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XIX CAPÍTULO GERAL

Missionários Combonianos do Coração de Jesus

Roma, Junho 2022

Eu sou a videira, vós os ramos.


Enraizados em Cristo com Comboni

Missionários
Combonianos
Índice

Pag.

Abreviaturas .............................................................. 4
Apresentação do Consellho Geral ................................ 5
Introdução ................................................................ 9

As Prioridades

Espiritualidade........................................................... 17
Identidade e vida comunitária.................................... 21
Revisão da Formação.................................................. 27
Ministerialidade ao serviço da requalificação............... 33
Comunhão dos bens, partilha e sustentabilidade........ 41

Temas específicos........................................................ 49
Discurso do Papa Francisco........................................ 53
Glossário.................................................................... 58

3
Abreviaturas

AEFJN Africa Europe Faith and Justice Network


(Rede Africa Europa Fé e Justiça)
CG Conselho Geral
CLAR Conferência Latino-Americana de Religiosos
DC Documentos Capitulares
DG Direcção Geral
DSSUI Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento
Humano Integral
E Escritos de Comboni
EG Evangelii Gaudium
Fc Família comboniana
FCT Fundo Comum Total
FT Fratelli Tutti
JPIC Justiça, Paz e Integridade da Criação
LS Laudato Si’
LSAP Laudato Si’ Action Platform
OCPH Obra Comboniana de Promoção Humana
Qam Querida Amazonia
REBAC Rede Eclesial da Bacia do Congo
REPAM Rede Eclesial Panamazónica
RV Regra de Vida
Apresentação do Conselho Geral

«Eu sou a videira, vós os ramos» (Jo 15,5)

Caríssimos Confrades,
Ao iniciar este novo sexénio, queremos antes de mais
saudar-vos fraternamente e fazemo-lo repletos de confiança
no Senhor e conscientes de que o Capítulo Geral foi para
nós todos uma visita do Espírito que nos guiará no ca-
minho a percorrer.
Apresentamos-vos os Documentos Capitulares depois
de ter recebido o documento elaborado pela Comissão
Pós-Capitular. Queremos exprimir um Obrigado aos con-
frades que redigiram o texto pela sua disponibilidade a pre-
star este serviço aos capitulares e, por conseguinte, a todo
o Instituto.
«Eu sou a videira e vós os ramos» (Jo 15, 5) foi o tre-
cho inspirador durante o caminho capitular que permitiu
crescer na consciência de que somos os ramos da videira
que é Jesus Cristo e o vinhateiro é Deus Pai de todos. Esta
consciência deve ajudar-nos no nosso quotidiano a maturar
uma espiritualidade forte que nos faça viver e saborear uma
experiência de fé e de confiança no Senhor como linfa vital
da nossa escolha da vida consagrada e missionária, como
5
XIX Capítulo Geral

foi também para o nosso Fundador que se confiou com-


pletamente a Deus: «Quem confia em si mesmo, confia
no maior burro do mundo… Toda a nossa confiança deve
estar em Deus» (E 6880-81).
Também o Papa Francisco, na audiência aos capitulares
de 18 de Junho, sublinhou este aspecto: «A missão – a sua
fonte, o seu dinamismo e os seus frutos – depende total-
mente da união com Cristo e da força do Espírito Santo.
Jesus disse-o claramente àqueles que tinha escolhido como
“apóstolos”, ou seja, “enviados”: «Sem mim nada podeis fa-
zer» (Jo 15, 5). Não disse: “pouco podeis fazer”, não, disse:
“nada podeis fazer” … Só se somos ramos bem unidos à
videira, a seiva do Espírito passa de Cristo para nós e o que
quer que façamos dá fruto, porque não é obra nossa, mas é
o amor de Cristo que actua através de nós».
«O Capítulo Geral tem antes de tudo a responsabili-
dade de promover a fidelidade do Instituto à sua missão
específica na Igreja. Por isso tem competência para rever
todos os aspectos da sua vida e actividade» (RV 153). Tam-
bém o XIX Capítulo Geral – no seu conjunto – tratou
muitíssimos aspectos da vida do Instituto. Apesar de ter
sido celebrado numa época de pandemia, que retardou a
sua cadência natural, condicionando o calendário e os rit-
mos de trabalho, isso, todavia, não comprometeu a reflexão
e a programação para o próximo sexénio.
Certamente os Documentos Capitulares reflectem o
vivido do Capítulo Geral, mas, ao mesmo tempo, querem
recordar que são fruto de um longo discernimento feito por
muitos confrades que contribuíram nas várias comissões:
a comissão pré-capitular, a comissão central, a comissão
6
Apresentação do Conselho Geral

especial, a comissão pós-capitular e, não menos importan-


te, a comissão para a revisitação e revisão da RV. Queremos
exprimir um obrigado particular ao Facilitador e à Comis-
são Central do Capítulo pela coordenação dos trabalhos.

Lendo os Documentos, pode-se observar como os de-


legados capitulares, no seu discernimento, formularam
conclusões tendo presente também as solicitações expres-
sas pelos confrades que responderam aos questionários, as
reflexões chegadas das Circunscrições e dos Continentes.
Esperamos que muitas das indicações surgidas sejam fruto
também dos vossos “desiderata”.
Sabemos que o Capítulo é um momento de chegada,
mas sobretudo de um partir de novo. Nos próximos meses
será elaborado o guia para a implementação do Capítulo
Geral sobre o qual se elaborarão também os futuros planos
sexenais das circunscrições e dos continentes. Pedimos a
cada um de vós que contribua para a redação dos planos
sexenais para que quanto surgido do Capítulo se torne – vi-
vificado pela força do Espírito Santo – um empenho capaz
de estimular as comunidades, as Circunscrições e todo o
Instituto a permanecer fiéis ao carisma e à missão com uma
atitude renovada e de confiança e com a mesma paixão do
nosso Pai Fundador que, na missão, soube colher o “traço
essencial do Coração de Cristo Bom Pastor que é a miseri-
córdia, a compaixão, a ternura…” (Papa Francisco).
Sempre no encontro de 18 de Junho, o Papa Francisco
recordava-nos que «somos chamados a ir além, ir além, ir
além, olhar sempre para o horizonte, porque há sempre um
horizonte, para ir além. É o impulso do Espírito Santo que
7
XIX Capítulo Geral

nos faz sair de nós mesmos… porque vós sois chamados a


dar este testemunho do “estilo de Deus” – proximidade,
compaixão, ternura – na vossa missão, onde estiverdes e
onde o Espírito vos guiar».
Este é o convite que dirigimos a todos nós. Um convite
a ir além das situações de fragilidade, criticidade, vulnera-
bilidade e a superar uma visão circunscrita no âmbito “pro-
vincial”, que frequentemente hipotecam o nosso caminho,
e a construir e partilhar – numa perspectiva de sinodalida-
de, ministerialidade, criatividade, responsabilidade e inclu-
são – uma nova “presença” de missão.
Na conclusão desta breve mensagem introdutória,
fazemos nosso o desejo que os delegados capitulares for-
mularam, no termo dos trabalhos, a todos os confrades do
Instituto: «Enquanto continuamos juntos o caminho, im-
ploramos a presença materna da Virgem Maria e a inter-
cessão de São Daniel Comboni na nossa missão para que
possamos ser autênticas testemunhas de Cristo no mundo e
possamos dar muito fruto para a maior glória de Deus. Ra-
dicados em Cristo com Comboni lançamo-nos para diante
com esperança! »
Roma, 1 de setembro de 2022

P. Tesfaye Tadesse Gebresilasie, Sup. Gen.


P. David Costa Domingues
P. Luigi Fernando Codianni
P. Elias Sindjalim Essognimam
Ir. Alberto Lamana Cónsola

8
Introdução

“Eu sou a videira, vós os ramos.


Quem permanece em Mim, esse dá muito fruto”
(Jo 15,5)

Esta foi a Palavra de Deus que inspirou o XIX Capítulo Ge-


ral dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, ce-
lebrado em Roma de 1 de Junho a 1 de Julho de 2022.

1. Durante as últimas fases do caminho preparatório, o fa-


cilitador escolhido para acompanhar os trabalhos do
Capítulo propôs como método de trabalho, e a comissão
pré-capitular fê-la sua, a “indagação apreciativa”, assente
em três atitudes-chave (apreciar, indagar, dialogar). Esta
abordagem recolheu inicialmente muitas contribuições
pessoais, comunitárias, dos Secretariados, das Circun-
scrições e dos Continentes, devolvendo o fruto do pro-
cesso aos Capitulares, não em forma de um verdadeiro In-
strumentum Laboris, mas de uma síntese temática, aberta
às achegas da assembleia através de “conversas produtivas”
nos grupos e em aula.
2. A primeira fase do Capítulo, ainda em escuta atenta
das diversas experiências nos Continentes e sectores do

9
XIX Capítulo Geral

Instituto, procurou evidenciar os sinais de vida, as fra-


quezas e os desafios das nossas experiências missionárias
dos últimos anos.
3. Ouvindo-nos com atenção, em grupos, e procurando
convergências e sintonia, individuamos cinco priorida-
des sobre as quais trabalhar, para valorizar as sementes
de vida que Deus colocou no Instituto, tratar as fraque-
zas que nos afligem, e responder aos desafios da nossa
missão.
Três das cinco prioridades tinham sido já identifi-
cadas pela Comissão Pré-capitular, manifestando a ne-
cessidade de aprofundar a ministerialidade ao serviço
da requalificação, a revisão da formação e a partilha
dos bens para a sustentabilidade da missão. A essas, o
Capítulo sentiu necessidade de acrescentar outras duas
prioridades fundamentais, relativas à espiritualidade e
à identidade e vida comunitária.
4. Cada prioridade foi descrita à luz de um sonho, tecido
na partilha em grupo, depois de um intenso momento
de Lectio Divina e de escuta recíproca. Cinco sonhos
relatam, portanto, como nos imaginamos daqui a seis
anos, numa atitude de conversão e relançamento. Re-
presentam o horizonte dentro do qual individuar e
realizar soluções possíveis, necessárias e urgentes, uma
realidade que desejamos viver em plenitude.
5. Para torná-los concretos, os trabalhos de grupo do
Capítulo, alternados com fases de avaliação em assem-
bleia, propuseram uma série de directrizes para cada
sonho, que por sua vez se concretizam em pontos
específicos, que chamámos empenhos.
10
Introdução

A situação actual
6. Vivemos uma época inédita onde os acontecimentos
mundiais, que se sucedem a um ritmo premente, ge-
raram nas pessoas uma sensação de fragilidade e incer-
teza, medos e ansiedades que redimensionaram muitos
sonhos (FT 9-10). Basta pensar na pandemia, que pro-
vocou profundas cicatrizes na população com a qual
caminhamos; nos conflitos internos e nas guerras ge-
oestratégicas pela repartição dos recursos; na grave cri-
se sócio-ambiental; no grito sufocado dos pobres e da
mãe Terra; na economia que mata (EG 53) e no maior
fosso entre ricos e pobres que provoca o aumento das
migrações a nível global.
7. Por outro lado, assistimos a uma nova tomada de con-
sciência global sobre os direitos humanos, sobre a justiça
sócio-ambiental e sobre a democracia. Tudo isto, graças
ao impulso dos jovens que – através das novas tecnologias
– são os primeiros a interpretar as oportunidades desta
mudança e a encaminhar e sustentar uma política onde o
cidadão é quem contribui de modo activo para o proces-
so de elaboração das decisões colectivas. Não esqueçamos
também o testemunho de tantas pessoas simples, comu-
nidades indígenas, minorias étnicas e inteiros povos que
com espírito de resiliência e esperança lutam no seio de
contextos muito instáveis e violentos para afirmar o direi-
to à vida.
8. No meio do vento impetuoso da mudança a barca da
Igreja rema, sustentada pelo Espírito, em direcção à con-
versão traçada pelo Papa Francisco: a ecologia integral

11
XIX Capítulo Geral

(LS), a fraternidade universal e a amizade social (FT), o


diálogo inter-religioso (Declaração de Abu Dhabi) e o
caminho sinodal. Não obstante se façam sentir, na Igreja,
o peso dos abusos, do envelhecimento e do abandono,
muitos sinais nos encorajam. Entre os mais relevantes,
em África, comunidades cristãs muito vivas e o aumento
de vocações sacerdotais e religiosas, na Europa comuni-
dades mais interculturais e o trabalho com os migrantes,
na América Latina o Sínodo da Amazónia e a Assembleia
Eclesial Latino-Americana.
9. Muitas comunidades combonianas estão-se a deixar-se
desafiar pela mudança e estão a orientar a sua missão a
partir das intuições do Papa Francisco. Por isso, foi rea-
firmada a urgência de requalificar os nossos empenhos
guiados pelo critério da ministerialidade que prevê a
assunção de pastorais específicas através de caminhos
de ampla colaboração como estilo de missão, desde a
Família Comboniana a todos os actores envolvidos no
percurso de transformação da realidade no reino de
Deus. A este propósito, sentimo-nos solidários com os
confrades que, fiéis à missão, trabalham como “pedras
escondidas” em contextos muito difíceis e violentos.

10. Neste caminho de conversão acolhemos o aumento das


vocações à vida consagrada como um sinal de Deus a
cuidar com muita solicitude. Ao mesmo tempo, queremos
reapropriar-nos de uma profunda espiritualidade para
construir comunidades que vivam verdadeiramente a
fraternidade e a interculturalidade superando toda a forma
de auto-referencialidade, clericalismo e fechamento.
12
Introdução

Em campo económico, confiamos na Providência e,


encorajados pelos passos em frente feitos na implemen-
tação do Fundo Comum Total, queremos consolidar
um modelo de gestão sustentável para o Instituto que
siga os princípios éticos, de transparência, de redistri-
buição e de competência adoptando cada vez mais um
estilo de vida coerente com o Evangelho.

13
AS PRIORIDADES
ESPIRITUALIDADE
A linfa da Videira no coração do ramo

11. Radicados em Cristo, unidos a São Daniel Combo-


ni, vivemos um contacto constante com o Senhor na
oração que se torna vida e missão, incentiva todo o
nosso trabalho e as nossas prioridades, humaniza as
nossas relações, motiva a nossa acção e a torna fe-
cunda.
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os con-
strutores. Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigiam
as sentinelas” (Sal 126, 1).
“A omnipotência da oração é a nossa força” (E 1969).

SONHO
12. Sonhamos uma espiritualidade que nos permita
continuar a crescer como família fraterna de con-
sagrados radicados em Jesus, na sua Palavra e no
seu Coração, e contemplá-lo nos rostos dos pobres
e na experiência vivida por São Daniel Comboni
para ser missão.

17
XIX Capítulo Geral

DIRECTRIZ 1

13. Radicamo-nos em Jesus e nos sentimentos do seu co-


ração para anunciar a Palavra aos pobres.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
13.1 Reavivar o diálogo e a relação pessoal viva, criativa e
de qualidade com Jesus Cristo (EG 3), feita de oração
incarnada na realidade, disciplina de vida, de partilha
da experiência pessoal. Esta experiência torna-se cre-
scimento em humanidade da pessoa e da comunida-
de, honestidade e autenticidade, proximidade à gente
e aos pobres.
13.2 Transformar a oração, pessoal e comunitária, em
experiência que se torna missão e que leva a missão
para dentro de nós. A Lectio Divina permanece um
método privilegiado.
13.3 Cultivar a vida interior para um maior conhecimen-
to de si, uma mais profunda consciência dos nossos
dons e das nossas fragilidades através do silêncio, a
escuta da Palavra de Deus e a ajuda das ciências hu-
manas.
13.4 Apreciar e viver de modo vivo e constante os sacra-
mentos da Reconciliação e da Eucaristia.

18
ESPIRITUALIDADE

DIRECTRIZ 2

14. Reconhecemos com gratidão a validade, a fecundidade


e a actualidade do Carisma do nosso Pai e Fundador
São Daniel Comboni como dom do Espírito Santo
para a Igreja e para o mundo.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
14.1 Reavivar o fogo da paixão missionária de Comboni
e da nossa tradição viva, que se desenvolveu em mo-
dos diversos dentro dos contextos em que estamos
presentes, e contextualizar o carisma hoje nas nossas
realidades, mesmo através de subsídios simples, a tra-
duzir em várias línguas e a divulgar.
14.2 Actualizar o carisma comboniano para responder aos
sinais dos tempos, ao grito da Mãe Terra e dos pobres
(LS 49), e renovar a opção pelos excluídos, animados
pelo Magistério do Papa Francisco expresso nas en-
cíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti.
14.3 Sensibilizar-nos sobre os aspectos fundamentais do
carisma (ex. a Cruz, o Coração de Jesus, a opção
pelos mais pobres e abandonados) através da visão,
o espírito e a sensibilidade de Comboni, para ir às
raízes da sua espiritualidade e reapropriarmo-nos
dela.

19
XIX Capítulo Geral

14.4 Promover, nas comunidades, a celebração de alguns


momentos e festividades particularmente significati-
vas para a nossa espiritualidade.
14.5 Dar a possibilidade aos jovens confrades de fazer uma
peregrinação a Limone, casa natal de Comboni, para
apropriar-se da sua vida e da sua espiritualidade.
14.6 Valorizar os lugares combonianos como centros de
irradiação do carisma. Em particular, conservar os lu-
gares históricos directamente ligados à vida e morte
do nosso fundador, em África, como a igreja de Cordi
Jesu, no Egipto, e Malbes, no Sudão, para que enri-
queçam a tradição espiritual da Igreja local e possam
também ser visitados pelos confrades em momentos
particularmente significativos da sua vida.
14.7 Ter em cada província um espaço da memória, isto é,
um espaço físico de “memória comboniana” com docu-
mentos, símbolos e relatos de experiências para partilhar
e alimentar a fecundidade da nossa história.
14.8 Partilhar a espiritualidade comboniana com as gentes
com quem trabalhamos, com a Igreja local e com in-
stitutos e congregações.

20
IDENTIDADE E VIDA COMUNITÁRIA
Das raízes à convivialidade dos ramos

15. Enviados juntos pelo Senhor e inspirados pelo carisma


comboniano vivemos e trabalhamos como um verda-
deiro “Cenáculo de Apóstolos”. Somos discípulos mis-
sionários unidos na paixão de Jesus e, animados pelo
fogo do Espírito, pomos no centro da nossa vida o sonho
do Reino e anunciamo-lo como comunidade.
“Viram aparecer umas línguas, à maneira de fogo, e poisou
uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o
Espírito lhes inspirava que se exprimissem” (At 2, 3-4).
“Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo
de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia
até ao centro da Nigrícia tantos raios quanto os solícitos e
virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios,
que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessaria-
mente a natureza do centro de onde procedem” (E 2648).

SONHO

16. Sonhamos comunidades combonianas intercul-


turais que vivem em fraternidade orante como no
Cenáculo dos Apóstolos, onde cuidamos uns dos
outros. Comunidades acolhedoras, abertas à cola-

21
XIX Capítulo Geral

boração e ao diálogo, e em caminho sinodal de di-


scernimento, que transforma a vida e leva ao em-
penho comum na missão.

DIRECTRIZ 1

17. Assumimos o cuidado uns dos outros nas nossas comu-


nidades, reunidas no Senhor (RV 10), reconhecendo os
dons, acolhendo as fragilidades (RV 42) e respeitando
os ritmos da vida de cada confrade, ajudando-nos mu-
tuamente a ser fiéis à nossa consagração.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
17.1 Fazer todo o possível para que as nossas comunida-
des sejam compostas por ao menos 3-4 membros (RV
40.1).
17.2 Valorizar o ministério do superior local como anima-
dor da comunidade (RV 107) e os instrumentos já à
nossa disposição (carta da comunidade, conselho de
comunidade, etc. – cfr RV 39) para uma vida fraterna
significativa.
17.3 Criar dinâmicas formais e informais de partilha de
vida em que seja incluída também a leitura sapiencial
da história de cada um e a sua comunicação aos con-
frades. Não se perca a riqueza da graça que o Senhor
vai escrevendo nas nossas vidas.
22
IDENTIDADE E VIDA COMUNITÁRIA

17.4 Dedicar, durante o sexénio, um ano de Formação


Permanente ao tema da identidade e da vida comuni-
tária.

DIRECTRIZ 2

18. Vivemos normalmente em comunidades constituíd-


as por confrades de culturas e nacionalidades diversas
(RV 18), acolhendo-nos com gratidão como um dom
que é fonte de riqueza e de crescimento pessoal (RV
42.2) e como testemunho e sinal profético de uma
nova humanidade.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
18.1 Internacionalizar as Circunscrições, reforçando a di-
mensão ‘ad extra’ das presenças missionárias.
18.2 Desenvolver dinâmicas de Formação Permanente que
nos ajudem a ver a cultura do outro como oportu-
nidade – lugar teológico – para enriquecer a nossa
compreensão de Deus e da missão.

DIRECTRIZ 3

19. Radicadas no território e na Igreja local, em espírito


sinodal, as nossas comunidades – abertas, sóbrias e
hospitaleiras – vivem a missão como fruto de discer-
23
XIX Capítulo Geral

nimento e empenho partilhado, colaborando também


com as outras forças do Reino presentes in loco.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
19.1 Partilhar o caminho da Igreja local e das realidades
sociais em que vivemos.
19.2 Ser gentis e acolhedores para quantos se aproximam
de nós, sempre abertos a acolher quantos, por causa
de situações de emergência, fogem das suas terras e das
suas casas.
19.3 Promover activamente iniciativas de colaboração com
a Família comboniana (Fc).

DIRECTRIZ 4

20. Empreendemos com convicção o caminho sinodal


traçado pelo Papa Francisco através do nosso envolvi-
mento nos percursos sinodais locais.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
20.1 Promover a participação constante e o envolvimento
de todos os confrades, das comunidades cristãs e das
pessoas/realidades com quem trabalhamos no proces-
24
IDENTIDADE E VIDA COMUNITÁRIA

so sinodal, com vista a unir as diversas vozes, sensi-


bilidades e forças, para delinear juntos a Igreja que
sonhamos.
20.2 Reforçar o conhecimento recíproco das realidades
eclesiais e sociais no seio das Igrejas locais, a escu-
ta comunitária dos desafios a enfrentar juntos e o
diálogo constante em vista de escolhas partilhadas
sobre comuns processos a empreender (EG 23).
20.3 Cultivar juntos o espírito da “Igreja em saída” (EG
24) a fim de assumir, de modo colegial nas nossas
realidades, o estilo do “estado permanente de missão”
(EG 25).
20.4 Responder com profecia aos desafios do nosso tempo
com o estilo da participação, da comunhão e da mis-
são, unidos à igreja local.

25
REVISÃO DA FORMAÇÃO
O adubo nas raízes e a poda dos ramos
para dar mais fruto

21. O processo de transformação pessoal e comunitário


que dura toda a vida leva-nos a viver a formação
como um caminho de crescimento, de maturação e de
conversão que exige não só uma resposta clara, livre e
autêntica por parte do candidato e de cada confrade,
mas também como um sonho de todo o Instituto.
“Outra parte caiu em terra boa e, crescendo e vicejando,
deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um”
(Mc 4, 8).
“A preparação dos operários da missão é a primeira e a
mais importante missão do Instituto (Regras 1871, Cap.
VI).

SONHO

22. Sonhamos ser missionários combonianos que se


sentem profundamente mergulhados no amor de
Deus, plenamente identificados com a nossa vocação
específica, testemunhas apaixonadas da missão.

27
XIX Capítulo Geral

DIRECTRIZ 1

23. Os Combonianos seguem o caminho de discípul-


os-missionários que fazem experiência de Deus, desen-
volvem-na e cultivam-na para ser suas testemunhas na
missão.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
23.1 Realizar um ano de reflexão e de oração sobre a Pala-
vra de Deus. Encorajando iniciativas para melhorar o
estilo e o método.
23.2 Responder com coerência ao convite do Capítulo de
2009 (DC 30.1-3), de formular um projecto pessoal
de vida a verificar regularmente no curso do nosso
caminho com um apropriado sistema de monitori-
zação. Um convite que apresentamos também no ca-
minho formativo inicial.

DIRECTRIZ 2

24. Os missionários combonianos cultivam a sua identi-


dade e gozam de uma plenitude de vida na própria vo-
cação.

28
REVISÃO DA FORMAÇÃO

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
24.1 Dedicar um ano de reflexão sobre a nossa identidade
missionária comboniana, como sacerdotes e como ir-
mãos, à luz da missão de hoje.
24.2 2 Utilizar a nossa Regra de Vida como instrumen-
to de reflexão, de oração e como referência comum
apreciada a respeitada.
24.3 Recuperar a documentação sobre a vida e sobre o mi-
nistério dos nossos missionários que reconhecemos
como confrades exemplares no seu modo de viver o
carisma comboniano e torná-la presente e fonte de
inspiração para os confrades e para os nossos jovens
em formação.
24.4 Fazer de modo que as nossas casas de formação sejam
mais ligadas à nossa realidade missionária.
24.5 Encontrar momentos e meios para reflectir e apro-
fundar o nosso carisma comboniano, valorizá-lo e vi-
vê-lo para o transmitir às novas gerações e à Igreja (cf.
RV 3.2; 2 Cor 6,3-10).

DIRECTRIZ 3

25. Os missionários combonianos cultivam ao seu cresci-


mento como testemunhas do Senhor para a missão.

29
XIX Capítulo Geral

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
25.1 Dedicar um ano à reflexão sobre a missão do Institu-
to.
25.2 Insistir sobre a qualificação profissional do candidato
irmão antes de ele passar ao Noviciado.
25.3 Assegurar-nos de que os confrades sejam qualificados
e, se possível, formados na pastoral específica a eles
confiada.
25.4 Motivar os confrades a abraçar as iniciativas de for-
mação permanente do Instituto, estabelecendo com
precisão em que momento realizar as propostas de
renovamento oferecidas: Ano Comboniano de For-
mação Permanente, Curso de Renovamento, Curso
Ancianidade. Sejam programados com antecedência e
respeitados por todos.
25.5 Programar os temas de JPIC em todas as fases de for-
mação comboniana.
25.6 Prestar atenção e aprofundar o apelo da Igreja a uma
conversão à ecologia integral e aos seus efeitos sobre o
nosso estilo missionário.
25.7 Realizar dentro de 3 Anos assembleias continentais
de todos os responsáveis da formação permanente. A
assembleia intercapitular avaliará o caminho feito.

DIRECTRIZ 4

26. Os nossos jovens em formação sejam orientados à do-


ação total de si para a construção do Reino de Deus.

30
REVISÃO DA FORMAÇÃO

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
26.1 Prestar atenção à dimensão humana durante toda a
nossa vida, a partir da formação inicial.
26.2 Continuar a oferecer uma sólida formação cristã aos
nossos jovens nas primeiras fases da formação.
26.3 Reforçar de modo sistemático a dimensão ministerial
na formação inicial.
26.4 Acompanhar os nossos jovens em formação num
processo de discernimento em que participam acti-
vamente com modalidades graduais. Em tal processo,
as histórias pessoais, de família e comunidade ecle-
sial, e as suas motivações pessoais são alguns de entre
os elementos relevantes para discernir a chamada de
Deus e a sua resposta.
26.5 Fazer de modo que o Modelo Educativo da Integração
seja valorizado nas nossas estruturas formativas e que
os formadores sejam ajudados na sua implementação.
As assembleias continentais dos formadores sejam
oportunidade de formação sobre este modelo para
aprender a usá-lo.
26.6 Reabrir um Escolasticado e deixar a decisão ao CG de
abrir, onde necessário, algumas pequenas presenças
formativas de Escolásticos, acompanhados por um
confrade, no seio de comunidades combonianas para
conjugar a oração, o estudo, a vida comum e o ser-
viço pastoral.

31
XIX Capítulo Geral

26.7 O ‘Serviço Missionário’


26.7.1 O Capítulo teve em conta todo o percurso
de avaliação já em curso desde há alguns anos e ou-
viu com gratidão as experiências belas e os pontos de
vista que falam do ‘serviço missionário’ vivido como
uma experiência positiva.
26.7.2 Neste tempo os escolásticos podem avançar
na elaboração de uma síntese pessoal dos elementos
mais importantes assimilados durante os anos de for-
mação.
26.7.3 O “Serviço Missionário” é também um tem-
po em que podem fazer um percurso de iniciação
prática à pastoral missionária e à vida comunitária em
contextos combonianos.
26.7.4 O Capítulo ouviu também as narrativas e os
pontos de vista que exprimem desconforto sobre esta
experiência formativa e conclui que os tempos não
estão ainda maduros para chegar a decisões definiti-
vas neste campo. Decide-se continuar com o serviço
missionário, mesmo se deve ser ulteriormente verifi-
cado e, se necessário, melhorado.
26.7.5 O Capítulo pede ao Conselho Geral para con-
tinuar, dentro do processo já iniciado de verificação da
formação, o caminho de avaliação do “Serviço Mis-
sionário” em vista da próxima Assembleia Inter-Capi-
tular, se necessário instituindo uma comissão ad hoc
capaz de ter presente a necessidade, sentida por todos,
de que a passagem dos nossos jovens confrades da for-
mação inicial ao empenho na pastoral missionária seja
acompanhada e aconteça de forma gradual.
32
MINISTERIALIDADE AO SERVIÇO DA
REQUALIFICAÇÃO
Os serviços específicos e interconectados dos sarmentos
para dar mais vigor a toda a Videira

27. Inspirando-nos na vida das primeiras comunida-


des cristãs, promovemos um estilo missionário que
espelha a eclesiologia do Concílio Vaticano II, con-
textualizada hoje pelos documentos do Magistério
do Papa Francisco: Evangelii Gaudium – a alegria
do Evangelho – Laudato Si’ – a ecologia integral e
Fratelli Tutti – a fraternidade universal e a amizade
social-.
“Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, por-
que o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés,
também deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade,
dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais
também. Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo
mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que
aquele que o envia» (Jo 13, 13-16).
«As qualidades que se exigem aos aspirantes ao ingresso no
Instituto das Missões para a Nigrícia são as seguintes: (…)
5º Deve ter uma firme vontade de se consagrar a Deus para
a regeneração da Nigrícia nos ministérios que por obediênc-
ia lhe atribuir e isso até à morte» (E 2804).
33
XIX Capítulo Geral

SONHO
28. Sonhamos um estilo missionário mais inserido na
realidade dos povos que acompanhamos rumo ao
Reino, capaz de responder ao grito da Terra e dos em-
pobrecidos. Um estilo missionário que se caracteriza
também por estilos de vida e estruturas mais simples,
no seio de comunidades interculturais onde teste-
munhamos a fraternidade, a comunhão, a amizade
social e o serviço às Igrejas locais através de pastorais
específicas, colaboração ministerial e percursos par-
tilhados.

DIRECTRIZ 1

29. Deixamo-nos interpelar pelo magistério do Papa Fran-


cisco (EG, LS, FT, Qam) para responder ao grito da
Mãe Terra e dos homens e mulheres do nosso tempo,
em comunhão com a Igreja e fiéis à nossa vocação mis-
sionária ad gentes e ad pauperes.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
29.1 Encontrar, informar-nos e estudar as situações de
injustiça, locais e globais.
29.2 Aprofundar os documentos do magistério social da
Igreja e promover a reflexão teológica sobre estas rea-
lidades, à luz da Palavra de Deus.
34
MINISTERIALIDADE AO SERVIÇO DA REQUALIFICAÇÃO

29.3 Integrar a dimensão JPIC nos nossos ministérios


como elemento transversal da missão, em comunhão
com a Igreja local, com a coragem de ser voz profética,
capaz de denunciar as injustiças.

DIRECTRIZ 2

30. Em resposta aos desafios da mudança de época que vi-


vemos, à luz da Palavra de Deus, assumimos a Ecologia
Integral como eixo fundamental da nossa missão que
põe em correlação a dimensão pastoral, litúrgica, for-
mativa, social, económica, política e ambiental.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
30.1 Aderir à plataforma de iniciativas Laudato Si’ pro-
movida pelo dicastério para o Serviço do Desenvol-
vimento Humano Integral da Santa Sé (Laudato Si’
Action Platform – LSAP) aos vários níveis (comuni-
dades, Circunscrições, Instituto).
30.2 Desenvolver e facilitar percursos de acompanhamen-
to para encorajar a conversão à ecologia integral na
nossa espiritualidade e formação, valorizando as ini-
ciativas combonianas neste sentido e colaborando as-
sim para a transformação social como indicado pelas
encíclicas Laudato Si’ (LS) e Fratelli Tutti (FT).

35
XIX Capítulo Geral

DIRECTRIZ 3

31. Assumimos as pastorais específicas segundo as prio-


ridades continentais (cfr DC ’15, 45.3) como ponto
de referência para a reorganização dos empenhos (re-
dução, focalização, colaboração) nas Circunscrições e
nos Continentes.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
31.1 Aviar percursos participativos para acompanhar o de-
senvolvimento de pastorais específicas em relação às
prioridades continentais, com particular atenção aos
grupos humanos prioritários.
31.2 Programar especializações a nível continental de su-
porte às pastorais específicas prioritárias coordenan-
do-as a nível central.
31.3 Avaliar e reforçar o diálogo, a colaboração e a par-
tilha de pessoal entre as Circunscrições em vista de
uma requalificação da presença missionária através
da redução dos empenhos e a promoção de pastorais
específicas continentais.
31.4 Aviar um diálogo e uma colaboração com as Igrejas
locais para desenvolver pastorais específicas e contex-
tualizar e trabalhar em rede com os movimentos po-
pulares.

36
MINISTERIALIDADE AO SERVIÇO DA REQUALIFICAÇÃO

31.5 Monitorizar e verificar os processos de requalificação


dos empenhos.
31.6 Reforçar a programação da preparação para os ser-
viços especializados do Instituto (ex. formação, eco-
nomia, comunicação, cuidado dos idosos e doentes)
e assegurar a sua continuidade.
31.7 Cultivar o diálogo inter-religioso (com o Islão, com
as Religiões Tradicionais Africanas e Asiáticas, com as
religiões indígenas e afro-descendentes) e com as cul-
turas locais como elemento fundamental da missão,
no espírito do “Documento sobre a Fraternidade Hu-
mana para a Paz Mundial e a Convivência Comum”
de Abu Dhabi de Fevereiro de 2019.
31.8 Reafirmar o empenho do Instituto com o Islão, con-
siderando a presença crescente dos fiéis de religião
muçulmana nos contextos humanos em que desen-
volvemos a nossa missão.
31.9 Continuar o desenvolvimento de uma OCPH (Obra
Comboniana de Promoção Humana) em cada Con-
tinente/sub-Continente.

DIRECTRIZ 4

32. Valorizamos a animação missionária, o contacto pesso-


al e a comunicação social e digital, meios privilegiados
para alcançar as gentes, no nosso esforço de fazer uso de
novas formas de anúncio da Palavra de Deus.

37
XIX Capítulo Geral

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
32.1 Acolher o desafio da transformação digital que nos
impulsiona a procurar novos caminhos para alcançar
as gentes de modo sustentável e a influenciar as co-
munidades cristãs e a opinião pública, colaborando
com as redes existentes e com os territórios.
32.2 Realizar planos de comunicação que nos ajudem a
programar o nosso trabalho neste campo.
32.3 Preparar os animadores missionários para promover
novas modalidades de animação missionária nos di-
versos contextos continentais.

DIRECTRIZ 5

33. Promovemos a colaboração ministerial como estilo de


missão, a partir da Família comboniana, das Igrejas lo-
cais, dos movimentos eclesiais e da sociedade civil se-
gundo o carisma comboniano. Os leigos são por toda a
parte os nossos companheiros na obra de evangelização
e de transformação da sociedade. Como Comboni que
sonhava uma obra “católica”, procuramos agregar todas
as forças eclesiais e sociais para a ‘Regeneração da África
com a África’.

38
MINISTERIALIDADE AO SERVIÇO DA REQUALIFICAÇÃO

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
33.1 Promover a formação ministerial dos leigos e a sua in-
serção nos vários serviços pastorais como companhei-
ros de missão e valorizar as suas competências e o seu
serviço.
33.2 Promover e participar em experiências de comunida-
des apostólicas para responder aos novos desafios dos
territórios.
33.3 Apreciar o dom da Família Comboniana como pri-
meiro lugar para a colaboração. Em particular, damos
seguimento ao caminho já iniciado sobre os mini-
stérios sociais da Fc e promovemos outras formas de
colaboração.
33.4 Reforçar o nosso envolvimento também a nível
continental e/ou de Circunscrição na colaboração
com os organismos de que somos membros, como
Africa Europe Faith and Justice Network (AEFJN) e
VIVAT International, e organizações eclesiais como
REPAM; REBAC; CLAR, etc.
33.5 Permanecer empenhados e significativos no terri-
tório, onde as nossas forças diminuem, através de co-
laborações e parcerias com outras forças, dando um
testemunho de vida profundamente evangélico ao
lado de outros agentes pastorais.

39
XIX Capítulo Geral

DIRECTRIZ 6

34. Desenvolvemos estruturas de governo ágeis que permi-


tem celeridade nas decisões a todos os níveis (comuni-
dade local, circunscrição, direcção geral) e uma relação
dinâmica com as realidades, e sobretudo que oferecem
liderança e visão de Instituto.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
34.1 Relançar o processo de unificação iniciado em 2006
(cfr DC ’09 n. 128; DC ’15 n. 72) responsabili-
zando os Conselhos de Circunscrição, em diálogo
com o CG. Por ocasião da Inter-capitular, reavaliar
o caminho feito e tomar, se necessário, decisões de
unificação para favorecer o estabelecer-se de Circun-
scrições mais amplas de modo a chegar, no final do
sexénio, a uma diminuição significativa das mesmas.
34.2 Reforçar a internacionalidade das Circunscrições e
crescer na interculturalidade a nível comunitário.

40
COMUNHÃO DOS BENS, PARTILHA E
SUSTENTABILIDADE
A circulação dos recursos, que alimenta
os ramos e dá nova vida

35. A sustentabilidade do Instituto depende da capaci-


dade de cada um partilhar tudo quanto é e tem, ain-
da que aparentemente insignificante. O coração de
um plano de sustentabilidade é dar o melhor de si, a
própria vida, o próprio trabalho como fruto de uma
profunda conversão.
“Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em
comum todas as coisas” (At 2,44).
“Graças à poderosa assistência do ínclito patriarca S. José,
que se converteu no verdadeiro ecónomo da África Central
desde que o Santo Padre o proclamou protector da Igreja
Católica, este Vicariato nunca carecerá dos necessários re-
cursos” (E 4170).

41
XIX Capítulo Geral

SONHO

36. Sonhamos um Instituto sustentável do ponto de


vista económico, social e ecológico, graças à Provi-
dência e a um Plano de sustentabilidade eficaz.

DIRECTRIZ 1

37. Crescemos na capacidade de tratar os nossos bens de


modo evangélico e profissional.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
37.1 Favorecer a aquisição de competências de base no
campo da economia a partir da formação inicial.
37.2 Especializar confrades no campo da administração,
da recolha de fundos, dos projectos e do empreen-
dedorismo social. Na sua formação específica, além
dos valores da vida religiosa e missionária, cultivar de
modo explícito a capacidade de desenvolver sãs re-
lações humanas.
37.3 Envolver consultores peritos em actividades de gestão
e administração dos bens e em estudos de viabilidade
a propósito da sustentabilidade do Instituto.
37.4 Acolher as indicações do Dicastério para a Vida con-
sagrada (cfr Economia ao serviço do carisma e da
missão, 2018, nº 65) sobre a conveniência de distin-
42
COMUNHÃO DOS BENS, PARTILHA E SUSTENTABILIDADE

guir a figura do Ecónomo Provincial da do Represen-


tante Legal, “excepto no caso em que a legislação civil
disponha diversamente” (ibidem).
37.5 Acolher a indicação do Dicastério para a Vida consa-
grada (cfr Economia ao serviço do carisma e da mis-
são, 2018, nº 64) de limitar a duração do serviço dos
ecónomos. O Capítulo pede ao CG que estabeleça,
com uma norma ad experimentum, que a nomeação
dos ecónomos a nível geral e de Circunscrição seja
feita ad nutum com uma duração máxima de 9 anos.

DIRECTRIZ 2

38. Conscientes da diminuição dos recursos, seguimos as


novas orientações económicas em linha com os nossos
valores fundamentais e melhoramos as condições de
sustentabilidade a longo prazo.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
38.1 Procurar juntos, cada um e cada comunidade, os re-
cursos para viver e realizar a nossa missão.
38.2 Animar e envolver o povo de Deus, e ter em todas
as Circunscrições empenhos de animação missionária
para sustentar a missão.
38.3 Dar atenção às necessidades das Circunscrições com
maiores necessidades para apoiar as despesas da for-
43
XIX Capítulo Geral

mação, do cuidado dos idosos e dos confrades doentes.


38.4 Fazer bom uso das nossas estruturas, não as deixar se-
mi-utilizadas e realizar um sério investimento orien-
tado à sua manutenção.
38.5 Criar iniciativas de auto-sustentamento.
38.6 Encorajar a mobilização dos recursos locais nos nos-
sos planos para a sustentabilidade e os investimentos
também através de projectos de criação de rendimen-
to e a revisão das nossas convenções com as Dioceses.
38.7 Continuar a sustentar com a destinação de pessoal
as Circunscrições que já têm uma boa rede de ben-
feitores, para assegurar a animação de amigos e dos
próprios benfeitores.
38.8 Preparar profissionalmente alguns confrades para um
serviço missionário qualificado e remunerado que
contribua para as receitas das comunidades.

DIRECTRIZ 3

39. Gerimos os bens com transparência, segundo os valores


do Evangelho e as normas estabelecidas pela sociedade
em que nos encontramos a viver.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
39.1 Ser exigentes quanto aos três princípios fundamentais
para o bom funcionamento do FCT: a preparação e o
44
COMUNHÃO DOS BENS, PARTILHA E SUSTENTABILIDADE

respeito dos orçamentos, os balanços financeiros e as


auditorias.
39.2 Incluir nos orçamentos das Circunscrições todos os
recursos possuídos.
39.3 Promover desde a formação inicial os valores da tran-
sparência, do sentido de pertença ao Instituto, do
voto de pobreza.
39.4 Introduzir a prática do orçamento social, pelo menos
para as obras missionárias mais representativas das
Circunscrições.

DIRECTRIZ 4

40. Implementamos o FCT com convicção e com


competência administrativa.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
40.1 Abraçar plenamente o espírito do FCT que convida
à confiança recíproca e à transparência, ao discerni-
mento comum, à corresponsabilidade na procura dos
recursos e na administração dos bens comuns.
40.2 Crescer na solidariedade interna do Instituto em ter-
mos de recursos humanos e financeiros.
40.3 Continuar a solidariedade com situações de necessi-
dade no exterior do Instituto.

45
XIX Capítulo Geral

40.4 Completar em todas as Circunscrições a revisão dos


estatutos dos fundos e do tecto do património líq-
uido.
40.5 Redistribuir anualmente o “superavit”.
40.6 Realizar encontros de formação permanente sobre os
fundamentos bíblico-teológicos, sobre a economia de
comunhão e sobre o voto de pobreza.
40.7 Dar os passos necessários, a nível da DG e das diversas
Circunscrições, para criar ou consolidar o “Fundo de
Sustentabilidade” e o “Fundo Ancianidade”.
40.8 Animar os confrades a tomar as decisões necessárias
através dos meios específicos (como a visita do Ecón-
omo e o trabalho do Secretariado da Economia).

DIRECTRIZ 5

41. Promovemos o desenvolvimento de uma economia


atenta à ecologia abraçando os critérios de economia
circular.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
41.1 Assumir um estilo de vida sóbrio, simples e norteado
por critérios ecológicos de acordo com o contexto em
que vive o povo, tanto a nível pessoal, como a nível
comunitário.

46
COMUNHÃO DOS BENS, PARTILHA E SUSTENTABILIDADE

41.2 Considerar atentamente quais investimentos realizar:


 Aprofundar os critérios éticos já presentes nas nos-
sas directrizes para os investimentos e aplicá-los
sempre mais nas decisões de investimento e de-
sinvestimento, atentos às indicações da Doutrina
Social da Igreja, às reflexões, às experiências e às
propostas que brotam da vida religiosa e do grito
da terra e dos pobres (LS 49).
 Tomar em consideração experiências de “impact
investiment”, valorizando também as experiências,
competências e pesquisas já elaboradas no Institu-
to.
 Investir em trabalho como comunidade e Circun-
scrições, promover formas de cooperação com as
gentes para gerar uma economia fraterna e tran-
sformante.

DIRECTRIZ 6

42. Fazemos causa comum com a gente com quem vive-


mos, valorizando a sua iniciativa e a sua capacidade de
doar e de participar no caminho missionário, evitando
o paternalismo e o nosso protagonismo.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:

47
XIX Capítulo Geral

42.1 Prestar atenção às situações de vida à nossa volta, evi-


tando a indiferença e mobilizando a comunidade lo-
cal perante as necessidades humanas.
42.2 Ter estruturas adequadas perante o contexto social
em que vivemos, úteis para melhorar a vida do povo.

DIRECTRIZ 7

43. Promovemos circunscrições sustentáveis, graças a per-


cursos de reorganização e renovação.

EMPENHOS

Empenhamo-nos em:
43.1 Criar Circunscrições numericamente mais consisten-
tes para poder contar com maiores recursos humanos
e competências e, possivelmente, com economias de
escala.
43.2 Estimular o processo de unificação através da super-
visão do CG, com o envolvimento dos confrades.

48
TEMAS ESPECÍFICOS

O Capítulo também fez um discernimento sobre os se-


guintes temas específicos.

44. Revisão da Regra de Vida


44.1 O Capítulo apreciou o caminho de ‘Revisitação e
Revisão da Regra de Vida’ feito por todo o Instituto
nestes últimos anos (DC 2015, nº 49-50.1), certo da
chamada do Senhor que nos convida a aprofundar
no hoje da missão o modo comboniano de ‘estar uni-
dos à videira para que possamos dar muito fruto’ (Jo
15,5).
44.2 Continuando no discernimento do ‘sonho de Deus
para o Instituto comboniano’, o Capítulo enfrentou a
revisão da Regra de Vida procurando caminhar numa
tríplice fidelidade:
ao dom fundante que é o carisma de consagração
missionária recebido através da vida e da palavra de
São Daniel Comboni;
ao caminho de missão percorrido pelos confra-
des que nos precederam, caminho que continua a
avançar hoje rumo a novos horizontes na vida doa-
da de todos os missionários – jovens e idosos – que
formam o Instituto;
à transformação que Deus está a realizar na huma-
nidade e no nosso mundo também através da nossa

49
XIX Capítulo Geral

missão que reafirmamos ad gentes, ad paupers, ad


vitam, ad extra.
44.3 Todas as modificações propostas pelos confrades e re-
colhidas pela Comissão Especial para a Regra e Vida
foram apresentadas, discutidas e votadas em aula. As
decisões tomadas pelo Capítulo e o texto reelabora-
do ficam nas mãos do Conselho Geral que proverá,
através de uma comissão ad hoc, à preparação do
texto final, mantendo-se fiel ao texto aprovado pelo
Capítulo. O Capítulo pede ao Conselho Geral que,
em um tempo razoável, entregue o novo texto da Re-
gra de Vida ao exame dos peritos canonistas em vista
da apresentação à Santa Sé, para a necessária apro-
vação.

45. Equipa ‘Código Deontológico’


45.1 O Capítulo está consciente da gravidade de cer-
tos abusos de autoridade, de consciência, sexuais e
económicos que acontecem na Igreja, dos quais tam-
bém o nosso Instituto não está isento.
45.2 O Capítulo pede que todas as Circunscrições estabe-
leçam, em linha com o motu proprio “Vos Estis Lux
Mundi” nº 13, uma Comissão de peritos – religiosos
e leigos – que nos ajude a enfrentar eventuais casos de
abuso, segundo as indicações do Código Deontológ-
ico, no pleno respeito das leis da Igreja e do próprio
país. Caso tais Comissões existam já no País em que
estamos presentes, o Capítulo encoraja a valer-se de-
las, em colaboração com a Igreja local e as Associações
dos Religiosos.
50
TEMAS ESPECÍFICOS

45.3 O Capítulo pede que o CG estabeleça uma “Equipa


central do Código Deontológico” a nível de Instituto,
constituída por combonianos, coordenada pelo Vi-
gário Geral, ajudada por peritos externos, para apoiar,
com a necessária competência, e para ajudar a autori-
dade competente nos processos previstos pelo Código
Deontológico. As normas internas de tal Equipa pre-
vejam também os procedimentos específicos para inte-
ragir com as Circunscrições, no respeito da legislação
civil de cada país.

46. Línguas oficiais


46.1 Dado o número crescente de confrades que falam o
francês como primeira ou segunda língua, o Capítulo
considerou importante uma reflexão sobre a possibili-
dade de que também o francês se torne ‘língua oficial’
para todo o Instituto. A Assembleia intercapitular de
2018 tinha iniciado um processo de discernimento e
confiava a este Capítulo a decisão a tomar.
46.2 O Capítulo considerou a questão de uma variedade de
pontos de vista, entre os quais o volume de trabalho e
de despesa a acrescentar, e considerou a experiência de
outros Institutos semelhantes ao nosso, ou mais nu-
merosos, que tendem a ter uma só língua oficial que
todos aprendem para dar a cada um a possibilidade de
comunicar mais facilmente com todos os outros.
46.3 O Capítulo decidiu manter as actuais três línguas
oficiais – italiano, inglês, espanhol – pedindo, toda-
via, que, possivelmente, se continue a praxis actual
de apresentar os documentos mais importantes nas
línguas mais usadas no Instituto.

51
XIX Capítulo Geral

47. Limites de despesa extraordinária (cf. RV 170)


2022 1. Límite Conf. Ep. 2. Límite A 3. Límite B
CURIA $ 1.000.000 $ 500.000
França € 2.500.000
Itália € 1.000.000
Polónia € 1.000.000
ASIA $ 100.000 $ 50.000
China (Macau) $ 1.250.000
Filipinas $ 100.000
Taiwan $1.000.000
BRASIL 3.000 x sal. min $ 100.000 $ 50.000
CENTRO AFRICA $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
COLOMBIA $ 600.000 $ 100.000 $ 50.000
CONGO $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
CENTRO AMERICA $ 100.000 $ 50.000
Costa Rica $ 55.000 ($ 50.000)
El Salvador $ 100.000
Guatemala $ 100.000
DSP $ 1.200.000 $ 600.000
Áustria € 1.500.000
Itália € 1.000.000
Alemanha € 5.000.000
EQUADOR 1.000 x sal. min. $ 30.000 $ 30.000
EGSD $ 100.000 $ 50.000
Egito $ 100.000
Sudão $ 100.000
ESPANHA € 1.500.000 $ 1.200.000 $ 600.000
ERITREIA $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
ETIÓPIA $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
ITÁLIA € 1.000.000 $ 1.200.000 $ 600.000
QUENIA Ksh 150.000.000 $ 200.000 $ 100.000
LONDON PROVINCE $ 1.200.000 $ 600.000
Inglaterra GBP 6.500.000
Irlanda € 3.560.410
Escócia GBP 2.500.000
MEXICO $ 500.000 $ 200.000 $ 100.000
MALAWI-ZAMBIA $ 100.000 $ 50.000
Malawi $ 100.000
Zâmbia $ 100.000
MOÇAMBIQUE $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
NAP $ 1.200.000 $ 600.000
Canadá CAD 3.500.000
USA $ 5.000.000
PORTUGAL € 1.500.000 $ 1.200.000 $ 600.000
PERU $ 300.000 $ 200.000 $ 100.000
AFRICA DO SUL Rand 4.220.000 $ 200.000 $ 100.000
SUDÃO DO SULR $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
CHADE $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000
TOGO-GHANA-BENIN $ 100.000 $ 50.000
Benim $ 100.000
Gana $ 100.000
Togo $ 100.000
UGANDA $ 100.000 $ 100.000 $ 50.000

52
Discurso do Santo Padre Francisco
aos participantes no Capítulo Geral
dos Missionários Combonianos

Sala do Consistório
Sábado, 18 de junho de 2022

Queridos irmãos, bom dia e bem-vindos!


Estou feliz por me encontrar convosco. Agradeço ao Su-
perior-Geral as palavras que me dirigiu em nome de todos
vós, que participais no 19º Capítulo Geral dos Missionários
Combonianos do Coração de Jesus. Convidastes-me para ir
à vossa casa celebrar a festa do Sagrado Coração na próxima
sexta-feira. Agradeço-vos, estarei presente com a oração;
mas já hoje vivemos este nosso encontro na perspetiva e
no espírito do mistério do Coração de Cristo, ao qual está
ligado o carisma de São Daniel Comboni.
Orientam-nos nesta direção também o tema e o lema
do vosso Capítulo: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Enrai-
zados em Cristo com Comboni”. Efetivamente, a missão
– a sua fonte, o seu dinamismo e os seus frutos – depen-
de totalmente da união com Cristo e da força do Espírito
Santo. Jesus disse-o claramente àqueles que tinha escolhido
como “apóstolos”, ou seja, “enviados”: «Sem mim nada po-
deis fazer» (Jo 15, 5). Não disse: “pouco podeis fazer”, não,
disse: “Nada podeis fazer”. Em que sentido? Podemos fazer

53
XIX Capítulo Geral

muitas coisas: iniciativas, programas, campanhas... muitas


coisas; mas se não estivermos n’ Ele, e se o seu Espírito não
passar através de nós, tudo o que fizermos nada é aos seus
olhos, ou seja, nada vale para o Reino de Deus.
Ao contrário, se formos como ramos bem unidos à vi-
deira, a seiva do Espírito passa de Cristo para nós e tudo
o que fizermos dá fruto, porque não é obra nossa, mas é o
amor de Cristo que age através de nós. Este é o segredo da
vida cristã, e em particular da missão, em toda a parte, tan-
to na Europa como na África e nos outros continentes. O
missionário é o discípulo que está tão unido ao seu Mestre
e Senhor, que as suas mãos, a sua mente e o seu coração
são “canais” do amor de Cristo. O missionário é isto, não
é alguém que faz proselitismo. Pois o “fruto” que Ele quer
dos seus amigos não é senão o amor, o seu amor, que vem
do Pai e que Ele nos doa com o Espírito Santo. É o Espírito
de Cristo que nos leva em frente.
Eis por que alguns grandes missionários, como Daniel
Comboni, mas também, por exemplo, Madre Cabrini, vi-
veram a sua missão sentindo-se animados e “impelidos”
pelo Coração de Cristo, ou seja, pelo amor de Cristo. E
este “empurrão” permitiu-lhes sair e ir além: não só além
dos limites e fronteiras geográficas, mas, ainda antes, além
dos seus próprios limites pessoais. Este é um lema que deve
“fazer barulho” no vosso coração: ir além, ir além, ir além,
olhar sempre para o horizonte, porque há sempre um ho-
rizonte, para ir além. É o impulso do Espírito Santo que
nos faz sair de nós mesmos, dos nossos fechamentos, da
nossa autorreferencialidade, e que nos faz ir ao encontro
dos outros, rumo às periferias, onde a sede do Evangelho
54
Discurso do Papa Francisco

é maior. É curioso que a pior tentação que nós, religio-


sos, temos na vida seja a autorreferencialidade; e isto im-
pede-nos de ir além. “Mas para ir mais longe, devo pensar
nisso, ver...”. Vai, vai, vai! Vai rumo ao horizonte, e que o
Senhor te acompanhe. Mas quando começamos com esta
psicologia, esta espiritualidade “do espelho”, deixamos de ir
além e voltamos sempre ao nosso coração, que está doente.
Todos nós temos um coração doente e é a graça de Deus
que nos salva, mas sem a graça de Deus, kaputt, todos! Isto
é importante: ir além com o Espírito!
O traço essencial do Coração de Cristo é a misericórdia,
a compaixão, a ternura. Não podemos esquecer isto: já no
Antigo Testamento, o estilo de Deus é este. Proximidade,
compaixão e ternura. Não há organização, não; proximida-
de, compaixão e ternura. Então, penso que sois chamados
a levar este testemunho do “estilo de Deus” – proximida-
de, compaixão e ternura – na vossa missão, onde estiverdes
e aonde o Espírito vos guiar. A misericórdia, a ternura, é
uma linguagem universal, que não conhece fronteiras. Mas
vós transmitis esta mensagem não tanto como missionários
individuais, mas como comunidade, e isto requer que se
cuide não só do estilo pessoal, mas também do estilo co-
munitário. Jesus disse-o aos seus amigos: “Pelo modo como
vos amais, saberão que sois meus discípulos” (cf. Jo 13,
35), e os Atos dos Apóstolos confirmam-no, quando nar-
ram que a primeira comunidade de Jerusalém gozava da
estima de todo o povo porque as pessoas viam como eles
viviam (cf. 2, 47; 4, 33): no amor. E muitas vezes, digo-o
com amargura – falo em geral, não de vós, porque não vos
conheço – muitas vezes descobrimos que algumas comuni-
55
XIX Capítulo Geral

dades religiosas são um verdadeiro inferno, um inferno de


ciúmes, de luta pelo poder... E onde está o amor? É curioso,
estas comunidades religiosas têm regras, têm um sistema de
vida... mas falta o amor. Há tanta inveja, ciúmes, luta pelo
poder, e perdem o melhor, o testemunho do amor, que é o
que atrai as pessoas: o amor entre nós, que não disparamos
uns contra os outros, mas vamos sempre em frente.
Por isso, para que o estilo de vida da comunidade dê
bom testemunho, são também importantes os quatro aspe-
tos sobre os quais decidistes trabalhar no vosso Capítulo:
a regra de vida, o caminho formativo, a ministerialidade e
a comunhão de bens. O discernimento diz respeito à mo-
dalidade, ao modo como delinear e viver estes elementos,
para que possam responder o mais possível às exigências
da missão, ou seja, do testemunho. Isto é muito impor-
tante: faz parte da «inadiável renovação eclesial» em chave
missionária a que toda a Igreja é chamada (cf. Exortação
Apostólica Evangelii Gaudium, 27-33). Trata-se de uma
conversão que começa pela consciência de cada um, en-
volve todas as comunidades e assim chega a renovar todo
o instituto.
Faço questão de salientar que também aqui, no com-
promisso sobre estes quatro aspetos – interligados entre eles
– tudo deve ser feito na docilidade ao Espírito, para que
as necessárias planificações, os projetos, as iniciativas, tudo
corresponda às exigências da evangelização, e refiro-me
também ao estilo da evangelização: que seja alegre, humil-
de, corajoso, paciente, cheio de misericórdia, faminto e
sedento de justiça, pacífico, em síntese: o estilo das Bem-a-
venturanças. É isto que conta. Também a regra de vida, a
56
Discurso do Papa Francisco

formação, os ministérios e a gestão dos bens devem deline-


ar-se segundo este critério fundamental. «A comunidade
evangelizadora experimenta que o Senhor tomou a iniciati-
va, precedeu-a no amor [...]. A comunidade evangelizadora
dispõe-se a “acompanhar”. Acompanha a humanidade em
todos os seus processos, por mais duros e demorados que
sejam. Conhece as longas esperas e a resiliência apostólica.
A evangelização usa muita paciência [...]. Cuida do trigo
e não perde a paz por causa do joio. [...] O discípulo sabe
oferecer a vida inteira e pô-la em jogo até ao martírio como
testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é en-
cher-se de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida
e manifeste a sua força libertadora e renovadora. Por fim,
a comunidade evangelizadora alegre sabe sempre “festejar”.
Celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente
na evangelização» (Evangelii Gaudium, 24).
Assim, caros irmãos, quis recordar esta passagem da
Evangelii Gaudium, sabendo que a tendes bem presente,
isto pelo gosto que tenho de partilhar convosco a paixão
pela evangelização. O Senhor vos abençoe e Nossa Senho-
ra vos guarde. Boa continuação dos trabalhos capitulares.
Abençoo de coração vós e todos os vossos irmãos. E vos
peço, por favor, que rezeis por mim. Obrigado!

57
XIX Capítulo Geral

GLOSSÁRIO

Indagação elogiosa/apreciativa (Appreciative Inquiry):


indagação rigorosa daquilo que de melhor existe nas pes-
soas e nas suas organizações, para individuar as ‘sementes
de vida’ presentes, que dão energia aos processos de cresci-
mento e curam eventuais ‘doenças’ que enfraquecem os si-
stemas (cfr David Cooperrider, in D. Cooperrider e M. Su-
birana, Indagación Apreciativa, Barcelona, 2013, p. 11ss).

Ecologia integral: esta expressão vem explicada no IV


capítulo da Laudato Si’ e aparece outras nove vezes na En-
cíclica. Refere-se quer a um modo de olhar a realidade,
quer a um caminho espiritual.
Trata-se de uma visão holística da criação baseada na con-
vicção de que tudo está interligado, que todos os seres são
interdependentes uns dos outros e também da mãe terra.
A realidade é um sistema complexo de relações sociais,
económicas, culturais, espirituais, ambientais, etc., integra-
das no conjunto. Daí que, por exemplo, perante os pro-
blemas ambientais do nosso tempo, não bastam respostas
urgentes, tecnicistas e parciais. É preciso um olhar diferen-
te, capaz de ver a interligação entre aspectos ambientais,
económicos, políticos, sociais e culturais; é preciso «uma
política, um programa educativo, um estilo de vida e uma
espiritualidade que oponham resistência» a um sistema
sócio-económico insustentável (LS 111).

58
Glossário

Laudato Si’ Action Platform: trata-se de um caminho si-


nodal que envolve toda a Igreja católica, com o empenho
de completar a conversão à ecologia integral até 2030,
envolvendo todo o mundo católico. O Dicastério para o
serviço do desenvolvimento humano integral (DSSUI)
está encarregado da iniciativa e organizou um portal para
recolher adesões, guiar e apoiar os participantes, e interli-
gá-los num movimento para a ecologia integral. (https://
laudatosiactionplataform.org)

Conversas produtivas/geradoras: diálogos de grupo com


o método da ‘indagação elogiosa’/apreciativa, onde se pro-
curam e se narram as ‘sementes de vida’ para ‘sonhar’ juntos
um futuro novo e, no intercâmbio, geram-se as sinergias
que tornam possível o caminho de realização concreta do
‘sonho’ comum (Cooperrider e M. Subirana, Indagación
Apreciativa, 94ss).

Fundo Ancianidade: tem como objectivo a ajuda a for-


necer às circunscrições nas quais não existem sistemas de
previdência social nacional para garantir a assistência aos
confrades idosos. A recolha de fundos nas circunscrições
para a constituição do Fundo iniciou em 2020.

Fundo Sustentabilidade: tem como objectivo o financia-


mento de iniciativas de auto-sustentamento nas circun-
scrições. O Fundo está ainda em fase de estudo.

59
Grupo de participantes no XIX Capítulo Geral
Roma, 6 de Junho a 1 de Julho de 2022.

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