6029-Texto Do Artigo-19973-1-10-20210928

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Resumo: No percurso investigativo, discorremos sobre a

A URBANIZAÇÃO TURÍSTICA relação entre turismo e consumo do espaço; abordamos


EM DESTINOS LITORÂNEOS E A modelos de turismo na perspectiva da dinâmica espacial e
tecemos reflexões acerca da importância do planejamento
DINÂMICA ESPACIAL DO TURISMO: no processo de urbanização turística. Para aproximar
a temática abordada no contexto do objeto de estudo,
UM RECORTE DO DESTINO buscamos investigar a realidade do turismo em Morro
de São Paulo, localizado no município de Cayru, no litoral
TURÍSTICO MORRO DE SÃO PAULO, sul da Bahia. Ademais, apresentamos, à luz dos modelos
NA BAHIA investigados, o ciclo de vida do destino turístico Morro
de São Paulo e a relação com o processo de urbanização
turística. A partir das evidências constatadas, inferimos que
a urbanização turística em Morro de São Paulo provocou
THE TOURIST DEVELOPMENT IN alterações na dinâmica espacial daquele destino, sendo
possível identificar consequências positivas e negativas
COASTAL DESTINATIONS AND THE e ausência do planejamento, associada à não execução
SPATIAL DYNAMICS OF TOURISM: eficaz de políticas públicas, fortalecendo o crescimento
desordenado da atividade turística em Morro de São Paulo.
AN OUTLINE OF THE TOURIST Palavras-chave: Urbanização Turística. Turismo. Morro de
São Paulo. Dinâmica Especial do Turismo.
DESTINATION MORRO DE SÃO PAULO,
IN BAHIA Abstract: In this survey, it was discussed about the influence
of tourist urbanization on the spatial dynamics in coastal
destinations. The main aspects of the relationship between
tourism and urbanization are outlined here. Based on the
Mariana Lacerda Barboza Melo 1 premises of the possible positive and negative impacts,
caused by the process of tourist urbanization, it was chosen
Morro de São Paulo, a village in Cairu, located on the
southern coast of Bahia. In this process, we approach the
tourism models from the perspective of spatial dynamics.
We investigated the real situation of the tourism in in
Morro de São Paulo. Besides, we present, according to the
selected models, the life cycle of the Morro de São Paulo
tourist destination and the relationship with the process of
tourist urbanization. Based on the evidences, we infer that
the tourist urbanization in tourist destination has caused
consequences positive and negative in the spatial dynamics
of that place.
Keywords: Tourist Urbanization. Tourism. Morro de São
Paulo. Spatial Dynamics of Tourism.

Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade 1


de Salvador – UNIFACS (2014). MBA em Engenharia da Produção com Inte-
ligência Organizacional, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
(2006). Especialista em Planejamento e Marketing Turístico pelo SENAC
– CEATEL (1998). Graduada em Turismo pela faculdade da Bahia (1995).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0888834904936161.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4368-3748.
E-mail: [email protected]
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Introdução
A industrialização do país, ao provocar movimentos migratórios do campo para a cida-
de como atração de oportunidades de emprego e “melhoria de vida”, direcionou a existência
de serviços e infraestrutura para atender a uma nova realidade imbricada com os cenários
urbanos. Contudo, em meio aos anos 1960 e 1970, a força de trabalho advinda do movimento
migratório, que não foi “absorvida” pela cidade, retorna para o campo ou migra para as áreas
não centrais da cidade, inseridas aí a realidade das áreas litorâneas.

Dentro do contexto da ocupação das áreas litorâneas, destacam-se também os movi-


mentos de veraneio, constituindo-se uma realidade de residentes temporários nesses locais.
E, para atender às suas demandas, atividades, serviços e infraestrutura foram instalados, ca-
racterizando o início da urbanização litorânea ou o redimensionamento da estrutura urbana já
existente, em casos específicos.

Considerando que “o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e con-


traditório, entre sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente,
mas como quadro único no qual a história se dá.” (SANTOS, 1994, p. 111), pode-se considerar
que no processo da urbanização também são estabelecidas as relações entre natureza, tempo,
sociedade e espaço.

Colocar a questão da especificidade de um espaço e em


particular o espaço urbano equivale a pensar nas relações
entre os elementos da estrutura social, no interior de uma
unidade definida numa das instâncias da estrutura social. Mais
concretamente, a delimitação de urbano conota uma unidade
definida seja na instância ideológica, seja na instância político-
jurídica, seja na instância econômica. (CASTELLS, 1983, p. 333).

Diante de tais pressupostos, as reflexões aqui reveladas propõem um direcionamento


para o olhar crítico a despeito da urbanização turística e a dinâmica espacial de destinos lito-
râneos, baseado em pesquisas realizadas na delimitação de um recorte no litoral sul do estado
da Bahia com a presença de elementos que traduzem as relações diversas entre a atividade
turística, os aspectos socioeconômicos, políticos e ambientais no destino turístico de Morro de
São Paulo.
O objeto de estudo é uma destinação turística situada no litoral sul da Bahia, localizada
na região da Costa do Dendê, mais precisamente na Ilha de Tinharé, pertencente ao município
de Cairu. Cenário de episódios relacionados à Segunda Guerra Mundial, a ilha, a partir de
1940, passa a receber visitas de pessoas que moravam em cidades vizinhas, conhecidos como
veranistas. Estes representavam famílias vindas de cidades próximas àquela localidade como
Gandu, Valença, Cruz das Almas e da capital, Salvador.
Já no decurso da década de 1990, Morro de São Paulo começa a consolidar como des-
tino turístico no mercado nacional, com projeção para o mercado internacional, competindo
com outros produtos do nordeste brasileiro, a exemplo de Porto de Galinhas, em Pernambuco
e Pipa no Rio Grande do Norte. Fruto das estratégias promocionais dos órgãos oficiais de turis-
mo da Bahia e das ações dos empresários ali instalados (na sua maioria, originários de outros
países), a partir do século XXI Morro de São Paulo passa a ser comercializado efetivamen-
te como destino internacional e sofre intervenções físicas decorrentes da implementação do
Programa de Desenvolvimento do Turismo da Bahia (PRODETUR-BA) com recursos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Como objetivo central da pesquisa que ora serve de base para o presente artigo, definiu-
-se: “Investigar a influência da urbanização turística na dinâmica espacial do destino Morro de
São Paulo”.
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A partir das reflexões acerca das premissas sociais, ideológicas, políticas e econômicas –
as quais se basearam nos autores no cerco da urbanização contemplados no constructo teórico
utilizado para fundamentar a pesquisa –, observou-se que as relações sociais e o domínio do
capital no local objeto de estudo estabelecem cenários de segregação social, mas dentro de
uma esfera contraditória, considerando os benefícios advindos das intervenções do processo
de urbanização que trazem oportunidades de trabalho, impondo as condições da desigual-
dade. Dentro desta perspectiva, de acordo com Lefebvre (2001), os núcleos resistem ao se
transformarem. Continuam a ser centros de intensa vida urbana, onde as qualidades estéticas
desempenham um grande papel na sua manutenção e tornam-se produto de consumo de alta
qualidade para estrangeiros, turistas, pessoas oriundas da periferia, suburbanos. Sobrevivem
por assumir este duplo papel: lugar de consumo e consumo do lugar.
Durante a pesquisa, verificou-se que o espaço é modificado com o processo de urbani-
zação, interferindo no modo de vida, nas relações comerciais, na paisagem, no fluxo de pes-
soas e na arquitetura, entre outros aspectos. Considerando a realidade do objeto de estudo,
a urbanização turística provocou a alteração do espaço e das diversas relações existentes no
mesmo.

Metodologia
A pesquisa desenvolvida teve sua base na abordagem qualitativa, compreendendo um
estudo de caso com pesquisa documental e bibliográfica, exploratória, utilizando dados secun-
dários e primários. Fora utilizada a base teórica conceitual dos modelos espaciais de turismo
desenvolvidos por pesquisadores e estudiosos, ao longo dos tempos, a partir especialmente
da análise de Douglas Pearce. Tais modelos têm as suas bases no trinômio em origem-ligação-
-destino. Amparados nesse trinômio, foram identificados quatro grupos básicos de modelos:
os modelos que enfatizam o componente viagem ou ligação; os modelos origem-destino; os
modelos estruturais e os modelos evolucionários.
Ao longo das análises, buscou-se estabelecer uma relação do modelo evolucionário, a
partir do modelo de Butler (1980), apresentado por Pearce (2003), com o processo de urbani-
zação turística em Morro de São Paulo. Para realização da pesquisa, foram considerados, como
ponto de partida, fenômenos gerais, de forma abrangente, investigando também as particula-
ridades dos fenômenos locais com aplicação de entrevistas, seguindo um roteiro de questões
semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas.
Para garantir a transparência e segurança na coleta de dados, e considerando a abor-
dagem exploratória da pesquisa, optou-se pela técnica de amostra fechada por saturação. “A
saturação é o instrumento epistemológico que determina quando as observações deixam de
ser necessárias, pois nenhum novo elemento permite ampliar o número de propriedades do
objeto investigado.” (THIRYCHERQUES, p. 20, 2009).
Dentro dos princípios da amostragem não probabilística intencional ou por julgamento
(os elementos da amostra são julgados como adequados baseado em escolhas de casos espe-
cíficos, na população onde o pesquisador está interessado), a estratégia escolhida para realiza-
ção das entrevistas com o público considerou subgrupos homogêneos e cadeias de informação
com indicação de outros informantes pelos próprios informantes entrevistados.
Segundo o autor supracitado, examinando as experiências internacionais em várias dis-
ciplinas, pesquisadores da área social verificaram que as recomendações da literatura técnica
para o tamanho mínimo de observações variavam entre 6 e 200. Cruzando esses relatos com
as suas próprias experiências de campo, concluíram que a saturação ocorre, geralmente, até
a 12ª entrevista, e que os elementos básicos de meta-tema aparecem até a 6ª entrevista. A
variabilidade dos dados segue o mesmo padrão.
Durante a realização das entrevistas em campo para a presente pesquisa, foi possível
constatar essa realidade; contudo, para a maioria das categorias estabelecidas, a saturação
ocorreu entre a 4ª e a 7ª entrevista, considerando tal constatação em cada um dos três grupos
entrevistados. Como estratégia de coleta de dados para a pesquisa em tela, foram estabeleci-
dos conjuntos de categorias para cada um dos distintos grupos entrevistados: a) comunidade
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local, contemplando representantes da sociedade civil organizada, inclusive; b) empresários


do turismo local, envolvendo meios de hospedagem, serviços de alimentação e agência de
viagens – para este grupo, a entrevista foi direcionada ao proprietário, ou gestor, responsável
pelo empreendimento em alguns casos; e c) representantes da administração pública.
Durante a investigação, além das entrevistas, fora adotada, também, a técnica de ob-
servação como forma de coleta de dados, permitindo complementar as informações, uma vez
que alguns aspectos da realidade apresentada pelos entrevistados são confirmados durante
a experiência de imersão nos dias de pesquisa, em destaque na experiência de consumo dos
serviços e da oferta turística disponível, além do aspecto ambiental e cultural verificado. De
acordo com Barros e Lehfeld (2000), a observação é uma das técnicas de coleta de dados
imprescindíveis em toda pesquisa científica. Para esses autores, observar implica direcionar
atentamente o olhara um objeto, para obter deste um conhecimento.

Análises e Resultados
O processo de urbanização do país fez as cidades brasileiras assumirem um papel mul-
tifuncional com a influência dos interesses do capital monopolista e, dentro desse contexto,
identifica-se a análise urbana integrada ao funcionamento da economia contemporânea. En-
tretanto, o estudo da urbanização das cidades não pode desconsiderar os aspectos culturais, a
ação das classes sociais e o posicionamento destas, expresso nos hábitos, costumes, estilo de
vida e comportamento de consumo, estabelecendo as relações sociais, territoriais e regionais,
especificamente no espaço. No caso das cidades brasileiras, observa-se, na maioria das vezes,
a urbanização em prol da modernização, mas nem sempre relacionada às questões sociais ou
atendendo ao que é definido no plano diretor, quando existe esse instrumento.
As análises de Singer (1980), em torno da questão são direcionadas para a vertente
econômica e em uma abordagem do capital, apontam que “[...] a urbanização assume caracte-
rísticas próprias no capitalismo, na medida em que este cinda as perspectivas micro e macro-
econômicas [...]” (SINGER 1980, p. 37). Em verdade, o estudo do urbano com as contribuições
de Singer revela a presença das relações de dependência existentes entre países desenvolvidos
e subdesenvolvidos.
Ao discutir o núcleo urbano em uma ótica social e político-jurídica, Lefebvre (2001) des-
taca que esses núcleos resistem ao se transformarem, os quais se mantêm como centros ur-
banizados, tornando-se produto de consumo de grande valor para os turistas estrangeiros. Os
destinos turísticos são exemplos concretos dessa realidade, sendo a atividade do turismo uma
das responsáveis pelo processo de ocupação de determinadas áreas nos estados brasileiros,
em especial as áreas litorâneas.
A partir dos anos de 1960, dois fenômenos caracterizaram fortemente a ocupação do
litoral: Por um lado, a popularização das residências de veraneio e os movimentos migratórios,
oriundos do campo, ou de outros centros urbanos menores não absorvidos pela indústria – o
processo de industrialização no Brasil deu-se de forma tardia se comparada com a Europa. Por
outro lado, a sua velocidade gerou a ocupação desordenada e desigual na maior parte do País,
provocada pelo êxodo de pessoas que viviam em áreas rurais e migraram para as cidades, de-
mandando a adoção de ampliação e ou instalação de infraestrutura para atender ao aumento
populacional dos centros, mas que, em grande parte dos casos, não seguia diretrizes de plane-
jamento urbano. Há de ser considerado, contudo, que a ocupação do litoral decorrente de tais
fenômenos não se deu de forma homogênea, mas sim conforme características, socioeconô-
micas, culturais e ambientais, próprias do contexto regional e espacial de cada local.
Para sustentar o crescimento e a dinâmica da industrialização, fez-se necessário investir
na infraestrutura das cidades, gerando instalações de recursos e, em alguns casos, construções
de uma cidade voltada para atender às demandas do processo industrial. Tais intervenções
atenderiam à nova dinâmica das cidades, provocada pelo deslocamento da zona rural para
a zona urbana, em função da possibilidade de trabalho, gerando mobilidade social. Em uma
mesma direção, conforme pontua Santos (2009).
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Com o simulacro criado pelas ações midiáticas startadas por restritos – mas podero-
sos – grupos, parece que o todo é contemplado, quando na verdade as áreas periféricas, com
relevante expressividade populacional e territorial, sofrem pela posição marginal em que são
condicionadas pelo proposital “esquecimento”. Como consequência, tornam-se “invisíveis” às
ações de marketing promocional das cidades na captação de recursos e mercados turísticos,
mas funcionam como principal objeto em campanhas políticas.
Para Maricato (2012), o urbanismo brasileiro (entendido como planejamento e regula-
ção urbanística) apresenta comprometimento apenas com uma ordem que diz respeito a uma
parte da cidade, apenas, excluindo a realidade concreta. A ordem está associada a todos os
indivíduos, de acordo com os princípios do modernismo ou da racionalidade burguesa, o que
contempla uma parcela da sociedade somente reafirmando desigualdades e privilégios. “Para
a cidade ilegal não há planos, nem ordem. Aliás, ela não é conhecida em suas dimensões e
características.” (MARICATO, 2012, p. 122).
A realidade acima apresentada é muito comum em áreas periféricas nos destinos turís-
ticos litorâneos decorrentes das diferenças socioeconômicas realçadas pela urbanização desi-
gual. Cabe destacar que, no caso dos destinos turísticos, muitas vezes as áreas periféricas sur-
gem pela especulação imobiliária que provoca o deslocamento da comunidade local para áreas
não centrais constituindo as “cidades ilegais”, fortalecendo o processo de urbanização turística.
O conceito de urbanização turística corresponde a formas específicas de produção do
espaço urbano para o turismo e pelo turismo. De acordo com Mullins (1991), esse processo
se dá, sobretudo, quando a atividade turística se impõe como dominante na economia local.
Trata-se, de uma modalidade peculiar de produzir e estruturar o espaço urbano. “As localida-
des turísticas representam uma nova e extraordinária forma de urbanização.” (MULLINS, 1991,
p. 326).
A respeito da questão, Luchiari (1998) complementa que a urbanização turística tende
a introduzir, nos lugares, cenários significativos do imaginário urbano moderno. Esses signos
– representados na infraestrutura, na estética arquitetônica, nos objetos de consumo – pro-
porcionam aos turistas a superação do estranhamento ao meio social e natural local, mas im-
plantam, muitas vezes, uma materialidade que não se comunica com o lugar. As paisagens
valorizadas por sua rusticidade e distanciamento da urbe são rapidamente transformadas na
reprodução de objetos e ações necessários à vida urbana. Além disso, a natureza funcional da
rede urbana relaciona-se à estrutura social e à hierarquia posicional dos grupos, conforme a
capacidade destes em ter acesso aos benefícios que a cidade oferece.
Por meio da urbanização turística, o meio urbano veste-se de uma materialidade mo-
derna, mas traz de fora seus próprios sujeitos sociais, ou seja, a lógica locacional da infraestru-
tura da cidade impõe uma apropriação socialmente seletiva do solo urbano. Os condomínios
fechados horizontais para segundas residências são um exemplo extremo desses cenários que,
indiferentes ao contexto do lugar, são vendidos ao consumo turístico, mas não se incorporam
ao cotidiano das cidades. Essas novas formas urbanas instituem o isolamento das sociabilida-
des, ignoram o contexto e os códigos das narrativas locais, e evitam a possibilidade do encon-
tro da sociedade com seu entorno (LUCHIARI, 1998).
As infraestruturas urbanas e turísticas estão na base da atratividade para o turismo. Os
meios de hospedagem, aeroportos, via de acesso, transportes e equipamentos de alimentação
são essenciais para a prática da atividade, independentemente do apelo do destino. Decerto
que, conforme a potencialidade e o conceito mercadológico que uma destinação possua, en-
contrar-se-ão diferentes equipamentos com maior ou menor complexidade, maior ou menor
sofisticação, tipologias e categorias diferentes. Entretanto, invariavelmente o turismo estabe-
lece diversas relações com o espaço, visto que a sua existência demanda de adequações físicas
com interface socioeconômica-espacial, provocando interação entre visitantes e visitados por
intermédio do consumo de recursos naturais e culturais expressos nos atrativos.
De acordo com Cruz (2000), a relação entre turismo e urbano, na perspectiva urbano-
-espacial, metodologicamente, pode ser compreendida por três situações, a saber: “O urbano
antecede o aparecimento do turismo; o processo de urbanização é, simultaneamente, um pro-
cesso de urbanização turística do lugar; ou, ainda, esse processo pode ser posterior ao apare-
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cimento do turismo e decorrente dele.” (CRUZ, 2000, p. 25).


A urbanização turística não deve ser projetada apenas na perspectiva dos equipamentos
de hospedagem, restauração e transportes, mas com associação destes e de outros elementos
específicos ao turismo (atrativos, por exemplo), com o consumo do espaço e infraestrutura bá-
sica e de apoio, ali existente e/ou necessária. A oferta turística é definida pelo conjunto de atra-
tivos naturais, culturais, equipamentos turísticos, serviços, infraestrutura básica, infraestrutura
turística, infraestrutura de apoio e de acesso. Todos esses elementos devem coexistir de forma
integrada e em condições de consumo adequadas, com base nos princípios da qualidade, vi-
sando atender às expectativas do visitante, de modo a proporcionar o consumo sustentável do
espaço e a definição do conceito do destino.
O turismo provoca, inevitavelmente, alterações no espaço e, na maioria das vezes, cau-
sa impactos aos elementos urbanos, seja proporcionando melhorias, seja comprometendo a
dinâmica espacial relacionada à urbanização (nos casos do turismo de massa, especialmente),
provocando ocupações e edificações irregulares, entre outros aspectos de ordem socioam-
biental, a exemplo da urbanização desigual, já mencionada anteriormente, em cuja perspecti-
va destaca-se a importância do planejamento e definição de políticas públicas para a atividade
turística, considerando seus efeitos e dada sua complexidade relacionada à urbanização, além
dos processos de troca existentes entre a atividade e o meio onde está inserida.
Na ótica de Luchiari (1998), o turismo, enquanto fenômeno contemporâneo, apresenta-
-se como vetor de transformação contraditório, porém emblemático, em que se acentuam a
produção de lugares de consumo e o consumo de lugares por meio da urbanização e dos ape-
los mercadológicos construídos em volta do potencial e recursos existentes.
Nesse contexto, defende, ainda, a ideia de que a urbanização turística traz novas formas
de sociabilidade, articuladas na realidade contemporânea que impulsiona a valorização das
paisagens, por exemplo, para o lazer. Com isso estabelece a formação de organizações socioes-
paciais híbridas, nas quais o novo com o antigo gera composições, mas que necessariamente
não precisam ser associadas apenas aos aspectos negativos que provocam a desarticulação de
antigas formas. No caso de Morro de São Paulo, objeto da pesquisa que originou o presente
artigo, observa-se que o processo de urbanização se deu acompanhado pelo turismo.
Em verdade, a infraestrutura ali instalada corresponde às demandas dessa atividade,
entretanto, o destino turístico não foi submetido a princípios do planejamento e, com isso, a
urbanização irregular é visível na localidade. Construções residenciais e comerciais instalaram-
-se em locais impróprios, desconsiderando a fragilidade dos recursos naturais e as possíveis
consequências. Fruto de um processo espontâneo, gerado pela atratividade natural, o turismo
de massa invadiu Morro de São Paulo e todas as características desse tipo de turismo perma-
neceram enraizadas no local.
Com a atividade turística de forma comercial, marcada a partir de meados da década
de 1980, intervenções na infraestrutura básica foram realizadas ao longo do tempo, mas não
suficientes para as características e necessidades locais. Problemas de saneamento, energia
elétrica e saúde foram agravados com o aumento crescente da população flutuante e com a
instalação de equipamentos de meios de hospedagem e restauração, para atender ao turismo.
Até início da década de 1980, a localidade apresentava vida simples sem muita intervenção
dos elementos de urbanização, apresentando limitações com sistema de esgoto, água, energia
elétrica, saúde e educação. O turismo trouxe para o local, recursos de infraestrutura básica, até
então não direcionados para aquele povoado. Contudo, o preço pago por tais recursos impli-
cou na ocupação desenfreada e desordenada do local; na poluição ambiental,; na especulação
imobiliária e consequente êxodo da população, que vendeu suas casas e seguiu para outras
localidades; na invasão de estrangeiros; no alto ingresso de drogas e consumo, inclusive pela
própria comunidade local; na sublimação da cultura local; entre outros aspectos de ordem
cultural e social. Associado a essas questões, consideram-se também a insuficiência e a inca-
pacidade de planejamento e gestão; recursos humanos e recursos financeiros.
Ao longo do período de 1980 a 2000 foram poucas as intervenções preservacionistas e
preventivas, voltadas para controlar ou inibir o processo de ocupação desordenada e a explo-
ração indevida pela urbanização turística. A mais importante foi a criação da APA Tinharé - Boi-
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peba, contemplando Morro de São Paulo. Contudo, não se percebia, naquele destino (durante
a realização da coleta e análise de dados), a aplicação da legislação pertinente a tal unidade
de conservação.
Em 2011 com o projeto de requalificação urbana de Morro de São Paulo a partir dos
recursos direcionados pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), foram
contemplados: o melhoramento das vias internas de circulação e acessos, por meio de ilumi-
nação, calçamentos, passarelas e projetos paisagísticos nas praças, atrativos e mirantes. Essa
intervenção pode ser considerada como mais um fator de descaracterização da originalidade
do local, em função do turismo. Por outro lado, entregou à comunidade local melhor acessibi-
lidade, coleta de lixo regular e melhoria da limpeza pública, entre outros. Sobre essa questão
existem duas correntes locais: uma é favorável à requalificação urbana, e outra se opõe a esse
processo.
Em verdade, uma posição radical da crítica acerca do processo de urbanização turística
limitaria as possibilidades de melhorias e qualidade de vida da população residente conside-
rando o contexto limitado. Entretanto, o processo não pode passar ao largo do planejamento
e das considerações da realidade local, contemplando os aspectos ambientais, culturais, eco-
nômicos e sociais.
Até o final da década de 1990, o turismo litorâneo era a modalidade predominante
no Brasil, levando as áreas de litoral a serem as mais urbanizadas. Entretanto, segundo Cruz
(2000, p. 34), “este fato não se constitui, na verdade, uma mera coincidência, já que o turismo
de massa requer infraestrutura turística e infraestrutura-suporte (isto é, urbana). Ainda que
precária, essa infraestrutura suporte esteve, no caso brasileiro, especialmente concentrada na
faixa litorânea”.

A ausência de liderança no planejamento, a inexistência de


consenso, a opacidade nos processos administrativos e a
ampla discrição por parte de muitas administrações públicas
deixa o caminho livre para que os grupos imobiliários de
pressão tomem normalmente a iniciativa. Se ao contrário,
existe liderança, consenso, transparência e uma estrutura
jurídica clara, a capacidade de manobra desses grupos se
reduz rapidamente. (VALLS, 2006 p. 102).

A realidade apresentada pelo autor pode ser claramente identificada no Brasil, princi-
palmente em localidades litorâneas onde os fluxos, em geral, tendem a ser maiores. A espon-
taneidade da atividade turística gerada pela atração de investidores dos segmentos de meios
de hospedagem, transporte, alimentação e a reboque o lazer, explora o espaço, sem que haja o
atendimento a legislações específicas relacionadas à cultura e ao meio ambiente. O resultado é
a saturação de determinadas áreas como efeito de ações não planejadas, gerando o consumo
indevido do território. Tal realidade é visivelmente identificada em Morro de São Paulo, onde a
atuação dos empresários e a infraestrutura turística instalada tomou uma dimensão sem con-
trole ao longo do tempo já sendo observados os sinais de possível saturação, representados
na retração do fluxo de visitantes estrangeiros, por exemplo. De acordo com Sousa (2006), o
território é estabelecido pelas relações entre diferentes grupos, considerando a existência de
interesses diversos, relacionando a definição do território à capacidade das pessoas de trans-
formar os espaços conforme os objetivos existentes.
O estudo do consumo do espaço pelo turismo, inevitavelmente, provoca questionamen-
to dos impactos causados por essa atividade, sejam eles de ordem positiva, sejam de ordem
negativa. Nesse particular, no Brasil, país com expressiva representatividade de destinos com
apelo de sol e praia, a transformação das áreas litorâneas é evidenciada pela instalação de ele-
mentos da urbanização e seus desdobramentos, muitas vezes com consequências irreversíveis
para o meio ambiente. Assim, a originalidade é abandonada ou substituída por nova lógica.
O consumo do litoral brasileiro pelo turismo apresenta formas diferenciadas que podem ser
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consideradas de efeito favorável ou não, mas, na maioria das vezes, vêm acompanhadas de
elementos de urbanização necessários para que a atividade turística aconteça. A esse respeito,
Cruz (2007) apresenta uma análise que considera os elementos da urbanização fatores intrín-
secos do turismo.

Modelos de Turismo
De acordo com Pearce (2003), os modelos são fundamentais para o entendimento de
fenômenos e para que se estabeleçam relações entre os diversos elementos e fatos que estão
envolvidos direta ou indiretamente com determinado objeto investigado, permitindo chegar
à compreensão das complexidades do mundo real. Na ótica da dinâmica espacial do turismo,
“a base da maior parte desses modelos continua sendo um sistema de origem-ligação- desti-
no, com vários autores enfatizando esses três elementos de forma diferenciada e também os
expressando de forma diferente [...]” (PEARCE, 2003, p. 30). Apoiado nesse trinômio, podem
ser identificados quatro grupos básicos de modelos: os que enfatizam o componente viagem
ou ligação, os modelos origem-destino, os modelos estruturais e os modelos evolucionários.
O artigo em tela, propõe-se ao recorte de informações voltadas aos Modelos Evolucionários,
dado o foco da pesquisa. Pearce (2003) faz a seguinte análise acerca dos modelos evolucioná-
rios: “Modelos que evidenciam mudanças, em termos da evolução dos movimentos turísticos
internacionais ou do desenvolvimento de estruturas de turismo, também são importantes à
medida que nos fazem atentar para fatores explicativos e processos subjacentes.” (PEARCE,
2003, p. 43).
No modelo de Thurot, o processo evolucionista é definido por três fases, a partir de uma
análise associada à evolução de rotas aéreas, e considera as classes sociais para a determina-
ção da oferta e do consumo da atividade turística. A partir disso, estabelece a primeira fase,
como a descoberta do destino por turistas ricos e a construção de hotel de classe internacio-
nal. A segunda fase, como desenvolvimento de hotéis de classe média alta, com expansão do
fluxo turístico. A terceira fase, como perda do valor original para novos destinos e chegada do
turismo classe média, configurando o turismo de massa (PEARCE 2003).
O modelo de Thurot, apresentado por Pearce (2003), em certa medida, associa o turis-
mo de massa à saturação do destino e, consequentemente, ao desinteresse por parte das clas-
ses mais favorecidas e ao acesso para a classe média. Contudo, o modelo não considera que
um fato anule o outro. Ou seja, ainda que haja o turismo de massa, não existe o afastamento
por completo das classes sociais mais favorecidas, isso porque não se trata de uma segregação.
De acordo com Plog (1975 apud PEARCE, 2003), a ênfase do modelo evolucionista está
não na classe social, mas sim na personalidade dos diferentes tipos de viajantes. No seu mode-
lo é reconhecido que destinos diferentes são visitados por tipos diferentes de viajantes. O au-
tor considera dois tipos de viajantes: os psicocêntricos e os alocêntricos. O primeiro apresenta
características mais conservadoras, diferentemente do segundo o qual apresenta espírito de
aventura e curioso. Entretanto, o autor defende que um dado destino pode exercer apelos a
diferentes grupos em diferentes momentos.
De acordo com o modelo de Plog (1975 apud PEARCE, 2003), à medida que o destino vai
sendo mais conhecido, ele se desenvolve e atrai mais visitantes com possibilidades de declínio
do mercado, por ser uma fase em que não se trata de algo tão desconhecido, nem tão familiar.
“[...] As áreas de destino trazem consigo as sementes de sua própria destruição, à medida que
elas próprias se tornam mais comerciais e perdem as qualidades que originalmente atraíam os
turistas” (PLOG, 1973 apud PEARCE, 2003, p. 44). Apesar de ser amplamente citado, o modelo
de Plog sofreu, por parte de outros autores, diversas críticas, dentre as quais a mais contun-
dente diz respeito à ausência de dinâmica dos indivíduos.
Dentre os modelos evolucionistas, o mais amplamente testado, segundo Pearce (2003),
é o modelo de Butler, de 1980. Baseado no conceito do ciclo de vida de áreas turísticas, Butler
apoia-se em Plog, Stanfield e Noronha, para apresentar seis estágios em uma sequência hipo-
tética: exploração, envolvimento, desenvolvimento, consolidação, estagnação e rejuvenesci-
mento ou declínio (PEARCE 2003).
327 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

Cada estágio é também acompanhado de mudanças na


natureza e extensão das instalações proporcionadas e no
abastecimento local /não local dessas instalações. Instalações
não específicas para turistas são as que existem no primeiro
estágio; as do estágio de envolvimento são fornecidas
basicamente por habitantes locais, quando, então, já na fase
de desenvolvimento, o envolvimento e controle local declinam
rapidamente, à medida que instalações mais modernas
e elaboradas são proporcionadas por empreendedores
externos, e autoridades regionais e nacionais assumem a
responsabilidade pelo planejamento. O envolvimento local só
tornará a aumentar no estágio do declínio [...] (PEARCE, 2003,
p. 47).

O modelo de Butler (1980), apresentado por Pearce (2003), pode ser associado à reali-
dade de alguns destinos brasileiros, especialmente aqueles que têm como principal vocação o
segmento de sol e praia e que não representam grandes centros urbanos. Dentro de uma pers-
pectiva do modelo de desenvolvimento espaço-temporal, Pearce (2003) apresenta o estudo
de Gormsen (1981) baseado no histórico do turismo à beira-mar, contudo, com observância na
realidade europeia. Dessa experiência se pode considerar, para o estudo da realidade brasileira
(em alguns casos), a constatação de que a iniciativa nos primeiros estágios é de investidores
externos, mas que, com o passar do tempo, existe uma participação local no processo de de-
senvolvimento. Entretanto, no caso do Brasil, a participação local não se dá em mesma escala
do empreendedor externo. Ainda que essa participação represente mobilidade social e melho-
ria de qualidade de vida, seu modelo é questionado por Britton, Hilss e Lundgren. Para estes
últimos, a participação externa tende a representar uma dominação continuada, nesse caso
considerando especialmente áreas periféricas, ou seja, regiões-países em desenvolvimento,
uma realidade que contextualiza o turismo no Brasil.
Para a pesquisa em questão, foi considerado o modelo evolucionista, tendo em vista a
aplicabilidade e a possível relação com a realidade e características do objeto de estudo, por
ser um destino de sol e praia, com consumo de massa, mas não existindo o afastamento por
completo das classes sociais mais favorecidas. Apresenta interferência no espaço natural ao
longo do tempo em mudanças nas instalações, constatando-se tendências ao declínio.
Ainda que os impactos positivos gerados pelo turismo sejam de expressiva relevância,
cabe destacar, para a presente pesquisa, o fator inflacionário como um dos principais efeitos
negativos da atividade, com ênfase para o mercado imobiliário e comércio local. Não obstante,
o turismo é considerado como a principal atividade econômica do destino Morro de São Paulo,
e isso representa a melhoria da qualidade de vida da população local com oportunidade de
trabalho, oferta de emprego e geração de renda e sobrevivência inclusive.

A Dinâmica Espacial do Turismo em Morro de São Paulo na


perspectiva do Modelo Evolucionista do Ciclo de Vida de Butler
Ao analisar Morro de São Paulo na perspectiva do modelo de ciclo de vida de Butler,
para a compreensão da dinâmica espacial do turismo, apresenta-se a realidade encontrada de
acordo com as pesquisas de campo. Para gerar maior clareza, são resgatadas as características
e os aspectos considerados por Butler em cada uma das 6 (seis) fases, partindo da síntese reali-
zada por Ramos et.al. (2012) e das constatações referentes a Morro de São Paulo, aplicando-se
o modelo à realidade local.

Butler sugere que um destino é descoberto por alguns


visitantes atraídos por uma oferta de recursos de infraestrutura
como acomodações, facilidades de acesso e o uso da
328 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

publicidade que no início se dá por meio do boca a boca.


Nessa fase, chamada pelo autor de “exploração”, os visitantes
virão em pequenos números, inicialmente, com probabilidade
de terem bastante contato com a comunidade local, usando
a estrutura local. Como as instalações são fornecidas a
percepção cresce e o número de visitantes irá aumentar
(BUTLER, 1980). Geralmente o destino se apresenta sem uma
estrutura voltada para o turista e seus recursos culturais e
naturais encontram-se muito bem preservados, e em certo
ponto inicia-se o “envolvimento” da comunidade oferecendo
serviços especialmente ou até exclusivamente para turistas. A
fase de “desenvolvimento” é marcada por áreas de mercado
para turismo bem definidas, com sua evolução há a tendência
de diminuição da participação da comunidade local. Na fase
de “consolidação” começa a haver diminuição na taxa de
crescimento do número de turistas, ainda que esse o número
continue a crescer. Grande parte da atividade econômica da
área está vinculada ao turismo e o fluxo intenso de turistas
tende a começar a criar desconforto por parte dos autóctones.
Quando a “estagnação” é atingida o número máximo de
visitantes é alcançado e apesar de possuir uma imagem bem
estabelecida o destino não está mais na moda. Após esta fase
o destino tende a entrar em “declínio” no número de turistas,
com mudanças em parte das atividades e propriedades que
deixam de ser voltadas ao turismo. O autor ainda prevê a fase
de “rejuvenescimento”, ainda que ele mesmo afirme que esse
estágio muito provavelmente nunca será alcançado. (RAMOS,
et.al. 2012).

Fase 1 (1940-1960) – Exploração: Visita dos primeiros veranistas de Morro de São Paulo
(década de 1940). As demandas dos visitantes eram atendidas a partir da própria comunidade.
Em alguns casos, havia a hospedagem em casas dos moradores locais. Nesse período já existia
uma relação de envolvimento e troca com a comunidade. Destaca-se a vida simples das pesso-
as que ali viviam, conforme relatos nas entrevistas da pesquisa de campo. Nesse período, não
havia organização alguma para o turismo. O local não dispunha de energia elétrica, tampouco
de abastecimento de água. As pessoas eram atraídas pelo aspecto natural, mas também pelo
refúgio na tranquilidade, longe dos sinais de urbanização. O espaço é ocupado por moradores
de origem local e, eventualmente, pela visita dos veranistas, sem interferências físico-espaciais.
Fase 2 (1970-1980) – Envolvimento: Surgem os primeiros estabelecimentos comerciais
para atender à crescente demanda dos veranistas. As primeiras casas da Primeira Praia são
construídas e o local recebe visita dos hippies, que permanecem no Morro da Mangaba, duran-
te muito tempo. A energia elétrica e a água encanada já fazem parte da realidade da comuni-
dade. É iniciada a especulação imobiliária pela propagação do turismo. A partir desse período
começam os sinais de construções irregulares sob o ponto de vista ambiental, especialmente.
A localidade é ocupada por moradores locais e por pequeno fluxo de visitantes, dentre eles
veranistas e turistas de origem nacional e internacional.
Fase 3 (1990-2000) – Desenvolvimento-Crescimento: O número de construções aumen-
ta, sem qualquer tipo de controle e sem o saneamento básico necessário. O turismo de massa
é intensificado, e os meios de hospedagem, bares e restaurantes são multiplicados. O local
atrai pessoas de outros países e outros estados, a fim de estabelecerem negócios no local.
A especulação imobiliária impulsiona os moradores locais e a origem local a venderem suas
casas. Com o passar do tempo, o local passa a assumir uma identidade híbrida, mas sufocada
pela força da maioria (pessoas de outras localidades). Começam os primeiros investimentos
com recursos de ordem pública, contemplados em programas como o PRODETUR. Ao longo da
década de 1990, Morro de São Paulo começa ser consolidado como destino turístico no mer-
cado nacional com projeção para o mercado internacional, competindo com outros produtos
329 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

nacionais. É fruto das estratégias promocionais dos órgãos oficiais de turismo da Bahia e das
ações dos empresários ali instalados (na sua maioria, originários de outros países). Essa é a
fase em que a população abandona o local ao vender suas casas, estimulada pela especulação
imobiliária. O turismo de massa é consolidado no destino. A participação da comunidade, que
antes se apresentava como responsável pelo acolhimento e hospedagem nas suas próprias re-
sidências, passa a ser como vendedores ambulantes e como mão de obra das pousadas, bares
e restaurantes e outros equipamentos ou empreendimentos comerciais. Na maioria das vezes,
em propriedade de pessoas de outros países, atraídos pela beleza natural e seduzidos pelas
possibilidades de negócios, ao explorar o local pelo viés do turismo.
Fase 4 (2000-2010) – Crescimento-Estabilização. O destino ocupa destaque no turismo
baiano, sendo uma das localidades mais visitadas no estado. Possui uma oferta diversificada
com empreendimentos de pequeno médio e grande porte. O poder público realiza interven-
ções em ordem de planejamento e gestão. É crescente o número de leitos e os problemas
ambientais, sociais e de estrutura urbana. Ao contrário do modelo de Butler, o crescimento
ainda é constante com sinais de retração apenas ao final do período. Há exploração excessiva
dos recursos existentes, comprometendo a conservação e a preservação do meio ambiente. É
criado o Documento Cairu 2030, com implicações de ordem ambiental, em vistas a mitigar os
impactos do crescimento desordenado da urbanização turística.
Fase 5 (2010-2013) – Início de saturação do destino com tentativas de rejuvenescimen-
to: A saturação está não somente em retração da demanda, neste caso, mas também nos
recursos naturais e no consumo do espaço, pela ausência de medidas preventivas, ou fiscali-
zação na ocupação e uso do solo. O destino recebe o projeto de requalificação urbana e novas
estratégias são definidas. Ações mitigadoras são implementadas e é presente o risco de um
declínio imediato. Na tentativa de gerar acompanhamento e controle do fluxo, é criada a taxa
de preservação ambiental para o ingresso dos turistas. Na tentativa de reposicionamento do
destino, como uma das estratégias é estabelecida a realização de eventos esportivos no local.
A ocupação irregular do solo permanece e não há evidências de fiscalização ou controle. As
intervenções da requalificação urbana minimizam questões referentes à estética e à limpeza
urbana. Entretanto, a mudança da paisagem típica local, especialmente das vias de circulação
internas, é alterada, com destaque para a Vila, causando insatisfação em parte da população
local e visitantes.

Em ocasião ao período de realização da pesquisa (2012 a 2013), o destino não apre-


sentava atração grandes investidores e não há, em princípio, saída para expansão do turismo
da forma como ele se apresenta em Morro de São Paulo. O direcionamento dos interesses de
investidores de grandes negócios ou novos voltou-se para Boipeba. A extensão do turismo para
“Morro” seria a Gamboa. Isso revela características de um destino que se aproxima de uma
saturação seguida de declínio.
A dinâmica espacial do turismo em Morro de São Paulo é representada por um proces-
so sem controle e desordenado da ocupação do solo, pelo intenso fluxo de visitantes e pela
crescente especulação imobiliária, além da exploração do destino por estrangeiros sem com-
promissos ou vínculos com o local.
A urbanização turística sem planejamento provocou o desordenamento, em função da
sua espontaneidade e do apelo que o destino oferece. Por outro lado, o turismo gerou oportu-
nidades de renda para a população e elementos importantes para a qualidade de vida da co-
munidade, considerando-se a modificação das relações espaciais. A concentração do consumo
do espaço, em função do turismo, provocou ao longo do tempo a saturação de determinadas
áreas em Morro de São Paulo, sendo a Vila e a Segunda Praia os maiores exemplos desse novo
cenário.
Em que pese a comparação e as constatações da pesquisa apresentadas com base no
Modelo Evolucionista de Butler, deve-se considerar que algumas situações, não previstas no
modelo, podem vir a se concretizar, pois os modelos são estáticos e a realidade da atividade
turística é dinâmica.
330 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

A mudança da atividade econômica predominante, devido ao turismo, faz com que al-
gumas localidades sejam ocupadas em função do suprimento das demandas turísticas, esta-
belecendo centralidades nas áreas mais próximas dos atrativos naturais, promovendo algumas
consequências, como a ocupação de áreas de patrimônio histórico e áreas de risco, a criação
de loteamentos clandestinos, entre outros (ARAUJO, 2009). Esta é uma realidade evidenciada
em Morro de São Paulo, mas com o agravante da dependência absoluta do turismo, o que se
constitui em um risco, pois em situação de saturação do destino haverá um provável desloca-
mento dos empresários para outras localidades, provocando retração na oferta de emprego e
geração de renda, restando poucas ou nenhuma alternativa para a população local.
No âmbito cultural, Dias (2003), assim como outros autores, considera que o turismo
provoca efeitos negativos, interferindo, muitas vezes, na originalidade dos elementos, a exem-
plo do artesanato e da arte, que podem perder seu significado original, transformando-se em
meros produtos a serem comercializados.
Outro aspecto importante é a influência nas festas e manifestações culturais. Em al-
guns casos, são realizadas adaptações para gerar maior afluência de turistas, provocando ora
a descaracterização, ora a descontinuidade. Nesse caso, geralmente ocorre em destinos onde
o principal fator de atratividade é o aspecto natural sem definição de diretrizes de desenvolvi-
mento sustentável.
Em verdade, os elementos culturais, no caso de Morro de São Paulo, não são explorados
pelo turismo, até porque, com o passar do tempo, as manifestações culturais foram perdendo
força e as tradições locais não foram mantidas. Em virtude de não haver a continuidade por
parte das novas gerações, associado ao principal apelo do local (sol e praia) e ao perfil dos
turistas (turismo de massa).
Por outro lado, o turismo é reconhecido também como atividade que valoriza os ele-
mentos e o patrimônio de ordem cultural, estimulando o processo de preservação e conser-
vação, tendo em vista que estes, dentre outros elementos, constituem a matéria-prima para o
turismo. Um exemplo expressivo é o caso da Irmandade da Boa Morte, situada no município
de Cachoeira no Recôncavo Baiano. O segmento do turismo cultural, quando definido por di-
retrizes de sustentabilidade, proporciona tal valorização, estimulando a população residente e
flutuante (turistas e visitantes) a adotar uma postura preservacionista, fortalecendo a origina-
lidade e valores local.
No rol dos efeitos causados pelo turismo no campo social, destacam-se: a modificação
dos padrões de consumo da comunidade autóctone; a transmissão de doenças; a conotação
de servilismo causando baixa autoestima das populações locais e a perda de identidade local.
O turismo “pode transformar-se em instrumento de exploração econômica, prejudicial às pes-
soas, grupos sociais, à sociedade e até à natureza, se for evidenciado o poder incontrolável que
o dinheiro pode chegar a ocupar como supremo valor.” (BENI, 2003, p. 86).
Considerando o efeito positivo do turismo no campo social, devem ser contemplados
fatores como a geração de renda, a integração social, a mobilidade social e a aproximação en-
tre povos de diferentes origens. Ademais, estão o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida
da população autóctone, gerados pela adoção de investimentos voltados para o incremento
da infraestrutura urbana e dos serviços para atender à demanda turística, beneficiando direta-
mente a população local.
Práticas exploratórias de espaços turísticos conferem o caráter negativo do turismo em
Morro de São Paulo no campo ambiental. Os exemplos estão nas construções irregulares ou
em demasia, provocando o indevido uso e ocupação do solo; no consumo excessivo pelo tu-
rismo de massa, gerando a degradação dos recursos naturais; e na alteração da paisagem para
atender às demandas de consumo turístico.
Por outro lado, assim como no campo cultural, quando existe um direcionamento ade-
quado da atividade, é possível considerar o turismo como agente catalisador de ações que
busquem a preservação e conservação do meio ambiente natural, considerando que os recur-
sos naturais compõem a sua matéria-prima. Ações como campanhas de educação ambiental e
definição de taxas de preservação ambiental são algumas das possíveis ações proporcionadas
pelo turismo e que posicionam o seu efeito positivo no campo ambiental. Sobre a questão,
331 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

Luchiari (1998) apresenta a seguinte reflexão:

Entre o setor turístico e as comunidades receptoras, o


primeiro ganha hegemonia das representações da paisagem.
A população local, dominada pelo olhar externo, faz uma
reavaliação seletiva de si mesma e de sua região. Este
processo altera as percepções individuais e imprime uma nova
valoração da paisagem circundante e da cultura local a partir
da substituição de hábitos e comportamentos, da implantação
de outras formas de apropriação da natureza e de um novo
estilo de vida tomado como referência. Para relativizar a
sociedade local e seu modo de vida. (LUCHIARI, 1998, p.25).

Morro de São Paulo, uma das principais localidades turísticas da Bahia, está inserido
na Área de Proteção Ambiental (APA) Ilhas de Tinharé-Boipeba. Criada pelo Decreto Estadual
n°. 1.240, de 05/06/1992, localiza-se no litoral sul do estado da Bahia entre a Ponta do Cur-
ral e a Costa do Dendê, abrangendo o município de Cairu, com uma área total de 43.300 ha,
envolvendo o Arquipélago de Tinharé. Apesar de estar sob a legislação de uma unidade de
conservação, o destino turístico de Morro de São Paulo apresenta sinais e evidências da ausên-
cia de intervenção ou fiscalização efetiva, voltada para a preservação e conservação do meio
ambiente natural e do uso e ocupação do solo. Ainda que a origem dos problemas ambientais
esteja datada antes da criação da APA, não é justificável o cenário atual, visto que, mesmo
após a instalação da unidade de conservação, os problemas anteriores continuaram existindo
(deficiência em saneamento básico, construções em locais impróprios, ausência de fiscaliza-
ção, contaminação de recursos hídricos, ausência do tratamento do lixo coletado) e em alguns
casos agravaram-se (ocupação desordenada do solo).
Com a crescente e acelerada atividade turística, sem diretrizes de planejamento, sur-
gem em Morro de São Paulo elementos da urbanização pelo e para o turismo ao longo dos
tempos, considerando a origem dessa atividade naquele local, a partir dos veranistas da déca-
da de 1940 e, mais tarde, a migração de hippies que por ali foram se instalando e impactando
o cotidiano da comunidade.
A infraestrutura turística instalada, de forma inadequada e sem controle, para atender
à crescente demanda, vem comprometendo o meio ambiente, conforme analisa o Diagnóstico
ambiental do Plano de Desenvolvimento Estratégico do Município de Cairu-Bahia (BID, 2006).1
No diagnóstico do turismo do município de Cairu, apresentado no documento Cairu
2030, datado de outubro de 2005, foi apontado um total de aproximadamente 3.250 leitos em
Morro de São Paulo, considerando o ano de 2004. Conforme análise dos consultores responsá-
veis pela elaboração técnica do documento, esse número já representava um limite excedido
de expansão do turismo para o local, em especial no que tange a novas construções de meios
de hospedagem, principalmente.
Em nova fonte de pesquisa encontrou-se outro dado referente ao número de leitos,
estando registrado que “em novembro de 2003 foram cadastrados 118 meios de hospedagem
(pousadas e hotéis), com 4.344 leitos disponíveis, de acordo com a Bahiatursa” [...]. (CONDER,
2010, p. 65).
O fato de nunca ter sido realizado no destino um inventário completo da oferta turística,
seguindo oficialmente a metodologia proposta pelo Ministério do Turismo até o ano de 2014,
ocasionou a variação de informações encontradas, por não haver registros oficiais de órgãos
competentes com a questão. Contudo, considerando-se o levantamento realizado nas entre-
vistas para a pesquisa em tela, segundo a Secretaria de Turismo do Município de Cairu, em
2013 o destino de Morro de São Paulo apresentava aproximadamente 12.000 leitos. O número

1 O Diagnóstico completo pode ser encontrado no documento “Plano de Desenvolvimento Estratégico do


Município de Cairu-Bahia” (Cairu 2030). Componente A –“Diagnóstico”. Produto P1 – linha de Base da Informação
Socioeconômica e Ambiental. Disponível em <http:// www.cairu.ba.gov.br>.
332 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

apresentado pela Secretaria de Turismo de Cairu, em ocasião da coleta de dados, revela um


crescimento de aproximadamente 300% em um período de 10 anos, se considerados os dados
das duas fontes de pesquisa citadas anteriormente (CAIRU; UMA; BID, 2005; CONDER, 2010).
A partir do documento Cairu 2030, conforme apresentado anteriormente, o qual revela
que em 2004 o local já havia excedido a sua capacidade de crescimento em número de leitos, a
variação em 10 anos é extremamente impactante acentuando problemas de ordem ambiental,
pois tal crescimento aponta a construção de outros meios de hospedagem em áreas inapro-
priadas. Além disso, esse cenário vem alimentando o fluxo, também impactante, causado pelo
turismo de massa
As considerações aqui apresentadas partem da reflexão acerca da importância dos prin-
cípios da sustentabilidade, da exploração dos recursos naturais em consumo massificado, da
presença de equipamentos de hospedagem, mas também de alimentação e outros, concentra-
dos e instalados em áreas específicas, de forma irregular sob o ponto de vista do uso e ocupa-
ção do solo e sobretudo, não respeitando a legislação pertinente a uma área de proteção am-
biental. O crescimento da oferta do número de leitos é diretamente proporcional ao volume da
demanda em períodos de alta temporada, especialmente em feriados prolongados, carnaval,
réveillon. Por outro lado, a evolução da infraestrutura urbana do local – que é indispensá-
vel para que haja as condições mínimas de saneamento básico e abastecimento de água, por
exemplo – não acompanhou, ao longo dos tempos, com a mesma celeridade, a infraestrutura
turística ali instalada, recebendo incremento mais expressivo a partir de 2010.
Outro aspecto é a forte característica de exploração por estrangeiros que o destino
apresenta ao longo do tempo e o seu processo de ocupação desde o início da visitação do
local por veranistas na década de 1940. Os relatos dos moradores mais antigos evidenciam
a relação de troca existente entre visitante e visitado. Havia verdadeira integração, inclusive
nas festividades religiosas e culturais. A acolhida e a hospedagem eram feitas pelos próprios
moradores. Com o despertar da publicidade realizada pelos órgãos oficiais, visando à atração
de estrangeiros, a instalação de infraestrutura foi distanciando cada vez mais a relação entre
a comunidade e os visitantes, uma vez que a hospedagem passa a ser não mais nas casas dos
moradores, assim como as refeições e demais serviços. E dentro desse processo, a ausência
de controle gerou um cenário de ocupação do solo de forma desordenada, estimulando a
urbanização turística. Na verdade, a urbanização de Morro de São Paulo confunde-se com a
urbanização turística. Pelo turismo, foram instalados elementos da vida urbana, e para o tu-
rismo, novas instalações foram sendo necessárias. A vida simples e bucólica foi invadida pelo
ambiente cosmopolita.

Considerações Finais
A partir dos autores selecionados para a pesquisa bibliográfica da pesquisa ora apresen-
tada, destaca-se que o espaço pode ser compreendido sob as óticas cultural, social, ideológica,
político-jurídica e econômica. Na perspectiva econômica, constata-se que a “produção” das
cidades – infraestrutura, equipamentos e serviços –, inevitavelmente associa-se a em certa
medida à privatização do espaço público, em submissão ao poder do grande capital. Dentro da
relação urbanização e espaço, os autores estudados para o constructo teórico desta pesquisa
revelam a urbanização como processo de criação, a partir da ocupação do espaço. Nesse con-
texto, evidenciam-se também as relações de dependência entre países desenvolvidos e não
desenvolvidos. Ainda no contexto socioeconômico e político-ideológico, a urbanização trans-
forma as cidades. Estas, por sua vez, assumem duplo papel: lugar de consumo e consumo do
lugar, como é o caso dos destinos turísticos, notadamente os destinos litorâneos.
Na década de 1960, a ocupação do litoral foi caracterizada por dois fenômenos especifi-
camente: a popularização das residências de veraneio e os movimentos migratórios decorren-
tes da industrialização dos centros urbanos.

A funcionalidade turística dos lugares constrói certa materialidade, determinando a ins-


333 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.47

talação de infraestrutura urbana nas áreas mais valorizadas, e assim provocando o distancia-
mento das áreas periféricas, dos benefícios possíveis provindos da atividade nessas cidades.
Na urbanização turística, as cidades são projetadas pela determinação econômica da indústria
da construção civil e pelo poder de consumo para atender ao turista e ao turismo. Esse espaço
urbano passa a ser produzido para o consumo turístico, cuja finalidade é satisfazer as necessi-
dades e desejos dos visitantes e, dessa forma, viabilizar a expansão de uma economia baseada
no turismo. Por outro lado, é viabilizado o acesso a recursos urbanos de importância, como a
infraestrutura de saúde, saneamento, comunicação e abastecimento de água.
Verifica-se que o destino, ao longo de muito tempo, não apresentou organização ou
suporte direcionados à construção de diretrizes para o planejamento da atividade e, com isso,
promoveu um cenário propício ao descontrole do uso e ocupação do solo, seja na instalação
de empreendimentos turísticos, seja na exploração equivocada do recurso natural ali existen-
te, seja ainda na instalação de unidades residenciais. Em todos os casos, o impacto ao meio
ambiente provocou cenários de degradação os quais, com o passar do tempo, tornaram-se
permanentes, associados à ausência de medidas eficazes de reversão ou mitigação. O turismo
de massa em Morro de São Paulo, típico de lugares com apelo de sol e praia, em países não
desenvolvidos, comprometeu – e compromete até hoje – o patrimônio histórico-cultural e
natural do local.
Os modelos de ocupação espacial pelo turismo, identificados ao longo da pesquisa e
apresentados na presente dissertação, apontam que o consumo do espaço pelo turismo ocor-
re de forma cíclica – apresentando características que compreendem aspectos envolvendo a
oferta e a demanda turística, mas que, em geral, ocorrem em virtude da saturação pelo consu-
mo em massa, associada à ausência de estratégias inovadoras e à não diversificação da própria
oferta –e provoca o declínio, gerando retração de demanda. Esta, por sua vez, passa a buscar
outros destinos.
Ao término da pesquisa, da compilação e sistematização dos resultados encontrados,
constatou-se que a dinâmica espacial do objeto da pesquisa foi transformada, ao longo do
tempo, pela influência direta dos elementos presentes no processo de urbanização turística,
sendo com isso impactadas as relações da comunidade com os elementos culturais.
O turismo e a infraestrutura instalada, a partir dele, despertaram na comunidade o in-
teresse por atividades que ocuparam o espaço das manifestações populares de Morro de São
Paulo. Além disso, novas relações foram estabelecidas, em função de nova ordem econômica
gerada pelo turismo. A população local passa a considerar a atividade turística como única
alternativa econômica e geradora de renda, dada a quantidade de meios de hospedagem e
restaurantes instalados para atender à demanda turística.

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Recebido em 02 de junho de 2021.
Aceito em 15 de junho de 2021.

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