Anais Do Curso Neurociências Da Visão 2021

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 93

C U R SO EM N E U R O C I Ê N C I A S DA VIS ÃO

FUNDAMENTOS,
DESENVOLVIMENTO, ESTIMUAÇÃO
E REABILITAÇÃO VISUAL

São Paulo, Brasil


Anais do Curso: Neurociências da Visão:
Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e
Reabilitação Visual, V.1
É proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem a expressa autorização dos autores e/ou organizadores.

Coordenadoria
Marcelo Fernandes Costa

Revisão
Marcelo Fernandes Costa
Leonardo Dutra Henri

Assessoria administrativa e acadêmica


Design gráfico
Elaine Cristina Clemens Torres

Normatização e Representação Temática


Lenise Clemens Torres – CRB 8/10652

C838

Costa, Marcelo Fernandes. Henriques, Leonardo Dutra. -

Anais do curso Neurociências da Visão: fundamentos, desenvolvimento, estimulação e reabilitação visual, v.1 /
vários autores; coord. Marcelo Fernandes Costa. Leonardo Henriques Dutra – 1. Ed. – São Paulo, SP, 2022.

Recurso digital : il.

Formato: pdf, mobi (amazon)

Requisitos de sistema: Kindle, Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web.

ISBN: 978-65-00-57725-9

1. Neurociências – Estudo e ensino. 2. Visão – Estudo e ensino. 3. Reabilitação Visual. 4. Desenvolvimento


Perceptual.
I. Costa, Marcelo Fernandes, coord. II. Dutra, Leonardo Henriques. III. Universidade de São Paulo IV. Título

CDD 612.84
SUMÁRIO

Impacto da Visão Funcional no Desempenho Ocupacional de Crianças com Síndrome do


Zika .................................................................................................................................................. 1
Marcela Aparecida dos Santos, Verena de Magalhães Ballalai Alves de Almeida
O Impacto da Estimulação Visual na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: Uma Revisão
Sistemática da Literatura ............................................................................................................ 13
Cristiane A. Moran, Victor Seabra Lima Prado Costa, Letícia Oliveira Marx
Análise Revisional da Possibilidade e Eficácia de Treinamento Para o Local Preferencial da
Retina em pacientes com perda de visão central ....................................................................... 21
Silvia Chuffi
Relação da Avaliação da Visão Funcional para Crianças e o Sistema de Classificação da Visão
Funcional para Crianças com Deficiência Visual Cortical e Cerebral ................................... 27
Marcia Caires Bestilleiro Lopes, Merinaide Cavalcante de Araújo
Revisão Sistemática sobre o Tempo de Fixação Visual para Face no Transtorno do Espectro
Autista ........................................................................................................................................... 37
Maisa Ferreira da Rocha
Dislexia: Revisão Integrativa e Proposta de Protocolo de Atendimento para Saúde Visual 44
Lourdes da Cruz Baptista
Maculopatia Miópica: Reabilitação Visual e Treinamento Visual por Biofeedback. Revisão
Integrativa ..................................................................................................................................... 55
Maria Aparecida Onuki Haddad
Revisão sobre testes funcionais no glaucoma infantil ............................................................... 72
Christiane Rolim-de-Moura, Carolina Pelegrini Gracitelli Barbosa

5
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Impacto da Visão Funcional no Desempenho Ocupacional de


Crianças com Síndrome do Zika

Marcela Aparecida dos Santos¹, Verena de Magalhães Ballalai Alves de Almeida²


¹ Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
E-mail: [email protected]
² Abraço a Microcefalia, Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo:
Crianças com Síndrome do Zika Vírus (SCZ) apresentam alterações significativas nos componentes de
desempenho ocupacional, que impactam na sua funcionalidade e participação social nas áreas ocupacionais como,
brincar, contexto escolar e nas atividades de vida diária (AVD’s), três áreas de abrangência mais comum no
contexto da infância. Estudos mostraram que alterações do sistema visual são comumente encontradas nas crianças
com SCZ, mesmo que sem microcefalia. O objetivo principal deste estudo verificar o quanto as dificuldades
visuais bem como as de manipulação manual impactam no desempenho para o brincar e nas AVD’s de crianças
com a Síndrome Congênita do Zika, utilizando como medidas a Avaliação da Visão Funcional para Crianças
(AVF) e a Classificação da Habilidade Manual (MACS). Todas as crianças do estudo apresentaram alterações da
visão funcional e da habilidade manual. Nenhuma criança classificada nível V do MACS, teve de boa função
(68%-89%) à normal (90%-100%) para as funções visuais verificadas na AVF, exceto a fixação visual, porém
com predomínio de nenhuma/pouca função (0%-22%). O estudo pôde concluir que as crianças com SCZ
apresentaram prejuízos importantes nas habilidades da visão funcional e pobre qualidade de suas habilidades
manuais. Estas alterações impactam negativamente na participação destas crianças para o brincar e realizar as
atividades de vida diária, dois contextos importantes do desempenho ocupacional na vida da criança.
Consideramos fundamental que crianças com diagnóstico de SCZ sejam encaminhadas precocemente para
avaliação terapêutica ocupacional e avaliação da visão funcional.

Palavras-Chave: Síndrome Congênita do Zika, desempenho ocupacional, visão funcional,


habilidade manual, deficiência visual, terapia ocupacional.

1
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

O Impacto da Estimulação Visual na Unidade de Terapia


Intensiva Neonatal: Uma Revisão Sistemática da Literatura

Cristiane A. Moran¹, Victor Seabra Lima Prado Costa2, Letícia Oliveira Marx3
¹ Docente do Departamento de Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Reabilitação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Araranguá, Santa Catarina,
Brasil. E-mail: [email protected]
2
Estudante de graduação do Curso de Medicina do Departamento de Ciências da Saúde da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Araranguá, Santa Catarina, Brasil. E-mail:
[email protected]
3
Estudante de graduação do Curso de Medicina do Departamento de Ciências da Saúde da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Araranguá, Santa Catarina, Brasil. E-mail:
[email protected]

Resumo:
Introdução: A estimulação visual precoce possibilita o desenvolvimento da capacidade funcional da visão de recém-
nascidos (RNs) em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINs), onde a permanência prolongada causa privação de
estímulos, podendo acarretar em dificuldade de maturação sensorial. No entanto, ainda há uma lacuna sobre os tipos
de protocolos de intervenção visual nas UTINs e os benefícios clínicos envolvidos com sua utilização. Objetivo:
Avaliar os benefícios clínicos da aplicação de protocolos de estimulação visual com RNs internados em UTINs,
considerando a funcionalidade da visão, tempo e tipos de estimulação visual. Método: Esta revisão sistemática foi
realizada de acordo com as recomendações do PRISMA. A última busca foi conduzida em 8 de março de 2022 nas
seguintes bases: PubMed, EMBASE, CINAHL e BVS. Os estudos primários que preenchiam os critérios de inclusão
baseados na estratégia PICOS tiveram seus dados sistematizados em planilhas e uma síntese narrativa foi realizada
para a apresentação dos resultados. Resultados: Um total de 7 estudos foram incluídos. Notou-se que as intervenções
conduzidas utilizavam protocolos de estimulação multissensorial (incluindo a visão), com foco em diversos benefícios
clínicos e funcionais, tais como: aumento da taxa de amamentação com leite humano, melhora do comportamento
organizado de sucção, ganho de peso, melhor desenvolvimento neuromotor. Conclusão: As intervenções
multissensoriais realizadas com RNs internados em UTINs são capazes de provocar um notável benefício em
parâmetros clínicos e funcionais, como a alimentação, o ganho de peso e o desenvolvimento neuromotor. Dados sobre
intervenções exclusivamente visuais são ainda escassos na literatura científica.

Palavras-Chave: Estimulação visual precoce, intervenção multissensorial, prematuridade.

Introdução prolongado de internação hospitalar (World


Health Organization [WHO], 2015; Poets &
O nascimento prematuro é um fator que Lorenz, 2018; Sommer et al., 2014; Gouyon,
predispõe o recém-nascido (RN) a diversas Iacobelli, Ferdynus & Bonsante, 2012).
morbidades, como distúrbios respiratórios e
alterações visuais, levando a um período
13
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Análise Revisional da Possibilidade e Eficácia de Treinamento


Para o Local Preferencial da Retina em pacientes com perda de
visão central

Silvia Chuffi¹
¹ Ortoptista no Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, Joinville, SC, Brasil. E-mail:
[email protected]

Resumo:
Esta é uma análise revisional de artigos que tratam da determinação de um ponto mais estável de fixação em pacientes
com perda de visão central e seus resultados com treinamento de biofeedback ou outras possíveis formas de treinamento
de leitura. Foi considerada a possibilidade de uma plasticidade neural de adaptação e rearranjo de fixação em pacientes
adultos e, fundado nisto, revista a aplicação do exame de microperimetria como ferramenta de estudo mais precisa para
definir um local de fixação mais estável e analisada a possibilidade de definição do PRL (preferential retinal locus)
dissociado da microperimetria para treinamento de um ponto mais estável de fixação.
A falta de acessibilidade ao exame de microperimetria e o treinamento com biofeedback ainda representam um dado
limitante. Assim, estabelecer protocolos de treinamento visual que possibilitem a manutenção de resultados do
treinamento com biofeedback e/ou a necessidade de estabelecer protocolos deste treinamento para leitura que
possibilitem a melhora da fixação tanto para manutenção dos resultados quanto para a viabilização propriamente dita de
uma fixação mais estável é um desafio ao qual devemos nos atentar e continuar as pesquisas e testes de modo que o
tratamento deve ser individualizado e apoiado por questionários, tal como VFQ-25, que norteiam as dificuldades e
necessidades essenciais de cada paciente colaborando com o desenvolvimento de protocolos norteadores de um método
de treinamento mais eficaz.

Palavras-Chave: Treinamento de leitura, biofeedback, local preferencial da retina (PRL), local


treinado da retina (TRL), plasticidade ocular, visão central, microperimetria.

Introdução Considerando a hipótese de Kandel, em sua obra


que trata dos princípios de neurociências, no
Com o aumento da expectativa de vida na qual considera que as propriedades funcionais
população mundial temos nos deparado cada de neurônios no córtex visual sejam estáveis na
vez mais com diversas doenças típicas do idade adulta, mas, muitas destas propriedades
envelhecimento. podem manter-se mutáveis durante a vida
levando a alterações no córtex visual após
Os idosos têm sido frequentemente acometidos algumas lesões, o que denota a possibilidade de
pelas doenças degenerativas e, por uma sequela de plasticidade ocular
isto, médicos, pesquisadores e profissionais da remanescente. (Gilbert, Charles, cap. 27 em
saúde vêm, frequentemente, buscando Kandel, Eric R., Schwartz, James H., Jessel,
minimizar os efeitos das perdas visuais que Thomas M., Siegelbaum, Steven A., Hudspeth,
surgem com o o passar dos anos. A.J (2014).

21
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Relação da Avaliação da Visão Funcional para Crianças e o


Sistema de Classificação da Visão Funcional para Crianças com
Deficiência Visual Cortical e Cerebral.

Marcia Caires Bestilleiro Lopes¹, Merinaide Cavalcante de Araújo2


¹ Fisioterapeuta colaboradora do Ambulatório de Estimulação Visual do Setor de Baixa Visão e
Reabilitação Visual da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
E-mail:[email protected]
2.
Fisioterapeuta colaboradora do Ambulatório de Estimulação Visual do Setor de Baixa Visão e
Reabilitação Visual da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. E-mail:
[email protected]

Resumo:
A deficiência visual é uma das deficiências associadas mais comuns as crianças com encefalopatia crônica não
progressiva na infância (ECNPI). Nos últimos anos, houve uma conscientização da importância de se classificar a
funcionalidade associada a ECNPI. O Sistema de Classificação da Visão Funcional (SCVF), foi desenvolvido com
base na Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) e em conceitos de participação das funções associadas ao
comprometimento visual. Nosso objetivo foi relacionar a avaliação funcional com a classificação funcional. No estudo
participaram 44 crianças com idade média de 27 meses (dp= 24, 21 do sexo masculino). Todas realizaram tratamento
oftalmológico adequado e fazem acompanhamento no Ambulatório de Estimulação Visual Precoce do Setor de Baixa
Visão e Reabilitação Visual da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. As medidas de replicabilidade mostrarm
alta concordância entre as duas aplicações em todas medidas realizadas na testagem de avaliação funcional – AVFC,
As classificações do VFCS realizadas pelos primeiro e segundo aplicadores também mostraram alto índice de
concordância (X²= 0,0388; p= 0,997).Encontramos uma correlação inversamente proporcional entre o score ordinal de
classificação da VFCS com os tempos de fixação para raquete quadriculada (R= -0,504; p= 0,012) e para fixação da
raquete com face (R= -0,556; p= 0,006). A correlação entre os tempos de fixação para a raquete quadrada e raquete de
face foi diretamente proporcional (R= 0,876; p< 0,001). Os dados apontam que a AVFC é mais sensível para descrever
comportametos sutis, mostrando que dentro de cada nível definido pelo SCVF podem haver variações de
comportamento e habilidades.

Palavras-Chave: Avaliação da visão funcional, sistema de classificação funcional, baixa visão


cortical ou cerebral, baixa visão infantil.

Introdução visão funcional para crianças. (Costa, França,


Barboni, & Ventura, 2017; Salomão & Ventura,
A visão, como o sistema sensorial mais 1995; Mayer et al., 1995).
sofisticado, vem despertando interesse de
pesquisadores em diversos países no estudo da
27
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Revisão Sistemática sobre o Tempo de Fixação Visual para Face


no Transtorno do Espectro Autista

Maisa Ferreira da Rocha¹,


¹ Terapeuta Ocupacional, São Paulo, São Paulo, Brasil. E-mail:[email protected]

Resumo:
O estudo teve como objetivo revisar a literatura sobre estudos na área de tempo de fixação visual para a face no transtorno
do espectro autista. A fixação visual já está presente em recém-nascidos a termo, entre uma semana e 15 semanas de
idade apresentam fixação para formas, faces e padrões complexos e sobre a sua relevância para o desenvolvimento da
interação social. Foi realizada uma busca em bases de dados eletrônica nacional e internacional, PubMed, BVS, Lilacs,
Scielo e Cochrane Library, os critérios para a inclusão foram os últimos 5 anos de publicação, e este deveria relacionar
o tema da pesquisa sobre o tempo fixação visual a face no transtorno do espectro autista. Encontramos 93 artigos, foram
excluídos 66 artigos, por serem indexados em bases de dados repetidas, ou relatar sobre outras funções e diagnósticos,
como também pesquisas com animais. Mais estudos precisam ser realizados, porque encontramos muitos vieses quando
falamos fixação visual para a face relacionando-se as emoções como também aos objetos de interesse, bem como
compreender as estruturas anatômicas e morfológicas cerebral desses indivíduos, pois correlacionam-se diretamente com
as questões práticas da reabilitação.

Palavras-Chave: Fixação visual, fixação ocular, face, fixação facial, rastreamento ocular,
Transtorno do Espectro Autista.

Introdução especificidades descritas também podemos


atribuir o contato visual como uma forma de
A visão é o mais sofisticado e objetivo de todos comunicação não verbal que reflete
os sentidos. Ela fornece o relato mais minucioso temperamento e fornece informações sociais e
do mundo externo, registrando simultânea emocionais. Esse tipo de comunicação também
mente posição, distância, tamanho, cor e forma; desempenha um papel fundamental no
uma síntese imediata dos acontecimentos, desenvolvimento do comportamento e cognição
objetos de interesse e pessoas que estão ao redor em humanos (Kotani, 2017; Senju e Johnson,
(Ruas, et al., 2006; Knobloch Gagliardo HGRG, 2009).
2003, H, Passamanick B., 1900). Também se
referem a visão como um instrumento que Estudos sobre o desenvolvimento da fixação
acentua as habilidades mentais, um construtor ocular discorrem que recém-nascidos a termo
de conceitos espaciais, um instrumento quando entre uma e 15 semanas de idade apresentam
se adquire a linguagem e um meio para fixação para formas, faces e padrões complexos
desenvolver as relações emocionais (Ruas et al., (tabuleiro de xadrez, listras) e mostrou que a
2006; Lindstedt E, 2000). Além de todas estas capacidade dos recém-nascidos para
37
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

perceberem formas complexas encontra-se desenvolvimento relacionando-se a limitações


presente desde o início da vida (Lopes et al., sociocognitivas que dificultam a aquisição da
2020; Fantz,1961, 1963). Também relatam que linguagem, um processo fortemente dependente
a face é um estímulo visual extremamente de processos de interação social, como iniciar e
importante para a interação social e leitura responder a episódios de atenção conjunta, que
ambiental, principalmente para os bebês. A envolvem monitoramento do olhar (Skwerer et
preferência por padrões complexos é inata, al., 2019). A maioria desses estudos concluiu
assim como a preferência por face. A ausência que a sensibilidade ao olhar nos olhos é atípica
de olhar para faces pode indicar baixa visual no TEA (Fujioka et al., 2020), com prejuízos das
severa, redução da atenção visual ou alterações crianças em seguir espontaneamente o olhar de
de ordem cognitiva (Lopes et al., 2020). outra pessoa para compartilhar atenção. Assim,
a atenção social visual tem sido frequentemente
Atualmente, a literatura pontua que podemos estudada entre indivíduos com TEA, usando
observar alguns sinais preditivos em bebês que rostos humanos como alvo (Sadria M, Karimi S,
mais tarde desenvolverão um transtorno do Layto A, 2019).
espectro do autismo, como a atenção reduzida
ou atípica ao contato visual e facial, busca ocular
deficiente de objetos e pessoas em movimento e
atenção visual superfocada a estímulos estáticos Objetivo
(Gepner et al., 2020). Ao longo do
desenvolvimento é possível observar as Levantar dados atuais da literatura que
dificuldades na interação social e comunicação, descrevam o tempo de fixação que indivíduos
bem como comportamentos e interesses com o transtorno do espectro autista observam
restritos, repetitivos e estereotipados (Ming et faces, visto a importância desta para o
al., 2019). Essas peculiaridades precoces no desenvolvimento infantil nos aspectos da
contato visual e na atenção ao rosto em crianças atenção, linguagem e interação social.
com TEA causam prejuízo em sua experiência
de leitura de rostos de outras pessoas
contribuindo para vários prejuízos no Método
processamento facial, como reconhecimento de
identidade facial e emoções faciais (Gepner et Revisão sistemática da literatura em bases de
al., 2020). dados nacionais e internacionais, Pub Med,
BVS, Lilacs, Sielo e Cochrane Library, os
É importante ressaltar que indivíduos com critérios para a inclusão foram: trabalhos dos
autismo também apresentam prejuízos como últimos 5 anos de publicação e este deveria
alteração da atenção em situações sociais versar sobre o tempo fixação visual no autismo.
(Guillon et al., 2014; Sadria M, Karimi S, Layto Foram encontrados 93 artigos, destes foram
A, 2019). Estudos relatam que este prejuízo excluídos 66 artigos, por serem iguais indexados
perdura ao longo do desenvolvimento, nas bases de dados PubMed e na BVS assim
independentemente da idade (Sadria M, Karimi como artigos que não tiveram relevância em
S, Layto A, 2019). Decorrente da sua relevância relação ao tema estudado, seja por relatarem
nas últimas décadas este tema tem sido mais outras funções visuais, outras comorbidades,
explorado, especialmente depois que a cirurgia e testes animais e adultos saudáveis.
tecnologia de rastreamento ocular se tornou Discorreremos ao longo dos resultados a análise
amplamente disponível para pesquisa (Skwerer de 27 artigos, bem como os métodos e
et al., 2019). Através desses sistemas os resultados dos experimentos realizados; e de
movimentos oculares têm sido estudado como acesso público.
medidas de monitoramento da atenção,
interesse, resolução de problemas e
compreensão da linguagem, a dificuldade de
processar informações de rostos no início do
38
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Resultados Discussão
Dentre os 27 artigos encontrados 26 artigos Uma meta-analise realizada no ano de 2021,
utilizaram fotos ou vídeos com pessoas humanas abordando 75 artigos relacionados ao tema de
para o experimento, discorrendo que os rastreamento ocular, que tinham como objetivo
indivíduos com TEA, não apresentam avaliar a faixa etária e a cultura nos padrões
diferenças para realizar as primeiras fixações, atípicos do TEA. Este artigo examina o papel da
no entanto o tempo de duração é menor do que idade e da cultura no padrão de alterações no
nos grupos controles, com achados de olhar em indivíduos com TEA. Os resultados
preferencia do olhar para a região da boca mostram um padrão atípico de processamento
correlacionado com o seu nível verbal, como do olhar sobre faces em TEA, que é estável em
também apresentam o escaneamento do rosto de todas as idades e culturas, enquanto o aumento
forma mais aleatória. Outro fator que interfere do olhar na boca emerge modelado pela cultura
na fixação é a presença de distratores como e à medida que indivíduos com TEA
figuras geométricas e objetos aleatórios durante envelhecem. Os achados fornecem uma visão do
presentes nas cenas dos vídeos. Videos com desenvolvimento dos padrões de olhar presentes
canções conhecidas chamaram mais atenção dos no espectro autista em diferentes culturas (Wang
participantes com TEA. Ainda utilizando o et al., 2020).
recurso da face 5 estudos realizaram
experimentos com a face relacionada a emoção, A maioria dos estudos foi feito com cenas,
observamos melhores resultados em sendo fotos ou vídeos curtos, onde os
experimentos que utilizaram recursos como a participantes assistiram de forma passiva
técnica de estimulação craniana e a medicação através de uma tela, conectados a um
oxitocina. Em relação a medicação também equipamento rastreador ocular com objetivo de
encontramos experimentos com o bemetanide medir as primeiras fixações, bem como qual
os dados apoiam a disfunção inibitória e parte do rosto fixavam mais, olhos ou boca. A
exitatória no autismo, e o uso desta medicação análise do tempo de fixação indica que as
se mostrou eficaz aumentando o tempo de crianças com TEA exibem um olhar distinto ao
fixação corroborando com o processamento olhar para rostos, passando significativamente
social. Alguns artigos utilizaram outra linha de mais tempo na boca e menos nos olhos. (Sadria
pesquisa, como estudo morfológicos de et al., 2019).
estruturas cerebelares e dois destes relatam o
Alguns estudos discorrem sobre movimentos do
efeito de medicação, atuando como mediador
corpo do ator sendo este também um viés onde
para o aumento da fixação visual a face humana.
observaram que é comum que os participantes
Estes estudos relatam experimentos realizados direcionem o olhar para esta região, como
com indivíduos totalizando 1931 participantes, também relatam que onde tinham cenas de
sendo 952 indivíduos diagnosticados com TEA, interação, aumentaram a atenção nas cenas de
que cumpriram os critérios de inclusão para o comunicação em comparação ao contexto não
diagnóstico, e 976 indivíduos do grupo controle. comunicativo para ambos. Os participantes com
Porém alguns estudos não relatam a quantidade TEA mantém um menor grau na comunicação e
de indivíduos que participaram do experimento. escaneamento facial, persistindo a preferência
Destas amostras estão classificados crianças, em olhar para as mãos do examinador e os
adolescente e adultos, a maioria do sexo brinquedos que eram apresentados no vídeo
masculino, como alguns estudos ressaltaram por (Parish et al., 2019). Outros estudos trouxeram
ter um maior número de incidência. que os participantes com TEA fazem menos
fixações em rostos emocionais do que seus pares
em comparado com o desenvolvimento típico, e
a duração de sua primeira fixação em rostos

39
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

emocionais é equivalente à sua primeira fixação apenas para a tarefa baseada em tela, mas não na
em rostos neutros (Bochet et al., 2020), esta tarefa com a interação ao vivo, como também
pesquisa ressalta este dado de que participantes que passaram menos tempo olhando
com TEA diferiram quanto à proporção das personagens e formas quando apresentado estes
primeiras fixações na face. (Del Bianco et al., estímulos, mais um maior tempo olhando para a
2018). Porém esta pesquisa sustenta que o parede. (Higuchi T et al., 2017).
tempo médio de observação e o tempo de
observação proporcional para os rostos Também foram realizados outros estudos que
diferiram entre os grupos, o tempo de olhar indicaram que os participantes mostraram mais
proporcional para os rostos foi dependente da interesse no rosto do robô do que no rosto do
tarefa apenas no grupo TEA. (Del Bianco et al., humano, mas passaram mais tempo olhando
2018 ). Indivíduos com TEA também diminui a para o alvo e não alvos na condição humana.
atenção ao olhar com detratores geométricos (Cao W, 2019)
(Kwon, MK et al., 2019).
Outros estudos discorrem que pessoas com TEA
Ao longo da pesquisa foi pontuado que os tivessem limiares típicos para julgamentos
indivíduos com TEA possuem padrões categóricos medo e confiança, sua
restritivos e possuem o interesse altamente fixo especificidade psicométrica para detectar
em uma gama estreita de objetos específicos, emoções em toda gama de intensidades foi
muitas vezes referidos como objetos reduzida, porém os padrões de fixação nos
circunscritos. Estas pesquisas ressaltam um viés estímulos eram típicos e não podiam explicar a
para o tempo de fixação, pois relatam o interesse redução da especificidade do julgamento
seletivo por determinados objetos encontrados emocional (Wang S et al., 2017) também
nos pacientes com TEA, demostrando maior utilizaram uma técnica especifica para avaliar
excitação ao visualiza-los. (Harrison A, Slane outros aspectos em relação as emoções Dynamic
MM, 2019; American Psychiatric Association Affect Recognition Evaluation (DARE) que
2013; Lam et al. 2008). Consistente com esses exige que um indivíduo reconheça uma das seis
achados, outra teoria desenvolvida para explicar emoções (raiva, nojo, medo, felicidade, tristeza
o prejuízo social no TEA sugere que, em vez de e surpresa), no vídeo de rosto através da
experimentar uma recompensa de atenção social observação em uma transição lenta, observaram
atenuada, objetos que se enquadram em um diferenças no tempo de resposta e nos
domínio de estímulos circunscritos podem movimentos oculares, mas não na precisão do
competir com a alocação de atenção e, portanto, reconhecimento, classifica as fixações oculares
distrair a atenção de estímulos sociais (Harrison com base em um conjunto abrangente de
A, Slane M.M, 2019). Reforçando outra linha de recursos que integram o desempenho da tarefa
pesquisa que rebate os testes padronizados, (Jiang et al., 2019).
sobre os estímulos de interesse circunscritos e
Em relação ao tempo de fixação um estudo
rostos não familiares.
discorreu sobre o experimento com o uso da
Ketelaars e colaboradores (2017) relatou a ocitocina intranasal (24UI). Os voluntários
especificidade visual das mulheres, relatando participaram do experimento duas vezes e com
sobre o tempo normal para a primeira fixação no intervalo de cerca de 2 semanas entre cada
rosto, mas menor duração de fixação no rosto tratamento/sessão (média ± sem = 14,86 ± 0,16
em mulheres com TEA houve prejuízos dias). Os resultados mostraram que o tempo
semelhantes na fixação à boca, olhos e outras gasto na visualização de estímulos sociais
áreas faciais dinâmicos e estáticos versus estímulos não
sociais foi negativamente associado ao traço de
Outro ponto a ressaltar é o comprometimento autismo e aumentou significativamente após a
que os participantes com TEA apresentam na oxitocina intranasal. Para estímulos faciais, a
participação em sala de aula. Alguns resultados oxitocina aumentou principalmente o olhar para
apontam diferenças entre os grupos no olhar

40
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

os olhos de rostos com expressão de medo, mas


não para outras emoções (Le J et al., 2020)
Sobre a estimulação trascraniana, Qiao e
colaboradores (2020) realizaram um estudo Conclusão
experimental,em que os resultados indicam que
o estimulo HD-tDCS anódico direcionado ao A fixação visual para face é extremamente
rTPJ facilitou o comportamento do olhar de relevante para a interação social, como também
indivíduos com altos traços de autismo na tarefa guiando outros aprendizados, indivíduos com
de visualização livre, para rostos felizes e TEA apresentam prejuízo para realizar esta
temerosos. Achados sugerem um efeito função não apenas para a face humana, mas
neuromodulador significativo induzido por HD- alguns artigos também discorrem sobre os
tDCS no processamento cognitivo facial. Tem interesses restritos. Mais estudos precisam ser
sido referido que a ETCC convencional (dois realizados, porque encontramos muitos vieses
eletrodos de esponja) pode causar uma ativação quando falamos fixação visual para face,
elétrica difusa na área cortical sob o uso de relacionando -se as emoções como também e
eletrodos (Qiao Y et al., 2020) aos objetos de interesse, bem como
compreender as estruturas anatômicas e
Em relação a morfologia estrutural do cerebelo, morfológicas cerebral desses indivíduos, pois
um trabalho utilizando a análise de segmentação corroboram diretamente com as questões da
do FreeSurfer (segmentação da cortical reabilitação na prática.
cerebelar e substância branca), não observou
diferença nos volumes cerebelares globais entre
pacientes com TEA e controles, análises
Declaração de Conflito
regionais encontraram uma diminuição do
volume do cerebelo anterior direito em Não há declaração de conflitos.
indivíduos com TEA em comparação aos
controles. Como também correlações
signifcativas entre o tempo de fixação nos olhos
e os volumes do vérmis e crus I, relacionando os Referências
resultados à esquiva ocular e à redução da
Avni I, Meiri G, Bar-Sinai A, Reboh D, Manelis L,
atenção social (Laidi C et al., 2017) Flusser H, Michaelovski A, Menashe I, Dinstein I.(2020).
Children with autism observe social interactions in an
Em outro artigo pesquisou-se o efeito do idiosyncratic manner Autism Res. 2020 Jun;13(6):935-
bumetanide (um antagonista importador de 946. https://doi.org/ 10.1002/aur.2234.
cloreto NKCC1 que restaura a inibição
Back E. (2019). Inferring Mental States From Dynamic
GABAérgica) que normaliza o nível de ativação
Faces in Adolescents With Autism Spectrum Disorder:
da amígdala durante teste submetido a uso da Insights From Eye Tracking. Criança Dev., 90(5):1589-
medicação 1mg dia durante 10 meses, os dados 1597. https://doi.org/ 10.1111/cdev.13302.
de rastreamento ocular revelam que a
administração de bumetanide aumenta o tempo Bochet, A., Franchini, M., Kojovic, N., Glaser, B., &
Schaer, M. (2021). Emotional vs. Neutral Face
gasto no olhar espontâneo durante o modo de Exploration and Habituation: An Study of Preschoolers
visualização livre dos mesmos estímulos faciais. With Autism Spectrum Disorders. Fronteiras na
De acordo com os ensaios clínicos, os dados psiquiatria, 11, 568997.
apoiam a hipótese de disfunção https://doi.org/10.3389/fpsyt.2020.568997
excitatória/inibitória no autismo e indicam que a Cao W, Song W, Li X, Zheng S, Zhang G, Wu Y, He S,
bumetanide pode melhorar aspectos específicos Zhu H, Chen J. (2019). Interaction with Social Robots:
do processamento social no autismo. Improving Gaze Towards Face but Not Necessarily Joint
(Hadjikhani et al., 2018) Attention in Children with Autism Spectrum Disorder.
Front Psychol, 5;10:1503. https://doi.org/
10.3389/fpsyg.2019.01503.

41
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Del Bianco, T., Mazzoni, N., Bentenuto, A., & Venuti, P. Jiang M, Francis SM, Srishyla D, Conelea C, Zhao Q,
(2018). An Investigation of Attention to Faces and Eyes: Jacob S. (2019). Classifying Individuals with ASD
Looking Time Is Task-Dependent in Autism Spectrum Through Facial Emotion Recognition and Eye-Tracking .
Disorder. Fronteiras da psicologia, 9, 2629. Annu Int Conf IEEE Eng Med Biol Soc., 2019:6063-
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.02629. 6068. https://doi.org/10.1109/EMBC.2019.8857005.
31947228.
Fernell, E., Gustafsson, P., & Gillberg, C. (2021).
Bumetanide for autism: more eye contact, less amygdala Ketelaars MP, In't Velt A, Mol A, Swaab H, Bodrij F, van
activation. Acta paediatrica (Oslo, Noruega : Rijn S. (2017). Social attention and autism symptoms in
1992), 110(5), 1548-1553. high functioning women with autism spectrum disorders.
https://doi.org/10.1111/apa.15723 Res Dev Disabil, 64:78-86.
https://doi.org/10.1016/j.ridd.2017.03.005
Freeth M, Bugembe P. (2019). Social partner gaze
direction and conversational phase; factors affecting .Kwon MK, Moore A, Barnes CC, Cha D, Pierce K.
social attention during face-to-face conversations in (2019). Typical Levels of Eye-Region Fixation in
autistic adults? Autism, 23(2):503-513. https://doi.org/ Toddlers With Autism Spectrum Disorder Across
10.1177/1362361318756786. Multiple Contexts. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry,
8(10):1004-1015.
Fukui T, Chakrabarty M, Sano M, Tanaka A, Suzuki M, https://doi.org/10.1016/j.jaac.2018.12.011.
Kim S, Agarie H, Fukatsu R, Nishimaki K, Nakajima Y,
Wada M. (2021). Enhanced use of gaze cue in a Laidi C, Boisgontier J, Chakravarty MM, Hotier S,
face-following task after brief trial experience in d'Albis MA, Mangin JF, Devenyi GA, Delorme R,
individuals with autism spectrum disorder. Sci Rep., Bolognani F, Tcheco C, Bouquet C, Toledano E, Bouvard
27;11(1):11240. https://doi.org/10.1038/s41598-021- M, Gras D, Petit J, Mishchenko M, Gaman A, Scheid I,
90230-6 Leboyer M, Zalla T, Houenou J. (2017). Cerebellar
anatomical alterations and attention to eyes in autismo.
Fujioka T, Tsuchiya KJ, Saito M, Hirano Y, Matsuo M, Sci Rep., 7(1):12008. https://doi.org/10.1038/s41598-
Kikuchi M, Maegaki Y, Choi D, Kato S, Yoshida T, 017-11883-w
Yoshimura Y, Ooba S, Mizuno Y, Takiguchi S,
Matsuzaki H, Tomoda A, Shudo K, Ninomiya M, Le, J., Kou, J., Zhao, W., Fu, M., Zhang, Y., Becker, B.,
Katayama T, Kosaka H. (2020). Developmental changes & Kendrick, K.M. (2020). A facilitação da ocitocina da
in attention to social information from childhood to empatia emocional está associada ao aumento do olhar
adolescence in autism spectrum disorders: a comparative voltado para os rostos dos indivíduos em contextos
study. Mol Autism, 11(1):24. https://doi.org/ emocionais. Fronteiras da neurociência, 14.803.
10.1186/s13229-020-00321-w. https://doi.org/10.3389/fnins.2020.00803

Gepner B, Godde A, Charrier A, Carvalho N, Tardif C. Lopes, M.C.B.; Costa, M.F.; Santos, M.A.; Nakanami.
(2021). Dev Psychopathol., Reducing facial dynamics’ C.N. (2020). Desenvolvimento Do Protocolo Da
speed during speech enhances attention to mouth in Avaliação Da Visão Funcional Infantil (Avfi) Para
children with autism spectrum disorder: An eye-tracking Crianças Com Deficiência Visual. Rev. Psicol Saúde e
study, 33(3):1006-1015. https://doi.org/ Debate, 6(1): 91-110.
10.1017/S0954579420000292. 32378498.
Ma X, Gu H, Zhao J. (2021). Atypical gaze patterns for
Greene CM, Suess E, Kelly Y. (2020). Autistic Traits Do areas of feature analysis of autism spectrum changes, age
Not Afect Emotional Face Processing in a General and culture effects: A meta-analysis of eye-tracking
Population Sample. J Autismo Dev Disord., 50(8):2673- studies. Autismo Res., 14(12):2625-2639. https://doi.org/
2684. https://doi.org/ 10.1007/s10803-020-04375-w. 10.1002/aur.2607.
31965443.
Parish-Morris J, Pallathra AA, Ferguson E, Maddox BB,
Grossman RB, Zane E, Mertens J, Mitchell T. (2019). Pomykacz A, Perez LS, Bateman L, Pandey J, Schultz
Facetime vs. Screentime: Gaze Patterns to Live and Video RT, Brodkin ES. (2019). Adaptation to different
Social Stimuli in Adolescents with ASD. Sci Rep., communicative contexts: an eye tracking study of autistic
2;9(1):12643. https://doi.org/10.1038/s41598-019- adults J Neurodev Disord.13;11, (1):5. https://doi.org/:
49039-7. 10.1186/s11689-019-9265-1

Higuchi T, Ishizaki Y, Noritake A, Yanagimoto Y, Plesa Skwerer D, Brukilacchio B, Chu A, Eggleston B,


Kobayashi H, Nakamura K, Kaneko K. (2017). Meyer S, Tager-Flusberg H. (2019). Do minimally verbal
Spatiotemporal characteristics of gaze of children with and verbally fluent individuals with ASD differ in their
autism spectrum disorders while looking at classroom viewing patterns of dynamic social scenes? Autism,
scenes. PLos Um., 4;12(5):e0175912. https://doi.org/: 23(8):2131-2144. https://doi.org/:
10.1371/journal.pone.0175912. 10.1177/1362361319845563.

42
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Qiao Y, Hu Q, Xuan R, Guo Q, Ge Y, Chen H, Zhu C, Ji


G, Yu F, Wang K, Zhang L. (2020). High-definition
transcranial direct current stimulation facilitates
emotional face processing in individuals with high autistic
traits Neurosci Lett, 135396. https://doi.org/:
10.1016/j.neulet.2020.135396.

Ruas TCB, Ravanini SG, Martinez CS, Gagliardo HR,


Françoso MFC, Rim PHH. (2006). Avaliação do
comportamento de lactentes no primeiro e segundo meses
de vida. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum,
16(3):01-08.

Sadria M, Karimi S, Layton AT. (2019). Network


Centrality Analysis of Eye-gaze Data in Autism Spectrum
Disorder. Computacional Biol Med., 111:103332.
https://doi.org/10.1016/j.compbiomed.2019.103332.

Thompson GA, Abel LA. (2018). Fostering Spontaneous


Visual Attention in Children on the Autism Spectrum: A
Proof-of-Concept Study Comparing Singing and Speech.
Autismo Res., 11(5):732-737. https://doi.org/
10.1002/aur.1930.

Wan G, Kong X, Sun B, Yu S, Tu Y, Park J, Lang C, Koh


M, Wei Z, Feng Z, Lin Y, Kong J. (2019) Applying Eye
Tracking to Identify Autism Spectrum Disorder
in Children. . J Autismo Dev Disord., 49(1):209-215.
https://doi.org/: 10.1007/s10803-018-3690-y. 30097760.

Wang Q, Hoi SP, Wang Y, Song C, Li T, Lam CM, Fang


F, Yi L. (2020) Out of mind, out of sight? Investigating
abnormal face scanning in autism spectrum disorder using
gaze-contingent paradigm. Dev Sci., 23(1):e12856.
https://doi.org/: 10.1111/desc.12856.

Wang S, Adolphs R. (2017). Reduced specificity in


emotion judgment in people with autism spectrum
disorder. Neuropsychologia, 99: 286-295. https://doi.org/:
10.1016/j.neuropsychologia.2017.03.024.

43
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Dislexia: Revisão Integrativa e Proposta de Protocolo de


Atendimento para Saúde Visual

Lourdes da Cruz Baptista


Tecnóloga em Óptica e Optometria, Pós-graduada em Gestão de Saúde Pública, Campinas, São
Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo:
A Associação Internacional de Dislexia preconiza que: A dislexia é uma deficiência de aprendizagem específica de
origem neurológica. Caracterizada por dificuldades no reconhecimento de palavras preciso e fluente e por habilidades de
ortografia e decodificação, resultando um déficit fonológico de linguagem, muitas vezes inesperada em relação a outras
habilidades cognitivas. A metodologia utilizada para este estudo, foi uma pesquisa bibliográfica, onde foi pesquisada
várias fontes: Artigos nacionais e internacionais e monografias que discorriam sobre o tema, de modo que foi realizada
uma vasta leitura exploratória sobre dislexia, suas causas, manifestações, prevalência, diagnóstico e intervenções. Neste
trabalho será abordado resumo da história da dislexia, como se desenvolve, estratégias de diagnóstico e sua correlação
com o sistema visual, tendo como objetivo criar um protocolo de atendimento para os profissionais da área da saúde
visual, por fim foi concluído que as dificuldades de aprendizagem são muito abrangentes e complexas e que é
fundamental conhecer suas causas e implicações e que a elaboração do protocolo de atendimento visa colaborar com os
profissionais no diagnóstico.

Palavras-Chave: Dislexia, processamento visual, deficiências neurológicas, aprendizagem.

Introdução modo que foi realizada uma vasta leitura


exploratória sobre dislexia, suas causas,
A Associação Internacional de Dislexia manifestações, prevalência, diagnóstico,
preconiza que: A dislexia é uma deficiência de alterações visuais e intervenções.
aprendizagem específica de origem neurológica.
Caracterizada por dificuldade no Neste trabalho será abordado como se
reconhecimento de palavras preciso e fluente e desenvolve a dislexia, estratégias de diagnóstico
por habilidades de ortografia e decodificação, e seu envolvimento com o sistema visual.
resultando um déficit fonológico de linguagem,
Nos casos de distúrbio de aprendizado,
muitas vezes inesperada em relação a outras
especificamente da dislexia, é essencial uma
habilidades cognitivas. Gerando consequências
abordagem multidisciplinar promovendo troca
secundárias, como problemas de compreensão
de informações entre as áreas médicas, não
da leitura e leitura reduzida.
médicas, neuropsicológicas e pedagógicas para
A metodologia utilizada neste estudo foi de ampliar o conhecimento desta disfunção.
pesquisa bibliográfica, onde foi pesquisada
Durante o estudo uma pergunta surgiu: Como os
várias fontes: Artigos nacionais, internacionais
profissionais da área da visão devem proceder
e monografias que discorriam sobre o tema, de
44
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

descartar ou juntar as hipóteses para então estudos sobre a indústria automobilística. Gestão &
formular o diagnóstico da dislexia. Assim a Produção, 11(3), 275-288.
criança poderá ser encaminhada para American Psychiatric Association. DSM IV: Manual de
acompanhamento das intervenções necessárias. Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.
Lisboa: Climepsi Editores; 1996.

Bradley, A., & Freeman, R. D. (1985). Is reduced vernier


Considerações Finais acuity in amblyopia due to position, contrast or fixation
deficits? Vision Research, 25, 55–66.
O desenvolvimento do presente trabalho Bradley, L., & Bryant, P. (1983). Categorizing sounds and
verificou que as manifestações das dificuldades learning to read — a causal connection. Nature, 301, 419–
de aprendizagem são muito abrangentes e 421.
complexas e que é fundamental conhecer suas
Catts HW. Identificação Precoce da Dislexia. In: Alves
causas e implicações, principalmente aos fatores LM, Mousinho R, Capellini SA, orgs. Dislexia Novos
visuais, pois como foi visto indicam Temas, Novas Perspectivas. Rio de Janeiro: Walk; 2011.
possibilidade de estar associados a dislexia ou p. 55-70.
podem apenas ser anormalidades do sistema
visual. Chung, S.; Jarvis, S. Cheung, S. – The effect of dioptric
blur on reading performance. Vision Research. 47 (2007)
1584-1594.
Referente a elaboração do protocolo de
atendimento voltado para os profissionais da Coles, G. (1987) The Learning Mystique. A Critical Look
saúde visual, a autora pretendo colaborar com at "Learning Disabilities" New York: Pantheon Books.
tais profissionais para uma avaliação precisa e
Cope N, Harold D, Hill G, Moskvina V, Stevenson J,
rigorosa, com a finalidade do diagnóstico Holmans P, Owen MJ, O'donovan MC, Williams J.
preciso, beneficiando a criança disléxica, Strong evidence that KIAA0319 on chromosome 6p is a
favorecendo seu desenvolvimento no processo susceptibility gene for developmental dyslexia. Am. J.
da aprendizagem, embora ao longo do tempo, Hum. Genet. 2005;76(4):581-91.
outras revisões possam ser elaboradas, Cornelissen P, Richardson A, Mason A, Fowler S, Stein
melhorando ou complementando o mesmo. J. Contrast sensitivity and coherent motion detection
measured at photopic luminance levels in dyslexics and
controls. Vis Res 1995;35:1483–94.

Agradecimentos Daucourt MC, Erbeli F, Little CW, Haughbrook R, Hart


SA. A Meta-Analytical Review of the Genetic and
Toda gratidão aos professores e orientadores Environmental Correlations between Reading and
Attention- Deficit/Hyperactivity Disorder Symptoms and
Professor Dr. Marcelo F. Costa e Professor Dr. Reading and Math. Sci Stud Read. 2019;1-34.
Leonardo Henriques, por todo conhecimento
transmitido e pela orientação na elaboração Dehaene S. Os neurônios da leitura: como a ciência
deste trabalho. explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso
Editora; 2012.

Dusek WA, Pierscionek BK, McClelland JF. An


evaluation of clinical treatment of convergence
Declaração de Conflito insufficiency for children with reading difficulties. BMC
Ophthalmol 2011;11:21.
Autora declara não ter conflito de interesse.
Eden, G. et al. – Differences in eye movements and
reading problems in dyslexic and normal children. Vision
Research. 34: 10 (1994) 1345-1358.
Referências Eden, G. et al. – Verbal and visual problems in reading
Alves Filho, A. G., Cerra, A. L., Maia, J. L., Sacomano disability. Journal of Learning Disabilities. 28: 5 (1995)
Neto, M., & Bonadio, P. V. G. (2004). Pressupostos do 272-290.
gerenciamento da cadeia de suprimentos: evidências de
Elliott GJ, Grigorenko LE. The dyslexia debate. New
York: Cambridge University Press; 2014.
53
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Gonçalves VMG, Tonelotto JMF , Ravanini SG. Pennington BF, McGrath LM, Rosenberg J, Barnard H,
Semiologia neurológica numa população de escolares da Smith SD, Willcutt EG, et al. Gene environment
primeira série do ensino fundamental. Arq Neuropsiquiatr interactions in reading disability and attention-
2000;58:112-118. deficit/hyperactivity disorder. Dev Psychol.
2009;45(1):77-89.
Handler SM, Fierson WM; Section on Ophthalmology,
Council on Children with Disabilities, American Piasta SB, Wagner RK. Learning letter names and sounds:
Academy of Ophthalmology, American Association for effects of instruction, letter type, and phonological
Pediatric Ophthalmology and Strabismus, et al. Learning processing skill. J Exp Child Psychol. 2010;105(4):324-
disabilities, dyslexia, and vision. Pediatrics 44.
2011;127:e818‑56.
Quaid, P.; Simpson, T. – Association between reading
Hinselwood, J. (1917) Congenital Word Blindenss. speed, cycloplegic refractive error, and oculomotor
London: H. K. Lewis function in reading disabled children versus controls.
Graefes Archive for Clinical and Experimental
Kapoula Z, Bucci MP, Jurion F, Ayoun J, Afkhami F, Ophthalmology. 251 (2013) 169-187.
Brémond‑Gignac D, et al. Evidence for frequent
divergence impairment in French dyslexic children: Rosner, J.; Rosner, J. – The relationship between
Deficit of convergence relaxation or of divergence per se? moderate hyperopia and academic achievement: how
Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol 2007;245:931‑6. much plus is enough? Journal of the American Optometric
Association. 68: 10 (1997) 648-50.
Kubova Z, Kuba M, Peregrin J, Novakova V. Visual
evoked potential evidence for magnocellular system Rutter M, Caspi A, Fergusson D, Horwood LJ, Goodman
deficit in dyslexia. Physiol Res 1996;45:87–9. R, Maughan B, et al. Sex differences in developmental
reading disability: new findings from 4 epidemiological
Latvala ML, Korhonen TT, Penttinen M, Laippala P. studies. JAMA. 2004;291(16):2007-12.
Ophthalmic findings in dyslexic schoolchildren. Br J
Ophthalmol 1994;78:339‑43. Schirmer, C. R.; Fontoura, D. R.; Nunes, M. L. Distúrbios
da aquisição da linguagem e da aprendizagem. Jornal de
Lovegrove W. Weakness intransient visual system: A Pediatria, Rio de Janeiro,v. 80, n. 2, p. 95-103, 2004.
causal fact in dyslexia? Ann N Y Acad Sci 1993; 682: 57-
69. Shaywitz S. Helping your child to become a reader. In
Shaywitz S. Overcoming Dyslexia. New York: Alfred A.
Lovegrove W, Martin F, Bowling A, Blackwood M, Knopf; 2003. p.169-230.
Badcock D, Paxton S. Contrast sensitivity functions and
specific reading disability. Neuropsychologia Shaywitz S. Overcoming Dyslexia. New York: Alfred A.
1982;20:309–15. Knopf; 2003

Lyon R, Shaywitz SE. A definition of dyslexia. Ann Shaywitz S. Clues to dyslexia in early childhood. In
Dyslexia 2003; 53:1-14. Shaywitz S. Overcoming Dyslexia. New York: Alfred A.
Knopf; 2003. p. 122- -27.
Meng H, Smith SD, Hager K, Held M, Liu J, Olson RK,
Pennington BF, Defries JC, Gelernter J, O'reilly-Pol T, Shaywitz SE. Dyslexia .NEJM 1998; 338:307-12.
Somlo S, Skudlarski P, Shaywitz SE, Shaywitz BA,
Marchione K, Wang Y, Paramasivam M, Loturco JJ, Page Stein J, Walsh V. To see but not to read; the magnocellular
GP, Gruen JR. DCDC2 is associated with reading theory of dyslexia. Trends Neurosci 1997;20:147–52.
disabilities and modulates neuronal development in the
brain. Proc. Nat. Acad. Sci, 2005;102(47):17053-8. World Federation of Neurology. Report of Research
Group on Developmental Dyslexia(1968). In Critchley,
Muter, V., Hulme, C., Snowling, M., & Taylor, S. (1997). M. The Dyslexic Child. London: Heinmann Medical;
Segmentation, not rhyming, predicts early progress in 1970.
learning to read. Journal of Experimental Child
Psychology, 65, 370–396. Zeffiro TJ, Eden G. The neural basis of developmental
dyslexia – The phonological processing systems. Ann
Palomo-´Álvarez, C.; Puell, M. – Accommodative Dyslexia 2000: 8-14.
function in school children with reading difficulties.
Graefes Archives Clinical Experimental Ophthalmology.
246 (2008) 1769-1774.

Pennington BF. Update on genetics of dyslexia and


comorbidity. Ann Dyslexia 2003; 53:19-21.

54
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Maculopatia Miópica: Reabilitação Visual e Treinamento Visual


por Biofeedback. Revisão Integrativa

Maria Aparecida Onuki Haddad¹,2,3


¹ Serviço de Reabilitação Visual/ Visão Subnormal do Departamento de Oftalmologia da
Faculdade de Medicina da Universidade de SãoPaulo, São Paulo, SP, Brasil.
2
Serviço de Reabilitação Visual Lucy Montoro Jardim Humaitá/ Rede de Reabilitação Lucy
Montoro, São Paulo, SP, Brasil.
3
Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, São Paulo,
SP, Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo:
A maculopatia miópica constitui-se em uma das mais importantes causas globais de deficiência visual irreversível e
compromete a função visual central com prejuízo da estabilidade de fixação, menor acuidade visual e defeitos de
campo visual central. O indivíduo acometido necessita fazer uso de áreas retianas perimaculares à tentativa de fixação
de um alvo. A reabilitação visual deve ser instituída para a melhora funcional do indivíduo com perdas visuais
permanentes decorrentes desse padrão de lesão macular. As intervenções em reabilitação podem ser por meio de
auxílios especiais para melhora da resoluão visual (auxílios, ópticos, não ópticos e eletrônicos) e por meio de protocolos
de treinamento visual para melhor exploração de áreas retinianas perimaculares com maior função. O treinamento
visual por biofeedback com emprego do microperímetro é um dos principais avanços da reabilitação em oftalmologia
e o conhecimento dos diversos protocolos e seus desfechos auxiliará na tomada de condutas reabilitacionais.
Objetivos: estudar a reabilitação visual de pessoas com deficiência visual, secundária a maculopatia miópica, quanto
ao emprego do treinamento visual por biofeedback por meio do microperímetro, protocolos empregados e os
resultados obtidos. Métodos:Foi realizada pesquisa em base de dados quanto aos estudos compostos por população
com deficiência visual moderada ou grave (baixa visão), secundária a maculopatia miópica, submetida ao treinamento
visual por biofeedback em microperímetro e emprego de estímulos acústicos associados, ou não, a estímulos visuais.
A pesquisa considerou o intervalo de publicação dos estudos de 01/01/2000 a 01/04/2020. Discussão:O treinamento
visual por biofeedback por meio de microperímetro levou, nos estudos revistos, a melhora da função visual a partir dos
parâmetros de avaliação e acompanhamentos dos casos. Foram observados ganhos na estabilidade de fixação, melhor
reposicionamento do locus retiniano preferencial(PRL), maior valor de acuidade visual, maior velocidade de leitura.
No entanto,uniformidade dos protocolos de treinamento , desenhos dos estudos com randomização e maior população
estudada devem ser considerados para melhor evidenciar os efeitos do treinamento visual por biofeedback na
funcionalidade visual e na qualidade de vida de pessoas com deficiência visual secundária a maculopatia miópica.

Palavras-Chave: Deficiência visual, maculopatia miópica, biofeedback, microperimetria.

55
Neurociências da Visão: Fundamentos, Desenvolvimento, Estimulação e Reabilitação Visual
Trabalhos de Conclusão de Curso 2021

Revisão sobre testes funcionais no glaucoma infantil

Christiane Rolim-de-Moura¹,², Carolina Pelegrini Gracitelli Barbosa³


1 Laboratório da Visão, Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
2 Departamento de Saúde do trabalhador, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil.
3 Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais, Universidade Federal de São Paulo, SP,
Brasil.

Resumo:
Realizamos uma revisão sistemática sobre o diagnóstico de testes psicofísicos, como sensibilidade ao contraste, interação
espacial lateral, deformidade radial hiperacuidade, visão de cores e reconhecimento facial em crianças com glaucoma.
Foi realizada uma busca nas bases de dados PUMED e LILACS, seguindo o protocolo PRISMA, e foram selecionados
todos os estudos de coorte transversal, prospectivo e de coorte retrospectivo, que envolveram participantes com menos
de 18 anos com glaucoma infantil e indivíduos controles. Não houve restrições de data de publicação, gênero ou etnia.
Usamos como teste de referência, perimetria, diâmetro corneano ou relação escavação-disco. Os resultados foram
extraídos, a qualidade dos dados foi analisada e descrita. A busca revelou 46 estudos, mas apenas um atendeu aos critérios
de inclusão. O estudo foi classificado como alto risco de viés, de acordo com o QUADAS-2. Mostrou uma diferença
significativa de sensibilidade ao contraste entre crianças glaucomatosas e não glaucomatosas em todas as frequências
espaciais. Não foi possível descrever as características de precisão deste teste neste estudo. Não há informações
científicas consistentes sobre a capacidade diagnóstica desses testes psicofísicos, previamente descritos como alterados
em pacientes glaucomatosos adultos e em crianças amblíopes.

Palavras-Chave: Glaucoma congênito, perda glaucomatosa, percepção visual, glaucoma infantil,


sensibilidade ao contraste.

Introdução retina, que se associam a catarata, opacidades


corneanas e ambliopia, devido à buftalmia e
O glaucoma infantil é uma condição resultam em perda da função visual e deficiência
caracterizada por um conjunto de alterações visual, se não tratadas. (Richardson, Ferguson,
oculares relacionadas ao aumento da pressão & Shaffer, 1967) Campo visual O teste usando
intraocular (PIO), que se apresentam em perimetria estática automatizada (SAP) permite
diferentes níveis de gravidade e secundárias a o diagnóstico e o estadiamento da neuropatia
múltiplos mecanismos. (Thau A, 2018) Embora óptica glaucomatosa e continua sendo uma
existam alterações específicas no olho da ferramenta inestimável para entender como a
criança , particularmente naqueles com menos perda glaucomatosa se relaciona com o nível de
de 3 anos de idade, a perda progressiva de incapacidade funcional. O SAP é um exame
células ganglionares da retina está presente, sensorial e subjetivo que visa determinar a
como em adultos com glaucoma. Essa perda sensibilidade das ilhas do campo visual,
neuronal leva a alterações do nervo óptico e da expressando uma função visual na detecção de
72

Você também pode gostar