WERNECK, H. Há Razões para Acreditar em Si Mesmo (Presença Pedagógica)
WERNECK, H. Há Razões para Acreditar em Si Mesmo (Presença Pedagógica)
WERNECK, H. Há Razões para Acreditar em Si Mesmo (Presença Pedagógica)
HÁ RAZÕES
PARA
ACREDITAR
EM SI
MESMO
N
ós, professores, costumamos tencializadas pelas contingências dos
cair em certo pessimismo por tempos em que exercemos o magis-
razões históricas. Se formos tério. Hoje, no Brasil, a sociedade não
pesquisar as origens do ma- dá aos mestres a devida considera-
gistério, na antiga Grécia, seremos ção, o devido respeito e nem os consi-
tomados de um grande espanto: os dera como profissionais indispensáveis
soldados eram as pessoas considera- numa sociedade civilizada.
das vitoriosas porque defendiam a pá-
tria e realizavam conquistas. Se fossem Para constatar tal fato, basta ver na casa
derrotados e não tivessem mais con- de professores e professoras se os filhos
dições de integrar as fileiras dos exér- são incentivados a seguir a carreira do
citos, eram enviados para exercer o magistério. Geralmente não! Todo esse
magistério. conjunto diminui a autoestima desse
profissional, com reflexos em suas ati-
Outra razão de nossas tristezas é o iní- vidades e em sua própria vida.
cio de nossa carreira profissional. Os
professores começaram escravos. Re- Para vencer essas forças históricas ne-
cebiam vestes apropriadas para viver gativas, precisamos encarar com co-
nas cortes, alimentavam-se junto aos ragem as estruturas que ajudaram na
príncipes, educavam os futuros reis, vi- formação da civilização ocidental: a
vendo como se fossem da realeza, no cultura grega, a judaica e a cristã me-
entanto eram escravos e nada rece- dieval. Na cultura grega encontramos
biam pelo trabalho realizado. o pessimismo. Ulisses deixa Tróia, tem
saudades e retorna; a cultura judaica
Essas questões históricas ficaram gra- reforça a culpa e, por isso, nos senti-
vadas em nossa memória e são po- mos culpados por tudo o que ocorre
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de errado dentro de uma escola; a cul- a sociedade antiga dava mais valor à
tura cristã medieval molda o caráter da força física que à força mental, cabia
civilização com forte conotação pessi- ao professor ficar com a força mental
mista sobre a sexualidade. Nós somos e sem o poder.
o resultado desse caldo cultural que
explicito em meu livro Desaprender, Tudo isso nos envolve e nos influen-
reaprender e desobedecer, no capítulo cia. Olhamos ao redor e não percebe-
em que coloco esse líquido dentro de mos apoio. Quando, em plena pandemia
um caldeirão, cuidado pelas bruxas. do coronavírus, as escolas pensaram
em abrir suas portas, surgiram inúmeras
Citando outro livro de minha auto- justificativas alegando que as crianças
ria, Professor, acredite em si mesmo, transmitiam menos o vírus que os adul-
afirmo: tos, esquecendo-se alguns de que muitos
professores não teriam contatos, apenas,
Theodor Adorno, da escola de com as crianças: deveriam enfrentar os
Frankfurt, junto com Hockenheim e meios de transporte com aglomerações.
outros neomarxistas, como Jabob Custou-nos perceber a necessidade de
Benjamin, traçam um perfil do pro- imunização imediata dos professores
fessor como aquela pessoa que imita para que essa parcela importante da so-
o poder sem ter poder. O general tem ciedade pudesse voltar às suas ativida-
poder e até o soldado, o advogado e des. E, neste aspecto, o medo foi duplo,
o médico têm poder. O produtor rural atingiu os professores e os pais.
tem poder porque cuida do campo
e vê a planta crescer, o marceneiro O momento mundial é complexo e nos
tem o poder de transformar a ma- atinge porque há uma parcela da so-
deira em móveis de uma casa. Como ciedade que aderiu ao negacionismo.
Foram duas gravações ao estilo TED. Fiz fotos em casamentos, batizados, festas
uma live para a cidade de Porto Nacio- de quinze anos. Essas pessoas, cine-
nal, em parceria com o Sebrae do To- grafistas ou fotógrafos, mesmo que não
cantins, que reuniu 900 professores no tenham feito curso de comunicação so-
chat, envolvendo os estados do Tocan- cial, sabem iluminar, lidar com câmera e
tins, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Pará. preparar um cenário. Aprenda com eles.
Gravei uma entrevista para um canal de Mas se você trabalhar numa escola de
TV, canal aberto, para veiculação em uma capital ou cidade com um contin-
programa dominical, com duração de gente populacional expressivo e houver
dez minutos, o que significa um tempo vontade de ajustar o ensino a uma mo-
invejável numa TV. dernidade ou exigência do momento,
com a provocação de um ensino a dis-
Para melhorar sua autoestima, sua tância, saiba que não é complicado.
competência e a capacidade de lidar
com situações complexas, você pre- Os professores de educação artística
cisa aprender tudo isso como condição da escola poderão organizar cenários
de melhorar o conceito da sociedade altamente criativos. Eles sabem fazer,
a seu respeito, criar condições de ter eles sabem criar. Todo o corpo técnico
um salário melhor e ser um profissional que lida com plataformas saberá ilu-
adequado às exigências deste século. minar um estúdio e ensinará a você
como se trabalha diante de uma câ-
Mas com quem aprender, se não re- mera. Tudo isso trará uma nova fase
sido numa cidade grande? Pois bem, para o ensino dessa escola, e quando
vou para o interior e mostro a você que você dominar essas novas tecnologias,
lá, apesar de ser um lugar distante de poderá sentir-se vitorioso, feliz e rea-
um grande centro, há quem filme ou tire lizado. Não fiz uma exposição teórica.