Aula 5 - Redação Jornalística
Aula 5 - Redação Jornalística
Aula 5 - Redação Jornalística
REDAÇÃO JORNALÍSTICA
AULA 5
Bem-vindos a nossa aula. Agora vamos falar sobre técnicas de produção textual. Mesmo para rádio e televisão, é preciso
construir o texto que será veiculado. Há também técnicas para trabalhar o texto da web, em que há a convergência das linguagens
dos outros meios. O texto de revista e de jornal acaba sofrendo influência das novas mídias.
Mesmo com toda a complexidade nas diferentes linguagens jornalísticas, algumas estruturas são tradicionais, ou seja, há
parâmetros para o jornalismo em qualquer plataforma. Para entendermos isso, os temas desta aula serão:
Esta aula será um pouco mais instrumental, mas ainda vamos trazer casos e exemplos que ilustram essa prática que agora é mais
do que necessária.
CONTEXTUALIZANDO
As linguagens jornalísticas dos distintos veículos têm uma origem comum, mas acabam se adaptando ao meio em que são
veiculadas. Essa adaptação é necessária, já que cada uma possui especificidades de tempo, espaço e de acesso a leitores, ouvintes e
telespectadores.
Depois de entender como uma notícia é construída, é hora de saber como publicá-la nos diversos meios. Nesta aula, você saberá
como deve ser produzida uma notícia ou reportagem para jornal diário, revista, rádio, televisão ou web.
Arautos dos acontecimentos instantâneos desde sua origem, os jornais são desafiados de maneira muito agressiva pelos outros
meios de comunicação, em especial pela internet. O uso cada vez menor do papel como suporte para as informações cotidianas,
somado à democratização de computadores, tablets e smartphones, está forçando o jornal a se reinventar e se reposicionar.
Há muitas incertezas quanto às pesquisas que decretam o fim dos jornais e a migração definitiva para o meio digital. Talvez um
dia isso aconteça, mas até lá os jornais continuarão a ter um papel relevante no ecossistema jornalístico, inclusive dando base
para a produção textual. “Os textos, sejam verbais, sejam não verbais, são a essência do jornalismo” (Rech, 2018, p. 136).
Nesse ambiente complexo para os jornais, sua maneira de fazer notícias diárias está se alterando aos poucos, já que outros
veículos estão se tornando responsáveis pela instantaneidade do relato, como a web. Mas esse jeito de construir o texto noticioso
ainda é base para o fazer jornalístico, inclusive no meio virtual. Vejamos as características desse texto, muitas já conhecidas das nossas
aulas:
1. A maioria dos textos tem formato de pirâmide invertida. De todos os dados do fato a serem relatados, começa-se com o
mais importante.
2. O primeiro parágrafo concentra as respostas às seis perguntas do lide: o quê? Onde? Quando? Quem? Como? Por quê?
3. Evita-se vocábulos que levem à opinião ou à subjetividade, como adjetivos. Por exemplo, nada de formoso cavalo, o veloz
corredor etc. É mais indicado mostrar essas qualidades com dados.
4. Para ser objetivo, coloque números. É o único jeito de dar ao leitor a condição de imaginar a quantidade do que se
relata. O que é melhor: “20 mil pessoas na romaria” ou “uma multidão acompanhou o cortejo”?
5. Policie-se para evitar ser tendencioso. É difícil um texto imparcial, mas é preciso tentar. Isso significa apurar os dados de
6. Entreviste fontes oficiais para dar a credibilidade da fala de uma instituição, mas também busque as testemunhas, as
vítimas, os implicados no fato. Não se satisfaça com as fontes oficiais, ouça o outro lado.
7. Use frases curtas e ordem direta. Nada de voz passiva ou orações dentro de outras: “o jogador, que detinha o prêmio de
melhor zagueiro, sofreu uma contusão”. Prefira: “Fulano possuía o prêmio de melhor zagueiro do campeonato. Ele sofreu uma
contusão no jogo de ontem”.
Clareza. Não basta escrever com simplicidade. Tem de ser claro. O escritor francês Anatole France dava mais valor à clareza. Ele
escreveu: “o estilo tem três virtudes: clareza, clareza, clareza”. O espanhol Miguel Unamuno completou: “Escreve claro quem concebe
ou imagina claro”. Se não sei exatamente o que quero dizer, ninguém me entenderá. Ninguém me entenderá se eu esquecer que
escrevo para pessoas comuns, não para iniciados ou especialistas neste ou naquele assunto. O jornalista reporta o que viu e torna o
conhecimento mais complexo acessível às pessoas comuns. É da perspectiva dessas pessoas que ele tem que enxergar os fatos e
traduzi-los depois.
9. Não use chavões. “O golpe foi uma ducha de água fria para ele...”; “o deputado pôs mais lenha na fogueira ao sugerir...”;
“é como agradar gregos e troianos” etc. Não use. Você pode fazer melhor.
10. Para descrever um fato com adjetivos e qualificá-lo, diga isso na declaração de um entrevistado. O jornalista não pode
usar adjetivo, mas o entrevistado sim. A entrevista ajuda a dar credibilidade à notícia.
Texto relatados de maneira direta, isto é, exatamente como o entrevistado disse, devem ser exatamente iguais à fala e entre
aspas. Há possibilidade de edição, com cortes e pequenos ajustes, desde que não interfiram no conteúdo, para destacar o
estritamente necessário da fala. Caso seja necessário adaptar a entrevista com muitas edições, é importante usar a paráfrase. Veja
isso:
As entrevistas que recompõem um acontecimento a partir das diferentes vivências dos protagonistas (e/ou antagonistas) da ação social
pedem, ao natural, uma narração indireta. O repórter assume uma terceira pessoa “equidistante” e vai costurando as declarações em etapas
por ele decididas, ao montar a matéria. (Medina, 2004, p. 56, grifo do original)
As entrevistas permitem ao jornalista obter o essencial para construir a sua narrativa. “Depois das informações básicas do lide, a
tendência é desenvolver a temática organizando as declarações de modo lógico, para sentido ao texto” (Rech, 2018, p. 140).
Se a fala do entrevistado possui erros gramaticais ou vai ficar esquisita ao ser transcrita, a regra é colocar do modo como foi
falado para garantir a fidelidade e, após a declaração, a sigla sic, que em latim quer dizer como foi dito. Há uma discussão moral sobre
o uso da sigla. Como ela denuncia um erro ou um mal jeito com a língua culta, o ideal é usá-la quando for estritamente necessário.
Não há necessidade de expor entrevistado se esse não for o foco da matéria. O importante é o conteúdo, o que a pessoa tem a dizer.
Os jornais a têm usado pouco, e quando usam é por que a sigla aponta também uma posição do comunicador, que se põe no direito
de apontar o engano dos outros.
Se você for bem rápido e estiver se informando sempre por diferentes meios, verá que o texto escrito, quando lido, é bem
diferente do que normalmente é falado. Por isso, vamos entender um pouco dos meandros do trabalho no rádio.
Meditsch (2001) aponta que no decorrer da história o rádio ocupou uma posição subalterna quando se tratava de vê-lo como
meio de comunicação. Ele comprova isso pela escassez de bibliografia relacionada ao estudo do rádio.
Assim como o jornalismo foi considerado até por volta da década de 60 como um gênero literário, o surgimento do rádio foi saudado
como o de uma “oitava arte”. Em consequência, a preocupação estética foi dominante nos primeiros estudos do meio. (Meditsch, 2001, p.
45)
Depois, vieram estudos sobre o papel político, sociológicos, semióticos e informativo do rádio. Vamos nos ater ao texto, mas
contextualizar é importante. Na sua caminhada histórica, o rádio traduz o escrito para uma oralidade cotidiana. Esse movimento
em direção à cultura oral provoca produções e acessos de públicos específicos que, no retorno, influenciam a produção radiofônica.
Meditsch explica que, em países semiperiféricos como o Brasil,
parcelas significativas da população têm passado da pré-modernidade à pós-modernidade sem que tenha transitado pela Modernidade tal
como foi vivida nos centros hegemônicos europeus ou anglo-saxões. Milhares de camponeses analfabetos, que há uma década não
conheciam a eletricidade, hoje consomem rádio, TV e vídeo-filmes e inscrevem seus filhos em cursos de computação. (Meditsch, 2001, p.
68)
A seu tempo, o rádio democratizou o acesso à informação ao permitir que pessoas analfabetas passassem a consumir rádio. A
linguagem oral chega a grupos populacionais que não estudaram e não têm o acesso ao conteúdo escrito de jornais, revistas e
livros. Logo, não conhecem as estruturas que utilizamos no texto escrito, mas conhecem muito bem a oralidade porque a usam
diariamente.
A construção textual do radiojornal se dá com base no espelho da edição, que é a organização das matérias por ordem de
entrada, divididas em blocos e levando em conta as inserções publicitárias. Os editores ou apresentadores redigem o texto a ser lido
no ar.
Nessa estrutura há a escalada, quando se anuncia as principais notícias daquela edição (como a capa de jornal). Depois vêm as
cabeças, que são como um lide para introduzir as matérias dos repórters e servem ainda para dar outras informações (anunciar um
entrevistado, dar boletins do tempo ou do trânsito). Já as notas são informações suscintas e às vezes há a nota de retorno, quando o
apresentador complementa alguma informação da matéria.
A redação do texto para o rádio deve levar em conta tudo isso. Esse texto não pode ser um texto lido de outro meio impresso.
Apesar de ainda existir o gilete-press (em que as notícias são recortadas do jornal com uma gilete e lidas no rádio) e, mais
recentemente, o Ctrl-C + Ctrl-V na internet, o texto do rádio deve ser feito como se fala (Jung, 2004, p. 117).
Segundo Prado (1989, citado por Rech, 2018, p. 151), há dois tipos de reportagem no rádio: “a simultânea, realizada ao vivo e
criada paralelamente ao desenrolar da ação reportada; e a diferida, que permite a montagem ou, em termos mais utilizados
atualmente, a edição”. A simultânea se dá no calor dos acontecimentos, já a diferida segue uma lógica como a figura a seguir:
Também é necessário levar em conta a nossa sofrível memória auditiva. Já está comprovado que o que ouvimos é, em geral, do
que primeiro esquecemos. Assim, uma dica no texto de rádio é a repetição. Também é preciso ambientar o ouvinte que acabou de
ligar o rádio sobre o que está acontecendo e lembrar aquele que estava ouvindo sobre o que é o programa.
Por isso a programação é dividida em blocos, e a cada saída e entrada de bloco relembra-se o que está sendo veiculado. Outra
marca do texto do rádio é que ele faz uso de algo que o escrito nunca terá: a entonação. Dependendo da forma com uma notícia é
falada, há muitas possibilidades tanto de pausas quanto de entonação. E aí entra a competência do locutor.
Em geral, a notícia do rádio possui informação introdutória, a cabeça, lida pelo locutor no estúdio para chamar o repórter, que
não costuma estar no estúdio e, então, o texto é gravado e editado previamente. Essa estrutura tem o off, que é o texto lido pelo
repórter, e a sonora, que é a fala do entrevistado. Por escrito, o roteiro de uma minimatéria ficaria mais ou menos assim:
Locutor 1 Na última quinta, várias caixas de cerveja foram encontradas do lado de fora do convento São Matias. BG
Som
Som
Repórter Um carregamento de 230 garrafas de cervejas foi deixado do lado de fora dos muros do Convento São Matias na última quinta-feira.
As freiras só foram notar que havia algo diferente no último domingo, depois de um retiro. Segundo o porteiro do convento, Joacir
Reis, um caminhão derrapou na estrada que liga Chopin a Santa Cruz e acabou capotando. As garrafas de cerveja que não quebraram
Sonora com o Quando tem acidente, é sempre assim. Os caras que roubam os carregamentos trazem caminhando da estrada até aqui para virem de
porteiro noite buscar o que roubam. O problema é que, dessa vez, um deles disse que teve uma visão de Jesus, que mandou ele devolver tudo.
E daí eles acabaram deixando tudo aí.
Repórter A madre superiora falou que vai rifar o carregamento para arrecadar dinheiro para as obras sociais do convento. Joana Rocha para BG
“Agora é que são elas”. Som
Comentarista Até Jesus agora decide quem vai beber as cervejas. Ou, em uma visão ainda melhor, a moral tem voltado ao costume desse povo tão
acostumado à corrupção, ao roubo. Pelo menos o sentimento de culpa aparece.
O exemplo acima é fictício, mas serve para mostrar como se organiza a informação no rádio. Existe ainda um operador na mesa
de som, que coloca o som de background (BG ou de fundo, em português) quando necessário, e cada pessoa no estúdio sabe
quando entra a fala de cada um.
O texto está ali para mostrar como fica a cabeça lida no estúdio, o lide feito pelo repórter e a sonora. Em geral, esse pacote
temático vem pronto e no roteiro do estúdio só há as falas de quem está apresentando o jornal. No roteiro, cada matéria só é
apontada pelo tempo total que ela ocupa. Ficaria assim:
Segunda, 04/02, 6h
Ronaldo Três tipos de vacinas serão testados no Distrito Federal na próxima semana. A repórter Fabiana Nunes tem mais informações. Som BG
Ronaldo Esperamos mesmo que as vacinas consigam resolver o problema desses novos vírus. Som BG
O segredo do texto de rádio é saber falar. Mas de maneira séria, para dar credibilidade. Outra vantagem fascinante do rádio é
que o uso da entonação pode resolver muita coisa, mas o ideal são a respiração e as pausas. Nada que uma boa prática de leitura
em alto e bom som não resolva.
Como escrever para ser falado? Pois bem, há algumas dicas que farão tudo ficar mais fácil:
Encurte as frases. Lembre-se que a memória auditiva é falha e vá fechando as orações com pontuação. Se precisar, divida os
conteúdos.
Escreva em caixa-alta. Ao ler, é importante ter domínio do material e maiúsculas e minúsculas podem confundir; tudo em alta
resolve isso.
Use barras para quebrar o ritmo, ajudar na entonação e nas paradas, que nem sempre estão com vírgula.
Numerais sempre devem ser por extenso para não haver confusão. Nem que sejam vinte e cinco milhões, quatrocentos e
noventa e dois mil e trinta e oito centavos.
Palavras estrangeiras devem ser facilitadas com as entonações grafadas da maneira correta. Por essa razão, Kennedy vai virar
O MINISTRO DAS MINAS E ENERGIA / RESOLVEU APLICAR OS FUNDOS DO IMPOSTO DE RENDA DOS EMPREGADOS QUE
POSSUEM DEDICAÇÃO EXCLUSIVA / EM UMA PREVIDÊNCIA PRIVADA. SEGUNDO O PORTA-VOZ DO PALÁCIO DO PLANALTO / O
GOVERNO NÃO GOSTOU DA IDEIA. / JÁ A SECRETARIA DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS MANDOU OFÍCIO
Há muito para se falar sobre o texto do rádio, mas o mais importante é você entender que ele deve falar com o ouvinte e ser
lembrado. Os livros técnicos sobre o rádio podem ser escassos, mas há muitos filmes que tratam da atividade. Faça pesquisas, vale a
pena.
Atualmente, 95% dos lares brasileiros possuem um aparelho de televisão. É o meio de comunicação de maior alcance simultâneo,
a se considerar as redes de TV que cobrem praticamente todo o país. A televisão aproxima e mostra a cara para o público todos os
dias. Por isso, ela exige algo que nenhuma outra mídia pede: alto cuidado com a estética.
Na TV, os fatos não são apenas contados, são mostrados. O texto de televisão é, na verdade, escrever com imagens. Mesmo com
o advento da internet, as pessoas se identificam com a televisão por causa do relato ao vivo. O público testemunha o que está
acontecendo, seja perto ou muito longe.
Mas como o repórter consegue criar os textos e falar ao mesmo tempo? Como são feitos os textos de televisão? Antes é
importante saber que a televisão precisa de planejamento e de uma estrutura muitas vezes complexa para garantir a qualidade
estética, o que inclui iluminação, foco, cuidado com o fundo e o tempo, vento no microfone e no cabelo de quem está aparecendo.
Paternostro (2006) aponta uma preocupação constante no telejornalismo, que é estabelecer o diálogo entre texto e imagem de
forma a não competirem entre si. Então, ao escrever o texto, o repórter de TV precisa saber com quais imagens pode contar. Aqui
entra o pauteiro, ou produtor, pois é ele quem planeja a pauta para o repórter ir a campo já com entrevistas agendadas e sugestões
de imagens a serem captadas.
A estrutura do texto de televisão é constituída basicamente de: off, que é narrado pelo repórter e coberto por imagens; sonora,
quando o repórter aparece na tela; cabeça, texto lido pelo apresentador ao chamar a matéria; nota pé, ou nota retorno, lida pelo
apresentador ao final da matéria. Mas nem sempre o texto de televisão tem a presença do repórter. Nesse caso, há notas cobertas,
quando imagens se sobrepõem à narração do apresentador. Há ainda as notas peladas, textos sem imagens lidos no teleprompter[1]
pelo apresentador.
Por mais que nos esforcemos, a produção de notícias para a televisão não terá tempo de contar tudo. Em geral, os VTs
(videotapes) têm no máximo um minuto e meio. Imagine resumir um evento de um dia inteiro em um minuto; incluir um pedaço da
entrevista com uma ou duas pessoas e dar uma noção geral para os telespectadores sobre o que foi esse evento.
É o momento de fazer o enquadramento (framing), selecionar as principais informações. Eis a razão de Paternostro (2006) falar
em superficialidade. Não há tempo para contar tudo o que aconteceu, nem para deslocar uma equipe (câmera, repórter, auxiliar,
motorista) a um local e planejar algo que vai entrar no ar dali a alguns minutos. É caro fazer TV; é trabalhoso e muito dinâmico.
Há sempre muito planejamento em entradas ao vivo e muitas regras no texto televisivo. Mas não regras que impeçam um estilo
livre ou ainda o uso da criatividade. Aliás, é dominando o texto de TV que é possível criar dentro dele. Contudo, há alguns conselhos
básicos. Entre eles, usar o texto na ordem direta (sujeito, verbo e predicado), ler alto para ver se o texto fica bem quando falado (se
não há cacofonias ou rimas esquisitas; se há sonoridade), simplificar a mensagem, facilitar o entendimento. Bistane e Bacellar (2005,
p. 15) dizem para cuidar com as palavras “metidas a besta”:
Em televisão não se deve usar palavras ‘metidas a besta’. Estas devem ser substituídas por termos que empregamos no dia a dia, para
conversar com os amigos, com o zelador do prédio, com o professor. Palavras que soam naturais; nem de difícil compreensão, nem
pomposas demais. Ninguém diz para a namorada: ‘hoje eu presenciei uma colisão entre dois veículos’; a gente diz que viu um acidente. É
assim que devemos falar com os telespectadores, de maneira coloquial, direta, com frases curtas para facilitar o entendimento. Um texto de
jornal pode ser relido, o de televisão, não. A comunicação deve ser instantânea.
Uma diferença grande do texto de televisão para o de rádio é que este, além de contar com a repetição, precisa descrever os
acontecidos, as cenas. Já o texto de televisão deve ser feito para acompanhar um carregamento de informações em forma de
imagens. A imagem na TV já diz muita coisa, e por essa razão não há repetições; ela carrega em si muitas informações.
E como o jornalista faz para ficar invisível no texto, já que todo mundo o está vendo? O texto na televisão também é objetivo,
deve contar a história e conjugar com as informações das imagens. Nesse caso, o jornalista vai funcionar como testemunha dos
acontecimentos; os telespectadores verão que ele está em meio ao fato e poderá contá-lo com credibilidade.
Há diferença entre um repórter que está presenciando uma experiência e alguém que está atuando. É preciso entender que na
[2]
reportagem de TV o fato é o destaque. O repórter será sempre coadjuvante. Por isso, só faz a passagem quando não houver
imagens para cobrir o que vai dizer ou ainda para mostrar ao telespectador que estava no local e poderá falar sobre ele. No mais, o
[3] [4]
indicado é deixar as imagens falarem enquanto se traz mais informações com o off ou ainda com os entrevistados, com a sonora .
Concisão é outra dica primordial para esse veículo. Então, o texto precisa ser simples, falado e conciso. Mas o que é fascinante
na televisão é a infinidade de formas de organizar a informação. Você tem condições de falar, mostrar, organizar infográficos e
Daí conclui-se que, enquanto a notícia impressa tem uma forma que se desenvolveu ao longo do tempo e reflete determinado tipo de
organização da sociedade, a notícia em televisão é algo ainda em processo e sujeita a variações estilísticas. Nela se articulam estruturas de
difícil compatibilidade, como a exposição por ordem decrescente de importância, a narração em sequências temporais e a interpretação
conceitual que fecha o discurso, eventualmente suprimindo a estimulante ambiguidade da imagem. (Lage, 2006, p. 48)
E como fica o script na TV? Muito parecido com o do rádio, só contando que as falas dos apresentadores estão sempre em caixa
alta, tamanho 14, porque eles precisam olhar para a câmera. Logo, têm de bater o olho no script e já saber o que vem depois sem
Os estúdios possuem o teleprompter, a tela que vai na frente da câmera e passa o texto para o apresentador, mas pode ocorrer
possui. Ainda tem uma liberdade de informar e entreter. Quebrando um pouco os padrões da informação estrita, a revista também
analisa, investiga, interpreta e enriquece o conhecimento sobre um fato. Esse estilo de informação se reflete no texto, que acaba
sendo muito mais elaborado e criativo, fugindo dos padrões dos outros veículos.
Por terem periodicidade mais longa, as revistas trazem assuntos e textos que acabam durando mais, que muitas vezes se
tornam referência para pesquisa (herança do livro). Scalzo (2011, p. 12) diz que:
Uma revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de
jornalismo e entretenimento. Nenhuma dessas definições está errada, mas também nenhuma delas abrange completamente o universo que
envolve uma revista e seus leitores. A propósito, o editor espanhol, Juan Caño define ‘revista’ como uma história de amor com o leitor.
Uma das primeiras sacadas que se deve ter com o meio revista é que ele não é instantâneo. Foi criado para não ser instantâneo,
rápido, dinâmico. Então, se o seu forte não é o aqui e agora, o que a revista tem de tão interessante que a faz sobreviver como
veículo de informação por tanto tempo? Veja nesse link a história das revistas, como surgiram e como chegaram ao Brasil: http://ww
w.revistas.com.br/historia-da-revista.html.
Podemos dizer que o segredo da revista está na profundidade com que os temas são tratados. Scalzo traz uma explicação ainda
mais detalhada, convidando o escritor Gabriel García Márquez, para quem “a melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se
dá melhor”.
Hoje, até os meios eletrônicos começam a prestar maior atenção nisso. Enquanto editores de sites e portais da Internet disputam segundos,
e, na pressa, correm o risco de veicular notícias imprecisas ou mesmo erradas, os consumidores parecem cada vez mais interessados na
informação correta e não no ineditismo. Em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, no final de 2001, pela Online News Association, os
internautas deixaram a novidade – ou a ‘quentura’ – da notícia em quinto lugar, atrás de exatidão, completude, honestidade e fontes
confiáveis, em uma lista composta de onze características relacionadas à credibilidade da informação. (Scalzo, 2011, p. 13)
O rádio e a TV dão uma notícia, mas é no jornal e em especial nas revistas que se buscam os detalhes. Há ainda o refinamento
estético: revistas são bonitas. Além do mais, o tempo joga a favor. “As revistas podem produzir textos mais criativos, utilizando
recursos estilísticos geralmente imcomparáveis com a velocidade do jornalismo diário” (Vilas Boas, 1996, p. 9). Aos jornalistas são
exigidos textos mais elegantes e mais liberdade formal na escrita.
Outra diferença da revista é a segmentação. Tem para todos os gostos e públicos. Nem sempre os assuntos dos quais tratam,
principalmente as mensais, são factuais. Em geral, as pautas das revistas temáticas são frias; se forem publicadas hoje ou amanhã, não
há diferença, não vão ficar velhas. Logo, o texto não é curto e objetivo como deve ser o de jornal, rádio ou TV.
Revistas temáticas são mensais, como as voltadas a públicos específicos: saúde, moda, carro, pesca, cabelo, artesanato, viagens
etc. As de variedades, economia e política têm periodicidade semanal. Não há revista diária. Por isso, não se pode usar numa
reportagem o ontem ou amanhã. As datas precisam ser colocadas, inclusive com o mês. Assim o leitor não se perde.
No geral, a revista tem os tipos textuais do jornal impresso, como perfil, artigo, editorial e reportagem, mas a revista é
obrigada a trazer novas versões, mais entrevistados, mais histórias, mais fontes, além de imagens, infográficos e desenhos para
explicar a história ou o fenômeno.
A redação de uma revista não tem tanto problema com o tempo. Aqui é a elaboração e o refinamento que pesam. O detalhe é
checado várias vezes. Não se perdoa fácil um erro em revista, porque vai demorar, entre uma semana e um mês, para se publicar uma
errata.
A revista tem um tempo de vida mais longo. Nela há mais detalhes, mais informações, mais personagens, mais entrevistas e dá
até para ignorar o lide e a impessoalidade e começar a matéria de maneira cronológica, em primeira pessoa. Por ser altamente
segmentada, a revista usa a linguagem e os vocábulos do público para o qual é produzida – há desde linguagem técnica até gírias.
Até mesmo em um veículo que pretende sério pode usar um texto com mais abertura para metáforas ou analogias. Confira a
expressão “bufando como um cachorro louco no cangote” em uma matéria que traz uma análise sobre construção de reputação dos
presidenciáveis estadunidenses na revista semanal Veja, campeã de vendas no seu segmento.
Essa liberdade textual acaba vindo da literatura, também tendo algumas revistas nascidas com foco literário. Ainda hoje existem
diversas que trazem textos de diversos escritores, focadas em crítica literária ou apresentando novos talentos da literatura.
Há também uma característica do meio que envereda pela busca da estética perfeita na editoração. Em algumas revistas, fotos
muitas vezes são mais importantes que textos, note pela National Geographics. Diria que esse veículo exige de você um foco grande
na apuração dos dados e no relato cuidadoso, que nem sempre vai seguir fórmulas textuais.
Cabe de tudo na internet, inclusive todos os tipos de jornalismo; cabe a notícia imediata ou a reportagem investigativa. Para lá
convergem as linguagens, as plataformas, os tipos textuais. A internet chegou para reunir em um só ambiente a fotografia, o texto
escrito, o som, a animação, o infográfico e o audiovisual. Na cobertura de um assunto que mereça atenção, dá para usar todas as
possibilidades informativas.
Nesse ambiente convivem jornalismo factual, opinativo, de profundidade (similar ao da revista), e isso tudo sem problema de
espaço físico para colocar as informações como acontece nos impressos; sem limite de tempo no ar, como na rádio e na TV. Esse
espaço é como coração de mãe (sim, clichê), sempre vai caber mais algum detalhe, mais uma foto, mais alguma entrevista.
Pesquisador da Universidade de Navarra, Ramón Salaverría (2017) cita os três princípios do webjornalismo que norteiam a
produção jornalística: hipertextualidade, interatividade e multimidialidade. Quanto ao hipertexto, o autor salienta mais a sua
Num cenário de jornalismo cada vez mais on-line, produtores de conteúdos para sites, redes sociais e marcas estão entre as
vagas mais oferecidas para quem sabe manejar bem esse meio. E quais são os segredos para trabalhar um texto na internet? Bem,
para começo de conversa você precisa saber que o texto vira hiper, o hipertexto. Mas o que é um hipertexto?
Um bloco de diferentes informações interconectadas é um hipertexto que, ao utilizar nós ou elos associativos (os chamados links) consegue
moldar a rede hipertextual, permitindo que o leitor decida e avance sua leitura do modo que quiser, sem ser obrigado a seguir uma ordem
linear. Na internet não nos comportamos como se estivéssemos lendo um livro, com começo, meio e fim. Saltamos de um lugar para o
outro – seja na mesma página, seja em páginas diferentes, línguas distintas, países distantes etc. (Ferrari, 2010, p. 44)
A hipertextualidade considera, portanto, a possibilidade de linkar textos complementares a um texto principal ou resgatar
matérias antigas que ajudem a explicar o que se está noticiando agora. Isso permite amplificar a cobertura de determinado assunto
A internet possibilitou o surgimento de novos meios de comunicação, os nativos digitais, e permitiu que os meios tradicionais
migrassem para a web. O aumento da concorrência e o avanço tecnológico dinamizou a produção, dando ao jornalismo um caráter
de multimidialidade. As informações não são apenas em texto, apenas em áudio ou apenas em imagens; passaram a ser tudo junto,
multimídia.
Então, a internet não substituiu as outras outras plataformas de difusão de informação porque esses outros meios aderiram a ela.
Todos os meios, rádios, TVs, jornais e revistas, possuem seu próprio website em que reproduzem suas produções ou conteúdos
adicionais.
De acordo com Salaverría (2017, citado por Rech, 2018, p. 185-186), a informação multimídia “descreve a combinação de
diferentes formatos comunicativos, como texto, som, imagem e vídeo, colocados a serviço de uma mensagem informativa”. Para o
autor, isso caracteriza a multimidialidade.
A internet tirou o consumidor de informação da condição de passividade, ele agora tem a possibilidade de escolher qual
informação consumir. Não está mais à mercê das escolhas editoriais das equipes dos veículos. A interatividade, então, encontra
nesse meio algo que vai muito além das cartas dos leitores ou ainda da ligação telefônica do ouvinte ou da participação especial das
pessoas no estúdio: todo mundo pode opinar, deixar seu recado, seu comentário.
Rech (2018) indica três esferas de atuação do receptor da informação: na seleção, na personalização e na participação. Os dois
primeiros têm a ver com as escolhas do conteúdo que irá consumir. Já na esfera participativa, assume o papel de interlocutor e
coautor da notícia (Rech, 2018). Mas qual a influência do receptor no jornalismo?
Se não influencia diretamente a construção do texto, o leitor interativo pode contribuir com algum aspecto ligado a ele, que pode
enriquecer a experiência de outros leitores que acessarem determinado conteúdo. Pode, ainda, apontar falhas que não deveriam estar
presentes no material, mas que passaram despercebidas no ato da publicação. (Rech, 2018, p. 187)
Agora, outra pergunta que tem a ver com essa disciplina: Essa enorme gama de possibilidade de conteúdo multimídia
influenciou a redação do texto principal de uma notícia ou reportagem? “Este [o texto] deve continuar seguindo a lógica produtiva e
narrativa, incluindo a escrita do lide, o desenvolvimento do texto e o fechamento do relato, como uma ordem lógica” (Rech, 2018, p.
186).
O desafio já não é só escrever, é escrever usando todas as linguagens, com imagem, vídeo, texto e som. Isso acaba também
mudando um pouco o papel do jornalista no momento de cobrir os fatos. Atualmente, ele não vai mais com uma equipe. Está
sozinho, equipado com uma câmera digital, um notebook ou celular para produzir e enviar o material.
O mercado de trabalho também muda. Hoje esse jornalista que está no fato, presencialmente está sendo pago por uma agência
de notícias. Os veículos já não possuem grandes equipes. São as agências de notícias que acabam enviando o material e o que os
editores de on-line fazem é empacotar esse material, ou seja, prepará-lo para o ambiente on-line. O trabalho não se resume em
organizar o texto, o título, a chamada.
É preciso pensar na enquete (pesquisa de opinião com o leitor), no Twitter do veículo, na grade de conteúdo atualizada diariamente nos
links do Facebook, nos vídeos publicados no Youtube e se possível saber contextualizar e elencar todos os assuntos e serviços correlatos à
reportagem. (Ferrari, 2010, p. 46)
O mundo das notícias on-line é absurdamente mais instantâneo do que em qualquer outra mídia, apesar de o rádio ainda
apresentar certa rapidez. Isso faz com que as redações on-line sejam os ambientes mais enlouquecedores na atualidade. E tem mais:
essa agitação não acontece até acabar a segunda edição do jornal na televisão, ou ainda logo depois da impressão do jornal ou da
A internet não fecha. Ela deu outro significado para a palavra furo. Agora não importa se são duas da manhã ou duas da tarde.
Alguém deve estar cobrindo, checando e redigindo para postar o mais rápido possível. É muito comum o jornalista multimídia digitar
a matéria no notebook dentro do carro ou em casa. Mas isso traz uma grande desvantagem: é gritante o número de veículos que
cometem erros grosseiros na internet, desde digitação pura e simples até textos mal construídos.
Há ainda os que buscam textos em outros sites, mudam um pouco aqui e um pouco acolá e pronto, acham que estão ofertando
informação fresquinha para seu público, sem checar se é verdade. Na web é fácil corrigir porque atualiza-se a página e pronto. Tem
muito veículo que pensa dessa forma e nem errata faz. O que é muito ruim, porque se o usuário acessa para saber de alguma notícia
vai confiar, e talvez não acesse de novo para ver a matéria corrigida.
Há outra questão que acaba depondo contra os veículos que pensam ser muito fácil corrigir e ajustar os erros: o print screen. É
impressionante a quantidade de usuários que têm consumido notícias com um olhar bem crítico a ponto de avaliar a busca pela
imparcialidade, o jogo textual, a construção de manchetes. São vários os print screens espalhados pelas redes sociais mostrando o
que grandes veículos fazem quando possuem interesses por trás das matérias ou ainda um refinamento muito ruim e a checagem de
informação.
Cheque a informação. Não saia copiando ou editando dos outros veículos mesmo que a pressão por tempo seja enorme.
Date as matérias. Muitas vezes é complicado descobrir na internet quando algo aconteceu, e talvez por isso tenha tanta gente
desenterrando notícias, artigos e falas do passado e outras pessoas considerando essas informações atuais.
Use a pirâmide invertida, mas seja esperto quanto ao hiperlink. Lembre-se de que tem muita informação em vídeos, fotos e
boxes.
Objetividade é importante. Embora as pessoas fiquem muito tempo na frente dos computadores, tablets e smartphones, é
desconfortável ler um texto muito grande na telinha. As notícias devem ser curtas e objetivas; se o leitor quiser outras
complemente a notícia nos diferentes suportes. No mais, a prática vai ajudar. Acredite.
TROCANDO IDEIAS
Explique quais dos textos jornalísticos, de quais veículos, em sua opinião, são os mais efetivos na interpretação de fatos. Por quê?
NA PRÁTICA
Dê uma olhada na reportagem especial e premiada no site de O Estado de S. Paulo, disponível em <http://infograficos.estadao.c
om.br/public/especiais/crack/> e analise a construção textual com as referências de imagem, som e vídeo. Como foi feita a estrutura
do conteúdo? Quais as referências que você identifica que vieram do impresso (jornal e revista), da televisão e do rádio? Por que se
FINALIZANDO
Nesta aula, vimos os diferentes tipos de textos jornalísticos, para rádio, TV, jornal impresso, revista e web. Diante da convergência
trazida pela internet, estudamos os conceitos de hipertextualidade e multimidialidade no jornalismo. É no ambiente digital que as
linguagens dos diferentes veículos se encontram.
Agora, use tudo o que aprendeu aqui e vá adaptando o texto jornalístico para as diferentes mídias. É um ótimo exercício!
REFERÊNCIAS
CARVALHO, A. et al. Reportagem na TV: como fazer, como produzir, como editar. São Paulo: Contexto, 2010.
MEDITSCH, E. O rádio na era da informação – teoria e técnica do novo radiojornalismo. Florianópolis: Insular, UFSC, 2001.
NOBLAT, R. A arte de fazer um jornal diário. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
PATERNOSTRO, V. I. O texto na TV: manual de telejornalismo. 2ª ed. rev. e atualizada. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
RECH, G. K. Redação jornalística: apontamentos para a produção de conteúdo. Curitiba: InterSaberes, 2018.
VILAS BOAS, S. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996.
[1] Teleprompter (TP) é um instrumento acoplado à câmera. Ele permite ao apresentador ler o texto diretamente na tela, sem dar
[2] Momento da matéria jornalística de televisão em que o repórter aparece em frente à câmera para contar parte do fato.
[3] Fala do repórter sem que este apareça. Somente as imagens relativas ao que ele está dizendo aparecem.