Café Orgânico Adensado
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1. INTRODUÇÃO
A qualidade do solo pode ser entendida como a capacidade deste exercer várias
funções, dentro dos limites do uso da terra e do ecossistema, para sustentar a
produtividade biológica, manter ou melhorar a qualidade ambiental e contribuir para a
saúde das plantas, dos animais e humana (DORAN; PARKIN, 1994). Sua mensuração é
feita através do uso de indicadores, classificados como físicos, químicos e biológicos, que
estão relacionados com atributos que medem ou refletem o status ambiental ou a condição
de sustentabilidade do ecossistema (CARVALHO et al., 2004; ARAUJO; MONTEIRO,
2007). Neste contexto, variáveis relacionadas à biomassa microbiana do solo e sua
atividade têm sido destacadas como indicadores sensíveis para detecção de alterações
ambientais em função do manejo adotado, podendo orientar o planejamento das práticas
agrícolas sustentáveis (DORAN; PARKIN, 1994; MATSUOKA et al., 2003). A biomassa
microbiana representa a fração mais ativa e biodegradável da MO do solo (ROSCOE et al.,
2006). Sua quantificação permite avaliar as mudanças iniciais no conteúdo da MO,
causadas pelas práticas de cultivo (MERCANTE et al., 2008), refletindo tendências de
mudanças na ciclagem de nutrientes, no fluxo de energia, na estrutura dos agregados do
solo e, na produtividade do sistema (TÓTOLA; CHAER, 2002).
2. MATERIAL E MÉTODOS
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sofreu algumas alterações com a poda do café em linhas alternadas, manejo visando
diminuir o adensamento para introduzir uma diversificação maior no sistema. Assim,
foram plantadas mudas de espécies arbóreas e culturas de adubação verde, tais como
feijão de porco (Canavalia ensiformes L.) e utilizaram-se os resíduos da própria poda do
café, como biomassa incorporada ao solo.
3) Café orgânico consorciado com Ipê (Tabebuia sp.) (CI): sistema implantado no
ano de 1981, com o plantio de mudas de café da variedade Mundo Novo (espaçamento 4,0
x 2,0 m). Em 1994, abandonou-se o manejo da área, sendo que a partir daí, intensificou-se
a germinação espontânea de sementes de ipê no sistema, devido à existência de uma
árvore matriz nas proximidades. No final de 2001, realizou-se uma intervenção por meio
do plantio de três mil mudas de café, mas esta lavoura não sofreu tratos culturais, ficando
o desenvolvimento do sistema a cargo da natureza.
4) Pastagem (PA): após forte geada em 2000, que destruiu totalmente as mudas
de café, a área foi deixada em pousio para formação de PA natural, que posteriormente foi
enriquecida com a introdução das culturas de feijão (Phaseolus vulgaris L.), amendoim
(Arachis hypogaea L.), mucuna (Stizolobium atterrimum), nabo forrageiro (Raphanus sativus
L.) e aveia preta (Avena strigosa). Em 2003, foram introduzidas sementes de Brachiaria sp.
para a criação de gado bovino.
5) Vegetação nativa (VN): Uma área adjacente as áreas estudadas, com vegetação
do tipo Cerrado foi estudada como referencial da condição original do solo.
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que cada amostra foi composta de sete subamostras. Após homogeneização, as amostras
foram acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados, e armazenadas em
câmara fria (4ºC). O solo foi caracterizado quimicamente, de acordo com Claessen (1997),
no momento das amostragens de solo (Tabela 1).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Tabela 2 – Valores médios de carbono da biomassa microbiana (C-BMS), respiração basal (C-CO2),
quociente metabólico (qCO2), quociente microbiano (qMIC) e conteúdo de matéria orgânica (MO) de um
Argissolo Vermelho em diferentes sistemas de cultivo de café orgânico, pastagem e vegetação nativa. Glória
de Dourados, MS, 2004 e 2005.
C-BMS C-CO2 qCO2 qMIC MO
Sistemas µg C. g solo µg C-CO2 solo- µg C-CO2 µ
% g kg-1
seco-1 1
dia-1 Cmic-1 h-1
Agosto / 2004
VN 275,71 a 10,65 b 16,72 a 3,78 a 13,17 a
AD 212,00 ab 17,04 a 37,37 a 3,56 a 10,81 ab
BA 188,55 ab 10,22 bc 23,67 a 4,06 a 8,32 b
CI 138,39 b 4,93 c 17,99 a 3,11 a 8,12 b
PA 129,47 b 6,48 bc 21,57 a 2,03 a 11,29 ab
Abril / 2005
VN 227,00 a 17,00 ab 32,00 c 3,15 a 12,43 ab
AD 130,04 b 20,67 ab 66,80 a 1,54 b 14,72 a
BA 123,65 b 21,67 a 70,20 a 1,62 b 13,11 ab
CI 87,00 b 12,00 ab 61,00 ab 1,32 b 11,22 ab
PA 109,62 b 10,67 b 40,80 bc 1,80 b 10,68 b
Médias seguidas de letras diferentes nas colunas, contrastam pelo teste de Tukey, à 5% de probabilidade. Vegetação nativa (VN), sistema
café orgânico adensado (AD), café consorciado com banana e acácia (BA), café consorciado com ipê (CI) e pastagem (PA).
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não verificaram diferenças significativas para os teores de C-BMS, entre a mata nativa e os
sistemas de café orgânico, café em conversão e café convencional, na região de Santo
Antônio do Amparo, MG, relatando, contudo, a ocorrência de uma longa estiagem neste
período.
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4. CONCLUSÕES
• A introdução de compostos orgânicos externos ao sistema pode favorecer
os incrementos dos teores de carbono da biomassa microbiana do solo,
conforme verificado no sistema sob café adensado.
• A diversificação de culturas, como no sistema sob café associado com
banana e acácia, favorece o desenvolvimento da comunidade microbiana.
AGRADECIMENTOS
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