O Turismo de Aventura Na Região Amazônica - Desafios e Potencialidades
O Turismo de Aventura Na Região Amazônica - Desafios e Potencialidades
O Turismo de Aventura Na Região Amazônica - Desafios e Potencialidades
potencialidades
1- Introdução
2- Abordagem conceitual
2
O interesse deve ser entendido como o “conhecimento que está enraizado na sensibilidade, na
cultura vivida” (DUMAZEDIER, 1980, p. 32)
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Joffre Dumazedier (1980), propõe que de acordo com o interesse das pessoas, os conteúdos
culturais do lazer podem ser concebidos em cinco modalidades: atividades sociais; atividades
físico-esportivas; atividades intelectuais; atividades manuais; atividades artísticas. A estes, Luiz
Otávio Camargo (1992), acrescenta o conteúdo das atividades turísticas.
cada vez mais defender a proposição de roteiros personalizados, preocupados
com o mínimo impacto e com grande interesse paisagístico-ecológico.
(SERRANO, 1997)
No documento “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”,
lançado em 1994 pelo Ministério da Indústria, Comércio e Turismo – MICT e pelo
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal – MMA,
o Ecoturismo, que se traduz numa multiplicidade de vivências em áreas naturais4
– dentre estas, algumas atividades físicas na natureza (nem sempre vinculadas à
aventura e ao risco) e o Turismo de Aventura (atividades com características mais
fortemente vinculadas à “aventura”, ao “risco” e ao “radicalismo”) –, traz em seu
bojo a discussão de ter como seu elemento fundante, o desenvolvimento
sustentável.
(...) é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua
conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o
bem-estar das populações envolvidas. (BRASIL-MICT/MMA, 1994)
4
De acordo com Célia Serrano (2000, p. 9), “podemos considerar o Ecoturismo como uma idéia
“guarda-chuva”, pois envolve uma multiplicidade de atividades como trekking, hiking, escaladas,
rapel, espeleologia, mountain biking, cavalgadas, mergulho, rafting, floating, cayaking, vela, vôo
livre, paragliding, balonismo, estudos do meio, safári fotográfico, observação de fauna e de flora,
pesca (catch-release), turismo esotérico e turismo rural, para citar as mais usuais”.
Programa de Desenvolvimento de Ecoturismo na Amazônia Legal - PROECOTUR
e amplia a previsão de recursos na mesma direção. (MMA, 2005a)
O Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR realizou em Caeté-MG (abril
de 2001) uma oficina de planejamento, com o objetivo de elaborar um Plano de
Ação, subsidiando a fundamentação de uma Política Nacional de Fomento ao
Turismo de Aventura e de conceber a estrutura básica de um Guia Nacional de
Turismo de Aventura e de um Manual de Orientação aos Municípios. Como
resultado dessa oficina, foi sistematizado, por meio de um relatório, o Plano
Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de Aventura - PNDSTA
(BRASIL/EMBRATUR, 2001).
No Relatório, a conceituação do “turismo de aventura” que faz parte do
referido plano é de:
Segmento do mercado turístico que promove a prática de
atividades de aventura e esporte recreacional, em ambientes
naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam emoções e
riscos controlados, exigindo o uso de técnicas e equipamentos
específicos, a adoção de procedimentos para garantir a segurança
pessoal e de terceiros e o respeito ao patrimônio ambiental e
sociocultural (BRASIL/EMBRATUR, 2001, p. 7)5.
5
Segundo o relatório, no desenvolvimento do conceito os participantes consideraram a
conveniência de se definir melhor o nome do segmento. Entre as expressões “esportes outdoor”,
“esportes radicais”, “esportes de aventura” e, para melhor diferenciação do segmento Turismo de
Esportes, foi proposta a adoção de um nome simples e marcante, que melhor caracterizasse o
conceito expresso para o segmento: “Turismo de Aventura” (“adventura”, do latim “o que há por
vir”) (BRASIL/EMBRATUR, 2001, p. 7).
Ricardo Uvinha (2003), por exemplo, discorre sobre as relações do turismo
de aventura e as atividades constituídas em suas bases estarem ligadas, em
especial, a três elementos: risco, tecnologia e ecologia. E também faz referência
às preocupações com os valores embutidos em algumas dessas práticas, tanto no
que diz respeito ao crescimento mercadológico, como em relação aos impactos
causados por estes.
Uma das preocupações a serem pontuadas nesse texto, diz respeito às
práticas do Turismo de Aventura numa lógica consumista e não-sustentável, com
atividades executadas de forma desordenada e sem planejamento, resultando em
impactos sócio-ambientais.
No Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de
Aventura (BRASIL/EMBRATUR, 2001), os participantes da elaboração do
documento iniciaram uma etapa de análise de situação, identificando os principais
aspectos que, considerados como problemas – pontos fracos e ameaças –,
comprometem o desenvolvimento do turismo de aventura de forma sustentável, o
qual possui como atividade principal o esporte de aventura.
Dentre os problemas apontados e as limitações a serem superadas, dois
itens chamaram a atenção por possuírem relação direta com o assunto aqui
tratado. Um deles diz respeito aos impactos causados pelos esportes de aventura
e o outro se refere à falta de regulamentação capaz de normatizar tais atividades.
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Análise semelhante pode ser encontrada na dissertação de mestrado de Alexandre Prado (2001)
(Caiaque) corredeiras (contato com os bóias ou caiaques),
Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Esqui na Água, Poluição por meio da emissão de gases do motor da Médio
lancha (que reboca esqui, parasail, prancha) e motor (Utilização de
Jet Sky do Jet Sky, Equipamentos
Skyder Parasail, Poluição: barulho, lixo, algum derramamento de Motorizados)
Wake board combustível na água,
Distúrbios e alteração da fauna,
Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Mergulho Alterações na fauna subaquática por ocasião dos Baixo
mergulhos,
e
Poluição: barulho, lixo,
Dive Cave Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Surf, Alteração e Distúrbios da fauna marinha, Baixo
Wind Surf Poluição: lixo,
e Interferência social e cultural em comunidades
Vela próximas envolvidas.
Pesca Esportiva Poluição: emissão de gases produzidos pelo motor da Médio (no caso
lancha e petróleo (combustível), barulho e lixo, da pesca em
Distúrbios e Alteração na fauna marinha e seu habitat, lancha,
Alteração e destruição marinha, utilização de
Interferência social e cultural em comunidades equipamentos
próximas envolvidas. motorizados)
Trekking ou Por tais modalidades utilizarem trilhas para chegar a Baixo
pontos de descida, subida ou mesmo a caminhada
Haking
pela mata, há impacto na utilização das trilhas,
Canyoning Impacto na vegetação onde se fixa o equipamento de
segurança (canyoning, escalada, cascade,
Escalada
espeleologia, rapel),
Cascade Poluição, barulho, lixo,
Distúrbios, alteração e destruição do habitat e
Espeleologia
vegetação (trilha),
Rapel Compactação e erosão do solo,
Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Mountain Bike Compactação e erosão do solo, Baixo
Poluição: barulho, lixo,
e
Alteração e destruição da vegetação e do habitat de
Bicicross animais,
Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
Off -Road (Rally) Impacto na abertura e utilização de trilhas, Médio
Compactação e erosão do solo, (utilização de
Motocross
Poluição: barulho, lixo, emissão de gases e petróleo equipamentos
(Enduro) (combustível), motorizados).
Alteração e destruição da vegetação e do Habitat de
animais,
Interferência social e cultural em comunidades
próximas envolvidas.
FONTE: BAHIA (2002, p. 132-133)
Verifica-se que os praticantes de esportes realizados na natureza
apresentam características um pouco diferenciadas (em sua maioria dizem
entender a relação dialética ser humano-natureza de forma mais responsável,
consciente e equilibrada), porém cabe ressaltar dois aspectos relevantes: a)
mesmo considerados de baixo impacto, os esportes apresentam alguns tipos de
alterações na natureza; b) não há como esquecer que, juntamente com impactos
no meio ambiente natural, é possível haver alterações no meio social, cultural e
econômico de comunidades diretamente envolvidas.
3 - O Ecoturismo na Amazônia
• Cavalgada Marajoara:
Realizada de 05 a 09 de setembro de 2001, a Cavalgada Marajoara
percorreu os municípios de Soure e Salvaterra, na ilha do Marajó, tendo como
objetivo principal traçar um roteiro de turismo rural para a região.
• Surf:
A modalidade é praticada em vários locais do Estado (na orla marítima,
como Salinas, Marudá, Algodoal, Ajuruteua, ou em praias de rios), tendo seu
maior atrativo quando da “Pororoca 8“. O fenômeno provoca ondas muito grandes
– em 2001 aconteceu a maior “Pororoca” dos últimos tempos, com ondas de 3,8
metros de altura – sendo estas aproveitadas para a prática do surf, passando o
evento a fazer parte do cenário nacional no circuito anual da modalidade. Os
meses de março, abril e setembro são os mais propícios. Desde 1999 acontece
um campeonato de “Surf” na Pororoca, patrocinado e organizado pelo Governo do
Estado, por meio da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (SEEL), do qual
participam atletas de nível nacional.
Alguns eventos são promovidos pela Associação Paraense de Surf e valem
como pontuação para campeonatos organizados pela Federação de Surf do Pará,
que adota os mesmos critérios utilizados no circuito Mundial de Surf. Um dos
exemplos é o Campeonato Paraense de Surf, que possui várias etapas, sendo
realizado em locais diferentes.
• Corridas de Aventura:
O Grupo ATAQ (Aere, Terra et Aqua), um grupo independente, formado por
praticantes de esportes de aventura organizou uma pequena corrida de aventura,
considerada a primeira realizada no norte do Brasil, em agosto de 2000. A
8
Pororoca: “estrondo”, em tupi-guarani. A Pororoca é um fenômeno provocado pelo encontro das
águas do Rio Amazonas com o oceano Atlântico, acontecendo para isso as marés de sizígia,
conhecidas na região como “marés vivas”. Sempre ocorre nos três dias que antecedem ou seguem
as luas nova ou cheia. Outra condição fundamental é que as águas do estuário do Amazonas e
dos rios estejam cheias
primeira etapa ocorreu no município de Paragominas e a segunda, na Ilha de
Caratateua (Outeiro).
A Expedição Mata Atlântica (EMA) 2001 – Amazônia9 foi realizada no
Estado do Pará, no Pólo Tapajós, no oeste do Estado. Aconteceu de 23 de
novembro a 01 de dezembro de 2001, com a participação de 48 equipes de 17
países e diversos Estados brasileiros. Foram sete dias de competições nos
municípios de Santarém, Monte Alegre e Alenquer, explorando áreas naturais de
florestas, rios, morros, corredeiras e áreas alagadas, totalizando um percurso de
450 km, que inicialmente seria de 550 km, porém, devido algumas dificuldades, foi
diminuído em 100 km no município de Alenquer.
• CANOAGEM:
O Governo do Estado, por meio da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer
(SEEL), desenvolve, desde dezembro de 1999, em parceria com o Governo
Federal e Prefeituras, Federações, Associações e Clubes de vários municípios
paraenses, um projeto intitulado “Navegar”, o qual, segundo o coordenador do
9
Foi a primeira vez, que a prova com nome Mata Atlântica aconteceu fora dela.
projeto na SEEL, atende mais de mil alunos e acontece em cinco municípios:
Santarém, São Domingos do Capim, Soure, Tucuruí e Salinas. As modalidades
que fazem parte do projeto são: Vela, Canoagem e Remo. (SECRETARIA
EXECUTIVA DE ESPORTE E LAZER, 2000a)
A Canoagem também tem sido desenvolvida no Município de Belém, pela
Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Educação, sob a
responsabilidade da Coordenadoria de Esporte, Arte e Lazer (CEAL). Após a
implantação em Belém, foi ampliado para a Ilha de Caratateua (Outeiro), banhada
pela Baía do Guajará, nas dependências do Centro de Formação de Praças
(CFAP) e, posteriormente, no ano de 2000, passou a atender moradores de
algumas das 39 ilhas que cercam a capital paraense. O atendimento se dá na ilha
do Combu, situada na margem esquerda do rio Guamá, e é a mais próxima de
Belém.
• Pesca Esportiva10:
A pesca esportiva desponta, como um dos principais atrativos nas diversas
áreas, o que necessitou de uma atenção especial para a sua regulamentação no
Estado do Pará, a fim de estabelecer critérios que disciplinassem a atividade no
Estado, tendo sido sancionada a Lei nº 6.167, de 07 de dezembro de 1998
(SECRETARIA EXECUTIVA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE,
s.d).Com a regulamentação, passa a ser responsabilidade da Secretaria Executiva
de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM, exercer a gestão ambiental
da atividade de pesca esportiva no território do Estado do Pará, podendo fazê-lo
mediante a criação de reservas de pesca esportiva11 e de sítios pesqueiros.12
10
Apesar de não fazer parte das atividades de aventura, a pesca é uma atividade característica na
região, com um calendário extenso de torneios de pesca esportiva por todo o Estado.
11
Constituem as reservas de pesca esportiva, além dos elementos do sistema hídrico de
expressiva piscosidade, a área de preservação permanente do seu entorno, as áreas de domínio
público ou privado necessárias à interligação dos elementos e espaço territorial equivalente ao
limite máximo de dois quilômetros além da área de preservação permanente (Decreto Lei 3.551, de
06.07.99).
12
Constituem os sítios pesqueiros, além do elemento do sistema hídrico de expressiva piscosidade
individualmente considerado, no todo ou em parte, a área de preservação permanente de seu
entorno e o espaço territorial equivalente ao limite máximo de dois quilômetros além da área de
preservação permanente (Decreto nº 3.551, de 06 de julho de 1999).
• JOGOS INDÍGENAS13:
Os Jogos Indígenas vêm acontecendo desde 1998. No Pará, aconteceram
em 2000 e 2002. Classificados como o “Maior Encontro das Nações Indígenas do
Brasil”, quando acontece a “União das Tribos”, os “III Jogos dos Povos Indígenas”
reuniram 631 participantes de 34 etnias de todo o Brasil (25 tribos). Em 2002, os
jogos aconteceram em Marapanim-PA, na praia do Crispim, onde foram
construídas uma arena e uma aldeia. (SECRETARIA EXECUTIVA DE ESPORTE
E LAZER, 2000b)
• Off Road:
Todas as competições acontecem em trilhas com mata fechada, contendo
áreas de areal, igarapés, serra e outros obstáculos naturais, a fim de “enriquecer”
o percurso a ser percorrido pelos competidores. Inicialmente é feito um
levantamento das áreas de um município, a abertura de uma trilha e o seu
mapeamento para a elaboração de uma planilha. Algumas competições são
organizadas por praticantes, porém todas devem ter a supervisão da Federação
Paraense de Automobilismo (FEPAUTO) e Federação Paraense de Motociclismo
13
Os Jogos Indígenas inicialmente tiveram uma característica de jogos na natureza. Atualmente
fazem parte dos Jogos de Identidade Cultural. (GOVERNO DO PARÁ, 2000)
(FEPAM), de acordo com o tipo de prova (enduro ou rally14). Muitas competições
obtêm apoio da iniciativa privada e algumas, de órgãos governamentais.
Existe ainda um clube que reúne adeptos do esporte off road, envolvendo
veículos 4x4, denominado “Jeep Clube do Pará”, o qual elabora uma agenda
anual de eventos, caracterizada por atividades que não possuem conotação
competitiva. Estes são denominados de “Expedições” e acontecem mensalmente.
• Jogos da Natureza:
Em 1998, a Prefeitura Municipal de Belém, por meio do Projeto Verão,
criou os “I Jogos da Natureza”, com o envolvimento organizacional de várias
Secretarias, dentre elas a Secretaria Municipal de Educação, por meio da
Coordenadoria de Esporte, Arte e Lazer (CEAL), e da Companhia de Turismo de
Belém (BELEMTUR), tendo sido realizados na Ilha do Mosqueiro (PA), no mês
de julho. Os “II Jogos da Natureza” aconteceram em julho de 2000, com
modalidades diversas a serem realizadas em Belém e nas Ilhas de Cutijuba,
Icoaraci, Outeiro e Mosqueiro. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM, 2000)
• PÁRA-QUEDISMO:
O pára-quedismo iniciou suas atividades no Estado do Pará na década de
70 (aproximadamente em 1972). Algumas atividades, além das demonstrações e
torneios, são desenvolvidas nas categorias existentes no pára-quedismo: Trabalho
Relativo (TR);Trabalho Relativo de Velame (TRV); Free-Fly; Sky-Surf; e Pouso de
Precisão. Organizado pelo Aeroclube do Pará (clube independente).
• Rapel
A modalidade tem sido desenvolvida, prioritariamente, no meio urbano, em
pontes e prédios. No entanto, alguns locais fora de Belém têm sido freqüentados
por praticantes desta modalidade. Geralmente praticado na Grande Belém
(Mosqueiro, Ilha de Caratateua e Icoaraci), e em outros municípios do Estado
(Irituia, Capitão Poço, Santarém, Marabá e Salinópolis). Atualmente organizado
14
As competições Off road são divididas em dois tipos: Enduro, que tem a participação apenas de
motocicletas, e Rally, que possibilita a participação de automóveis e motocicletas. (BAHIA, 2002)
por grupos independentes (Rapel& Cia; Associação Kaluanã, Grupo Espeleológico
Paraense – GEP/UFPA).
5- Conclusão
Referências:
• Livros:
• Documentos: