Chiziane, Tendencia de Re-Concentracao e Re-Centralizacao Administrativa em Mocambique

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AS TENDÊNCIAS DA RE-CONCENTRAÇÃO E RE-CENTRALIZAÇÃO

ADMINISTRATIVA EM MOÇAMBIQUE

Mestre Eduardo CHIZIANE


Assistente universitário na UEM
[email protected]

Introdução

Começamos a falar das tendências de “re-concentração” e particularmente da


“re-centralização” administrativa em Moçambique abertamente no Seminário
comemorativo dos “10 anos de Descentralização em Moçambique”, que teve lugar em
Nampula em Agosto de 20071.

A Constituição da República de 2004 (CRM-2004) no seu artigo 2502 fixa como


um princípio estruturante para organização e funcionamento da Administração
Pública a promoção da “desconcentração” e da “descentralização”. Isto significa, por
exemplo que, em termos simples todo o movimento inverso a disposição retrocitada,
representa a manifestação da “re-concentração” ou “re- centralização”, situações
proibidas, pois, representam uma grave afronta à Constituição.

A concretização do princípio da desconcentração da Administração Pública é

1 CISTAC, G., e CHIZIANE, E. « 10 anos de Descentralização em Moçambique: os caminhos sinuosos de um processo


emergente »., UEM – NEAD, Maputo, 2008, p. 208. Na sintese apresentada pelo Professor Cistac se levantou a questão
de saber se não estavamos “... a correr para um processo de re-centralização. Um orador levantou o problema tendo em
conta à produção normativa recente que fere directa ou indirectamente o próprio princípio de autonomia das autarquias
locais”.
2 O artigo 250 dispõe, n°1 « A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização e

desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos seus serviços sem prejuízo da unidade de acção e dos
poderes de direcção do Governo », n°2 « A Administração Pública promove a simplificação de procedimentos
administrativos e a aproximação dos serviços aos cidadãos».

1
feita através da Lei n°8/2003, de 19 de Maio, que estabelece o conteúdo ou o
significado do princípio da desconcentração na organização e funcionamento dos
Órgãos Locais do Estado, no artigo 3, n°13 e pelo Decreto do Conselho de Ministros
n°11/2005, de 10 de Junho, que fixa as disposições regulamentares concretizadoras
daquele princípio, quer através do artigo 4, n°1 e do artigo 158, que fixa as regras
sobre o processo de transferência de competências. Nesta ultima disposição se
apregoa que a transferência de competências exercidas por qualquer órgãos centrais
do Estado para os órgãos locais do Estado deve operar-se de forma gradual4.

Será que os focos de « re-concentração» ou « re-cetralização » visam promover


uma maior unidade de acção e dos poderes de direcção do Governo ? ou será que
àquelas tendências visam mitigar os inconvenientes5 da desconcentração e da
descentralização para um país jovem como o nosso ?

Os princípios da desconcentração e da descentralização são comandos


constitucionais obrigatórios. Na verdade, a propósito do dever de respeitar o princípio
da desconcentração o artigo 139 da CRM-2004, em matéria sobre as atribuições dos
órgãos centrais, estabelece no seu n°1, que “aos órgãos centrais compete, de forma
geral, as atribuições relativas ao exercício da soberania, a normação das matérias do
âmbito da lei e a definição de politicas nacionais”. Isto significa que a actividade
executiva deve ser transferida para os órgãos locais do Estado, isto é, aos
3 O Artigo 3, n°1 dispõe que “A organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado obedecem aos princípios da
desconcentração e desburocratização administrativas, visando o descongestionamento do escalão central e a
aproximação dos serviços públicos às populações, de modo a garantir a celeridade e a adequação das decisões às
realidades locais”.
4
Artigo 158 (Processo de transferência de competências), nº1, do Decreto nº11/2005, estabelece que: “A
transferência de competências exercidas por qualquer dos órgãos centrais do Estado para os órgãos locais do Estado
deve operar-se de forma gradual, de modo a permetir a criaçâo e consolidação dos necessários requisitos de
capacidade técnica, humana e financeira dos órgãos locais do Estado”.
5AMARAL, D.F. « Curso de Direito Administrativo », 2 Edição, Vol. I, Almedina, Coimbra, 2006, p. 660 e 695. O autor

indica os seguintes inconvenientes da desconcentração administrativa: existência de uma multiplicidade de centros


decisórios, o que inviabiliza uma actuação harmoniosa, coerente e concertada da Administração, a atribuição de
responsabilidades a subalternos por vezes menos preparados para as assumir, pode levar à diminuição da qualidade do
serviço, prejudicando-se com isso os interesses dos particulares e a boa administração. Em relação a descentralização
administrativa o autor aponta as seguintes desvantagens: gera alguma descoordenação no exercício da função
administrativa e a possibilidade do mau uso dos poderes discricionários da Administração por parte de pessoas nem
sempre bem preparadas para os exercer.

2
Governadores Provincias/Governos Provincias e Administradores
Distritais/Governos Distritais.

E, a propósito do dever de agir em conformidade com o princípio da


Descentralização Luis MATSINHE6 evoca muito bem a necessidade de se respeitar o
principio constitucional de poder local, e nos recorda que “este princípio é o
fundamento da descentralização administrativa territorial e constitui um direito
fundamental que a lei não pode pôr em causa. Ele serve para lembrar ao legislador
ordinário que as autarquias locais são o objecto central da autonomia e que não serão
permitidas, pelo Juiz constitucional, as restrições que não sejam necessárias ou
proporcionais”.

Enfim, a desconcentração pode aumentar a eficiência e a qualidade dos serviços


públicos e a descentralização garante as liberdades locais, evita a hipertrofia do
Estado, reduz o gigantismo do poder central, que é fonte de ineficácia da acção
administrativa, porque quer se confiar tudo ao Estado, falicita a mobilização das
iniciativas locais para as tarefas da Administração Pública7.

A tendência moderna, mesmo dos países de tradição centralizadora, é de


favorecer e desenvolver fortemente a desconcentração e a descentralização.
Moçambique não é excepção como elucidamos acima8. Por isso, é urgente travar o
fenómeno da anti-desconcentração e anti-descentralização, começando por estuda-lo
profundamente.

Nesta conformidade, falaremos primeiro do percurso histórico da organização


administrativa no país (I), de seguida das manifestações da “re-concentração”

6 MATSINHE, L. « Diagnóstico crítico de 10 anos de Descentralização em Moçambique » , in CISTAC, G., e


CHIZIANE, E., op. cit., p. 15.
7 AMARAL, D.F., op. cit., pp. 659 e 695-6.
8 Para dinamizar o processo da descentralização e desconcentração administrativas, Moçambique lançou em Junho de

2001 a Reforma do Sector Público, através do qual se reconheceu a necessidade de reduzir a sobreposição de estruturas
administrativas, isto é, a reprodução dos órgãos centrais ao nível local, a imperiosidade de acelerar o processo de
transferência de determinadas competências dos órgãos do Estado para os órgãos municipais.

3
administrativa (II) e depois, demonstraremos a existência de focos de “re-
centralização” administrativa no Direito pátrio (III).

PARTE I – BREVES NOTAS SOBRE O PERCURSO HISTÓRICO DA


ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA NO PAÍS

Analisadas as referências bibliograficas9 sobre a materia e observando


atentamente a dinâmica da nossa organização administrativa, encontramos três
períodos basícos: o período colonial (1), o período de 1975 até aos meados dos anos
80 (2) e o período recente: meados dos anos 80 aos nossos dias… (3).
A apresentação que se seguirá dará enfoque ao percuso histórico-legal das
opções de gestão administrativa mais importante que o país conheceu: centralização
versus descentralização e concentração versus desconcentração.

1. Período Colonial

No período colonial, desde a sua origem, a organização administrativa das


províncias ultramarinas foi baseada no princípio da reprodução nas colônias em geral
e a de Moçambique em particular, o modelo de gestão adoptado para à metrópole.
Insistia-se em considerar as colônias como simples províncias do reino-províncias
ultramarinas – a que se aplicavam com ligeiras alterações as leis feitas para o
continente, os critérios de administração e os planos de governo estabelecidos e
traçados para a metrópole10.
O Estado colonial estava fortemente centralizado, não só pela preservação na

9 Vide CISTAC, G. Manual das Autarquias Locais, Imprensa Universitária - UEM, 2001; CHAMBULE A “ A Organização
Administrativa de Moçambique”, Ed, o autor, 2000.
10 CAETANO, M. “Estudos da História da Administração Pública Portuguesa”, Coimbra Editora, Coimbra, 1994, p.

496.

4
metrópole dos centros de decisão sobre as questões consideradas estratégicas, mas
também duma forte centralização interna dentro de cada província ultramarina, uma
vez que o Governador-geral e o seu governo, detinham as principais competências ao
nível do território11.
Durante o período colonial, o primeiro esforço de institucionalização da
descentralização foi feito através do Decreto de 1 Dezembro de 186912, e o relatório
de apresentação do Decreto reconhecia a necessidade de se avançar nesse sentido,
assim, escrevia o Relator Rebello da Silva “persuadindo de que o estado de algumas das nossas
possessões não só consentia mas aconselhavam a reforma das instituições administrativas na parte em
que uma prudente descentralização podia conceder à iniciativa local acção mais ampla…A metrópole
emancipa-as de toda a tutela e reconhece-lhes a maioridade e a capacidade. Se não souberem
aproveitar-se da concessão, imputem a si a culpa”.
A Carta Orgânica do Ultramar Português aplicava às possessões então
consideradas avançadas, como era o caso de Moçambique: os princípios da
descentralização, iniciativa e acção local e emancipação da tutela. Todavia, esta obra
legislativa não foi executada, por duas razões; uma excessiva reprodução da estrutura
das instituições colonias às da Metrópole e a centralização13.
Existiam, na província de Moçambique, corpos administrativos ( Câmaras
municipais, comissões municipais, juntas locais) que gozavam de uma certa
autonomia. Todo este sistema, que sofreu transformações e ajustamentos ao longo do
tempo permaneceu até a altura da independência. Mas o balanço dado por alguns
autores sobre a actividades destes corpos, do ponto de vista da democracia local,
permanece negativo. Com efeito, certos autores puderam observar que a natureza
autoritária do regime colonial, aliada à necessidade de forte domínio sobre as então províncias
ultramarinas, conduzia a que mesmo as denominadas estruturas municipais então existentes fossem

11 Vide CISTAC, G. Op. cit., p. 31.


12 Decreto de 01 de Dezembro de 1869, reformando a administração, publicada in Legislação Colonial 1869, pp. 595-
603.
13 Vide CISTAC, G. op. cit., p. 31.

5
uma simples extensão do poder central. A sua autonomia era reduzida, como eram reduzidas as suas
competências quase inexistentes os meios financeiros próprios14.

2. Período de 1975 até aos meados dos anos 80

A proclamação da independência em 1975 provocou uma rotura profunda na


forma de organização do Estado colonial. Mas, apesar desta rotura, algumas das
características referidas anterioremente, continuam a marcar a Administração Pública
moçambicana até hoje. Na verdade, segundo o ilustre Professor Gilles CISTAC15
persistem algumas características do sistema admnistrativo colonial para permitir estender a acção do
executivo aos vários domínios da vida política, econômica e social, nomeadamente: extrema
centralização na capital do País do poder político e administrativo; as grandes transformações na
organização político-administrativo caracterizaram-se pela criação de assembléias eleitas a nível local e
conselhos executivos e Governos Provinciais com forte dependência central; continuam, mesmo assim, a
basear-se essencialmente em governadores e administradores locais nomeados pelo poder central.

Segundo Salim VALA16 “Moçambique herdou do regime colonial um Estado


centralizado, fraco e forte. Centralizado porque as decisões eram emanadas do centro
de decisão, neste caso da capital. Fraco porque não tinha capacidade de se implantar
em todo território nacional, não se fazendo sentir na vida prática das comunidades e
forte porque sobrepunha-se a todas as formas de organização das comunidades”.
Face ao relacionamento com a sociedade, algo do período colonial perdurou
no pós-independência: no Estado colonial existiu numa relação de conflitualidade

14 In CHAMBULE, A., op. cit., p. 154.


15 CISTAC, G., op. cit. p. 32 e 45.
16 VALA, S. “Descentralização e Desenvolvimento Sustentável no Moçambique Rural”, p. 175, in CISTAC, G. e

CHIZIANE, E. “10 anos de Descentralização em Moçambique: os caminhos sinuosos de um processo emergente”, FD-
NEAD, UEM, Maputo, 2008. Para mais desenvolvimentos, o autor recomenda a consulta de José Oscar MONDEIRO
«Em busca do Reencontro entre Estado Necessário e a Sociedade Real» in Revista Jurídica, FD-UEM, Vol V., pp. 57-70.

6
com as comunidades locais, devido a usurpação dos recursos pertencentes as
comunidades e a exclusão dos indivíduos de participarem activamente na vida sócio-
económica e política17.

A Constituição da Republica Popular de Moçambique de 1975, é fortemente


marcada pelos princípios da centralização e da concentração administrativas. Na
verdade, o país herdou do passado colonial uma estrutura administrativa essencialmente baseada no
principio da centralização, isto é, na centralização da decisão administrativa nos órgãos superiores da
administração central18.
A necessidade de reforçar a unidade nacional e a liderança do partido único,
para além do imperativo de atingir certas metas sociais, econômicas e políticas
continuaram a aconselhar o centralismo da decisão administrativa19.
O quadro jurídico que se substituiu às estruturas administrativas coloniais
instala três níveis de organização administração: nacional, provincial e local (cidades e
distritos)20. Assim, podemos afirmar que os órgãos províncias e locais reduzem-se a
meros receptores e executores de decisões do nível central, sem nenhum poder de
decisão, mesmo sobre as questões de carácter local21.
O artigo 1, nº1 da Lei nº5/78, dispunha que “O Governo Provincial é um
órgão de direcção estatal com funções de execução, decisão e controlo no escalão
provincial”. Na verdade, a analise rigorosa das disposições da Lei nº5/78, leva-nos a
concluir que o Governo Provincial não tinha um verdadeiro poder decisório, apesar
da referência a palavra decisão feita pelo artigo 1, nº1. Com efeito, a simples leitura da
17 PNUD - Moçambique « Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano –Paz e crescimento: oportunidades para o
desenvolvimento humano” Maputo, 1998.
18 CISTAC, G., op. cit., p. 32.
19 GRACA, J. Lei dos Municípios: uma apresentação, Notícias, 01/03/1996 e MONTEIRO, J.O., Aspectos institucionais e

financeiros da reforma dos órgãos locais em Moçambique, Maputo, Dezembro de 1990, p.4.
20 Lei n. 5/78, de 22 de Abril, Regulamenta as funções, tarefas, composição e funcionamento dos Governos Provincias

Provincias, BR, n.48, I Série, 2 Suplemento; Lei n. 6/78, de 22 de Abril, Extingue todos os corpos administrativos,
nomeadamente as Câmaras Municipais e Juntas Locais, e os Serviços de Administração Civil, BR, n.48, I Série, 2
Suplemento; Lei n.7/78, de 22 de Abril, Cria os Conselhos Executivos das Assembléias Distritais e Conselhos Executivos
das Assembléias de Cidade, BR, n.48, I Série, 2 Suplemento.
21
Vide o Preâmbulo da Lei n°5/78, de 22 de Abril. Mais precisamente se estabelece que a lei nº5/78, visaava «…
regular as funções, tarefas, composição e funcionamento dos Governos Provinciais».

7
Lei nº5/78, do seu artigo 7, sobre as competências do Governador Provincial, e do
seu artigo 11, sobre as competências do Governo Provincial, demonstram-nos uma
inexistência de poderes decisórios investidos àqueles órgãos. Os artigos em questão
anunciam como “competências”: a direcção do governo, a apresentação de relatórios,
a orientação de actividades, a preparação de sessões de trabalho, a elaboração de
propostas de plano e orçamento, etc. Ora, o que acabamos de descrever são tarefas,
funções, mas não poderes de tomar decisões. Pois, só haveria poder decisório si os
órgãos locais tivessem o poder de criar, modificar ou extinguir direitos, afectando com
a sua acção o ordenamento jurídico, quer dizer, se por exemplo, tivessem o poder de
autorizar pedidos sobre a terra, licenciamento comercial, turistico ou industrial,
modificar licenças diversas ou revogar-las. Enfim, os órgãos locais eram meros
tarefeiros ou executores de decisões centralmente tomadas.
O princípio da dupla subordinação22 das Direcções Provincias ao Governo
Provincial e aos Ministérios respectivos representava um forte obstacúlo a
materialização de uma governação local coordenada e unida, vários conflitos ocorriam
no quadro da aplicação deste princípio, pois é dificil conceber em termos de caricatura
uma mulher com dois maridos.
Este sistema perturbou o desenvolvimento do espírito de iniciativa nos níveis
inferiores de governação, pois não tinham o poder de decisão e faltava lhes os
recursos técnicos e financeiros. Nas palavras do Professor CISTAC23 este sistema de
administração local levou a uma fragilidade e deficiente gestão de instituições locais com efeitos
negativos na qualidade de serviços prestados à população.

22
Artigo 25, nº1, da Lei nº5/78, de 22 de Abril.
23 CISTAC, G., op. cit., p. 33.

8
3. Aspectos recentes: meados dos anos 80 aos nossos dias…

A partir de 1983 o IV Congresso da FRELIMO24 reconheceu publicamente e


oficialmente de que o sistema administrativo é excessivamente centralizado. Com
efeito, o Congresso conclui que o Estado se tinha tornado sobredimensionado a nível
central e muito fraco a nível das províncias e distritos, incluindo cidades. Segundo o
Prof. Gilles Cistac25, com quem estamos de acordo, as reformas políticas, económicas e
sociais em Moçambique implementadas a partir de 1987 com o lançamento do Programa de
Reabilitação Econômica (PRE)26, consolidadas pela adopção de uma nova Constituição aos 02 de
Novembro de 1990 e o fim da guerra civil( assinatura do Acordo de Roma aos 04 de Outubro de
199227) criaram as condições favoráveis para o desenvolvimento do processo de descentralização em
Moçambique.
Com efeito a adopção do PRE, em 1987, traduziu-se numa ruptura substancial
na orientação até então seguida pelo Governo moçambicano na gestão global da
sociedade28. Ademais, devido à diversidade e ao grau de complexidade das várias
cidades e distritos no país, resultantes das condições políticas, económicas, sociais, e
culturais de cada região em que cada uma delas se localiza, aliado ao facto de o
modelo exposto ser reflexo de um sistema de administração pública centralizado,
levou a uma fragilidade e deficiente gestão de instituições locais com efeitos negativos
na qualidade dos serviços prestados à população pelo sistema de administração local
de então29.

24 Consultar Documentos do IV Congresso da Frelimo.


25 CISTAC, G. op. cit., p. 33.
26 Resolução (do Conselho de Ministros) n°15/87, de 22 de Setembro : aprova o Relatório do Governo sobre o

Programa de Reabilitação Económica e Programa de Emergencia, Publicada no BR, I Série, n°37, 4°Suplemento, de
22/09/87.
27 Lei n°13/92, de 14 de Outubro, aprova o Acordo Geral de Paz, publicada no BR, I Série, n°42, Suplemento, de

14/10 /92.
28 Vide artigo 9, alinéa a) da Lei n°2/87, de 19 de Janeiro, da Assembleia Popular, publicada BR, I Série, n°4, 30/01/87 :

regulamenta os estatutos de autonomia administrativa e financeira, estabelecendo as competencias para a respectiva


atribuição aos organismos e instituições que, pela sua natureza, o justificam e possam gradualmente tornar-se auto
suficientes financeiramente.
29 CISTAC, G. op. cit., p. 33.

9
Em maio de 1992, o Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos
Locais (PROL) que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração
local do Estado vigente e a sua transformação em órgãos locais com personalidade
jurídica própria distinta do Estado, dotados de autonomia administrativa e financeira,
infraestrutura e meio ambiente.

Para sintetizar este periodo vamos subdividi-lo em dois: a evolução recente da


gestão administrativa centralizada para uma gestão publica descentralizada (A), a
evolução da gestão concentrada para uma opção mais desconcentrada (B). Contudo,
fica claro que estes dois modos de gestão administrativa se confudem, pois se apoiam
nas mesmas linhas directrizes, politícas ou nos mesmos documentos. Discute-se
ainda qual dos dois processos ( descentralização e desconcentração) deveria ter
antecedido o outro. Julgamos, do nosso ponto de vista que a desconcentração deveria
ter antecedido a descentralização. Pois, mesmo dentro dos municípios se impõe uma
gestão administrativa desconcentrada.

A. A evolução recente da gestão administrativa centralizada para uma


gestão publica descentralizada

Nos finais dos anos 1980 e no início dos anos 1990, no contexto das reformas
estruturais, da revisão constitucional, e o processo de paz, o Governo reconheceu a
descentralização do sistema político administrativo como um dos pressupostos para
uma governação mais eficaz e um desenvolvimento mais sustentável.
No quinquénio 1994-1999, a transformação mais significativa na administração
moçambicana que se repercutiu na própria estrutura do Estado e no papel dos
cidadãos perante a coisa pública consistiu no lançamento do processo de
descentralização.
Assim, foi elaborado um anteprojecto da lei sobre o « Quadro Institucional dos

10
Distritos Municipais », que definia as bases do modelo de descentralização que se
pretendia erguer. Este anteprojecto de lei continha regras sobre a definição de
munícipio, tipos, competências, composição, poderes tutelares do Estado, etc. Em
1994, o Conselho de Ministros debateu o anteprojecto, e fez as suas opções, e
subsequentemente o submeteu à apreciação e aprovação da Assembleia da República,
o que se concretizou na sua 8° Sessão, realizada em Agosto de 1994. Assim, foi
aprovada a Lei n°3/94, de 13 de Setembro: que aprova o quadro institucional dos
distritos municipais30.
O modelo estruturado pela Lei n°3/94, de 13 de Setembro, é um modelo que
do ponto de vista político-normativo, se descreve como polarizado através de técnicas
de descentralização administrativa, patrimonial e financeira, inovatório, sem excessiva
ambição..., atento às realidades sociológicas, centrado num sistema de governo
municipal de cariz presidencial, moderadamente intervencionado pelo Estado e de
aplicação gradual31. Esta Lei permite enfim, a participação da sociedade civil, das
comunidades locais na tomada de decisões e gestão locais, prosseguindo os seus
interesses próprios de acordo com a sua inserção territorial.

Depois da Promulgação da Lei n°3/94, iniciou-se uma polémica em volta da


questão da sua constitucionalidade, o que obrigou a uma emenda da Constituição em
1996, através da Lei n°9/96, de 22 de Novembro32: que introduz princípios e
disposições sobre o Poder Local no texto da Lei Fundamental. A aprovação da
emenda constitucional teve grandes implicações no processo de descentralização e
municipalização. Dai que se monstrava necessário proceder a algumas alterações tanto
na legislaçao anterior, e da Lei n°3/94, de 13 de Setembro, como em todos os
projectos de diplomas complementares ( Projectos sobre Lei Eleitoral, Lei do

30 Publicada no BR, I Série, n°37 2°Suplemento, de 13/09/1994.


31 CANAS, A. “A Lei n°3/94, de 13 de Setembro, da República de Moçambique, sobre o quadro institucional dos
distritos municipais » Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Vol. XXXVI, 1995, p. 224, citado por
Gilles CISTAC, op. cit., p. 34.
32 Publicada pelo BR, I Série, Suplemento, n°47, de 22/11/1996.

11
Recenseamento, da Tutela Administrativa e das Finanças Locais, etc).
A evolução recente da gestão administrativa centralizada para uma gestão
publica descentralizada será analisada abordando sucessivamente: a aprovação do
“Pacote Autárquico” em 1997 (1), os textos normativos complementares do “Pacote
Autárquico”, aprovados entre 2003 – 2006 (2) e a apresentação da primeira “grande”
tentativa de revisão do “Pacote Autárquico” realizada em 2007 e 2008 (3).

1. A aprovação do “Pacote Autárquico” em 1997

Após uma alteração pontual à Constituição realizada em 1996, foi adoptado em


1997 um “Pacote Autárquico”. O conjunto destes textos legislativos Segundo
CISTAC “constitui verdadeiramente o “modelo” de municipalização inical
moçambicano”33.
Eis, o conjunto de textos do “Pacote autárquico”:

1) Lei n°2/97, de 18 de Fevereiro: que aprova o quadro jurídico para


implementação das autarquias locais34;
2) Lei n°4/97, de 28 de Maio: que cria a Comissão Nacional de
Eleições35;
3) Lei n°5/97, de 28 de Maio: que institucionaliza o recenseamento
eleitoral sistemático para a realização de eleições e referendos36;
4) Lei n°6/97, de 28 de Maio: que estabelece o quadro jurídico-legal para
a realização das eleições dos órgãos das autarquias37;
5) Lei n°7/97, de 31 de Maio: que estabelece o regime jurídico da tutela
administrativa do Estado a que estão sujeitas as autarquias locais38;

33
CISTAC, G., op. cit., p. 36.
34 Publicada no Boletim da Republica n°07, I Série, 2°Suplemento, de 18/02/1997.
35 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 2°Suplemento, de 28/05/1997.
36 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 2°Suplemento, de 28/05/1997.
37 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 2°Suplemento, de 28/05/1997.

12
6) Lei n°8/97, de 31 de Maio: que define as normas especiais que regem a
organização e o funcionamento do Município de Maputo39;
7) Lei n°9/97, de 31 de Maio: que define o estatuto dos titulares e dos
membros dos órgãos das autarquias locais40;
8) Lei n°10/97, de 31 de Maio: que cria municípios de cidades e vilas em
algumas circunscrições territoriais41;
9) Lei n°11/97, de 31 de Maio: que define e estabelece o regime jurídico-
legal das finanças e do património das autarquias42;
10) Lei n° 22/97, de 11/11: Altera o artigo 112 da Lei n 2/97, de 18 de
Fevereiro43;
11) Decreto do Conselho de Ministros n°35/98, de 07 de Julho:
Estabelece os princípios fundamentais dos regimentos das assembleias
municipais44;

Através deste Pacote autarquico foi desencadeada uma dinâmica de


responsabilização dos cidadãos em contraposição à mentalidade até então
prevalecente e objectivamente encorajada, de dependência em relação ao Estado, visto
como provedor de todos os serviços.
No dia 25 de Junho de 2001, o Governo de Moçambique lançou formalmente a
“Estratégia Global de Reforma do Sector Público45”. Ela estabeleceu, entre autras
coisas, que era necessário acelerar o processo de descentralização administrativa. E, o
balanço dos primeiros anos de municipalização recomendaram a elaboração de

38 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 4°Suplemento, de 31/05/1997.


39 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 4°Suplemento, de 31/05/1997.
40 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 4°Suplemento, de 31/05/1997.
41 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 4°Suplemento, de 31/05/1997.
42 Publicada no Boletim da Republica n°22, I Série, 4°Suplemento, de 31/05/1997.
43 Publicada no Boletim da Republica n°45, I Série, Suplemento, de 11/11/1997.
44 Publicada no Boletim da Republica n°26, I Série, 2°Suplemento, de 07/07/1998.
45 Sector Público é o conjunto de instituições e agências que sendo directa ou indirectamente financiadas pelo Estado

tem como objectivo final a provisão de bens e serviços públicos.

13
legislação complementar e a revisão pontual do “Pacote Autárquico”. É, assim que
surge aquilo que podemos chamar a segunda geração de textos normativos do “Pacote
Autárquico”:

2. Os textos normativos complementares do “Pacote Autárquico”, aprovados


entre 2003 – 2006.

A partir dos anos 2003, dinamizou-se a aprovação do conjunto dos textos


Complementares ao “Pacote Autárquico”, que fazem parte da 2°Geração, e que
coecidem com o segundo ciclo eleitoral da Municipalização. Trata-se de textos que
globalmente visam acelerar o processo de transferência de competências do Estado
para os Municípios, mobilidade de funcionários do Estado para os Municípios e vice-
versa, funcionamento dos serviços municipais, etc. Destacam-se os seguintes textos:

1) Decreto do Conselho de Ministros n°20/2003, de 20 de Maio: Regula


o quadro institucional e financeiro em que opera a administração de
estradas46;
2) Decreto do Conselho de Ministros n°45/2003, de 17 de Dezembro:
Regula a mobilidade dos funcionarios entre a Administração do Estado
e das autarquias locais e entre estas, e clarifica a situação da relação de
trabalho dos funcionarios do Estado em actividades nas autarquias
locais47;

46 Publicada no Boletim da República n°22, I Série, 2°Suplemento, de 20/05/2003.

47 Publicado no Boletim da República n°51, I Série, de 17/12/2003.

14
3) Decreto do Conselho de Ministros n°46/2003, de 17 de Dezembro:
Estabelece os procedimentos de transferência de funções e
competências dos órgãos do Estado para as autarquias locais48;
4) Decreto do Conselho de Ministros n°65/2003, Designa o
representante da Administração do Estado nas circunscrições
territorias cuja área de jurisdição coincide total ou parcialmente com a
autarquia local49;
5) Decreto do Conselho de Ministros n°51/2004, de 01 de Dezembro:
Aprova o Regulamento de Organização e Funcionamento dos Serviços
Técnicos e Administrativos dos Municípios50;
6) Diploma Ministerial (MAE) n°80/2004: Aprova o Regulamento de
Articulação dos Órgãos das Autarquias Locais com as Autoridades
Comunitárias51;
7) Decreto do Conselho de Ministros n°33/2006, de 30 de Agosto:
Aprova o quadro legal de transferencia de funções e competencias dos
órgãos do Estado para as autarquias locais52;
8) Decreto do Conselho de Ministros n°35/2006, de 06 de Setembro,
Aprova o Regulamento de Criação e Funcionamento da Polícia
Municipal53;

3. A primeira “grande” tentativa de revisão do “Pacote Autárquico” realizada


em 2007 e 2008

Após as experiências legislativas de 1997 e 2003-2006, assistimos a uma

48 Publicado no Boletim da República n°51, I Série, de 17/12/2003.


49 Publicado no Boletim da República n°53, I Série, Suplemento.
50 Publicado no Boletim da República n°48, I Série, Suplemento, de 01/12/2004.
51 Publicado no Boletim da República n°19, I Série, Suplemento.
52 Publicado no Boletim da República n°35, I Série, de 30/08/2006.
53 Publicado no Boletim da República n°36, I Série, de 06/09/2006.

15
avaliação da implementação do legislação autárquica que ditou aquilo que podemos
chamar a primeira grande tentativa de revisão do “Pacote Autárquico”, feita em bloco,
isto é, incindo sobre os grandes pilares da municipalização, como seja, os poderes dos
órgãos, os direitos e deveres dos eleitos locais, a tutela administrativa, as finanças
autárquicas e o sistema tributário autárquico. Eis o conjunto de textos que alteram o
«Pacote Autáquico» à partir de 2007:
1) Lei n°6/2007, de 09 de Fevereiro: que altera o regime jurídico da tutela
administrativa sobre as autarquias locais estabelecido na Lei n°7/97, de
31 de Maio54;
2) Lei n°15/2007, de 27 de Junho: que altera a Lei n°2/9755;
3) Lei n°21/2007, de 01 de Agosto: introduz alterações aos artigos 15, 16,
17, 18 e 19, da Lei n°9/97, de 31 de Maio que define o estatuto dos
titulares e dos membros dos órgãos das autarquias locais56; e
4) Lei n°1/2008, de 16 de Janeiro: define o regime financeiro, orçamental e
patrimonial das autarquias locais e o sistema tributário autárquico e
revoga a Lei n°11/1997, de 31 de Maio57;

Falamos em primeira “grande” tentativa de revisão do “Pacote Autárquico”,


porque, embora se tenha feito algumas alterações e melhoramentos, como já
indicamos, nota-se ainda que as reformas estruturais não foram feitas, muito menos
operou-se a alguma inovação. Um salto qualitativo significaria a revisão da estrutura
dos órgãos autárquicos (pois, conta-se actualmente com 3 órgãos, mais bastaria o
Presidente e a Assembleia Municipal ou o Presidente e o Conselho Municipal), o
abandono do princípio do gradualismo, que pode assegurar uma maior transferência
de competências e criação de mais municípios, a afirmação do principio do

54 Publicada no Boletim da República, n°06, I Série, Suplemento, de 09/02/2007.


55 Publicada no Boletim da República, n°26, I Série, de 27/06/2007.
56 Publicada no Boletim da República, n°31, I Série, de 01/08/2007.
57 Publicada no Boletim da República, n°03, I Série, de 16/01/2008.

16
voluntarismo do trabalho prestado pelas assembleias municipais, a afirmação do
princípio da tutela de legalidade e a racionalização e optimização das finanças
municipais e do sistema tributário autárquico.

Só nos resta concluir este ponto, concordando com VALA58, quando afirma
que o sistema de descentralização no país tem o “desafio de se erguer num contexto
marcadamente centralizado”.

B. A evolução da gestão administrativa concentrada para uma opção


mais desconcentrada...

Um dos desafios adicionais que o país apresenta, parafraseando Salim VALA59


é de erguer um sistema desconcentrado num contexto de uma Administração Pública
marcada ainda por um contexto de uma forte concentração administrativa, ao nível da
mentalidade dos decisores e agentes públicos60.
Em 1978, são aprovadas as Leis n°s5/78, de 22 de Abril, relativa à:
Regulamentação das funções, tarefas, composição e funcionamento dos Governos
Provincias Provincias61 e a Lei n°7/78, de 22 de Abril: que cria os Conselhos
Executivos das Assembléias Distritais e Conselhos Executivos das Assembleias de
Cidade62. Estruturalmente estes instrumentos legais estabelecem uma organização

58 VALA, S. op. cit., p. 175.


59 VALA, S. op. cit., p. 175.
60 Dois exemplos ilustram esta mentalidade. Primeiro, o forte sentido do respeito do princípio da hierarquia dentro da

Administração publica, mesmo nos casos em que não se impõe à subordinação. Observei , em Pemba, em Julho de
2007, por ocasião de uma acção de formação dos órgãos locais do Estado, Directores Distritais de Montepuez e
Mocimboa da Praia apresentarem guias de autorização de viagem à Pemba, passadas pelos Directores Provinciais e não
pelo Administrador. Na verdade, o artigo artigo 44 da Lei n°8/2003, de 19 de Maio, estabelece que « os directores de
serviços distritais subordinam-se ao Administrador Distrital… » (o sublinhado é nosso). Segundo, presencie por ocasião
do Seminário « Turismo e Desenvolvimento Local » realizado pelo NEAD em Outubro de 2006, o Presidente do
Conselho Municipal a « Pedir autorização” informal ao Governador para viajar à Lisboa. Tratou-se da manifestação da
submissão à figura mais representativa do « Centralismo Provinciano». O Governador.
61
Publicada no Boletim da República, n°48, I Série, 2° Suplemento, de 22/04/1978.
62
Publicada no Boletim da República, n°48, I Série, 2° Suplemento, de 22/04/1978.

17
administrativa assente no modelo administrativo de concentração de poderes nos
órgãos centrais do Estado. Os órgãos locais do Estado (de nível Provincial e Distrital)
apenas funcionavam como executores das decisões centralmente tomadas. A Lei
n°5/78, estabelece apenas tarefas para os governos provincias e distritais. Estamos
em face da primazia de uma perspectiva apenas executiva e não dicisória dos órgãos
locais.
Ademais a Lei n°5/78, de 22 de Abril, estabelece o princípio da dupla
subordinação dos Directores Provincias, que assim se subordinavam simultaneamente
ao Ministro da área e ao Governador. Este princípio criou muitas dificuldades de
coordenação da acção governativa local por parte do Governador Provincial.
Em maio de 1992, o Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos
Locais (PROL) que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração
local do Estado vigente. E, no dia 25 de Junho de 2001, o Governo de Moçambique
lançou formalmente a “Estratégia Global de Reforma do Sector Público (Estes
momentos foram aflorados acima). Com estes pressupostos foi aprovada a Lei no
8/2003, de 19 de Maio, Lei dos Órgãos Locais do Estado63: que estabelece os
princípios, normas de organização, competências e funcionamento dos órgãos locais
do Estado.
O artigo 57 da Lei n°8/2003, revogou as Leis n°s 5/78 e 7/78 de 22 de Abril,
alterando assim, os princípios de organização e funcionamento dos órgãos locais, o
relacionamento dos órgãos locais e os órgãos centrais e o relacionamento dos órgãos
locais e as comunidades.
É assim que, sobre os princípios organizatórios dos orgãos locais se estabelece
o teor da desconcentração e da desburocratização. Com efeito, o artigo 3, da Lei
n°8/2003, dispõe “a organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado obedecem aos
princípios da desconcentração e da desburocratização, visando o descongestionamento do escalão central

63 Publicada no Boletim da República, n°20, I Série, Suplemento, de 19 de Maio de 2003.

18
e a aproximação dos serviços públicos às populações, de modo a garantir a celeridade e a adequação às
realidades locais”.
Racionalizou-se a estrutura orgânica do Governo Provincial e Distrital,
evitando-se a reprodução ao nível local dos organismos do aparelho do Estado
Central, segundo o artigo 8, da Lei n°8/2003. A definição da estrurura passa a
obedecer aos critérios da necessidade, potencialidades e capacidade de
desenvolvimento da provincia ou do distrito.
Com a Lei n°8/2003, o Distrito passou a ter um papel ainda mais importante
no quadro da administração local. De facto, o artigo 12 da Lei n o 8/2003 define o
distrito como "a unidade territorial principal da organização local do Estado e a base da
planificação do desenvolvimento económico, social e cultural da República de Moçambique". Essa
afirmação significa que, num processo gradual, todas as actividades que tenham uma
relação directa com a qualidade de vida das populações locais deverão passar para a
responsabilidade do distrito.
O artigo 30, n°s 3 e 4 e o artigo 44 da Lei n°8/200364, eliminaram o princípio
da dupla subordinação dos órgãos locais, designadamente do Director Provincial e do
Director Distrital65 aos Ministros da área e ao Governador ou Administrador. Com
efeito, a Lei n°8/2003, de 19 de Maio, estabelececeu, assim, o princípio da
subordinação individual ou única, isto é, os Directores Provincial e Distrital hoje só se
subordinam a um unico chefe, autoridade. Este aspecto é bastante inovador.
O conjunto de poderes entregues aos órgãos locais é relativamente importante:
gestão de recursos humanos, planificação e execução orçamental, embora tal deva
ocorrer de forma infelizmente gradual, segundo o artigo 185 do Decreto do Conselho

64 Artigo 30, n°3, da Lei n°8/2003, dispõe “os directores províncias subordinam-se ao Governador Provincial », n°5
dispõe «os directores provincias prestam contas das suas actividades ao Governador e ao Governo Provincial », n°6 « os
directores provincias prestam informação sobre os aspectos fundamentais da sua actividade aos Ministros que
superintendem nos respectivos sectores ou ramos de actividade » (os sublinhados são nossos). Artigo 44 da Lei
n°8/2003, estabelece « os directores dos serviços distritais subordinam-se ao Administrador Distrital, sem prejuízo da
orientação técnica e metodológica dos órgãos do aparelho de Estado de escalão superior… ».
65 O Director Distrital na Lei n°5/78, subordinava-se ao Director Provincial e ao Ministro da área.

19
de Ministros n°11/2005. Entretanto, é discutivel a legalidade ou constitucionalidade
deste princípio, tendo em conta que aquele princípio não é estabelecido nem na
Constituição de 2004, muito menos na Lei n°8/2003, de 19 de Maio.
O Decreto do Conselho de Ministros n°11/2005, de 11 de Junho, regulamenta
a Lei n°8/2003, fixando as regras que asseguram a concretização: do princípio da
desconcentração de competências, da nova orgânica dos Governos Provincias e
Distritais, do princípio do relacionamento entre os órgãos centrais e locais, etc.
Indicam-se de forma exaustiva as competências do Governador, Governo Provincial e
Secretário Permanente Provincial. Igualmente se detalham os poderes funcionais do
Administrador, do Governo Distrital e Secretário Permanente Distrital.
Contudo, nota-se que devido as limitações provocadas pelo princípio do
gradualismo, os poderes decisórios e executivos importantes, continuam a ser
exercídos pelos órgãos superiores do Estado, por exemplo, na área da gestão da
terra66, do licenciamento comercial, industrial, pesqueiro, turismo e gestão de estradas.

PARTE II – AS MANIFESTAÇÕES DA “RE-CONCENTRAÇÃO”


ADMINISTRATIVA...

A concentração e desconcentração são figuras que segundo o Prof. Diogo


Freitas do Amaral se reportam à “organização interna de cada pessoa colectiva
pública, ao passo que a centralização e a descentralização põem em causa várias
pessoas colectivas públicas ao mesmo tempo”67. Ambas são modalidades de gestão
administrativa.

66 No ambito do artigo 22 da Lei n°19/97, de 01 de Outubro: que aprova a Lei de Terras, o Administrador Distrital não
tem nenhum poder de atribuir, conceder, direitos sobre a terra. Embora, o Adminsitrador tenha sob seu poder a gestão
de extensos territórios e uma considerável população.
67 AMARAL, D.F., op. cit., p. 656.

20
Importa ter presente que a concentração ou desconcentração têm como pano
de fundo a organização vertical dos serviços públicos, consistindo basicamente na
ausência ou na existência de distribuição vertical de competência entre os diversos
graus ou escalões da hierarquia68.

Assim, o Ilustre Professor da Universidade de Lisboa69considera que concentração

de competências ou a administração concentrada é o “sistema em que o superior hierárquico

mais elevado é o único órgão competente para tomar decisões, ficando os subalternos

limitados às tarefas de preparação e execução das decisões daquele”. A “re-

concentração” representa, portanto, uma opção discreta em direcção à administração

concentrada.

Por outro lado, a desconcentração de competência ou administração desconcentrada “é o


sistema em que o poder decisório se reparte entre o superior e um ou vários órgãos
subalternos, os quais, todavia, permanecem, em regra, sujeitos à direcção e supervisão
daquele”70.

A regra hoje é a promoção da gestão desconcentrada, contudo, e sobretudo o


Conselho de Ministros, no uso do seu poder normativo nos tem “brindado” com a
aprovação instrumentos normativos que mais promovem a concentração, dai falarmos
da “re-concentração”, opção proibida pela CRM – 2004. Este fenómeno é
demonstrável através:

1. Do exemplo histórico da criação da Autoridade Nacional da Função


Pública

68 Idem, p. 656.
69 Ibidem, p. 658.
70 Ibidem, p. 658.

21
A criação pelo Presidente da República da Autoridade Nacional da Função
Pública (ANFP)71, em conformidade com o artigo 16, sobre (orientações e instruções
executivas) determina que “a Autoridade Nacional da Função Pública emana
orientações e instruções de carácter executivo, nomeadamente para os Secretários
Permanentes (SPs) em todos os escalões territoriais, …que periodicamente lhe
prestarão contas da sua actividade…”. (o sublinhado é nosso).

A este propósito, a Lei n°8/2003, de 19 de Maio, no seu artigo 30 e 44,


estabelece que os directores provinciais e de serviços distritais subordinam-se ao
Governador Provincial ou Administrador e obedecem às orientações técnicas e
metodológicas dos órgãos do Aparelho do Estado Central.

Com efeito, o Secretário Permanente Provincial subordina-se ao Governador


Provincial72. Na realização das suas actividades, o Secretário Permanente Provincial
articula e coordena com o Ministro que superintende a função pública e a
administração local do Estado73.

O dever de prestar contas pelos SPs à ANFP estabelecida pelo artigo 16 do


Decreto Presidencial n°2/2006 é incompatível com o artigo 22, n°s 4 e 5 da Lei
n°8/2003, de 19 de Maio. Com efeito, levantava-se aqui um problema de hierarquia
das normas de direito. Será que uma norma emanada de um Decreto Presidencial
pode desautorizar uma norma legal? Parece nos que a Lei se sobrepõe às normas
emanadas pelo Presidente da República74.

Nesta medida, o artigo 16 do Decreto Presidencial n°2/2006 é revelador de


71 Decreto Presidencial n°2/2006, de 07 de Julho de 2006, Cria a Autoridade Nacional da Função Pública (ANFP),
publicado no Boletim da Republica, Iª Série, n°27, Suplemento, de 07 de Junho de 2006. A ANFP foi extinta pelo artigo 6 do
Decreto Presidencial n°13/2007, de 16 de Outubro, este mesmo Decreto, de acordo com o artigo 1 cria o Ministério da
Função Pública.
72 Vide artigo 22, n°4 da Lei n°8/2003, de 19 de Maio.
73 Artigo 22, n°5 da Lei n°8/2003, de 19 de Maio.
74 O artigo 143 ( sobre actos normativos) e o artigo 144 ( sobre publicidade) da CRM-2004, sugerem a supremancia da

Lei face aos actos normativos do Presidente da República.

22
uma clara “re-concentração” de competências pelos órgãos centrais (neste caso pela
extinta ANFP) de assuntos que já estavam entregues ao Governador Provincial ou ao
Administrador Distrital, pela Lei n°8/2003, de 19 de Maio.

2. As dúvidas resultantes da filosofia do Decreto do Conselho de Ministros


n°6/2006, de de 12 de Abril, que aprova a estrutura tipo da orgânica do
Governo Distrital e o seu Estatuto Orgânico75.

A aprovação do Decreto do Conselho de Ministros n°6/2006, de 12 de Abril, é


uma afronta ao artigo 8 da Lei n°8/2003, de 19 de Maio. Na verdade, esta disposição
estabelece “Compete ao Conselho de Ministros definir a estrutura órgânica dos
governos provincial e distrital, tendo em consideração as necessidades,
potencialidades e capacidades do desenvolvimento da província ou do distrito” (o
sublinado é nosso).

Julgamos que as diferenças em termos de necessidades, potencialidades e


capacidades de desenvolvimento das provincias e distritos, como reconhece a parte
final do artigo 8 da Lei n.8/2003, deveria significar o repúdio da fixação de uma
estrutura tipo da orgânica dos governos distritais, centralmente definida.

Na verdade, as diferenças retrocitadas significariam em termos lógicos a


aprovação de 11 estruturas orgânicas dos governos províncias e 128 estruturas
orgânicas dos governos distritais, tendo em conta as naturais diferenças em matéria de
necessidades, potencialidades e capacidades de desenvolvimento de cada uma das 11
provincias e cada um dos 128 distritos.

Julgamos igualmente haver incompatibilidade quanto aos fins prosseguidos

75A aprovação do Decreto do Conselho de Ministros n°6/2006, de 12 de Abril, publicado no Boletim da Republica, Iª Série,
n°15, I° Suplemento, de 12 de Abril de 2006;

23
pelo princípio estabelecido no artigo 12, n°1 da Lei n°8/2003, que estabelece que “o
Distrito é a unidade territorial principal da organização e funcionamento da
administração local do Estado e a base da planificação do desenvolvimento
económico, social e cultural da República de Moçambique” e a estrutura orgânica do
Governo distrital, que é de 4 serviços distritais mínimo e 6 máximo, conforme, o
artigo 47 do Decreto do Conselho de Ministros n°11/2005.

Ora, como conciliar o comando que estabelece que o Distrito é a “a base de


desenvolvimento” como uma estrutura orgânica inferior a estrutura máxima do
Governo Provincial, que é de 12 Direcções76? Na verdade, a muito para fazer,
entretanto, não há uma visão estratégica favorável a uma real transformação do
Distrito, pois, cria-se uma estrutura mínima, que será ineficaz na sua acção devido ao
sobre -trabalho. A nosso ver, deveria se priorizar em termos de dimensão ou numero
de direcções o Governo Distrital e não o Governo Provincial, isto em homenagem ao
princípio que define “o Distrito como base de desenvolvimento”. Estamos em
presença de uma nova formula de concentração de poderes, a concentração de
segundo grau, que pretende deslocar o pesado aparelho administrativa do Estado de
“Maputo” para as capitais provinciais.

O Decreto do Conselho de Ministros n°6/2006 revela sem duvida uma


tendência de “re-concentrar” os poderes aos níveis mais altos, que continuaram a
tomar as decisões mais importantes sobre a vida dos órgãos locais. Enfim, o Conselho
de Ministros estabeleceu uma mesma “terapia para enfermidades diferentes”, isto é,
uma mesma estrutura orgânica dos Distritos, apesar de se saber que os mesmos
apresentam necessidades, capacidades e potencialidades de desenvolvimento diferentes.

3. O apelo abusivo ao princípio do gradualismo pelo normador no quadro

76 Vide artigo 24, n°4 do Decreto do Conselho de Ministros n.11/2005.

24
da transferência de competências dos órgãos centrais para os órgãos
locais do Estado...

O princípio do gradualismo estabelecido pelo artigo 158 do Decreto do


Conselho de Ministros n°11/2005, de 11 de Junho, representa a outra forma de
atrasar a promoção da desconcentração e ajuda a alimentar a “re-concentração” de
competências.

O gradualismo segundo o normador se justifica de modo a permitir a criação e


consolidação dos necessários requisitos de capacidade técnica, humana e financeira
dos órgão locais do Estado.

Na verdade, na hora de transferir competências sempre se apregoa que os


órgãos desconcentrados (Províncias e Distritais) estam impreparados tecnicamente.
No lugar de manter o princípio do gradualismo, sugere-se a aplicação do princípio da
subsidiariedade, isto é, deveria-se transferir as competências de gestão, execução aos
órgãos Províncias e Distritais, sem exitação, por exemplo, as decisões em matéria de
licenciamento comercial, industrial, mineiro, etc., deveriam ser tomadas na Província.
Os órgãos centrais ficariam apenas com as atribuições nacionais, como seja, a
produção de leis e a aprovação de politicais nacionais, em conformidade com o artigo
13977 da CRM.

Com efeito o princípio da subsidiariedade estabelece que as funções e


competências devem ser exercidas pelo órgão da administração melhor colocado para
as prosseguir com racionalidade, eficácia e proximidade dos cidadãos, que sem duvida,
é o poder local78.

A aceleração do processo de tranferência de competências dos órgãos centrais

77 Cfr. Artigo 139, n°1, da Constituição da Republica de Moçambique, “aos órgãos centrais compete, de forma geral, as
atribuições ao exercício da soberania, a normação das matérias do âmbito da lei e a definição de politicas nacionais”.
78 Vide artigo 2, n°.2, do Decreto do Conselho de Ministros n.°33/2006, de 30 de Agosto.

25
do Estado para os órgãos locais do Estado implica uma boa planificação do
financiamento do processo de tranferência de competências ao nível do Orçamento
do Estado (OGE), como impõe o artigo 158, nº2 alinea a) do Decreto nº11/2005. Os
OGE de 2006-2009 não fazem referencia a previsão de verbas para suportar o
exercício de competências transferidas para os órgãos locais do Estado.

PARTE III – A “RE-CENTRALIZAÇÃO” ADMINISTRATIVA SERÁ UM


MITO OU REALIDADE NO DIREITO PÁTRIO?

Antes de falarmos da tendência da “re-centralização” importa precisar alguns


conceitos.

“Descentralização”79 pode ser apresentada no plano jurídico e politico80, e


distinguida em primeiro lugar da centralização. Assim, no plano jurídico81, diz-se
“centralizado”, o sistema em que todas as atribuições administrativas de um dado país
são por lei conferidas ao Estado, não existindo, quaisquer outras pessoas colectivas
públicas incumbidas do exercício da função administrativa. Pelo contrario, será
“Descentralizado” o sistema em que a função administrativa esteja confiada não
apenas ao Estado, mas também a outras pessoas colectivas territoriais –
designadamente as autarquias locais, instituídas em Moçambique pela Lei n°2/97, de
18 de Fevereiro. Por isso, é correcto afirmar que Moçambique é um país
juridicamente descentralizado. Isto é absoluto, ou há ou não há.

79 AMARAL, D. “ Curso de Direito Administrativo” 2 ediçao, Vol I. Almedina, 2006, p. 693


80 Idem, p. 694. O autor justifica porque razão convém distinguir os conceitos de centralização e descentralização no
plano jurídico e no plano politico-administrativo. É que a descentralização jurídica pode na prática constituir um véu
enganador que recobre uma forte centralização politico – administrativo.
81 Idem, p. 694. O autor sublinha que os conceitos de centralização e descentralização em sentido jurídico são conceitos

puros, conceitos absolutos – ou existe uma, ou existe a outra, ao passo que, em sentido politico – administrativo, os
conceitos de centralização e descentralização são conceitos relativos: é tudo uma questão de grau.

26
No plano politico-administrativo, dir-se-á que há centralização segundo o
Professor Diogo Freitas do Amaral “quando os órgãos das autarquias locais sejam
livremente nomeados e demitidos pelos órgãos do Estado, quando devam obediência
ao Governo ou ao partido único ou quando se encontrem sujeitos a formas
particularmente intensas de tutela administrativa, uma ampla tutela de mérito”82. A
manifestação da “re-centralização” representa uma inclinação a favor de uma
administração, no plano politico-administrativo predominantemente centralizado.

Diz-se descentralizadas em sentido politico – administrativo quando os órgãos


das autarquias locais são livremente eleitos pela respectivas populações, quando a lei
os considera independentes na órbita das suas atribuições e competências, e quando
estiverem sujeitos a formas atenuadas de tutela administrativa, em regra restritas ao
controle de legalidade.

O fenómeno da “re-centralização” analisa-se no contexto moçambicano a


partir do conceito de centralização ou descentralização no plano politico –
administrativo. Estes aspectos se aferem mais a partir de critérios de grau. Vários
exemplos no caso moçambicano mostram a tendência recentralizadora do estado no
plano politico–administrativo. Na verdade, os Municípios de uma maneira geral,
devem cada vez mais obediência ao Governo central, se encontram sujeitos a formas
intensas de controlo ou tutela administrativa, etc. Ora vejamos:

1. A aplicação não-uniforme e em diferentes tempos do princípio do


gradualismo no processo de criação de novos municípios

O princípio do gradualismo introduziu a noção de um processo de

82 AMARAL, D.F. op. cit., p. 694.

27
descentralização com diferentes tempos e não-uniforme nacionalmente83.
Inicialmente o processo de municipalização seria integral, isto é, a escala de todo o
territorio do Estado Moçambicano, de acordo com as intenções da Lei n°3/94, que
cria os Distritos Municipais84, ou seja, estavamos em presença do abandono do
princípio do gradualismo.

O legislador entendeu durante os debates da preparação do pacote


autárquico de 1997, que a municipalização integral seria desaconselhável, devido a
níveis diferenciados de desenvolvimento dos Distritos Municipais.

Assim, a Lei n°2/97, no seu artigo 5, n°2, avança os critérios para a criação
de cada tipo município pela Assembleia da República, onde se inclui: a) factores
geográficos, demográficos, económicos, sociais, culturais e administrativos; b)
interesse de ordem nacional ou local em causa; c) razões de ordem histórica e cultural;
d) avaliação da capacidade financeira para a prossecução das atribuições que lhe
estiverem cometidas.

De início, 23 cidades e 10 vilas foram consideradas aptas a receber o status de


município, ao passo que nenhuma sede de posto administrativo, ou seja, a quase
totalidade da zona rural, qualificou-se ao título de povoação. O poder local, assim, foi
inicialmente estendido a somente 10% do território nacional, sendo que
aproximadamente 75% dos moçambicanos ficaram privados do direito de eleger seus
representantes ao nível local. Em Abril de 2008, adicionaram-se mais 10 municípios
aos 33 já existentes. Todas as capitais provinciais e outras cidades e vilas escolhidas de
acordo com os critérios definidos na Lei. Actualmente, cerca de 30% dos
moçambicanos votam localmente85. Nestes termos, actualmente estam privados de
votar localmente cerca de 70% dos moçambicanos, situação contraria ao artigo 271,

83
AfriMAP e OSISA “Moçambique: Democracia e Participação Política” Open Society Institute, 2009, RSA, p. 150.
84Esta Lei foi revogada, pela Lei n°2/97.
85 Vide para mais detalhes: AfriMAP e OSISA, op. cit., p. 151.

28
n°1 da CRM-2004. Segundo esta disposição o Poder Local tem como objectivos
organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade e
promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia….
Será que o artigo 5, n°2 da Lei n°2/97 é conforme aos artigos 250, n°186 da
e 271, n°1 ambos da CRM-2004? Ou seja, será o princípio do gradualismo fixado pelo
legislador ordinário, através da Lei n°2/97 conforme à Constituição? Parece nos que
não, pelo seguinte:

O artigo 250, n°1, da CRM-2004 dispõe que « a Administração Pública


estrutura-se com base no princípio de descentralização…» (o sublinhado é nosso).
Esta disposição constitucional fixa as bases, os critérios e os fundamentos da
Descentralização administrativa em Moçambique. O verbo estruturar aparece no
presente do indicativo, o que significa que estamos em presença de um comando, de
uma ordem constitucional incondicional, a sua aplicação é obrigatória. Se o
constituinte tivesse pretendido limitar este princípio o teria feito na própria
Constituição.

Portanto, o legislador ordinário não deve limitar ou por em causa o gozo de


direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição. O princípio do gradualismo
estabelecido pelo legislador limita sem dúvida a afirmação, o desenvolvimento do
princípio constitucional do poder local.

Face a estas anomalias os municípios e a Sociedade Civil deveriam fazer


“lobbies”, com vista a alteração da Lei n°2/97, de forma a eliminar o princípio do
gradualismo e a tornar àquele instrumento legal conforme à CRM-2004. A outra
solução, embora radical, consiste em lançar-se mão à fiscalização da
constitucionalidade do artigo 5, n°2, da Lei n°2/97.

Enfim, enquanto não se criam novos municípios, nos territórios excluídos

86 O artigo 250, n°1, dispõe « A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização…»

29
da autarcização, é o Estado que chama a si a responsabilidade de gestão administrativa
directa desses territórios. Esta situação traduz manifestamente uma tendência de “re-
centralização”, por se estar a contrariar o princípio constitucional de afirmação do
poder local, estabelecido nos artigos 250, n°1 e 271, n°187 da CRM-2004.

2. A manifesta violação do princípio da autonomia administrativa pelo


Decreto do Conselho de Ministros n°51/2004, de 01 de Dezembro88.

O Decreto n°51/2004 de 01 de Dezembro regulamenta a organização e o


funcionamento de serviços técnicos e administrativos dos municípios.

A base legal para aprovação do referido decreto terá sido, o n°1 do artigo 152º
da Constituição da República (1990). O artigo 197º da Constituição (1990) estabelecia
que “a lei garante as formas de organização que as autarquias locais podem adoptar
para a prossecução de interesses comuns”. Neste contexto, a Lei n°2/97 de 18 de
Fevereiro veio estabelecer que a autonomia administrativa compreende, entre outros,
os poderes de “criar, organizar e fiscalizar serviços destinados a assegurar a
prossecução das suas atribuições”.

A autoridade competente para intervir e garantir a organização e


funcionamento dos serviços técnicos e administrativos dos municípios será o
legislador, cabendo ao Governo intervir apenas na hipótese de necessidade de
actuação para efeitos de regulamentação de uma matéria específica.

A imposição de estruturas administrativas pré-determinadas aos municípios –


conforme resulta do Decreto n°51/2004, revelar-se-á contrária: ao princípio da
87 O artigo 271, n°1 da CRM-2004, estabelece que “O Poder Local tem como objectivos organizar a participação dos
cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento local, o
aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado moçambicano”.
88 O Decreto do Conselho de Ministros n°51/2004, de 01 de Dezembro, publicado no Boletim da República, Iª Série, n°48, de

01 de Dezembro.

30
autonomia local garantido no artigo 250, n°1 da CRM – 2004 e ao principio da
competência normativa reservada ao legislador, por força do artigo 275/5, que
passamos a transcrever “ a organização, a composição e o funcionamento dos órgãos
executivos ( das autarquias locais) são definidos por lei”.

Ora, a autonomia organizacional ou o poder de auto-organização consiste na


faculdade de determinação, por parte de uma dada instituição, da sua própria
organização e das regras relativas aos seus agentes no âmbito das normas
constitucionais.

No entanto, o Decreto n°51/2004, de 1 de Dezembro impõe de jure às


autarquias locais:

1) As áreas de actividade dos seus serviços técnicos e administrativos (Artigo


7º);
2) A organização dos seus órgãos técnicos e administrativos (Artigo 12º);
3) A estrutura das suas unidades administrativas territoriais (Artigo 13º);
4) A composição dos seus serviços técnicos e administrativos (Artigo 14º); e
5) A composição dos seus conselhos consultivos (Artigo 22º). Aqui podemos
questionar a necessidade efectiva e a funcionalidade para todos os
municípios duma estrutura deste tipo.

Face ao actual conteúdo do Decreto nº51/2004, não pode, pois, deixar de


questionar-se a legitimidade dos municípios para darem cumprimento ao disposto na
Lei n.°2/97 de 18 de Fevereiro e, assim, a possibilidades destes de “criar, organizar e
fiscalizar serviços destinados a assegurar a prossecução das suas atribuições”.

Com efeito, se a Constituição da República (1990) e de (2004) estabelecem o


princípio geral da autonomia administrativa dos Municípios, objecto de concretização
pela Lei n°2/97 de 18 de Fevereiro, parece-nos inadequado o disposto no Decreto

31
nº51/2004, pois que o mesmo vem manifestamente limitar a autonomia que havia
sido conferida por outros diplomas legais. E, assim, sugere-se a revogação do Decreto
n°51/2004 ou a Declaração de inconstitucionalidade do mesmo89.

3. O relativo desajustamento do Decreto do Conselho de Ministros


n°33/2006, de 30 de Agosto, que estabelece o quadro de transferência de
funções e competências dos órgãos do Estado para as autarquias
locais.90

Nos termos do artigo 3 do Decreto n°33/2006, a “ iniciativa de transferência


de funções compete aos órgãos do Estado ou da Autarquia Local”. Os órgãos do
Estado não tem promovido a transferência de competências, alegando a falta de
capacidade técnica, recursos financeiros e patrimoniais das Autarquias para assumir as
funções anteriormente detidas pelo Estado, alias, tais capacidades constituem as
condições “sine qua non” para a materialização da transferência, de acordo com os
artigos 4 e 5 do Decreto n°33/2006.

Existe, uma forte resistência do poder central em transferir funções para as


Autarquias. Esta atitude representa uma afronta ao principio da subsidiariedade, (já
aflorado acima) que estabelece que as funções e competências devem ser exercidas
pelo órgão da administração melhor colocado para as prosseguir com racionalidade,
eficácia e proximidade dos cidadãos, que sem duvida, é o Município.

O gradualismo está a ser lento do que o que se esperava, até porque não se tem
uma visão clara sobre a sua verdadeira natureza. Esta é uma situação crítica que

89
Posição igualmente defendida pelos Consultores da H. Gamito, Couto, Gonçalves Pereira, Castelo Branco &
Associados “Recomendações para a Revisão do Pacote Autárquico” Maputo, 2006, p. 19 -20.
90Decreto do Conselho de Ministros n°33/2006, de 30 de Agosto, publicado no Boletim da República, Iª Série, n°35,
1°Suplemento, de 30 de Agosto de 2006.

32
demanda uma maior explicitação da visão e do timing da implementação da
transferência de competência do Estado para as Autarquias Locais, bem como a
criação de novos Municípios91.

4. Os excessos trazidos pela Lei n°6/2007, de 09 de Fevereiro, que altera o


regime jurídico da tutela administrativa sobre as autarquias locais
estabelecido na Lei n°7/97, de 31 de Maio92.

Notamos a partir desta lei que os Municípios devem obediência ao Governo e


se encontrem sujeitos a formas particularmente intensas de controlo ou tutela
administrativa, uma ampla tutela de mérito. Esta posição é sustentável a partir da:

1) Introdução da tutela sancionatória

A introdução da tutela sancionatória93, nos termos do artigo 2 da Lei n°6/2007,


que refere que “a tutela administrativa do Estado sobre as autarquias locais consiste na
verificação da legalidade dos actos administrativos dos órgãos autárquicos,...bem
como no estabelecimento de medidas sancionatórias” (o sublinhado é nosso).

Segundo o admirável Professor Diogo Freitas do AMARAL tutela


sancionatória “consiste no poder de aplicar sanções por irregularidades que tenham
sido detectadas na entidade tutelada”94. O autor acresce que “no exercício da tutela
inspectiva fiscaliza-se a actuação da entidade tutelada, e eventualmente descobrem-se

91 Consultores da H. Gamito, Couto, Gonçalves Pereira, Castelo Branco & Associados, op. cit., p. 21 et sgts.
92 A Lei n°6/2007, de 09 de Fevereiro, foi publicada no Boletim da República, Iª Série, n°6, Suplemento, de 09 de Fevereiro de 2007.
93
Para mais detalhes consultar: ANDRADE, J. “A revogação dos actos administrativos”, 2 edição,
Coimbra Editora, 1985, p. 55 e sgts. A propósito da tutela revogatória, o autor refere que “se trata
de uma revogação praticada por órgão integrado em pessoa colectiva distinta”.
94
AMARAL, D. F. op. cit., p. 705.

33
irregularidades, uma vez apurada a existência dessas irregularidades, é necessário
aplicar as respectivas sanções, ora o poder de aplicar essas sanções, quer à pessoa
colectiva tutelada, quer aos seus órgãos ou agentes, é a tutela sancionatória”.

A consagração deste tipo de tutela é criticável, pois, parece atentar contra o


princípio da separação de poderes. Na verdade, estamos em face da punição de actos
praticados por uma pessoa colectiva autónoma, para tanto parece correcto fazer
intervir um órgão jurisdicional e não o poder tutelar.

A este propósito é de aplaudir a posição do Professor AMARAL95, que se


traduz no seguinte “é duvidoso (a consagração) da tutela sancionatória...: em relação a
esta, entendemos – de acordo com a prática que tem sido seguida entre nós – que,
verificada a ilegalidade por um órgão competente da Administração activa do Estado,
a aplicação da sanção ou a obtenção da anulação do acto ilegal duma autarquia local
deve ser efectivada, através dos tribunais, mediante acção ou recurso do Ministério
Público”.

2) O estabelecimento da possibilidade do recurso hierárquico impróprio

O estabelecimento da possibilidade do recurso hierárquico impróprio, de


qualquer decisão dos órgãos autárquicos aos órgãos de tutela, segundo o artigo 4, n°3
da Lei n°6/2007. Na verdade, o princípio geral da autonomia administrativa dos
Municípios impede que se recorra administrativamente de qualquer decisões dos
órgãos autárquicos ao órgão tutelar. Contudo, há sempre uma garantia importante que
resta, o recurso contencioso ao Tribunal administrativo; e

3) A estranha possibilidade de participação nas sessões dos órgãos

95 Idem, p. 706.

34
autárquicos pela entidade tutelar

A possibilidade de participação nas sessões dos órgãos autárquicos pela


entidade de tutela está prevista no artigo 8A. Esta disposição permite que as entidades
de tutela (os Ministros de Administração Estatal e de Finanças e os Governadores
provinciais e governos províncias) participem nas sessões da Assembleia Municipal e
reuniões do Conselho Municipal, com direito a palavra, mas sem direito a voto.

É um marco importante em direcção a “re-centralização”, pois, abre-se a


possibilidade de intromissão de poderes tutelares nas actividades regulares dos
municípios.

É uma inequívoca afronta ao principio da autonomia administrativa das


Autarquias Locais, julgo que os Municípios, através da ANNAM, deveriam mobilizar
2.000 mil cidadãos, conforme exigência do artigo 245, n°2 alínea g) da CRM -2004, e
solicitar a apreciação da Constitucionalidade da norma do artigo 8A. da Lei n°6/2007.

5. Lei n°15/2007, de 27 de Junho, altera à Lei n°2/97, de 18 de Fevereiro96, e


“intromete” os poderes centrais na tomada de decisões sobre “assuntos
estritamente locais”.

A Lei n°15/2007 dentre varias alterações, procedeu a alteração do artigo 45 e


56 da Lei n°2/97, de 18 de Fevereiro. Na verdade, de acordo com o antigo artigo 56

96 Lei n°15/2007, de 27 de Junho, foi publicada no Boletim da República, Iª Série, n°26, Suplemento, de 27 de Junho 2007.

35
alínea q) estabelecia-se que compete ao Conselho Municipal “Estabelecer a
numeração dos edifícios e a toponímia” e o antigo artigo 45, n.3 alínea s) dispunha
que “compete à Assembleia Municipal, sob proposta ou a pedido de autorização do
Conselho Municipal: Estabelecer o nome de ruas, praças, localidades e lugares no
território da autarquia local” (alterado).
Com a Lei n°15/2007 alterou-se o artigo 45, n.3 alínea s), passando a dispor-se
o seguinte: “Compete à Assembleia Municipal, propor a entidade competente
(autoridade tutelar) a atribuição ou alteração do nome de ruas, praças, localidades e
lugares de território da autarquia local, ouvido o Conselho Municipal”.
Esta alteração representa a mais gritante demonstração pelo Legislador de
pratica de actos recentralizadores, pois, devolve ao governo central a responsabilidade
de decidir em ultima instância sobre um assunto que a Lei n°2/97, tinha entregue aos
órgãos autárquicos. Assim, com a aprovação da Lei n°15/2007 materializou-se um
acto desconforme ao principio geral da autonomia administrativa das autarquias locais
estabelecido nos artigos 271/1 e 275/5 da CRM – 2004.
Mais uma vez, com esta Lei verifica-se uma afronta ao principio da
subsidiariedade aflorado acima, que estabelece que as funções e competências devem
ser exercidas pelo órgão da administração melhor colocado para as prosseguir, neste
caso Município esta melhor colocado, sem intromissão de ninguém, para dar nomes
de ruas ou praças municipais.

Julgamos aqui, que igualmente como no caso visto acima, os Municípios,


através da ANNAM, deveriam mobilizar 2.000 mil cidadãos, conforme exigência da
CRM -2004, artigo 245, n.2 alínea g) e solicitar a apreciação da Constitucionalidade
desta alteração do artigo 45, n.3, alínea s) da Lei n°15/2007.

36
Considerações finais

Os processos da desconcentração e decentralização são processos complexos,


tem como mãe de todos os seus desafios a imperiosidade de se erguerem num país de
contexto marcadamente de gestão concentrada e centralizada.
O caminho para se chegar a uma desconcentração e descentralização “de facto”
nao é unico. É preciso observar os fenomenos e fazer os ajustamentos necessários.
um dos desáfios que se impõe é a definição de uma estratégia clara de mobilização de
recursos humanos, materias e financeiros para os órgãos desconcentrados e
descentralizados. Desconcentrar e descentralizar poderes implica selecionar as
materias ou “assuntos” importantes e entregar as órgãos desconcentrados ou
descentralizados.
Os processos da desconcentração e descentralização são indubitavelmente

37
irreversíveis no país, apesar da variação do grau de intensidade da sua implementação,
devido a opção politica que se lhes pode dar em cada momento.
Nesta medida, o país deve dar passos corajosos, no sentido de materializar o
princípio da desconcentração administrativa, por um lado, prevista no artigo 3, n°1, da
Lei n°8/2003. É preciso passar da letra à acção. Este princípio tem um alcance e
sentido profundo, com boas intenções. Ele resulta de uma radiografia do
Moçambique real, onde se destaca a necessidade de racionalizar estruturas administrativas,
evitar a reprodução desnecessária dos órgãos centrais ao nível local e a necessidade da promoção de
uma administração de proximidade e célere (Reforma do sector Publico, 2001). Por isso é
curial a promoção do princípio da desconcentração administrativa e a busca incessante
de soluções para a sua materialização.
Por outro lado, como foi demonstrado o princípio da autonomia administrativa
dos municípios esta a ser sistematicamente atacado, quer pela acção normativa do
legislador, assim como do Governo. É, importante que a sociedade civil lute contra
estes focos e os municípios, em particular se “rebelem” contra esta situação, pois são
os que a longo prazo mais sofrerão os efeitos nefastos da “re-centralização”. Não
existem receitas magicas para este problema, apenas se deve explorar os meios, as
garantias constitucionais, reputadas adequadas para promover a descentralização,
como por exemplo, o pedido de declaração de inconstitucionalidade, para afastar
instrumentos normativos perversos à gestão pública descentralizada.

Bibliografia

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Society Institute – Network, Compress, RSA , 2009;

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38
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39
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1998.

Legislação
Lei n°2/97, de 18 de Fevereiro: que aprova o quadro jurídico para
implementação das autarquias locais;
Lei n°4/97, de 28 de Maio: que cria a Comissão Nacional de Eleições;
Lei n°5/97, de 28 de Maio: que institucionaliza o recenseamento eleitoral
sistemático para a realização de eleições e referendos;
Lei n°6/97, de 28 de Maio: que estabelece o quadro jurídico-legal para a
realização das eleições dos órgãos das autarquias;
Lei n°7/97, de 31 de Maio: que estabelece o regime jurídico da tutela
administrativa do Estado a que estão sujeitas as autarquias locais;
Lei n°8/97, de 31 de Maio: que define as normas especiais que regem a
organização e o funcionamento do Município de Maputo;
Lei n°9/97, de 31 de Maio: que define o estatuto dos titulares e dos
membros dos órgãos das autarquias locais;
Lei n°10/97, de 31 de Maio: que cria municípios de cidades e vilas em
algumas circunscrições territoriais;
Lei n°11/97, de 31 de Maio: que define e estabelece o regime jurídico-legal
das finanças e do património das autarquias;
Lei n° 22/97, de 11/11: Altera o artigo 112 da Lei n 2/97, de 18 de
Fevereiro;
Decreto do Conselho de Ministros n°35/98, de 07 de Julho: Estabelece os
princípios fundamentais dos regimentos das assembleias municipais;

40
Decreto do Conselho de Ministros n°20/2003, de 20 de Maio: Regula o
quadro institucional e financeiro em que opera a administração de estradas;
Decreto do Conselho de Ministros n°45/2003, de 17 de Dezembro: Regula
a mobilidade dos funcionarios entre a Administração do Estado e das
autarquias locais e entre estas, e clarifica a situação da relação de trabalho
dos funcionarios do Estado em actividades nas autarquias locais;
Decreto do Conselho de Ministros n°46/2003, de 17 de Dezembro:
Estabelece os procedimentos de transferencia de funções e competencias
dos orgãos do Estado para as autarquias locais;
Decreto do Conselho de Ministros n°65/2003, Designa o representante da
Administração do Estado nas circunscrições territorias cuja área de
jurisdição coincide total ou parcialmente com a autarquia local;
Decreto do Conselho de Ministros n°51/2004, de 01 de Dezembro:
Aprova o Regulamento de Organização e Funcionamento dos Serviços
Técnicos e Administrativos dos Municípios;
Diploma Ministerial (MAE) n°80/2004: Aprova o Regulamento de
Articulação dos Órgãos das Autarquias Locais com as Autoridades
Comunitárias;
Decreto do Conselho de Ministros n°33/2006, de 30 de Agosto: Aprova o
quadro legal de transferencia de funções e competencias dos órgãos do
Estado para as autarquias locais;
Decreto do Conselho de Ministros n°35/2006, de 06 de Setembro, Aprova
o Regulamento de Criação e Funcionamento da Polícia Municipal;
Lei n°6/2007, de 09 de Fevereiro: que altera o regime jurídico da tutela
administrativa sobre as autarquias locais estabelecido na Lei n°7/97, de 31
de Maio;

41
Lei n°15/2007, de 27 de Junho: que altera a Lei n°2/97;
Lei n°21/2007, de 01 de Agosto: introduz alterações aos artigos 15, 16, 17,
18 e 19, da Lei n°9/97, de 31 de Maio que define o estatuto dos titulares e
dos membros dos órgãos das autarquias locais;
Lei n°1/2008, de 16 de Janeiro: Define o regime financeiro, orçamental e
patrimonial das autarquias locais e o sistema tributário autárquico e revoga a
Lei n°11/1997, de 31 de Maio.

42

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