GuiaJusticaClimatica CasaFluminense
GuiaJusticaClimatica CasaFluminense
GuiaJusticaClimatica CasaFluminense
ABC DO CLIMA
QUEM ENFRENTA O RACISMO AMBIENTAL?
TECNOLOGIAS SOCIAIS & ANCESTRAIS
• A missão de uma cozinha afetiva comunitária sustentável
lEGISLAÇÕES E INSTRUMENTOS
MOVIMENTOS E PRÁTICAS
PARA INCIDÊNCIA
AGRADECIMENTOS
FICHA TÉCNICA
• Um filme de sobreviventes para sobreviventes
• O 1º Fórum Climático da Baixada Fluminense
• Ocupação cultural e resistência em Realengo
• Doulagem coletiva no Lixão de Itaoca
• O poder da transformação social da bicicleta em Queimados
• Telhados verdes para enfrentar as ilhas de calor
• Uma agenda de políticas públicas em Rio das Pedras
• Complexo verde de favelas pela soberania alimentar
• Caminhos de resistência contra a siderúrgica em Santa Cruz
• Mobilização social e incidência política por uma Baía Viva
• Coletivos desenvolvem câmara popular em Caxias
• A 1ª cooperativa de energia solar em favelas do Brasil
• Uma agenda para melhoria do transporte público em Itaboraí
• Reflorestamento na “floresta do pertencimento” de Nova Iguaçu
APRESENTAÇÃO
A população do estado do Rio de Janeiro tem vivido episódios alarmantes rela-
cionados às fortes chuvas, como deslizamentos, enchentes, alagamentos, en-
xurradas, problemas que ano após ano ceifam vidas e que geram inúmeros
outros problemas humanitários e estruturais. Essa nova realidade não tem a
ver apenas com a intensidade desses eventos, mas sobretudo com a frequên-
cia cada vez maior desses desastres ambientais em todo o planeta. São os im-
pactos das mudanças do clima sendo sentidos na pele - tanto de forma direta
como indireta.
A primeira edição do Guia para Justiça Climática busca siste matizar esquema-
ticamente as experiências de práticas, soluções e tecnologias sociais e ances-
trais desenvolvidas em nossos bairros, favelas e periferias ignoradas pelo poder
público, no enfrentamento aos desastres climáticos através de estratégias de
adaptação e/ou mitigação dos impactos ambientais sofridos por quem menos
contribui para as mudanças climáticas.
APRESENTAÇÃO
Essa construção, que conta com a parceria de pessoas e organizações apoiadas São negados direitos sociais básicos como habitação, mobilidade urbana, segu-
pelo Fundo Casa Fluminense, lideranças de Agendas Locais 2030 e da Rede Favela rança pública, educação, saúde, entre os quais, ter acesso ou não - e a qualidade
Sustentável, também busca estimular a multiplicação dessas experiências entre desse acesso - se reflete diretamente na forma como populações majoritaria-
lideranças e movimentos com o desejo de atuação no tema da justiça climática, mente negras e pobres irão responder aos eventos meteorológicos e climatoló-
apoiar estrategicamente ações de monitoramento e incidência local de políticas gicos.
públicas na temática, ser material base para aulas, cursos, oficinas, circuitos e ro-
das de conversas territorializadas e ampliar o entendimento sobre os conceitos de Como sempre é temido, e infelizmente esperado, começamos 2023 com tragé-
racismo ambiental e justiça climática na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. dias relacionadas à emergência climática na Região Sudeste. No Rio de Janeiro,
favelas e periferias ficaram literalmente debaixo d’água, mostrando que a crise
Discutir sobre justiça climática e racismo ambiental exige, além de uma aborda- climática é, sobretudo, uma crise de habitação. Em ambas, há um marcador de
gem interseccional, considerando as dimensões de classe social, gênero e raça. raça, de gênero e territorialidade que, não coincidentemente, se repete como
Sobretudo, levar em conta diferentes eixos temáticos que fazem parte e impactam um padrão de desigualdade histórica.
a vida dos territórios vulnerabilizados, onde poderes atuantes são excludentes e
negligenciam os cuidados com a população e o meio ambiente.
Estado do Rio de Janeiro, 2019
+ de 2,1 milhões
de moradias inadequadas,
déficit habitacional
gislativa do Rio de Janeiro, para pautar a criação da Secretaria Estadual
de Emergência Climática. Valorizando justamente a Defesa Civil, o Mi-
nistério Público e levando o clima a sério, a pasta pode e deve coorde-
de 481 mil
em sua maioria chefiado nar, elaborar, planejar e executar planos e ações para adaptação, resi-
por mulheres 1 liência e mitigação, como propõe a Agenda Rio 2030.
4,8 milhões
de pessoas afetadas por
+ de 85 mil
moradias e infraestrutu-
R$ 1,6 bilhão
em perdas e
eventos climáticos relacio- ras públicas danificadas e danos 2
nados às fortes chuvas outras 3 mil destruídas Fonte: Defesa Civil RJ
1 Relatório Agenda Rio 2030, com dados da Fundação João Pinheiro, 2021.
APRESENTAÇÃO
2 Eventos climáticos considerados: tempestades, inundações, enxurradas, deslizamentos,
alagamentos, erosões costeira e fluvial, corridas de massa, ciclones e frentes frias.
3 Louback, Andreia. Dissertação de mestrado: Jornalistas negras no Rio de Janeiro: trajetórias
de vida e narrativas de resistência diante do racismo. CEFET, 2018.
B incidência política
ação de pressão, mobilização ou articulação com o objetivo de incluir pau-
A C
tas no planejamento, orçamento e execução, influenciando tomadores
de decisão no Executivo, Legislativo, Judiciário ou mecanismos interna-
cionais. Estratégia que envolve atos e campanhas que vão mobilizar uma
causa prioritária, criar ou aprimorar uma política pública. Transformar re-
alidades a partir da luta política, ainda que de forma suprapartidária.5
justiça ambiental
tanto o conceito como o movimento político, nasceram diante no con-
texto de exposição desigual de populações de baixa renda e, majoritaria-
mente, racializadas, como negros e indígenas, aos impactos ambientais
DO CLIMA
decorrentes do modelo econômico. No Rio de Janeiro, são as populações
que vivem nas favelas, nos subúrbios e nas periferias são as que sofrem
com ambientes insalubres, por conta da poluição do solo, água ou ar,
proximidade com lixões e complexos industriais ou áreas sujeitas a alaga-
mentos e deslizamentos, por exemplo.
justiça climática
conhecida como um desdobramento dos movimentos por justiça am-
adaptação biental, o conceito vem da premissa incontestável de que os impactos das
os desastres climáticos já são uma realidade do passado, do presente e mudanças climáticas não são democráticos, afetando, sobretudo, popu-
do futuro, a adaptação é uma alternativa para “moderar e evitar danos” lações racializadas e periféricas que menos contribuíram para esse pro-
ainda maiores. O adaptar-se pode ser tanto em questões de infraestrutu- cesso. Logo, são uma questão de justiça social com gênero, raça e CEP, o
ra e arquitetura de bairros e favelas, como também de “gambiarras” que que significa que, se as enchentes têm um impacto pior para quem vive
ajudam os territórios no enfrentamento dos impactos climáticos com nas favelas, periferias, quilombos, comunidades indígenas e áreas subur-
menos prejuízos às pessoas, moradias e possibilidades de futuro. banas e rurais, essas mesmas pessoas serão alvo da injustiça climática.
abc DO CLIMA
quem enfrenta o
racismo ambiental?
Em todo o mundo, populações tradicionais, negras, indígenas e em-
pobrecidas são as que mais sofrem com o racismo ambiental e as
mais desproporcionalmente impactadas pelas mudanças do clima.
Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro não é diferente, pois são
elas que moram em favelas, que resistem nos quilombos e aldeias e
são desumanizadas quando direitos básicos lhes são negados.
As principais combatentes na luta por justiça ambiental e
climática, que transformam suas dores em lutas, não ape-
nas por sobrevivência, mas por dignidade.
Pâmela Pâmela, do Instituto TJNS, nos conta que ela e sua
família, assim como muitas outras, são vítimas do ra-
cismo ambiental desde criança. Uma família preta
ção sobre seus direitos visando desenvolver
lideranças que pensem políticas públicas territoriais.
Mércia
com um histórico extenso de perdas por conta das A escolha de trabalhar com esse público parte
chuvas fortes. do princípio que as moradias nas encostas da cidade
são feitas tanto por ricos quanto por pobres, mas as
víti-mas das fortes chuvas são exatamente os mais
po-bres, por isso é estratégico trabalhar com
Eu já dormi em beliche, com goteira de chu- mulheres chefes de família vítimas desses
va caindo em cima do meu rosto e isso acon- fenômenos.
tece com várias pessoas também. A gente
não pode reduzir o racismo ambiental ape-
nas a eventos extremos mais mortais, ele se
faz presente nas chuvas mais rotineiras e nos A gente precisa de políticas públicas para
danos diários provocados." pessoas que vivem em áreas de risco, prin-
cipalmente a questão da moradia. Da nos-
sa parte, como sociedade civil organizada,
é possível fazer formação com quem é afe-
Uma rede de apoio contra tado. Para evitar esse tipo de catástrofe, a
gente precisa dialogar com quem é vítima
o racismo ambiental em para que ela se reconheça como tal e possa
brigar pelos seus direitos. Porque se a gente
Moradora do centro de Petrópolis,
pós-graduanda em engenharia
petrópolis tem muita gente brigando, as mudanças vão
acontecer mais rápido.”
ambiental, atua como educadora Neste contexto surge o Instituto TJNS, iniciado em
e consultora ambiental 2020, durante a pandemia, com mobilização para
a entrega de cestas básicas para famílias em
insegurança alimentar, capacitação pro-fissional de
mulheres e assistência jurídica para aces-so a
benefícios e direitos previdenciários, trabalhistas ou
petrópolis assistenciais.
Petrópolis é uma cidade historicamente mar- Por meio do Sustenta Elas, um projeto do Institu-
cada pela desigualdade social e pelas tragé- to, oferecem para mulheres vítimas das chuvas,
dias resultantes dos deslizamentos diante mães solo, sem ou com pouca renda e formação,
das fortes chuvas. No último ano, após chu- majoritariamente pretas, capacitação para a pro-
vas torrenciais, a cidade viveu a sua maior dução de sabonetes, macramê e de brechós,
tragédia, que deixou 231 mortos e muitos de- visando à emancipação financeira, junto com a
saparecidos. educação ambiental, além de oferecerem orienta-
Valdirene são as diversas comunidades tradicionais, como pes-
cadores e catadores de caranguejo, que vivem uma
relação de subsistência muito sensível com esses
Resgate da memória e
resistência no quilombo
Couto
ambientes.
E por conta de todas as problemáticas do dia a dia, os
Valdirene, também conhecida como Val Quilombola, jovens não se interessam mais por exercer essas ati-
é catadora de caranguejo e técnica em enfermagem. vidades, sendo que permanecem vivas pelas mãos
Ela conta que, apesar do panorama atual do mangue- dos mais antigos do quilombo.
zal ser melhor do que em relação há 30 ou 40 anos,
ainda sim o ecossistema é afetado pela poluição de Existe uma profunda relação ancestral e histórica des-
grandes empreendimentos na Baía de Guanabara e sa população com o território quilombola e o man-
o descarte incorreto de lixo - que acontece mesmo guezal. Porém, apesar de ter sido certificado como
com leis de proteção a esses ecossistemas. remanescente de quilombo pela Fundação Cultu-
ral Palmares, em 2018, parte da própria comunidade
Na luta quilombola há mais de 20 anos no Quilom- ainda não se reconhece como quilombola. Existe um
bo do Feital, em Magé, Val trabalha integralmente conflito de identidade, muitas vezes por questões re-
nas atividades do espaço sem renda nenhuma. A ligiosas.
quilombola contou que exercer a pesca artesanal é
um desafio cada vez maior, pois o pescador tem que Em paralelo a essas dificuldades, o trabalho do Qui-
competir com grandes embarcações, o lixo e a polui- lombo do Feital é realizado, com esforço de ressigni-
Liderança quilombola de Magé, ção da água. Uma superação de desafios diária que ficar o território em que vivem pelo resgate da cultu-
presidente da Associação da permite “sobreviver, mas não viver”. ra e das tradições quilombolas, como o artesanato, a
Comunidade Remanescente do pesca e a cata de caranguejo.
Quilombo do Feital (ACORQF)
Minha família e outras mais de 50 famílias Estamos trabalhando para que nossa nossa
são todas, praticamente, pescadoras e cata- população preta seja valorizada e respeita-
Quilombo do Feital, Magé doras de caranguejo. Poucas são de peixe, a
maioria está na cata do caranguejo, que é
da. A gente pede a quem de fato tem o po-
der da caneta que atue nessas comuni-
uma pesca totalmente artesanal e bem so- dades, que normalmente estão à margem
Os manguezais são importantíssimos da sociedade, porque vivemos muito o
frida. As mulheres, inclusive, estão na linha
para a manutenção da vida em ecossiste- de frente desse arte que é a arte de catar o racismo ambiental”
mas costeiros, que estão perdendo cada caranguejo”
vez mais espaço com a expansão de-
senfreada e sem planejamento das ci-
dades. Quem mais sente essa mudança
Shirley Hoje, a expectativa de vida de pessoas trans no nosso
país é de 35 anos. Na contramão das estatísticas, co-
nhecemos a jornada de Shirley, 47 anos, que coorde-
A lógica do racismo ambiental pode ser identificada
na falta de planejamento urbano em Nova Iguaçu,
nas áreas desmatadas e nas cachoeiras que foram
maria
na a Casa Dulce Seixas, em Nova Iguaçu. Conhecida fechadas, onde eram feitas oferendas. Fora isso, ain-
como a única casa de acolhimento da Baixada Flu- da tem os lixos a céu aberto que atraem moscas, do-
minense, o espaço é um oásis de resistência diante enças, fedor e toda forma de contaminação. A Casa
das injustiças climáticas e está constantemente na Dulce Seixas também sofreu drasticamente com as
mira mais cruel da faceta do racismo ambiental no enchentes deste ano. A parte elétrica ficou compro-
território. metida, as infiltrações invadiram as paredes e o lixo
entupiu o encanamento.
Shirley reflete como a própria ausência de mais da-
dos sobre o tema já é um alerta de como a popula-
ção LGBTQIA+ é invisibilizada em diferentes agendas Por aqui, a água dá dor de barriga e diarreia
e espaços de poder. Quando pensamos no impacto de tão contaminada. Fizemos um poço ar-
das mudanças climáticas na comunidade, a invisibi- tesiano. A conta de luz vem em torno de R$
lidade de evidências das violações socioambientais 1.100, pois no calor consumimos muito mais
no nível local, nacional e internacional é ainda maior. água e luz. Queríamos ter um painel so-
lar, nossa própria horta e uma nova cis-
Uma ameaça ao terna para aproveitar a água da chuva.”
Candomblecista e coordenadora
acolhimento LGBTQIA+
Se o verbo “improvisar” na Casa Dulce Seixas pode
da Casa Dulce Seixas, em Nova
Iguaçu
em Nova Iguaçu ser interpretado como uma tentativa de
Além de ser uma casa de acolhimento em superlota- sobrevivência, tanto da casa de acolhimento quanto
ção e sofrer diretamente com o impacto das enchen- do terreiro, o "existir" é a bandeira de luta em um
tes, do calor, da falta de luz e contaminação da água, país que, se não mata, nega o direito ao lugar de
o mesmo terreno que divide o espaço é um centro repouso e descanso ou do exercício digno de fé
de candomblé, onde a conexão do meio ambiente para a população LGBTQIA+.
Nova Iguaçu com a fé tem novos significados.
Pelo décimo quarto ano consecutivo, o Brasil Em rodas de batuque, é comum alguém sen-
segue no topo do ranking mundial de países tir um mal-estar por conta do calor. O barra-
que mais matam populações transsexuais e cão fica bem quente. O pessoal sua por con-
travestis. No último relatório anual da Asso- ta da energia do ritual, e mais ainda por conta
ciação Nacional de Travestis e Transsexuais do calor intenso e só temos dois ventiladores. A
(Antra), tivemos 131 homicídios em 2022 e a pressão cai. O ser humano tem muita culpa da
maioria das vítimas tinham entre 18 e 29 anos. mudança climática, esquentamento global. Os
orixás não têm nada a ver com isso.”
Tereza tras bisavós eram artesãs e o pajé era o curador da al-
deia. Lá eles viviam da plantação de mandioca e ou-
tras raízes, da coleta de frutos da floresta, como açaí,
aldeia. Os rios foram poluídos, a floresta desmatada,
as caças extintas e, hoje, com as mudanças climáti-
cas, chegaram também as grandes secas e enchen-
Arapium
bacaba e patauá, e do trabalho coletivo. Mas Tereza tes.
conta que hoje isso não é mais possível por causa do
aumento da perseguição aos povos indígenas e do Apesar de morar no Rio, Tereza sempre se manteve
desmatamento da floresta Amazônica. muito ligada aos seus parentes. Foi a partir da luta
da sua aldeia pela terra, liderada pelo seu pai Bruno,
Tereza viveu no seu território com seu povo, com sua que ela iniciou sua trajetória na militância da causa
cultura e crenças até seus 12 anos, quando teve que indígena, tornando-se uma importante liderança.
ir para cidade de Santarém para conseguir estudar,
devido à influência de uma igreja construída
próxima de onde viviam. Deixar a aldeia e viver na
Quando eu falo meu povo, não é só o meu
cidade foi bem difícil para ela, pois seu povo não
povo Arapium, mas são todos os meus pa-
tinha muito contato com pessoas não-indígenas e rentes que precisam de mim, que eu posso
o modo de vida era completamente diferente. de alguma forma ajudar, seja no Rio de Ja-
neiro ou em qualquer lugar que eu esteja.
O meu povo, os meus parentes, são meus ir-
mãos. Então eu fui para o movimento criar o
Quando devasta floresta, não devasta só a
Coletivo Indígena Carioca aqui no Rio.”
árvore, mas o habitat dos animais da flo-
Liderança indígena e uma das resta. Destrói o bioma, destrói tudo. Por isso
fundadoras do Coletivo Indígena que existe esse grande desequilíbrio am-
biental das mudanças climáticas. A devas- Tereza foi uma das fundadoras do Coletivo Indíge-
Carioca
tação ambiental causa o desequilíbrio do na Carioca e uma das articuladoras da primeira Mar-
mundo, do planeta.” cha das Mulheres Indígenas, que ocorreu em 2019.
Ela também participa do Acampamento Terra Livre,
a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indí-
Da floresta Amazônica genas do Brasil, e do Levante pela Terra, um movi-
mento indígena contra iniciativas governamentais
Rio de Janeiro
à Mata Atlântica, uma que ameaçam os povos indígenas. Além disso, Tere-
za participa do movimento político partidário, sendo
Nascida no meio da floresta amazônica na Al-
deia Andirá, Tereza é da etnia Arapium, origi- história de luta filiada ao partido Rede Sustentabilidade.
nária da região do Rio Arapiuns, afluente do A população indígena foi o primeiro alvo do racismo
Rio Tapajós na Amazônia. Em sua aldeia, ela ambiental quando suas terras e seus modos de vida
vivia com sua bisavó, que era parteira, con- foram usurpados. Além da chegada da igreja, Tereza
sertadeira - consertava os ossos do povo da relata que a chegada dos madeireiros, da mineração
aldeia - e uma grande agricultora. Suas ou- e do agronegócio foi destruindo tudo ao redor de sua
TECNOLOGIAS
SOCIAIS &
ANCESTRAIS
As tecnologias sociais e ancestrais são compostas por múltiplas estraté-
gias que emergem a partir de um determinado contexto social, geográ-
fico e político, portanto, elas são territorializadas. O que não impede de
serem inspiração para outros territórios.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Temas:
A maioria das pessoas assistidas pelo projeto são famílias que vivem abai-
xo da linha de pobreza, egressos do sistema prisional, juventudes negras,
mulheres que enfrentam violência doméstica e dependentes químicos. O FUTURO É LOGO ALI:
Diante de tantas violações, a sede do projeto, localizada no bairro do En-
genho, luta para ser um verdadeiro oásis diante de tanto sofrimento pela
RUMO A 2030
sobrevivência.
Para alcançar a justiça climática no
futuro, Anna Paula nos diz que as
Nesse sentido, uma das vertentes em que a A.M.I.G.A.S atua é com a dis-
pessoas do Engenho precisam de
tribuição de quentinhas no território - uma estratégia necessária frente ao
equilíbrio. Equilíbrio do desenvolvi-
preço alto do gás e a impossibilidade dos assistidos prepararem a própria
mento da comunidade, dos mora-
comida. A distribuição é mantida graças a recursos disponibilizados por
dores e com a conservação do meio
outras instituições parceiras.
ambiente. Todos juntos e juntas em
prol uns dos outros.
Contudo, além da simples entrega de alimentos, o projeto desenvolveu
uma verdadeira Cozinha Afetiva Comunitária Sustentável, pois além de
ser uma cozinha solidária, também passou a ser um centro de empreen-
dedorismo e capacitação na área de gastronomia e turismo para os assis-
tidos. E parte dos alunos que finalizaram o curso conseguiram oportuni-
dades de emprego a partir disso.
Queimados
Temas:
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
O Visão Coop começou a fazer uso de algumas estratégias para enfren-
tar o problema, como a organização de uma brigada contra enchentes a
partir de ferramentas como Excel, WhatsApp e Facebook para identificar
quais eram as famílias afetadas, onde estavam localizadas e, dessa forma,
elaborar estratégias de atuação, como resgatar pessoas, fazer limpeza de
casas e distribuição de alimentos, por exemplo.
Magé
Temas:
ENTENDA O PROBLEMA
Magé é uma cidade da Baixada Fluminense localizada entre a Baía de
Guanabara e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, onde parte da sua
área protegida está dentro dos limites do município. Este contexto geo-
gráfico é responsável pelo fato de Magé ser banhada por muitos rios que
nascem na Serra dos Órgãos e deságuam na baía.
Realengo
Temas:
Itaoca
Temas:
ENTENDA O PROBLEMA
Localizado no município de São Gonçalo, o Lixão de Itaoca foi desativado
em 2012, deixando um número significativo de catadores desamparados
que ali residiam e retiravam sua fonte de renda. As famílias que ainda mo-
ram em Itaoca vivem em barracos de madeira, sem saneamento básico,
em meio aos valões e à contaminação do solo devida à atividade do lixão.
Queimados
Temas:
ENTENDA O PROBLEMA
Existe um ponto que antecede a luta por transporte público de qualidade
a um preço acessível para a população pobre e preta. Há uma luta por exis-
tir. O que nos alerta que, para além da necessidade de promover a mobili-
dade sustentável em territórios vulnerabilizados pela pobreza, violência e
desigualdade, é preciso refletir à luz dos privilégios e oportunidades.
Temas:
Além disso, a ausência do verde nas favelas no Rio de Janeiro revela mais
uma camada do racismo ambiental, que priva populações faveladas de
um contato mais próximo com a natureza. A falta de árvores consequen-
temente produz regiões sem sombras, acentuando o calor e trazendo des-
confortos e prejuízos à saúde física e mental.
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E ANCESTRAIS O FUTURO É LOGO ALI:
Criado para ter dupla finalidade - refrescar no verão e aquecer no inverno
RUMO A 2030
- o teto verde foi uma tecnologia verde revolucionária que inspirou Cas-
A tecnologia, que nasceu despretensiosamente
siano a replicar em outras casas, pontos de ônibus e favelas do Rio, além
como infraestrutura ecológica em 2014, é hoje uma
de multiplicar esse conhecimento para que outras pessoas pudessem
das fontes de renda de Cassiano. Para ele, o desa-
aprender. A relação de afeto, cuidado e cultivo que tem com as plantas se
fio atual é sobre como monetizar o serviço de for-
transforma em uma estratégia de mitigação. A estética sustentável, que
ma acessível e inclusiva para os moradores do Par-
reproduz um jardim, ameniza ruídos da poluição sonora, é um clima-
que Arará e outras favelas. Considerando que é uma
tizador natural e, por isso, reduz o uso de energia, além de também ter
“gambiarra” verde, social e ancestral, a ambição é
uma função de aquecedor.
que a replicação em outras comunidades se tor-
ne uma política pública de adaptação e mitigação
E engana-se quem pensa que a umidade que é responsável por regar a
climática. Lutar pelo verde em territórios
tecnologia verde atrai mosquito, insetos ou provoca mofo nas casas. Isso
favelados é um ato de resistência,
é mito. Os ecossistemas vão se construindo e se adaptando à arquitetu-
afinal, até esse direito nos foi negado.
ra do teto verde. Tudo isso com um custo baixo: R$ 200-250 por metro
quadrado. A técnica, que mistura plantas e raízes medicinais e nutritivas,
pode ser feita até mesmo sob um colchão velho, o mais importante é que
os filamentos tenham força suficiente para sustentar as plantas. Formado
por uma manta geotêxtil de bidim (vulgo bidim), o que evita a perda de
substrato e nutrientes para a manutenção das plantas.
Temas:
Rio das Pedras é uma favela da Zona Oeste da cidade do Rio de Ja-
neiro, que começou a ser ocupada em 1950 e hoje se tornou a ter-
ceira maior favela do Brasil. De acordo com o IBGE (2023), a favela
possui mais de 27 mil domicílios e, segundo dados da pesquisa
“Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, tem 160 mil habitan-
tes. A maioria dos moradores são migrantes nordestinos, atraídos
por oportunidades de trabalho na região da Barra da Tijuca ainda
durante seu processo de construção.
ENTENDA O PROBLEMA
Em um processo paralelo à construção da Barra da Tijuca, esses migrantes
recém-chegados precisavam de algum lugar para morar, e foi assim que
surgiu Rio das Pedras, numa área pantanosa entre o Maciço da Tijuca e o
complexo lagunar de Jacarepaguá. Vale reforçar que essa construção não
foi acompanhada de infraestrutura básica e políticas públicas, acarretan-
do em problemas históricos graves relacionados com saneamento básico,
enchentes, moradia e mobilidade urbana.
Além das inundações frequentes, que surgem mesmo sem chuva por
conta da dinâmica das marés, o solo de Rio das Pedras tem uma baixa ca-
pacidade para sustentar o peso das moradias que crescem cada vez mais
verticalmente, o que contribui para o afundamento de casas e edifícios na
comunidade. Todos esses eventos juntos naturalmente geram traumas na
população decorrentes do medo crônico de sofrer perdas materiais ou até
mesmo de familiares. À medida que os problemas vão sendo potencializa-
dos pela crise climática, o número de pessoas com traumas e transtornos
psicológicos vai aumentar.
Érika Alves, moradora e uma das responsáveis pela Agenda Rio das Pe-
dras, nos diz que a agenda é uma dessas iniciativas. Criada por mulheres,
moradoras e ex-moradoras da favela, a agenda se tornou uma ferramenta
importantíssima para reunir pessoas de todas as idades, de instituições
sociais e públicas, a pensarem de forma coletiva em soluções para
minimizar os problemas vividos no território.
Admiro muito as mulheres e as pessoas que
Eu me preocupo quando percebo que o tem- moram em favela, porque vivemos uma sé-
po vai mudar. Me preocupo em como vou rie de violações de direitos a partir do mo-
chegar em Rio das Pedras, como vou sair mento em que a gente levanta da cama. En-
pra trabalhar, como meu filho vai pra escola tão, estamos o tempo todo sendo usurpados
e me preocupo com pessoas que eu conheço dos nossos direitos. E é muito básico, é muito
que moram em áreas mais baixas.” simples. E a gente tá em maioria, não dá pra
ficar parado, a gente precisa se mobilizar,
precisa juntar gente, precisa mudar essa re-
alidade.”
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
A Agenda Rio das Pedras está sendo desenvolvida a partir de uma cons-
O FUTURO É LOGO ALI:
trução coletiva que pretende realizar diagnósticos e propostas de políticas RUMO A 2030
públicas considerando as demandas dos moradores. Por formação, pes-
quisa e comunicação, o desejo do grupo é ser uma organização social de Em relação ao futuro, Erika sonha e se-
referência em geração cidadã de dados e incidência política pela escuta guirá lutando por uma favela urbaniza-
ativa, da criação e fortalecimento de redes, da democratização de dados da, com todo o seu esgoto coletado e
territoriais, da sustentabilidade organizacional e da valorização da cultura tratado numa estação de tratamento
local. de esgoto, com as famílias com acesso
à rede de água de qua-
O projeto também quer pautar os desafios do território de forma cada vez lidade, arborização em
mais robusta. Assim surgiu a ideia das formações feitas por oficinas itine- volta do rio principal
rantes realizadas no território, unindo a educação ambiental ao sentimen- da favela e áreas de la-
to de pertencimento. zer bem conservadas
para as crianças brin-
carem.
Complexo verde Centro de Integração Serra da Misericórdia
Temas:
ENTENDA O PROBLEMA
Como disse a própria Ana, a fome é a primeira perda da dignidade que a
favela vive. Quem pensa em estratégias com fome? Quem tem energia
e vitalidade para lutar sentindo a barriga doer por não ter o que comer?
Ninguém. Por isso, diante da ausência de políticas públicas que assegu-
rem a soberania alimentar na favela da Serra da Misericórdia, o projeto se
articulou para revalorizar o que sempre foi negado.
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
Em busca do resgate de saberes da ancestralidade, a articulação do Cen-
tro de Integração Serra da Misericórdia focou em dois eixos de formação
e desenvolvimento de tecnologias ancestrais. Primeiro, os encontros de
quintais, que são rodas de conversa, organizadas com as 50 famílias, para
debater soberania alimentar com as palavras e recursos que fazem senti-
do para as pessoas do território. Depois, a Escola Popular Agroecológica,
que ensinou crianças e mulheres mães a plantar e entender que a natu-
Há muitas dores na agricultura familiar.
reza é um ciclo. Podemos colher com fartura o que plantamos a partir de Como eu transformo o meu saber? A gente
um planejamento que envolve aplicar o conhecimento que os nossos an- não é só a base da pirâmide, a gente é a base
cestrais nos deixaram como ensinamentos, ferramentas e tecnologias de de construção para um mundo melhor. Até
emergência para quem tem fome. 2030, queremos ver a agricultura urbana na
favela.”
Ao longo de toda a conversa, aprendemos outros termos e estratégias
adotadas pelo projeto.
O FUTURO É LOGO ALI:
“Tecnologia do mato”: envolve observar detalhadamente o território,
identificar a necessidade mais urgente (o que sobra, o que falta na terra) RUMO A 2030
e encaminhar a solução. Para isso, foi preciso que as famílias, sobretudo
as mulheres, se tornassem guardiãs de sementes para assegurar a sobe- Apesar do descaso público com a Serra da Misericórdia, ela é
indiscutivelmente o pulmão da Zona Norte. “O último respiro
rania alimentar.
de Mata Atlântica.” E a agroecologia é uma for-
te aliada na manutenção e permanência dela.
“A bioconstrução e a agroecologia salvaram a gente”: em números, o Porém, o racismo ambiental é uma ameaça ao
Centro produziu cerca de 80 quilos de batata-doce, 15 ovos de galinha por legado que o projeto está construindo. Tanto
dia, um quilo de tilápia por mês, banana, abacaxi e abóboras. Soma-se a pela presença de empresas poluentes, quan-
isso, a produção de jaca verde, que é um sucesso! to pela geografia racial das suas localizações.
A poucos metros, crianças e famílias vivem em
“Captação de água de chuva”: a chuva pode ser uma vilã ou uma aliada meio ao lixo e ao armamento pesado, muito
quando pensamos em ancestralidade. Por exemplo, o desafio de plan- próximo à pedreira. A favela
tar em uma curva de nível no morro, é essencial para resistir à força das também é cidade, mas com
águas sem prejuízos à plantação. Por outro lado, às vezes a favela fica até suas especificidades. A mu-
semanas sem água. O que é prejudicial não apenas às plantações, mas dança climática foi uma opor-
também às necessidades hídricas básicas das famílias. tunidade para mudança de
comportamento na Serra da
“Economia feminista”: consiste na troca de um fruto pelo outro entre as Misericórdia. Mas sem políti-
mulheres por meio de uma moeda social na própria favela para a promo- cas públicas e educação para
ção da economia circular. A venda da abóbora para obter tomate é um pobres, pretos favelados não
bom exemplo de tecnologia ancestral de sobrevivência e nutrição. vamos a lugar algum.
Caminhos de resistência Coletivo Martha Trindade
contra a siderúrgica Missão do projeto: pautar saúde, meio ambiente e
em Santa Cruz cidade por meio de um coletivo liderado pela juven-
tude de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Santa Cruz
Temas:
ENTENDA O PROBLEMA
Entre as muitas configurações do racismo ambiental, a geografia racial
que lidera o mapeamento dos complexos industriais não é acidental. Logo,
indústrias danosas em bairros de população majoritariamente negra não
seria uma mera coincidência. Considerando o alto índice de emissões de
gases de efeito estufa (GEE) e os riscos iminentes de quem mora ao redor
da Ternium, a população de Santa Cruz já percebeu vários pequenos e
grandes sinais de injustiças ambientais. Aline Marins, do Coletivo Martha
Trindade, nos explica sobre.
Baía de Guanabara
Temas:
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
O Movimento Baía Viva nasceu na década de 1980, unindo ativistas, pes-
quisadores e técnicos que atuam em rede na formulação de campanhas,
projetos e estudos voltados à recuperação, restauração e preservação
do meio ambiente na baía, assim como apoio jurídico e técnico para pes-
cadores artesanais, quilombolas, povos indígenas e agricultores familiares.
De todas as conquistas do grupo, destaca-se a articulação para criar o E entre o mar e a terra firme existem os manguezais, que são ecos-
projeto da Universidade do Mar da Baía de Guanabara, um projeto de sistemas litorâneos de grande importância para a manutenção da
extensão com o objetivo de ensino, pesquisa e inovação para promo- vida marinha e terrestre. Porém, é muito impactado pelo processo
ção do desenvolvimento sustentável da região costeira do estado, pro- de ocupação desenfreada dessas áreas.
movendo a economia azul com a pesca, a aquicultura, o turismo, o meio
ambiente e outros usos. O projeto conta com o apoio de universidades, Nesse sentido, o Movimento Baía Viva iniciou o pro-
órgãos públicos, sociedade civil, comunidades rurais e o setor pesqueiro, cesso de construção, ainda em andamento, de um
assim como a previsão de criação de dois campi avançados no Arquipéla- Plano de Recuperação Ambiental Integrado da Baía
go de Paquetá. de Guanabara, com a realização de conferências e a
adoção de uma metodologia participativa para mo-
Todo esse potencial de produção científica é essencial para que se co- nitoramento de dois em dois anos. Uma meta ambi-
nheça cada vez mais profundamente as múltiplas dimensões que afetam ciosa que tem como objetivo a construção de políti-
a saúde da Baía de Guanabara. E não apenas seu ecossistema, mas tam- cas públicas integradas pela mobilização social.
bém a população que vive em seu entorno, sobretudo as populações tra-
dicionais, como quilombolas, extrativistas e pescadores artesanais. O FUTURO É LOGO ALI:
RUMO A 2030
O impacto das mudanças climáticas sobre Quando perguntamos o que querem al-
cançar até 2030, Sérgio Ricardo almeja
a Baía de Guanabara e outros ecossistemas
uma Baía de Guanabara parecida com sua
costeiros e litorâneos, como a Baía de Sepe- lembrança de décadas atrás, águas limpas
tiba e a Baía da Ilha Grande, vai se dar exa- e com vida. Ele ressalta que não desistirá
tamente sobre as populações tradicionais.” de sua luta enquanto não
conseguir tomar banho
nas praias da baía.
Essas populações possuem uma relação diferenciada com o meio em que
vivem, muito por conta da dependência da terra e da água para exercer
suas atividades de subsistência, ao mesmo tempo que, em geral, possuem
menos recursos para se adaptar frente às alterações no meio ambiente.
Logo, qualquer mudança nos ciclos naturais é ainda mais grave para es-
ses grupos que possuem relação direta com o meio em que vivem.
Coletivos desenvolvem Agenda Caxias 2030
Duque de Caxias
Temas:
Com essas dicotomias nos direitos básicos, como o de comer, fica evidente
no município a institucionalização do racismo ambiental. Esse movimento
se apresenta em diferentes facetas para além da fome, como por exemplo,
no saneamento básico. Caxias está entre as 20 piores cidades do país, de
acordo com o ranking realizado pelo Instituto Trata Brasil. Existe também
o cenário histórico das remoções, onde diversas famílias estão desabriga-
das, sem amparo, após terem suas casas demolidas pelo poder público
além, de um dos principais tópicos, a degradação ambiental apoiada pelo
poder público.
Das propostas relacionadas ao último segmento, destaca-se a necessida- O FUTURO É LOGO ALI:
de de proteção do Quilombo do Bomba, ameaçado pela própria prefei-
tura local de ser aterrado ilegalmente; o retorno dos Conselhos Gestores
RUMO A 2030
das Unidades de Conservação municipais; a recuperação da área do Céu
O que Vítor, uma das lideranças que cons-
no São Bento; implantação da coleta de lixo seletiva; fim do transbordo troem a Agenda Caxias, deseja para sua
ilegal de lixo em Xerém e Jardim Gramacho; adequação do projeto de lei cidade nada mais é do que o básico. É ga-
para criar o Programa de Aluguel Social no município; e a construção de rantia de habitação e alimentação para
um projeto para o combate ao racismo ambiental, a ser mantido integral- todas as pessoas que precisam. É poder
mente com repasse orçamentário da privatização da Cedae, privilegiando também viver dignamente,
as áreas mais vulneráveis da cidade em projetos de saneamento básico. com acesso à água e sem
esgoto na porta de casa.
A partir desse conjunto de propostas, a Agenda Caxias se coloca como um
instrumento com potencial de incidência política para atuar em diversas
frentes. E uma das incidências já alcançadas pela organização foi garan-
tir que produtores rurais da cidade consigam escoar sua produção, como
forma de avançar no combate à fome no município. Acredita-se que pelo
escalonamento da agricultura familiar, Caxias poderia não só abastecer a
sua população, mas também a das cidades vizinhas.
A 1 Cooperativa
OJ
I
Temas:
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
Neste sentido surge a Revolusolar, unindo a experiência de lideranças co-
munitárias, com a tecnologia da energia solar e o potencial de geração
de energia por conta da alta incidência de luz solar no Morro da Babilônia.
A organização atua para a promoção do protagonismo e autonomia dos O FUTURO É LOGO ALI:
moradores para alcançar a transição energética no próprio território,
com uma metodologia denominada de Ciclo Solar. Isso ocorre por: forma- RUMO A 2030
ção profissional, o que habilita moradores para a instalação e manuten- Quando perguntado sobre o que precisa
ção do sistema; capacitação de profissionais para realização de oficinas ser feito para democratizar a energia solar
e eventos culturais na promoção da educação ambiental e no envolvi- até 2030, Dinei responde que é fundamen-
mento da população; e pelo desenvolvimento sustentável, com a redução tal democratizar o conhecimento sobre
na despesa de energia de famílias, que promove sustentabilidade e em- essa tecnologia, falando sempre, em todos
os lugares. E ressalta que o conhecimento
poderamento.
produzido nas universidades tem que voltar
à sociedade, como uma via de mão dupla.
Em 2021, a Revolusolar criou a 1ª_ Cooperativa de Energia Solar em favelas O grupo também defende o relançamen-
do Brasil, um sistema de energia compartilhada no telhado da Associa- to do programa Luz para Todos com ener-
ção de Moradores que fornece energia para 34 famílias que são favoreci- gia solar e luta para que
das com desconto na conta de luz e aumento do poder de compra. Essa o novo modelo de ca-
nova dinâmica na comunidade cria um verdadeiro polo de energia solar, sas do programa Minha
inclusive com potencial de promoção do turismo tecnológico e a valori- Casa, Minha Vida já te-
zação da comunidade. nha painéis solares para
que seja possível reapli-
car o Ciclo Solar, assim
como é feito na Babilô-
É o primeiro tour tecnológico dentro de uma nia.
favela sobre energia solar. Na verdade, no
Brasil. Ninguém faz tour para ver a usina. E a
gente tá fazendo esse tour dentro da Babilô-
nia-Chapéu Mangueira.”
Uma agenda para
melhoria do transporte Agenda Itaboraí 2030
Itaboraí
Temas:
ENTENDA O PROBLEMA
Itaboraí é uma cidade localizada no Leste Fluminense, onde o transporte
público é um dos principais problemas enfrentados pela população. Além
da insuficiente oferta do serviço, os ônibus existentes ainda são movidos à
combustível fóssil e estão em péssimas condições. É comum a circulação
de veículos com o carburador quebrado jorrando CO2 pela cidade.
Mesmo que a eletrificação das frotas de ônibus seja uma alternativa sus-
tentável, Inara, representante da Agenda Itaboraí, diz que não há na cida-
de nenhuma iniciativa para que o serviço passe por uma transição
energética, pois existe o monopólio da empresa Rio Ita, que
não demonstra nenhum interesse em realizá-la.
Sempre houve uma questão de individualização no Da população, a gente ouviu muitos elogios e
processo de ambientalização e sustentabilidade. foi muito gratificante isso. Não pelo nosso tra-
Você produz o seu lixo, você precisa separar, você pre- balho, mas por perceber que essa pesquisa, a
cisa fechar a sua torneira. Não lave o seu carro com agenda, ficou de uma forma que eles conse-
mangueira. E a gente sabe que é de extrema impor- guiram entender e perceber a real problemá-
tância esse movimento pessoal, mas entendemos tica.”
que tem algumas coisas que têm que ser garantidas
à população, como é o caso do transporte.”
Temas:
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
Dentro desse contexto surge o Instituto EAE, atuando na promoção da
recuperação e preservação ambiental na face norte do Maciço Gericinó-
-Mendanha, em Nova Iguaçu. O trabalho une o ecoturismo e a educação
ambiental para ser um agente transformador na sociedade, trabalhando
diretamente na mitigação do calor e na prevenção às queimadas crimi-
nosas provocadas por grilagem.
A organização, que surgiu em 2018, hoje conta com mais de 200 voluntá-
rios e muitos outros participantes nas ações de plantio para refloresta-
mento. O projeto estimula uma troca respeitosa com o meio ambiente,
gerando nos participantes uma relação de pertencimento ao lugar. Assim
o EAE consegue promover muito mais do que o simples plantio, mas
uma verdadeira interação entre as pessoas e a terra, um conceito
adotado no projeto como: floresta do pertencimento.
“Orientar para conservar” é um dos lemas do trabalho desenvol-
É de todos, para todos, com todos. Não pertence a vido. É pela educação ambiental informal que vai se criando cada
ninguém, mas ela é de todos. E no futuro, quiçá, te- vez mais consciência social e ambiental nas pessoas que visitam
nhamos a segunda floresta urbana em Nova Igua- o projeto. Um trabalho de formiguinha, mas com potencial de co-
çu. E entraremos para a história, ou como loucos ou lher grandes resultados no futuro.
como ambientalistas, ou os dois.”
LEGISLAÇÕES E
ção de processos de tratamento adequados, a fim de minimizar impactos
ambientais.
INSTRUMENTOS
zir a dependência do automóvel particular e, consequentemente, dimi-
nuir a emissão de gases de efeito estufa.
Como mencionamos na seção dos conceitos, não existe uma só forma de fazer polí-
tica, tampouco uma só forma de lutar por justiça climática. Por isso, os movimentos
a seguir são alguns exemplos que nos inspiram na dimensão local, regional, nacional
e internacional de comunicar a crise climática e o racismo ambiental com diferentes
ferramentas, estratégias, públicos e momentos políticos do Brasil.
fé no clima engajamundo
O Fé no Clima é uma iniciativa do Instituto de Estudos da Religião O Engajamundo é uma organização de liderança jovem e feita
(Iser) e tem como missão reunir e engajar lideranças religiosas para para jovens. Acreditamos na importância da atuação da juventu-
a conscientização de suas comunidades de fé no enfrentamento de para enfrentar os maiores problemas ambientais e sociais
à crise climática. Fazem isso por meio do diálogo entre cientistas, do Brasil e do mundo. Atua por meio de formações, mobilização,
religiosos, ambientalistas e representantes de povos originários, participação e advocacy, dedicando-se a empoderar a juventude
com objetivos de adaptação, resiliência e justiça climática. brasileira para compreender, participar e incidir em processos po-
líticos, do local ao internacional.
O QUE JÁ FIZERAM?
• GUIA FÉ NO CLIMA O QUE JÁ FIZERAM?
• Documentário Fé Pelo Clima: Juventudes e Ação Ambiental • EduClima
• #EngajaNasEleições
ONDE VOCÊ ENCONTRA
@fenoclima | fenoclima.org.br | Rio de Janeiro ONDE VOCÊ ENCONTRA
@engajamundo | engajamundo.org | Recife
COMO SE ENGAJAR?
Para acompanhar os encontros, novidades e multiplicar o lega- COMO SE ENGAJAR?
do do Fé no Clima no Brasil, siga o movimento nas redes sociais, Vamos lá! Se você tem até 28 anos e ainda não faz parte de ne-
compartilhe os guias na sua comunidade de fé e escreva para as nhum núcleo local do Engaja, é muito simples: no próprio site é
lideranças responsáveis pela iniciativa para propor parcerias e no- possível se cadastrar para colocar a mão na massa e participar das
vas tecnologias sociais: [email protected] reuniões. Se você já passou dos 28 anos, há a opção de fortalecer a
organização financeiramente ou apoiar as campanhas nas redes
sociais e entre as juventudes de todos os espaços - escolas, univer-
sidades, coletivos, movimentos sociais e comunidades.
COALIZÃO o CLIMA REDE FAVELA
é DE MUDANÇA SUSTENTÁVEL
A Coalizão o Clima é de Mudança é composta por organizações A Rede Favela Sustentável é um projeto da Comunidades Catalisa-
que pensam e reivindicam a justiça socioambiental e climática em doras (ComCat) que visa alavancar o potencial das favelas como
territórios periféricos. Ela propõe o debate sobre a pauta climática comunidades sustentáveis, por meio de uma rede de troca de
observando a produção de tecnologias verdes nas periferias do conhecimento, apoio mútuo e desenvolvimento de ações conjun-
Rio, do Brasil e da América Latina, valorizando a ancestralidade e tas entre iniciativas comunitárias de sustentabilidade ambiental e
as “gambiarras” que devem ser consideradas nos grandes espa- resiliência social em conjunto a aliados técnicos.
ços de decisão sobre o clima.
O QUE JÁ FIZERAM?
O QUE JÁ FIZERAM? • Mapa da Rede Favela Sustentável
• Encontro O Clima é de Mudança • Aplicativo SOS Água e Luz
• Coalizão na COP27 • Publicações inéditas Justiça Hídrica e Energética nas Favelas e
Eficiência Energética nas Favelas
ONDE VOCÊ ENCONTRA
@oclimaedeemudanca | oclimaedemudanca.com.br ONDE VOCÊ ENCONTRA
Rio de Janeiro @favelasustentavel | favelasustentavel.org | Rio de Janeiro
• Fabricia Sterce, Juliana Coutinho, Maria Clara Salvador REVISÃO ORTOGRÁFICA COORDENAÇÃO EXECUTIVA
e Pedro Lucca - Visão Coop Mariflor Rocha Larissa Amorim