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UNESP – Universidade Estadual Paulista - Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais. Marília
– SP – Brasil. 17.525-900 - [email protected]
142 Estudos de Sociologia, Araraquara, v.11, n.21, p.129-142, 2006 Estudos de Sociologia, Araraquara, v.11, n.21, p.143-159, 2006 143
Vinício C. Martinez Estado moderno ou Estado de Direito Capitalista
um Soberano (indivíduo ou assembléia) e um só Direito (Hobbes não via de modo [...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações
muito diferente). determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que
Há aqui uma relação patrilinear e hierárquica (de subordinação) entre correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas
o Estado e o Direito. Essa constatação ficaria mais clara nos idos dos séculos materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica
XVIII e XIX, a partir da proclamação positivista: “o Direito legítimo é o da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica
Direito que emana do Estado”. Portanto, na ordem da produção capitalista, e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O
a lógica não poderia fugir a esse movimento (de certo modo) retilíneo ou modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social,
relativamente uniforme ou ainda limitado em termos de variedades e de política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina
varáveis, quer emanassem do Estado, quer expressassem o sistema produtivo: o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência. Em
“No modo de produção taylorista/fordista, introduzindo o consumo de massa das certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade
mercadorias estandartizadas, Ford podia ainda dizer que ‘o consumidor podia escolher entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é a sua
entre um modelo T5 preto e um outro T5 preto” (NEGRI; LAZZARATO, 2001, expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham
p.44). movido até então. (MARX, 2003, p.5).
No século XX – com continuidade no início do século XXI – percebe-se Isto nos faz recordar que o Estado (Direito) e a Economia (Capital), nas origens
uma variação nesse modelo da lógica unitária do Estado, em que o próprio Estado do Estado Moderno têm uma relação complementar, determinada, necessária,
de Direito Legitimado nem sempre recorre ao Estado, para obter sua chancela e independente, mas contraditória, oposta, negativa, excludente. Portanto, nesta fase
subvenção – a exemplo dos muitos movimentos sociais (dentre as quais o Movimento inicial, o Estado Moderno teve de concentrar o poder para expandir as riquezas
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)) que procuram voltar/direcionar o nacionais; já o capitalismo precisou expandir poderes (Colonização) a fim de
mesmo direito de propriedade contra os proprietários ineficientes. incrementar os níveis de concentração e de acumulação de capitais. Ou seja, ambos
O chamado Estado Paralelo é outro exemplo dessa nova dinâmica social, constituíram as duas faces da mesma moeda, como dois eixos atrativos e expansivos,
política e econômica direcionada contra o Estado e, portanto, contra o Direito que aproximativos e eqüidistantes, mas ao final sempre movidos em direções oblíquas.
dele decorra. A produção conhecerá as famosas S.As. que igualmente pulverizam Entre Estado e capital há uma relação interposta, interdependente (não recalcitrante,
qualquer noção de centralidade. A própria racionalidade que tanto opera e gere a nem exclusiva ou excludente), como veremos ao longo do texto.
política quanto a economia, enfim, agora terão de se haver com acentralidades,
pluralidades e pluralismos2.
O que é o Estado moderno?
De qualquer modo, o Estado Moderno nasce pautado por essa busca de
centralidade, concentração e centralização do poder que servirá imensamente ao
desenvolvimento do sistema capitalista de produção. O Estado Forte teria recursos O Estado Moderno não é só uma superestrutura política representativa do
econômicos suficientes para impulsionar o capital para além da Europa, em busca capital. O Estado Moderno é o eixo, o suporte funcional (político-administrativo),
da ampliação da produção à custa da descoberta de novos mercados de trabalho e a força agregadora, a força motriz do capitalismo nascente. Como nos diz
de produção, e, tempos depois, também como mercado de consumo. Mészáros:
De todo modo, sob o capital, o Estado de Direito – especialmente aquele que se Sem a emergência do Estado moderno, o modo espontâneo de controle
formava ao longo do século XIX (e que recebia as críticas de Marx) – é implicativo, metabólico do capital não pode se transformar num sistema dotado de microcosmos
mas sobretudo receptivo, de certo modo complacente, benevolente em relação à socioeconômicos claramente identificáveis – produtores e extratores dinâmicos do
dinâmica que se interpunha pelo capital à mesma época. E esta seria a crítica de Marx trabalho excedente, devidamente integrados e sustentáveis. Tomadas em separado,
no conhecido Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política: as unidades reprodutivas socioeconômicas particulares do capital são não apenas
incapazes de coordenação e totalização espontâneas, mas também diametralmente
2
Aliás, um fenômeno que, por esse ângulo, remete-nos ao Estado Medieval, ao feudalismo e suas opostas a elas, se lhes for permitido continuar seu rumo disruptivo, conforme
acentralidades.
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a determinação estrutural centrífuga de sua natureza. Paradoxalmente, é esta O Estado moderno – na qualidade de sistema de comando político abrangente
completa “ausência” ou “falta” de coesão básica dos microcosmos socioeconômicos do capital – é, ao mesmo tempo, o pré-requisito necessário da transformação das
constitutivos do capital – devida, acima de tudo, à separação entre o valor de uso e a unidades inicialmente fragmentadas do capital em um sistema viável, e o quadro
necessidade humana espontaneamente manifesta – que faz existir a dimensão política geral para a completa articulação e manutenção deste último como sistema
do controle sociometabólico do capital na forma do Estado moderno. (MÉSZÁROS, global. Neste sentido fundamental, o Estado – em razão de seu papel constitutivo
2002, p.123). e permanentemente sustentador – deve ser entendido como parte integrante da
É interessante notar que normalmente se associam as forças centrífugas, própria base material do capital. Ele contribui de modo significativo não apenas
dissipativas do foco e do núcleo do poder, ao Estado Medieval, dada a própria para a formação e a consolidação de todas as grandes estruturas reprodutivas da
dispersão dos centros de controle e de comando político e normativo. E aqui vimos sociedade, mas também para seu funcionamento ininterrupto. (MÉSZÁROS, 2002,
essa força dispersiva na ordem da própria estrutura do capital, dado o crescimento p.124-125).
exponencial das forças produtivas (pensemos, na linha histórica, nos níveis de Portanto, a famosa Razão de Estado (de Maquiavel) não passa dessa estrutura
transformação de 1750 para cá). O Estado Moderno atua como mecanismo aglutinador racional do Estado servindo ao desenvolvimento das forças produtivas. A Razão de
das forças disruptivas do capital – daí o Estado Moderno ser um tipo de eixo do Estado não é um bicho-papão, um Leviatã pronto a nos devorar como no Livro de
capital e não só a mera superestrutura, mas sim parte integrante da engrenagem, ou Jó (40-41): “Essas estruturas reprodutivas estendem sua influência sobre todas as
seja, do metabolismo. coisas, desde os instrumentos rigorosamente repressivos/materiais e as instituições
O Estado Moderno, então, tem força de aglutinação, de justaposição das forças jurídicas do Estado, até as teorizações ideológicas e políticas mais mediadas de sua
econômicas, políticas e jurídicas: raison d’être e de sua proclamada legitimidade” (MÉSZÁROS, 2002, p.125).
A articulação do Estado, aliada aos imperativos metabólicos mais internos do Assim, o Estado Moderno é a forma e a roupa do capital é ainda, mais
capital, significa simultaneamente a transformação das forças centrífugas disruptivas precisamente no que nos interessa, a vestimenta íntima, é a roupa de baixo do Estado
num sistema irrestringível de unidades produtivas, sistema possuidor de uma estrutura Capitalista. Essa movimentação histórica vem desde o Estado Hobbesiano, passando
de comando viável dentro dos tais microcosmos reprodutivos e também fora de suas pelo liberalismo clássico até o constitucionalismo americano. A diferença com os
fronteiras. (MÉSZÁROS, 2002, p.123). dias de hoje é que vivemos a enésima fase histórica do Estado Moderno. No entanto,
continua a concentração de poder e a centralização da produção (a centralização do
Neste sentido, o Estado Moderno é catalisador das forças sociometabólicas do
controle social), como forma política e jurídica de controle, dominação e reificação do
capital. Daí dizer-se que nem sempre o Estado Moderno, datado de Hobbes, necessita
trabalho (“a objetividade reificada”: o trabalho como “fator material de produção”).
fazer uso do poder coercitivo e punitivo: “Portanto, enquanto se puder manter tal
Porém, há sutilezas, como por exemplo a própria forma jurídica do Estado de
dinâmica expansionista, não há necessidade do Leviatã hobbesiano” (MÉSZÁROS,
Direito Capitalista.
2002, p.123). E é assim que se domestica (apenas indicando a direção3) esta força
expansionista em que se agregam o político, o econômico e o jurídico: “É assim que se Ao Estado Moderno inercial de Hobbes4, sobrepôs-se o liberalismo e o
redefine de maneira viável o significado do bellum omnium contra omnes hobbesiano constitucionalismo presentes nos séculos XVII e XVIII..Depois, no século XIX,
no sistema do capital, presumindo-se que não haja limites para a expansão global” institui-se o Estado de Direito e do século XX em diante floresceu a democracia
(MÉSZÁROS, 2002, p.124). de massas, e isso não é pouca coisa. Por isso, o controle do Estado é mais sutil
e, mesmo que o Leviatã esteja vivo e atuante como poder repressivo (a forma
Desse modo, em plena era de expansão global (aliás, desde as grandes
bonapartista de Estado: imperiosa, ditatorial e muito bem adaptada ao nosso
navegações) o Estado Moderno vem se portando como pré-requisito do capital e
conhecido mandonismo), a forma de agir também mudou.
não um mero reflexo político e jurídico. É parte integrante, constitutiva do capital,
não mero adereço jurídico-administrativo: Hoje o Estado também lida com uma tendência acentuada da socialização
da produção e o chamado trabalho imaterial, virtual, em que a força de trabalho
4
Tem uma matriz básica na idéia de que a centralização administrativa do poder e a concentração
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Porque as forças disruptivas, expansionistas são muito mais fortes do que qualquer Estado-Nação. pessoal desse poder devem proporcionar estabilidade à ordem pública.
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dispersa (quase sem-matéria) é uma de suas faces e fases; talvez a melhor forma de ser tornado independente do querer individual e, em especial, do arbítrio de quem
ajuste do trabalho ao capital, pois parecem corresponder estruturalmente o trabalho possa ter interesse em violá-la. (DEL VECCHIO, 2005, p.16).
imaterial e o capital como controle social sem sujeito. Além disso, é óbvio, há todo
o grave contexto social do não-trabalho. A lei terá de demonstrar um mínimo de sensibilidade social, sob pena de não
ser consensual e mesmo que nunca venha a ser harmônica – se entendermos que não
A figura do capitão da indústria é só uma figura, um capitão, um quixotesco
é possível harmonia com lutas de classes.
perdido em meio ao anonimato da produção e do consumo: um ermitão do
capitalismo. As indústrias de capital pulverizado, como as Sociedades Anônimas, A produção legislativa, ainda que de acordo com o mote capitalista, não
desde seu surgimento já socializavam o controle (a não ser que houvesse controle é nenhuma aberração em termos de se conferirem privilégios a alguns poucos
acionário majoritário), bem como o fenômeno da transnacionalização dos grandes abnegados e muitos castigos aos desafortunados e mal-nascidos. O real processo
conglomerados que provocaram ainda mais a desnacionalização do capital. Isto anulou ideológico que opera a própria fabricação legislativa no interior do Estado de Direito
qualquer princípio de reserva crítica, além de ter virtualizado e desumanizado parte Capitalista é muito mais sutil e refinado. As leis capitalistas deverão ser gerais porque,
do próprio sistema especulativo (por exemplo, os softwares que podem congelar mesmo inicialmente egoístas, deverão satisfazer a todos os potenciais capitalistas,
aplicações até que os operadores retomem o controle e o manejo do sistema de ou seja, a todos nós que, teoricamente, fomos criados sob esse signo.
aplicação). O processo ideológico e jurídico é capaz de converter desejos individuais ou
O Estado moderno é catalisador do capital (no passado e no presente) porque grupais em determinações de grande relevância social, mas sem trair a essencial
as forças econômicas continuam altamente disjuntivas, talvez hoje ainda mais em preservação do mesmo sistema capitalista que a originou e lhe dá fundamento.
virtude dos efeitos do processo de globalização. Entre capital e Estado há uma relação Portanto, não haveria espaço jurídico e institucional para um tipo qualquer de Estado
sociometabólica porque se trata de metabolismo e não de organicismo, no sentido de Direito Bonapartista ou, se houvesse, seria reduzido e definido em outros
de que o comprometimento de uma das partes afeta imediatamente o todo (nem parâmetros: “É necessário, portanto, para a existência de um direito positivo, que se
haveria esta divisão clássica entre partes e todo) e porque também não há aparência instaure uma vontade comum ou superindividual.” (DEL VECCHIO, 2005, p.16).
ou essência, interior ou exterior. Neste caso, há uma contradição entre o querer inicial e o resultado final,
Todas as partes – Estado/Sociedade/Capital – estão por demais imbricadas pois o interesse individual e marcadamente político (do autor do projeto de lei) foi
e articuladas, afetando-se diretamente, intimamente. Temos nesta relação transformado, invertido nos pólos e reaparece subsumido na forma de uma regra
sociometabólica um fluxo orgânico integrado, ou seja, um constructo social e abstrata e geral. No restante de todo o processo produtivo, quer se trate da produção
metabólico. Neste, o Estado e o Direito terão a função catalisadora. material quer seja a espiritual ou intelectual, há uma contradição de fundo e não só
de termos.
O Estado Moderno, no atual estágio em que se encontra, relacionando Direito
e Economia, terá a alcunha de Estado de Direito Capitalista. Mas, é preciso frisar Até mesmo no processo de produção social opera-se essa contradição de
que nesse Estado Capitalista (do passado e do presente) há um Direito operante e fundo, pois se podemos dizer que se vive em sociedade, isso será verdadeiro apenas
que a fórmula da elaboração jurídica é bem adequada à democracia representativa se admitirmos que se trata de uma sociedade cindida e altamente conflitante. Mesmo
capitalista. O Estado de Direito Capitalista não produz leis de caráter autoritário ou que seja sob o símbolo de um mínimo de interação social, a regra social não sufoca a
voltadas simplesmente ao desenvolvimento de desigualdades e de acumulação de violência e os próprios conflitos sociais de grupos e/ou de classes. Porém, na crença
capital. jurídica, essa contradição deveria desaparecer, deveria estar diluída na própria norma
legal.
Toda lei tem um caráter homogêneo e integrado à sociedade por mais
contradições que o próprio processo legislativo implique. Há no processo legislativo Assim, a lei seria expressão de certa alteridade:
um movimento de depuração do individualismo exacerbado: Essa vontade, se bem que, em certo sentido, nova e mais alta, não é, todavia,
Uma coisa, no entanto, é bem certa: a vontade de um só indivíduo que afirme diferente, na raiz, da que pertence aos sujeitos individualmente. Cada um deles
uma determinada norma jurídica não pode ser suficiente para torná-la positiva. A pode, e até deve, por sua natureza, superar na sua consciência o seu eu empírico,
positividade da norma é constituída precisamente pelo fato de o seu efetivo vigor
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reconhecer a subjetividade alheia e olhar a si mesmo sob a espécie da alteridade. Petrajitskii [...] sustenta que a natureza do fenômeno jurídico não reside nas normas
(DEL VECCHIO, 2005, p.16). objetivas editadas por uma autoridade, mas na esfera emocional, de modo que o
cumprimento das obrigações jurídicas e a observância das leis decorrem de uma
Por isso também se fala de Estado de Direito e não de Estado Absoluto, do “consciência jurídica intuitiva”, de que todos os homens seriam providos [...]
império e da soberania da lei e não do poder absolutista de um só: M. Reisner se esforça por conciliar essa concepção com o marxismo. (NAVES,
Pode, portanto, e deve, conceber e querer o direito como organização transubjetiva 2000, p.33-34).
ou metaegoística. A diferença entre este modo de apresentar-se do direito in
Essa determinada visão jurídica marxista seria combatida por Pachukanis.
interiore homine, como num microcosmo, e aquele em que se nos oferece todo
Contudo, com o passar do tempo, essa consciência jurídica foi capaz de perceber
desdobrado na realidade histórica e social é justamente uma diferença de modo
e revelar o desenvolvimento da política e assim fazer avançar até a forma política
ou, preferindo-se, de grau, não de substância. (DEL VECCHIO, 2005, p.17).
do Estado.
O governo das leis é real, e nem sempre são, digamos, leis abruptamente
capitalistas (veja-se o exemplo da previsão constitucional acerca da justiça social5). O que é o Estado?
Porém, no âmbito do governo das leis capitalistas a contradição está em que teríamos
uma alteridade capitalista em confronto com indivíduos igualmente capitalistas, isto
Do ponto de vista jurídico, o Estado6 é uma abstração, um ente de natureza
é, egoístas e independentemente se são todos capitalistas (virtualmente) ou se já
política que deve servir à administração da própria política e aos negócios públicos,
atuam em sua forma mais típica de empresários potenciais. De certo modo, o homem
normatizando assuntos internos e variados no contexto social. A burocracia do Estado
egoísta de Hobbes é o homem capitalista que nasceu com as revoluções liberais e,
é regulada por leis gerais e que também devem atender aos interesses individuais,
assim, Hobbes nada mais viu e descreveu do que o capitalismo nascente.
sob pena de padecer de falta de legitimidade, do mesmo modo que a lei que o regula
A alteridade aponta para o Outro, mas o sistema fecha o cerco em torno do o faz por meio do consenso popular.
si, e não é difícil perceber que do umbilical ao social há uma enorme distância, e
Além disso, o Estado deve satisfazer as necessidades mínimas da jurisdição,
que sem nenhum tipo de comoção individual e social isso não se opera. Os juristas,
isto é, quando a lei é tida como mediadora dos conflitos e, neste aspecto, quando a
contudo, destacam sempre a metamorfose jurídica como fonte de transformação desse
lei se pauta como referência da justiça. No entanto, a deferência do Direito à Justiça
egoísmo inicial. Deveria operar-se uma mudança/transformação no interior do ser.
é outra questão e deve ser abordada em outro momento.
A chamada consciência jurídica que mobiliza e integra em torno de regras
No capitalismo, a lei e o Direito devem expressar não mais do que sua época:
básicas de sobrevivência (das sociedades gregárias do neolítico até hoje) não é algo
“A autoridade positiva da lei deriva, com efeito, do mesmo consensus populi que
que possa ser desprezado. É o que aponta Del Vecchio:
igualmente se exprime ou pode exprimir-se sob a forma de costume, não obstante
Quando este processo nos fatos e, sobretudo, nas consciências está bastante adiantado todas as proibições dogmáticas.” (DEL VECCHIO, 2005, p.56).
e amadurecido, torna-se fácil também no aspecto formal o estabelecimento da nova
Por outro lado, no Estado Moderno, a interpretação jurídica baseada nos
ordem pela qual o Estado instaura a sua soberania sobre as várias organizações.
costumes sofreu enorme pressão em nome da própria definição legal, isto é, da
Estas recebem, então, o seu cunho e tornam-se seus instrumentos no exercício das
dogmática, pois havia necessidade de se subsumirem os costumes feudais no conjunto
dificuldades normativas que lhes são reconhecidas ou atribuídas. (DEL VECCHIO,
da cultura nacional (do Estado-Nação) que se formava como pano de fundo. Era
2005, p.34-35).
preciso formar a consciência nacional, saindo-se do Estado Medieval, em que o
indivíduo não mais se visse como pertence de um determinado feudo, mas sim como
Também vemos essa análise em outro tipo de concepção jurídica, agora de
parte integrante e ativa de um Estado bem definido como nacional e soberano.
fundo socialista, menos positivista:
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A Constituição Portuguesa, como se sabe, fala abertamente em se construir o socialismo. Tanto o Moderno quanto o contemporâneo.
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Desta forma, mesmo sob a vigência do capitalismo, a lei é parte do processo É nítida a tentativa de submeter a forma-Capital à forma-Direito, de subsumir
histórico e não desemboca necessariamente no Estado, pois o próprio costume o econômico ao jurídico. O Estado Moderno surge apenas como forma jurídica,
capitalista pode lhe assegurar o que se deseja no sistema. Entretanto, é uma posição como demonstração empírica da própria soberania jurídica do Estado. Não passaria
muito mais dogmática a que embasa a definição técnico-jurídica do Estado sob o de uma outra forma jurídica em que o Estado resultou:
capital: Cada forma histórica do Estado Moderno é uma pausa no processo incessante
No sentido do Direito Público, Estado, segundo o conceito dado pelos juristas, da soberania – que quer dizer das aspirações coletivas – gravitando constantemente
é o agrupamento de indivíduos, estabelecidos ou fixados em um território determinado no sentido de uma satisfação cada vez mais completa de interesses e aspirações,
e submetidos à autoridade de um poder público soberano, que lhes dá autoridade tendendo indefinidamente a realizar o tipo ideal da Democracia pura que é aquela na
orgânica. É a expressão jurídica mais perfeita da sociedade, mostrando-se também qual a sociedade se realiza como ordem jurídica, com perfeita correspondência entre
a organização política de uma nação, ou de um povo. (SILVA, 2002, p.321). o sistema dos processos sociais e o sistema das normas jurídicas, com funcionalidade
O constitucionalista americano, já no século XIX, tinha posições bem cada vez mais acentuada entre o poder e a regra jurídica, a soberania e a positividade
semelhantes no que competia à definição do próprio Estado, pois o Estado não do Direito. (REALE, 2000, p.137).
passava de uma articulação jurídica de um povo consciente do seu papel e interesses Seguindo-se esta leitura positivista da política, o Estado Moderno é tido
políticos. Neste sentido, vejamos uma breve nota do juiz americano Thomas M. como mera forma jurídica, uma vez que, em tese, todo Estado poderia ser reduzido
Cooley, datada de 1880: ao estado da lei. Também se percebe a tentativa de esvaziar os conflitos inerentes
à política, pois o tipo ideal de Democracia é aquele que se realiza como ordem
Estado pode definir-se como uma união política ou uma sociedade de homens
jurídica, isto é, sem política, sem atrito, mas com harmonia e parcimônia – ainda
conjuntamente unidos sob leis comuns, para o fim de promover o bem-estar
devemos lembrar que o sistema jurídico não deveria aparentar contradições. Fato
geral e a mútua segurança mediante o combinado esforço de todos. Esse termo
este que, evidentemente, não é nada satisfatório do ponto de vista político porque,
é freqüentemente empregado no mesmo sentido que nação; este porém, é mais
desta forma, perde-se de mira toda a mobilidade histórica, o papel decisivo do povo
um sinônimo de povo, mas enquanto um só Estado pode abranger, muitas vezes,
na construção ou na transformação desse mesmo Estado.
diversas nações ou povos, uma simples nação às vezes é politicamente tão
subdividida que constitui diferentes Estados [...] É soberano quando nele reside
um poder supremo e absoluto, não reconhecendo nenhum superior; e é dependente O desprendimento positivista
quando, em qualquer grau ou fração de sua autoridade, é limitado por algum poder
reconhecido. (COOLEY, 2002, p.31).
Por outro lado, é exatamente a necessidade de uma argumentação contrária ao
dogmatismo positivista que faz parte do raciocínio crítico de Pachukanis:
Séculos depois ainda recitamos a mesma cantiga jurídica para a conformação
política. Para esta corrente de explicação jurídica da política tanto Estado e Poder Essa crítica do direito permite apreender a natureza real do fenômeno jurídico
quanto Governo e Nação são apenas entendidos a partir da forma-Direito, pelo viés na circulação mercantil, evitando reduzir o direito, de qualquer modo, a um
das formulações jurídicas, abstraindo-se de entender (enfrentar) os dilemas trazidos conjunto de normas e, ao mesmo tempo, permitindo compreender o momento
à política pela forma-Dinheiro. Tal como se observa na argumentação do jurista normativo do direito como uma expressão desse mesmo processo de trocas de
Miguel Reale, há uma separação clara entre Direito e Política: mercadorias.(NAVES, 2000, p.20).
Aos estudiosos dos vários ramos do Direito, interessa o poder constituído, exercível
É por isto que também se diz que Pachukanis voltou a Marx, a fim de buscar no
na forma da legislação positiva; interessa o poder que se manifesta como tríplice
método histórico-crítico e dialético-radical o mais profundo entendimento acerca da
ou quádrupla função do Estado segundo o ordenamento jurídico peculiar a cada
relação Estado/Sociedade Civil/Direito. Contudo, não pode haver contradição entre a
Estado; interessa o Estado que juridicamente é, e interessa a soberania como
forma-Estado e a forma-Direito. Dessa primeira crítica de Pachukanis, percebe-se já
poder exercido segundo distintas e previstas esferas de competência. (REALE,
que o próprio Estado tem de pensar/elaborar instituições jurídicas capazes de suportar
2000, p.138).
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os impactos contraditórios havidos entre política e economia, Estado e Direito e de Mas a questão central ainda permanece: sob o capitalismo, poderá o egoísmo
toda a dinâmica social. Uma dessas instituições será denominada de Estado-Juiz. inicial deixar de todo de ser inercial? Sob o capitalismo é possível não ser egoísta
Desse modo, ainda se alega que deve haver um Estado-Juiz, com uma justiça e também não ser cínico?
que incorra de acordo com os ditames lógicos do sistema jurídico capitalista: O Estado Capitalista tem por meta produzir uma convergência entre o querer
capitalista, de cada indivíduo ou empresário em potencial e a forma social depurada
A lei, por si, pode apenas, e sempre sob a condição de se apoiar na vontade social
de que a lei é um exemplo. Na verdade, no âmbito mais intenso do capitalismo, há
preponderante, estabelecer essa limitação, por assim dizer, negativa: que se não
um rígido controle social e jurídico do capital. Vejamos essa lógica se operando em
façam vigorar normas incompatíveis com as suas, derivadas de outras fontes, de
dois sentidos complementares:
tal maneira que fiquem sempre salvas a coerência e a unidade orgânica do sistema
[...] (DEL VECCHIO, 2005, p.56-57, grifo nosso). Direito de propriedade, contrato, não são institutos econômicos mas sim institutos
da ordem jurídica geral da sociedade, não sendo essa por sua vez mais do que a
Neste caso, sob os grifos, percebemos que a lei no capitalismo não é cabalística, expressão da ordem natural da sociedade [...] O contrato de compra de força de
mas historicamente capitalista. trabalho é apenas mais um contrato entre pessoas livres. As instituições jurídicas
O Estado-Juiz é este que se interpõe entre a forma-Estado (coercitiva, que servem a economia são as instituições que servem em geral a “sociedade
repressiva, sob o capital) e a forma-Direito consensual (em outro contexto, também civil.” (MOREIRA, 1987, p.64).
analisamos sob o signo de Estado Legal). Por isso, mesmo o mais puro Estado de
Direito Capitalista terá uma função mediadora entre os quereres, os interesses e Sob a organização do Estado, quer seja Liberal, quer seja o Estado de Direito,
os direitos privados: vemos que a teoria jurídica do contrato particular decorre da teoria do contrato social8.
O Pacta sunt servanda9 é a garantia do capital, pois essa obrigação de cumprir os
Delineia-se, assim, um verdadeiro e próprio sujeito (persona no sentido técnico contratos acordados é o que dá segurança ao capital. Dessa forma, o contrato entre
dos juristas), que tem uma vontade própria sumamente autônoma e inconfundível7 as partes tem efeito erga omnes: o que foi estabelecido pelo capital tem força de lei
com as pessoas singulares até mesmo com a dos menores agregados que nele vêm sobre/contra todos e não se fere a lógica do capital. Isto é, o controle jurídico do
abicar, e tal vontade concretiza-se justamente nas regras de direito, que só vigoram capital decorre do próprio controle social exercido pelo e sobre o capital, levando
à medida que são por ele queridas. Esse sujeito é o Estado. (DEL VECCHIO, a uma certa descaracterização do direito – deixando de ser simplesmente direito
2005, p.19). burguês, para se tornar direito societário.
De todo modo, é bem sabido que desde o Estado Moderno (ainda em sua Do conflito dos interesses privados ou particulares do cidadão capitalista
primeira fase: absolutista), o Estado figura como centro de poder e de controle: em potencial nasce um direito societário capaz de absorver a maioria dos impactos
“Podemos, portanto, definir o Estado como o sujeito da vontade que estabelece sociais e econômicos e tratá-los sob o regime da competição capitalista. Entretanto,
(impõe) uma organização jurídica. Ou, também, em termos metafóricos, como o a própria lei não deixa de ser ideal, na medida em que o mais próximo a que se chega
centro de irradiação das normas que constituem um sistema jurídico positivo.” (DEL da realidade é promovendo a subsunção do caso concreto.
VECCHIO, 2005, p.19). Então, seguindo a lógica interna do sistema jurídico, no Neste sentido, não há direito burguês versus outro tipo qualquer de direito
capitalismo teremos normas capitalistas. porque todos os direitos são criados à base desse complexo que conforma o
Quando há conflitos entre o público e o privado, entre organizações sociais cidadão capitalista em potencial. Salvo as exceções revolucionárias, nossa base
internas, aí o Estado deverá se destacar e entre as duas oposições deverá aparecer social é definitiva e, no caso especial, essa base é intrinsecamente e explicitamente
como a mais sólida organização unitária: “Nós damos o nome de Estado a um desses capitalista:
dois entes que atingiu o grau mais elevado de positividade, isto é, a mais alta e sólida
organização unitária” (DEL VECCHIO, 2005, p.19). 8
A idéia de contrato social, aqui, segue a noção jurídica de Pacto político: “Designa a Constituição ou,
em Ciência Política, o ajuste entre as diversas correntes políticas.” (SILVA, 2002, p.583).
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No Estado Moderno, diríamos que esta vontade sumamente autônoma era a soberania, um poder “Princípio que determina, no Direito Internacional e nos contratos, que os pactos devem ser
inconfundível como poder absoluto, inquestionável, indivisível, superior. obrigatoriamente cumpridos pelas partes.” (GUIMARÃES, 1999, grifo nosso).
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Vinício C. Martinez Estado moderno ou Estado de Direito Capitalista
Para nos aproximarmos da compreensão exata das fontes de direito técnico, é burguês será inovador, principalmente se relacionado com os modos de produção
necessário considerar que a produtividade jurídica das consciências individuais se anteriores e sua justaposição jurídica. Sempre houve um Direito para a classe
concretiza numa série de ideações e volições que necessariamente se encontram dominante e, desse modo, um Direito que se encaixava como processo reprodutor
no terreno da experiência; isto é, traduzem-se numa fenomenologia jurídica de privilégios sociais, ou seja, para cada nível econômico na escala de produção
positiva. Da confluência ou, querendo-se, do atrito e do conflito dos ditames das correspondiam alguns direitos especializados.
consciências singulares nasce certo sistema de vida, quer dizer, um complexo de Por fim, não poderia haver uma ordem jurídica econômica especial porque o
regras efetivamente seguidas, mesmo que se não achem abstratamente formuladas. direito burguês doravante se aplica aos vários níveis econômicos distintos, a classes
Podemos, sem errar, considerar esse sistema como a expressão da vontade social sociais distintas10. Então, com o Estado liberal, é como se tivesse sido inaugurada a
preponderante ou, querendo-se, esta outra fórmula, da razão histórica suficiente. fase histórica de um único sistema econômico – ao menos predominante – e com ele
(DEL VECCHIO, 2005, p.48). de uma única ordem jurídica: “Quando as leis revolucionárias de 2-17 de Março de
1791 proclamaram em França a liberdade de comércio e de indústria, não é apenas
Assim, a ordem jurídica é natural, inerente ao contexto social, ao momento
uma ordem jurídico-econômica que se pretende destruir mas sim a ordem jurídico-
histórico, às formações econômicas, à identidade, à cultura e às estruturas políticas
econômica.” (MOREIRA, 1987, p.63).
dominadas pelo Estado: “A ordem não é qualquer coisa de destacado ou de extrínseco;
é, sim, a própria forma da convivência social, o modo de agir próprio dos seres Se todos os homens são iguais perante a natureza de seu ser e da lei, não há por
conviventes nas suas relações recíprocas, naquilo que estas têm de constante e de que haver privilégios (descarados) para segmentos sociais, a exemplo da burguesia:
permanente.” (DEL VECCHIO, 2005, p.49). “Proclamada a sociedade dos produtores, a sociedade dos homens econômicos,
nenhuma legitimidade tem agora um estatuto especial para eles [...]” (MOREIRA,
A ordem jurídica é intrínseca à vida social e econômica, ou seja, no caso em
1987, p.63). Então, é bom frisar, não é uma ordem jurídica desbaratada, mas a ordem
tela, todo direito é potencialmente, intimamente capitalista, assim como a economia
jurídica fora da sociedade capitalista ou feudal, pois se chega ao final dos privilégios
e a consciência individual de cada cidadão ou empresário germinal também o são.
de nascimento – agora serão os de classe.
Como nos diz Roberto Lyra Filho, há uma pretensão integral (controlativa) e
cultural por parte das classes dominantes no que se refere ao consenso que envolve De um modo mais geral, no entanto, podemos ver que o Estado promove tanto
o direito: a conservação quanto a alteração de partes (até significativas) da ordem jurídica, uma
vez que a re-adequação do próprio sistema produtivo depende disso. Este é o caso
O arcabouço de normas fixa-se nas instituições sociais (armação estabilizada das claro da chamada flexibilização da legislação trabalhista, adaptando o Direito à
práticas normatizadas), formando um tipo de organização, cuja legitimidade é virtualidade e à informalidade da economia atual.
também presumida e que, por isso mesmo, se reserva os instrumentos de controle
Contudo, só o poder coercitivo/punitivo do Estado Moderno clássico, de
social, para evitar que a pirâmide se desconjunte e vá por terra. Estes meios
Hobbes11, não contempla mais as necessidades do capitalismo, pois, para manter
materiais de controle revestem a ordem com sistemas de crenças (ideologias),
crédito e consumo em alta (principalmente quando os empregos estão em baixa), o
consideradas válidas, úteis e eminentemente saudáveis e que são, por assim dizer,
capital necessita da sedução e de um Estado que seja igualmente sedutor: seduzir
a “alma” das instituições estabelecidas, isto é, o “espírito” da ordem social, com
para produzir e para consumir.
a máscara de cultura do “povo.”(LYRA FILHO, 2003, p.56-57).
Aliás, não é à toa que hoje a população conhece e valoriza muito mais o direito
Há uma identidade entre a cultura do poder e os que estão no poder e, no nosso do consumidor do que a já lendária legislação trabalhista. Isto sem contar outros ramos
caso, trata-se das relações que se acobertam entre a formação do Estado Capitalista dos direitos difusos e coletivos, como o Estatuto da Criança e do Adolescente: os
e a modernidade jurídica que o acompanha desde tempos remotos. desinformados dizem que os jovens só têm direitos. No caso do Direito Ambiental
O capitalismo é moderno desde o seu nascimento. Na verdade, desde a
formação inicial do chamado Estado Liberal, como uma segunda fase do Estado
10
Moderno (já na esteira do capitalismo), temos um Estado preocupado com o novo Não há um direito para os pobres e outro para os ricos, como se via no feudalismo, entre senhores
e servos.
sistema, trazendo uma lógica jurídica diferente. De certo modo o chamado direito 11
Ainda que a violência e a guerra estejam mais do que presentes.
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Vinício C. Martinez Estado moderno ou Estado de Direito Capitalista
a situação também é grave porque, infelizmente, muitos ainda pensam e alegam que MARX, Karl. Prefácio à contribuição à crítica da economia política. 3.ed. São Paulo:
a preservação do meio ambiente atravanca o progresso. Martins Fontes, 2003. p.3-8.
Desse modo, é fácil compreender que se pensa no cliente da mesma forma MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo:
como o senhor feudal pensava nos seus vassalos, e também porque cliente e vassalo Boitempo Editorial; Campinas: Ed. UNICAMP, 2002.
têm a mesma raiz no latim: cliens. Perder o cliente hoje, como era perder o vassalo
no passado, implica em perder patrimônio líquido, patrimônio produtivo, patrimônio MOREIRA, Vital. A ordem jurídica no capitalismo. Lisboa: Editorial Caminho, 1987.
consumível. Mas estes e outros são temas próprios do que chamaríamos de Estado
NAVES, Márcio Bilharinho. Marxismo e direito: um estudo sobre Pachukanis. São Paulo:
de Direito Atual.
Boitempo Editorial, 2000.
MODERN STATE OR CAPITALIST LAW STATE NEGRI, Antonio; LAZZARATO, Maurizio. Trabalho imaterial: formas de vida e produção
de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
REALE, Miguel. Teoria do direito e do Estado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
Abstract: The aim of this article is to sketch the legal and economical outlines of
the Modern State. There are many phases or ages of the Modern Capitalist State, ROUANET, Sérgio Paulo. Democracia mundial. In: NOVAES, Adauto. (Org.). O avesso da
also called Capitalist Law State. We follow the historical path, pointing to its liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
first conditions and characteristics, to make possible the visualization of what is
permanent, essential and structural for the State in the West. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
Referências
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1979.
DEL VECCHIO, Giorgio. O Estado e suas fontes do direito. Belo Horizonte: Ed. Líder,
2005.
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 2. ed. rev. e atual. São
Paulo: Riddel, 1999.
HOBBES, Thomas. Leviatã. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os pensadores).
LYRA FILHO, Roberto. O que é direito. 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002.
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