O Turismo de Aventura Na Região Amazônica - Desafios e Potencialidades

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O Turismo de Aventura na Região Amazônica: desafios e

potencialidades

Mirleide Chaar Bahia


Tânia Mara Vieira Sampaio

1- Introdução

A Região Amazônica, com sua biodiversidade, instiga interesses diversos e


vem sofrendo conflitos de toda ordem, no que se refere à apropriação de áreas
naturais e exploração de seus recursos. Problemas complexos, relacionados à
grilagem de terras; à exploração de áreas indígenas; aos desmatamentos sem
autorização e controle; a biopirataria, entre outros; tem propiciado incertezas, em
nível Nacional e Internacional, sobre o futuro das áreas naturais e dos povos da
floresta ali residentes.
Paralelamente aos noticiários sobre os problemas enfrentados na região, o
trade turístico empenha-se na divulgação da “exuberância” dos ecossistemas, dos
inúmeros acidentes geográficos, dos rios caudalosos e da diversidade da flora e
da fauna. Um dos grandes “trunfos” para tal divulgação é a facilidade
mercadológica do termo “Amazônia”, conhecido mundialmente e vinculado à idéia
de “exótico” e “ecológico”.
Conviver com paradoxos complexos e tentar encontrar um caminho que
possibilite a promoção de um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável,
significa o enfrentamento de conflitos sócio-ambientais (o mais recente exemplo é
a tentativa de criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável no Pará,
culminando com a morte da irmã Dorothy Stang), da omissão histórica do Poder
Público (áreas Federais sem demarcação e fiscalização), das pressões
internacionais (notícias e declarações sobre a intervenção internacional na
Amazônia), dos danos ambientais de grandes projetos de desenvolvimento
realizados na região (extintos Projeto Jarí e Projeto Mineração Rio Norte) , entre
outros.
Na busca por soluções dos inúmeros problemas vivenciados pela Região
Amazônica e adotando-se a lógica do lema estabelecido na Agenda 21: “pensar
globalmente e agir localmente” (CONFERÊNCIA..., 2001), muitas têm sido as
alternativas propostas por vários setores e por atores diversos da sociedade,
independentemente das ações empreendidas pelo Poder Público.
Organizações não-governamentais (ONGs) e outras Instituições criadas
com o objetivo expresso de defesa do patrimônio social, ecológico e cultural da
Amazônia através de pesquisas ou intervenções práticas, vêm lutando para a
concretização de projetos que possam integrar ser humano-natureza numa lógica
de vivência de um novo paradigma, pautado em valores mais humanos, e afinados
com os preceitos do “ecodesenvolvimento“ (SACHS,1993), que popularizou-se
mundialmente pelo termo “desenvolvimento sustentável”.
Na lógica do rompimento com modelos de crescimento econômico
exacerbado e desequilibrado entre classes sociais, degradação da natureza e
desrespeito à cultura dos povos, o Ecoturismo surge como uma das alternativa de
estabelecimento de uma nova lógica, fundada nos princípios do desenvolvimento
sustentável. Apesar de existirem contradições em suas concepções teórico-
práticas – fato que mereceria uma abordagem extensa e profunda em um outro
texto – o objetivo deste artigo é o de demonstrar o aumento da procura por
vivências de lazer em áreas naturais da Amazônia, sob a forma de ecoturismo e
turismo de aventura.
Dentre os projetos que têm sido elaborados e implementados na Amazônia,
tanto em nível governamental, como em nível não-governamental, os que fazem
referência ao uso público em áreas naturais (delimitadas legalmente como
Unidades de Conservação ou não), como forma de lazer (Ecoturismo, Turismo de
Aventura, Atividades Físicas na Natureza) serão, portanto, o foco principal de
discussão deste artigo.

2- Abordagem conceitual

Compreender novas lógicas de relacionamento ser humano-natureza


requer embasamento sobre os novos paradigmas propostos para a quebra de um
modelo hegemônico de desenvolvimento, baseado somente em agregados macro-
econômicos1 e que desconsideram o Bem Estar das populações como objetivo de
fundo a ser perseguido. (FIGUEIREDO, 1999)
A noção de que se tornara urgente e necessário um novo modelo de
desenvolvimento, surge a partir de preocupações levantadas na I Conferência
Mundial sobre Meio Ambiente, a Conferência de Estocolmo, em 1972.
Essas idéias começaram a surgir, como nos mostra Franz Bruseke
(1993). Ignacy Sachs (1993) e Olivier Godard (1997), a partir das
preocupações dos pesquisadores do chamado Clube de Roma,
através do estudo “Limites do Crescimento”, conjuntamente com a
Conferência de Estocolmo. Possuíam uma preocupação com o
crescimento populacional mundial, estabilização da relação
economia versus ecologia e a conscientização e participação da
população mundial. Mas essas primeiras idéias surgem com a
premissa de um “congelamento do crescimento da população
global e do capital industrial” (Bruseke, 1993, p.2), baseada no
crescimento zero,e, portanto, criticada principalmente pelos países
em desenvolvimento. (FIGUEIREDO, 1999, p.81)

As discussões continuam, resultando, posteriormente, num relatório


denominado Relatório Brundtland, no qual são construídas as noções de
Ecodesenvolvimento e de Desenvolvimento Sustentável, sendo o segundo termo o
adotado para a utilização em documentos oficiais, com o aval da Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), da Organização das
Nações Unidas (ONU).
Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de
transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos
investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a
mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial
presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações
humanas (CMMAD, 1988, p. 49)

Para Ignacy Sachs (1993), as dimensões a serem observadas devem ter


uma amplitude bem maior, capaz de abarcar aspectos defendidos inicialmente
pelo “ecodesenvolvimento”, tendo cinco eixos norteadores: 1) sustentabilidade
social: a meta é construir uma civilização com maior eqüidade na distribuição de
renda e de bens, reduzindo o abismo social; 2) sustentabilidade econômica:
privilegia a alocação e o gerenciamento mais eficiente de recursos financeiros; 3)
sustentabilidade ecológica: propõe novas formas de relacionamento entre o
consumo humano e os recursos naturais, desde a limitação do uso até a
1
“Índices como renda nacional, produto interno bruto, etc, que geralmente são usados para
detectar a situação das nações” (Figueiredo, 1999, p. 80)
reutilização destes através de reciclagem; 4) sustentabilidade espacial: expressa
principalmente nas relações das áreas rurais e urbanas, combatendo a
centralização em áreas urbanas; e por fim; 5) sustentabilidade cultural: valorização
de formas diversas de relação ser-humano natureza e diversidades culturais,
através da etnociência, por exemplo.
A busca de novos paradigmas, que transformem conhecimentos, conceitos
e teoria em efetiva atuação prática, não é um processo automático e requer a
conscientização do Poder Público, da sociedade como um todo e de cada
indivíduo em suas ações diárias e cotidianas. É um processo dialético entre
educação-reflexão-ação. Ou segundo Tânia Sampaio
Esse debate nos coloca novamente diante da necessária crise de
percepção que apresenta a interdependência de tudo o que forma
o ecossistema e produz vida na forma de desafio para pensarmos
os seres humanos como parte dessa grande "teia da vida". Uma
visão que certamente terá que abdicar da concepção de
centralidade. Seja ela divina ou humana ou cósmica. Nem mais
teocêntrica, nem mais andro/antropocêntrica, nem
qualquercoisacêntrica! Afirmamos aqui, provisoriamente, uma
concepção que "explode" o centro para dar lugar a uma concepção
de relações de mútuas interdependências; sem que isto
desqualifique o ser humano, mas o re-signifique na relação de
perceber-se como parte necessária e com necessidades de toda a
complexa e múltipla diversidade do que existe no ecossistema.
(SAMPAIO, 2002, p.91)

No texto de Felix Guattari (1990), é possível perceber algumas


preocupações com as intensas transformações no planeta e os resultados que
estas vêm causando nos indivíduos e na sociedade, inclusive citando que as
relações subjetivas estabelecidas entre familiares, entre amigos, entre vizinhos e
entre ser humano-natureza têm-se deteriorado muito nos últimos tempos, como
reflexo de alguns valores e atitudes vividos na atualidade.
É possível perceber que há uma interligação entre problemas vivenciados
no seio das relações familiares, das relações de trabalho, das relações entre
gêneros e das relações com o meio ambiente, e que estes problemas dizem
respeito à subjetividade humana, pois como defende Felix Guattari ,
(...) é nesse contexto de ruptura, de descentramento, de
multiplicação dos antagonismos e de processos de singularização,
que surgem as novas problemáticas ecológicas (...) parece-me que
elas evocam uma problematização que se torna transversal a
essas outras linhas de fratura. (GUATTARI, 1990, p. 14).
A problemática ambiental, mais que uma crise ambiental, é um
questionamento do pensamento e do entendimento sobre os valores vividos na
atualidade e as relações estabelecidas na sociedade capitalista no que se refere à
busca de um desenvolvimento pautado na lógica de dominação da natureza e dos
recursos naturais.
No caminho de indicação de uma nova maneira de viver e compreender as
relações e no estabelecimento de um novo paradigma, ao se discorrer sobre as
questões do Meio Ambiente, é possível concordar com Felix Guattari (1990),
quando o mesmo afirma a importância da compreensão e da defesa de uma
ecologia pautada não apenas numa consciência parcial dos perigos mais
evidentes que ameaçam o meio ambiente natural e em perspectivas tecnocráticas,
mas sim numa perspectiva que possa levar em consideração outros aspectos:
[...] ao passo que só uma articulação ético-política – a que chamo
ecosofia – entre os três registros ecológicos (o do meio ambiente,
o das relações sociais e o da subjetividade humana) é que poderia
esclarecer convenientemente tais questões. (GUATTARI, 1990,
p.8)

Numa lógica de compreensão dos desequilíbrios ecológicos, ameaçando a


vida em sua superfície, paralelamente à deterioração dos modos de vida humanos
individuais e coletivos, o autor considera que não é possível haver uma verdadeira
resposta à crise ecológica, se não houver uma “autêntica revolução política, social
e cultural reordenando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais”
(GUATTARI, 1990, p. 9), ocorrendo não apenas em relação às forças visíveis,
mas em escalas de domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de
desejo, nas quais a subjetividade humana está intimamente relacionada.
As atitudes adotadas por cada indivíduo em relação ao seu consumo de
energia; produção e destinação de seu lixo; comportamento em áreas urbanas
e/ou rurais, enfim, suas ações “locais” (sua casa, sua comunidade, seu bairro,
sua cidade), reflete-se em conseqüências “globais”.
Ao se basear no lema proposto pela Agenda 21 (CONFERÊNCIA..., 2001),
“Pensar globalmente e agir localmente”, cabem ações locais, considerando-se as
peculiaridades de cada região e os anseios e necessidades daquela comunidade
local. Isso vem se refletindo na construção de Agendas 21 Locais, que pretendem
estabelecer metas e ações locais, capazes de contribuir com a construção de um
mundo melhor, com maior eqüidade sócio-econômica e maior sustentabilidade.
Na Região Amazônica, o caminho não tem sido diferente, levando-se em
consideração que alguns Municípios já fazem parte de tal discussão e elaboração
de “Agendas Positivas da Amazônia”, com o compromisso de deter o elevado
ritmo do desmatamento e pactuar democraticamente conjuntos de compromissos
a serem buscados a fim de uma construção prática de novos modelos de
desenvolvimento, calcados na sustentabilidade. (Ministério do Meio Ambiente -
MMA, 2005a)
Segundo a Secretaria de Coordenação da Amazônia do MMA (2005a), as
propostas são abrangentes e visam balizar as políticas e ações governamentais
(agendas positivas estaduais e regional) em relação a região, construídas por
meio de amplas consultas e participações dos Parlamentos, Governo nos três
níveis, movimentos sociais organizados, representações de segmentos
comunitários tradicionais, entidades privadas, Organizações Não-Governamentais
(ONGs), técnicos e cientistas mobilizados em todos os nove Estados que
compõem a Amazônia Legal (Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Acre,
Amapá, Tocantins e Maranhão).
Contemplando aspectos variados, compõem a Agenda Positiva da
Amazônia, as seguintes propostas:

*Zoneamento Ecológico-econômico; *Instrumentos Econômicos;


*Infra-estrutura (transporte e energia); *Política Fundiária;
*Geração Sustentável de Emprego e Renda: *Áreas Protegidas;
-Agroextrativismo; *Áreas Indígenas;
-Produção Florestal; *Ciência e Tecnologia;
-Pesca; *Monitoramento e Controle Ambientais;
-Agropecuária; *Serviços e Benefícios Ambientais;
-Ecoturismo; *Educação para Gestão Ambiental;
-Biotecnologia *Recuperação de Áreas Alteradas;
*Licenciamento Ambiental em Propriedades *Gestão Ambiental Urbana;
Rurais; *Fortalecimento Institucional; e
*Legislação.

FONTE: MMA, 2005a (grifo acrescentado)

Cabe ressaltar um dos itens pontuados nas discussões da Agenda Positiva


da Amazônia, foco relevante para os objetivos deste texto: o Ecoturismo. As
interconexões entre este e o desenvolvimento sustentável e suas nuances no
processo dialético das relações ser humano-natureza, são aspectos a serem
considerarados.
A busca de experiências de lazer em ambientes naturais tem se
manifestado através do interesse2 por dois conteúdos culturais3: atividades
turísticas (Ecoturismo e Turismo de Aventura) e atividades físico-esportivas
(esportes de aventura). Mas é preciso refletir em que lógica de valores tais
atividades têm sido vivenciadas, na medida em que é possível romper com a
lógica voraz do mercado; com a busca de “consumo exacerbado”; com a vivência
alienada do lazer; com a busca de compensação e fuga da realidade; com o “uso”
não sustentável da natureza; com a vivência de valores individualistas.
O Lazer, enquanto manifestação humana e direito inalienável das pessoas,
traz em seu bojo possibilidades de contestação e mudança de valores, que
expresso através de ações culturais, pode possibilitar a transformação do estilo de
vida das pessoas. Mas para isso é preciso compreendê-lo, não como um
instrumento de dominação e de alienação, que impede a visão crítica das pessoas
e camufla a realidade e os conflitos sociais existentes na sociedade, e sim como
uma perspectiva de outras vivências modificadoras de valores e atitudes.
(...) situações de lazer geradoras dos valores que sustentam a
Revolução Cultural do Lazer. São reivindicadas novas formas de
relacionamento social mais espontâneas, a afirmação da
individualidade e a contemplação da Natureza. Observam-se
mudanças nas relações afetivas, nas considerações sobre o
próprio corpo, no contato com o belo, em síntese, na busca do
prazer. (MARCELLINO, 1983, p. 15)

Portanto, a concepção de Lazer enraizada nos valores capazes de propiciar


o descanso, o divertimento e o desenvolvimento individual e social – fundamental
para a presente abordagem –, encontra-se na proposta de Nélson Marcellino
(1987) que associa estas ações humanas, marcadas pela livre adesão e o prazer,
com um entendimento de cultura em seu sentido ampliado.
O Turismo Ecológico ou Ecoturismo surge como uma alternativa de se
contrapor à lógica do turismo de massa (estandardizado e predatório), e procura

2
O interesse deve ser entendido como o “conhecimento que está enraizado na sensibilidade, na
cultura vivida” (DUMAZEDIER, 1980, p. 32)
3
Joffre Dumazedier (1980), propõe que de acordo com o interesse das pessoas, os conteúdos
culturais do lazer podem ser concebidos em cinco modalidades: atividades sociais; atividades
físico-esportivas; atividades intelectuais; atividades manuais; atividades artísticas. A estes, Luiz
Otávio Camargo (1992), acrescenta o conteúdo das atividades turísticas.
cada vez mais defender a proposição de roteiros personalizados, preocupados
com o mínimo impacto e com grande interesse paisagístico-ecológico.
(SERRANO, 1997)
No documento “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”,
lançado em 1994 pelo Ministério da Indústria, Comércio e Turismo – MICT e pelo
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal – MMA,
o Ecoturismo, que se traduz numa multiplicidade de vivências em áreas naturais4
– dentre estas, algumas atividades físicas na natureza (nem sempre vinculadas à
aventura e ao risco) e o Turismo de Aventura (atividades com características mais
fortemente vinculadas à “aventura”, ao “risco” e ao “radicalismo”) –, traz em seu
bojo a discussão de ter como seu elemento fundante, o desenvolvimento
sustentável.
(...) é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua
conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o
bem-estar das populações envolvidas. (BRASIL-MICT/MMA, 1994)

No entanto, muitos são os autores e autoras (Dóris Ruschmann; Célia


Serrano; Silvio Figueiredo; Maria Célia Coelho; Luzia Coriolano; Ricardo Uvinha;
entre outros), que têm procurado fazer análises críticas sobre as concepções
teórico-práticas dos projetos e ações executados em todo o Brasil, os quais se
autodenominam de ecoturismo e turismo de aventura, mas que no entanto,
refletem práticas pouco preocupadas com os preceitos defendidos originalmente.
O Turismo de Aventura, situado na polissemia do termo e da multiplicidade
das atividades do ecoturismo (SERRANO, 2000), remete às mesmas
preocupações em termos de planejamento, gestão e sustentabilidade. Tem sido
incluído nas discussões gerais sobre Ecoturismo, no que se refere ao Poder
Público, com sua inserção nos projetos maiores de desenvolvimento do “Turismo
Verde”, do Governo Federal, que visa desenvolver o ecoturismo na Amazônia
brasileira e está inserido no programa “Avança Brasil”. (MMA, 2005a). Abarca o

4
De acordo com Célia Serrano (2000, p. 9), “podemos considerar o Ecoturismo como uma idéia
“guarda-chuva”, pois envolve uma multiplicidade de atividades como trekking, hiking, escaladas,
rapel, espeleologia, mountain biking, cavalgadas, mergulho, rafting, floating, cayaking, vela, vôo
livre, paragliding, balonismo, estudos do meio, safári fotográfico, observação de fauna e de flora,
pesca (catch-release), turismo esotérico e turismo rural, para citar as mais usuais”.
Programa de Desenvolvimento de Ecoturismo na Amazônia Legal - PROECOTUR
e amplia a previsão de recursos na mesma direção. (MMA, 2005a)
O Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR realizou em Caeté-MG (abril
de 2001) uma oficina de planejamento, com o objetivo de elaborar um Plano de
Ação, subsidiando a fundamentação de uma Política Nacional de Fomento ao
Turismo de Aventura e de conceber a estrutura básica de um Guia Nacional de
Turismo de Aventura e de um Manual de Orientação aos Municípios. Como
resultado dessa oficina, foi sistematizado, por meio de um relatório, o Plano
Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de Aventura - PNDSTA
(BRASIL/EMBRATUR, 2001).
No Relatório, a conceituação do “turismo de aventura” que faz parte do
referido plano é de:
Segmento do mercado turístico que promove a prática de
atividades de aventura e esporte recreacional, em ambientes
naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam emoções e
riscos controlados, exigindo o uso de técnicas e equipamentos
específicos, a adoção de procedimentos para garantir a segurança
pessoal e de terceiros e o respeito ao patrimônio ambiental e
sociocultural (BRASIL/EMBRATUR, 2001, p. 7)5.

Na Oficina, foram analisadas as modalidades de turismo de aventura e


identificadas as consideradas principais nos diferentes ambientes: aéreo, terrestre
e aquático. “As modalidades de turismo de aventura identificadas foram
analisadas, destacando-se aquelas consideradas mais atrativas, com maior risco
para o praticante, com maior impacto ambiental e as consideradas melhor, mal ou
pouco exploradas”. (BRASIL/EMBRATUR, 2001, p. 1).
No meio acadêmico, já existe um vasto campo de pesquisas, percorrido por
autores e autoras, que têm se dedicado à temática específica de turismo de
aventura, esportes de aventura, esportes radicais, a exemplo de Heloísa Bruhns,
2003; Alcyane Marinho, 2003; Vera Costa, 2000; Ricardo Uvinha, 2003; Gisele
Schwartz, 2005; entre outros).

5
Segundo o relatório, no desenvolvimento do conceito os participantes consideraram a
conveniência de se definir melhor o nome do segmento. Entre as expressões “esportes outdoor”,
“esportes radicais”, “esportes de aventura” e, para melhor diferenciação do segmento Turismo de
Esportes, foi proposta a adoção de um nome simples e marcante, que melhor caracterizasse o
conceito expresso para o segmento: “Turismo de Aventura” (“adventura”, do latim “o que há por
vir”) (BRASIL/EMBRATUR, 2001, p. 7).
Ricardo Uvinha (2003), por exemplo, discorre sobre as relações do turismo
de aventura e as atividades constituídas em suas bases estarem ligadas, em
especial, a três elementos: risco, tecnologia e ecologia. E também faz referência
às preocupações com os valores embutidos em algumas dessas práticas, tanto no
que diz respeito ao crescimento mercadológico, como em relação aos impactos
causados por estes.
Uma das preocupações a serem pontuadas nesse texto, diz respeito às
práticas do Turismo de Aventura numa lógica consumista e não-sustentável, com
atividades executadas de forma desordenada e sem planejamento, resultando em
impactos sócio-ambientais.
No Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de
Aventura (BRASIL/EMBRATUR, 2001), os participantes da elaboração do
documento iniciaram uma etapa de análise de situação, identificando os principais
aspectos que, considerados como problemas – pontos fracos e ameaças –,
comprometem o desenvolvimento do turismo de aventura de forma sustentável, o
qual possui como atividade principal o esporte de aventura.
Dentre os problemas apontados e as limitações a serem superadas, dois
itens chamaram a atenção por possuírem relação direta com o assunto aqui
tratado. Um deles diz respeito aos impactos causados pelos esportes de aventura
e o outro se refere à falta de regulamentação capaz de normatizar tais atividades.

QUADRO 01: Problemas apontados no Desenvolvimento Sustentável do Turismo


de Aventura.
ITENS SELECIONADOS PROBLEMAS
ƒ Necessidade de restrições de tais atividades em Unidades de
Conservação (UC);
Impactos ƒ Inobservância da capacidade de carga no ambiente;
ƒ Impacto ecológico e social;
ƒ Impacto ambiental
ƒ Não regulamentação da atividade;
ƒ Inexistência de normatização;
ƒ Inexistência de legislações pertinentes;
ƒ Inexistência de parâmetros qualitativos das operadoras e dos
profissionais envolvidos;
Regulamentação ƒ Desorganização das normas de ensino/conduta;
ƒ Deficiência dos meios de definir responsabilidades nas áreas de
interação de atividades;
ƒ Pequena responsabilidade civil ou criminal dos agentes que
vendem ou operam as atividades ao ar livre;
ƒ Inexistência de órgão de regulamentação e certificação dos
destinos;
ƒ Ausência de auto-regulamentação;
ƒ Não-credenciamento dos guias, monitores e instrutores.
FONTE: BRASIL/EMBRATUR (2001, p. 14).

Analisando o levantamento, é possível não apenas identificar as


dificuldades em relação aos prováveis impactos, como perceber a falta de
normatização em relação a quem pratica, opera ou vende produtos referentes a
esportes de aventura. Além disso, na falta de legislação pertinente, não há como
fiscalizar a operacionalização de tais atividades no meio ambiente, o que o torna
vulnerável. É possível demonstrar alguns impactos apontados por Mirleide Bahia
(2002), na análise que faz de alguns esportes na natureza e seus possíveis
impactos negativos6.

QUADRO 02: Possíveis Impactos Negativos resultantes da Prática de Esportes


na Natureza.

ESPORTE POSSÍVEIS IMPACTOS NEGATIVOS GRAU DE


INTENSIDADE
Asa Delta ou ƒ Impacto nas trilhas onde o salto acontece, Baixo
Vôo Livre ƒ Poluição: barulho, lixo,
ƒ Alteração e destruição da vegetação,
e ƒ Alteração no habitat de animais,
ƒ Compactação e erosão do solo,
Paraglide ou ƒ Interferência social e cultural em comunidades
Parapente próximas envolvidas.
ƒ Poluição: queima de gases, barulho, lixo, Baixo
ƒ Possíveis alterações na vegetação de onde o balão
decola e pousa,
Balonismo ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas,
ƒ Compactação do solo (pouso e decolagem).
ƒ Pequena compactação do solo (pouso), Baixo
Pára-quedismo, ƒ Alteração e destruição da vegetação. (pouso),
Base Jump e ƒ Alteração no habitat de animais (pouso),
Sky Surf ƒ Poluição: barulho, lixo,
ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Treck ƒ Mesmas alterações da asa delta, com o detalhe de Baixo
utilizar asa delta motorizada, aumentando a poluição
pelo barulho e por emissão de gases produzidos pelo
motor.
Aquaride ou Bóia ƒ Poluição: barulho, lixo, Baixo
Cross, Rafting e ƒ Distúrbios e alteração da fauna,
Canoagem ƒ Possíveis quebras de pequenos pedaços de rocha em

6
Análise semelhante pode ser encontrada na dissertação de mestrado de Alexandre Prado (2001)
(Caiaque) corredeiras (contato com os bóias ou caiaques),
ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Esqui na Água, ƒ Poluição por meio da emissão de gases do motor da Médio
lancha (que reboca esqui, parasail, prancha) e motor (Utilização de
Jet Sky do Jet Sky, Equipamentos
Skyder Parasail, ƒ Poluição: barulho, lixo, algum derramamento de Motorizados)
Wake board combustível na água,
ƒ Distúrbios e alteração da fauna,
ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Mergulho ƒ Alterações na fauna subaquática por ocasião dos Baixo
mergulhos,
e
ƒ Poluição: barulho, lixo,
Dive Cave ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Surf, ƒ Alteração e Distúrbios da fauna marinha, Baixo
Wind Surf ƒ Poluição: lixo,
e ƒ Interferência social e cultural em comunidades
Vela próximas envolvidas.
Pesca Esportiva ƒ Poluição: emissão de gases produzidos pelo motor da Médio (no caso
lancha e petróleo (combustível), barulho e lixo, da pesca em
ƒ Distúrbios e Alteração na fauna marinha e seu habitat, lancha,
ƒ Alteração e destruição marinha, utilização de
ƒ Interferência social e cultural em comunidades equipamentos
próximas envolvidas. motorizados)
Trekking ou ƒ Por tais modalidades utilizarem trilhas para chegar a Baixo
pontos de descida, subida ou mesmo a caminhada
Haking
pela mata, há impacto na utilização das trilhas,
Canyoning ƒ Impacto na vegetação onde se fixa o equipamento de
segurança (canyoning, escalada, cascade,
Escalada
espeleologia, rapel),
Cascade ƒ Poluição, barulho, lixo,
ƒ Distúrbios, alteração e destruição do habitat e
Espeleologia
vegetação (trilha),
Rapel ƒ Compactação e erosão do solo,
ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Mountain Bike ƒ Compactação e erosão do solo, Baixo
ƒ Poluição: barulho, lixo,
e
ƒ Alteração e destruição da vegetação e do habitat de
Bicicross animais,
ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Off -Road (Rally) ƒ Impacto na abertura e utilização de trilhas, Médio
ƒ Compactação e erosão do solo, (utilização de
Motocross
ƒ Poluição: barulho, lixo, emissão de gases e petróleo equipamentos
(Enduro) (combustível), motorizados).
ƒ Alteração e destruição da vegetação e do Habitat de
animais,
ƒ Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
FONTE: BAHIA (2002, p. 132-133)
Verifica-se que os praticantes de esportes realizados na natureza
apresentam características um pouco diferenciadas (em sua maioria dizem
entender a relação dialética ser humano-natureza de forma mais responsável,
consciente e equilibrada), porém cabe ressaltar dois aspectos relevantes: a)
mesmo considerados de baixo impacto, os esportes apresentam alguns tipos de
alterações na natureza; b) não há como esquecer que, juntamente com impactos
no meio ambiente natural, é possível haver alterações no meio social, cultural e
econômico de comunidades diretamente envolvidas.

3 - O Ecoturismo na Amazônia

Na Amazônia, o turismo em áreas naturais e o ecoturismo têm sido


explorados principalmente nos Estados do Pará e do Amazonas, neste último, em
escala maior devido possuir uma melhor infra-estrutura, com hotéis de selva e
hotéis ecológicos (lodges), barcos ecológicos, roteiros pelas matas, etc. No Pará,
o desenvolvimento ainda é lento em áreas naturais e há o predomínio de algumas
dessas áreas na divulgação e implantação de projetos (Ilha do Marajó, Santarém e
Sul do Pará). (FIGUEIREDO, 1999)
Algumas ações do Poder Público e outras, independentes, realizadas por
ONGs e Instituições privadas poderão ser visibilizadas a seguir.

3.1 - Algumas ações do Poder Público


Na formulação de planos de desenvolvimento para o turismo ecológico na
Amazônia, inicialmente tomaram frente alguns órgãos governamentais
7
(EMBRATUR, IBAMA, extinta SUDAM e MMA) . Atualmente, com a formulação
das “Agendas Positivas da Amazônia”, tendo como um de seus itens o
desenvolvimento do ecoturismo, é lançado o Programa de Desenvolvimento de
Ecoturismo da Amazônia Legal – PROECOTUR.
O Programa tem como executor o MMA/Secretaria de
Coordenação da Amazônia – SCA, em parceria com o Ministério
do Esporte e Turismo – MET , o Instituto Brasileiro de Turismo –
EMBRATUR, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
7
Segundo Silvio Figueiredo (1999), alguns documentos foram produzidos: Linhas Básicas para um
Programa de Desenvolvimento do Turismo na Região Amazônica (1995), e Estratégias para o
Desenvolvimento Integrado do Ecoturismo na Amazônia Legal (1997).
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e os nove Estados que
compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão,
Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). Sua
coordenação está a cargo da Unidade de Gerenciamento do
Programa – UGP, no âmbito da SCA, juntamente com os Núcleos
de Gerenciamento do Programa – NGP, instituídos nos Estados e
no IBAMA. (MMA, 2005a)

Com a intenção de empreender ações em nível local, a proposta do


PROECOTUR vem se implementando através da criação de Grupos Técnicos
Operacionais – GTOs, compostos por membros municipais de planejamento e/ou
de turismo, representantes locais de turismo ou agências de meio ambiente,
presidentes ou membros de ONGs locais, por operadores particulares de turismo
e de hotelaria, que serão os principais condutores de coordenação das atividades
em nível local. (MMA, 2005a)
Para melhor articulação das ações, segundo o documento elaborado pelo
Governo Federal, os Estados passam a ser divididos em Pólos de Ecoturismo.
Os pólos são as zonas prioritárias nas quais o poder público
implantará projetos e normas visando à atração de
empreendimentos ecoturísticos particulares. Não são
necessariamente definidos geograficamente podendo consistir de
corredores turísticos ou de grupos de atrativos complementares
unidos por um roteiro turístico. Seu planejamento visa maximizar a
competitividade da região como destino de ecoturismo
internacional; minimizar a concorrência entre estados, mediante a
identificação de nichos de mercado diferenciados para cada
estado; maximizar a viabilidade econômica e minimizar os riscos
financeiros dos empreendimentos de ecoturismo a serem
implantados em cada pólo. (MMA, 2005a)

É possível perceber, que representantes das populações tradicionais


(moradores de áreas protegidas ou não protegidas legalmente), não são citados
explicitamente como participantes do processo de discussão, elaboração e
execução das ações pretendidas nas áreas naturais da Amazônia. Vindo ao
encontro das preocupações levantadas por Antônio Diegues (1997), no que se
refere à exclusão da participação das populações tradicionais dos
empreendimentos de turismo e, até mesmo, de seus locais de moradia em áreas
naturais protegidas, refletido no modelo equivocado de “natureza intocável e
intocada” e no desrespeito às culturas locais e seus modos de viver e de se
relacionar com o meio ambiente.
Movimentos de resistência de algumas dessas comunidades – por causa
de sua exclusão das áreas e dos processos de discussão, elaboração e
participação de projetos –, têm sido apontadas como bons exemplos da luta por
sua visibilidade sócio-cultural e a imposição de seus direitos perante o Poder
Público.
Em alguns Estados, como São Paulo, Amazonas e Pará, elas
começaram a se organizar em associações locais, mobilizando-se
e reivindicando das autoridades do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (IBAMA) seus direitos ao território ancestral, ao seu
modo de vida e às suas tradições. Em alguns casos, como na
Estação Ecológica de Mamirauá (Amazonas), com a ajuda de
organizações não-governamentais, estabeleceram seu próprio
plano de manejo, reservando alguns lagos para preservação
permanente e reprodução das espécies, outros para a pesca de
subsistência e ainda outros para a pesca comercial realizada por
pescadores de outras áreas (Ayres e Ayres, 1993). Processo
semelhante está ocorrendo na Floresta Nacional do Tapajós
(Pará), onde os comunitários resistiram às ameaças de expulsão
por parte do IBAMA e hoje exigem participar do plano de manejo
da floresta, contribuindo com seu vasto conhecimento sobre a
fauna e a flora. (DIEGUES, 1997, p. 91)

No estudo feito por Oduval Lobato Neto (1999), sobre o desenvolvimento do


Ecoturismo e Turismo de Aventura no Estado do Amazonas, focalizando
prioritariamente em que medida os investimentos feitos pelo Poder Público nos
empreendimentos denominados “Hotéis de Selva” (Lodges) atendiam aos
preceitos básicos estabelecidos nas “Diretrizes para uma Política Nacional de
Ecoturismo” – em especial no que se refere ao bem-estar das populações
envolvidas –, o autor verificou que “o exemplo do Amazonas está
consideravelmente bem distante de proporcionar o envolvimento das populações
locais e gerar os benefícios desejados pela sociedade”. (LOBATO NETO, 1999, p.
148)
Entre os aspectos de maior relevância, detectados pela pesquisa,
destaca-se o de recursos humanos, no qual se verifica uma
situação em que a quase totalidade dos empregos ofertados nos
empreendimentos são ocupados pela população de Manaus, a
mesma coisa ocorrendo em relação à origem dos insumos e
matéria-prima, utilizados pelos empreendimentos. (LOBATO
NETO, 1999, p. 149)

A partir do mês de Maio de 2005, o PROECOTUR iniciou um processo de


capacitação profissional dos diversos segmentos que compõem a cadeia de
ecoturismo nos pólos da Amazônia Legal. Segundo o MMA (2005b), o objetivo é
de “trabalhar com conceitos orientados por princípios de sustentabilidade
ambiental, social e econômica, levando-se em consideração a realidade da
atividade ecoturística local”.
A meta é capacitar 1,8 mil pessoas da região amazônica, entre
empreendedores e profissionais do setor turístico/ecoturístico
(hospedagem, alimentação, serviços e entretenimento), guias
locais, estudantes, barqueiros, operadores de turismo, membros
de comunidades tradicionais e de associações, taxistas, artesãos e
outros que trabalham diretamente no atendimento aos visitantes
(MMA, 2005b)

3.2 - A participação de algumas ONGs


No Estado do Amazonas, especificamente no corredor ecológico que
aglomera as reservas de Mamirauá, Amanã e Parque Nacional do Jaú,
denominado “Reserva de Desenvolvimento Sustentável”, o Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá vem atuando desde 1999, com a
aplicação de técnicas de manejo florestal, programas de saúde, educação e
alternativas de trabalho como o ecoturismo e o artesanato, com o objetivo de
buscar desenvolvimento sócio-econômico das comunidades que habitam a região.
O programa de Ecoturismo é uma alternativa econômica para os
comunitários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá. No interior da reserva, construída em troncos de
árvores flutuantes, no rio que leva ao lago Mamirauá, encontra-se
a Pousada Uacari. O projeto organizou cursos de guias para
moradores. Os guias comunitários levam os turistas a diferentes
passeios ecológicos, como o de canoa, por lagos e igarapés e as
caminhadas, por trilhas na floresta. Durante os passeios os guias
orientam os ecoturistas, sobre a ecologia das espécies animais,
vegetais e os cuidados com a natureza. (INSTITUTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ – IDSM,
2005)

Foto 01-Reserva de Desenvolvimento Sustentável –


Mamirauá – AM / Foto: IDSM, 2005)
A ONG Projeto Saúde e Alegria, por sua vez, vem promovendo o turismo
através de um programa denominado “Projeto Bagagem”, uma iniciativa sem fins
lucrativos que organiza expedições pelas comunidades ribeirinhas da Amazônia,
com o objetivo de fortalecimento das comunidades do Brasil. Em janeiro, foi
anunciada a 6ª expedição, para uma viagem de nove dias e oito noites pelos rios
da região.
A viagem é toda feita de barco, os participantes dormem em rede e
a troca cultural entre comunidades e participantes acontece
durante momentos especialmente reservados para isso (...) Os
participantes são incentivados a levarem seus talentos e
conhecimentos para serem partilhados nas comunidades que por
sua vez terão também bastante a ensinar ao grupo de visitantes.
(PROJETO BAGAGEM/AMAZÔNIA. ORG, 2004)

4- Turismo de Aventura na Amazônia: o caso do Estado do Pará

Em 20 de novembro de 2002, a Companhia Paraense de Turismo –


PARATUR, convocou representantes de instituições, entidades e empresas
ligadas ao Turismo de Aventura no Estado para uma reunião na qual foi feita a
instalação e posse do Comitê de Turismo de Aventura do Estado do Pará, com o
objetivo de normatizar as atividades deste segmento e elaborar a Política Nacional
de Turismo de Aventura. Todos os meses ocorrem reuniões para dar andamento
às questões pertinentes deste segmento, no sentido de seguir com as metas
estabelecidas no Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de
Aventura, iniciado na reunião de Caeté – MG, em 2001. (BRASIL/EMBRATUR,
2001)
Algumas atividades têm sido organizadas e realizadas no Estado do Pará,
com a participação esporádica do Poder Público, mas sem uma política específica
voltada ao segmento. Muitos grupos independentes – formados por ex-integrantes
das forças armadas, profissionais de turismo, profissionais de educação física,
praticantes de esportes de aventura, entre outros – no intuito de desenvolver tais
atividades no Estado, tem-se mobilizado para organizar atividades e/ou eventos
na região, alguns de forma contínua, outros de forma sazonal. O levantamento foi
realizado em 2001 e atualizado em 2002, apontando potencialidades da região
para a prática de atividades na natureza, tendo estas um caráter de aventura ou
não. (BAHIA, 2002)

• Cavalgada Marajoara:
Realizada de 05 a 09 de setembro de 2001, a Cavalgada Marajoara
percorreu os municípios de Soure e Salvaterra, na ilha do Marajó, tendo como
objetivo principal traçar um roteiro de turismo rural para a região.

• Surf:
A modalidade é praticada em vários locais do Estado (na orla marítima,
como Salinas, Marudá, Algodoal, Ajuruteua, ou em praias de rios), tendo seu
maior atrativo quando da “Pororoca 8“. O fenômeno provoca ondas muito grandes
– em 2001 aconteceu a maior “Pororoca” dos últimos tempos, com ondas de 3,8
metros de altura – sendo estas aproveitadas para a prática do surf, passando o
evento a fazer parte do cenário nacional no circuito anual da modalidade. Os
meses de março, abril e setembro são os mais propícios. Desde 1999 acontece
um campeonato de “Surf” na Pororoca, patrocinado e organizado pelo Governo do
Estado, por meio da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (SEEL), do qual
participam atletas de nível nacional.
Alguns eventos são promovidos pela Associação Paraense de Surf e valem
como pontuação para campeonatos organizados pela Federação de Surf do Pará,
que adota os mesmos critérios utilizados no circuito Mundial de Surf. Um dos
exemplos é o Campeonato Paraense de Surf, que possui várias etapas, sendo
realizado em locais diferentes.

• Corridas de Aventura:
O Grupo ATAQ (Aere, Terra et Aqua), um grupo independente, formado por
praticantes de esportes de aventura organizou uma pequena corrida de aventura,
considerada a primeira realizada no norte do Brasil, em agosto de 2000. A

8
Pororoca: “estrondo”, em tupi-guarani. A Pororoca é um fenômeno provocado pelo encontro das
águas do Rio Amazonas com o oceano Atlântico, acontecendo para isso as marés de sizígia,
conhecidas na região como “marés vivas”. Sempre ocorre nos três dias que antecedem ou seguem
as luas nova ou cheia. Outra condição fundamental é que as águas do estuário do Amazonas e
dos rios estejam cheias
primeira etapa ocorreu no município de Paragominas e a segunda, na Ilha de
Caratateua (Outeiro).
A Expedição Mata Atlântica (EMA) 2001 – Amazônia9 foi realizada no
Estado do Pará, no Pólo Tapajós, no oeste do Estado. Aconteceu de 23 de
novembro a 01 de dezembro de 2001, com a participação de 48 equipes de 17
países e diversos Estados brasileiros. Foram sete dias de competições nos
municípios de Santarém, Monte Alegre e Alenquer, explorando áreas naturais de
florestas, rios, morros, corredeiras e áreas alagadas, totalizando um percurso de
450 km, que inicialmente seria de 550 km, porém, devido algumas dificuldades, foi
diminuído em 100 km no município de Alenquer.

FOTO 02: - Rappel na cachoeira do


igarapé do Ambrósio-PA/ Foto: PARATUR

Algumas outras corridas de aventura começaram a ser organizadas pela


Associação de Esportes de Aventura e Natureza da Amazônia – KALUANÃ e
deram início ao circuito paraense de corridas de aventura, a partir do ano de 2002.

• CANOAGEM:
O Governo do Estado, por meio da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer
(SEEL), desenvolve, desde dezembro de 1999, em parceria com o Governo
Federal e Prefeituras, Federações, Associações e Clubes de vários municípios
paraenses, um projeto intitulado “Navegar”, o qual, segundo o coordenador do

9
Foi a primeira vez, que a prova com nome Mata Atlântica aconteceu fora dela.
projeto na SEEL, atende mais de mil alunos e acontece em cinco municípios:
Santarém, São Domingos do Capim, Soure, Tucuruí e Salinas. As modalidades
que fazem parte do projeto são: Vela, Canoagem e Remo. (SECRETARIA
EXECUTIVA DE ESPORTE E LAZER, 2000a)
A Canoagem também tem sido desenvolvida no Município de Belém, pela
Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Educação, sob a
responsabilidade da Coordenadoria de Esporte, Arte e Lazer (CEAL). Após a
implantação em Belém, foi ampliado para a Ilha de Caratateua (Outeiro), banhada
pela Baía do Guajará, nas dependências do Centro de Formação de Praças
(CFAP) e, posteriormente, no ano de 2000, passou a atender moradores de
algumas das 39 ilhas que cercam a capital paraense. O atendimento se dá na ilha
do Combu, situada na margem esquerda do rio Guamá, e é a mais próxima de
Belém.

• Pesca Esportiva10:
A pesca esportiva desponta, como um dos principais atrativos nas diversas
áreas, o que necessitou de uma atenção especial para a sua regulamentação no
Estado do Pará, a fim de estabelecer critérios que disciplinassem a atividade no
Estado, tendo sido sancionada a Lei nº 6.167, de 07 de dezembro de 1998
(SECRETARIA EXECUTIVA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE,
s.d).Com a regulamentação, passa a ser responsabilidade da Secretaria Executiva
de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM, exercer a gestão ambiental
da atividade de pesca esportiva no território do Estado do Pará, podendo fazê-lo
mediante a criação de reservas de pesca esportiva11 e de sítios pesqueiros.12

10
Apesar de não fazer parte das atividades de aventura, a pesca é uma atividade característica na
região, com um calendário extenso de torneios de pesca esportiva por todo o Estado.
11
Constituem as reservas de pesca esportiva, além dos elementos do sistema hídrico de
expressiva piscosidade, a área de preservação permanente do seu entorno, as áreas de domínio
público ou privado necessárias à interligação dos elementos e espaço territorial equivalente ao
limite máximo de dois quilômetros além da área de preservação permanente (Decreto Lei 3.551, de
06.07.99).
12
Constituem os sítios pesqueiros, além do elemento do sistema hídrico de expressiva piscosidade
individualmente considerado, no todo ou em parte, a área de preservação permanente de seu
entorno e o espaço territorial equivalente ao limite máximo de dois quilômetros além da área de
preservação permanente (Decreto nº 3.551, de 06 de julho de 1999).
• JOGOS INDÍGENAS13:
Os Jogos Indígenas vêm acontecendo desde 1998. No Pará, aconteceram
em 2000 e 2002. Classificados como o “Maior Encontro das Nações Indígenas do
Brasil”, quando acontece a “União das Tribos”, os “III Jogos dos Povos Indígenas”
reuniram 631 participantes de 34 etnias de todo o Brasil (25 tribos). Em 2002, os
jogos aconteceram em Marapanim-PA, na praia do Crispim, onde foram
construídas uma arena e uma aldeia. (SECRETARIA EXECUTIVA DE ESPORTE
E LAZER, 2000b)

Foto 03: Arco e Flecha / Foto: Ray Nonato

• Off Road:
Todas as competições acontecem em trilhas com mata fechada, contendo
áreas de areal, igarapés, serra e outros obstáculos naturais, a fim de “enriquecer”
o percurso a ser percorrido pelos competidores. Inicialmente é feito um
levantamento das áreas de um município, a abertura de uma trilha e o seu
mapeamento para a elaboração de uma planilha. Algumas competições são
organizadas por praticantes, porém todas devem ter a supervisão da Federação
Paraense de Automobilismo (FEPAUTO) e Federação Paraense de Motociclismo

13
Os Jogos Indígenas inicialmente tiveram uma característica de jogos na natureza. Atualmente
fazem parte dos Jogos de Identidade Cultural. (GOVERNO DO PARÁ, 2000)
(FEPAM), de acordo com o tipo de prova (enduro ou rally14). Muitas competições
obtêm apoio da iniciativa privada e algumas, de órgãos governamentais.
Existe ainda um clube que reúne adeptos do esporte off road, envolvendo
veículos 4x4, denominado “Jeep Clube do Pará”, o qual elabora uma agenda
anual de eventos, caracterizada por atividades que não possuem conotação
competitiva. Estes são denominados de “Expedições” e acontecem mensalmente.

• Jogos da Natureza:
Em 1998, a Prefeitura Municipal de Belém, por meio do Projeto Verão,
criou os “I Jogos da Natureza”, com o envolvimento organizacional de várias
Secretarias, dentre elas a Secretaria Municipal de Educação, por meio da
Coordenadoria de Esporte, Arte e Lazer (CEAL), e da Companhia de Turismo de
Belém (BELEMTUR), tendo sido realizados na Ilha do Mosqueiro (PA), no mês
de julho. Os “II Jogos da Natureza” aconteceram em julho de 2000, com
modalidades diversas a serem realizadas em Belém e nas Ilhas de Cutijuba,
Icoaraci, Outeiro e Mosqueiro. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM, 2000)

• PÁRA-QUEDISMO:
O pára-quedismo iniciou suas atividades no Estado do Pará na década de
70 (aproximadamente em 1972). Algumas atividades, além das demonstrações e
torneios, são desenvolvidas nas categorias existentes no pára-quedismo: Trabalho
Relativo (TR);Trabalho Relativo de Velame (TRV); Free-Fly; Sky-Surf; e Pouso de
Precisão. Organizado pelo Aeroclube do Pará (clube independente).

• Rapel
A modalidade tem sido desenvolvida, prioritariamente, no meio urbano, em
pontes e prédios. No entanto, alguns locais fora de Belém têm sido freqüentados
por praticantes desta modalidade. Geralmente praticado na Grande Belém
(Mosqueiro, Ilha de Caratateua e Icoaraci), e em outros municípios do Estado
(Irituia, Capitão Poço, Santarém, Marabá e Salinópolis). Atualmente organizado

14
As competições Off road são divididas em dois tipos: Enduro, que tem a participação apenas de
motocicletas, e Rally, que possibilita a participação de automóveis e motocicletas. (BAHIA, 2002)
por grupos independentes (Rapel& Cia; Associação Kaluanã, Grupo Espeleológico
Paraense – GEP/UFPA).

5- Conclusão

Não basta formular diretrizes e planejamentos para a implementação de


projetos de ecoturismo e turismo de aventura, se esses não tiverem bases sólidas
na construção democrática e participativa de todos os atores envolvidos. A
sociedade civil, em parceria com o Estado, devem ser os principais articuladores
de todo o processo, chamando a população para participar, minimizando as
contradições, bem como serem responsáveis por fomentar a promoção de
pesquisas na área, como forma de encontrar melhores caminhos. Também deve
ter sua parcela de participação no controle e fiscalização das ações de
desenvolvimento do ecoturismo e do turismo de aventura. Ao setor privado cabe
agir com responsabilidade e dentro dos preceitos de sustentabilidade, e como
forma de participar ativamente desse processo, deve conscientizar-se da
necessidade de alocar parte de seus lucros para a conservação ambiental, se não
por compromisso real com a integridade do meio ambiente, que seja para a
preservação de seus “negócios” com o aumento de qualidade. Afinal, sociedade
civil organizada e aliada ao Estado, tem potencial de interferir no mercado. As
ONGs devem participar de todo o processo e lutar pela busca do exercício da
cidadania das comunidades dos núcleos receptores. E por fim, aos turistas cabe o
respeito pelas culturas locais, a valorização da diferença e uma verdadeira
conscientização ecológica.
O lazer, vivenciado através dos dois conteúdos culturais aqui mencionados
(ecoturismo e esportes de aventura), com seu caráter “descompromissado”, se
diferencia dos valores hegemônicos do mundo das “obrigações”, e pode contribuir,
de maneira eficaz para a riqueza cultural, para a pluralidade na convivência, para
o estabelecimento do repertório de outros valores que não os institucionalizados e
internacionalizados.
Cada vez mais precisamos do lazer que leve a convivencialidade,
mesmo, por paradoxal que isso possa parecer, sendo fruído
individualmente. Convites à convivência significam, do meu ponto
de vista, minimizar os riscos da exacerbação dos próprios
componentes do jogo: a “competição”, que não leve à violência; a
“vertigem”, que não leve ao risco não calculado de vida; a
“imitação” que não promova o fazer de conta imobilizante da pior
fantasia; o binômio “sorte/azar”, que não provoque alheamento.
(MARCELLINO, 2001, p. 57)

A proposta de uma educação através da vivência consciente do lazer, em


busca de um lazer mais crítico-criativo (Marcellino, 1987), compreendendo outros
valores que não sejam os de mercado e rompendo com essa lógica hegemônica;
bem como uma educação propiciada através da aventura (Barros, 2000; Oliveira,
2000), capaz de modificar atitudes e adquirir valores mais humanos de
convivência com o outro e com a natureza; além da percepção sobre a
importância da relação dialética ser-humano natureza; podem ser caminhos
viáveis para se pensar no estabelecimento de novos paradigmas acerca do meio
ambiente e das relações vividas na sociedade atual.
Na Amazônia, algumas “trilhas” já foram percorridas, com tropeços e
quedas. Boas práticas de planejamento, participação coletiva e execução de
projetos de Ecoturismo e Turismo de Aventura têm sido identificadas, mas o
caminho é longo e muito há de ser feito por todos, começando por mudanças em
atitudes individuais e locais, no vislumbre de uma mudança global.

Referências:
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