Pages From Rebuçados Venezianos Miolo
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1 A Morte de Virgílio 11
2 O geómetra ameaçado 21
3 Museum 2 31
4 O freio de ouro que retém o ânimo 45
5 Multa renascentur quae jam cecidere 57
6 Sombras à volta de um centro 79
7 Depósitos de pó e folhas de ouro 85
8 A claridade que o véu arrasta 103
9 Maresia e jogo de golfinhos 121
10 Privilégio e naturalidade 127
11 Um espelho que se lembra 143
12 O que é que a Louise Bourgeois sabe que eu não sei? 157
13 À porta do Inferno 187
14 Os sonhos e os pesadelos da razão 195
15 O corpo sem título 209
16 Cerimónias 225
17 Sobe, adensa, esgarça, desce 239
18 Um soluço ardente 247
19 O mensageiro das nuvens 263
20 Sede de água, fome de imagens 269
21 A senhora do labirinto 281
22 Rebuçados venezianos 299
23 O poder do anónimo 311
24 Dois rios, uma só fonte 329
25 As condições atmosféricas e as suas mutações visíveis 337
26 Fome ou abundância? 347
27 Slides e cabelo cor de prata 359
28 A meada dos rastros 367
29 O caso de Jorge Queiroz 383
30 Viagem de Inverno 397
Agradecimentos 409
não pára de raspar com as patas na terra húmida, entre ervas sujas, não
pára de nos olhar e de afastar de nós o olhar. Vê‑se também uma árvo‑
re, um tronco sem ramos nem copa, prenúncio do céu, rodeada por um
halo de terra nua. Ouve‑se longínquo, incessante, o ruído hipnótico dos
espíritos mecânicos de uma auto‑estrada. Tão infinitamente longe e tão
infinitamente perto da música das esferas. Em frente desta imagem, a
representação compósita, não dilacerada pelo tempo, mas dividida pela
intenção, de um templo romano. Em rigor, não um templo que tivesse
sido desenhado, mas o desenho de um templo a construir, um projecto
de arquitectura. É deste modo, por um gesto inacabado, por um esgar,
que se suspende a oscilação do tempo, a repetição do tempo.
Nesta exposição, a supressão dos nomes elementares é uma espécie
de “imagem e semelhança”, obediência ao modo como na obra de Her‑
mann Broch o nome se despega de toda a coisa, ao modo como a terra
se torna naquilo que está a ser edificado nos recessos do sono de um
poeta moribundo. Mas como o nome é ainda o último resíduo que a
terra nos entrega, que a terra nos devolve sempre, os nomes pediam
uma inscrição.