Disserta o Final Guilherme 2018
Disserta o Final Guilherme 2018
Disserta o Final Guilherme 2018
Belo Horizonte
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Jaime Arturo Ramírez
Vice-Reitora
Profa. Sandra Regina Goulart Almeida
Pró-Reitor de Pós-Graduação
Professora Denise Maria Trombert de Oliveira
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Ado Jório de Vasconcelos
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor
Prof. Tarcizo Afonso Nunes
Coordenador Geral do Centro de Pós-Graduação
Prof. Luiz Armando Cunha de Marco
Subcoordenador Geral do Centro de Pós-Graduação
Prof. Selmo Geber
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS APLICADAS À SAÚDE
DO ADULTO
Coordenadora
Profa. Teresa Cristina de Abreu Ferrari
Subcoordenadora
Profa. Suely Meireles Rezende
Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Saúde do Adulto
Profa. Teresa Cristina de Abreu Ferrari
Prof. Paulo Caramelli
Profa. Sarah Teixeira Camargos
Prof. Eduardo Garcia Vilela
Profa. Gilda Aparecida Ferreira
Profa. Suely Meireles Rezende
Mônica Maria Teixeira (Representante discente)
À minha esposa, Zuleika, que esteve ao meu lado e me apoiou nos
momentos de medo e incerteza. É mais do que justo que compartilhe com
ela a satisfação de ter superado os obstáculos e realizado este projeto
que trouxe tantas experiências positivas.
Aos meus pais, Bartolomeu e Beth, pelo amor e dedicação que
permitiram que hoje siga meu caminho pelas trilhas da vida.
Aos meus filhos, Arthur e Rodrigo, que mostram, no seu cotidiano, o valor
de ter, em qualquer fase da vida, coração de estudante: “E há que se
cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto” (Milton Nascimento e
Wagner Tiso).
AGRADECIMENTOS
DA Doença de Alzheimer
DH Doença de Huntington
1 – INTRODUÇÃO 16
2 – REVISÃO DA LITERATURA
2.1 – Características dos testes neuropsicológicos e dados
20
normativos no Brasil
2.2 – Escolaridade e testes neuropsicológicos 33
2.3 – Idade e funções cognitivas 35
3 - OBJETIVOS 38
4 – MÉTODOS
4.1 – Desenho do estudo 39
4.2 – Contexto 39
4.3 – Participantes 39
4.4 – Variáveis 40
4.5 – Tamanho da amostra 40
4.6 – Amostragem 40
4.7 – Procedimentos 41
4.8 – Análise estatística 46
5 – RESULTADOS
5.1 – Participantes 48
5.2 – Sequência para apresentação dos resultados e análise
49
estatística
5.3 – Dados normativos e influência de anos de estudo 49
5.4 – Análise da influência da idade nos resultados dos testes
65
neuropsicológicos
5.5 – Análise da influência de sexo nos resultados dos testes
67
neuropsicológicos
5.6 – Análise da influência de QI nos resultados dos testes
68
neuropsicológicos
6 - DISCUSSÃO 75
6.1 – Escala Mattis de avaliação de demência 76
6.2 – Teste de trilhas 78
6.3 – Testes de fluência 80
6.4 – Teste do desenho do relógio 84
7 - CONCLUSÕES 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 88
APÊNDICES 95
ANEXOS 105
16
1 – INTRODUÇÃO
têm encontrado uma influência maior ou igual deste fator em comparação com a
idade.7 Nem todos os estudos normativos apresentam resultados dos testes
levando em consideração o nível escolar. Outros selecionam uma amostra com
média de 11 anos de estudo ou mais7.
década. Uma melhor compreensão de quais testes podem ser mais sensíveis
às mudanças ocorridas na idade adulta é muito importante, de modo a diferenciá-
las de alterações que podem ser indícios iniciais de um quadro demencial.17
2 - REVISÃO DA LITERATURA
A escala Mattis de avaliação de demência foi proposta para avaliar pessoas com
suspeita de disfunção cognitiva. Diferentemente de uma escala de inteligência,
as tarefas foram elaboradas de tal maneira que indivíduos saudáveis consigam
resolver grande parte dos itens, de modo a ser acessível para os vários níveis
de comprometimento cognitivo.13
Por ser uma escala de maior extensão que baterias mais breves, como o Mini-
exame do estado mental (MEEM), possui sensibilidade semelhante para o
diagnóstico de demência na doença de Alzheimer (DA), mas é mais indicada
para acompanhar a progressão do comprometimento cognitivo.13
Foss et al.30 fizeram estudo que teve como objetivos verificar a influência da
escolaridade na escala Mattis para brasileiros idosos saudáveis e comparar os
resultados com um grupo que apresentava DA leve. O grupo saudável foi de 62
pessoas, com idades entre 64 e 77 anos, divididas em cinco níveis escolares:
analfabetos, 4, 8-9, 11-12 e 15-16 anos de estudo. Nos resultados, foi observada
diferença significativa entre analfabetos com os outros grupos, bem como uma
diferenciação mais frequente do grupo de nível escolar mais alto em relação aos
outros. Foram observadas diferenças nos grupos escolares intermediários de
maneiras diferentes, de acordo com a subescala investigada.
Foss et al.31 fizeram um estudo para obter dados normativos em uma população
brasileira, com amostra de 502 indivíduos, dividida em quatro grupos escolares
(analfabetos, 1-4, 5-12 e ≥ 13 anos de estudo) e quatro faixas etárias (50-60, 61-
70, 71-80 e ≥ 80 anos), confirmando que tanto idade quanto escolaridade são
fortemente correlacionados com os escores na escala. Dentre os subgrupos, o
grupo com idade entre 5 a 12 anos de estudo, que engloba o correspondente a
duas faixas escolares do presente estudo, e idade entre 50 e 60 anos, contém
um número de 18 participantes.
Nas primeiras versões, era utilizada uma pontuação de acordo com o tempo em
que o teste foi concluído. Em 1958, Reitan propôs o modo de pontuação mais
habitual até os dias de hoje, com a medida do tempo utilizado para completar
cada parte.2 No caso de erros, o examinador aponta o círculo que foi ligado
23
Lezak et al.2 discutem os problemas que este sistema de pontuação tem trazido
para a confiabilidade do teste. Desse modo, há uma margem maior para
variações na aplicação, tais como o momento de iniciar a contagem do tempo, o
tempo para retomar a ligação dos círculos após ser apontado o erro.
Christidi et al.32, em uma amostra de 775 gregos, com idade entre 16 e 83 anos
e nível educacional entre 6 e 18 anos, fizeram uma exploração, por análise de
regressão, da influência da idade, escolaridade e diversos processos cognitivos
envolvidos na execução do teste. Nos seus resultados, as variações nos escores
derivados são influenciados pela habilidade intelectual geral, idade e
escolaridade numa extensão menor que os escores diretos.
Este mesmo estudo pontua que a parte B exige mais das funções executivas,
sendo os construtos mais reportados alternância/flexibilidade cognitiva,
inibição/controle de interferência, memória operacional e mudança de foco de
atenção. Os resultados do próprio estudo sugerem que o desempenho na parte
A exige principalmente habilidades visuais-perceptivas, mais do que velocidade
24
Assim como ocorre em estudos em outros países 4, no Brasil, muitos dos dados
com populações saudáveis são encontrados em grupos controle, com pequenas
amostras.19,36 Entretanto, alguns estudos com amostras maiores têm sido
realizados.
Da amostra inicial, 18% foi excluída pela pontuação no MEEM e 7%, por estar
abaixo do QI estabelecido. A taxa de exclusão devido a todos os fatores
somados foi de 29%. Os critérios mais rigorosos de exclusão, de acordo com o
QI e a pontuação no MEEM, podem ter selecionado uma amostra cognitivamente
melhor, especialmente no nível escolar mais baixo. Em consequência, os
resultados encontrados podem estar acima do que se encontra na população.
A amostra foi estratificada em seis faixas etárias (18-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-
69 e >70) e quatro grupos por escolaridade (0-4, 5-8, 9-12 e >13). Na faixa de
40 a 49 anos, contava com amostra de 33 participantes para a escolaridade 5-8,
52 para 9-12 e 69 para >13. Com idades entre 50 e 59, as amostras foram de 19
para 5-8, 41 para 9-12 e 48 para >13. Na faixa etária 60-69, as amostras eram
de 22 para 5-8, 25 para 9-12 e 29 para >13.
26
Entretanto, é uma pontuação que traz limites para a melhor compreensão dos
mecanismos cognitivos subjacentes. Pensando nestes aspectos, Troyer,
Moscovitch e Winocur42 propuseram uma forma qualitativa para avaliar a
geração de palavras, a partir de estudo prévio de Chertkow e Bub, que
concluíram que o desempenho no teste de fluência semântica requer
armazenamento semântico intacto e processos efetivos de busca.
Machado et al.22 realizaram um estudo para obter dados normativos para o teste
de fluência FAS. Foram avaliados 345 idosos, divididos em três grupos por idade
(60-69, 70-79 e ≥ 80 anos) e quatro níveis escolares (1-3, 4-7, 8-11 e ≥ 12 anos
de estudo). O desempenho foi influenciado pelo nível escolar, sendo o nível mais
alto melhor que os outros grupos com escolaridade mais baixa. Não foram
encontradas diferença por idade em modelo de regressão linear.
30
Pinto e Peters46, em revisão sobre o TDR, concluem que o teste tem nível de
sensibilidade menor para detecção de demência em estágio inicial do que
previam os primeiros estudos, em amostras pequenas e regionais. Todos os
estudos mostraram maior segurança na avaliação de demência moderada ou
grave.
Okamoto, citado por Lourenço et al.24 comparou idosos com diferentes tipos de
demência. A comparação foi realizada entre os grupos caso, bem como entre
cada grupo caso com o grupo controle. Fuzikawa, citado por Lourenço et al.24,
em amostra de idosos provenientes de um estudo de coorte populacional,
verificou a confiabilidade do método de Shulman.
Poucos estudos citados tinham como principal objetivo obter dados normativos
e contavam com amostras maiores.11,31,37,39 Além da amostra total, deve ser
também considerado o número de participantes por idade e escolaridade, dada
a importância desses fatores para justificar a variabilidade dos resultados.
trilhas. Esta redução traz limitações ao uso dos dados normativos naquela faixa
em específico.
Um outro fator a ser destacado é que em boa parte dos estudos não há uma
análise de outras variáveis independentes além das que são referidas pelos
participantes. Zimmerman et al.39 sugerem, para estudos normativos futuros, a
inclusão de uma avaliação de habilidade de leitura, além dos anos de estudo
declarados pelo participante.
Há uma dificuldade mais evidente para sujeitos com menos de quatro anos de
estudo, especialmente os analfabetos, que tiveram pouco ou nenhum contato
com atividades escolares. Para esta população, trabalhar com lápis e papel, ou
realizar certos tipos de raciocínio bastante trabalhados no contexto escolar, tais
como fazer analogias, pode ser uma experiência inusitada.5,6
Em estudo anterior dos mesmos autores54, 345 pessoas com idade entre 20 e
92 anos, com escolaridade semelhante, foram divididas por décadas. Os
domínios cognitivos avaliados foram: velocidade de processamento, memória
operacional, memória de longo prazo e conhecimento de palavras (vocabulário).
Nos resultados, observa-se declínio gradual, a partir da primeira década
avaliada. A única exceção foi para o domínio “conhecimento de palavras”, o qual
as autoras consideram como uma “estimativa de conhecimento adquirido e não
uma habilidade cognitiva”.53(p175)
3 – OBJETIVOS
4 – MÉTODOS
Observacional, transversal.
4.2 – Contexto
4.3 – Participantes
4.4 – Variáveis
A amostra foi composta por 120 adultos, com idade entre 45 e 64 anos, divididos
em três níveis escolares (4-7,8-11 e ≥ 12 anos de estudo), com 40 participantes
por cada estrato de anos de estudo. Cada grupo escolar foi dividido em dois
subgrupos de 20, por idade (45-54, 55-64 anos), num total de seis grupos.
4.6 – Amostragem
Com o apoio do setor de estatística do Hospital SARAH, foi elaborada uma lista
de funcionários, considerando as faixas de idade estabelecidas na amostra,
tendo sido dispostos em ordem aleatória para cada faixa de idade e nível escolar
estabelecido.
41
4.7 – Procedimentos
4.7.1- Convite
4.7.2 Entrevista
Para a comparação de três grupos, por escolaridade e QI, foi utilizado o teste de
ANOVA, para as distribuições normais, e Kruskal-Wallis (K-W) para os que não
possuem distribuição normal. Para a análise post-hoc do teste de ANOVA,
utilizou-se o teste Least Significance Difference (LSD). Na análise post-hoc do
teste de Kruskal-Wallis, foi feita a comparação dos pares com o teste de Mann-
Whitney, com a correção de Bonferroni para o valor-p.
5 – RESULTADOS
5.1 – Participantes
Tabela 3 - Dados normativos para a escala de avaliação de demência Mattis por anos de estudo e
faixa etária
Figura 1 – Disbribuição de frequência das pontuações da escala total Mattis em gráficos boxplot
e de pontos
Na subescala memória, não foi encontrada diferença entre o grupo 4-7 com 8-
11 (4-7 x 8-11: p=0,647; 8-11 x ≥ 12: p<0,001; 4-7 x ≥ 12: p=0,001).
Tabela 5 - Correlações de Spearman (rs) entre anos de estudo e resultados na escala Mattis
(n=120)
MTT TOT MTT AT MTT I/P MTT CONST MTT CONC MTT MEM
rs = 0,704 rs = 0,373 rs = 0,463 rs = 0,243 rs = 0,604 rs =0 ,316
Valor-p<0,001 Valor-p<0,001 Valor-p<0,001 Valor-p=0,007 Valor-p<0,001 Valor-p<0,001
Fonte: próprio autor.
54
Figura 2 – Gráfico de dispersão para as pontuações obtidas na escala Mattis – escore total, em
correlação com anos de estudo
Tabela 6 – Dados normativos para o teste de trilhas por anos de estudo e faixa etária
A comparação entre os três grupos por escolaridade (Tabela 7) mostra que esta
variável influencia as diferenças de resultados encontrada na amostra. A figura
3 evidencia, através de gráficos boxplot e de pontos, as diferenças de tempo de
acordo com os anos de estudo.
Tabela 7 – Comparações dos grupos por escolaridade nos resultados do teste de trilhas
(tempo em segundos)
4 a 7 anos (n=40) 8 a 11 anos (n=40) ≥12 anos (n=40)
Média ±DP Média ±DP Média ±DP
Mediana Mediana Mediana Valor –p
(Q1;Q3) (Q1;Q3) (Q1;Q3)
TT- A 59,30±21,86 41,83±12,00 35,00 ±9,92 <0,001*
63,00 41,50 34,00
(73,00 ; 41,25) (47,75; 33,25) (42,75; 28,25)
TT- B 192,10±71,71 112,95±57,17 82,48±28,51 <0,001*
191,50 95,50 80,50
(252,75 ; 129,50) (124,25 ; 80,75) (101,50 ; 56,25)
TT- B/A 3,39±1,21 2,69±0,89 2,43±0,80 <0,001*
3,21 2,50 2,31
(3,96 ; 2,68) (3,29 ; 2,03) (2,78 ; 1,85)
*Kruskall Wallis. Fonte: próprio autor.
56
Figura 3 – Distribuição dos tempos de execução para a parte B do teste de trilhas (em segundos)
nos três grupos escolares através dos gráficos boxplot e de pontos
Tabela 8 – Dados normativos para os testes de fluência por anos de estudo e faixa etária
Tabela 9 – Comparação dos grupos de acordo com escolaridade para resultados no teste
de fluência animais
4 a 7 anos (n=40) 8 a 11 anos (n=40) ≥12 anos (n=40)
Média ±DP Média ±DP Média ±DP
Mediana Mediana Mediana Valor –p
(Q1;Q3) (Q1;Q3) (Q1;Q3)
FL ANIM 15,50±4,13 17,23±4,42 21,08±5,16 <0,001*
16,00 18,00 20,00
(12,25; 18,00) (14,00 ; 20,75) (17,00 ; 25,00)
*ANOVA. Fonte: próprio autor.
Figura 5 – Distribuição das pontuações para o teste de fluência animais nos três grupos
escolares através dos gráficos boxplot e de pontos
Tabela 10 – Comparações dos grupos de acordo com escolaridade para resultados nos
testes de fluência FAS
4 a 7 anos (n=40) 8 a 11 anos (n=40) ≥12 anos (n=40)
Média ±DP Média ±DP Média ±DP
Mediana Mediana Mediana
Valor –p
(Q1;Q3) (Q1;Q3) (Q1;Q3)
FL F 10,30±4,05 11,45±3,52 13,90±4,36
10,00 11,00 13,50 <0,0012
(8,00 ; 13,00) (9,00 ; 14,00) (11,00 ; 17,75)
FL A 9,10±4,34 11,18±3,55 12,55±3,71
8,00 11,00 12,00 <0,0011
(6,00 ; 11,00) (8,00 ; 14,00) (9,25 ; 15,00)
FL S 9,00±4,22 10,83±2,98 13,28±4,02
9,00 10,00 13,00 <0,0011
(6,00 ; 12,00) (8,25 ; 12,75) (10,00 ; 16,00)
FL FAS 28,40±11,16 33,45±8,02 39,73±10,68
27,00 31,00 41,50 <0,0012
(21,00 ; 35,75) (28,00 ; 40,75) (30,25 ; 48,25)
1Kruskall Wallis; 2ANOVA. Fonte: próprio autor.
Nas análises post-hoc, para a letra F (LSD), não foi significativa a diferença entre
o grupo 4-7 com 8-11 (4-7 x 8-11: p=0,200; 8-11 x ≥ 12 p=0,007; 4-7 x ≥ 12:
p<0,001).
Na letra A (M-W), não foi significativa a diferença entre 8-11 e 12 ou mais (4-7 x
8-11: p=0,006; 8-11 x ≥ 12 p=0,092; 4-7 x ≥ 12: p<0,001).
Figura 6 – Distribuição das pontuações para o teste de fluência FAS nos três grupos escolares
pelos gráficos boxplot e de pontos
Tabela 11 – Dados normativos para o teste do desenho do relógio por anos de estudo e faixa etária
Tabela 12 – Comparação dos grupos por escolaridade nos escores obtidos no teste do
desenho do relógio, de acordo com escala de Sunderland13
4 a 7 anos (n=40) 8 a 11 anos (n=40) ≥12 anos (n=40)
Média ±DP Média ±DP Média ±DP
Mediana Mediana Mediana Valor –p
(Q1;Q3) (Q1;Q3) (Q1;Q3)
TDR 9,38±1,10 9,58±0,98 9,75±0,78 0,157*
10,00 10,00 10,00
(8,25 ; 10,00) (10,00 ; 10,00) (10,00 ; 10,00)
*Kruskall Wallis. Fonte: próprio autor.
Na divisão da amostra de acordo com sexo (Tabela 14), a comparação por pares
mostrou diferença no teste de fluência F, com melhor desempenho para o sexo
masculino. Também como observado na variável idade, tal diferença não foi
verificada nos testes com as letras A e S, nem no somatório FAS. Nos demais
testes estudados (MTT, TT-A, TT-B, FL ANIM e TDR) não foram encontradas
diferenças nos resultados de acordo com esta variável.
Na análise post-hoc (M-W), para a escala total, verificou-se diferença entre todos
os grupos comparados (p<0,001), bem como para as subescalas atenção,
iniciativa / perserveração e conceituação (MTT AT: ≤ 80 x 80-110: p=0,010; 80-
110 x ≥ 111: p=0,001; ≤ 80 x ≥ 111: p<0,001. MTT I/P: ≤ 80 x 80-110: p=0,007;
80-110 x ≥ 111: p=0,011; ≤ 80 x ≥ 111: p<0,001. MTT CONC: p<0,001 em todas
as comparações).
MTT TOT MTT AT MTT I/P MTT CONST MTT CONC MTT MEM
rs = 0,812 rs = 0,492 rs = 0,455 rs = 0,287 rs = 0,730 rs =0 ,361
Valor-p<0,001 Valor-p<0,001 Valor-p<0,001 Valor-p=0,007 Valor-p<0,001 Valor-p<0,001
Fonte: próprio autor.
Tabela 17 - Comparações dos grupos por faixas de QI nos resultados do teste de trilhas
Na razão entre os tempos (TT B/A), não se verificou diferença entre a faixa
média e superior (≤ 80 x 80-110: p =0,003; 80-110 x ≥ 111: p=0,045; ≤ 80 x ≥
111: p<0,001).
A comparação dos grupos por faixas de QI aponta influência desta variável nos
resultados do teste de fluência com animais, com letra F (ANOVA), letras A e S
(K-W), bem como no somatório FAS (ANOVA), conforme demonstrado na Tabela
18.
71
Tabela 18 - Comparações dos grupos por faixas de QI nos resultados dos testes de fluência
As correlações com QI (rs) foram moderadas para todos os testes (0,484 para
animais, 0,464 para a letra F, 0,480 para a letra A, 0,503 para a letra S e 0,561
para FAS, todos com p<0,001).
72
Como pode ser observado nas diversas análises, dentre as variáveis estudadas,
observa-se a maior influência de anos de estudo e QI. As correlações com idade
ocorrem nas duas partes do teste de trilhas, nos testes de fluência animais e
letra F.
Nos casos em que ocorrem, a correlação com idade é fraca. A Tabela 21 traz
um panorama geral das correlações, evidenciando este aspecto. Quando
comparamos idade versus anos de estudo, ou idade versus QI, as correlações
que ocorrem por idade são mais fracas, em comparação com as outras duas
variáveis citadas acima.
74
6 – DISCUSSÃO
O fato de ter sido planejado com o principal objetivo de obter dados normativos
é um diferencial em relação a estudos que utilizam dados colhidos para outros
objetivos. A qualidade dos dados tem relação com alguns aspectos, tais como
os critérios de exclusão estabelecidos, a seleção aleatória dos participantes nas
duas populações selecionadas, o rigor na aplicação dos testes e a inclusão do
QI como variável independente.
Para obter um número adequado de participantes por nível escolar, com uma
amostra total viável para a pesquisa, optou-se pela população de adultos entre
45 e 64 anos de idade. Trata-se de uma parcela da população habitualmente
menos investigada, uma vez que há prioridade para grupos com mais de 60
anos. Entretanto, tal composição restringe o uso dos dados normativos a esta
faixa etária.
escolaridade entre cinco e nove anos, conta com nove participantes, exigindo
cautela no uso dos resultados deste grupo em específico. Este é um aspecto
relevante, se considerarmos a parcela da população brasileira com níveis
escolares abaixo de oito anos de estudo nesta faixa etária.
Com relação ao QI, cabe destacar que foi utilizada uma escala breve, a Wechsler
Abreviatted Scale of Inteligence (WASI), que foi planejada com esta
característica. Alguns estudos utilizam uma estimativa baseada na Escala
Wechsler de Inteligência para Adultos (WAIS). O QI é calculado a partir de
resultados obtidos nos subtestes Vocabulário e Cubos. 11 Esta estratégia é
utilizada com frequência, mas requer maior cuidado na interpretação.61 A escala
breve também não substitui a escala total, mas oferece normas a partir de uma
amostra que foi avaliada naquela forma do teste.26
Esta pode ser também uma explicação para a maior influência na escala
Iniciativa/Perseveração, no qual 28 de 37 pontos são em testes de fluência
semântica. Como exposto na revisão sobre os testes de fluência, a tarefa
envolve armazenamento semântico, outra habilidade bastante desenvolvida na
escola.
Em acordo com resultados de Christidi et al.32, a razão entre a parte B pela parte
A (TT-B/A) é influenciada, em menor proporção, se compararmos com os
escores diretos, pela escolaridade. Na análise post-hoc, não se observa
diferença entre o grupo escolar médio com o superior. Nas correlações, não se
observa correlação com a idade e a correlação com escolaridade é baixa. Os
resultados reforçam a possibilidade de se utilizar o escore derivado como uma
referência mais específica das funções executivas da parte B, uma vez que
possui menor interferência dos fatores sociodemográficos.
A hipótese foi de que a primeira classe semântica poderia sofrer menor influência
do nível educacional, por ser ecologicamente mais relevante para a população
estudada. Os resultados confirmaram a hipótese formulada. Quando os dois
grupos foram comparados, não se verificou diferença de palavras geradas para
o critério “produtos alimentícios”, com diferença significativa quando o critério foi
“animais”.
Mitrushina et al. 4 referem achados de diferenças por sexo em favor das mulheres
em alguns estudos. Tal diferença não foi confirmada na meta-análise realizada
a partir de seis estudos que colocaram os escores separados para homens e
mulheres.
O TDR foi o único, entre os testes selecionados para este estudo, que não
evidenciou influência da escolaridade nos resultados. Por um lado, reforça
evidências da validade do seu uso em populações com escolaridade a partir de
quatro anos de estudo para avaliação de demência.
7 – CONCLUSÕES
Com relação à variável sexo, apenas em um dos testes de fluência do FAS (letra
F) foi observada influência no desempenho. Poucos estudos identificam
influência deste fator nos resultados. É possível que seja necessário programar
testes específicos que possam ser mais sensíveis a diferenças associadas a esta
característica.
Quando foi feita uma comparação apenas com a parte da amostra com tempo
de estudo mais baixo (quatro e cinco anos), o QI manteve correlação moderada
com alguns resultados de testes neuropsicológicos. Este achado indica que o QI
pode ser uma medida que traz informações além da declaração do participante
sobre tempo de estudo. Entretanto, na prática clínica, em geral não se dispõe
desta informação no histórico do paciente. Após início de um quadro neurológico,
87
Por fim, esperamos que os dados normativos do presente estudo sejam úteis
aos profissionais que praticam a Neuropsicologia Clínica no país, favorecendo a
interpretação dos resultados dos adultos brasileiros de meia-idade. Novos
estudos normativos são muito importantes no Brasil, de modo que a produção
de novos dados favoreça uma maior qualidade no processo de avaliação
neuropsicológica.
88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Turkish elderly population by age, sex and education. J Neurol Sci.
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95
APÊNDICES
1. ESCOLARIDADE
2. ESTADO DE SAÚDE
2.3 - MEDICAÇÕES
Nas últimas três semanas, utilizou algum medicamento que não é de uso
contínuo?
98
2.4 - ÁLCOOL
3. HISTÓRICO ESCOLAR
4. CONTEXTO SÓCIO-ECONÔMICO
4.2 - PROCEDÊNCIA
ANEXOS
Convite de Participação:
Contato: O Sr. (a) pode também entrar em contato com os responsáveis pelo
estudo, Guilherme Almeida Carvalho, no Hospital Sarah Belo Horizonte - Avenida
Amazonas nº 5953, Bairro Gameleira, Belo Horizonte/MG, telefone (31) 3379-
2600 e Dr. Paulo Caramelli, no Departamento de Clínica Médica da UFMG,
telefone (31) 3409-9746.
108
Consentimento:
____________________________________________
Nome do Participante (Em letra de forma)
__________________________________________
Assinatura do Participante
____________________________________
Assinatura do Pesquisador
109