119 - Matheus Viana Braz
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119 - Matheus Viana Braz
Direção Editorial
Lucas Fontella Margoni
Comitê Científico
Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: alternativas à individualização do sofrimento [recurso eletrônico] / Matheus Viana Braz
-- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2021.
295 p.
ISBN - 978-65-5917-119-4
DOI - 10.22350/9786559171194
CDD: 331
Índices para catálogo sistemático:
1. Trabalho 331
Dedico este trabalho à minha mãe, Luciana.
Agradecimentos
RH Recursos Humanos
Prefácio..................................................................................................................... 15
Christiane Girard Ferreira Nunes
Apresentação ............................................................................................................ 19
1 ................................................................................................................................ 53
Trabalho, emprego e a escalada da precarização no Brasil
1.1 Considerações históricas sobre trabalho e emprego......................................................55
1.2 Globalização financeira e os impasses psicossociais do trabalho no Brasil ............... 60
1.3 As novas formas de sofrimento e a divisão social do trabalho .................................... 64
1.4 O futuro do trabalho em xeque ....................................................................................... 71
2 ................................................................................................................................ 81
Construção da Sociologia Clínica: reflexões históricas e epistemológicas
2.1 Sobre as fontes da abordagem clínica ............................................................................ 82
2.2 Sociologia Clínica na França: história e filiações teóricas ........................................... 96
2.3 Sociologia Clínica na América do Norte: o protagonismo dos Estados Unidos e
Canadá ............................................................................................................................ 113
3 .............................................................................................................................. 126
Desenvolvimento da Sociologia Clínica no mundo: proposição de um mapeamento
breve
3.1 Sociologia Clínica na Europa, Ásia, África e Oceania .................................................. 127
3.2 O projeto da abordagem clínica na América Latina ....................................................143
3.3 O movimento brasileiro ................................................................................................. 154
4.............................................................................................................................. 167
Narrativas de vida e dispositivos de pesquisa e intervenção: detalhamento dos
enquadres metodológicos
4.1 Da dinâmica afetiva dos grupos à epistemologia da complexidade: a análise dialética
de Max Pagès ........................................................................................................................ 168
4.2 O sociodrama de Jacob Levy Moreno ........................................................................... 175
4.3 O teatro-fórum de Augusto Boal .................................................................................. 180
4.4 Grupos de implicação e pesquisa ................................................................................. 188
4.4 Organidrama ................................................................................................................... 197
5 ............................................................................................................................. 203
Alternativas metodológicas à individualização do sofrimento e dos conflitos no
trabalho
5.1 A intervenção como processo: análise da demanda, contrato, contradições do
diagnóstico e a transferência .............................................................................................. 205
5.2 Trabalho reflexivo e emocional nos grupos: análise de um grupo de implicação e
pesquisa .................................................................................................................................216
5.3 A construção da escuta e da implicação nas intervenções: o que é se afirmar como
sujeito no trabalho? ............................................................................................................. 233
5.4 Limites e impasses da abordagem: transmissão da Sociologia Clínica na universidade
e os grupos de implicação e pesquisa nas organizações .................................................. 248
1
Professora no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UNB). Coordenadora do núcleo Diálogos
em Sociologia Clínica.
16 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
diferentes fatores, isso não significa que não há margem para a liberdade,
numa clara referência a Sartre. Significa igualmente que nós “não somos
mestres na nossa própria casa” parafraseando Freud. Ou seja, a história
age em nós, nós produzimos a história incorporando hábitos que por sua
vez nos identificam socialmente (Bourdieu). Essas grandes opções teóricas
são uma sólida base para entender as trajetórias de diferentes grupos que
compõem a sociedade e as respostas dadas aos conflitos, particularmente
envolvendo a esfera do trabalho.
Para aqueles que desejam se aprofundar no campo da Sociologia Clí-
nica, a leitura desse livro é indispensável. Ele é fundamental para todos
que estão preocupados em avançar na compreensão dos desafios da reali-
dade contemporânea. Mas a sua façanha consiste ainda em colocar em
evidência o quanto a Psicossociologia e a Sociologia ganham com o cami-
nho indicado para esclarecer novas dinâmicas do social, como aquelas
relativas ao mundo do trabalho, por exemplo. Convivemos com configu-
rações inquietantes para nossa sociabilidade, de modo que os motivos
possíveis das ações belicosas devem ser compreendidos para evitar que
sejamos instrumentalizadas por elas. Permitir utilizar essa metodologia
para esse fim, estar o mais perto possível da experiência dos sujeitos, den-
tro de uma análise do contexto sócio histórico no qual estão envolvidos, é
a tarefa a qual se dedica este livro.
Para realizar este intento, Matheus Viana compartilha experiências
de trabalho diferenciadas envolvendo tanto organizações privadas, quanto
organizações públicas onde o pesquisador e sua equipe são convidados a
intervir. Nas organizações privadas são consultorias, já nas organizações
públicas as intervenções são realizadas com estagiários de Psicologia e a
partir do modo de reminiscências do pesquisador. O autor mostra as múl-
tiplas formas de conflitos nos ambientes de trabalho e do não-senso de
tentar interpretá-los culpabilizando os indivíduos ou psicologizando as
instituições. Matheus mostra como os Grupos de Implicação e Pesquisa
(GIP) e os Organidramas podem desvendar os nós sócio-psíquicos. Sabe-
mos o quanto a gestão do trabalho exclui, atualmente, uma grande parte
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dos trabalhadores que não têm resiliência suficiente para lidar com os de-
safios oriundos de demandas paradoxais. Logo, trata-se de uma
abordagem que leva em conta o sofrimento e, ao mesmo tempo, colabora
para o estabelecimento de organizações mais saudáveis.
Estamos diante de um trabalho extremamente precioso e do qual pre-
cisávamos. Há poucas obras traduzidas dos autores francófonos ou de
língua inglesa sobre o tema. Matheus apresenta uma sistematização sócio-
histórica deste campo e mostra que cada continente, a partir da sua reali-
dade, repensa e encontra novos conceitos para um diálogo fecundo. Por
essa razão, trata-se de um livro de referência para todos os pesquisadores,
professores e estudantes interessados na questão do trabalho em nossa
sociedade.
O caminho utilizado foi também bastante interessante. O autor pri-
vilegiou o campo dos conflitos de trabalho nas organizações, onde teve
experiências como interventor. Mencionamos o quanto o mundo do tra-
balho e, particularmente, as formas de gestões do trabalho adoecem a
todos os trabalhadores. E, paradoxalmente, os fazem se sentir indispensá-
veis durante um tempo da atividade, até o esgotamento aparecer e o
trabalhador ser descartado. Matheus mostrou por meio da epistemologia
a importância da observação complexa da situação, da vivência a partir de
dinâmicas de grupos (entre 8 a 12 pessoas) e a reflexão possível sobre o
que é vivido nesses quadros.
Insisto, o livro de Matheus é o mais completo documento sobre como
respeitar os procedimentos no quadro escolhido (Organidrama ou GIP)
para permitir desvendar o que é central, a saber, como se articulam as
problemáticas existenciais e sociais. Em função dessa escolha, o autor re-
vela a necessidade de uma co-construção entre o pesquisador, seus
assistentes (observadores) e o grupo. A necessária implicação exige a re-
flexão sobre a transferência e contratransferência, bem como uma
presença extremamente atenta, capaz de revisitar os contextos socio-his-
tóricos mencionados pelos participantes, lançando luz sobre sua leitura
sociológica. Uma regra é imprescindível para realizar um trabalho em
18 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
grupo: ninguém é obrigado a dizer mais do que deseja dizer e todos devem
respeitar a confidencialidade das histórias dos participantes.
Outra contribuição importante do livro consiste em mostrar a possi-
bilidade de estar à escuta de novos temas em diferentes regiões do mundo.
O que há em comum e de singular, por exemplo, entre as crescentes radi-
calizações religiosas que surgem em lugares totalmente diferentes? O livro
permite colocar questões novas à História sempre em movimento. É um
diálogo fecundo que considera a singularidade da cultura e sua instrumen-
talização em dinâmicas globais. Não se trata somente de refletir sobre
indivíduos falados por suas histórias e trajetórias, mas desvendar temas
que podem ser vistos de maneira mais ampla, sem esmagar ou aniquilar a
força dos sujeitos nas dinâmicas históricas.
Finalmente, quero destacar a honra e a alegria que senti quando meu
colega e amigo Matheus Viana me convidou para apresentar o livro. É um
livro que precisávamos, feito por alguém que conhece o campo e genero-
samente compartilha suas descobertas. Obrigada, Matheus!
Apresentação
1
A noção de dispositivo, neste livro, é emprestada da Análise Institucional (Lourau, 1970/2014) e se remete a um
operador cuja função consiste em movimentar elementos instituídos das relações sociais em favor da emergência de
forças instituintes.
Matheus Viana Braz | 21
2
Utilizado, sobretudo, na esfera do Desenvolvimento Organizacional, parte-se do pressuposto que o desenvolvimento
do potencial humano deve ser encarado na perspectiva de um benefício à empresa (Amado, Faucheux, & Laurent,
1993). Os conflitos são tratados no nível da comunicação organizacional e da mudança de comportamentos, cuja
finalidade é garantir a harmonia e adaptação dos trabalhadores à organização.
Matheus Viana Braz | 25
Por fim, a Sociologia Clínica oferece uma terceira via e nos convida a
intervir nas organizações de forma sistêmica, colocando em questão tam-
bém sua estrutura coletiva e jogos de poder (Gaulejac, 1999/2012). É
reforçada a necessidade de analisar os cenários de acordo com a perspec-
tiva clínica da complexidade, incluindo ingredientes como a historicidade,
as narrativas de vida, as emoções genuínas (inclusive as consideradas
ameaçadoras) e as angústias. Tratar de fato os conflitos implica sair do
paradigma da imediatidade e assumir que para mudar é preciso abando-
nar posições maniqueístas e metodologias prescritivas. Por meio da
intervenção em Sociologia Clínica, é possível compreender o indizível, o
não-dito e as contradições estruturais que permeiam os conflitos nas or-
ganizações de trabalho. O foco, portanto, a partir de intervenções grupais
no espaço de trabalho, consiste em se aproximar o máximo possível do
trabalho real e vivido pelos trabalhadores.
Nessa óptica, a vivência de um trabalhador se inscreve em movimen-
tos existenciais dialéticos, frutos da confrontação de determinações sociais,
familiares, genealógicas e psíquicas. Na tentativa de evitar tanto a indivi-
dualização do sofrimento como a psicologização das contradições sociais,
considera-se que problemáticas individuais e sócio-organizacionais se vin-
culam irredutivelmente a uma dimensão coletiva, que exige de qualquer
interventor uma postura analítica compreensiva, crítica e complexa. Ao
rejeitar perspectivas patologizantes ou instrumentalistas, a Sociologia Clí-
nica convoca o pesquisador a construir uma postura sensível e aberta à
compreensão dos sofrimentos dos trabalhadores, em situações mediadas
ou não por uma institucionalidade formal. Igualmente, sua matriz pluri-
disciplinar coloca a abertura epistemológica como condição a realização de
pesquisas e intervenções (Gaulejac, 2011).
26 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
1
No original: Une science du comportement autenthique existera quand ceux qui la pratiquent se rendront compte
qu’une science realiste de l’humanité ne peut être créée que par des hommes qui sont les plus conscients de leurs
propre humanité, précisément lorsqu’ils la mettent le plus totalement à l’ œuvre dans leurs travail scientifique.
2
No original: [...] ne jamais traiter l’être humain comme un outil, un instrument, une variable, mais comme un sujet
capable d’énoncer un savoir sur sa propre existence et sur son histoire.
32 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
3
O storytelling consiste em um método de contação de histórias, baseado em técnicas inspiradas em escritores e
roteiristas, cuja finalidade é transmitir ao espectador uma história e mensagem de forma inesquecível.
Matheus Viana Braz | 33
o que o permitia voltar para casa aos finais de semana, quando era possí-
vel. Minha mãe, então, era responsável pelo cuidado de três filhos
pequenos (o que imagino não ter sido tarefa fácil) e vendia doces e salga-
dos que fazia em casa no escasso tempo que lhe sobrava. O salário de meu
pai era utilizado nas despesas de nossa casa, mas as dificuldades financei-
ras foram uma constante durante esse período.
Em determinado momento, ainda durante minha infância, meu pai
conseguiu um trabalho em uma indústria de grande porte de nossa cidade,
o que o possibilitou voltar a morar conosco. Tenho a percepção de que
nesse período vivemos uma vida bastante harmoniosa, com menos confli-
tos familiares, e maior estabilidade financeira. Sobretudo aos finais de
semana, fazíamos programas em família e tenho a sensação de que me
aproximei mais de meu pai. Poucos anos depois, todavia, ele foi demitido,
na ocasião da realização de processo de demissão coletiva da empresa. Te-
nho ainda viva a lembrança de quando se reuniu com minha mãe e meus
irmãos, para nos dar a notícia. Sentimos o clima de tristeza e parecia que
sabíamos que as coisas voltariam a piorar, mas meu pai e minha mãe per-
maneciam fortes e tentavam transmitir o otimismo e a sensação de
equilíbrio para nós três.
Depois dessa demissão meu pai atravessou um longo período de de-
semprego (embora esporadicamente ainda fizesse algum trabalho como
autônomo), mas auxiliava minha mãe no preparo e venda de doces e pra-
tos salgados. Ambos tentaram inclusive abrir um pequeno
empreendimento no setor alimentício, mas que em pouco tempo foi fe-
chado, em função de dificuldades administrativas e financeiras.
Entre meus 10 e 16 anos, lembro que meu pai trabalhou como free-
lance em nossa cidade natal. Em um determinado momento, ele se mudou
para a cidade de Porto Alegre, onde conseguiu um trabalho, mas como a
distância geográfica era muito grande, em menos de um ano retornou à
nossa casa. Minha mãe sempre ficou à frente de nosso cuidado, embora
tivéssemos também uma aproximação constante com meus avós. Ela tra-
balhava como cozinheira, também autônoma, em alguns momentos
36 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
4
A bolsa recebida contemplava meus custos de mobilidade (do Brasil à Espanha), os custos de moradia estudantil,
além de uma quantia mensal de cerca de 400 euros.
42 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
5
Groupe d’Implication et de Recherche (GIR).
Matheus Viana Braz | 47
fui subjetivado. Nesse grupo também pude me confrontar com o hiato en-
tre a escolha de uma profissão (a Psicologia) com pouco prestígio social e
retorno financeiro e as expectativas predominantes inerentes aos meus
projetos parentais. Apreendi, também, que conforme fui construindo uma
trajetória que fugia dos estereótipos de sucesso profissional hegemônicos,
isso também influenciou positivamente na mudança de perspectiva de tra-
balho de alguns integrantes de minha família.
Refletir sobre minhas escolhas profissionais implicava doravante
compreender qual a concepção de trabalho hegemônica em minha histó-
ria. Embora aparentemente óbvia, tomei consciência dessa ligação
somente neste momento. Todavia, outras contradições vieram à tona. Nos
últimos anos, ficava evidente que eu havia assumido maior protagonismo
na construção de minha trajetória profissional, mas paguei um preço alto
por isso. Em razão de dificuldades financeiras e por falta de tempo, du-
rante minha graduação e mestrado eu retornava muito pouco para minha
cidade de origem. No ano de 2015, grande parte de minha família ainda
residia na cidade, mas meus irmãos e meus pais haviam se instalado em
Campinas. Meu irmão foi o primeiro a se mudar, para fazer faculdade.
Anos depois, minha irmã também foi a trabalho e, posteriormente, cursou
Ciências Contábeis. Meu pai, anos depois do divórcio, conheceu outra mu-
lher e foi morar com ela, em Campinas. Enfim, no ano de 2014, em função
de dificuldades financeiras, minha mãe se mudou também para a cidade,
onde trabalha como cozinheira. Portanto, o efeito colateral de minhas es-
colhas foi um distanciamento relativo com minha família, no qual
reconheço que fui o principal responsável.
No ano de 2016 eu havia me preparado, encarei a árdua burocracia
da FAPESP e submeti um projeto para pleitear uma Bolsa de Estágio e Pes-
quisa no Exterior, cuja finalidade era ampliar meu trabalho de mestrado e
realizar uma pesquisa no seio do Laboratoire de Changement Social et Po-
litique da Université Paris 7 Diderot, em Paris, na França, sob orientação
do professor Vincent de Gaulejac, que havia aceitado me receber. Para mi-
nha surpresa e extrema felicidade, o projeto foi aprovado. No dia 31 de
48 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
posição social. Decerto que não nos referíamos a uma distância que passa
por ganhos financeiros (pois isso não ocorreu), mas que se opera no plano
dos capitais culturais, ideológicos e simbólicos. Porém, o que significaria
mudar de classe? Isso é factível?
Aqui, percebi um ponto de inflexão. Primeiro, reconheci que ocupo
uma posição privilegiada em nossa sociedade, afinal sou branco, fiz uma
pós-graduação em uma universidade pública, assim como estou dentro
dos padrões estéticos e heteronormativos hegemônicos. Reconheci tam-
bém que me distanciei de certos paradigmas de minha família,
relacionados ao trabalho. Em contraposição, em substância valores funda-
mentais como o respeito, honestidade, sensibilidade, empatia e humildade
permaneceram enraizados na forma como enxergo o mundo. Logo, outras
questões se revelaram: Qual posição social eu ocupo na sociedade? Qual
posição ocupo na esfera de minhas relações intrafamiliares? Seria possível
dissociar história pessoal e história familiar? Do ponto de vista da trans-
missão psíquica, de onde ou de quem eu herdei a ambição de me tornar
professor e pesquisador?
Malgrado atualmente eu conviva em contextos diferentes daqueles
conhecidos por minha família, me sinto fiel às minhas raízes, sou grato e
admiro minhas figuras parentais. Em última análise, a perda do meu pai
me ensinou que essa família é central em minha vida e, se vislumbro uma
melhoria em termos de condições financeiras, é porque tenho a expecta-
tiva de poder ajudá-la no futuro (e aqui me remeto sobremaneira à minha
mãe). A capacidade, portanto, de construir esse futuro, passa inexoravel-
mente pela implicação em compreender as contradições de meu passado
e presente.
Ao longo de 2017, durante minha estadia na França, participei dos
seminários do Mestrado Acadêmico em Sociologie Clinique et Psychosoci-
ologie, do Mestrado Profissional em Théories et Pratiques de l’Intervention
Clinique dans les Organisations e do Doutorado, oferecidos no quadro do
Laboiratoire de Changement Social et Politique. Além disso, graças à gene-
rosidade do professor Vincent de Gaulejac, pude participar de duas outras
Matheus Viana Braz | 51
05h30. Trim trim trim, Despertador toca. Mais um dia. Vontade de ficar na cama é
enorme, mas as melhores corridas são as do início da manhã. Crio forças. Me levanto,
lavo o rosto, troco de roupas, tomo um café forte. Pão com manteiga. Coloco uma maçã
na minha bolsa, pra comer no meio da manhã e preparo um pão, com presunto, queijo
e ovo. Não deu tempo de preparar a marmita ontem. Antes de sair, passo pelo quarto
dos meus filhos: Pedro e Eduarda, doze e quinze anos. Ainda estão dormindo, como mi-
nha esposa, que logo vai acordar para sair para procurar trabalho. Desempregada há
onze meses. Tô com medo dela cair em depressão. Tá distante nos últimos dias. O Brasil
não tá fácil pra ninguém...
Pego o carro, ligo o aplicativo e vou pro centro da cidade. São Paulo, cidade que nunca
dorme, sempre tem corrida. Uma, duas, três, quatro... doze, o tempo tá voando hoje.
Lembrei que não abasteci o carro ontem. O jeito é encher o tanque aqui pelo centro
mesmo. Álcool é mais caro aqui do que perto de casa. Culpa. Tô perdendo dinheiro. Fila
no posto... Não é possível. Tô perdendo tempo. Enrolação desses frentistas. Povo que
não gosta de trabalhar, penso comigo. Olho o celular. Não posso aceitar as corridas.
Olho o hodômetro do carro. Mais de 2000 km percorridos na semana passada. Lembro
que já passou o prazo da revisão. Agora não tenho nem condições. Vai do jeito que tá
mesmo. Carro 2014, ainda pagando financiamento, falta mais sete anos para quitar. Mas
já tá batendo cento e cinquenta mil km. Tá desvalorizando. Sem chance de trocar agora.
Ansiedade começa a aumentar. Paro de pensar nisso. Foco nos problemas do presente.
Não posso ser pessimista. Como a maçã. Olho o celular enquanto abasteço o carro, para
distrair. Email, Whatsapp, Facebook, Linkedin, notícias... Instabilidade política e econô-
mica. Desemprego atinge 12,6 milhões de pessoas. O Brasil não tá fácil pra ninguém...
Até que enfim. Saio do posto. Volto pras corridas. Crianças, trabalhadores, jovens, em-
presas, escola, passeios, gente bacana, gente chata, uns querem conversar, outros
54 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
parecem ter medo de mim. Já perdi as contas de quantas corridas foram hoje. Dia não
tá fácil. Só corrida pequena. O dinheiro não rende. 11h30, paro rapidinho, 15 minutos.
Como o pão com ovo e tomo água. Ufa, hoje o dia tá passando rápido. Graças a Deus.
Pego o celular. Portal de notícias: Reforma da Previdência. O Brasil precisa equilibrar as
contas. Do jeito que tá, se ninguém intervir o país entra em colapso. 59 anos, desempre-
gado há três, quatro entrevistas nesse período. Tem gente que fala que nunca vou
conseguir recolocação. Ainda tenho fé. Lembro do passado. Sempre gostei de trabalhar
na área administrativa. Quase 20 anos na mesma empresa. Colaborador exemplar, mas
a empresa foi pra outro Estado. Mudaram a operação sem avisar pra quase ninguém.
Fomos abandonados. Ganhava pouco, mas o salário pingava todo mês. Nunca ia imagi-
nar que me deixariam na mão, que nem meu fundo de garantia tavam pagando. Saí com
uma mão na frente e outra atrás. Fé em Deus pra que o processo ande logo. A justiça
tarda, mas não falha. Pelo menos a rescisão tenho que receber. Borá lá, não adianta ficar
chorando, as contas não param de chegar e semana que vem vence o aluguel. Celular
chamando, corrida à vista. Só quero encerrar o dia.
Não consegui parar a tarde toda. Uma corrida atrás da outra. As costas começam a doer,
como sempre à tarde. Vamos, Antônio, falta pouco, sem mimimi. Não fecha a cara, por-
que senão o cliente dá avaliação negativa. Tem que ser simpático. O cliente acima de
tudo, ele tem sempre razão. Fim de tarde. Trânsito em São Paulo tá cada vez pior. Esse
povo não sabe dirigir, não é possível. Marginal, Radial Leste, nunca vi tanto radar, por
isso para tudo. Fábrica de multas. Mais uma forma do governo roubar meu dinheiro. 19
horas. Começo a direcionar as corridas no sentido de casa. Próximo cliente, fora do per-
curso de casa, mas a corrida é boa. Vale a pena, apesar do atraso. Aviso minha esposa
que vou chegar mais tarde, que eu janto depois. 20h horas. Enfim chegando perto de
casa. Não tenho ideia de quantas corridas foram hoje. As costas quase travando. Paro
na garagem. Faço as contas. Tirando o combustível, o lucro hoje foi de 120 reais. Não foi
ruim nem bom. Tô na média. Graças a Deus venci mais um dia. Não fosse a iniciativa
privada, eu tava na merda. O Estado só tá aí pra quebrar as empresas. Se não tivesse
tanto imposto teria mais empregos com carteira assinada... Distração. Foco, Antônio. Só
depende de você, penso eu.
Entro em casa. Dou um beijo nas crianças. Pra mim sempre vão ser minhas crianças, a
razão da minha vida. Quero que elas tenham a oportunidade de estudar, fazer tudo que
eu sonhei pra minha vida... Converso com minha esposa. Ela diz que não encontrou nada,
nenhuma entrevista, mas que conseguiu duas faxinas no fim da semana. 80 reais o dia.
A tarde assou algumas roscas. Amanhã eu levo pra tentar vender nas corridas. Agrade-
cemos a Deus. Depois de jantar, tomo um banho. 21h30, tô exausto, mas tenho que sair
da minha zona de conforto. Vejo uns vídeos de desenvolvimento pessoal no youtube. Leio
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1
Para uma discussão mais aprofundada desse período, indica-se a leitura de Viana Braz (2019) e Fleury & Fleury
(2012).
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2
No processo de privatização da Ferrovia Paulista S/A (Fepasa) e da Vale do Rio Doce, por exemplo, foram extintos
cerca de 28.600 empregos (Caldas, 2000).
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contratação, esses postos se mantêm abaixo dos salários de quem tem sido
demitido. Ademais, 98% dos empregos criados possuem remuneração
máxima de até dois salários mínimos (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada, 2019). Ressalta-se ainda que até o terceiro trimestre de 2019 foi
constatado que cerca de 104 milhões de brasileiros sobreviviam com até
R$413,00 por mês (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2019).
Constata-se, também, no trabalho de Neri (2019) que entre 2014 e
2017 houve um aumento de 33% na pobreza no Brasil, o que corresponde
ao acúmulo de um contingente suplementar de 6,27 milhões de pessoas,
totalizando 23,3 milhões de habitantes em situação de miséria3. Os dados
apresentados pelo autor indicam que a minimização da desigualdade so-
cial em território nacional não teve nesse período uma correlação positiva
com o aumento geral da renda da população, mas refletiu maior concen-
tração de riquezas.
Uma vez que há um excedente de trabalhadores precarizados ou de-
sempregados, que buscam a inserção no mercado formal,
consequentemente ocorre a queda da média dos salários das novas con-
tratações. Essa relação, todavia, não é fruto tão somente de uma dinâmica
própria à conjuntura atual econômica brasileira, mas reflete um processo
de flexibilização global do trabalho. A globalização trouxe consigo a emu-
lação de um sistema de mercado que tende à diminuição do papel dos
Estados na economia. Baseados nas contribuições de Rodrik (2011), obser-
vamos duas assimetrias sociais geradas por essa lógica. Em primeiro
plano, se a pressão por qualificação constante e pela polivalência se coloca
como um ditame é porque a abertura dos mercados conduz à redução da
demanda por trabalhadores menos qualificados em países desenvolvidos.
3
Renda igual ou menor a 233 reais/mês por pessoa.
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4
Compreendida como a classe cuja renda se localiza entre 75% e 200% da renda média nacional, segundo o relatório
(Organisation for Economic Cooperation and Development, 2019).
5
Constatou-se também que esse enfraquecimento só não foi maior pois houve nesse período a entrada de muitas
mulheres (esposas) no mercado de trabalho, o que garantiu que muitas famílias não regredissem ainda mais suas
condições de vida.
Matheus Viana Braz | 71
6
O desemprego estrutural corresponde a um descompasso entre a procura e a oferta de trabalhadores (mão de obra
disponível em determinado mercado). Notadamente atrelado a automações e disrupções tecnológicas, esse desajuste,
contudo, é preocupante, pois não é temporário, mas permanente (Antunes & Pochmann, 2007).
Matheus Viana Braz | 73
7
É em função desta premissa que autores como Jeremy Rifkin (2014) defendem que a economia do compartilha-
mento tende a permitir que empresas logrem, com cada vez mais frequência, um custo marginal de serviços que
tende a zero.
8
As informações apresentadas foram retiradas do site institucional do grupo (https://99app.com/empresas/) e de
sua página oficial na plataforma LinkedIn (https://www.linkedin.com/company/99app/life/778c3f85-2a8e-4bf8-
b530-1ca66e8b83f2/)
74 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
9
Como, por exemplo, a Gupy, Revelo, Convenia, GoGood, Pin People, Love Mondays (adquirida recentemente pela
Glassdoor), Match Box e Kenoby.
78 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
(Gaulejac, 2009), o que faz com que o pesquisador norteado pela Sociolo-
gia Clínica seja desafiado a compreendê-los enquanto processos sócio-
psíquicos em constante articulação.
Como a própria construção dessa noção sugere, o termo Sociologia
prenuncia a necessidade de compreender a inter-relação das diversas con-
tradições sociais que nos atravessam e como elas interferem nas histórias
individuais, seja pela reprodução de formas específicas de ser e agir no
mundo, seja pela canalização e condicionamento de sentidos e significa-
ções. A Clínica, por outro lado, remete ao movimento de compreensão dos
processos sócio-psíquicos, os quais somente podem ser efetivamente ana-
lisados (ou apreendidos) mediante a conceituação e interpretação de
experiências e vivências reais (Gaulejac, 1987/2016). Sociologia e Clínica,
portanto, são indissociáveis e indispensáveis, pois é nessa articulação que
encontramos a coerência para a produção de conhecimentos que contem-
plem o registro da produção de sentido das pessoas, sem desprezar os
determinismos sociais que as constituem.
Pelo fato de não se voltar a um objeto específico e ser multirreferen-
ciada por diversos campos de estudo, parece que muitas vezes a Sociologia
Clínica tem seu estatuto científico questionado. Afinal, essa abordagem clí-
nica do social possui uma base de conhecimentos consolidada e
ferramentas próprias de intervenção? Ou se configura tão somente como
uma colcha de retalhos, se servindo de variadas fontes epistemológicas?
Qual denominador comum orienta seus pressupostos metodológicos? Em
que medida a Sociologia Clínica difere da Psicossociologia? Tentaremos,
nas páginas procedentes, responder a essas e outras interrogações.
1
No francês: être de l’home et être de la société.
Matheus Viana Braz | 85
2
Em Economia e Sociedade (Weber, 1956/1991), por exemplo, na versão completa organizada e publicada por sua
esposa (Johannes Winckelmann), ao revisitar sua análise das situações dos operários agrícolas alemães, Weber se
aproxima das ideias marxistas que colocam a luta de classes como componente central da ordem social, especial-
mente aquelas relacionadas à racionalização das explorações.
86 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
3
Entendemos por marxismo dogmático o movimento de marxistas ortodoxos que restringem seu campo analítico
a uma radicalização materialista (sobretudo de raízes econômicas) e mecanicista, deixando de lado a subjetividade,
a ação criativa e totalizadora dos seres humanos. Trata-se, portanto, de uma matriz de conhecimento que pretende
fazer de seus conceitos eternos e imutáveis, pois compreende a história como totalidade acabada e por isso reduz os
indivíduos a produtos de processos sociais (Sartre, 1960).
Matheus Viana Braz | 87
4
Retomaremos essa discussão posteriormente.
88 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
5
Lévy (2001a), por exemplo, não concorda com as teses sobre a precedência do social sobre o psíquico e argumenta
que isso reflete um desejo de hegemonia da Sociologia.
Matheus Viana Braz | 89
6
No original: L’individu est au départ un héritier.
7
No original: Ce que l’on appelle la « destinée » n’est que l’expression de ce à quoi on a été destiné par ceux qui nous
précèdent.
90 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
8
No original: el yo no es el amo en su propia casa.
Matheus Viana Braz | 91
9
No original: Si l’on considere que le destin d’un individu est detérminé par l’histoire, celle-ci n’est pas réductible à
l’histoire des relations affectives entre l’enfant et les adultes que l’ont entouré pour suivre ses premiers apprentis-
sages. Ces relations sont elles-mêmes portées par une série de rapports qui les déterminent. Elles sont porteuses
d’enjeux non seulement affectifs mais également idéologiques, culturels, sociaux et économiques, chacun de ces ni-
veaux ne pouvant être dissocié des autres, dans la mesure où c’est leur intrication qui produit la structure de
programmation, le système d’habitus, le cadre référentiel sur lesquels l’enfant va construire sa propre histoire.
Matheus Viana Braz | 93
10
No original : L’opposition entre ratinnel et émotionnel est non seulement artificielle mais radicalement « inhu-
maine ».
94 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
11
No original: L’important n’est pas ce qu’on a fait de l’homme, mais ce qu’il fait de ce qu’on a fait de lui.
Matheus Viana Braz | 95
12
Uma exploração aprofundada das origens da Psicossociologia pode ser encontrada em Viana Braz (2019).
Matheus Viana Braz | 97
Mais do que a teoria psicanalítica, foi a experiência pessoal que conduziu nu-
merosos praticantes a descobrir o papel determinante dos processos
inconscientes – nas relações interpessoais, nos grupos e nas organizações so-
ciais. Foi a Psicanálise, mais ainda que as teorias marxistas ou neomarxistas,
que fez com que se tomasse consciência das dimensões ideológicas das teorias
que reduziam os conflitos psíquicos e sociais a um conhecimento insuficiente
dos respectivos sistemas de representações dos atores sociais e das metodolo-
gias baseadas na ideia que seria suficiente melhorar as comunicações para
reestabelecer a coesão social (Lévy, 2001a, p. 44).
13
Enquanto membro da Société Française de Psychothérapie Psychanalytique de Groupe, Rouchy se aproximou tam-
bém dos trabalhos de Didier Anzieu, René Kaës e Wilfred Bion.
102 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
14
Alguns anos antes, Pagès convidara também André de Peretti para fazer parte da ARIP. Como ambos eram os
pesquisadores mais ligados à abordagem rogeriana, Peretti também se retirou da associação nessa ocasião (Rouchy,
2009).
Matheus Viana Braz | 103
15
Alguns pesquisadores, representantes da segunda geração de psicossociólogos franceses, fizeram parte da fundação
dessa nova rede. Dentre eles, figuram Gilles Amado e Jacqueline Barus-Michel. Para mais informações, indicamos o
website do centro: https://cirfip.org/
16
Atualmente nomeada Nouvelle Revue de Psychosociologie.
17
Em 1981, Pagès passou a diretoria do laboratório para Vincent de Gaulejac, que permaneceu na função até 2014.
18
Traduzido para o português como O poder das organizações (Pagès et al., 1987).
104 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
19
Essa história pode ser encontrada em detalhes no seguinte documento: http://www.vincentdegaulejac.unisite-
creation.com/wp-content/uploads/2012/10/Sautoriser-%C3%A0-penser.pdf
20
Traduzido para o português em 1990.
Matheus Viana Braz | 105
21
Órgão francês correlato ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Brasil.
106 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
22
Nas palavras de Gaulejac (2001): “O termo secante é tirado da trigonometria. Se tomarmos unicamente como
referência a Sociologia e a Psicanálise, o Sociólogo Clínico ocuparia, em relação aos dois campos disciplinares, um
lugar marginal, pois é refutado tanto num como no outro, embora se encontre justamente na intersessão das duas
retas que cortam os dois campos” (p. 36).
23
Em 1992, foi criado um grupo de pesquisa permanente de Sociologia Clínica na ISA (RC-46).
24
Desde 2014, após fusão com o Centre de Sociologie des Pratiques et des Représentations Politiques, o referido
laboratório passou a se intitular Laboratoire de Changement Social et Politique.
Matheus Viana Braz | 107
25
https://www.sociologie-clinique.org/
26
http://lcsp.univ-paris-diderot.fr/
108 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
27
O movimento de maio de 1968 traduziu um processo de efervescência nacional que começou com uma onda de
protestos organizada por estudantes e cuja demanda consistia em uma reforma no sistema educacional francês. Esse
movimento se expandiu e passou a agregar greves de trabalhadores que se colocavam contra o governo do presidente
Charles de Gaulle.
28
Ao longo de sua trajetória, Gaulejac realizou três teses de doutorado. Neste estudo, a primeira tese defendida na
Paris Dauphine, seu trabalho foi baseado em uma intervenção psicossociológica que realizou em uma agência de
publicidade.
29
Esses relatos pessoais podem ser encontrados na narrativa escrita por Gaulejac sobre sua história de vida e suas
escolhas profissionais: http://www.vincentdegaulejac.unisite-creation.com/wp-content/uploads/2012/10/Sautori-
ser-%C3%A0-penser.pdf
Matheus Viana Braz | 109
30
A esse respeito, ver Niewiadomski (2012) e Gaulejac e Legrand (2013).
110 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
31
No original : Elles viennent d’horizonts divers mais partagent toutes le goût pour la clinique et le désir d’échapper
aux cloisonnements disciplinaires qui dominent trop souvent les théories et les pratiques dans les sciences de
l’Homme et de la Société. Leus motivations sont au croisement de la formation, du développement personnel et de
la recherche. Comprendre pour soi, pous approfondir sa pratique professionnelle et pour découvrir de nouveaux
outils d’analyse, ces trois aspects sont toujours présents. Au correfour du développement personneel, de la formation
et de la recherche, l’organisation de ces séminaires permet des va-et-vient entre les registres du vécu, de l’apprentis-
sage et de la conceptualisation, ou enconre entre le travail sur l’histoire personnelle, la mise en œuvre d’une
démarche méthodologique et l’acquisition des outils théoriques qui la sous-tendent.
Matheus Viana Braz | 111
32
Vinculada atualmente ao Center for Sociological Research da University of Cincinnati, no estado de Ohio.
114 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
33
No original: […] a creative, humanistic, and multidisciplinary specialization that seeks to improve life situations
for individuals and collectivities.
34
No contemporâneo, essa associação é nomeada Sociological Pratice Association.
35
No encontro anual da American Sociological Association (ASA), realizado em São Francisco.
36
Dentre elas, destaca-se a Clinical Sociology Review, criada em 1982, porém que teve seu último volume publicado
em 1998. Todos os manuscritos da revista se encontram disponíveis no seguinte website: https://digitalcom-
mons.wayne.edu/csr/
Matheus Viana Braz | 115
[...] os sociólogos clínicos trabalham com sistemas dos clientes para avaliar
situações e evitar, reduzir ou eliminar problemas por meio de uma combina-
ção de análise e intervenção. A análise clínica implica a avaliação crítica de
crenças, políticas ou práticas, com interesse em melhorar a situação. A inter-
venção é baseada na análise contínua; na criação de novos sistemas, bem como
na mudança dos sistemas existentes [...] (Fritz, 2008, p.138).
37
Até onde alcançamos com nossas pesquisas, não observamos quaisquer influências do pensamento de Rogers e
Moreno na Sociologia Clínica dos Estados Unidos.
38
No original: Clinical sociologists work with client systems to assess situations and avoid, reduce, or eliminate
problems through a combination of analysis and intervention. Clinical analysis is the critical assessment of beliefs,
policies, or practices, with an interest in improving the situation. Intervention is based on continuing analysis; it is
the creation of new systems as well as the change of existing systems.
39
https://www.aacsnet.net/mission/what-is-applied-and-clinical-sociology/
40
A Association for Applied and Clinical Sociology é inclusive reconhecida pela American Sociological Association
(ISA). Para mais informações, acessar: https://www.aacsnet.net/
41
No original: Applied sociology is the utilization of sociological theory, methods, and skills to collect and analyze
data and to communicate the findings to understand and resolve pragmatic problems of clients.
Matheus Viana Braz | 117
42
Tanto na fundação do CIRFIP quanto do IISL, o movimento canadense esteve presente ativamente.
Matheus Viana Braz | 121
43
Nesse período, a Sociologia francófona de Québec se distanciava da Sociologia canadense anglófona exatamente
por seu engajamento e propensão para atuar no campo político (Fournier & Houle, 1980).
122 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
➢ Presidente:
Emma PORIO (Ateneo de Manila University, Filipinas) – maio de 2019 – Atual
Jan Marie FRITZ (University of Cincinnati, Estados Unidos) – janeiro de 2018 –
abril de 201947
➢ Vice-presidentes:
Relações Internacionais: Jacques RHÉAUME (Université du Québec à Montréal,
Canadá)
Desenvolvimento: Sharon Lindhorst EVERHARDT (Troy University, Estados
Unidos)
Programas: Tina UYS (University of Johannesburg, África do Sul)
➢ Secretário-tesoureiro:
Weizhen DONG (University of Waterloo, Canadá)
44
Participaram do colóquio mais de 120 pessoas, dentre elas sociólogos, psicólogos, psicanalistas, assistentes sociais,
profissionais da saúde, da educação e gestores de empresas (Rhéaume, 1993).
45
O estatuto do grupo pode ser lido no seguinte website: https://www.isa-sociology.org/uploads/files/RC46-
statutes-2013-approved.pdf
46
Mais informações podem ser encontradas no website: https://clinical-sociology.org/
47
Fritz saiu da presidência da associação e passou a fazer parte da Assessoria Presidencial ao Conselho Executivo.
124 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
1
As duas principais redes institucionais sobre a Sociologia Clínica no mundo.
Matheus Viana Braz | 127
2
O histórico completo dos membros dos conselhos do RC-46 da ISA pode ser encontrado no seguinte link: https://cli-
nical-sociology.org/about/past-board-members/
3
No original: [...] le social devient matière humaine vivante, et pas seulement régularité abstraite, extérieure aux
acteurs.
128 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
4
Para mais informações sobre o projeto, consultar o seguinte link: http://www.dgde.cfwb.be/index.php?id=7547
5
https://www.sociologie-clinique.org/lemprise-de-lorganisation-7e-edition/
Matheus Viana Braz | 129
6
Para consultar as recentes publicações do autor e de seus colaboradores, indicamos o website da associação:
http://www.pars.education/web/page/publications
Matheus Viana Braz | 131
7
Aparecem também, na construção da Sociologia Clínica russa, as influências da psicanálise de grupos, do socio-
drama de Moreno, bem como de Lewin e Rogers.
8
Os congressos, programas de formação e demais atividades organizadas pelo autor podem ser encontradas em:
https://www.sociologie-clinique.org/russie/
132 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
9
Para mais informações sobre as publicações na língua italiana, consultar os seguintes domínios: https://www.so-
ciologie-clinique.org/italia/ / https://rc46sociology.files.wordpress.com/2018/05/clinical-sociology-basic-readings-
and-websites-august-2017.pdf / https://sociologiaclinica.it/le-pubblicazioni/
10
Não tivemos acesso aos seus trabalhos publicados na língua alemã.
11
Podem ser encontrados em: https://www.isa-sociology.org/en/conferences/world-congress/toronto-2018/
12
Torregrosa foi quem introduziu a Psicologia Social na Espanha, quando trabalhava na Facultad de Ciencias Políticas
y Sociología de la Universidad Complutense de Madrid.
Matheus Viana Braz | 133
13
Para mais informações, consultar o website do instituto: http://www.socioclinica.com/iscle/
14
Dentre eles, destacam-se as correspondentes internacionais do RISC Matilde Fernandez-Cid, Alicia Garrido e Isabel
Cerdeira Gutierrez.
15
Essas informações foram obtidas nas atas do colóquio de fundação do RISC, disponível em: https://www.sociolo-
gie-clinique.org/actes-du-colloque-fondateur-du-reseau-international-de-sociologie-clinique-2/
134 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
16
Para acompanhar os congressos e programas de formação da Sociologia Clínica turca, indicamos o link:
https://www.sociologie-clinique.org/turkiye/
17
Sobretudo em relação ao Golpe de Estado militar na Turquia, em 1980 (Incioglu, 2013).
136 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
18
Bibliografias no idioma japonês relativas à Sociologia Clínica podem ser encontradas em: https://rc46sociology.fi-
les.wordpress.com/2018/05/clinical-sociology-basic-readings-and-websites-august-2017.pdf
Matheus Viana Braz | 137
19
Não conseguimos acesso a informações conclusivas sobre a Sociologia Clínica nos demais países da África. Por isso,
restringimos nossa análise à África do Sul.
140 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Talvez o mais relevante de toda essa orientação seja a importância que para
nós tem a pesquisa e sua implicação na realidade social. Não concebemos uma
pesquisa sem uma incidência na transformação do contexto sociopolítico que
nos circunda. A Sociologia Clínica é uma epistemologia para a ação, baseada
no vínculo teórico entre o campo do inconsciente e o sócio-histórico e na rele-
vância dada ao simbólico e cultural20 (Madrazo, p. 185, 2004, grifo nosso).
20
No original: Quizás lo más relevante de toda esta orientación sea la importancia que para nosotros tiene la inves-
tigación y su implicación en la realidad social. No concebimos una investigación sin una incidencia en la
transformación del contexto sociopolítico que nos rodea. La sociología clínica es una epistemología para la acción,
basada en el vínculo teórico entre el campo de lo inconsciente y el social-histórico y en la relevancia dada a lo simbó-
lico y cultural.
Matheus Viana Braz | 147
21
Sobretudo nas cidades de Montevidéu, Salto e Paysandú.
148 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
22
Para mais informações, consultar website do simpósio: http://tas.cba3.com.ar/
23
Excepcionalmente no ano de 2018 o simpósio foi realizado na cidade de Havana, em Cuba.
24
Para mais detalhes, consultar link: https://eitajp.wixsite.com/jp2020
150 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
25
Para mais informações sobre essas iniciativas, consultar: https://www.sociologie-clinique.org/latinoamerica/
Matheus Viana Braz | 151
26
No original: L’écriture peut être comprise comme une forme d’énonciation diférente de la parole dans la production
de récits porteurs d’expériences traumatiques, c’est un terrain originel dont le trauma peut faire entendre sa voix et
qui dans le même temps ouvre une voie pour penser un travail d’élaboration et de symbolisation de ce type d’expé-
riences.
152 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
27
Para mais informações, consultar website da rede: https://www.sociologie-clinique.org/latinoamerica/
28
Para mais informações, consultar o website: https://editorialsapereaude.com/materia/sociologia-clinica/
154 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
que cada um desses domínios é regido por lógicas distintas, com leis pró-
prias de funcionamento (Gaulejac, 1999/2016). Entre objetividade e
subjetividade, a Sociologia Clínica é vigilante para não cair no engodo de
reduzir os sentidos dos fenômenos às expressões conscientes dos sujeitos.
Todavia, a compreensão das multideterminações, bem como da complexi-
dade dessas lógicas, só pode ser efetivada quando nos aproximamos das
vivências dos atores sociais. E, nesse aspecto, as abordagens biográficas se
revelaram historicamente bastante profícuas no trabalho de exploração e
coanálise da dimensão existencial das relações sociais.
Uma vez que a Sociologia Clínica no Brasil emergiu notadamente no
campo da Psicologia, parece que desde seu início houve maior sensibili-
dade e cuidado na operacionalização do diálogo entre os três registros
supracitados. Sabemos que nas ciências naturais como nas sociais eventu-
almente a falta de um trabalho de implicação pode culminar na produção
de conhecimentos que surgem para afirmar ou reforçar as convicções pes-
soais do pesquisador (Mynatt, Doherty, & Tweney, 1977; Klayman, 1995).
Esse, no entanto, não parece ter sido o caso do movimento brasileiro. Nos
estudos encontrados por nós, há continuamente análises rigorosas sobre
a implicação e posição dos pesquisadores e, acima de tudo, notamos sem-
pre o respeito em relação aos sentidos atribuídos pelas pessoas envolvidas
nas intervenções, mesmo quando não coadunam com o ponto de vista des-
ses pesquisadores. De modo a explorar essas reflexões, nas páginas
seguintes nos guiaremos por algumas interrogações: quais as particulari-
dades da Sociologia Clínica no Brasil? Como ela se estruturou e qual sua
abrangência em território nacional? Quais objetos foram privilegiados por
esse movimento?
Conforme discutimos em trabalho anterior (Viana Braz, 2019), a
emergência da Sociologia Clínica brasileira é intrínseca à Psicossociologia,
à filiação francófona e não se aproxima das vertentes anglófonas. Esse mo-
vimento foi iniciado por alguns pesquisadores do campo da Psicologia,
sobretudo nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo Mata
Machado (2010), após convite do professor Célio Garcia (da Universidade
156 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Federal de Minas Gerais - UFMG), em 1968 Max Pagès veio ao Brasil para
ministrar seminários sobre dinâmicas de grupo na capital mineira. Nos
anos seguintes, outros precursores da Psicossociologia vinculados à ARIP
vieram ao país e fomentaram discussões sobre os instrumentos metodo-
lógicos oriundos das perspectivas de Jaques e Lewin. Já em 1974, na
ocasião da realização de uma reforma curricular, criou-se no curso de Psi-
cologia da UFMG uma disciplina denominada Intervenção
Psicossociológica (Mata Machado, 2010).
Norma Missae Takeuti, nesse cenário, foi a primeira pesquisadora
brasileira a realizar um doutorado pleno na França. Após concluir seu
mestrado na Paris IX (sob direção de Pagès), a pesquisadora desenvolveu
uma pesquisa na mesma universidade (entre 1981 e 1985) com a orienta-
ção de Jacqueline Palmade, acerca das representações míticas que havia no
meio acadêmico brasileiro sobre a cultura francesa. Segundo a autora, os
bolsistas que partiam à França para realizar seus estudos de pós-gradua-
ção levavam consigo um conjunto de crenças distorcidas, como se o país
representasse o berço da cultura ocidental e da intelectualidade, uma pá-
tria onde a liberdade de pensamento refletia o pleno funcionamento da
democracia e da garantia dos direitos humanos (Takeuti, citado por Fachin
& Cavedon, 200329).
José Newton Garcia de Araújo foi o segundo pesquisador deste movi-
mento e desenvolveu sua tese de doutorado (1985-1990) na Université
Paris-Diderot VII. Sob orientação de Pagès, o psicólogo também se debru-
çou sobre a trajetória de pesquisadores brasileiros na França,
especificamente no que concerne a articulação das noções de cotidiano e
desejo de reconhecimento (Araújo, 1990)30. Depois, entre os anos de 1986
e 1991, sob direção de Pagès, a psicóloga Teresa Cristina O. C. Carreteiro
realizou sua tese na mesma universidade, acerca das diferenças e seme-
lhanças entre grupos de jovens que viviam nas favelas do Rio de Janeiro e
29
As informações foram retiradas do artigo citado, pois sua tese não foi publicada no Brasil e tampouco tivemos
acesso direto a ela.
30
Não tivemos acesso ao seu estudo integral, mas algumas informações podem ser encontradas em: http://www.the-
ses.fr/1990PA070007
Matheus Viana Braz | 157
31
Não tivemos acesso ao seu estudo integral, mas algumas informações podem ser encontradas em: http://www.the-
ses.fr/1990PA131001
158 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
32
Atualmente denominada Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
Matheus Viana Braz | 159
33
Alguns dos nomes citados foram mencionados no trabalho de Carreteiro e Barros (2011). Sem a pretensão de
esgotar a discussão sobre os principais movimentos brasileiros na cena da Psicossociologia e da Sociologia Clínica,
adicionamos outros nomes de figuras consideradas importantes.
160 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Carreteiro (2003)
Araújo (2006)
Carreteiro e Ude (2007)
Movimentos sociais, arte,
André (2007)
política e cultura
Nunes (2009)
Mata Machado (2012)
Massa (2013; 2016)
Silva (2015)
Takeuti (2002)
Narrativas de vida e
Takeuti e Niewiadomski (2009)
trajetórias sociais
Carreteiro e Rodriguez (2015)
Carreteiro (2017)
34
Com raras exceções, os movimentos brasileiros da Psicossociologia e Sociologia Clínica nasceram e foram condu-
zidos em universidades públicas.
Matheus Viana Braz | 163
35
Para acompanhar os programas, eventos e formações da Sociologia Clínica no Brasil, acessar: https://www.socio-
logie-clinique.org/brasil/
164 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
1
Reflexões e fragmentos deste capítulo foram anteriormente publicados no seguinte artigo: Viana Braz, M.; Hashi-
moto, F. (2020). Grupos de Implicação e Pesquisa e Organidrama como dispositivos de pesquisa e intervenção no
mundo do trabalho. Revista Laboreal, 17(1): 01-31.
168 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
2
Podemos enxergar esse fenômeno mediante os embates constantes, por exemplo, entre as áreas de produção e
qualidade de uma indústria. Enquanto a primeira é cobrada para produzir o mais rápido possível, para alcançar as
metas que lhe são colocadas, a segunda é responsável justamente pela garantia de que os produtos criados sigam
com rigor os padrões estabelecidos. Com efeito, constantemente há tensões colocadas entre os setores, como se um
estivesse sempre atrapalhando e impedindo o trabalho do outro.
3
Interessados por essa lógica de funcionamento, realizamos uma pesquisa acerca dos sistemas mediadores em com-
panhias multinacionais brasileiras, que pode ser vista em Viana Braz (2019).
Matheus Viana Braz | 171
4
No original: L’analyse dialectique, pour le dire en peu de mots, vise à dépasser l’hégémonisme des écoles de pensée.
L’hégémonisme ne se cantonne pas dans les rivalités d’écoles, il opère au coeur des doctrines scientifiques, au niveau
des métathéories et des principes pan-explicatifs. L’analyse dialectique déplace l’accent de ce niveau vers celui plus
modeste des processus. Elle étudie les articulations entre processus concernant des secteurs différents de la réalité,
psychique, émotionnelle, corporelle, sociale. Elle place en rapport d’opposition dynamique et créatrice différentes
disciplines des sciences humaines, psychanalyse, sociologie, éthologie, théorie des émotions… C’est une épistémologie
concrète de la complexité.
172 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
5
De acordo com Laplanche e Pontalis (2001), a identificação corresponde a um “[...] processo psicológico pelo qual
um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente,
segundo o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações” (p. 226).
6
No original: Le groupe est un space transitionnel entre le psychique et le social. Il permet d’éprouver avec d’autres,
en face eds autres, des interactions émotionnelles, relationnelles et sociales notamment en revivant autrement, de
façon moins brutale, différentes affects qui « habitent » ça psyché et qui sont la trace incorporée de violences humi-
liantes.
174 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
7
No original: La rencontre de la parole de l’individu avec la parole d’autrui (autres participants ou/et intervenants)
et son déploiement à travers un espace-temps structuré permettent l’évolution de la problématique considérée au
sein du groupe : d’individuelle, elle devient organisationnelle, voire sociétale.
Matheus Viana Braz | 175
8
Em uma sessão de sociodrama é comum que haja mais de um ego-auxiliar.
9
Pode haver em uma mesma cena mais de um protagonista.
178 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
10
O AI5 foi o quinto decreto dentre os dezessete emitidos pela ditadura militar brasileira. Promulgado pelo então
presidente Artur da Costa e Silva, o AI5 marcou o endurecimento radical após o Golpe de Estado de 1964. O Congresso
Nacional e as Assembleias Legislativas (com exceção de São Paulo) dos estados foram fechados, a esfera federal pas-
sou a intervir indiscriminadamente na segurança e política dos municípios, a censura se generalizou e o Estado
naturalizou práticas de tortura contra aqueles que manifestavam resistência ou oposição ao governo (Chiavenatto,
1994).
Matheus Viana Braz | 181
breve por Portugal, recebeu um convite para atuar como professor na Sor-
bonne e se mudou para a França em 197811. Em Paris, o dramaturgo
fundou o Centre d´Étude de Diffusion des Techniques Actives d’Expres-
sion, voltado ao estudo e difusão do Teatro do Oprimido.
O Teatro-Fórum, para Boal, contemplava um método de teatro e te-
rapia. A relação entre oprimido e opressor permeava suas peças, que
tratava questões como a submissão da mulher na vida doméstica, os jogos
de poder em torno do trabalho e da moral, os conflitos entre pais e filhos,
entre outras problemáticas sociais que emergiam nas sessões coordenadas
pelo autor (Boal, 1975/2015).
Operacionalmente, o Teatro-Fórum, concebido por Boal (1975/2015)
como “[...] um tipo de luta ou jogo” (p. 48), é estruturado segundo três
regras: dramaturgia, encenação e o espetáculo-jogo. Na primeira, cria-se
coletivamente um esboço de uma peça, no qual os personagens são iden-
tificados e caracterizados. Delimitam-se as situações sociais trabalhadas,
levando em conta que as proposições feitas pelos protagonistas servirão
de base ao posterior “debate-fórum”. A peça, portanto, deve apresentar ao
menos uma “falha” ou “erro”, cuja função é estimular os espectadores a
encontrar soluções e novas maneiras de confrontar a opressão referida.
Nesse ponto, uma cena pode ter naturalmente mais de um cenário, assim
como não há imposições em relação ao gênero da peça. Seja simbolista,
realista, seja expressionista, não se coloca um estilo ideal no Teatro-Fó-
rum. Objetiva-se, ao contrário, dialogar sobre questões concretas, a partir
da linguagem teatral. Quanto à encenação, os atores encarregados de re-
presentar a primeira cena se comprometem em transparecer o trabalho,
ideologias e características marcantes dos personagens.
11
Em 1986 Boal retornou ao Rio de Janeiro e criou o Centro de Teatro do Oprimido (CTO), o qual dirigiu até a data
de sua morte.
Matheus Viana Braz | 183
A Família
Primeiro fizemos alguns exercícios e jogos, não só para aquecer o público e a plateia, mas também para criar
uma atmosfera agradável e certa “conexão artística”. Depois começamos a primeira cena, baseada em um acon-
tecimento real da aldeia.
1ª ação: Giuseppina, uma jovem de vinte anos, quer sair depois do jantar. Pede permissão à mãe. A mãe responde
que depende do pai. Giuseppina diz que um dos seus irmãos vai lhe fazer companhia; as duas preparam o jantar.
2ª ação: O pai chega furioso com tudo e com todos. A desculpa é o custo de vida, a má educação que a mulher
dá aos filhos, os filhos imprestáveis, a cooperativas que os homens tinham intenção de fazer e que não progride...
Chegam os filhos. Cada um exerce uma opressão diferente sobre Giuseppina. O primeiro, casca grossa, diz que
lugar de mulher é em casa e, quanto mais estúpida e ignorante ela for, mais feliz será. O segundo, mais jovem,
aponta até os menores defeitos da irmã, denuncia que flerta com o filho do vizinho etc. O terceiro banca o bom-
moço; ele acompanha a irmã, contando que ela seja obediente. Giuseppina pergunta se ela pode sair à noite,
mas, justamente naquela noite, eles estão muito ocupados. Um vai jogar futebol, o outro cartas e o terceiro
precisa fazer lição de casa.
3ª ação: O pai proíbe a filha de sair. Os irmãos podem fazer o que bem entendem, porque são homens. Giu-
seppina tem que ficar e lavar a louça, porque é mulher.
Fórum
Logo que terminou a cena-modelo, e antes que começasse a discussão em fórum, houve várias reações masculi-
nas: dois maridos ordenaram às suas mulheres que voltassem para casa. As duas se recusaram e ficaram até o
fim. Elas não tiveram coragem de subir à cena, mas tiveram coragem de ficar contra a vontade dos maridos.
Matheus Viana Braz | 185
Outros homens começaram a dizer que aquele não era um problema sério e nós deveríamos discutir somente os
problemas sérios, como o preço do tijolo e argamassa. As mulheres protestaram, dizendo que, se aquilo dizia
respeito a elas, era muito sério sim.
O fórum começou, com a mesa do jantar posta em plena praça. Três moças se ofereceram para substituir a atriz
que fazia Giuseppina e tentar romper a opressão. Os opressores, no entanto, eram muito bem “treinados” e, uma
a uma, as três voltaram para a “louça e a cozinha”. Conseguiam dizer um pouco de tudo que pensavam, mas
eram finalmente derrotadas. A quarta moça subiu em cena e mostrou o que seria, para ela, a única solução:
força. Contrariando a vontade paterna, ela sai de qualquer maneira e o pai termina por aceitar a solução, fingindo
que dava permissão.
[...] Enfim, começou a segunda parte do Fórum, e os espect-atores foram incentivados a substituir outras figuras
e mostrar ao público e aos atores novas formas de opressão. Em suas representações ingênuas (no melhor sen-
tido da palavra) e por não estarem cientes do real poder do teatro, os espect-atores frequentemente revelavam
os seus reais pensamentos, sentimentos e desejos ao desempenhar o papel de opressor. Um homem corpulento
quis substituir o pai e expulsou primeiro as crianças e então a mãe de casa: “Suma dessa casa, vai lá viver com
seu amante”. Segundo seu pensamento reacionário, se a filha comete um pecado, é porque a mãe é putana. As
mulheres protestaram furiosas!
Ao fim do fórum dessa primeira peça, uma das espectadoras comentou: “Nós tivemos coragem de dizer o que
pensamos, aqui em praça pública, na frente de todos, mas não temos a mesma coragem de dizer as mesmas
coisas em casa. Porém, com os homens, aconteceu o contrário: existem coisas que eles não se cansam de dizer
em casa, mas tiveram medo de dizer aqui, na frente de todo mundo”.
A transferência da mesa de jantar para o meio da rua teve outros efeitos. Houve ainda um momento importante,
quando um rapaz tomou o lugar da protagonista. Quando era uma moça que interpretava Giuseppina, provocava
identificação imediata em todas as outras jovens presentes. Com o rapaz, ao contrário, a identificação não existiu;
as moças observavam o rapaz, elas o viam “representar”, interessavam-se pelo que dizia, mas não se identifica-
vam com ele.
Qual a consequência prática dessa não identificação? O ator / homem era visto por elas como “ator”. A espect-
atriz, ao contrário, era uma delas, uma mulher em cena – não uma atriz! – falando em nome de todas as outras.
Não em seu lugar, mas em seu nome! Ele representava, ela vivia!
Quando um ator interpreta um ato de liberação, ele o faz em lugar do espectador e provoca a catarse. Quando
um espect-ator faz a mesma ação em cena, ele o faz em nome de todos os outros espectadores, já que eles sabem
que, caso não concordem com o que está sendo dito, eles mesmos podem subir ao palco e mostrar o que pensam
– provocando a dinamização em lugar da catarse. Nâo é suficiente que o teatro evite a catarse – o que precisamos
é de um teatro que gere dinamização.
Por fim, se os homens não ficaram muito contentes, as mulheres, ao contrário, ficaram felizes demais. No dia
seguinte, quando perguntamos à mãe de Guiseppina sobre o que ela tinha achado do espetáculo, ela respondeu:
“Eu achei sensacional e todas as minhas amigas adoraram a performance da minha filha. Elas me disseram que
em suas casas as coisas acontecem da mesma maneira. Os problemas são os mesmos. E uma de minhas amigas
disse que deveríamos procurar por soluções juntas”.
Caso retirado de Boal (1975/2015, p.65-68).
12
Não encontramos nenhum trabalho da Sociologia Clínica anglófona baseado nesses dispositivos.
Matheus Viana Braz | 189
13
Dentre os temas mais frequentes trabalhados no núcleo do RISC, destacam-se: O sujeito face ao sofrimento no
trabalho, Romance familiar e trajetória social, O sujeito diante do conflito, O sujeito diante da Vergonha, Narrativas
de vida e a escrita, O sujeito e a busca de sentido, A relação com o Saber, Sujeito, luto e rupturas, O sujeito em face
do trabalho, Emoções e história de vida, História de vida e trajetória feminista, Trajetórias sociais e escolhas profis-
sionais, Arte, gênero e política.
Matheus Viana Braz | 191
14
À título de exemplificação, essas premissas são baseadas no grupo Romance familiar e trajetória social. A depender
do grupo, entretanto, algumas dessas estruturas podem ser alteradas.
192 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
15
Essas são questões norteadoras. Em nossa prática, em vários momentos alteramos suas construções, todavia sem
perder a substância de seus significados.
194 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Figura III: Esquema de Análise de uma Trajetória Social. Traduzido e adaptado de Gaulejac (1987/2016, p. 309).
que os sujeitos sigam refletindo sobre o que se passou no grupo, o que faz
com que seja necessário abrir um espaço para a expressão de problemáti-
cas e angústias que podem ter sido despertadas e que precisam ser
discutidas coletivamente.
Cada participante é convidado a utilizar sua experiência pessoal para
compreender fenômenos coletivos que tocam os demais integrantes do
grupo. Alternam-se dinâmicas de expressão verbal e não verbal, de refle-
xões individuais e coletivas, de manifestações emocionais e análises
racionais. De acordo com Gaulejac (1987/2016), isso faz com que os sujei-
tos permaneçam em constante movimento, o que os permite vivenciar,
interiorizar e incorporar as mudanças operadas no grupo. Ao revisitar sua
história, o sujeito não consegue alterá-la, mas desvela-se possível modifi-
car sua relação com ela. E é esse o movimento de construção de autonomia
e de historicidade almejado nos GIP. Vislumbra-se, portanto, a realização
de um trabalho recursivo, compreensivo, no qual remete à dimensão exis-
tencial das relações sociais (Gaulejac, 1987/2016). As seguintes questões,
comumente evocadas nesses grupos, elucidam esse postulado: de que
forma os desejos de meus pais influenciam em minhas escolhas? Onde me
encontro na narrativa de minha família? Onde me situo na estrutura social
e nas diferentes matrizes ideológicas existentes em meu contexto social?
Quais valores e representações de mundo influenciam minhas escolhas?
Em que medida minha história de vida condiciona minhas escolhas profis-
sionais, afetivas e amorosas? (Gaulejac, 1987/2016).
Os participantes são convidados a confrontar as contradições e vazios
de suas histórias para que possam compreender e racionalizar processos
sócio-psíquicos, colocando em relação vivências pessoais e coletivas, no
bojo de conflitos grupais. Todavia, é importante frisar que embora possa
propiciar reflexões importantes, pautadas na implicação e orientação à
mudança, e inclusive, por vezes possa ter “efeitos terapêuticos”, a aborda-
gem adotada não se assenta na oferta terapêutica (Gaulejac, 1999/2012).
Trata-se, em síntese, de um trabalho de coconstrução cuja finalidade é con-
duzir o indivíduo a se questionar sobre suas vivências, escolhas, história e
Matheus Viana Braz | 197
4.4 Organidrama
16
O nome Organidrama é produto da junção das palavras Organograma (Organigrame) e Sociodrama (Sociodrame).
17
Embora o Organidrama tenha sido criado por Gaulejac, é curioso notar que o autor ainda não publicou nenhum
texto que trata especificamente desse dispositivo. Ao interrogá-lo sobre esse fato, Gaulejac testemunhou que há anos
começara um esboço desse projeto, mas que por contingências da vida o deixara de lado. Em seu próximo livro (ainda
em fase de construção), contudo, haverá um capítulo que terá como espinha dorsal o trabalho operado em algumas
sessões de Organidrama em uma organização.
198 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
das organizações. E é por isso que para o êxito desse tipo de trabalho, é
importante que seja construído um espaço de palavra fundamentado em
uma tripla implicação dos participantes: corporal, emocional e reflexiva.
Estruturalmente, as sessões18 no Organidrama são restritas entre
cinco e 35 pessoas. A excedência desse limite dificulta a liberdade de ex-
pressão e a garantia da qualidade de escuta e atenção ao outro. O mediador
convida os participantes a encenar situações de trabalho que produziram
(ou produzem) mal-estar ou que evidenciam conflitos recorrentes e repe-
titivos, vividos em seus cotidianos. A criatividade e espontaneidade, pilares
do Sociodrama moreniano, constituem a espinha dorsal das improvisações
realizadas.
Em termos práticos, o dispositivo é constituído por uma sequência de
cenas representadas em três tempos fundamentais:
18
Cada sessão dura entre duas e três horas. O número de sessões varia sempre em função da demanda da organização
e dos conflitos existentes.
200 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
19
Résurgence, no francês.
Matheus Viana Braz | 201
20
No original: Le jeu de rôles intervient comme support d’accès à la dimension symbolique et à une réflexion dépas-
sant le cas singulier grâce à la mise en place d’une triangulation (acteurs – scène – groupe) avec la régulation des
intervenants.
202 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Como escutar ainda uma palavra que cochicha, que busca a si própria e que
não promete amanhãs que cantam, em uma sociedade tecnocrática, onde estão
os mestres da ciência e os instrumentos de gestão, justamente ao lado dos li-
beradores de todo tipo (do corpo, da mulher, do desejo da alienação etc.) que
têm todas as mensagens a levar aos outros e que se apresentam como merca-
dores da felicidade, tendo uma única palavra permitida, que é a palavra da
técnica (técnica de fabricação como técnica do corpo) ou produtiva (produção
de bens ou produção desejante), onde as ideologias prontas cruzam-se sem se
influenciarem, em um soberbo isolamento psicótico, quando não se misturam
em um magma sem nome?
Eugène Enriquez
1
Reflexões e fragmentos deste capítulo foram anteriormente publicados no seguinte artigo: Viana Braz, M.; Hashi-
moto, F. (2020). Grupos de Implicação e Pesquisa e Organidrama como dispositivos de pesquisa e intervenção no
mundo do trabalho. Revista Laboreal, 17(1): 01-31.
204 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
2
Expressaremos em itálico, neste capítulo, algumas frases e expressões de trabalhadores que consideramos marcan-
tes nas intervenções realizadas.
3
Costumamos deixar aberta aos dirigentes à possibilidade de interromper o contrato de trabalho quando julgarem
pertinente.
Matheus Viana Braz | 207
4
Dejours distingue duas fontes de reconhecimento nas organizações: o julgamento de utilidade e de beleza. O pri-
meiro é oriundo da linha vertical da hierarquia organizacional, é feito pelos superiores, subordinados e, às vezes, por
clientes. Já o julgamento de beleza é proferido em essência na linha horizontal, pelos pares, colegas, membros da
equipe ou outras pessoas da comunidade profissional, o que produz ressonâncias na personalidade do trabalhador
em termos de ganhos no registro de sua identidade (Dejours, 2012).
Matheus Viana Braz | 213
5
Exploraremos esse ponto adiante.
Matheus Viana Braz | 217
➢ Primeiro Dia
colocar no meio das discussões familiares, mas que amiúde se sentia divi-
dida, pois se via obrigada a assumir um lado, defendendo ora seu pai, ora
sua mãe. A participante, enfim, compartilhou conosco sobre o quanto a
escolha de seu nome traduzia, antes mesmo de seu nascimento, a dinâmica
relacional de seus pais, o que por sua vez a inseria em uma posição ambí-
gua e insidiosa.
Após os participantes dividirem suas reflexões sobre a saga da esco-
lha de seus nomes, demos início ao trabalho sobre a análise de suas
genealogias e trajetórias sociais. Apresentamos o esboço do esquema da
trajetória de vida (Figura III), explicitamos os objetivos desse instrumento,
assim como demos a cada pessoa uma cartolina e canetas esferográficas
de variadas cores. Para que reconstruíssem suas histórias, foi dado um
tempo de 40 minutos. Depois, todos os participantes colaram seus respec-
tivos esquemas em uma lousa que havia no local onde estávamos6 e
ficaram dispostos como indicam as imagens abaixo.
Figura IV: Grupo de Implicação e Mudança. Análise das trajetórias sociais. Criação nossa.
6
Fizemos esse grupo em uma universidade, que nos cedeu o espaço.
Matheus Viana Braz | 221
Até o final desse primeiro dia, nos dedicamos à exploração das traje-
tórias de vida narradas individualmente pelos participantes. Fizemos,
neste processo, um movimento de vai-e-vem constante, que possibilitou
ressignificar vivências singulares em articulação com análises coletivas.
Abarcamos também nesse trabalho as reflexões e discussões sobre a for-
mação dos respectivos projetos parentais e sobre como os principais
momentos de escolhas e rupturas estavam ligados às escolhas profissio-
nais e as maneiras com as quais as pessoas encaravam seus conflitos. Não
iremos descrever as histórias individuais dos membros do grupo, mas fa-
remos algumas reflexões sobre questões comuns, que surgiram
relacionadas ao plano social.
As primeiras pessoas que narraram suas trajetórias expressavam o
sentimento de vergonha sobre suas histórias e conflitos sociofamiliares.
Em suas genealogias, se impôs como imperativo a reprodução intrafami-
liar de violências físicas e simbólicas, bem como de desentendimentos e
222 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
➢ Segundo dia
foram trazidos à tona, sejam como modelos positivos, sejam como figuras
associadas a repulsa e denegação. Em suma, os significantes centrais dessa
reflexão diziam respeito a relações de dominação, de humilhação, a situa-
ções de instabilidade emocional e sentimento de impotência diante de
conflitos.
Encaminhamos em seguida nosso trabalho à realização de uma ses-
são de Organidrama. Os participantes foram divididos aleatoriamente em
dois subgrupos e cada um foi instruído a discutir vivências pessoais con-
flituosas e de sofrimento no trabalho. Depois, deveriam elencar uma
situação para ser encenada e cada grupo precisaria também escolher um
título da cena, colocado na forma de interrogação. A distribuição de papéis
era aberta, porém para que pudesse vivenciar a representação a partir da
perspectiva de outro personagem, o protagonista da situação escolhida
não poderia representar seu próprio papel.
Na mediação dos grupos, percebemos que o trabalho de aquecimento
antecedente à dramatização é de suma importância para que os partici-
pantes representem seus papéis com mais liberdade e naturalidade. É
comum nesse contexto que os trabalhadores não saibam do que se trata o
jogo de papéis e precisem de estímulos para aguçar suas percepções cor-
porais. Afora as tradicionais atividades de aquecimento oferecidas pela
teoria moreniana, colhemos resultados profícuos ao inserirmos jogos de
improviso nessa etapa.
Embora as ações dramáticas sejam condicionadas por uma situação
concreta e específica, as representações de papéis pressupõem a improvi-
sação. Os jogos de improviso, nesse sentido, se inspiraram em seu início
na commedia dell'arte, uma modalidade de teatro popular que surgiu na
Itália, no século XV. A partir de circunstâncias sugeridas pela plateia, os
atores criavam espontaneamente novas ações e desfechos em suas cenas,
as redesenhando ao longo de todo o espetáculo sem quaisquer combina-
ções prévias (Rauen & Oliveira, 2012). Desde os anos 2000, quando os
teatros fundamentados no improviso se expandiram em território nacio-
nal, inúmeros jogos dramáticos foram criados nessa perspectiva, passando
226 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
7
Todos os nomes referidos são fictícios.
Matheus Viana Braz | 227
Carla – Primeiro, vamo abaixar o tom, vamo abaixar a voz, você não
pode entrar na minha sala assim...
Emerson – Gente, calma...
Carla – Eu segui todo o procedimento padrão da empresa. Você con-
feriu o registro do seu ponto?
Pedro – Não, isso aí é você que tem que fazer! Eu tava aqui e não
quero nem saber.
Carla – Você não sabe conversar, não tem condições de falar com
você...
Pedro – Você é burra? (Pedro dá um tapa na mesa de Carla) Resolve
isso pra mim, não posso perder esse dinheiro.
Carla, já exaltada, se levanta de sua cadeira e diz:
Carla – Eu não sou obrigada a passar por isso e ouvir esse tipo de
desrespeito. Não tem condições. Não aceito esse tipo de ofensa.
Carla e Pedro começam a discutir e não é mais possível ouvir o que
cada um está dizendo.
Emerson entra no meio dos dois, nitidamente irritados, e fala ainda
mais alto:
Emerson – Vamos resolver isso depois. Agora não dá. Vocês estão
fora de si. Pedro, sai daqui! Depois resolve!
Pedro então se retira furioso da sala e Carla começa a chorar. Au-
gusta, que ficara paralisada com sua vassoura nas mãos durante a
discussão, lhe oferece um copo de água.
3ª ação: Horas depois, Ricardo, o supervisor, é chamado no RH e se
reúne com Carla. Para fins de contextualização, na empresa os funcioná-
rios da fábrica faziam os registros manuais de seus pontos (pois
trabalhavam em plantas variadas, dependendo do momento do processo
produtivo). No fim do mês, essas folhas de registros eram validadas pelo
gestor, que as entregava ao RH e que por sua vez passava as informações
para um sistema eletrônico da empresa. Pedro, no fatídico dia se esquecera
de assinar sua folha de ponto e o erro passou despercebido por Ricardo. O
problema, contudo, agora era outro.
228 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Carla – Ricardo, não dá pra admitir esse tipo de situação. Isso que
aconteceu aqui é inadmissível. Você não tem controle da sua equipe.
Ricardo – Eu não tinha como saber o que tava acontecendo, senão
teria feito alguma coisa.
Carla – Fui humilhada aqui na frente do Emerson. Como responsável
pelo RH a gente não pode admitir isso. Não posso abaixar a cabeça, senão
vão pensar que isso aqui é uma zona. Temos que decidir o que vamos fazer
com o Pedro.
Ricardo – Eu errei, eu assumo, mas o comportamento dele não tá
alinhado com a empresa. O cara é bom, mas não tem nem dois anos que
tá aqui. Vamos ter que dispensar, senão perco a mão com a equipe. Vão
achar que todo mundo pode desequilibrar.
Após mais algum tempo de discussão, Ricardo e Carla decidem pela
demissão de Pedro, mas sem justa causa, para evitar possíveis imbróglios
e passivos trabalhistas.
Fórum
mas sua tentativa não foi exitosa. A personagem de Carla se focou no pro-
blema de Pedro, porém demonstrou um posicionamento ainda mais
impositivo, o que desencadeou um novo descontrole. A cena foi interrom-
pida por um espectador, que se prontificou a substituir Emerson. Quando
as discussões se tornaram novamente calorosas, houve outra paralisação.
Carla foi novamente trocada, dessa vez representada com mais serenidade
e equilíbrio. Depois, Augusta também entrou em cena de forma mais ativa,
colocando-se em defesa da profissional de RH. Os participantes do grupo
somente conseguiram chegar à terceira ação quando Pedro foi substituído.
Como as tensões foram mitigadas, Ricardo assumiu sua responsabilidade
ao não rever com rigor a folha de ponto de seu subordinado e, junto a
Carla, foi decidido que o trabalhador receberia uma advertência formal por
sua intransigência e falta de profissionalismo. Como entendemos que a
cena já havia se esgotado, o fórum foi encerrado.
Ressurgimento e análise
8
No original: La relation entre les pratiques individuelle et collective peut se produire em termes de réciprocité
lorsque le collectif se fait médiateur pour la pratique individuelle et, à l’inverse, quand la pratique individuelle se
232 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
révèle médiatrice pour la pratique de l’ensemble. Il y a, dans ce sens,la construction d’un lien social, d’un être en
commun qui unifie sujet et collectif.
Matheus Viana Braz | 233
trabalhar para se parecer mais com um gerente, para não perder a credi-
bilidade das pessoas de seu entorno. Nessa organização, os gestores se
diferenciavam por suas vestimentas (usavam camisas sociais, enquanto os
demais trabalhadores utilizavam camisas polos) e tratavam uns aos outros
de forma mais fria e direta. Segundo esse diretor, ao optar pelo uso de
roupas mais informais (exceto em situações em que visitava clientes) e
como se dirigia aos demais gestores com mais sensibilidade e de maneira
coloquial, o novo gerente poderia ser interpretado como um líder fraco e
vulnerável, fora do perfil de gestão da empresa. Paradoxalmente, esse tra-
balhador passou a se cobrar, no sentido de encontrar meios para garantir
a continuidade de seu trabalho, que era reconhecido por seus subordina-
dos, mas também para buscar estratégias para se parecer mais como um
gestor, alinhado aos seus pares. Portanto, esse exemplo é representativo
do embate de forças contraditórias que se operam em uma organização e
que, se apreendidas isoladamente, privam-se de sentido e reduzem a com-
plexidade dos problemas.
Por se tratar de uma abordagem progressiva e generativa, na escuta
da abordagem clínica se compreende que o resultado está no processo
(Gaulejac, 2019). Desde a análise da demanda, passando pelo desenho das
intervenções e pela avaliação do trabalho, em espaços individuais ou gru-
pais, não há um ponto de chegada pré-estabelecido. Exercitar a escuta
sensível implica mergulhar nas histórias de vida dos trabalhadores e com-
preender como elas se entrecruzam no espaço organizacional. Para que
seja possível refletir sobre a relação com o presente e o futuro, eventual-
mente é preciso que haja momentos de regressão e desconstrução, de
modo que os trabalhadores possam se reorganizar de outra forma, com
mais recursos e condições para encarar os conflitos e as contradições exis-
tentes (Hashimoto, 2018; Viana Braz, Casadore, & Hashimoto, 2020).
Partimos também do princípio que nem sempre ao eliminar os sin-
tomas se resolvem os problemas (Gaulejac, 2019). E a esse respeito cabe
uma digressão. No paradigma taylorista se via o conflito como algo nocivo
à organização e que, portanto, deveria ser mitigado mediante a redução
236 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
9
Segundo os autores, comumente o discurso gerencialista se reduz a um universo restrito, de modo que se fecha
para qualquer outro código de linguagem que fuja à sua lógica de poder. Se as injunções paradoxais são produzidas
nessa dinâmica, a única forma de superá-las seria exatamente colocando os paradoxos em questão, nos espaços das
organizações, porém em outros termos, que não aqueles hegemônicos baseados em critérios pragmáticos, utilitários
e funcionalistas. É então daí que surge a proposta de intervir no nível da metacomunicação para a compreensão dos
problemas produzidos pela própria estrutura organizacional.
238 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
10
Entendemos também que esse desenvolvimento não se dá de forma linear, mas compreende momentos de inflexão,
retrocessos e desorganização.
Matheus Viana Braz | 241
duas filhas sozinha. Afirmar-se como sujeito, enfim, representava criar es-
tratégias para se desenvolver e dar visibilidade a qualidade de seu trabalho,
em um ambiente onde a competência passava majoritariamente pela afir-
mação de masculinidades.
Exercer a posição de sujeito não significa necessariamente ir contra
a disciplina, o dever e transgredir as regras, mas implica assumir o prota-
gonismo de si e se reconectar consigo, em função de circunstâncias e
condições possíveis em dado contexto histórico (Gaulejac, 2009). No tra-
balho, consiste em responder se quem estabelece o sentido e seu senso de
dever é o indivíduo ou as pessoas de seu entorno. Não há equilíbrio nesse
percurso. O culto ao hedonismo é ilusório e medidas compensatórias são
efêmeras. Ser sujeito compreende a busca de afirmação de posições dese-
jantes e de singularização, o que exige processos constantes de
transformação de si. Gaulejac (2009), nesse sentido, discorre que se afir-
mar como sujeito consiste em levar uma vida que faça sentido para si
mesmo, na qual o orgulho de si emerge de sua intimidade e não tão so-
mente do olhar do outro.
Posicionar-se como sujeito no trabalho consiste em compreender que
nós devemos ter ideais e referências, mas que precisamos ir de encontro a
modelos de serialização e massificação, em prol da construção de nossos
próprios caminhos (Gaulejac, 2009). Trata-se de aceitar-se em suas dife-
renças e singularidade, conceber falhas, imperfeições e regressões, assim
como se permitir ficar consigo mesmo, exercitar a reflexividade sobre si,
mas também aprender a se deleitar com o ócio sem culpabilização.
A abordagem compreensiva na Sociologia Clínica carrega também
em seu bojo a noção de implicação. Não basta se aproximar do sujeito e
fomentar um espaço de coprodução de sentidos. Neste processo, o pesqui-
sador precisa se interrogar sobre as ressonâncias pessoais que lhe são
provocadas pelas vivências do outro. Por exemplo, de que maneira os re-
latos dos trabalhadores estão relacionados com seus valores e sua visão de
mundo? Em que medida eles se entrecruzam com suas expectativas profis-
sionais? Qual o lugar ocupado nos grupos? A hostilidade e dificuldades
244 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
Logo, é preciso que esse profissional esteja disposto a se desvestir de seus dog-
mas, de visões maniqueístas, julgamentos morais, encarando seus fantasmas
e fragilidades, para se aproximar o mais próximo possível do trabalho vivido
pelos trabalhadores. O motor da intervenção é mais os questionamentos e as
interrogações do que a busca pela comprovação de suas próprias convicções.
Diante de resistências organizacionais ou mesmo da hostilidade institucional,
é a implicação do interventor que lhe dá subsídios para construir novos cami-
nhos e ter acesso a novos saberes, a partir das experiências obtidas (Viana
Braz, Casadore, & Hashimoto, 2020, p. 10).
11
Exceto quando colocadas em prática na universidade, ocasião em que os estagiários de Psicologia mediavam os
grupos em duplas. Voltaremos a essa questão no tópico seguinte.
246 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
12
Estratégia Saúde da Família.
Matheus Viana Braz | 251
13
No original: Pédagogie fondée sur l’écoute sensible.
254 | Trabalho, Sociologia Clínica e Ação: Alternativas à individualização do sofrimento
social dos sujeitos. Decerto que limites e impasses são sempre colocados
nesse percurso. Não existem mudanças e resultados ideais, mas na abor-
dagem clínica se abre um espaço para a ampliação de um campo de
possibilidades em que o porvir pode ser disruptivo, para além de condici-
onantes sociais e de ações passadas.
À guisa de conclusão
1
La clinique de l’historicité explore les zones d’ombres de la condition humaines, là où la rationalité est mise en
défaut, là où la négativité est laissée de côté parce qu’elle dérange, là où la perspective historique est considérée
comme une perte de temps, là où la raison est mise en défaut face à la folie, la montée de la haine, la souffrance
psychique, les violences extrêmes... Elle nous encourage à penser l’impensé, à chercher le sens dans ce qui semble
insensé, à comprendre des situations marquées par le chaos, la négativité, l’incompréhension et la violence. Elle
consiste à explorer l’histoire vécue par les personnes et les groupes. Ce sont eux qui peuvent exprimer la réalité de
ces histoires et les effets dans leur vie. Ces histoires singulières permettent de mieux comprendre la condition hu-
maine et comment chaque histoire individuelle est à la fois produite et productrice de l’Histoire des hommes et de la
société. Cette compréhension a des effets cliniques. Elle apporte un peu d’harmonie, de sens et d’apaisement. Elle
redonne confiance dans l’humanité et dans notre capacité individuelle et collective à construire un monde meilleur.
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