eram
adornadas com pinturas e artefatos que lhes serviram durante a vida terrena e a
vida após a morte.

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Figura 5 – Afrescos no templo de Hatshepsut

Fonte: Kokhanchikov/Shutterstock.

Para Monterado (1968), as tumbas e pirâmides (destinadas aos faraós),


com suas capelas funerárias, puderam manter o acervo doméstico e artístico da
civilização egípcia. O acervo inclui mobiliários, esculturas detalhadas e
idealizadas, pinturas e baixos-relevos, peças de ourivesaria e os manuscritos em
papiro – os registros mais conhecidos dessa civilização.
Importante observar, na arte pictórica egípcia, que os faraós eram
representados ao centro da imagem e em tamanho maior que sua esposa, filhos
e serviçais, enaltecendo seus feitos e qualidades. Esta tradição na
representação pouco mudou durante a história da civilização egípcia. Apenas no
reinado de Amenófis IV (aproximadamente 1.400 anos a.C.) são percebidas
imagens de faraós em posturas menos rígidas que as sentadas com as mãos
sobre as coxas. Contudo, há a retomada do poder pelos sacerdotes no reinado
de Tutancâmon, sendo que grande parte do acervo que hoje conhecemos datam
desse período e da descoberta de sua tumba no ano de 1922 (Proença, 1995).

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Figura 6 – Estátua da deusa Serket: exposição Tutankhamun, em Genebra

Fonte: mountainpix/Shutterstock.

Interessa-nos evidenciar que na arte pictórica egípcia há regras


rigidamente seguidas – pouco se interessava inovar – “onde todos os elementos
considerados importantes precisavam ser representados assegurando clareza,
organização e regularidade geométrica (simetria), parecendo estarem
posicionados no local exato, evidenciando o equilíbrio e a harmonia nas
composições” (Gombrich, 1981). O mesmo se dava para a figura humana que,
independentemente da real perspectiva, tinha o dorso e braços representados
de frente, permitindo a melhor visualização dos movimentos, enquanto pés,
pernas e cabeças eram desenhados de perfil e com olhos também em vista
frontal; tal padrão recebia o nome de lei da frontalidade (Proença, 1995).

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Figura 7 – Hieróglifos em baixo-relevo: paredes do templo de Dendera

Fonte: Renato Murolo 68/Shutterstock.

Porém, na história da antiga da civilização egípcia, com aproximadamente


30 séculos, Monterado (1968) relata a dificuldade em delimitar como a arte ali se
originou e de que forma evolui. As constantes invasões que levaram ao
enfraquecimento e fim do império também contribuíram para que a arte no Egito
“passasse a receber influência grega e com tentativas falhas em fundir os dois
‘estilos’, a expressão artística deste povo acabou por esgotar-se”.

TEMA 4 – A MESOPOTÂMIA

Assim como os egípcios que se desenvolveram à margem do rio Nilo, a


civilização mesopotâmica (aproximadamente entre 3.500 e 500 anos a.C.)
concentrou-se entre os rios Tigre e Eufrates. Porém, não delimitados por cultura
e povos únicos como seus contemporâneos egípcios, mas por uma profusão de
sociedades políticas que envolviam sumérios, babilônicos e assírios.
Desenvolveram habilmente o trabalho em metais e a glíptica (gravação em
pedras preciosas) com representações em desenho simétrico de animais e
algumas vezes com uma árvore ao centro (Monterado, 1968).

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Figura 8 – Metalurgia em bracelete: Dario I (aproximadamente 518 a.C.)

Fonte: DroneHero29/Shutterstock.

Por geograficamente estarem em uma região sem pedreiras, as


habitações eram produzidas em paredes argilosas, com tijolos cozidos ao sol no
interior e os queimados nas paredes externas (também empregavam a
esmaltação). A característica desses materiais, juntamente ao hábito de
reerguerem novas estruturas sobre as originais, fez com que pouco se
preservasse. Suas construções arquitetônicas tinham por destaque os zigurates,
templos dedicados às divindades com escadarias e rampas de acesso,
construídos ao centro de grandes estruturas edificadas com andares planos,
sendo um dos mais famosos o Uruk, no Templo Branco, antiga Suméria (Janson,
1996). Acredita-se que foi construído para o deus do céu, Anu (Führ, 2018). Os
zigurates são tidos como as primeiras cidades da antiguidade.
As cenas dos baixos relevos gravados em paredes seguiam em partes a
tradição egípcia da lei da frontalidade. Porém, mesmo sendo precisos nos
detalhes, não tendiam ao rigor e exatidão dos elementos. Os temas dos baixo-
relevos expressavam suas lutas e batalhas, exaltando a força dos monarcas em
relação aos vencidos (Gombrich, 1981). Também faziam uso de imagens de
animais como touro, leões e aves, e a tradição de combinar suas cabeças com
corpos humanos na representação de divindades.

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Figura 9 – Relevos esculpidos da caçada a um leão

Fonte: Viacheslav Lopatin/Shutterstock.

Essa importante civilização também é responsável pelo desenvolvimento


de uma das primeiras formas de linguagem escrita: os caracteres cuneiformes.
Sua estrutura e configuração são atribuídas a pequenos objetos (tokens e
bullaes) encontrados em diferentes sítios arqueológicos da região da
mesopotâmia (Rede, 1999).

TEMA 5 – A CIVILIZAÇÃO DO MAR EGEU

Diferentemente da rigidez dos povos orientais dos climas desérticos, os


cretenses, ou “civilização do mar” (aproximadamente entre 3.400 a 1.200 anos
a.C.) produziram artefatos – cerâmicos e ourivesaria – esculturas e pinturas que
seguiram em partes a tradição egípcia, prenunciando o avanço dos artistas da
época nos estudos anatômicos e dos movimentos, com uso de cores vibrantes
e contrastes cromáticos em tons de terra (vermelhos), azuis, amarelos e brancos
em temas alegres e contextos decorativos (Monterado, 1968; Proença, 1996).

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Figura 10 – Afresco em Creta: civilização minóica

Fonte: Andreas Wolochow/Shutterstock.

Mas é na cerâmica que a cultura cretense apresenta um grande valor


tanto pelas repetições e motivos geométricos como pela influência, que depois
deixa nessa arte no avançar da cultura grega (arcaica e clássica). Segundo
Souza (2015), os temas figurativos são interpretados pelo gênero das pessoas,
pelas situações cotidianas, elementos e funções sociais, porém nos temas da
pintura geométrica as representações “possuem o valor narrativo de um
indivíduo, um evento pessoal, um tempo e local específico, um fato da realidade”.

Figura 11 – Vaso no sítio arqueológico de Malia Palace: Grécia/Creta

Fonte: the_pictures_of_life/Shutterstock.

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No período Minóico Médio, a cultura micênica retrata na arquitetura as
tradições dos povos da mesopotâmia em construções comuns para as pessoas,
e não para grandes deuses, sem a presença de estátuas e raros relevos, e com
cúpulas que não utilizavam de arcos de sustentação, mas pedras dispostas de
forma horizontal criando níveis entre a linha inferior e superior, como na Tumba
dos Atrídas (Monterado, 1968; Proença, 1996). Novamente, as invasões típicas
da época com mudanças no controle apagaram parte dos registros dessa
civilização, trazendo novamente fortificações e temas bélicos e rudes.
É possível encontrar parte do acervo da cultura do mar Egeu, assim como
outras coleções envolvendo as escavações arqueológicas da cultura grega
antiga, no site do National Archaeological Museum.

TROCANDO IDEIAS

Agora que já estamos familiarizados com alguns dos pressupostos do


pensamento artístico e conhecemos um pouco melhor sobre a capacidade
humana inventiva e que nos acompanha desde os primórdios de nossa
civilização, propomos a discussão quanto à arte (pintura, escultura, baixo
relevos, por exemplo) e os artefatos (cerâmicos, adornos, móveis, ferramentas,
etc.) nos períodos paleolítico e neolítico ou nas civilizações orientais do Egito e
da Mesopotâmia. Argumente sobre as questões sociais e culturais, o motivo que
levou o “artista” a tal criação e quais foram os meios de execução (técnicas e
materiais) empregados e, portanto, disponíveis na época e local.

NA PRÁTICA

Neste primeiro exercício, será solicitado a você o posicionamento crítico


quanto à questão da arte e do belo. Contudo, esse posicionamento deve se dar
pelos argumentos históricos desta aula complementados pelos seguintes vídeos:

 Uma teoria Darwiniana da beleza1, TED com Denis Dutton;


 Qual a função da arte?2, Fronteiras do Pensamento com Simon Schama;
 O belo e a arte3, de Alex Frechette.

1
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PktUzdnBqWI>. Acesso em: 1 mar. 2020.
2
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7mrj6wcOrVY>. Acesso em: 1 mar. 2020.
3
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ctkgr2QjC7w>. Acesso em: 1 mar. 2020.

16
Em seguida, você deverá responder:

a) O que é belo (ou não belo) na arte para você?


b) Por que considera tal obra bela (ou não bela)?

FINALIZANDO

Nesta aula, você aprendeu:

 o conceito de práxis e a capacidade humana de modelar o seu entorno;


 que a história da arte lhe permite contemplar as diferentes obras sempre
pelo seu aspecto temporal, social e espacial e pelas técnicas e materiais
disponíveis;
 que a arte pré-histórica compreende cerca de 30 mil anos a.C. e que as
primeiras manifestações de expressão pelo homem ancestral envolviam
tanto a sua vida cotidiana como aquilo que considerava “divino”;
 a importância das tradições artísticas egípcias na arquitetura, pintura,
escultura e demais artefatos e como essas tradições se reproduziram nas
civilizações contemporâneas e posteriores;
 que os povos da Mesopotâmia e do Mediterrâneo foram, em partes,
modificando a forma de expressão artística, mas normalmente vinculadas
às características do ambiente, contextos políticos e estilo de vida.

17
REFERÊNCIAS

COLI, J. O que é arte. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.

FÜHR, M. Conheça os principais zigurates da Antiga Mesopotâmia. 2018.


Disponível em: <https://www.apaixonadosporhistoria.com.br/artigo/44/conheca-
os-principais-zigurates-da-antiga-mesopotamia>. Acesso em: 12 jan. 2019.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

JANSON, H. W. Introdução à história da arte. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,


1996.

JUSTAMAND, M. et al. A arte rupestre em perspectiva histórica: uma história


escrita nas rochas. Revista Arqueologia Pública, Campinas, v. 11, n. 1, p. 130-
172, 2017.

LAROUSSE. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa. São Paulo:


Larousse do Brasil, 2004.

MATEO, M. A. S. La cronología neolítica del arte levantino: ¿realidad o deseo?


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MONTERADO, L. de. História da arte. São Paulo: São Paulo, 1968.

MYERS, F. Primitivism, anthropology, and the category of primitive art. In


Handbook of Material Culture, p. 267-284, 2006.

OBERG, M. S. P. Informação e significação: a fruição literária em questão. 221


f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2007.

OLIVEIRA, E. A. A técnica, a techné e a tecnologia. Itinerarius Reflectiones:


Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus Jataí, Jataí, v. 2, n. 5,
jul/dez. 2008.

PROENÇA. G. História da arte. São Paulo: Ática, 1996.

REDE, M. Complexidade social, sistemas comunicativos e gênese da escrita


cuneiforme. Classica, Sao Paulo, v. 11/12, n. 11/12, p. 37-59, 1999.

SORIANO. E. A. A gerência da criatividade. São Paulo: Makron Books, 1996.

18
SOUZA, C. D. A arte geométrica grega: considerações sobre a análise dos
motivos figurados do repertório iconográfico geométrico argivo (c. 900 a 700
a.C.). Calíope: Presença Clássica, Rio de Janeiro, n. 29, p. 61-95, 2015.

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