Bullying
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6.Bullying
6.1.Tipos de bullying
A maioria das pessoas está mais preocupada com a agressão física, porém a
manifestação do bullying acontece de diversas formas. Com efeito, Steven, (2006),
Anderson (2007), Little (2007), Cottello (2008), Murphy (2009), Calvert (2009) e o
Conselho Nacional da Justiça (2010), classificam este fenómeno em três famílias:
bullying directo, bullying indireto ou relacional e Cyberbullying.
O bullying directo é o mais visível que os dois últimos. Os autores em referência
classificaram-no em duas subcategorias: agressão física (bater, empurrar, beliscar,
roubar, furtar ou destruir pertences da vítima) e agressão verbal (insultar, falar mal,
colocar apelidos pejorativos).
A agressão física revela a intenção do agressor em mostrar a sua supremacia de poder
em relação à vítima, com o intuito de ganhar fama no seio do grupo. Para que isso
aconteça o agressor sente a necessidade de selecionar quem será a sua vítima. Segundo
Murphy (2009) e Cuadrado (2011), de uma forma geral este tipo de bullying é mais
preferido pelos rapazes.
Qualquer uma das modalidades de agressão verbal tem como objetivo principal ferir a
vítima a nível emocional, baixando a sua auto-estima. De acordo com o Ministério de
Educação e Instituto Camões (2001), insultar significa causar ofensa grave a alguém com
palavras injuriosas, mostrando desprezo. Essas palavras pejorativas deixam a vítima
numa situação vergonhosa e embaraçosa, porque o objetivo do agressor é diminuir a
vítima perante os colegas. “Falar mal do outro” é uma outra forma de agressão verbal,
em que o agressor pretende excluir a vítima socialmente, uma vez que leva informações
maliciosas junto dos colegas, e tenta convencê-los que é verdade. “Colocar nomes
ofensivos” é uma outra manifestação da agressão verbal, que contribui não só para a
exclusão social da vítima, mas também para colocá-la numa situação de insegurança,
uma vez que estimula outros colegas a fazerem a mesma coisa.
O bullying indireto ou relacional recebe esta designação porque afeta as relações
interpessoais da vítima com os colegas, a família e outras pessoas do meio onde ela está
inserida, e tem como finalidade excluí-la de um determinado grupo através da
humilhação, exclusão, discriminação, intimidação e difamação.
Nas escolas secundárias é comum verificar-se situações em que um(a) determinado(a)
aluno(a) é impedido(a) de participar nos jogos e outras atividades que podem ocorrer
na escola. O objetivo principal do(s) agressor(es) é humilhar, discriminar e promover a
exclusão da vítima.
É muito comum nas escolas ocorrerem situações em que o agressor exige que a vítima
lhe traga dinheiro ou qualquer objeto, usando como estratégia a intimidação. A vítima,
para não ser castigada, tem de arranjar forma de satisfazer o pedido do agressor. Tal
situação pode levar a vítima a roubar dinheiro ou outro objeto qualquer para poder ficar
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livre da punição. Se os pais descobrirem que o filho está a roubar, na maioria dos casos,
optam pela punição do filho sem saberem a causa do comportamento desviante, porque
pensam que tal comportamento do filho põe em causa a reputação social da família.
A difamação é uma forma de exclusão social extremamente perigosa, uma vez que tem
como finalidade destruir a auto-estima da vítima. É como uma bomba, isto é, contribui
para destruir a reputação da vítima, levando-a a uma situação de depressão e de
desespero.
Uma outra forma de bullying, muito comum nas escolas nos últimos tempos da era
digital é o cyberbullying, que permite colocar nomes ofensivos, difamação e difusão de
rumores em relação a uma certa vítima através de internet ou telemóvel. Segundo o
Conselho Nacional da Justiça (2010), a propagação das difamações é pra¬ticamente
instantânea, por isso o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável.
Acrescenta ainda que este bullying virtual expõe a vítima ao escárnio público e que,
infelizmente, esses agressores não sentem nenhuma preocupação porque praticam esse
tipo de perversidade no anonimato, atingindo a vítima da forma mais vil possível.
Das três modalidades de bullying referidas acima, o bullying direto é mais visível que os
dois últimos. No entanto estes são muito mais perigosos do que aquele. Segundo
Olweus (1993), Williams (2010), existem certos sinais de aviso, que podem ser
observados nos alunos tanto na escola como em casa, que resultam do fenómeno
bullying. Atinente aos sinais que podem ser verificados nas vítimas na escola os autores
em referência destacam os seguintes:
frequentemente são chamados de nomes ofensivos, insultadas, ameaçadas,
injuriadas, ridicularizadas, etc
frequentemente são motivos de troça e situações engraçadas;
muitas vezes são empurradas;
os colegas destroem os seus materiais e escondem as suas coisas;
sempre são impedidas de participarem nas atividades;
quase não têm amigos, por isso ficam isoladas;
não têm amigos íntimos;
são últimos aluno a serem incluído no grupo;
procuram ficar perto dos professores e de outros adultos durante o intervalo;
têm dificuldade de falarem na aula.
Relativamente aos sinais que os alunos vítimas do bullying manifestam em casa, os
autores supracitados apontam os seguintes:
trazem roupas rasgadas e ferimentos no corpo;
constantemente queixam-se de perdas das coisas que lhes pertencem;
têm medo de ir à escola ou não participar nas atividades escolares;
começam a queixar-se do surgimento de dor de cabeça e estômago, e outros
sintomas para poderem ficar em casa;
Mudanças de comportamento (tristeza, agressividade).
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Gostariamos de informar aos caros leitores que relativamente aos sinais que podem ser
observados tanto nas vítimas como nos agressores estão mais desenvolvidos no
próximo livro a ser editado no momento oportuno.
Muitas pessoas consideram bullying como brincadeira de mau gosto, por isso ignoram
as suas consequências. Porém, é um fenómeno com consequências nefastas, e por isso
é preciso treinar os professores, os continuos, os porteiros, os pais e toda a comunidade
educativa a fim de conseguirem detetar esses sinais. Deste modo estarão preparados
para porem cobro a esta situação trágica por que poderão passar os seus educandos.
A escolha da vítima pelo agressor não acontece de uma forma casual, isto é, ele
seleciona-a tendo em conta algumas características, que garantem que ela é mais fraca
a todos os níveis. De acordo com Dahlheimer (2004), a vítima manifesta algumas
características que facilitam o agressor na sua escolha, tais como: baixa auto-estima,
ansiosa, triste, fisicamente fraca, fica isolada dos colegas, não tem amigos e fica sempre
quieta.
Alguns professores preferem ter alunos que ficam quietos em vez de outros que
perturbam o funcionamento da aula. Entretanto, conforme Freire (1996), devemos estar
atentos a qualquer atitude manifestada pelos alunos, designadamente pelo sorriso,
silêncio ou retirada da sala de aula.
Quando um aluno manifesta qualquer dessas atitudes, devemos, de uma forma sábia,
procurar compreender o significado do sorriso, silêncio ou retirada da sala. Se o aluno
perceber que somos sinceros, e que queremos ajudá-lo, ele desabafa connosco o seu
sofrimento.
O professor deve procurar munir-nos de todas as informações relacionadas com o
bullying, a fim de ficar vigilante. Alguns alunos não confessam aos professores os seus
problemas, porque não se sentem à vontade. Para obter a confiança dos alunos, o
professor deve ter postura que lhes desperte essa confiança.
Como já referimos atrás o bullying é caracterizado essencialmente não só pelo facto de
acontecer de uma forma sistemática e contínua, mas pela diferença de poder entre o
agressor e a vítima. Para Dahlheimer (2004) e Cottello (2008), o agressor apresenta as
seguintes características:
baixa empatia em relação aos colegas;
atitude positiva em relação à violência;
muito agressivo com os pais, professores e com os colegas;
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toma como vítima quem é mais fraco para perturbá-lo física ou mentalmente;
não está disponível para aceitar a opinião dos outros ou para negociar quando
está a jogar;
não vive socialmente isolado;
possui uma atitude paternal e de intimidação.
Uma das características do agressor (bully) reportada acima é a baixa empatia que,
segundo Goleman (1998), é a capacidade de compreender o outro e colocar-se no seu
lugar a fim de ajudá-lo. Isso significa que o agressor (bully) é insensível, isto é, para ele
é um prazer ver o sofrimento da vítima. Não aprendeu os valores éticos, morais e
democráticos a ponto que pensa que ser violento é sinónimo de ser herói.
A pergunta que se propõe é a seguinte: como aprende o agressor as regras de uma
convivência democrática e não se lhe ensinou?
O agressor não está disponível para aceitar a imposição de opinião. O maior problema
de muitos educadores é pretenderem ver uma mudança imediata. Não é possível
semear e colher o fruto no mesmo dia. O agressor não é tão forte como muitas pessoas
pensam. Ele precisa de ajuda que, muitas vezes, não encontra. Freire (1996) afirma que
mudar é difícil, mas é possível.
Quando o agressor manifesta a sua atitude paternal e de intimidação, tem como
objetivo exibir o seu poder. Segundo Holmgre (2011), o objetivo dos agressores (bullies)
é ganhar o controlo das pessoas, porque não possuem a empatia em relação às pessoas
que estão a ferir. Na sua presença a vítima não tem direito de fazer nada sem o seu
consentimento, visto que, para o agressor, a vítima não tem vez nem voz.
Referimos acima que o agressor tem baixa empatia, mas essa característica pode ser
desenvolvida com o tempo, à medida que o professor consiga implementar na turma o
respeito pela diferença, a ajuda mútua, a compreensão, a amizade e a sã convivência
através da gestão dos conflitos que surgem na turma.
O agressor também precisa que alguém o compreenda, a fim de ajudá-lo. Alguns
professores, quando verificam que um determinado aluno manifesta comportamentos
desviantes, em vez de se aproximarem dele e tentarem compreendê-lo, fazem o
contrário. Começam a odiá-lo, e a excluí-lo de qualquer maneira. Passam informações
desse aluno aos outros colegas, com intuito de aumentar a sua exclusão social. Esse
aluno precisa de ser compreendido, para poder receber a educação, que deve ser
acompanhada de amor e carinho que lhe fazem muita falta.
Para o professor ter sucesso na educação de alunos com comportamentos desviantes,
ele deve acreditar que é possível. Tendo esta convicção, deve começar a agir. Segundo
Soler y Conangla (2007), existem quatro chaves para alcançar o êxito numa determinada
tarefa: desejo, ação, esforço e perseverança.Significa que para educar os alunos com
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Quando uma criança se desenvolve num ambiente familiar onde acontece a violência
doméstica com muita frequência, ou se os pais recorrem ao castigo físico com muita
frequência para corrigir os filhos, estes podem pensar que agredir uma pessoa
fisicamente é uma coisa normal.
O primeiro lugar onde as crianças devem aprender as regras sociais é na família, pois é
ali que a criança vai ser preparada para estabelecer boas relações sociais. Os pais devem
falar a mesma linguagem, isto é, quando um diz que determinada conduta não é aceite
socialmente, o outro deve apoiar a sua afirmação.
Quando a figura do pai é muito fraca, e a mãe for muito permissiva, os filhos podem não
aprender que existem “sim” e “não”. Em alguns casos, os pais não sabem quem são os
colegas dos filhos, não sabem onde vão nem o que fazem. Essas crianças desenvolvem-
se sem receberem nenhum tipo de ensino. Podem fazer o que acharem conveniente,
inclusive, comportamentos socialmente reprovados.
É tarefa dos pais dialogar com os filhos, ensinando-lhes os comportamentos que são
socialmente aceites, apresentando-lhes as consequências da manifestação de
comportamentos agressivos tanto para a vítima como para o agressor. Devem estimular
nos filhos a cultura de sã convivência, de amizade, de tolerância e de ajuda mútua.
Segundo Wong (2003), quando as crianças estão felizes, emocionalmente estáveis,
satisfeitas e com bons resultados escolares, elas são aceites pelos colegas, a
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motivado e, por isso, consegue motivar os seus alunos. Recorde-se que quando o
professor está desmotivado, a sala de aula fica propícia ao surgimento de condutas anti-
sociais.
A aquisição de competência é um processo e, por isso, implica ultrapassar as barreiras
que surjam ao longo da tarefa docente até que se chegue a um momento em que a
autoridade é reconhecida e respeitada tanto dentro como fora da sala. Freire (1996)
afirma que a mudança acontece a partir do momento em que o indivíduo reconhece
que está no caminho errado. Esse reconhecimento só acontece através do diálogo
paciente, uma vez que a mudança não ocorre de um dia para outro. Uma das questões
que se poderá colocar é: qual é a causa dessa demora? A mudança implica dor, isto é,
abrir a mão de alguma coisa que constitui a rotina diária.
O professor não é apenas um transmissor de conteúdos. É, acima de tudo, um educador
e, enquanto tal, deve, pelo menos, ter cinco qualidades: competência, paciência,
coragem, perseverança e amor. Tendo os cinco atributos referidos acima, o professor
constitui-se numa autoridade notória para os seus alunos, uma vez que causa uma
grande admiração nos mesmos e assim exerce influência sobre os seus alunos não só na
escola, mas em qualquer lugar.