Artigo Academia Edu - O Princípio Constitucional (-) Da Função Social Da Empresa À Luz Do Estado Socioambiental de Direito.
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RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
1 BERCOVICI, Gilberto. Economia, Direito e Desenvolvimento: Aula 01: As Relações entre Direito e
Economia. Apostila da Pós-graduação EAD em Direito Constitucional da Academia Brasileira de
Direito Constitucional. Curitiba, Paraná.2020.
2 Ibidem.
3 Ibidem.
O ESTADO
Com Burdeau, os autores argumentam que o Estado, nessa sua nova feição,
procura ligar o Poder a uma função e “para que se formasse o conceito de Estado
era necessário que a potência, que é a possibilidade de ser obedecido, se
reforçasse com a autoridade, que é uma qualificação para dar a ordem.” 8 Dito de
outro modo:
4 “o nome Estado é um novo nome para uma realidade nova: a realidade do Estado precisamente
moderno, a ser considerado como uma forma de ordenamento tão diverso dos ordenamentos
precedentes que não podia mais ser chamado com os antigos nomes. Assim, diz o mestre italiano, o
nome Estado deve ser usado com cautela para as organizações políticas existentes antes do novo
ordenamento centralizador, institucionalizado, denominado por Maquiavel de Estado.“ STRECK,
Lenio Luiz. BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis. Ciência Política & Teoria do Estado. 8.ed.rev. e
atual.3.tir. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2019. p.40.
5 “naquilo que se passou a denominar de Estado Moderno, o Poder se torna instituição (uma
empresa a serviço de uma ideia, com potência superior à dos indivíduos). É a ideia de uma
dissociação da autoridade e do indivíduo que a exerce. O Poder despersonalizado precisa de um
titular: o Estado. Assim, o Estado procede da institucionalização do Poder, sendo que suas condições
de existência são o território, a nação, mais potência e autoridade. Esses elementos dão origem à
ideia de Estado. Ou seja, o Estado Moderno deixa de ser patrimonial. Ao contrário da forma estatal
medieval, em que os monarcas, marqueses, condes e barões eram donos do território e de tudo o
que nele se encontrava (homens e bens), no Estado Moderno, passa a haver a identificação absoluta
entre Estado e monarca em termos de soberania estatal. L’État c’est moi.” Ibidem. pp. 42-43.
6 Ibidem.p.40.
7 Ibidem.p.40.
8 Ibidem. p.42.
ascensão), para que estes pudessem comercializar e produzir
riquezas (e delas desfrutar) com segurança e com regras
determinadas. Assim, enquanto no medievo (de feição
patrimonialista) o senhor feudal era proprietário dos meios
administrativos, desfrutando isoladamente do produto da cobrança
de tributos, aplicando sua própria justiça e tendo seu próprio exército,
no Estado centralizado/institucionalizado, esses meios
administrativos não são mais patrimônio de ninguém. É esta, pois, a
grande novidade que se estabelece na passagem do medievo para o
Estado Moderno.”9 [grifos nossos].
O DIREITO
9 Ibidem.p.44.
10Ibidem. pp.44-45.
11 Sob o rótulo de Estados Constitucionais, é possível identificar determinados modelos, que, em
termos gerais e de acordo com difundida tipologia, podem ser reunidos em pelo menos três grupos,
designadamente, o Estado Constitucional Liberal (Estado Liberal de Direito), o Estado Constitucional
Social (o Estado Social de Direito) e o Estado Democrático de Direito, que, para o autor mencionado,
assume a feição de um Estado também Social e Ambiental, que pode, mediante uma fórmula-
síntese, ser também designado como um Estado Socioambiental, ou mesmo um Estado
Socioambiental e Democrático de Direito. Nesse sentido, ver: MITIDIERO, Daniel. SARLET, Ingo
Wolfgang. MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de direito constitucional [livro eletrônico]. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2021. E-book. ISBN: 9786555593402. Disponível em:
https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:754447. Acesso em: 03/10/2021.
Já a origem do Direito tem, em si, uma complexidade derivada dos diversos
termos e significados que podemos atribuir a este fenômeno, podendo se falar em
seu conceito etnológico, historicista-etimológico, jusnaturalista, juspositivista, e pós-
positivista.
12 ABBOUD, Georges. CARNIO, Henrique Garbellini. OLIVEIRA, Rafael Tomaz de. Introdução à
teoria e à Filosofia do Direito.3.ed.rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2015.p.92. E ainda: “Por fim, projetando-se de forma histórica a análise, chegar-se-ia à figura do
Estado Moderno e todo sua configuração política-jurídica, o que ocasiona outro tipo de reducionismo,
metodologicamente dizendo, pois reduz a política e o próprio direito a uma forma jurídica de exercício
do poder.” Ibidem.p.92.
13 Ibidem.p.128.
A ORDEM ECONÔMICA
14 Para Eros Grau, a ordem econômica é o: “conjunto de normas que define, institucionalmente, um
determinado modo de produção econômica. Assim, ordem econômica, parcela da ordem jurídica
(mundo do dever-ser), não é senão o conjunto de normas que institucionaliza uma determinada
ordem econômica (mundo do ser).” GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de
1988. 12.ed. São Paulo: Malheiros Editores LTDA. 2007.p.72
15 Segundo Gilberto Bercovici: "A população deixa o campo e passa a morar nos centros urbanos, o
que demandou soluções de logísticas, transporte, energia, dentre outros. Com efeito, o comércio se
intensifica e origina novos problemas regulatórios. O direito do trabalho se fortalece no afã de
solucionar as questões laborais, pois o direito privado tradicional não mais conseguia suprir as
demandas sociais. É neste cenário, localizado temporalmente na Primeira Guerra, que o direito
econômico é pensado: a princípio, como ramo provisório, no pós-guerra se afirmou como domínio
que pensa a organização do sistema econômico, mas também leva em consideração os serviços
públicos, a infraestrutura dos Estados, a organização industrial, o planejamento da economia, enfim,
todas as relações econômicas e sociais que estruturam o sistema de geração, produção e
distribuição de riquezas.” BERCOVICI, Gilberto, op.cit.
16 “o século XX propiciou o processo de ampliação da participação popular, do direito de voto nas
sociedades europeias e americanas. Mencionamos a Constituição alemã, de Weimar, por figurar
como um texto constitucional que influenciou o processo de feitura das demais cartas europeias. Ela
não previa apenas as estruturas dos poderes e direitos individuais, indo além ao garantir também
direitos sociais e instrumentos para a sua garantia, demandando que o Estado alemão atuasse nas
esferas econômica e social. A única exceção ocidental anterior à Constituição de Weimar foi a
Constituição do México, de 1917, que também é fruto de um contexto específico (revolução
mexicana).”Ibidem.
17 GRAU, Eros Roberto, op.cit., p.66.
iniciativa e de concorrência e, consequentemente, na livre contratação de mão de
obra18. O modelo capitalista pressupõe a liberdade (liberalismo econômico) e a
propriedade dos bens de produção. O regime jurídico, portanto, deverá assegurar
esses dois pressupostos com que trabalha o sistema capitalista de economia, sendo
certo que esse núcleo normativo comporá (ao lado de outros elementos) o Direito
econômico19.
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
18 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional Econômico. 3. ed. São Paulo: Método,
2011.p.34.
19 Ibidem.p.36.
20 De acordo com André Ramos Tavares: “O capitalismo praticado pelas nações do planeta não é
mais essencialmente liberal-individualista, tendo inclusive, pois, agregado notas próprias do
socialismo, sem que para este pretenda caminhar. É o caso da adoção de valores como o respeito à
função social da propriedade e a defesa de investimentos estatais em políticas sociais de educação,
saúde e saneamento, sem se falar da própria ampliação interventiva do Estado.” Ibidem. p.43.
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995).
23 Ibidem. p.73.
24 Art.174 da Constituição Federal da República de 1988.
25 Mas, conforme alerta a professora Ana Frazão Vieira de Mello: “a própria ideia de Estado de
Direito traz em si a impossibilidade de que os instrumentos fundamentais da integração social sejam
o dinheiro ou o poder político. Com efeito, o Estado de direito implica a estruturação da sociedade a
partir do direito, de forma que a política e a economia é que devem ajustar as suas racionalidade ao
direito e não o contrário, pois o direito possui como característica a possibilidade real da integração
social por meio de normas e princípios, motivo pelo qual não pode renunciar à sua pretensão de
normatividade, sob pena de a econômica e a política subtraírem-se por completo à sua regulação,
transformando-o em um fenômeno periférico.” MELLO, Ana Frazão Vieira de. Direito da concorrência
[livro eletrônico]. São Paulo: Saraiva, 2017. E-book.202 ISBN: 9788547219604. Disponível em:
https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:621064. Acesso em: 13/11/2021.
26 Discorrem os autores: “Assim, tendo em conta os novos desafios gerados pela crise ecológica e
pela sociedade tecnológica e industrial, a configuração de um novo modelo, superando os
paradigmas antecedentes, respectivamente, do Estado Liberal e do Estado Social, passou a assumir
um lugar de destaque. Entre outras denominações, registram-se as seguintes nomenclaturas para
designar a nova “roupagem ecológica” incorporada pelo Estado Democrático de Direito na
atualidade, especialmente no âmbito ocidental e tal qual também consagrado pela Constituição
Federal de 1988: Estado Pós-social, Estado Constitucional Ecológico, Estado de Direito Ambiental,
Estado de Direito Ecológico , Estado Socioambiental , Estado do Ambiente, Estado Ambiental,
Estado de Bem-Estar Ambiental , Estado Verde , Estado de Prevenção e Estado Sustentável.”
KRELL, Andreas Joachim [et al.]; SARLET, Ingo Wolfgang, org. Estado socioambiental e direitos
fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. pp.15-16.
humano em padrões sustentáveis, inclusive pela perspectiva da noção ampliada e
integrada dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais (DESCA). 27
Deste modo:
27 Ibidem. p.13.
28 Ibidem. p.17
“A função social da empresa é importante princípio e vetor para o
exercício da atividade econômica, tendo em vista que o seu sentido
advém da articulação entre os diversos princípios da ordem
econômica constitucional. Longe de ser mera norma interpretativa e
integrativa, traduz-se igualmente em abstenções e mesmo em
deveres positivos que orientam a atividade empresarial, de maneira a
contemplar, além dos interesses dos sócios, os interesses dos
diversos sujeitos envolvidos e afetados pelas empresas, como é o
caso dos trabalhadores, dos consumidores, dos concorrentes, do
poder público e da comunidade como um todo. Dessa maneira, a
função social da empresa contém também uma essencial função
sistematizadora do ordenamento jurídico, sendo adensada por
intermédio de normas jurídicas que têm por objetivo compatibilizar os
diversos interesses envolvidos na atividade econômica ao mesmo
tempo em que se busca a preservação da empresa e da atividade
lucrativa que assim a qualifica.”29
Mas, atenção. A função social não tem por fim aniquilar liberdades e
direitos dos empresários e tampouco de tornar a empresa mero instrumento para
a consecução de fins sociais. Como bem elucida Ana Frazão, “a função social tem
por objetivo, com efeito, reinserir a solidariedade social na atividade econômica
sem desconsiderar a autonomia privada, fornecendo padrão mínimo de
distribuição de riquezas e de redução das desigualdades.” 30
29 MELLO, Ana Frazão Vieira de. Função social da empresa. In: TOMO Direito Comercial. São
Paulo: Enciclopédia Jurídica da PUCSP, 2018. Disponível em:
<https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/222/edicao-1/funcao-social-da-empresa>. Acesso em: 1
out. 2021. E ainda, essa renomada professora nos ensina que: “ o art. 170 traz diversos princípios
que orientam e direcionam o exercício da livre iniciativa empresarial, a exemplo da livre concorrência,
da proteção dos empregados, da defesa do consumidor e do meio ambiente, da redução das
desigualdades e do tratamento diferenciado à empresa de pequeno porte. A função social, nesse
sentido, mantém relação com todos esses princípios, procurando destacar que o fim da empresa é o
de proporcionar benefícios para todos os envolvidos diretamente com a atividade e, ainda, para a
coletividade. Não é por outra razão que há considerável ação do legislador nos assuntos descritos
pelo art. 170, com vistas a concretizar tais princípios em regulação jurídica específica. É o que se
verifica, por exemplo, nas normas de proteção da concorrência e de repressão estatal sobre atos
praticados por detentores de poder econômico, que adensam o princípio da livre concorrência (CF,
art. 170, IV), ao promover seu objetivo de garantir nível de competitividade que tanto possibilite a
liberdade dos agentes econômicos que pretendam ingressar ou permanecer no mercado, quanto
assegure aos consumidores menores preços advindos da liberdade de escolha e da difusão do
conhecimento econômico. No mesmo sentido, o princípio da defesa do consumidor (CF, art. 170, V)
concede proteção diferenciada aos destinatários finais de produtos e serviços, o que se concretiza
por intermédio do Código de Defesa do Consumidor, aplicável a todas as atividades empresariais.No
que diz respeito à proteção dos trabalhadores, consubstanciada pela busca ao pleno emprego (CF,
art. 170, VIII) e pelos direitos fundamentais dos trabalhadores previstos pelo art. 7º da Constituição
de 1988, a função social age no sentido de legitimar ou promover a implementação de mecanismos
para a distribuição dos resultados da atividade empresarial e a viabilização de iniciativas de co-
gestão. Importa, ainda, destacar que a proteção ao meio ambiente (CF, art. 170, VI) mantém
importante vinculação com a função social da empresa, na medida em que impõe à atividade
empresarial vários deveres positivos em prol de tal objetivo, limitando em grande medida seu âmbito
de atuação com vistas a preservar os recursos naturais e promover o desenvolvimento econômico
sustentável.” Ibidem.
30 Ibidem. Nessa mesma linha de raciocínio, Ana Frazão expõe que: “Por essa razão, o debate entre
contratualismo e institucionalismo ainda mantém relevância, ainda que sob nova roupagem. É o que
se verifica na oposição entre o modelo clássico (shareholder-oriented), direcionado à proteção dos
interesses dos sócios, personagens centrais no regime de governança corporativa das empresas; e o
O que ocorre em razão da função social da empresa é o aumento
exponencial desses conflitos, que deixam de se referir apenas aos acionistas e aos
gestores, posto que os interesses dos sócios, embora importantes, não são os
únicos que merecem tutela, sendo igualmente dignos de proteção os interesses dos
trabalhadores, dos consumidores, do poder público e da própria coletividade. 31
Destarte, a função social da empresa não tem por objetivo tolher o âmbito de
atuação dos empresários por intermédio de normas extremamente abarcantes, mas
sim de oferecer tratamento adequado ao correto equilíbrio entre poder e
responsabilidade39.
35 Ibidem.
36 Ibidem.
37 “Importa rememorar, portanto, que embora diversos interesses sejam merecedores de tutela, o
interesse da empresa deve prevalecer sobre o de qualquer grupo envolvido, enquanto que a função
social da empresa, enquanto consequência direta da articulação dos princípios da ordem econômica
constitucional, tem o condão de ampliar o rol de destinatários da atividade empresarial, sendo
forçoso reconhecer que de tal norma geral é possível deduzir normas imperativas a serem
observadas pelos gestores.” Ibidem.
38 Ibidem.
39 “A dimensão de limitação do exercício de direitos e liberdades mantém também, importante
relação com o princípio da boa-fé objetiva, na medida em que o exercício de direitos subjetivos ou
competências administrativas na gestão empresarial deverá observar os limites qualitativos e
quantitativos que tal princípio impõe, especialmente diante de interesses constitucionalmente
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
protegidos. A boa-fé objetiva, na verdade, representa parâmetro de aferição do abuso de direito, uma
vez que serve para delinear o alcance das liberdades dos gestores no que diz respeito às relações
com terceiros interessados na atividade empresarial em questão. Assim, o princípio da boa-fé – para
além de produzir deveres positivos e de realçar o dever de cuidado – impõe que as decisões sejam
tomadas por intermédio de procedimento razoável e bem informado. Essa dimensão negativa da
função social da empresa igualmente não se resume a enunciados normativos gerais, mas encontra
densificação em diversas regras que têm por objetivo a limitação do exercício dos direitos e
liberdades empresariais em prol do atendimento do interesse social.” Ibidem.
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de
empresa: empresa e estabelecimento: títulos de crédito.24.ed.rev.e atual. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021.
KRELL, Andreas Joachim [et al.]; SARLET, Ingo Wolfgang, org. Estado
socioambiental e direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2010.
MELLO, Ana Frazão Vieira de. Função social da empresa. In: TOMO Direito
Comercial. São Paulo: Enciclopédia Jurídica da PUCSP, 2018. Disponível em:
<https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/222/edicao-1/funcao-social-da-
empresa>. Acesso em: 1 out. 2021.
STRECK, Lenio Luiz. BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis. Ciência Política & Teoria
do Estado. 8.ed.rev. e atual.3.tir. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2019.