Sigilo Do Inquérito Policial Militar
Sigilo Do Inquérito Policial Militar
Sigilo Do Inquérito Policial Militar
FLORIANÓPOLIS (SC)
2007
RONALDO VALDEMIRO COELHO
Florianópolis
2007
RONALDO VALDEMIRO COELHO
Banca Examinadora:
Membro
Dedico este trabalho aos meus pais,
Valdemiro Nicolau Coelho e Maria Flores
Coelho, a minha amada esposa Carolina Dias
Lisboa e aos amigos conselheiros que sempre
estiveram presentes na minha busca pelo
conhecimento.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que com maestria sempre buscaram educar seus filhos pelo
caminho do respeito e amor à família.
A família verde-oliva, que muito me incentivou para hoje estar concluindo este
curso, especialmente o Sub Tenente Viana, Sargento Coelho, Cabo Lourival, Cabo
Wessler, Cabo Loreno e Cabo Evandro.
Aos amigos, a quem faço questão de destacar: Jean Carlo Laurindo e sua
esposa Anelize Ouriques, grande casal, pessoas sábias a qual Deus fez questão de
me abençoar com suas amizades.
The present scientific work possess as target to study the secrecy character of the
Police Inquest to Militate. Of a side, art. 16 (sixteen) of the Code of Criminal
Procedure is had to militate establishing that the inquiry, usually, is secrecy, being
able its person in charge to make possible that the lawyer of the defendant has
access to files of legal documents. On the other hand, it appears the Statute of the
Law and the Bar Association of Brazil foreseeing as being a right of the lawyer to
have access to files of legal documents of inquiries or in progress, exactly without
power of attorney. Thus being, the inductive method was used as form of if
proceeding an analysis on the existing divergence between the two legal dogmas.
The collection of data was given through the search of books, scientific magazines,
articles and of jurisprudences that had as main focus the secrecy of the Police
Inquest to Militate, making still the use of fiches on the searched bibliographical,
aiming at one better preservation and organization of the chosen substance. From
the selected substance one searched to point the characteristics that the IPM
possesses, as well as the rights, obligations and responsibilities of the person in
charge, notary, accused and lawyers, figures that, basically, come to compose the
inquiry. Giving continuity to the development of the research, the amplitude of the
secrecy term was become fulfilled through the verification of legal, doctrinal and
jurisprudences the aspects, remaining that its presence in the Police Inquest to
Militate cannot be had as absolute, and that its person in charge never will be able to
leave to assure the individual rights and guarantees gifts and consolidated in the
Constitution of the Republic of 1988.
Art. Artigo
CR Constituição da República
MP Ministério Público
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
5 METODOLOGIA .................................................................................................... 77
7 REFERÊNCIA ........................................................................................................ 83
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA
em que condições o advogado do indiciado ou terceiros podem ter vistas aos autos
do Inquérito Policial Militar.
1.3 OBJETIVOS
1.4 JUSTIFICATIVA
Pelo fato do militar ter suas ações pautadas pela hierarquia e disciplina, torna-
se necessário existir um ordenamento jurídico específico para tipificar atos que
contrariem tais preceitos, bem como as infrações administrativas e penais que o
militar venha a cometer. Sendo assim, surge o Código Penal Militar - CPM,
Decreto-Lei 1001 de 21 de outubro de 1969, que possui como fito apurar os crimes
militares, restando este dogma, recepcionado pela Constituição da República. Sendo
assim, Cruz e Miguel (2005, p. 17) lecionam que:
Observa-se que quando o sujeito ativo for militar basta, para configurar o
crime militar, que este esteja definido de modo diverso na lei penal comum, ou que
nela não haja previsão para tal delito (art. 9º, I do CPM). Já nos crimes previstos no
CPM e que encontrem igual definição na lei penal comum, torna-se necessário que o
sujeito ativo seja militar, podendo o sujeito passivo ser um militar ou um civil, ainda
sendo relevante que se preencha algum dos seguintes quesitos: em lugar sujeito a
administração militar; por militar em situação de atividade; por militar em serviço; por
militar durante período de exercícios; por militar que cometa qualquer afronta ao
patrimônio sob a administração militar, (art. 9º, II do CPM).
Para o civil vir a cometer um crime militar é necessário que tal ofensa atente
aos seguintes elementos: contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra
a ordem administrativa militar; em lugar sujeito à administração militar contra militar
em situação de atividade ou assemelhado; contra militar em formatura; e ainda que
fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função da natureza
militar, (art. 9º, III do CPM).
18
meios disponíveis para melhor esclarecer os fatos que resultaram no crime militar.
Conforme ensinamentos de Marques (1959 apud Penteado Filho 2002) entende-se
que “[...] a investigação não passa do exercício do poder cautelar que o Estado
exerce, através da polícia, na luta contra o crime, para preparar a ação penal e
impedir que se percam os elementos de convicção sobre o delito cometido”.
Corroborando, tem-se que a investigação:
Dito isso, com relação aos crimes militares, nota-se que a investigação policial
trata-se das ações empregadas para se buscar a materialidade e a autoria de um
fato criminoso, vindo a se concretizar através da determinação da autoridade militar,
que exerce atividades de Polícia Judiciária Militar em um inquérito.
CR onde se tem que: “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”. (grifou-se).
Dito isso, apesar de não estar expresso na Constituição a presença da PJM,
subtende-se existir a figura desse órgão quando a própria Carta Magna afirma que
cabe aos delegados de polícia exercer a polícia judiciária, com exceção das
infrações que digam respeito aos crimes militares. Assim, no âmbito castrense, cabe
à Polícia Judiciária Militar agindo em nome do Estado, promover com exclusividade
a persecução penal dos crimes que encontram guarida no Código Penal Militar.
Sobre o exposto, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa (apud, CORRÊA, 2002, p.
118) escreve que:
atribuições enumeradas neste artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para
fins especificados e por tempo limitado”. (art. 7º, § 1º, do CPPM).
Contudo, vale ressaltar os ensinamentos de Martins e Capano (1996 apud
SARAIVA, 1999, p. 19-20):
Não se admite que seja utilizado oficial mais antigo nos casos em que o
indiciado é oficial da reserva ou reformado, (art. 7º, § 4º, do CPPM). Já o art. 7º, § 5º
do CPPM, é melhor explicado por Miguel e Coldibelli (2004, p. 27):
Militar, designando para tal ato um militar que exercera o poder de Polícia Judiciário
Militar, visando a apuração do crime.
Assim, o inquérito se mostra essencial para que o titular da ação penal, o
Ministério Público, venha a oferecer a denúncia. Contudo, nos casos onde o infrator
e os instrumentos utilizados para a consumação ou tentativa do ilícito, já estiverem
documentadas; nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou
publicação, cujo autor esteja identificado, bem como nos crimes do art. 341 e 349 do
Código Penal Militar, poderá ser dispensado a confecção do Inquérito Policial Militar,
(art. 28 do CPPM).
Retornando ao título deste sub-capítulo, finalidade do IPM, pode-se absorver
o que Edison Bonfim (2006, p. 100) escreve:
Em relação a letra “d” do art. 10 do CPPM, Assis (2006, p. 41) cientifica que:
“[...] tal dispositivo restou caduco por inconstitucionalidade superveniente, já que o
desarquivamento do inquérito pelo STM tem, como conseqüência única submeter,
novamente, aquele fato ao crivo da Chefia do Ministério Público Militar [...]”.
Outra situação em que o inquérito poderá surgir, é quando o sujeito passivo,
vítima do delito militar, assim o requerer (art. 10, e, do CPPM), bastando para isso
que as autoridades militares sejam informadas de tal ato infracional ou se assim o
desejar poderá ser contactado diretamente o Ministério Público.
Outrossim, tem-se que quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição
militar, resulte indício da existência de infração penal militar (art. 10, f, do CPPM),
esta poderá dar início ao inquérito, sendo que a sindicância é tida como um ato
administrativo, rito sumário possuindo o objetivo de esclarecer eventuais
irregularidades cometidas no âmbito castrense.
Pode-se entender que Loureiro Neto concorda com o que expõe Garcia,
quando aquele utiliza a expressão “indiciado o suspeito”, ou seja, até certo momento
existia apenas a simples figura do suspeito, passando a ser indiciado quando passa
a existir indícios de que este é realmente o sujeito ativo do crime militar. Assim
poderá figurar como indiciado em um Inquérito Policial Militar, qualquer um que
32
possua indícios suficientes que tenha sido o autor de uma infração prevista no
Código Penal Militar e que possa ser enquadrado no seu nono artigo.
Não poderá, entretanto, ser indiciado em um Inquérito Policial Militar os:
3.1 PRINCÍPIOS
Neste viés, os princípios são compreendidos como regras que muitas vezes
não estão escritas, não estão diretamente expressas na lei, contudo servem para a
criação e aplicação das próprias normas jurídicas que estabelecem o convívio social.
Por isso Mello (2006, p. 903) afirma que:
Dito isso, a Polícia Militar por ser uma instituição da administração pública
direta do Estado deve pautar seus atos em conformidade com o que preceitua as
normas e princípios estabelecidos pela carta magna (art. 37, caput), sendo assim, o
oficial encarregado de um Inquérito Policial Militar deve agir de acordo com o
estabelecido nos princípios e leis vigentes.
Com relação ao sigilo no inquérito policial, o presente trabalho passará a
abordar os seguintes princípios: princípio da legalidade, princípio da publicidade,
princípio da eficiência, princípio da supremacia do interesse público, princípio da
ampla defesa e contraditório e princípio da razoabilidade e da proporcionalidade.
Analisando este artigo, verifica-se que tal preceito legal garante não só
àqueles que possuam interesse particular sobre os atos praticados pela
administração pública como possibilita, também, à sociedade como um todo, através
do interesse coletivo ou geral, observando, é claro, aquelas informações cujo sigilo
seja indispensável à segurança da sociedade e do Estado.
Deve-se observar ainda o que determina o art. 5º, inciso LX, que “a lei só
poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade
ou o interesse social o exigirem”. Analisando este inciso, pode-se dizer que a
publicidade dos atos da administração pública é a regra, e que havendo o interesse
da sociedade como, por exemplo, os casos em que envolva a segurança pública ou
estiver presente a defesa da intimidade, onde a divulgação do caso possa violar a
intimidade da pessoa envolvida é a exceção.
38
Para Julio Fabbrini Mirabete (2006, p. 26) “a regra geral da publicidade dos
atos processuais está em correspondência com os interesses da comunidade, sendo
considerada um freio contra a fraude, a corrupção, a compaixão e as indulgências
fáceis”. Verifica-se que houve uma preocupação por parte do legislador constituinte
em coibir atos espúrios que, por ventura, o administrador público pudesse praticar
valendo-se das suas prerrogativas e da facilidade, que possui em decorrência do
seu cargo.
Contudo, alguns doutrinadores entendem que o princípio da publicidade não
se aplica ao inquérito policial, ou seja, nem todos os atos da administração pública
podem ser divulgados. Sendo assim, Gasparini (2005, p. 11) explica que:
Da mesma forma, Hely Lopes Meirelles (2003, apud DI PIETRO, 2006, p. 98)
conceitua o princípio da eficiência como:
surge do direito privado, que visa atender tão somente as relações entre
particulares.
Apesar deste princípio não estar de forma expressa na Constituição,
encontra-se implícito no seu art. 5º, incisos XXIV e XXV, incisos que tratam
respectivamente da desapropriação e da requisição. Para haver, por exemplo, a
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, a
administração pública deve motivar o seu ato, assim:
Tem-se ainda, que o Código de Processo Penal dispõe em seu art. 20 que “a
autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade”. Verifica-se que quando o legislador infra-
constitucional mencionou a expressão “exigido pelo interesse da sociedade” estava
prevendo que havendo interesse da sociedade em manter o inquérito de forma
sigilosa este prepondera sobre o interesse do indiciado.
Pela redação do art. 5.º, LV, da CF, fica evidente que o princípio do
contraditório e da ampla defesa é de cumprimento obrigatório
somente nos processos judiciais e administrativos, pois somente
nesses é que se observa a existência de uma relação dialética de
acusador e acusado ou de litigantes. Daí porque não há que se falar
na incidência do princípio durante o inquérito policial, uma vez que se
trata de mero procedimento administrativo, desprovido de qualquer
litígio, resumindo-se a um método de investigação levado adiante
pela polícia judiciária.
medida com que uma norma deve ser interpretada no caso concreto
para a melhor realização do fim constitucional nela embutido ou
decorrente do sistema.
Tendo em vista que o tema proposto gira em torno da expressão sigilo, tem-
se por necessidade apontar a sua relevância em alguns ordenamentos jurídicos
vigentes. Para tanto, tal Capítulo irá abordar a Lei de Interceptação Telefônica, a Lei
do Crime Organizado e por fim será enfatizada a possibilidade do advogado ter
acesso aos autos do Inquérito Policial Militar, partindo-se de uma análise doutrinária
para uma jurisprudencial.
54
A Lei 9.296/96 tida como a Lei da escuta telefônica veio a ser publicada no
Diário Oficial da União no dia 25 de julho de 1996, tendo como principal objetivo
regulamentar a parte final do art. 5º, inciso XII da Constituição:
Uma vez obtida a informação e juntada aos autos, ano há mais razão
para negar o acesso da defesa ou da parte investigada, dependendo
da fase da persecução penal. A inquisitividade à qual o sigilo é
inerente cessa tão logo se encerre o objetivo da investigação.
O inciso III do art. 2 da Lei 9.034/95 dispõe sobre a quebra do sigilo a dados,
documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais. Apesar do
referido inciso não apontar a necessidade de se obter ordem judicial para proceder à
quebra do sigilo dos elementos citados, percebe-se que deve haver sim a garantia
que a CR despede a esses meios de comunicação. (CAPEZ, 2006).
Analisando o parágrafo único do art. 2º da citada lei, entende-se que o
legislador buscou sobretudo, utilizar-se do sigilo para alcançar os objetivos da
investigação criminal, podendo inclusive desenvolver atividades de altíssimo risco
como por exemplo, proceder a infiltração de agentes policiais na organização
58
Segundo o léxico Houaiss (2004, p. 2568), entende-se por sigilo como sendo:
“aquilo que permanece escondido da vista ou do conhecimento; segredo, coisa ou
notícia que não se pode revelar ou divulgar [...]”. Silva (2000, p. 758), em
concordância com tal explicação ensina que o sigilo deriva:
Constata-se que tais conceitos retratam de forma bem precisa e clara o que
vem a ser o sigilo, obrigação que existe em não divulgar os conhecimentos, dados
ou informações, das quais se tenha ciência.
Conforme Supremo Tribunal Federal – STF (2007), o ministro Cezar Peluso,
em uma decisão a respeito da Operação Furacão, realizada em 13 de abril de 2007,
informa que:
A alínea “j” do art. 3º da Lei 4.898/65 trata que constitui abuso de autoridade
qualquer atentado contra os “direitos e garantias legais assegurados ao exercício
profissional”. Observa-se então que tal alínea versa apenas sobre aquelas
profissões que estejam reguladas por lei, com isso aquelas atividades profissionais
tidas como ilícitas não encontram amparo legal em tal legislação.
Como exposto anteriormente, a lei que trata dos abusos cometidos por
autoridades foi publicada no ano de 1965, tendo em 1979 o acréscimo no seu art. 3º
da alínea “j”, através da Lei 6.657, de 05 de junho de 1979, que veio a amparar as
atividades profissionais que, de alguma forma, vinham sendo vítimas de ações
arbitrárias por parte de autoridades, nesse sentido:
erário, aborda também atos que violem os princípios constitucionais, como por
exemplo o apresentado no Capítulo II (dos atos de improbidade administrativa),
Seção III (dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios
da administração pública) da Lei 8.429/92. Na seção III da referida lei, destaca-se o
art. 11 juntamente com seu inciso terceiro o qual possui a seguinte redação:
O Código Penal Militar em seu Título VII (Dos crimes contra a administração
militar), Capítulo VI (Dos crimes contra o dever funcional) traz o tipo penal em que
configura crime militar, cometido em tempo de paz, a violação de sigilo funcional.
Assim sendo, o caput do art. 326 do CPM informa que constitui crime militar
“Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo ou função e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação, em prejuízo da administração
militar”.
A respeito do artigo em questão, Assis (2005, p. 617) leciona que:
O sujeito ativo pode ser qualquer um, civil ou militar, já que a lei não
exige qualidade especial do agente. Necessário entretanto que tenha
ciência do segredo em razão do cargo ou função. Sujeito passivo é a
Administração Militar, prejudicada pela divulgação do segredo.
informa que o tipo subjetivo “é o dolo, ou seja, a vontade livre de revelar ou facilitar a
revelação, com consciência de que o fato devia ter mantido em sigilo”.
Considerando-se os ensinamentos de Assis (2005), pode-se entender que
para configurar o crime do art. 326 do CPM, além de ter o dolo de revelar ou facilitar,
deve, ainda, haver o prejuízo para a Administração Militar. Nesse sentido, poderá
surgir então a situação em que o encarregado do Inquérito Policial Militar, bem como
o seu escrivão, venham a ser agentes do art. 326 do CPM, bastando para isso
revelar ou facilitar qualquer fato que conste nos autos do IPM e que por sua
natureza devesse ser mantido em segredo de justiça, causando com tal ato ainda,
um certo prejuízo à Administração Militar.
Mossim (1997 apud SARAIVA, 1999, p. 16): “porquanto quanto mais sigilosa for a
investigação criminal, maior possibilidade haverá de se descobrir a verdade real, o
que não se verificaria se não houvesse o sigilo”.
Contudo observa-se que tal norma processual acerca do sigilo não é
absolutamente inflexível, pois é facultado ao encarregado do inquérito permitir que o
advogado do indiciado tenha vistas aos autos do Inquérito Policial Militar. Nesse
sentido, Rosa (2003 apud ASSIS, 2007, p. 202) traz a luz que: “[...] o sigilo que se
menciona no Código de Processo Penal Militar passou a ser relativo e encontra-se
sujeito aos dispositivos constitucionais e ao Estatuto da Advocacia”.
Para Manoel (2005, p. 35), autor da obra Manual de Polícia Judiciária Militar,
o advogado possui sim o direito de examinar os autos do IPM, informando ainda
que:
No mesmo trilhar, Assis (2006, p. 54) cita uma jurisprudência onde o Superior
Tribunal de Justiça entendeu que o Inquérito Policial poderia ocorrer de forma
sigilosa:
5 METODOLOGIA
Após a coleta e organização dos dados, partiu-se para a análise dos mesmos,
fazendo-se a relação entre o pensamento dos doutrinadores e o preceito legal,
verificando suas divergências para responder o problema proposto nesta pesquisa.
Visando estabelecer prazos para o cumprimento das idéias sugeridas, utilizou-se de
um cronograma.
79
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho acadêmico teve como foco principal, durante todo o seu
desenvolvimento, apontar e trabalhar o sigilo presente no inquérito policial militar,
bem como apontar a possibilidade que o advogado possui de examinar os autos do
Inquérito Policial Militar frente ao seu caráter sigiloso.
Inicialmente, visando atingir todos os objetivos propostos, fez-se necessário
conceituarmos o crime militar, pois este é o marco inicial para que surja, para que
seja instaurado o Inquérito Policial Militar. Dessa forma, começamos abordando os
sujeitos que estão vinculados ao Direito Penal Militar.
De acordo com o Código Penal Militar, há previsão legal do cometimento de
crimes militares tanto em tempo de paz, quanto em tempo de guerra, onde apenas
cometem crime militar em tempo de paz, aqueles que possam ser enquadrados no
seu artigo nono. A doutrina se preocupa em dividir os crimes militares em crimes
propriamente militares (onde o militar, seja das Forças Armadas (Marinha, Exército,
Aeronáutica) ou das Forças Auxiliares (Polícia Militar ou Corpo de Bombeiro Militar)
venha a cometer um fato típico e antijurídico previsto somente no Código Penal
Militar) e crimes impropriamente militares (onde os militares e civis possam vir a
cometer crimes militares tipificados tanto no CPM como no CP, atentando apenas
que os civis não cometem crime militar no âmbito estadual, por orientação da
Emenda 45 da CR).
Existindo então um fato criminoso, cometido por militar, por exemplo, surge a
pretensão punitiva do Estado, pois este tem o dever de impor uma pena ao autor da
conduta vedada por lei. Assim, o órgão do Estado responsável por desencadear o
procedimento da apuração de crime militar é a Polícia Judiciária Militar, que através
das autoridades militares presentes no CPPM vem de forma originária ou delegada
instaurar o Inquérito Policial Militar.
Conforme dispõe a Constituição da República, cabe à Polícia Civil, ressalvada
a competência da Polícia Federal, realizar a Polícia Judiciária, apurando as infrações
criminosas, excetuando-se as militares. A partir disso, entende-se que as infrações
militares cabe exclusivamente à Polícia Judiciária Militar investigar, tendo esta então,
a competência legal de instaurar o IPM. Sobre o Inquérito Policial Militar pode-se
dizer que ele possui a característica de ser sigiloso, apresentando-se como um
procedimento que tem por finalidade apurar infrações típicas e antijurídicas
80
diplomas legais, prevê em suas entrelinhas que apenas faz-se necessário assegurar
ampla defesa e o contraditório aos litigantes em processo judicial. Seguindo esse
raciocínio, pode-se afirmar que o IPM se trata de um procedimento administrativo,
que visa investigar, apurar um crime militar. Sendo assim, não há que se falar em
litigante e nem mesmo acusado, havendo somente em sua estrutura a figura do
indiciado.
Um outro princípio, também, abordado neste trabalho, diz respeito ao
princípio da publicidade, onde apesar de encontrar previsão legal na Constituição da
República de forma expressa, vem totalmente de encontro do que se espera de uma
investigação policial, meio utilizado para colher provas. Entende-se que não há
como obter sucesso em uma investigação policial que visa angariar indícios de um
fato criminoso, se as diligências efetuadas pelo seu encarregado forem divulgadas e
submetidas à apreciação pública.
Aduzindo-se como um princípio que visa a resolução de conflitos, surge o
princípio da razoabilidade e da proporcionalidade. Nesse caso, tais princípios
mostram-se extremamente relevantes para o estado democrático de direito, pois
visam regular e até mesmo restringir os atos discricionários dos administradores
públicos. Intercalando este princípio com o sigilo no Inquérito Policial Militar,
avistamos que o sigilo no inquérito não é absoluto, e nem poderia ser, pois nem
mesmo as garantias constitucionais o são.
Superada a análise principiológica, os estudos passam a ser direcionados
para as leis infraconstitucionais que de alguma forma prevêem em seu texto legal o
caráter sigiloso. Ressalta-se que, em virtude dos inúmeros ordenamentos jurídicos,
buscou-se apenas trazer as principais legislações, dentre as quais destacamos: a lei
de interceptação telefônica e a lei do crime organizado. Respeitando os desígnios e
as peculiaridades de cada lei mencionada, pudemos concluir que durante a fase do
inquérito policial, ambas trazem em seu bojo as observações e medidas legais que
devem ser apresentadas para que ocorra, por exemplo, a quebra do sigilo telefônico
a fim de se desmantelar uma quadrilha de assaltantes de banco.
Outro aspecto relevante, abordado neste trabalho, foi a análise realizada
sobre a lei do abuso de autoridade, pois todo militar encarregado de instaurar e
concluir um Inquérito Policial Militar encontra-se submetido a esta norma. Dentre as
ações que constituem abuso de autoridade, temos uma em especial à qual o
encarregado do IPM poderá vir a ser submetido, qual seja restringir os direitos e
82
7 REFERÊNCIA
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