Planejamento, Estatuto Da Cidade e o Espaço Urbano de Mogi Guaçu - SP

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Número: 122/2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

MÁRIO MARANGONI FILHO

PLANEJAMENTO, ESTATUTO DA CIDADE E O ESPAÇO URBANO DE


MOGI GUAÇU - SP

Tese apresentada ao Instituto de Geociências como parte


dos requisitos para obtenção do título de Doutor em
Ciências.

ORIENTADORA: PROFª. DRª. REGINA CÉLIA BEGA DOS SANTOS

CAMPINAS – SÃO PAULO


JULHO DE 2010

i
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO
Sistema de Bibliotecas da UNICAMP /
Diretoria de Tratamento da Informação
Bibliotecário: Helena Joana Flipsen – CRB-8ª / 5283

Marangoni Filho, Mário.


M325p Planejamento, estatuto da cidade e o espaço urbano
de Mogi Guaçu - SP / Mário Marangoni Filho. -- Campinas,
SP : [s.n.],
2010.

Orientador: Regina Célia Bega dos Santos.

Tese (doutorado) - Universidade Estadual de


Campinas, Instituto de Geociências.

1.Planejamento urbano - Mogi Guaçu (SP). 2. Direito


urbanístico - Mogi Guaçu (SP). 3. Administração municipal.
I. Santos, Regina Célia Bega dos. II. Universidade Estadual
de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Título e subtítulo em inglês: Planning, the city statute and urban space in
Mogi Guaçu - SP.

Palavras-chave em inglês (Keywords): City planning - Mogi Guaçu (SP),


City planning - Law and legislation - Mogi Guaçu (SP), City government.

Área de Concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial.

Titulação: Doutor em Ciências.

Banca examinadora: Archimedes Perez Filho, Léa Franscesconi, Ana Maria


Marques Camargo Marangoni, André Munhoz de Argollo Ferrão.

Data da Defesa: 15-07-2010

Programa de Pós-Graduação em Ciências.

ii
AGRADECIMENTOS

Profa. Dra. Regina Célia Bega dos Santos

Prof. Dr. Archimedes Perez Filho


Profa. Dra. Léa Franscesconi
Prfa. Dra. Ana Maria Marques Camargo Marangoni
Prof. Dr. André Munhoz de Argollo Ferrão

Valdirene Pinotti e equipe da Secretaria de Pós-graduação


do Instituto de Geociências da UNICAMP

Márcia de Melo Saraiva Marangoni, Rafael e Cássia,


Cíntia e Rodrigo, Mariana e Guilherme

Valda Davoli Marangoni

Sergio Marangoni e família

v
SUMÁRIO

1 – PRÓLOGO E INTRODUÇÃO ........................................................................... 01


2 – REVISÃO DE LITERATURA E LEGISLAÇÃO
2.1 – Plano Diretor e Estatuto da Cidade ...................................................... 07
2.2 – Práticas imobiliárias modeladoras do espaço urbano ........................... 28
2.3 - Planejamento para a vitalidade das cidades ........................................... 33
3 – O CASO DE MOGI GUAÇU - SP
3.1 – Antecedentes históricos e a formação da cidade ................................... 49
3.2 – O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971 .................... 59
3.3 – A proposta de Plano Diretor de 1992 .................................................... 70
3.4 – Novas centralidades............................................................................... 80
3.5 – Mogi Guaçu como uma cidade média................................................... 85
4 – A REVISÃO DO PDDI DE MOGI GUAÇU DE 2008
4.1 – Audiências públicas para a revisão do Plano Diretor............................ 91
4.2 – Os vazios urbanos e o crescimento da cidade .................................... 111
4.3 – O Zoneamento Urbano ........................................................................ 120
4.4 – Diretrizes Viárias................................................................................. 137
4.5 - Áreas de lazer e verdes ........................................................................ 144
4.6 – Estudo de Impacto de Vizinhança ..................................................... 158
4.7 – Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios..........................159
4.8 - Outorga onerosa do direito de construir ...............................................162
4.9 - Outorga onerosa de alteração de uso.....................................................164
4.10 - Operações urbanas consorciadas ........................................................165
4.11 – Direito de preempção .......................................................................167
4.12 – Transferência do direito de construir ................................................ 168
4.13 – Sistema de acompanhamento e controle ........................................... 169
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 171
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 177

vi
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2.3.1 - Diagrama de Ebenezer Howard para a cidade-jardim ....................... 34
FIGURA 2.3.2 - Planta de Letchworth, a primeira cidade-jardim ................................ 35
FIGURA 2.3.3 - Letchworth: fotografia aérea atual ..................................................... 36
FIGURA 2.3.4 - Separação de pedestres e automóveis (Le Corbusier)....................... 38
FIGURA 2.3.5 - Imóveis na cidade, conforme Le Corbusier ....................................... 39
FIGURA 2.3.6 - A fábrica verde de Le Corbusier ........................................................ 40
FIGURA 3.2.1 - Dimensões do sistema viário principal .............................................. 65
FIGURA 3.2.2 - Mogi Guaçu: Avenidas NS-1, LO-2 e NS-2 ...................................... 66
FIGURA 3.3.1 - Mogi Guaçu: expansão do centro conforme Plano Diretor 1992 ............... 74
FIGURA 3.3.2 - Parque da Cachoeira proposto para Mogi Guaçu............................... 78
FIGURA 3.4.1 - Av. Mogi Mirim: ligação entre Mogi Guaçu e Mogi Mirim ............. 82
FIGURA 3.4.2 - Avenida Bandeirantes e Av. Júlio Xavier da Silva............................ 83
FIGURA 3.4.3 - Av. Emilia Marchi Martini e Av. dos Trabalhadores ........................ 84
FIGURA 3.5.1 - Mogi Guaçu e Mogi Mirim:aglomerado não metropolitano.............. 89
FIGURA 3.5.2 - Mogi Guaçu e Mogi Mirim: aglomerado e microrregião .................. 89
FIGURA 4.2.1 - Estudo para edifícios de 4 pavimentos em Mogi Guaçu.................. 118
FIGURA 4.3.1 - Mogi Guaçu: zona de expansão leste............................................... 128
FIGURA 4.3.2 - Final da Av. Emilia Marchi Martini e Fazenda Tijuco .................... 130
FIGURA 4.3.3 - Mogi Guaçu: zona de expansão urbana norte .................................. 132
FIGURA 4.3.4 - Zonas urbanas restritas leste e oeste ................................................ 134
FIGURA 4.4.1 - MogiGuaçu: Rua Paula Bueno e Rua S. Paulo ................................ 141
FIGURA 4.4.2 - MogiGuaçu: Centro, Rua Paula Bueno, .......................................... 142
FIGURA 4.4.3 - Estrada Miguel Martini e Estrada Oscar C. Rodrigues .................... 143
FIGURA 4.5.1 - Mogi Guaçu: Área de entorno da represa ........................................ 146
FIGURA 4.5.2 - Mogi Guaçu: Córrego dos Macacos................................................. 148
FIGURA 4.5.3 - Área verde Leste no Córrego dos Ipês ............................................. 150
FIGURA 4.5.4 - Área verde Leste no Córrego dos Ipês ............................................. 152
FIGURA 4.5.5 - Mogi Guaçu: área do Córrego dos Ipês na zona norte..................... 152
FIGURA 4.5.6 - Praça Francisco Marchesi ................................................................ 153
FIGURA 4.5.7 - Estudo preliminar de parcelamento: Vazio urbano Taguaçu ............. 157

vii
LISTA DE MAPAS

MAPA 3.1.1 – Caminho dos goiases na Capitania de São Paulo .................................. 50


MAPA 3.1.2 – Mogi Guaçu: perímetro urbano em 1938 .............................................. 53
MAPA 3.1.3 – Mogi Guaçu: Evolução histórica/ loteamentos em 1970 ...................... 56
MAPA 3.2.1 – Mogi Guaçu: Uso do solo em 1970....................................................... 62
MAPA 3.2.2 – Zoneamento urbano de Mogi Guaçu até 2008 ...................................... 67
MAPA 3.3.1 – Mogi Guaçu: área urbana em 1991 e tendências de crescimento ......... 72
MAPA 3.3.2 – Mogi Guaçu: crescimento urbano entre 1991 e 2008 ........................... 73
MAPA 3.3.3 – Mogi Guaçu: macrozoneamento proposto em 1992 ............................. 76
MAPA 4.1.1 – Mogi Guaçu: locais das audiências, 2006 ........................................... 100
MAPA 4.2.1 – Vazios urbanos de Mogi Guaçu .......................................................... 112
MAPA 4.3.1 – Mogi Guaçu: zoneamento urbano do Plano Diretor de 2008.............. 121
MAPA 4.3.2 – Relevo de Mogi Guaçu........................................................................ 131
MAPA 4.3.3 – Zona de expansão urbana norte........................................................... 133
MAPA 4.3.4 – Zonas urbanas restritas leste e oeste.................................................... 134
MAPA 4.4.1 – Diretrizes viárias para a cidade de Mogi Guaçu ................................. 138
MAPA 4.4.2 – Diretriz viária de continuação da Av. Emília M. Martini ................... 139
MAPA 4.4.3 – Mogi Guaçu: Anel viário principal ..................................................... 140
MAPA 4.4.4 – Diretriz de ligação das estradas Miguel Martini e Oscar Rodrigues............ 143
MAPA 4.5.1 – Córrego dos Ipês.................................................................................. 149

viii
LISTA DE FOTOS

FOTO 3.1.1 – A cidade de Mogi Guaçu em 1939/1940................................................. 52


FOTO 3.1.2 – Mogi Guaçu em 1962 ............................................................................. 54
FOTO 3.2.1 – Mogi Guaçu em 1972 ............................................................................. 63
FOTO 3.2.2 – Mogi Guaçu: Paço Municipal e Câmara no Morro do Ouro................... 69
FOTO 3.4.1 – Avenida Mogi Mirim ............................................................................. 81
FOTO 4.2.1 – Vazio urbano Multipart (antiga Cerâmica Martini) ............................. 114
FOTO 4.5.1 – Vegetação na represa Cachoeira de Cima ............................................. 147
FOTO 4.5.2 – Área verde do Córrego dos Ipês na zona norte ..................................... 151
FOTO 4.5.3 – Rio Mogi Guaçu na área central............................................................ 155

LISTA DE QUADROS E TABELAS

QUADRO 3.1.1 - Informações gerais sobre Mogi Guaçu ................................................. . 57


TABELA 3.3.1 – Mogi Guaçu: Mortalidade infantil 1970, 1980 e 1988 ........................... 70
TABELA 3.3.2 – Mogi Guaçu: Taxa de analfabetismo 1970 e 1980.................................. 70
QUADRO 3.3.1 - Mogi Guaçu: Uso do solo no município em 1991 .... ........................... . 71
QUADRO 3.5.1 - Cidades identificadas para seleção de cidades médias ....................... .. 86
TABELA 3.5.1 – Nº. de municípios brasileiros por faixa de população ............................. 87
TABELA 3.5.2 – Mogi Guaçu, Mogi Mirim e microrregião: populações municipais........ 88
TABELA 4.1.1 – Mogi Guaçu: Atendimento em saneamento – 2000 (em %) ................. 106
TABELA 4.2.1 – Mogi Guaçu – estimativa de crescimento 2008-2017........................... 111
QUADRO 4.2.1 - Vazios urbanos de Mogi Guaçu ............................................................ 113
QUADRO 4.2.2 - Vazios urbanos: estimativa de áreas de lotes e áreas públicas .............. 115
QUADRO 4.2.3 - Uso do solo nos vazios urbanos: habitação, comércio e serviços ......... 116
TABELA 4.2.2 – Vazios urbanos: número de habitantes possíveis, 2008 a 2017 ............ 117
QUADRO 4.3.1 - Metas de planejamento para a vitalidade urbana .... ....................... ..... 122
TABELA 4.3.1 - Índices urbanísticos para a Zona Residencial.... ............................. ..... 124
TABELA 4.3.2 - Índices urbanísticos para a Zona de Atividades Centrais................ ..... 125

ix
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

PLANEJAMENTO, ESTATUTO DA CIDADE E O ESPAÇO URBANO DE MOGI


GUAÇU - SP
RESUMO

Esta pesquisa sobre planejamento urbano e o espaço de Mogi Guaçu procura compreender como
deve ser o planejamento urbano para o crescimento das cidades médias com vitalidade urbana.
A pesquisa contém uma revisão de literatura e de legislação; caracteriza a cidade de Mogi Guaçu
como uma cidade média; verifica os antecedentes históricos e a formação da cidade; as novas
centralidades de comércio e serviços; os planos diretores anteriores para verificar se as suas
propostas continuam válidas para o planejamento da cidade e faz um levantamento e uma
discussão da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI de 2008.
Considera que o plano diretor de pequenas cidades e de cidades médias deve ser elaborado como
um plano de urbanismo, incluindo um zoneamento urbanístico e territorial, as diretrizes viárias
para o município, as questões das áreas verdes e de recreação e também uma análise do conteúdo
mínimo estabelecido na lei federal Estatuto da Cidade para verificar se é adequado para o
planejamento urbano local.
O trabalho identifica os vazios urbanos para o crescimento da cidade e verifica que, em sua
totalidade de 3,25 km², comportam o crescimento urbano de Mogi Guaçu até o ano de 2017, sem
a necessidade de ampliação do perímetro urbano.
Algumas ideias de Jane Jacobs (2000) para o planejamento urbano são adequadas para a cidade
de Mogi Guaçu: estimular a diversidade de usos e de usuários em uma mesma área da cidade;
interpenetração de vizinhanças, cujos usuários e proprietários possam contribuir para a segurança
pela simples presença nos locais como comércio e serviços; evitar as fronteiras desertas em áreas
verdes e muros extensos de condomínios fechados; estimular forças econômicas construtivas e
projetos pessoais e explicitar a ordem visual das cidades. O zoneamento urbano de Mogi Guaçu
permite a diversidade de usos e de usuários em um mesmo local da cidade, de forma que as
habitações, comércio e os serviços possam ser localizados próximos.
A pesquisa verifica que existem possibilidades de implantação de novas áreas verdes de lazer, na
zona sul junto ao Córrego dos Macacos (já em realização pela administração municipal), na zona
norte e na zona leste junto ao Córrego dos Ipês. No centro da cidade o trabalho indica a
possibilidade de revitalização do Parque dos Ingás e a implantação de área verde de lazer na
margem do Rio Mogi Guaçu, na área Taguaçu, com a possibilidade de aproveitamento do
potencial de lazer do Rio Mogi Guaçu, aumentando a sua visibilidade e o uso das águas urbanas
como um valioso recurso paisagístico.

Palavras-chave: Planejamento urbano, Plano Diretor, Estatuto da Cidade

xi
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

PLANNING, THE CITY STATUTE AND URBAN SPACE IN MOGI GUAÇU – SP

ABSTRACT

This research on urban planning and space in the city of Mogi Guaçu seeks to understand how
urban planning should be for the growth of medium-sized cities with urban vitality.
The research contains a review of literature and legislation, characterizes the city of Mogi Guaçu
as a city average; finds the historical background and training of the city, the new centers of
commerce and services; master plans prior to check that their proposals are still valid for the
planning of the city and do a survey and a discussion of the revision of the Master Plan for
Integrated Development - PDDI 2008.
Considers that the master plan for small towns and medium cities should be designed as an urban
design plan, including zoning and urban planning, guidelines for the county road, the issues of
green space and recreation and also an analysis of the minimum content established in federal law
Statute of the City to verify whether it is appropriate for the local urban planning.
The study identifies urban voids for the growth of the town and finds that, in its entirety from
3.25 km², contain urban growth of Mogi Guaçu until the year 2017, without the need to expand
the urban perimeter.
Some ideas of Jane Jacobs (2000) for urban planning are appropriate for the city of Mogi Guaçu:
boosting the diversity of uses and users in the same area of the city; interpenetration of
neighborhoods, whose users and owners can contribute to security by mere presence in places
such as commerce and services; avoid the border desert into green areas and extensive walls of
condominiums, stimulate economic forces constructive and personal projects and explain the
visual order of the cities.
The zoning of Mogi Guaçu allows for diversity of uses and users in one location in town, so the
housing, commerce and services can be located nearby.
The research finds that there is scope for deployment of new green areas for leisure, in the
southern area along the stream Córrego dos Macacos (already under implementation by the
municipal administration), in the north and east along the stream of Ipês. In the downtown work
indicates the possibility of revitalizing the Park Ingás and deployment of green area for recreation
on the river Mogi Guaçu, Taguaçu area, with the ability to harness the potential of leisure river,
increasing its visibility and use of urban water as a valuable resource landscape.

Keywords: Urban Planning, Master Plan, the City Statute

xiii
1. PRÓLOGO E INTRODUÇÃO

No início, a minha pesquisa de doutorado seria a respeito da cidade e município de


Mogi Mirim, mas esta cidade foi substituída pela vizinha Mogi Guaçu, com a aprovação da
orientadora, pelos seguintes motivos: em 2007 passei a dedicar a maior parte da minha atividade
profissional como arquiteto na cidade de Mogi Guaçu, elaborando anteprojetos e estudos
preliminares de parcelamento do solo para a empresa Roval Empreendimentos Imobiliários. No
desempenho dessa atividade, estive diversas vezes em contato com o então Secretário de
Planejamento e Desenvolvimento Urbano, Eng. Edson Luiz Maretti Marchesi, que disse da
necessidade de elaborar a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado - PDDI de
Mogi Guaçu. Nesse sentido já havia ocorrido audiências públicas para ouvir a população nos
diversos bairros e no centro da cidade. Coloquei para o Eng. Edson a minha experiência na
elaboração de uma revisão do Plano Diretor de Mogi Mirim em 2003, quando trabalhei como
Diretor de Planejamento, tendo por base a minha dissertação de mestrado, realizada no Instituto
de Geociências da Unicamp, mas essa revisão não foi aprovada na Câmara Municipal. Mesmo
assim, o Secretário de Planejamento disse haver interesse na minha participação na elaboração da
revisão do Plano Diretor de Mogi Guaçu.

A minha participação na revisão do Plano Diretor de Mogi Guaçu ocorreu no ano de


2008, após eu ter participado de um processo seletivo para escolha de professores da Faculdade
Municipal Prof. Franco Montoro em Mogi Guaçu, no qual fui aprovado como docente do curso
de Engenharia Ambiental, por um período de dois anos. A faculdade municipal foi encarregada,
pela Prefeitura de Mogi Guaçu, de elaborar a revisão do plano diretor e passei a fazer parte da
equipe de elaboração, coordenada pela Prof.ª Arquiteta Amarílis Pinheiro Curto.
As reuniões de trabalho com a minha participação iniciaram em 14-02-2008, com a
presença do Prof. Dr. Alair Assis, então Diretor da Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro –
FMPFM, do Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano - Eng. Edson Marchesi e dos
professores Luis Augusto de Carvalho Bresser Dores e Amarílis Pinheiro Curto.
Nessas reuniões foram definidos os principais itens da revisão do Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu, para um período de 10 anos:

1
 Verificar a possibilidade de o crescimento da cidade ocorrer nos vazios urbanos;
 Caracterização social e econômica do município;
 Evolução urbana a partir de 1971, quando foi aprovado o Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu;
 Integração regional e
 Planejamento ambiental integrado ao Plano Diretor.

A Secretaria de Planejamento de Desenvolvimento Urbano de Mogi Guaçu – SPDU


forneceu os seguintes materiais de base dos trabalhos de Revisão do Plano Diretor: os volumes do
Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu de 1970; os volumes da proposta de
Plano Diretor de 1992, que não foi aprovada; as informações das audiências públicas realizadas
pela SPDU em 2006 com a finalidade de embasar a revisão do plano diretor; a base de mapas do
município; um importante levantamento dos vazios urbanos existentes e as informações sobre o
uso do solo urbano e de legislação .
A base de mapas do município de Mogi Guaçu não está atualizada pelo IGC – Instituto
Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo, que realiza um ótimo trabalho de
mapeamento no estado.
As reuniões de trabalho foram realizadas no campus da FMPFM, com a presença do
Eng. Edson Marchesi, da Arq. Amarílis P. Curto e do autor, a elaboração ocorreu entre os meses
de fevereiro e agosto de 2008, com a colaboração dos seguintes professores da faculdade: Prof.
MSc João Paulo Barbosa na formatação do texto da proposta; Prof. MSc Márcio Antonio Ferreira
na definição das diretrizes ambientais do plano; Prof. Dr. Alexandro Batista Ricci, coordenador
do Curso de Engenharia Ambiental; Prof. MSc Luis Augusto de Carvalho Bresser Dores e Prof.
José Maurício Conceição – Assessor Jurídico do plano.
Para a revisão do PDDI, a Faculdade Municipal forneceu o trabalho de duas
competentes estagiárias, estudantes do curso de Engenharia Ambiental da FMPFM: Lívia
Rosenberg Franco de Godoy, que levantou os dados sociais e econômicos do município de Mogi
Guaçu e Roberta Luque Fuentes que elaborou a base de mapas da revisão do PDDI.
Concluída a proposta, foi realizada uma audiência no auditório da FMPFM, no dia 04-
09-2008, com a presença do Prefeito Helio Miachon Bueno, onde apresentei a proposta de
revisão do PDDI, juntamente com a Arq. Amarílis.

2
Com a entrega da proposta à Prefeitura, não tive mais participação sobre o texto final
que foi enviado à Câmara Municipal para votação, e a aprovação ocorreu como a Lei
Complementar nº. 968, de 05 de dezembro de 2008. Após a aprovação, fui informado pelo
Secretário de Planejamento Edson Marchesi, que o texto final da revisão do PDDI não apresenta
os índices urbanísticos de ocupação do solo que constavam na proposta, o que será visto em
detalhe na parte sobre o zoneamento urbano, no terceiro capítulo do trabalho.
De forma contraditória, o plano deixou de ter um zoneamento urbano normativo, para
se tornar um plano de diretrizes e de objetivos, sem possibilidades de atuação no planejamento de
Mogi Guaçu, pois depende de outra lei específica que estabelecerá os índices urbanísticos para
cada uma das zonas de uso, referente a cada tipo de uso e de ocupação dos imóveis.

É preciso dizer que a minha participação na elaboração da revisão do Plano Diretor de


Mogi Guaçu foi muito apropriada, pois assim tive a possibilidade de colher os dados no local da
pesquisa e além disso, a possibilidade de utilizar esses dados em dois resultados: primeiro na
proposta de revisão e depois na elaboração da tese de doutorado.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa sobre planejamento urbano e o espaço de Mogi Guaçu, além de expor os
principais itens da Revisão do PDDI de Mogi Guaçu, contém uma revisão de literatura e de
legislação; a caracterização de Mogi Guaçu como uma cidade média; os antecedentes históricos e
a formação da cidade; as novas centralidades; as linhas gerais dos planos diretores anteriores para
verificação das propostas contidas e da sua utilização no planejamento urbano da cidade; as
solicitações das audiências públicas de 2006 e a possibilidade de utilização dos instrumentos de
planejamento urbano da Lei federal nº. 10.257 de 10/7/2001, denominada Estatuto da Cidade.

Quais devem ser os pressupostos do planejamento urbano para o crescimento das


cidades médias com vitalidade urbana? Esta é a problemática que a pesquisa procura
compreender e fazer indicações para o caso de Mogi Guaçu.

3
Fazem parte dos objetivos do trabalho: identificar os vazios urbanos para o crescimento
da cidade; verificar as possibilidades de novas áreas verdes de lazer, especialmente junto ao Rio
Mogi Guaçu no centro da cidade; identificar as características do zoneamento urbano que
permitem a diversidade de usos e de usuários e as formas de aplicação nos planos diretores de
cidades médias; e também verificar como os instrumentos do Estatuto da Cidade podem ser
utilizados no planejamento urbano local.

Justifica-se a importância do tema pelo fato da cidade de Mogi Guaçu constituir o


ambiente de mais de 90% dos moradores do município.

Como metodologia, a pesquisa procurou adequar os objetivos do trabalho com as


solicitações e sugestões das audiências públicas realizadas em 2006 pela Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Urbano para a revisão do PDDI.

No primeiro capítulo, a Revisão de Literatura e de Legislação pretende compreender


qual deve ser o conteúdo do plano diretor municipal, a partir do Estatuto da Cidade e do capítulo
de política urbana da Constituição. Relaciona os instrumentos legais de política urbana previstos
no Estatuto da Cidade junto com as questões de imóvel subutilizado e a função social da
propriedade urbana. Considera que o plano diretor para cidades pequenas ou cidades médias deve
ser elaborado como um plano de urbanismo, abrangendo o conteúdo mínimo estabelecido no
Estatuto da Cidade e, também, o zoneamento urbanístico e territorial, as diretrizes viárias para o
município e as questões das áreas verdes e de recreação. Faz, ainda, uma descrição das práticas
imobiliárias modeladoras do espaço urbano, tendo em vista a legislação federal e municipal.
Em seguida, concentra-se nos itens de planejamento para a vitalidade das cidades, a
partir da teoria da cidade-jardim de Ebenezer Howard, do planejamento moderno e racionalista
de Le Corbusier e das propostas de planejamento urbano de Jane Jacobs e de como estas últimas
podem ser aplicadas nos planos diretores de cidades médias.
Para finalizar o primeiro capítulo, apresenta-se a caracterização de Mogi Guaçu como
uma cidade média, para definição da sua categoria no conjunto das cidades brasileiras.

4
O segundo capítulo, O Caso de Mogi Guaçu, faz um breve levantamento da formação
da cidade, em seguida discorre sobre o PDDI aprovado em 1971 e sobre a proposta de Plano
Diretor de 1992, com o objetivo de verificar como ocorreu o planejamento urbano e se as
propostas dos planos diretores ainda permanecem atuais na cidade e no município. Este capítulo
termina com uma descrição das novas centralidades na cidade, para se obter uma ideia da
estrutura dos eixos de serviços existentes.

O terceiro capítulo, que abrange a Revisão do Plano Diretor Desenvolvimento Integrado


de Mogi Guaçu de 2008, inicia com o conteúdo das audiências públicas realizadas com a
participação dos moradores e procura mostrar como as solicitações foram atendidas ou não na lei
do plano diretor. Na segunda parte, discute a possibilidade de o crescimento da cidade ocorrer
nos vazios urbanos nos próximos 10 anos, dimensionando a necessidade das áreas urbanas e os
tipos de ocupação residencial.
Em seguida, é apresentado o zoneamento urbano aprovado na Revisão do PDDI e as
diretrizes viárias para o crescimento da cidade, e também os índices urbanísticos que faziam parte
da proposta inicial. Nessa parte são verificadas as condições de uso das zonas de expansão
urbana, que em conjunto com os vazios urbanos, são previstas para o crescimento da cidade.
O capítulo prossegue com as questões das áreas verdes e de lazer e com indicações para
implantação de grandes áreas de recreação nas zonas leste, norte e sul da cidade, conforme as
solicitações nas audiências públicas.
A parte final do capítulo verifica como os instrumentos de política urbana previstos no
Estatuto da Cidade estão contemplados no Plano Diretor e discute as possibilidades da sua
aplicação em Mogi Guaçu.

Pretende-se que a pesquisa apresente conteúdo não apenas técnico de planejamento


urbano, mas possa conter sugestões e indicações no sentido de uma cidade mais aprazível e
humana, onde seja possível caminhar nas ruas e encontrar surpresas agradáveis como vegetação
nas casas, um bom café...

5
2. REVISÃO DE LITERATURA E LEGISLAÇÃO

Nesta etapa inicial da pesquisa a temática de planejamento urbano, abrangendo plano


diretor municipal e os instrumentos de política urbana do Estatuto da Cidade (Lei federal nº
10.257, de 10/7/2001), será apresentada, comentada e discutida juntamente com os pressupostos e
as exigências legais para as práticas imobiliárias modeladoras do espaço urbano nas cidades
brasileiras. Em seguida o texto discute alguns referenciais teóricos importantes para a pesquisa,
na procura dos elementos que caracterizam a vitalidade do espaço das cidades. Na parte final
deste capítulo será apresentada a caracterização de Mogi Guaçu como uma cidade de porte
médio, destacando-se das pequenas cidades brasileiras.

2.1 Plano Diretor e Estatuto da Cidade

Esta parte do trabalho pretende compreender qual deve ser o conteúdo e também qual
deve ser a função do plano diretor municipal. A Constituição Federal, no artigo 182, estabelece o
plano diretor, aprovado pela câmara municipal, obrigatório para cidades com mais de 20.000
habitantes, como o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
Porém, para todos os municípios paulistas, a Constituição do Estado de São Paulo, de 05 de
outubro de 1989, no artigo 181 estabeleceu a obrigatoriedade do plano diretor, considerando a
totalidade do território municipal. A partir do Estatuto da Cidade o plano diretor municipal deve
conter, no mínimo, disposições sobre a aplicação de seis instrumentos jurídicos e políticos no
planejamento urbano. A seguir o trabalho comenta os seis instrumentos de política urbana do
Estatuto da Cidade, chamados de institutos jurídicos e políticos, que são possíveis de fazer parte
do conteúdo dos planos diretores municipais.
O Estatuto da Cidade (artigos 39 a 44) considera que o plano diretor é o instrumento
básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, e que a propriedade urbana cumpre
sua função social no atendimento às exigências de ordenação da cidade expressas no plano
diretor. Coloca o plano diretor como parte do processo de planejamento municipal, devendo o
plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual conter as diretrizes e as
prioridades nele contidas. Considera que a lei do plano diretor deve ser revista, pelo menos, a
cada dez anos e que deve englobar o território municipal como um todo.

7
Quanto ao conteúdo, o plano diretor além de tratar do desenvolvimento urbano e da
expansão urbana, deve conter a delimitação das áreas urbanas onde poderá haver o
aproveitamento compulsório (art. 5º do Estatuto da Cidade), desde que exista infra-estrutura e
demanda para utilização; também deve conter disposições sobre o direito de preempção
(especificado no art. 25 do Estatuto da Cidade); outorga onerosa do direito de construir
(especificado no art. 28 do Estatuto da Cidade); alteração de uso do solo (detalhado no art. 29 do
Estatuto da Cidade); operações urbanas consorciadas (detalhado no art. 32 do Estatuto da Cidade)
e transferência do direito de construir (cf. o art. 35 do Estatuto da Cidade).
Em resumo, conforme o Estatuto da Cidade (art. 40), o plano diretor deve ser parte do
processo de planejamento municipal, deve expressar as exigências de ordenação da cidade e
também o conteúdo mínimo estabelecido no artigo 42 do Estatuto da Cidade, com previsões para
seis instrumentos de política urbana:

1. parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infra-


estrutura e de demanda para utilização.
2. direito de preempção.
3. outorga onerosa do direito de construir (solo criado).
4. outorga onerosa de alteração de uso.
5. operações urbanas consorciadas.
6. transferência do direito de construir.

Aqui cabe verificar a seguinte questão: toda cidade brasileira com mais de 20 mil
habitantes e todo município paulista precisa de plano diretor cujo conteúdo abrange os itens
acima relacionados?
A resposta, contraditoriamente, é sim, para o conteúdo do plano diretor, mas também
poderá ser não, para a aplicação dos mesmos itens no planejamento e na administração das
cidades.
Em relação ao primeiro item, do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, o
Estatuto da Cidade (art. 42) estabelece que o plano diretor deverá conter a delimitação das áreas
urbanas onde poderá ser aplicada a utilização compulsória. Note-se bem que é necessária a

8
delimitação dessas áreas, mas não é obrigatória a aplicação da utilização compulsória; que poderá
ou não ser aplicada por meio de lei municipal específica.
Em relação aos demais cinco itens, o Estatuto da Cidade (art. 42) menciona que o plano
diretor deverá conter disposições sobre eles. Sobre a outorga onerosa do direito de construir e
sobre a outorga onerosa de alteração de uso, o plano diretor poderá, ou não, fixar áreas para as
suas utilizações. Daí, conclui-se que não existe a obrigatoriedade da sua utilização.
Sobre as operações urbanas consorciadas, da mesma forma, lei municipal baseada no
plano diretor poderá delimitar área para a sua aplicação. Então, não existe a obrigatoriedade para
isto.
A transferência do direito de construir poderá ser autorizada por lei municipal baseada no
plano diretor, portanto também não é obrigatória nas cidades.
Em relação ao direito de preempção, o Estatuto da Cidade (artigos 25 a 27) define que lei
municipal baseada no plano diretor delimitará as áreas em que incidirá esse direito do Poder
Público municipal, porém não estabelece prazo ou penalidades no caso de não utilização.
Marcos Pinto Correia Gomes, advogado e mestre em Direito da Cidade, posiciona-se
contra a obrigatoriedade desses instrumentos urbanísticos, relacionados acima, nos planos
diretores municipais, basicamente porque “é o Município, cada Município, que deve definir os
instrumentos adequados para seu desenvolvimento urbano”. Assim, não considera aceitável a
condição de todos os municípios, obrigados a ter plano diretor, serem forçados a prever nele os
instrumentos urbanísticos aparentemente exigidos pelo artigo 42, I e II da Lei Federal nº
10.257/01 – Estatuto da Cidade.
Qual deve ser o conteúdo do plano diretor, além do conteúdo mínimo definido no Estatuto
da Cidade? Defende-se neste trabalho que o plano diretor municipal seja um plano de urbanismo,
e neste sentido, seu conteúdo inclua o zoneamento urbanístico e territorial com áreas para a
expansão urbana, uma proposta de diretrizes viárias para o território do município; além de
considerações sobre o conteúdo mínimo estabelecido no Estatuto da Cidade.
Roberto Braga (1995) afirma, com base no art. 21 (inciso XX) da Constituição Federal,
que o conteúdo do plano diretor deve abranger a habitação, o saneamento básico e os transportes
urbanos; além do planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano,
ou seja, a ordenação da cidade, definida no art. 30, inciso VIII da Constituição Federal.

9
O mencionado inciso XX do art. 21 estabelece que compete à União instituir diretrizes
para o desenvolvimento urbano inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; e o
referido inciso VIII do artigo 30 determina que compete aos municípios promover, no que
couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano. O controle do uso e da ocupação do solo urbano é
exercido no zoneamento urbano municipal, por meio de parâmetros ou índices urbanísticos.
Nádia Somekh (2009) considera que a Lei de Zoneamento dirige a produção imobiliária
da cidade e, no caso do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, a revisão do zoneamento deveria
ser feita em conjunto com o plano, pois são assuntos relacionados.
Justifica-se a importância de compreender bem o conceito de plano diretor, pelos fatos de
que a Constituição Federal no artigo 182, ao chamar o plano diretor de instrumento básico da
política de desenvolvimento urbano, nada explica sobre o seu conteúdo; e o Estatuto da Cidade
também pouco esclarece o seu conteúdo, colocando o plano diretor como um dos instrumentos de
planejamento municipal, ao lado de outros, como a disciplina do uso e ocupação do solo
(zoneamento urbanístico e territorial) e do zoneamento ambiental; com prazo até 10 de outubro
de 2006 para que os municípios, na condição de obrigatoriedade do plano diretor, viessem a
realizá-lo.
A Constituição Federal e o Estatuto da Cidade colocam o plano diretor municipal como o
definidor da função social da propriedade, sendo que o Estatuto da Cidade indica os imóveis
subutilizados, de certa forma, como os não cumpridores da função social da propriedade urbana.
Mas cabe aos planos municipais definir essa questão, em um plano de diretrizes gerais ou como
um plano de urbanismo.
A Política Urbana na Constituição Federal (05/10/1988), tratada pelos artigos 182 e 183
do Capítulo II, foi regulamentada pela lei nacional nº 10.257, de 10/7/2001, denominada Estatuto
da Cidade, como um instrumento de gestão local, para aplicação na execução da política urbana
nos municípios. Tem como objetivos estabelecer normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana visando o bem coletivo, a segurança ambiental e o bem-
estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (art. 1º do Estatuto da Cidade).
Conforme o jurista Adilson Dallari (em conferência sobre o Estatuto da Cidade, São
Paulo, 21/08/2001), a Constituição brasileira consagrou o direito de propriedade, mas estabeleceu

10
também, no capítulo da política urbana, a função social da cidade, ou seja, uma concepção social
do direito de propriedade.
A Constituição não discutiu a função social da propriedade e deixou para os municípios
discutirem a concepção social da propriedade nos planos diretores municipais. É mister
apresentar aqui dois de seus artigos que auxiliarão na discussão a ser feita:

Artigo 182:- A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder


público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.
Parágrafo 1º: O plano diretor, aprovado pela câmara municipal, obrigatório para
cidades com mais de 20.000 habitantes, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana.
Parágrafo 2º: A propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
[...]
Parágrafo 4º: É facultado ao poder público municipal, mediante lei específica
para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena sucessiva de:
I- parcelamento ou edificação compulsórios;
II- imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III- desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo senado federal, com prazo de resgate de até
dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais.
Artigo 183: aquele que possuir como sua área urbana de até 250 metros
quadrados, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
[...]

11
O Estatuto da Cidade, treze anos após a Constituição, é a lei federal prevista no parágrafo
4º do artigo 182, que possibilita ao poder público municipal exigir do proprietário de terras
urbanas subutilizadas o seu adequado aproveitamento, desde que anteriormente previsto no plano
diretor. Considera-se que a propriedade urbana subutilizada passa a cumprir a sua função social
quando atinge o aproveitamento básico compulsório estabelecido no Plano Diretor.
O Plano Diretor é parte importante do planejamento urbano e tem relação com o
urbanismo, desde o início da sua prática no Brasil.
A expressão Plano Diretor aparece pela primeira vez no Brasil, em 1930, na tradução do
texto original francês para o português do plano de Alfred Agache para o Rio de Janeiro,
chamado “Cidade do Rio de Janeiro: Remodelação, Extensão e Embelezamento” (VILLAÇA,
1999).
Planejamento, Plano e Planeamento são equivalentes. Dessa maneira, por exemplo, o
Ministério do Plano e Finanças existente em Moçambique equivale ao Ministério de
Planejamento e Finanças.
De forma geral, planejamento pode ser definido como processo para racionalizar a tomada
de decisões e a implementação de ações. Envolve a produção de cenários futuros desejados e a
seleção e implementação da melhor alternativa para levar da situação atual para a situação
pretendida.(FRANZONI, 2000)
Planejar, segundo a etimologia da palavra, significa começo da ação (ejar, do latim
idiãre) para aplainar (tornar plano, “liso”, “sem dificuldades”), que tem o mesmo significado
figurado da definição acima.

O Plano Diretor municipal pode ser também um Plano Diretor de Urbanismo, quando
propõe soluções de desenho urbano (projeto urbano). Urbanismo, na concepção ampla de
Françoise Choay (1979), diferente das artes urbanas anteriores ao final do século XIX, é a
disciplina sobre a ciência e a teoria da localização humana (nas cidades), com caráter reflexivo e
crítico.
Conforme a etimologia da palavra, urbanismo divide-se em três partes: Urb/an/ismo,
sendo Urb de Urbe = cidade (do latim: urbis, urbs); ana/ano: noção de proveniência, origem e
ismo: modo de proceder.

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De acordo com o Novo Aurélio, Dicionário da Língua Portuguesa, Século XXI, proceder,
no sentido 4. é: levar a efeito, fazer, executar, realizar; e no sentido 10: Por em prática desígnios
ou intentos, agir, obrar (p1641)
Assim, pode-se definir urbanismo como modo de realizar, executar ou por em prática
intentos relacionados à cidade, ou ao urbano.
O urbanismo abrange os estudos sobre o urbano, o desenho urbano entendido como
projeto urbano e as suas aplicações nas cidades.

A prática do urbanismo no Brasil precisa obedecer à lei nacional de parcelamento do solo


urbano, lei nº 9.785, de 29 de janeiro de 1999, que alterou em alguns pontos a lei 6.766 de 1979.

A lei 6.766, estabelecia a proporção mínima de 35% de áreas públicas (10% de áreas
verdes e de lazer, 5% de áreas institucionais e 20% para ruas, no mínimo) nas glebas a serem
parceladas para fins urbanos, enquanto que a lei 9.785 transfere à legislação municipal a
definição em cada zona dos usos e índices urbanísticos de parcelamento das glebas urbanas.

A partir da lei nº 9.785 a urbanização ou o parcelamento das terras para fins urbanos é
possível em zonas urbanas, de expansão urbana e também em zonas de urbanização específica,
definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. As zonas de urbanização específica
podem ser constituídas fora do perímetro urbano.

Ordenamento urbano e territorial

Nesta parte do trabalho procura-se uma conceituação geral de plano diretor e a sua relação
com a ordem ou ordenamento urbano e territorial, e como essa questão está diretamente associada
com o uso e a ocupação das terras é necessário precisar a diferenciação entre o uso e a ocupação
das terras. Com significado equivalente ao uso e ocupação das terras, as legislações urbanísticas
referem-se ao uso e ocupação do solo, entendido como o uso e a ocupação da camada mais
superficial da crosta terrestre.
A questão do plano diretor municipal é geralmente associada à necessidade de
ordenamento urbano, entendido como o estabelecimento de condições favoráveis para a vida nas
cidades.

13
Topalov (1991, p.29), considera que a questão da ordem urbana existe como uma das
causas da ciência das cidades, a ciência urbana, para recolocar as coisas em seus lugares
apropriados. Assim, existe um sentido natural de que é preciso procurar o ordenamento urbano,
fazer aparecer uma ordem escondida.
Lewis Munford afirma que “o princípio de limitação continua imperativo e as limitações
de gabarito, densidade, superfície, são absolutamente necessários para as relações sociais
reais”. (MUMFORD in CHOAY, 1979).
No planejamento urbano, a procura do ordenamento urbano utiliza conceitos como o uso e
a ocupação das terras (uso e ocupação do solo), zoneamento do solo urbano, além de diferentes
índices que caracterizam a ocupação do solo.
De forma geral, plano diretor refere-se ao planejamento de uso e ocupação das terras
definindo as atividades mais adequadas para cada área do município, ou seja, estabelecendo um
zoneamento de uso e ocupação das glebas, considerando o meio ambiente (geomorfologia e
recursos naturais), o sistema viário, os usos e ocupações existentes, as condições de saneamento
(água, esgoto, drenagem), a infra-estrutura (energia, telefonia, gás) e os equipamentos públicos e
privados.(Adaptado de CARDOSO e QUEIROZ, e de ROLNIK e SOMEKH, in DE GRAZIA,
1990, p.30 e p.87)
Como um plano de urbanismo, o conteúdo do plano diretor municipal, para cidades
médias como Mogi Guaçu, deve incluir o zoneamento urbanístico e territorial, uma proposta de
diretrizes viárias para o território do município; além do conteúdo mínimo estabelecido no artigo
42 do Estatuto da Cidade, com possibilidades para os seis instrumentos de política urbana.
E por quais motivos o zoneamento urbanístico deve ser incluído no plano diretor de
cidades pequenas e médias?
Entende-se que em cidades pequenas e médias os planos diretores consolidados com o
zoneamento urbano são melhores compreendidos pela população, além do fato de que nessas
cidades o zoneamento pode ser simplificado com apenas algumas zonas, ao contrário das grandes
cidades onde o zoneamento é muito detalhado, chegando a ser complicado e de difícil
entendimento.
Tendo em vista a grande falta de infra-estrutura nas cidades brasileiras, principalmente
nas periferias urbanas, Flávio Villaça (1999) considera que a terra equipada com infra-estrutura
urbana, deve ser o principal objetivo do plano diretor municipal. A administração municipal

14
poderá direcionar para a implantação de infra-estrutura urbana, os recursos obtidos com a
aplicação dos institutos jurídicos e políticos do Estatuto da Cidade no plano diretor.
Para o ordenamento urbano, em geral, os setores de planejamento público das cidades
estabelecem um zoneamento urbanístico. Cabe verificar o que se entende como zoneamento
urbano.
Em sentido amplo, entende-se por zoneamento urbanístico e territorial a legislação de uso
e ocupação das terras, ou do solo, que varia no território do município, ou seja, o uso e a
ocupação das glebas de terras urbanas podem ocorrer de forma diferenciada nas diversas partes
da cidade e na parte rural.
Uso das terras refere-se ao tipo de atividade humana em cada terreno, gleba ou terra,
podendo ser: residencial, comercial e serviços, misto, industrial, institucional, de lazer,
agropecuário, extrativista ou de preservação ambiental.

Ocupação das terras refere-se às formas físicas dos diferentes usos dentro dos imóveis. A
ocupação das terras, das glebas ou dos lotes é caracterizada por vários índices1 ou parâmetros de
ocupação, como: taxa de ocupação, recuos das edificações em relação às divisas do terreno, altura
dos edifícios, densidade demográfica líquida, densidade habitacional, taxa de permeabilidade e
coeficiente de aproveitamento.

1
As definições desses índices são as seguintes:
Taxa de ocupação, definida como a porcentagem obtida pela relação entre a projeção horizontal da área coberta
construída e a área do terreno.
Taxa de permeabilidade pode ser definida como a porcentagem obtida pela relação entre a área permeável (sem
pavimento) e a área total do terreno.
Densidade demográfica líquida é definida como a relação entre o número de pessoas que o edifício pode abrigar e a
área do terreno no qual está implantado. É expressa em pessoas por hectare. Calcula-se o número de pessoas
seguindo por exemplo, o critério: duas pessoas em um dormitório, quatro pessoas em dois dormitórios e cinco
pessoas em três dormitórios.
Densidade habitacional, refere-se ao número de habitações por hectare ou quilômetro quadrado.

15
O coeficiente de aproveitamento2 é o índice urbanístico utilizado no Estatuto da Cidade;
em três categorias: mínimo, básico e máximo; para definir o imóvel urbano subutilizado, que é
aquele de área edificada abaixo do coeficiente de aproveitamento mínimo, definido no plano
diretor.
O plano diretor municipal pode conter diretrizes viárias, ou seja, traçados preliminares de
estradas, ruas ou avenidas, que são importantes para o ordenamento urbano e territorial ao
estabelecer, nas áreas a ser ocupadas, traçados principais como suporte das ruas secundárias e das
demais ocupações. São importantes também como vias marginais das rodovias e ferrovias,
permitindo a distribuição do trânsito local com mais segurança.

Os Instrumentos de Política Urbana do Estatuto da Cidade

Conforme o artigo 40 do Estatuto da Cidade (Lei nº. 10.257), o plano diretor municipal,
aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de crescimento e expansão urbana.
É parte do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes
orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.
Deve abranger o município como um todo. A lei que instituir o plano diretor deverá ser
revista, pelo menos, a cada dez anos.
No processo de elaboração do plano diretor e na sua implementação, o poder legislativo e
o executivo garantirão a promoção de audiências públicas e debates com a participação da
população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; a publicidade e
o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos.
Como já visto, a Constituição de São Paulo estabeleceu a obrigatoriedade do plano diretor
para todos os municípios paulistas, no art. 181, devendo considerar a totalidade do território
municipal.
Com o Estatuto da Cidade, o plano diretor municipal é obrigatório para cidades com mais
de 20.000 habitantes; cidades integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
2
Coeficiente de aproveitamento é a relação (divisão) entre a área de edificação e a área do terreno.
O coeficiente de aproveitamento básico é o que pode ser atingido nos imóveis urbanos. O coeficiente de
aproveitamento máximo é usado para definir o máximo de construção que pode ser obtido com a adoção da outorga
onerosa do direito de construir. (Ver Estatuto da Cidade: Artigo 5º, parágrafo 1º e Artigo 28, parágrafos 1º, 2º e 3º)

16
cidades onde o poder público pretenda utilizar os instrumentos previstos no parágrafo 4º do artigo
182 da Constituição Federal; cidades integrantes de áreas de especial interesse turístico e cidades
inseridas na área de influência de empreendimentos com significativo impacto ambiental regional
ou nacional. Em cidades com mais de 500.000 habitantes, deverá ser elaborado um plano de
transporte urbano compatível com o plano diretor (Estatuto da Cidade, artigo 41).
Os municípios brasileiros, nas condições de obrigatoriedade do plano diretor e que não
contavam com plano diretor aprovado na data de entrada em vigor do Estatuto da Cidade
(10/10/2001), deveriam aprová-lo no prazo de 5 anos (10/10/2006).
A partir do Estatuto da Cidade (lei 10.257/2001), os Planos Diretores devem ser
elaborados de forma participativa com a população e podem conter também disposições sobre
seis instrumentos de política urbana (art. 42 do Estatuto da Cidade). Como já constatado neste
trabalho, as disposições no plano diretor, sobre os seis instrumentos de política urbana
relacionados anteriormente, não obrigam necessariamente a sua utilização e sim são facultativos
de utilização.
Conforme o artigo 42 do Estatuto da Cidade, o plano diretor municipal precisa conter um
sistema de acompanhamento e controle social do plano. No art. 43 do referido Estatuto, encontra-
se a sugestão ou talvez, obrigação de que a gestão democrática da cidade deve utilizar, entre
outros instrumentos, órgãos colegiados de política urbana. Estes órgãos colegiados podem ser o
Conselho da Cidade ou o Conselho de Planejamento e Desenvolvimento Urbano.
O Estatuto da Cidade (art. 4º) relaciona os seguintes instrumentos de política urbana: o
planejamento municipal, estadual, metropolitano ou nacional, os institutos tributários e
financeiros, os institutos jurídicos e políticos, o estudo prévio de impacto ambiental e o estudo
prévio de impacto de vizinhança. Detalhadamente, temos:
• Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território.
• Planejamento das regiões metropolitanas.
• Planejamento municipal: plano diretor; disciplina do parcelamento; do uso e da
ocupação do solo (zoneamento urbanístico); zoneamento ambiental; plano plurianual
(PPA), diretrizes orçamentárias (LDO) e orçamento anual (LO); gestão orçamentária
participativa (Orçamento Participativo); planos, programas e projetos setoriais de
desenvolvimento econômico e social.

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• Institutos tributários e financeiros: IPTU- imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana; contribuição de melhoria; incentivos e benefícios fiscais e financeiros.

• Institutos jurídicos e políticos:


desapropriação;
servidão administrativa;
limitações administrativas;
tombamento de imóveis ou mobiliários urbanos;
zonas de conservação;
zonas de interesse social;
parcelamento, edificação ou utilização compulsórios (1);
usucapião especial de imóvel urbano;
direito de superfície;
direito de preempção (2);
outorga onerosa do direito de construir (solo criado) (3) e de alteração de uso (4);
transferência do direito de construir (5);
operações urbanas consorciadas (6);
regularização fundiária;
assistência técnica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos;
referendo popular e plebiscito.

• Estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança


(EIV).

Conforme já visto anteriormente, os instrumentos de política urbana, numerados de (1) a


(6) podem fazer parte do conteúdo mínimo do plano diretor municipal, e passaram a vigorar na
legislação urbanística brasileira após o Estatuto da Cidade (artigo 42), assim como o Estudo
Prévio de Impacto de Vizinhança, sendo que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental foi
estabelecido em 1986 na legislação brasileira, através da resolução nº 001 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente. Porém, como também já foi visto nesta parte do trabalho, este conteúdo
mínimo do plano diretor não é obrigatório no exercício do planejamento e da administração

18
municipal. A seguir são mostradas as condições para a utilização facultativa desses instrumentos
de planejamento urbano, conforme o Estatuto da Cidade.

Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios

Por este instrumento de planejamento, áreas urbanas delimitadas no plano diretor podem
ser objeto de parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de
infra-estrutura e a demanda para utilização.
Lei municipal específica poderá determinar o aproveitamento compulsório destas áreas
urbanas, fixando as condições e os prazos para implementação das obrigações. (art. 5º do Estatuto
da Cidade)
Essa questão constitui um ponto central do Estatuto da Cidade para o planejamento
urbano e foi estabelecido da seguinte maneira:

Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:


I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento,
edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infra-
estrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5o desta Lei;
II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei;
III – sistema de acompanhamento e controle.

Conforme já visto, as disposições requeridas pelos artigos 25, 28, 29, 32 e 35 são: direito
de preempção (art. 25); outorga onerosa do direito de construir (art. 28); alteração de uso do solo
(art. 29); operações urbanas consorciadas (art. 32) e transferência do direito de construir (art. 35).

Imóvel subutilizado

Considera-se subutilizado o imóvel cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido


no plano diretor ou em legislação dele decorrente.
O proprietário será notificado pelo poder executivo municipal para o cumprimento da
obrigação, com notificação averbada no cartório de registro de imóveis.
Os prazos para implementação do aproveitamento não serão inferiores a:

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1 ano para o protocolo do projeto no órgão municipal;
2 anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento.
A conclusão poderá ser prevista em etapas, em empreendimentos de grande porte, porém
o projeto aprovado abrangerá o empreendimento total.
A transmissão do imóvel transfere as obrigações aproveitamento sem interrupção dos
prazos.

IPTU progressivo no tempo

Em caso de descumprimento das condições e prazos previstos para o aproveitamento


compulsório, o município procederá a aplicação do imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo, com aumento da alíquota pelo prazo de 5 anos
seguidos. (art. 7º do Estatuto da Cidade)
O valor da alíquota será fixado na lei específica para o aproveitamento urbano
compulsório e não excederá a duas vezes o valor referente ao ano anterior, até o máximo de 15%.
Caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em 5 anos, o
município manterá a cobrança pela alíquota máxima até que se cumpra a obrigação, ou poderá
proceder a desapropriação do imóvel com pagamentos em títulos da dívida pública.
Após a incorporação do imóvel ao patrimônio público, o município procederá o adequado
aproveitamento do imóvel no prazo máximo de 5 anos, diretamente ou através de alienação ou
concessão do imóvel a terceiros, através de licitação.

Aproveitamento de terras urbanas subutilizadas

O Plano Diretor poderá estabelecer propostas preliminares de urbanismo abrangendo o


desenho urbano nas áreas urbanas delimitadas como subutilizadas ou não utilizadas. O desenho
urbano para estas áreas precisa respeitar as condicionantes ambientais do meio físico, tais como
as áreas de preservação permanentes em faixas de 30 metros ao longo dos córregos de até 10
metros de largura e círculos de 50 metros ao redor das nascentes. Os córregos intermitentes
precisam ser bem avaliados como córregos existentes em estações chuvosas e não apenas como
valos condutores das águas pluviais. As áreas de matas devem ser incorporadas às áreas verdes.

20
Direito de preempção

O Estatuto da Cidade estabeleceu o direito de preempção (direito de preferência) da


seguinte forma:
Art. 25 – O direito de preempção confere ao Poder Público municipal a
preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre
particulares.

§ 1º - Lei municipal , baseada no Plano Diretor, delimitará as


áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará prazo de vigência, não
superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após o decurso do prazo
inicial de vigência.
§ 2º - O direito de preempção fica assegurado durante o prazo de
vigência fixado na forma do § 1º, independentemente do número de alienações
referente ao mesmo imóvel.
Art. 26 – O direito de preempção será exercido sempre que o Poder Público
necessitar de áreas para:
I- regularização fundiária;
II- execução de programas e projetos habitacionais de interesse social;
III- constituição de reserva fundiária;
IV- ordenamento e direcionamento da expansão urbana;
V- implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
VI- criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes;
VII- criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de
interesse ambiental;
VIII- proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico.
Parágrafo Único – A lei municipal prevista no §1º do art. 25 desta
Lei deverá enquadrar cada área em que incidirá o direito de preempção em uma
ou mais finalidades enumeradas neste artigo.
O maior problema para a aplicação do direito de preempção no planejamento urbano, que
a princípio parece ser uma simples opção do Poder Público municipal para adquirir imóveis
particulares, acontece quando é determinado que nas matrículas dos imóveis, nos quais incide o
direito de preempção, fique anotada a obrigação de oferecer também ao poder público, quando da
sua venda.

21
A anotação na escritura como imóvel sujeito ao direito de preempção é entendida pelo
proprietário do imóvel como uma interferência no direito de propriedade3. De certa forma, é uma
interferência no direito de propriedade como até hoje exercido, pois as transações comerciais dos
imóveis com incidência do direito de preempção ficam de conhecimento do poder público, que
pode optar pela aquisição dos mesmos, pelo mesmo valor da transação entre particulares.

Outorga onerosa do direto de construir

O Estatuto da Cidade prevê no artigo 28 o instrumento da outorga onerosa do direito de


construir, também conhecida como solo criado, da seguinte maneira.

O Plano Diretor poderá fixar áreas nas quais o direito de construir poderá
ser exercido acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado, mediante
contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.
§1º - Para os efeitos desta Lei, coeficiente de aproveitamento é a relação
entre a área edificável e a área do terreno.
§2º - O Plano Diretor poderá fixar coeficiente de aproveitamento básico
único para toda a zona urbana ou diferenciado para áreas específicas dentro da
zona urbana.
§3º - O Plano Diretor definirá os limites máximos a serem atingidos pelos
coeficientes de aproveitamento, considerando a proporcionalidade entre a infra-
estrutura existente e o aumento de densidade esperado em cada área.

Outorga onerosa de alteração de uso

Com este instrumento de planejamento urbano, previsto no artigo 29 do Estatuto da


Cidade, o plano diretor poderá fixar áreas nas quais poderá ser permitida alteração de uso do solo,
mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário. É preciso notar que neste caso trata-se de
uso do solo em todo o município e não somente o solo urbano. Deve-se ressaltar que a alteração

3
Uma situação deste tipo ocorreu em Mogi Mirim, cidade vizinha de Mogi Guaçu, em 2003, quando uma proposta
de revisão do plano diretor pretendeu a incidência do direito de preempção em alguns imóveis de interesse histórico
na cidade, porém em audiência pública, os proprietários dos mesmos manifestaram-se veementemente contra essa
possibilidade.

22
de uso do solo no município não pode ser apenas mais uma forma de arrecadação municipal,
utilizada sem critérios bem justificados.
As condições para a alteração de uso do solo referem-se às formas de cobrança,
contrapartida e de isenção, não havendo nenhuma referência sobre condições de planejamento
urbano para a sua aplicação.

Art. 30 – Lei municipal específica estabelecerá as condições a serem observadas


para a outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso,
determinando:

I- a fórmula de cálculo para a cobrança;


II- os casos passíveis de isenção do pagamento da outorga;
III- a contrapartida do beneficiário.

Aplicação dos recursos da outorga onerosa

Conforme o artigo 31 do Estatuto da Cidade, os recursos auferidos com a adoção da


outorga onerosa do direito de construir e de alteração no município, serão aplicados nas
finalidades previstas no artigo 26 da mesma lei, ou sejam:

I- regularização fundiária;
II- execução de programas e projetos habitacionais de interesse social;
III- constituição de reserva fundiária;
IV- ordenamento e direcionamento da expansão urbana;
V- implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
VI- criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes;
VII- criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de
interesse ambiental;
VIII- proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico.

Como os recursos auferidos com a adoção da outorga onerosa de alteração de uso do solo
têm finalidades específicas para aplicação, poderão constituir um Fundo de Urbanismo, para a
aplicação nas finalidades previstas acima, que podem ser na cidade ou no município como um
todo, como na criação de unidades de conservação ou proteção de áreas de interesse ambiental.

23
Transferência ou Alienação do Direito de Construir

O Art. 35 do Estatuto da Cidade estabelece que lei municipal, baseada no Plano Diretor,
poderá autorizar proprietários urbanos a exercerem em outro local, ou alienarem, o direito de
construir, quando seus imóveis forem necessários para:

I - implantação de equipamentos urbanos e comunitários;


II - preservação histórica, cultural, social, ambiental ou paisagística;
III - regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de
baixa renda e habitação de interesse social.

A mesma faculdade poderá ser concedida ao proprietário que doar ao município seu
imóvel, ou parte dele, para os fins acima previstos.

Operações Urbanas Consorciadas

O Estatuto da Cidade, em seu artigo 32, considera operação urbana consorciada o


conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a
participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o
objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a
valorização ambiental.

§ 2º - Poderão ser previstas nas operações urbanas consorciadas, entre outras


medidas:

I- a modificação de índices e características de parcelamento, uso e


ocupação do solo e subsolo, bem como alterações das normas edilícias,
considerado o impacto ambiental delas decorrente;
II- a regularização de construções, reformas ou ampliações executadas em
desacordo com a legislação vigente.

24
Em seguida, o artigo 33 do Estatuto da Cidade, estabelece que na lei específica, que
aprovar a operação urbana consorciada, constará o plano da operação urbana consorciada de
conteúdo mínimo:

I - definição da área a ser atingida;

II - programa básico de ocupação da área;

III - programa de atendimento econômico e social para a população diretamente


afetada pela operação;

IV - finalidade da operação;

V - estudo prévio de impacto de vizinhança;

VI - contrapartida a ser exigida dos proprietários, usuários permanentes e


investidores privados em função da utilização dos benefícios previstos nos
incisos I e II do § 2º do art. 32 desta Lei;

VII - forma de controle da operação, obrigatoriamente compartilhado com


representação da sociedade civil.

O parágrafo 1º do artigo 33 estabelece que os recursos obtidos pelo Poder Público


municipal, serão aplicados exclusivamente na própria operação urbana consorciada. Deve-se
assinalar a obrigatoriedade de participação da comunidade no controle compartilhado da
operação urbana consorciada.

O Plano Diretor municipal poderá delimitar áreas urbanas ou prever formas possíveis para
aplicação de operações urbanas consorciadas, que serão detalhadas através de lei municipal
específica.

Instrumentos da sociedade para participação na política urbana

O Estatuto da Cidade também estabelece, no artigo 43, o uso dos seguintes instrumentos
para garantir a gestão democrática das cidades:
• Órgãos colegiados de política urbana nos municípios;
• Debates, audiências e consultas públicas;

25
• Conferências sobre assuntos de interesse urbano;
• Iniciativa popular de projetos de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento
urbano.
Como órgão colegiado de política urbana, parece apropriada a instituição do Conselho da
Cidade para debater, com caráter consultivo ou deliberativo, questões referentes ao planejamento
urbano e territorial municipal e também para discutir a aplicação de recursos originários da
adoção da outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso. Conferências da Cidade
podem discutir sobre assuntos de interesse urbano e do município, a cada ano ou biênio, com a
participação dos diversos segmentos da comunidade.

Conteúdo de plano diretor para cidades pequenas e médias

Em resumo, o plano diretor para cidades pequenas e para cidades médias, elaborado como
um plano de urbanismo, abrangendo as possibilidades de aplicação ou de não aplicação do
conteúdo mínimo estabelecido no Estatuto da Cidade poderá ser o instrumento básico do
planejamento urbano, tendo em vista o crescimento e desenvolvimento das cidades. Como
também o zoneamento urbanístico e territorial e as diretrizes viárias para o município. O plano
diretor definirá a função social da propriedade urbana e um dos pontos da função social é a
utilização plena ou adequada do imóvel. Ao estabelecer o coeficiente mínimo de aproveitamento
dos imóveis urbanos em determinadas áreas, delimitadas em mapa, o plano diretor definirá
padrões mínimos de utilização. Caso o imóvel urbano possua coeficiente de aproveitamento
abaixo do estabelecido no plano diretor, o imóvel será considerado subutilizado.
A terra equipada, com infra-estrutura urbana, deve ser um dos principais objetivos do
plano diretor municipal.
O plano diretor poderá também, avançar em propostas de urbanismo abrangendo o
desenho urbano nas áreas urbanas delimitadas como subutilizadas ou não utilizadas,
exemplificando assim, para a comunidade, para os proprietários e para os incorporadores
imobiliários um aproveitamento possível dessas terras urbanas.
Aqui é necessário destacar que a Lei Orgânica de Mogi Guaçu (art. 150), de forma
adequada e coerente, determinou a necessidade de elaboração de um Plano Municipal de Meio
Ambiente e Recursos Naturais anteriormente ao Plano Diretor e à Lei de Zoneamento. Este Plano

26
embasaria a questão da expansão urbana em terras apropriadas sob os aspectos ambientais e seria
de muita utilidade para o planejamento urbano de Mogi Guaçu, mas ainda não foi realizado.
Em relação aos recursos obtidos com a possível adoção dos instrumentos do Estatuto da
Cidade, considera-se que poderão constituir um Fundo de Urbanismo, para o desenvolvimento
urbano e municipal.
O artigo 31 do Estatuto da Cidade, condiciona que os recursos provenientes da adoção das
outorgas onerosas, do direito de construir e da alteração de uso, serão aplicadas nas finalidades de
melhoramentos urbanos, reserva fundiária municipal, criação de unidades de conservação, todas
previstas nos incisos I a X do artigo 26 do referido Estatuto.
A instituição de um Conselho da Cidade e a realização periódica de audiências públicas e
de Conferências da Cidade são possibilidades para a discussão e para a avaliação do
desenvolvimento urbano e também do plano diretor municipal, quando existente ou na elaboração
do plano diretor.

27
2.2 Práticas Imobiliárias Modeladoras do Espaço Urbano

Lobato Corrêa (1989, p.80) indica como uma questão a ser pesquisada, as práticas dos
proprietários fundiários e dos promotores imobiliários, como modeladores do espaço urbano, ao
lado do Estado e dos grupos sociais excluídos.
Proprietários fundiários e promotores imobiliários realizam práticas modeladoras do
espaço urbano, para a valorização das frações do território, por meio do parcelamento das terras e
a construção de conjuntos comerciais e de moradias.
Porém, grande parte do espaço das grandes cidades brasileiras é fruto de uma enorme
ocupação ilegal das terras e representam uma exclusão urbanística. O urbanismo, entendido como
planejamento e regulação urbanística, não abrange a realidade das cidades como um todo, e assim
é uma ordem para apenas uma parte das cidades. A cidade ilegal é freqüentemente desconhecida
dos órgãos oficiais e das universidades, assim não é nem representada nos mapas oficiais; e conta
com as anistias promovidas pelos legislativos periodicamente, para a regularização de imóveis,
em uma relação de favorecimentos oficiais e ultrapassados. O mercado imobiliário é restrito e
especulativo, e utiliza-se de aplicações parciais das leis e dos Planos Diretores, conforme uma
relação de favores com as administrações públicas (cf. MARICATO, in ARANTES, 2000,
p.121/123).
As práticas modeladoras do espaço urbano, desempenhadas pelos proprietários fundiários
e os promotores imobiliários precisam obedecer à legislação federal (Lei 6.766/79, alterada pela
Lei 9.785/99), e às leis municipais de parcelamento do solo e de planejamento urbano que
estabelecem índices urbanísticos e exigências para a implantação de infra-estrutura. Também
precisam atender às diretrizes de urbanismo específicas para cada parcelamento do solo, que são
estabelecidas pelos setores, departamentos e secretarias municipais de planejamento urbano.
Conforme a legislação federal citada acima, o parcelamento do solo para fins urbanos,
pode ser realizado, mediante loteamentos ou desmembramentos, em zona urbana, zona de
expansão urbana ou zona de urbanização específica, definidas pelo Plano Diretor ou lei
municipal. As zonas de urbanização específica podem abranger glebas no meio de zonas rurais,
para fins urbanos. Nos desmembramentos, a subdivisão da gleba, em lotes para edificação, usa o
sistema viário já existente.
Os loteamentos devem contar com infra-estrutura básica e equipamentos urbanos de
escoamento de águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de

28
água potável, e de energia elétrica pública e domiciliar, com as vias de circulação pavimentadas
ou não.
Porém, as cidades podem ter legislação para exigir infra-estrutura completa com
pavimentação das ruas, sinalização, arborização e também sistema de tratamento de esgotos, nos
municípios que não contam com esse serviço público.
A infra-estrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais declaradas
por lei municipal como de interesse social (ZHIS) abrange as vias de circulação, o escoamento de
águas pluviais, rede de água potável e solução para o esgotamento sanitário e para a energia
elétrica domiciliar.
A definição de lote, conforme o art. 2º da Lei 9.785, é a seguinte: considera-se lote o
terreno servido de infra-estrutura básica, de dimensões que atendam aos índices urbanísticos
definidos pelo plano diretor municipal ou lei municipal para a zona em que se situe o lote.

Como já foi visto, em relação à exigência de áreas públicas nos loteamentos, ou sejam, as
áreas para o sistema de circulação, implantação de equipamentos urbanos e espaços livres de uso
público, a lei 6.676/79 estabelecia uma porcentagem mínima de 35% da gleba, sendo que nos
loteamentos de uso industrial, com lotes maiores do que 15.000m2, a porcentagem de áreas
públicas poderia ser reduzida.

De maneira geral, em diversas cidades do estado de São Paulo, como em Mogi Mirim e
também em Mogi Guaçu, as legislações municipais estabelecem áreas mínimas de 10% da gleba
para áreas de recreação e verdes (espaços livres de uso público), e de 5% da gleba para áreas
institucionais (equipamentos urbanos e comunitários). Porém, a Lei federal 9.785/99 deixou de
exigir 35% da gleba para as áreas públicas mínimas necessárias e permitiu aos municípios o
estabelecimento de porcentagens de áreas públicas e índices urbanísticos diferentes para as
diversas áreas da cidade. Assim, as áreas destinadas a sistema de circulação, a implantação de
equipamento urbano e comunitário e os espaços livres de uso público, devem ser proporcionais à
densidade de ocupação prevista pelo plano diretor, ou lei municipal, para a zona de uso em que se
situa a gleba a ser parcelada (cf. art. 4º da lei 9.785).

Assim, além do conteúdo mínimo do plano diretor conforme o Estatuto da Cidade, já


exposto, o plano diretor poderá conter as densidades de ocupação para cada área ou zona urbana e
a vinculação das áreas ou zonas com porcentagens diferenciadas de áreas públicas. Neste caso, o

29
plano diretor municipal será adequado à Lei 9.785, o que não ocorreu no caso do plano diretor de
Mogi Guaçu, de 2008.

Além das áreas destinadas para os espaços livres de uso público, também constituem
áreas verdes nos parcelamentos, as áreas de preservação permanentes que margeiam os córregos
e rios, as áreas alagadiças, as áreas ao redor das nascentes e outras, sendo que essas áreas podem
constituir zona de proteção ambiental.
As áreas de preservação permanente têm as dimensões definidas pelo Código Florestal
(Lei Federal 4.771, de 15/9/1965, alterado pela Lei Federal 7.803 de 18/7/1989) e pela Resolução
CONAMA nº 303/02.
Conforme a Resolução nº 303/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, constituem
áreas de preservação permanente as áreas situadas:

I- na faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção


horizontal, com largura mínima de:
a- 30 metros, para o curso d’água com menos de 10 metros de largura;
b- 50 metros, para o curso d’água com 10 a 50 metros de largura;
c- 100 metros, para o curso d’água com 50 a 200 metros de largura;
d- 200 metros, para o curso d’água com 200 a 600 metros de largura;
e- 500 metros, para o curso d’água com mais de 600 metros de largura;
II- ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio
mínimo de 50 metros, de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia
hidrográfica contribuinte;
III- ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de:
a- 30 metros, para os que estejam em áreas urbanas consolidadas;
b- 100 metros, para os que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d’água
com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 metros;
IV- em vereda, ou seja, local brejoso ou encharcado, e em faixa marginal, em
projeção horizontal, com largura mínima de 50 metros a partir do limite do local
brejoso e encharcado;
V- no topo de morros, em áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura da elevação em relação a base;
VI- em encosta com declividade superior a 100 por cento ou 45 graus;
VII- locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias.

30
Conforme a Lei 9.785/99, o plano diretor, ou lei municipal, também definirá, para cada
zona de uso do espaço em que se divide o território do município, os usos permitidos e os índices
urbanísticos das áreas mínimas e máximas de lotes e os coeficientes máximos de aproveitamento.
Dessa maneira, a legislação federal permite aos municípios a definição de índices urbanísticos
locais, vinculados aos planos diretores dos municípios ou às leis de urbanismo.

Assim, os municípios podem exercer o planejamento urbano de forma mais ampla e


diversificada do que a forma prevista anteriormente no art. 4º da Lei federal 6.766/79, que
estabelecia a porcentagem fixa de 35% de áreas públicas nos loteamentos, incluindo as áreas
verdes (espaços livres de uso público), áreas institucionais (para implantação de equipamento
urbano e comunitário) e o sistema de circulação.

Os empreendimentos imobiliários, antes de serem aprovados, precisam solicitar diretrizes


de planejamento urbano, fornecidas pelos municípios. As diretrizes de planejamento para os
empreendimentos imobiliários vigoram pelo prazo máximo de quatro anos (art. 7º da Lei
9.785/99), sendo que após este prazo as diretrizes perdem a validade.
Os municípios com menos de 50.000 habitantes e também aqueles cujo Plano Diretor
contiver diretrizes de urbanização para a zona em que se situe a gleba a ser parcelada, podem
dispensar, por lei, a fase de fixação de diretrizes para a aprovação de loteamento.
Os projetos de parcelamento das terras com mais de 1.000.000 de metros quadrados (100
hectares), também precisam de aprovação ambiental estadual.
Loteamentos fechados, também chamados incorretamente de “condomínios fechados”,
não são abrangidos pela legislação federal em vigor, pois a lei dos condomínios – Lei
4.591/1964, estabelece que os condomínios são formados por edificações e não por lotes:

“Art 1º- As edificações ou conjuntos de edificações, de um ou mais


pavimentos, construídos sob a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a
fins residenciais ou não-residenciais, poderão ser alienados, no todo ou em parte,
objetivamente considerados, e constituirá, cada unidade, propriedade autônoma
sujeita às limitações desta Lei”.

Portanto, loteamentos (parcelamentos do solo urbano com abertura de vias de circulação)


sem edificações em todos os lotes, não podem constituir condomínios, fechados ou não.

31
Prefeituras estabelecem, às vezes, legislações municipais para loteamentos fechados,
porém essas legislações não conseguem superar a questão principal da existência de áreas
públicas (ruas, áreas verdes, institucionais e de lazer), situadas dentro dos muros e separadas do
restante da cidade, sem acesso público. Nos casos de loteamentos fechados em zona rural, a
questão de uso público pode se tornar menos problemática, porém locais de interesse cultural e
paisagístico podem ficar sem acesso. De toda maneira o acesso público não pode ser impedido
nos loteamentos fechados, ao contrário dos verdadeiros condomínios fechados onde o acesso
público pode ser impedido por se tratar de imóvel particular. As glebas de terras para loteamentos
ou condomínios na zona rural têm de constituir zona urbana delimitada, ou melhor, zona de
urbanização específica, prevista pela lei nº 9.785/99.
Os loteamentos fechados ou murados precisam ser bem estudados antes de sua
implantação para não se tornarem lugares de exclusão, por não terem acesso público ao seu
interior e também pelas ruas desertas que podem se constituir ao longo de seus perímetros
murados.
Além destas questões relevantes existe o fato de que os loteamentos fechados não podem
impedir a ligação para outros lugares da cidade onde se encontra.
De forma geral, se questionados por cidadãos, os loteamentos fechados são aceitos pelo
Ministério Público quando proporcionam segurança aos moradores e não são impedimentos de
acesso para outras partes das cidades ou para outros lugares dos municípios.
Encontra-se em análise no Congresso Nacional projeto de uma nova lei para loteamentos,
que poderá abranger a questão dos loteamentos fechados com a denominação de Condomínios
Urbanísticos.

32
2.3 Planejamento para a vitalidade das cidades

A pesquisa abrange o estudo das propostas de três importantes autores que procuraram
estabelecer princípios e diretrizes para o planejamento urbano. Inicia com a teoria da Cidade-
Jardim de Ebenezer Howard na passagem do século 19 para o século 20; em seguida verifica
algumas das proposições do arquiteto Le Corbusier na primeira metade do século 20 e finaliza
com as propostas de Jane Jacobs, elaboradas no início da década de 1960.
Em seu livro Cidades-Jardins de Amanhã, Howard (2002, p.191) apresenta suas ideias não
apenas para uma cidade, mas para aglomerados de cidades de populações máximas entre 30.000 e
54.000 habitantes4, como alternativa ao crescimento de Londres com aproximadamente 5 milhões
de habitantes por volta de 1900. O tamanho das cidades-jardins preconizado por Howard, tinha a
finalidade da preservação do espaço urbano próximo do setor agrícola, e a intenção de construção
de novas cidades, onde seria possível o estabelecimento de uma “sociedade na qual o amor
próprio a si mesmo nos leva a insistir numa maior consideração pelo bem-estar de nossos
semelhantes”.
A sua representação gráfica da cidade-jardim (Figura 2.3.1), de forma circular, ressalta
corretamente que era apenas um diagrama e a implantação deveria considerar o sítio selecionado
para o projeto da cidade. A área da cidade ocupava 400 hectares, um sexto do total municipal de
2.400ha que incluía a zona agrícola. No centro, localizavam-se os edifícios públicos: a sede da
municipalidade, as salas de concertos e conferências, o teatro, a biblioteca, o museu, a galeria de
arte e o hospital, disposto como um belo e irrigado jardim. Seis avenidas ou bulevares com 36
metros de largura conduziam ao centro. Ao redor deste do centro, haveria um parque central de
56ha com grandes áreas de recreação, circundado por um Palácio de Cristal.
Os lotes para residências, com área mínima de 186 metros quadrados e dimensões de 6,10
x 30,50 metros somariam 5.500 unidades, em um sistema de arrendamento por 99 anos. Haveria
também a Grande Avenida com 128 m de largura dividindo a cidade em duas faixas circulares.
As fábricas e armazéns seriam implantados na parte externa da cidade, defronte a via férrea e
teriam os maquinários movidos à eletricidade.
A administração e o controle da cidade e do município seriam de uma Junta
Administrativa para o direcionamento da iniciativa municipal, organizada conforme o modelo de

4
As populações totais, incluindo os moradores da zona agrícola, seriam de 32.000 pessoas e de 58.000 pessoas.

33
uma grande empresa e de forma que a responsabilidade por cada setor da administração seria
assumida diretamente pelos funcionários daquele setor.

Figura 2.3.1 – Diagrama de Ebenezer Howard para a cidade-jardim

Fonte: Benevolo, 1974, p.400.

Letchworth foi a primeira cidade-jardim implantada, conforme a teoria de Howard e


localizada a aproximadamente 50 km ao norte de Londres, a partir de 1903, com a compra de
1.546ha para uma área urbana de 505ha, pela companhia First Garden City Ltd. Com a previsão
de 30.000 habitantes, a cidade de Letchworth atingiu 26.000 habitantes somente em 1962 (Cf.
Ottoni, 2002, p.45). O plano inicial dos arquitetos Raymond Unwin e Barry Parker5, e também a
fotografia aérea atual são mostrados nas figuras 2.3.2 e 2.3.3 a seguir.

5
Os mesmos arquitetos são os autores do projeto do loteamento paulistano Jardim América, em 1919 (Cf. Ottoni,
2002, p.72).

34
Figura 2.3.2 – Planta de Letchworth, a primeira cidade-jardim

Fonte: Benevolo, 1974, p.400.

35
Figura 2.3.3 – Letchworth: fotografia aérea atual

Fonte: Google Earth, 28/02/2009

Em 1919 Howard funda uma segunda sociedade e começa a construção da cidade de


Welwyn, localizada aproximadamente na metade do percurso entre Londres e Letchworth. Com
previsão de população total de 50.000 habitantes, alcança 35.000 habitantes antes da segunda
Guerra Mundial. Porém, o cinturão agrícola perde a importância econômica nas duas cidades-
jardins e se reduz às áreas verdes circundantes das suas zonas urbanas. No caso de Welwyn, a
proximidade de Londres proporciona a possibilidade de trabalhar na metrópole e residir na
cidade-jardim. A cidade-jardim, enfim, torna-se uma cidade como as demais, submetida à atração
da metrópole, restando da concepção original a elegância dos traçados das ruas, a uniformidade
dos edifícios e a distribuição das áreas verdes. A teoria e o movimento de Howard tiveram uma

36
grande influência na Europa e assim, grande número de subúrbios das principais cidades
adotaram a forma de cidades-jardins (Cf. Benevolo, 1974, p.401).
A proposta da cidade-jardim e o projeto de Letchworth mostram o zoneamento urbano
como um dos fundamentos da nova cidade, com quatro zonas de uso do solo: residencial,
industrial, comercial e as áreas verdes.
Como visto acima, da ideia original da cidade-jardim permaneceu a parte formal de ruas
curvas e áreas verdes, com resultados palpáveis em loteamentos arborizados. A distância dos
centros urbanos, outra ideia da cidade-jardim, também aparece em projetos de loteamentos
murados ou também em condomínios horizontais fechados, muitas vezes com apelos ou
motivações de proximidade da natureza. Por outro lado, loteamentos populares afastados das
áreas mais centrais das cidades, são também chamados de jardins, o que aparece apenas como um
recurso de mercado sem constituir uma prática imobiliária real.

Le Corbusier, um dos arquitetos mais influentes da arquitetura moderna, também foi um


dos maiores teóricos do urbanismo progressista ou racionalista, característico do movimento
moderno no século XX. Considerou a vida nos subúrbios um engano, onde o campo tornou-se
uma zona imensa sem plano e sem ligação com a aglomeração. “Esta teoria, nas cidades-jardim
da Inglaterra, dos Estados Unidos, criou a desarticulação do fenômeno urbano” (LE
CORBUSIER, 1979, p.22).
Procurou maneiras de evitar que as cidades se estendam e se diluam, perdendo a forma e a
alma; assim, considerou que a solução é conferir altura às construções para ganhar terreno em
torno delas (Cf. Le Corbusier, 2008, p.12 e p.87). Sua maneira de pensar o urbanismo abrangia a
reunificação da propriedade fundiária urbana em uma renovação pela arquitetura e pelo
urbanismo, com a demolição do casario existente e a implantação de edifícios, com a orientação
racional da morada, onde a cidade pouco a pouco se transforma em um parque, e ocorria a
abolição da tirania da rua, local principal de circulação.
As figuras mostradas a seguir exemplificam sua ideia de separação entre os pedestres e os
automóveis, e a construção dos imóveis em meio às áreas verdes. O projeto do plano piloto de
Brasília, apresentou também estes princípios, como parte da concepção urbanística de Lúcio
Costa.

37
Figura 2.3.4 – Separação de pedestres e automóveis (Le Corbusier)

Fonte: Le Corbusier, 1979, p.49.

38
Figura 2.3.5 – Imóveis na cidade, conforme Le Corbusier

Fonte: Le Corbusier, 1979, p.50.

Esta breve exposição evidencia as propostas de Le Corbusier, como exemplos de um


planejamento racional e organizado em todos os detalhes do espaço urbano, onde não haveria
possibilidades de existência da cidade espontânea e certamente desorganizada, conforme a sua
visão. Deve-se considerar também que as suas ideias referem-se às grandes cidades, com grandes
populações, problemas de circulação, necessidades de habitações com qualidades ambientais e
necessidade de áreas verdes.

39
Em relação às ideias de Le Corbusier para o planejamento regional, destaca-se sua
proposta de fábrica verde, em centros industriais lineares ao lado das vias entre cidades:

Os edifícios são dispostos segundo as necessidades do terreno e as exigências da


fabricação; suas formas, suas dimensões são, em cada caso, proporcionais às
funções. A luz é larga e sistematicamente distribuída nas oficinas por
dispositivos apropriados.
Mas, em determinados lugares, quando o sol não incomodar, aberturas verticais
serão abertas, sobre perspectivas paisagísticas judiciosamente reservadas ou
regulamentadas. Os espaços entre os edifícios constituirão conjuntos
harmoniosos com vastas extensões de céu e de perspectivas sobre lugares
longínquos. A relva está justamente ao pé dessas vidraças aberta sobre o campo:
as árvores são mantidas e outras são plantadas para vestir o lugar. [...] Este é um
exemplo inteiramente ocasional da fábrica verde, que pode servir de norma
quando da constituição das cidades lineares industriais. (LE CORBUSIER,
1979, p.143)

Figura 2.3.6 – A fábrica verde de Le Corbusier

Fonte: Le Corbusier (1979, p.141)

40
Para Jane Jacobs (2000, p.1), seu trabalho Morte e Vida de Grandes Cidades, escrito no
início da década de 1960, aborda o funcionamento das cidades na prática, principalmente e
basicamente as grandes cidades norte-americanas. É uma tentativa de introduzir novos princípios
no planejamento urbano, diferentes e em oposição ao planejamento urbano moderno, cujos
princípios e objetivos procuram estabelecer a ordem na desordem das cidades. Argumenta que o
funcionamento das cidades na prática é a única forma de saber que princípios de planejamento e
quais iniciativas de reurbanização conseguem promover a vitalidade socioeconômica nas cidades
e quais práticas e princípios a inviabilizam.
As grandes cidades são muito diferentes das cidades médias e pequenas e se tentarmos
entender as cidades menores com base nas metrópoles, a confusão será maior do que tentar
entender as cidades grandes com base no comportamento e no suposto funcionamento das
cidades menores (cf. JACOBS, 2000, p.15).
Para a autora (Jacobs, 2000, p.23), Le Corbusier foi o arquiteto europeu que propôs o
planejamento anticidade dentro das cidades, ao imaginar nos anos de 1920, uma cidade chamada
Ville Radieuse formada por 24 grandes edifícios em meio a um parque, resultado da demolição
de uma grande área de Paris. Com esta colocação fica evidente o interesse da autora pela vida
urbana com possibilidade de encontro social informal entre as pessoas e que esta possibilidade
ocorre nas ruas com calçadas de tamanho apropriado à circulação de pedestres e com a existência
de comércio e serviços diversificados, e com alta densidade populacional.

Apresenta-se a seguir modos de análise para compreender as cidades, com base nas
propostas de Jacobs (2000, p.491), tendo por objetivo a verificação das possibilidades de aplicá-
los nos planos diretores de cidades médias brasileiras.

1- Refletir sobre os processos.


As cidades e os seus elementos abrangem processos urbanos; e é preciso pensar nos
catalisadores desses processos. Os processos urbanos podem ser compreendidos por quase todos
e não apenas por especialistas, e ao compreender esses processos podemos dar-lhes direção, se
quisermos.
Para isso é de importância a realização e audiências públicas, tendo em vista a
participação popular para a elaboração dos planos diretores, conforme é exigido no Estatuto da
Cidade (Art. 40, §4º), ou seja, no processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização da sua

41
implementação o Poder Legislativo e o Executivo garantirão a promoção de audiências públicas e
debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos
da comunidade.

2- Usar de indução, raciocinando do particular para o genérico e não o contrário, usar de


dedução, raciocinando do genérico para o particular.
Os urbanistas, foram treinados e formados no raciocínio dedutivo. Por outro lado, o
raciocínio indutivo pode compreender particularidades e pode ser praticado por cidadãos comuns,
que não são acostumados a pensar sobre um lugar de maneira genérica ou abstrata.
Não basta aos planejadores e administradores conhecer serviços e técnicas específicas,
mas precisam conhecer a fundo os lugares específicos. O conhecimento específico dos lugares,
importante para evitar generalizações, pode ser adquirido com informações dos próprios
moradores do lugar, que têm conhecimentos sobre esses lugares específicos e únicos, pois não há
quem mais saiba a respeito. O conhecimento local é imprescindível para o planejamento urbano e
as áreas de atuação dos planejadores não podem ser muito extensas, pois deixa de focalizar o
local específico e é muito difícil conhecer uma cidade por inteira ou um grupo de bairros com o
detalhamento necessário (cf. JACOBS, 2000, p. 456).

3- Procurar índices sobre quantidades pequenas de coisas, que revelem como funcionam
quantidades médias e maiores. Os índices precisos sobre quantidades pequenas de coisas
informam como as coisas estão funcionando, por exemplo, os horários de funcionamento do
comércio informam sobre a permanência das pessoas nas vias públicas do local.
Neste sentido, é preciso considerar a existência de pontos de interesse, ou de elementos
irregulares, como indispensável para as cidades cheias de vida, sendo também importantes como
indícios para análise urbana. Irregularidades, nestes casos, têm o sentido de diferença e de ponto
de interesse. Os planejadores urbanos, ao exercer a ciência do planejamento urbano e a arte do
desenho urbano, não podem considerar as irregularidades, ou pontos de interesse urbano, como
incoerentes ou fora de padrão, mas como geradores de vitalidade urbana (cf. JACOBS, 2000,
p.493).

42
Além da análise para compreender as cidades, é preciso que o planejamento urbano tenha
objetivos específicos, e neste trabalho concorda-se com Jacobs (2000, p.454/455), que o objetivo
do planejamento urbano é conseguir a vitalidade urbana com a diversidade de usos, em locais
específicos da cidade; sendo metas do planejamento urbano para obter a vitalidade urbana:
1- Estimular a diversidade de usos e de usuários para a vitalidade social e como alicerce
da força econômica.
2- Interpenetração de vizinhanças, cujos usuários e proprietários possam dar uma
contribuição para a segurança.
3- Evitar fronteiras desertas e ajudar a promover a identificação das pessoas com os
distritos extensos.
4- Estimular forças econômicas construtivas e projetos pessoais, em meio à diversidade
em uma área mais ampla da cidade.
5- Explicitar a ordem visual das cidades, por meio da promoção e da compreensão da
ordem funcional6.
Estas metas estão inter-relacionadas e os responsáveis pelo diagnóstico urbano, pela
elaboração de táticas e pela recomendação de medidas de revitalização precisam ter um
conhecimento detalhado sobre os lugares específicos e únicos da cidade, e não um conhecimento
generalizado. Pode-se adquirir boa parte das informações com os próprios moradores do lugar,
que têm conhecimentos sobre esses lugares específicos e únicos, pois não há quem mais saiba a
respeito.
No caso da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu de
2008, a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano realizou audiências públicas em
2006, para adquirir informações com os próprios moradores da cidade e do distrito de Martinho
Prado.
Os cinco itens relacionados acima podem fazer parte dos planos diretores de cidades
médias como Mogi Guaçu, de diversas formas, no zoneamento urbanístico, nas diretrizes viárias
e no planejamento de áreas de lazer.

6
Para explicitar a ordem visual da cidade pode-se utilizar a comunicação visual para indicação dos lugares e dos
prédios públicos e privados, inclusive a distribuição de mapas da cidade. Também por meio do urbanismo, com ruas,
avenidas, prédios e marcos visuais naturais ou construídos.

43
Tendo por objetivo a vitalidade urbana, se pode abordar essas questões no zoneamento
urbanístico dos planos diretores municipais, possibilitando usos diferentes em uma mesma área:
habitação unifamiliar, habitação multifamiliar, comércio e serviços. Também devem ser evitados
os núcleos habitacionais populares sem comércio e serviços.
Uma forma de evitar fronteiras desertas é a permissão ou previsão de lotes comerciais, de
serviços, habitacionais ou institucionais na parte externa dos condomínios fechados, e também
dos loteamentos fechados, evitando assim os muros extensos e desertos.
A implantação de áreas de lazer menores para o atendimento de áreas menores da cidade
também pode evitar as áreas verdes grandes, desertas e inseguras.
Em outra escala, a implantação de áreas de lazer para atendimento de áreas maiores da
cidade deve ocorrer com comércio e serviços nas proximidades ou na própria área de lazer para
evitar áreas desertas. A forma de parques lineares junto aos córregos urbanos permite a existência
de residências próximas, assim como o comércio e os serviços.
A implantação de sinalização informativa dos lugares, com placas, indicações e inclusive
com a distribuição de mapas da cidade, pode ajudar a explicitar a ordem visual e a compreensão
funcional.

Em relação à vitalidade de projetos urbanos específicos, são apresentadas algumas


considerações propostas por Jacobs (2000, p.437/445), que também podem ser utilizadas no
planejamento urbano das cidades médias, como Mogi Guaçu.

1- É necessário evitar projetos autônomos em si e separados da cidade, assim é preciso


costurar os projetos na trama urbana e fortalecer a trama ao redor. Aqui aparece novamente a
questão de como fazer com que os loteamentos fechados ou murados e os condomínios
horizontais nas cidades médias, sejam integrados de alguma forma na trama urbana, ou pelo
menos, não criem longas barreiras arquitetônicas ao longo das suas divisas. Como foi visto
acima, outros tipos de uso, comerciais, serviços, institucionais ou ainda habitacionais junto das
divisas muradas, eliminam ou reduzem o isolamento dos muros.
Também é possível a utilização do estudo de impacto de vizinhança (EIV), previsto no
Art. 36 do Estatuto da Cidade da seguinte forma: lei municipal definirá os empreendimentos e
atividades privados ou públicos em área urbana, que dependerão de estudo prévio de impacto de

44
vizinhança, para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a
cargo do Poder público municipal.

2- Os novos projetos de núcleos habitacionais populares precisam de personagens


públicas informais, espaços públicos vivos, bem vigiados e usados com constância e inter-relação
de usos com pessoas de fora.
Para os núcleos habitacionais existentes é preciso diagnosticar as condições de gerar
diversidade que estão faltando e os conjuntos devem ser seguros e viáveis para a vida urbana.
Como já visto, os núcleos habitacionais não podem ser apenas de habitação, mas precisam
conter também comércio e serviços diversos, permitindo a interpenetração de vizinhanças.
Assim, para apagar a monotonia dos conjuntos residenciais é necessário atrair outros usos não
residenciais. O piso térreo deveria ser incorporado aos usos da rua com pedestres, quiosques,
comércio e serviços. As ruas nesse pavimento térreo deveriam ser ruas verdadeiras para carros e
pessoas.
As figuras públicas como os vendedores, comerciantes, policiais, vigias, taxistas em
pontos de táxi, são importantes para a vitalidade urbana, pois geram comunicação e segurança.
Pequenos comerciantes são tipicamente propensos a manter a lei e a ordem pública.

3- Ao contrário de superquadras, características do planejamento urbano moderno, as


quadras devem ser pequenas, para maior circulação de pessoas nelas. As novas ruas devem ligar-
se a ruas além dos limites do projeto para a integração desse local ao que está à sua volta. As ruas
devem ligar-se aos elementos fixos e notáveis do terreno, se existirem.

4- Pequenos parques públicos e áreas de esportes e lazer devem estar junto das ruas
movimentadas. Também é importante prever outros usos para os espaços públicos, como
auditórios e escolas, nos fins-de-semana.

Assim como Le Corbusier, Jacobs (2000, p.494/498) considera um equívoco a vida nos
subúrbios, que é vista como uma aproximação desejada da natureza. Este modo de vida não é
uma característica de Mogi Guaçu como uma cidade média, porém existem alguns loteamentos
de chácaras afastados da cidade e também o distrito de Martinho Prado Júnior, distante 20 km da
cidade sede.

45
No século XVIII, o romantismo disseminou o sentimento da natureza e as cidades, com
seus problemas, foram vistas como inimigas da natureza. Os planejadores urbanos crêem na
irracionalidade das cidades e no caos urbano, e nesta crença existe um equívoco sobre a inter-
relação das cidades e dos homens com o restante da natureza. Porém, os seres humanos fazem
parte da natureza, e as cidades são produtos de uma forma de natureza, de uma natureza
transformada; assim, as cidades são naturais e não antinaturais. É possível e necessário poder
observar a natureza nas cidades, com parques, áreas verdes, rios limpos, atmosfera limpa, etc.
A mentalidade que só vê desordem na vida das ruas das cidades é ansiosa por destruí-la,
padronizá-la, transformá-la em subúrbio. Talvez por isso a ideia de Cidade-Jardim ainda é um
conceito forte no pensamento do planejamento urbano e manifesta-se, de certa forma, nos
loteamentos fechados nos subúrbios.

Procura-se neste trabalho verificar as possibilidades de aplicação dos princípios de


planejamento urbano e de desenho urbano levantados pela autora, para as grandes cidades,
também em cidades médias como Mogi Guaçu. As ideias e proposições de Jacobs foram
elaboradas tendo em vista a aplicação nas grandes cidades, porém princípios como a diversidade
urbana, a convivência urbana com privacidade, a qualidade de vida urbana sem segregação ou
discriminação também são válidos para as cidades médias.
Para a formação de condições de vitalidade urbana é necessário que o planejamento
urbano e o desenho urbano não se tornem apenas componentes técnicos da gestão das cidades.
Nas diversas etapas deste trabalho, que tece considerações sobre plano diretor de cidade média,
sempre que possível, serão verificadas as condições para a existência de vitalidade urbana.

As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender,


comunicar, planejar e inventar o que for necessário para enfrentar as
dificuldades. [...] As cidades monótonas, inertes, contêm, na verdade, as
sementes de sua própria destruição e um pouco mais. Mas as cidades vivas,
diversificadas e intensas contêm as sementes de sua regeneração, com energia de
sobra para os problemas e as necessidades de fora delas. (JACOBS, 2000, p.498
e 499)

46
Também é preciso colocar, como uma possibilidade de utilização nos planos diretores
municipais, uma proposta de Mumford (2003, p.289), que consiste no acesso público às
paisagens rurais, por meio do planejamento de faixas contínuas de terrenos públicos no conjunto
da paisagem, sem alterar o funcionamento da economia agrícola.
Ressalte-se, porém, que esta proposta de acesso público aos espaços rurais deve ser bem
mais detalhada, envolvendo aspectos complexos de propriedades rurais e de uso para turismo
local nos municípios, aspectos esses que podem constituir outra pesquisa específica.

47
3- O CASO DE MOGI GUAÇU –SP

Neste capítulo são verificados em primeiro lugar os antecedentes históricos de formação


da cidade, a segunda parte enfoca o primeiro plano diretor de Mogi Guaçu: o Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado, que serviu de base para o planejamento urbano desde a sua
aprovação em 1971; a terceira parte discorre sobre a proposta de plano diretor elaborada pelo
arquiteto Ruy Ohtake em 1992, mas não aprovada na Câmara Municipal e a quarta parte finaliza
o capítulo com considerações sobre as novas concentrações de comércio e serviços na cidade.

3.1 Antecedentes históricos e a formação da cidade

Esta parte do trabalho procura fazer, em breve descrição, os antecedentes históricos de


Mogi Guaçu e a formação da cidade nos séculos XIX e XX.
No início de sua história, em princípios do século XVIII, Mogi Guaçu foi um componente
do “caminho dos goiases”, ou seja, o percurso dos que iam em busca de ouro desde São Paulo até
Goiás e Cuiabá. O Mapa 3.1.1 mostra o Caminho dos goiases na capitania de São Paulo.
Conforme Guedes & Ferrari (1970, vol. 1, p.88), o povoamento da Baixa Mogiana7 teve
início nessa época, pelo fato da região se situar nesse itinerário, onde surgiram dois tipos de
povoamento, um de origem oficial8 onde a carga de ouro era fiscalizada e registrada pelo governo
e outro originado pelos pousos obrigatórios, como Mogi Guaçu, que surgiu às margens do rio, um
obstáculo ao livre trânsito das caravanas e obrigava aos usuários do caminho a uma parada. Os
concessionários das passagens dos rios obtinham do Reino sesmarias com o propósito de
estabelecer gentes e cultivar a terra. “Em 21 de julho de 1707 foi registrada uma sesmaria
concedida a Amador Bueno da Veiga, que tinha ‘três léguas de terras em quadra, principiando do
fim do termo da vila de Jundiaí até o rio que chamam de Mogi ...’”

7
A região da Baixa Mogiana, além dos municípios e cidades citados por Guedes & Ferrari (1970), abrange os
municípios de Alterosa, Arceburgo, Areado, Bom Jesus da Penha, Cabo Verde, Conceição da Aparecida, Guaranésia,
Guaxupé, Itamoji, Jacuí, Juruaia, Monte Belo, Muzambinho, Nova Resende e São Pedro da União, no estado de
Minas Gerais, que fazem parte da AMOG – Associação dos Municípios da Baixa Mogiana.
8
Conforme LEGASPE (1989), a importância das transações comerciais processadas com tropeiros ocasionou o
aparecimento de “Registros”, postos fiscais para a cobrança de impostos.

49
Mapa 3.1.1 – Caminho dos goiases na Capitania de São Paulo

Fonte: LEGASPE. Moji Guaçu - Breve relato histórico, 1989.

50
A s datas importante na história de Mogi Guaçu são: 1740, quando foi elevada à categoria
de Freguesia; 1769, na incorporação ao território de Mogi Mirim e 09 de abril de 1877 na
elevação à categoria de município, quando a Freguesia de Conceição do Campo tornou-se Mogi
Guaçu. Passou a ser Comarca em 30 de dezembro de 1966.
Conforme Guedes & Ferrari (1970, vol. 1, p.89), o povoamento da região da Baixa
Mogiana foi de pouca importância até a segunda metade do século XIX. Com a chegada do café
o povoamento ganha vulto no terceiro quartel do século XIX. Mogi Mirim e Casa Branca
aparecem como produtores de café já em 1854. O cultivo de café faz surgir novas cidades: São
João da Boa Vista em 1859, Caconde em 1864, Mococa em 1871, Espírito Santo do Pinhal em
1871 e São José do Rio Pardo em 1886. A Estrada de Ferro Mogiana surge nessa época, partindo
de Campinas, chega a Mogi Mirim em 1875 e a Ribeirão Preto em 1883.
O povoamento da região provocado pelas lavouras de café trouxe o colono italiano como
o novo elemento humano. Após a decadência do café, os italianos e seus descendentes portadores
de uma cultura mais acostumada com a técnica industrial e comercial passaram aos aglomerados
uma característica urbana, formando indústrias e pequenos comércios.
Em Mogi Guaçu existiam excelentes jazidas de argilas e a partir de 1895 foi iniciada a
indústria cerâmica por meio de Padre Armani, engenheiro e marmorista, que montou a primeira
olaria no município. “Em 1921 essa olaria passa a produzir telhas francesas, já sob a direção de
seu novo proprietário Luiz Martini e, em 1926, fabrica manilhas. Em 1950 é fundada a Cerâmica
Mogi Guaçu e inicia-se a produção de ladrilhos cerâmicos no Brasil”. Guedes & Ferrari (1970,
vol. 1, p.90)

51
Foto 3.1.1 - A cidade de Mogi Guaçu em 1939/1940

Fonte: IGC – Instituto Geográfico e Cartográfico de São Paulo

A foto acima de 1939/1940 mostra a área urbanizada, com o rio Mogi Guaçu no lado
direito (ao sul da área urbana), as indústrias cerâmicas com suas chaminés (embaixo e a
esquerda). A ponte rodoviária, no traçado Mogi Mirim – Aguaí, é mostrada no lado direito da
foto passando pela área urbana.
O mapa 3.1.2, a seguir, mostra o primeiro perímetro urbano de Mogi Guaçu, de 1938, que
coincide aproximadamente com a área urbanizada mostrada na foto anterior.

52
Mapa 3.1.2 – Mogi Guaçu: perímetro urbano em 1938

Fonte: Caderno Memória - Anos 40, Prefeitura Municipal


de Mogi Guaçu, junho de 1996

Este mapa do primeiro perímetro urbano em 1938, mostra os limites da área urbana: o Rio
Mogi Guaçu ao sul, as cerâmicas Chiarelli, Armani e Martini e o cemitério no oeste, a Ferrovia
Mogiana no leste e a Capela e o Largo do Rosário no norte. A estrada para Mogi Mirim passava
pelo então denominado Bairro do Areião.
O povoamento de Mogi Guaçu principiou nas proximidades do rio e estendeu-se até a
estação da estrada de ferro e também para o caminho que seguia para Espírito Santo do Pinhal e

53
Aguaí no sentido norte. O crescimento urbano ocorreu na direção norte-sul,
sendo que para o sul havia a barreira do rio Mogi Guaçu, que dificultou a ocupação.

Foto 3.1.2 – Mogi Guaçu em 1962

Fonte: Levantamento 1962, foto nº. 11.584, Região 5 I. Arquivo do Instituto Agronômico de Campinas

A foto 3.1.2 acima mostra a área urbana de Mogi Guaçu em 1962: à direita as obras da
Refinações de Milho Brasil (Maizena), a ferrovia corta a cidade em curvas na direção norte-sul,
os loteamentos Paraíso no lado sul do Rio Mogi Guaçu, Centenário no meio e à esquerda da
imagem, as cerâmicas no lado direito do rio e próximas ao centro da cidade e os loteamentos
Jardim Santo Antonio, Vila São Carlos e Jardim São Carlos na parte norte da cidade.

54
A implantação de duas importantes indústrias: Champion Papel e Celulose em 1960 (atual
International Paper) e Refinações de Milho Brasil em 1963 (atual Corn Products Brasil) provocou
uma rápida urbanização em Mogi Guaçu. Conforme a análise de Guedes & Ferrari (1970,
Volume 1 -Síntese, p.90), o crescimento urbano ocorreu mais pelo aumento substancial da receita
municipal, atraindo pessoas à procura de emprego, do que pelo aumento direto do número de
empregos nas duas indústrias. O crescimento urbano continuou no traçado norte-sul, embora as
indústrias se tivessem instalado, fora da então área urbanizada, no eixo leste-oeste: a Champion a
oeste, ao lado da rodovia SP 340 e a Refinações a leste. O mapa 3.1.3 de evolução histórica e de
loteamentos do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado - PDDI mostra a distribuição da
urbanização de Mogi Guaçu em 1970, predominantemente na direção norte-sul.

O povoado de Estiva Gerbi, ao norte da cidade, tornou-se Distrito de Mogi Guaçu em 23


de dezembro de 1981, emancipou-se em 30 de dezembro de 1991 e o município foi instalado em
01 de janeiro de 1993. O município de Estiva Gerbi abrange um território de 73,7 km², e conta
com uma população de 9.657 pessoas (Estimativa IBGE, 01/7/2009).

55
Mapa 3.1.3 - Mogi Guaçu: Evolução histórica/ loteamentos em 1970

Fonte: Guedes & Ferrari, PDDI, vol. 1 - Síntese, 1970

56
Quadro 3.1.1 – Informações gerais sobre Mogi Guaçu
Município de Mogi Guaçu

Brasão Bandeira
Fundação 9 de abril de 1877
Gentílico guaçuano
Prefeito Paulo Eduardo de Barros (Dr.Paulinho)
(PV)

Localização

22° 22' 19" S 46° 56' 31" O


Unidade federativa São Paulo
Mesorregião Campinas IBGE/2008
Microrregião Moji Mirim IBGE/2008
Aguaí, Moji-Mirim, Itapira, Conchal,
Municípios Estiva Gerbi,Espírito Santo do Pinhal,
limítrofes Araras, Pirassununga, Leme.
Distância até a 166 quilômetros
capital
Características geográficas
Área do município 885 km²
População 138.494 habitantes (estimativa IBGE/2008)
Densidade 174,1 hab./km²
Altitude 591 metros
Clima Clima tropical Cfa
Fuso horário UTC-3
Fonte: Wikipedia, acesso em 10-01-2009

57
3.2 O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971

Esta parte do trabalho apresenta e discute, de forma geral, o PDDI – Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu, que foi elaborado em 1970 e aprovado em 1971;
com o objetivo de verificar como ocorreu a evolução do planejamento urbano no município a
partir do primeiro plano diretor. Este Plano diretor foi aprovado na administração do prefeito
Waldomiro Calmazini, e elaborado pelo CEP – Consórcio de Escritórios de Planejamento, sob a
direção do arquiteto Joaquim Guedes e do engenheiro Celso Ferrari, com consultoria especial do
arquiteto Helvio Guatelli, diretor do Escritório Local de Planejamento.
O Plano é formado por três volumes, 1 – Síntese, 2 – Análise e 3 – Legislação, e foi
aprovado na Câmara Municipal como Lei nº. 766 de 04/01/1971, abrangendo a Lei de
Zoneamento, A Lei de Edificações e a Lei de Loteamento. Estas três leis compõem a legislação
urbanística do PDDI, contida no volume 3 – Legislação.
Na época, a população total de Mogi Guaçu era de 42.710 habitantes (Censo IBGE 1970)
e a taxa de urbanização era de 70,45%.
Os principais núcleos populacionais fora da sede municipal, em 1970, eram:
Estiva a 15 km de distância, população aproximada 3.000;
Nova Louzã, a 18 km de distancia, população aproximada 2.000 e
Martinho Prado a 30 km de distância, população aproximada 1.500.
Em 1970, Mogi Guaçu apresentava as seguintes condições de saneamento: existia uma
moderna estação de tratamento de água, com 84% dos domicílios com abastecimento da rede
pública; 31% dos domicílios ligados à rede pública de esgotos, com apenas 22% das ruas e
avenidas da cidade com rede de esgotos. O lançamento ocorria, sem qualquer tratamento, no Rio
Mogi Guaçu, em cinco pontos da zona urbana. Existia projeto da Prefeitura para instalação de
100% de atendimento das vias públicas com rede de esgotos e lançamento no Rio Mogi Guaçu
em um ponto a jusante da cidade.
Apenas 30% das ruas eram servidas pela coleta municipal de lixo, transportado para uma
propriedade particular a cerca de 1 km da cidade, onde era transformado em adubo, o que mostra
a grande quantidade de material orgânico no lixo doméstico da época.

58
Para o PDDI foram realizadas pesquisas domiciliar, industrial, comercial, de serviços, de
tráfego e educacional, sendo que essas pesquisas formaram a base de conhecimento da situação
social e econômica e ambiental do município de Mogi Guaçu.

Na elaboração do PDDI para Moji-Guaçu, adotou-se 20 anos como horizonte


para o planejamento; os prognósticos e projeções foram feitos para 1990 e as
metas propostas para esta etapa (longo prazo) foram orientadoras para as etapas
anteriores: 10 anos (médio prazo) e 3 anos (curto prazo). (GUEDES &
FERRARI, 1970, vol. 1, p.4)

Na introdução do PDDI, encontra-se um resumo das condições da cidade de Mogi Guaçu


em 1970.

Desde a análise inicial, verifica-se que os problemas de Moji-Guaçu ainda não


são graves, especialmente sob o aspecto de seu desenvolvimento urbano. As
pesquisas realizadas pela equipe do CEP indicam por exemplo, que 84,43% da
população possui água encanada, 89,34% possui luz domiciliar, 90,69% possui
gás engarrafado. Não há ainda congestionamentos de trânsito comum às grandes
cidades e alguns dos problemas existentes, como o subemprego, pertencem ao
quadro geral dos problemas brasileiros e não podem ser compreendidos como
locais. À pergunta "Quais os principais problemas de seu bairro?", da pesquisa
domiciliar, foram dadas respostas irrelevantes, o que demonstra não sentir a
população os efeitos de eventuais problemas do Município. Esta situação
relativamente boa ocorre porque Moji Guaçu emergiu de seu desenvolvimento
lento e tradicional há uma década e meia apenas, sendo nesse sentido, uma
cidade nova, em fase de franca expansão. Contudo, se não há o que preocupar
no presente, o próprio crescimento urbano que se processa a um ritmo
excepcionalmente intenso, acarretará graves conseqüências.
Em 1990 o Município terá provavelmente, 100.000 habitantes, dos quais 95.000
na área urbana, incluindo Estiva Gerbi e Martinho Prado. Apenas para atender
ao crescimento e sua sede (87.000 habitantes), a Prefeitura deverá quintuplicar
sua rede de esgotos sanitários; dobrar a extensão de sua rede de água; construir
mais de 70 km de vias; pavimentar cerca de 3.000.000 de m2 de logradouros

59
públicos; captar, tratar e distribuir 26.100.000 litros de água por dia, quando
hoje à população 10.800.000 litros. Trafegarão em suas vias cerca de 11.000
veículos, ou seja 13,5 vezes mais que os 814 licenciados em 1969. Para abrigar a
nova população que surgirá nesse período, mantendo-se os níveis atuais, serão
necessárias mais de 15.000 unidades residenciais urbanas no Município, o que
representa em média, um esforço de construção de 2,1 novas unidades
residenciais por dia, além da manutenção ou renovação das residências
existentes. O mesmo se poderia destacar para os setores de saúde, promoção
social e educação.
Com esse crescimento populacional invulgar, no quadro brasileiro, que
corresponde a triplicar a população e a triplicar a área urbanizada atual, Moji
Guaçu se transformará numa grande cidade, do tamanho, por exemplo, da cidade
de Piracicaba hoje, realizando portanto, em 20 anos, um trabalho de construção
e organização urbana que normalmente se faz em muito mais. (GUEDES &
FERRARI, 1970, vol. 1, p.1)

O Mapa 3.2.1 de uso do solo do PDDI mostrava a localização das indústrias no


município: no extremo oeste instalou-se a Champion Celulose (hoje International Paper), no
extremo leste a Refinações de Milho (atual Corn Products), próximo ao centro da cidade, no
centro do mapa, as indústrias cerâmicas; ao norte junto da SP 342 um distrito industrial e ao sul,
junto da ligação com Mogi Mirim outras duas áreas industriais menores. O comércio localizava-
se no centro , na Avenida 9 de Abril e na Capela

60
Mapa 3.2.1 – Mogi Guaçu: Uso do solo em 1970

Fonte: Guedes & Ferrari (1970), PDDI, vol. 1 – Síntese

De acordo com o PDDI as margens do Rio Mogi Guaçu estavam preservadas e a extensa
área central era muito baixa e inundável, condição que permaneceu até a construção da represa
em 1990, quando o problema de cheias foi contido pelo lago formado.

61
Foto 3.2.1 – Mogi Guaçu em 1972

Fonte: Levantamento 1972, foto nº. 33.890, Região Mogi Guaçu.


Arquivo do Instituto Agronômico de Campinas

A Foto 3.3.1 mostra a cidade de Mogi Guaçu em 1972, com o novo traçado de construção
da ferrovia na parte direita da imagem, ainda sem a travessia do Rio Mogi Guaçu; o loteamento
Parque Cidade Nova aparece no alto ao lado do Jardim Santo Antonio. A Vila Champion aparece
na esquerda da imagem, ao lado da SP-340 e na margem norte do Rio Mogi Guaçu, com
implantação habitacional diferenciada: sem muros frontais e em meio a um bosque.

62
O PDDI definiu como estrutura de urbanização a conurbação linear entre Mogi Mirim,
Mogi Guaçu e Estiva Gerbi, na direção sul-norte, tendo em vista a tendência de ocupação
histórica, os obstáculos da rodovia SP 340 no oeste e da ferrovia a leste. Chamou de um modelo
linear de desenvolvimento urbano, com as vantagens de ampliação das zonas centrais decorrente
do crescimento da cidade, e o fácil acesso de qualquer ponto da área urbana ao eixo central.
Considerou as condições naturais do rio, as áreas preservadas no crescimento, as suaves
ondulações do solo e as grandes massas industriais como as características que identificam a
cidade de Mogi Guaçu.
Conforme Guedes & Ferrari (1970, vol. 1, p. 102), por meio do plano procurou-se a
identificação das funções da cidade, e também identificar e resolver os problemas de utilização
do solo urbano, circulação e transportes, educação, saúde, abastecimento e saneamento.
Como principais propostas do PDDI (volume 1–Síntese) se pode observar:
1- a recuperação da extensa área de várzea situada na margem direita do rio Mogi Guaçu,
próxima do centro onde se localizavam os “barreiros” das indústrias cerâmicas para urbanização
com parques, praças e equipamentos de cultura, recreação e esportes.
2- a arborização ao longo do rio Mogi Guaçu.
3- a criação de um Parque Florestal no lugar denominado Cachoeira de Cima, como local de
recreação.
4- a criação de uma faixa verde de proteção ao longo da via férrea e das rodovias.
5- a arborização extensiva de toda a cidade.
6- a implantação de escolas superiores na área ao norte da Avenida John Kennedy, entre a
rodovia SP 340 e a área urbanizada central.
7- a implantação do Centro Cívico Cultural no Morro do Ouro, área central muito visível pela
topografia elevada, onde foi implantada a Prefeitura Municipal.
8- a criação de duas vias expressas com 39 metros da largura, no sentido norte-sul, denominadas
NS-1 e NS-2, paralelas ao eixo de atividades centrais. Essa duas avenidas deveriam interligar
com Mogi Mirim ao sul.
9- a criação de vias expressas no sentido leste-oeste: a LO-1 ligando a Champion até a Maisena
(Refinações de Milho Brasil), com alargamento da Av. John Kennedy; e a LO-2 passando no
atual traçado das avenidas Prefeito Nico Lanzi e Padre Jaime desde a SP 340 até a ferrovia.
As principais realizações na cidade de Mogi Guaçu, com base no PDDI, foram:

63
1- a implantação do Centro Cívico no Morro do Ouro, com a construção da sede da Prefeitura e
do Fórum, porém a parte cultural proposta não se realizou neste local. A escolha do Morro do
Ouro para implantação do Centro Cívico Cultural e do Paço Municipal foi “recebida com
entusiasmo pela comunidade local e pela imprensa, quando da apresentação do Plano Preliminar”
(Cf. Guedes & Ferrari, Vol. 1, p. 116).
2- a implantação da avenida expressa NS-1, ou seja, a Avenida Brasil, embora ainda sem
construção do trecho sul até a divisa com Mogi Mirim. Este trecho faz parte das diretrizes viárias
do plano diretor de 2008.
3- a implantação da avenida expressa NS-2 no antigo traçado da ferrovia Mogiana, com o nome
de Avenida dos Trabalhadores que liga o norte da cidade com a Avenida Padre Jaime no sul.
4- a implantação da avenida expressa LO-2, com os nomes de Avenida Prefeito Nico Lanzi e
Avenida Padre Jaime.
Embora não implantado, o Parque Florestal na Cachoeira de Cima permaneceu como uma
ideia de urbanismo, que em 1992 reapareceu ampliada, no plano diretor de Ruy Ohtake, como a
proposta de um grande complexo de lazer e turismo denominado Parque da Cachoeira.
A implantação das avenidas expressas Prefeito Nico Lanzi e Padre Jaime (LO-2), Avenida
Brasil (NS-1) e Avenida dos Trabalhadores (NS-2) dotou a cidade de Mogi Guaçu (ver Fig.
3.2.2) de um sistema viário principal dimensões avantajadas na largura das vias, canteiro e
calçadas (Fig. 3.2.1), e de grandes extensões, ampliado nas décadas seguintes com novas
avenidas.
Figura 3.2.1 – Dimensões do sistema viário principal

Fonte: Guedes & Ferrari (1970, vol.1, p. 132a)

64
Figura 3.2.2 – Mogi Guaçu: Avenida Brasil (NS-1), Av. Prefeito Nico Lanzi e Av. Padre Jaime
(LO-2), Av. dos Trabalhadores (NS-2) na malha urbana atual

Fonte: GOOGLE MAPS, 30 jan. 2009.

O zoneamento urbano proposto pelo PDDI e aprovado na câmara Municipal como a Lei
nº. 766 em 04/01/1971, estabeleceu quatro tipos de usos em zonas na cidade:
Zona de Alta Densidade e Atividades Centrais - ZAC;
Zona de Baixa Densidade - ZBD;
Zona Industrial I; II; e III - ZI;
Zona Verde de Recreação - ZRL.
A Zona de Baixa Densidade refere-se às áreas residenciais de Mogi Guaçu, e ficou
conhecida como Zona Residencial.
De 1971 até 2008, quando houve a aprovação do novo plano diretor, o zoneamento
urbano de Mogi Guaçu permaneceu o mesmo do PDDI, porém com complementações de novas
áreas devido ao crescimento da cidade e com a inclusão da Zona Predominantemente
Residencial, conforme o Mapa 3.2.2.

65
Mapa 3.2.2 – Zoneamento urbano de Mogi Guaçu até 2008

Fonte: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano

66
O PDDI recomendou em relação aos programas habitacionais, as seguintes diretrizes
gerais: evitar a construção de grandes aglomerados para um único grupo social; criar conjuntos
pequenos quando necessário, a fim de que as diversas classes de renda se beneficiem dos contatos
entre si e a fim de que haja uma mais uniforme repartição dos benefícios urbanos.
Essas diretrizes não foram atendidas, pois as implantações de conjuntos residenciais
populares concentraram-se na zona norte , acima da SP-342, formando os núcleos habitacionais
chamados Ipês.
Em 1985, com o objetivo de implantação de conjuntos residenciais, foi criada a Zona
Estritamente Residencial com a Lei nº. 1.903 que abrangeu na zona norte os Ipês, construídos por
meio de financiamentos do Banco Nacional da Habitação - BNH. Na Zona Estritamente
Residencial permitia-se apenas o uso habitacional e, a partir de 1992, foram feitas diversas
alterações na legislação municipal de uso do solo para permitir alguns tipos de comércio e
serviços nesta zona.
Neste caso, pode-se verificar a importância e a necessidade da diversidade de usos
urbanos, conforme apontada por Jane Jacobs (2000, p.454) como uma das principais
características para a existência de vitalidade urbana. A diversidade de usos é o oposto da
restrição dos demais usos além do uso habitacional pretendido nos núcleos dos Ipês. Como os
núcleos foram planejados sem espaços para comércio e serviços, as diversas leis municipais
pretenderam adequar, até certo ponto, os conjuntos residenciais para a possibilidade de permitir a
instalação de comércio e serviços em geral, mantendo-se o uso residencial com acesso
independente.
A lei de zoneamento urbano de Mogi Guaçu também foi alterada pela Lei Complementar
nº. 583, de 22/12/2003, para permitir a construção de prédios residenciais, ou uso residencial
plurifamiliar na zona residencial com a altura máxima de 15 pavimentos, com taxa de ocupação
permitida de até 40% da área do terreno e coeficiente de aproveitamento de 6 vezes a área do
terreno. Por meio desta lei, a taxa de ocupação do solo para o uso residencial unifamiliar
aumentou de 50% para 70%.
Essa medida propiciou uma maior diversidade de usos, ou seja, a possibilidade de
diferentes tipos de habitação em uma mesma área, e nenhum dano urbanístico causou à cidade,
que conta com poucos edifícios habitacionais com 15 pavimentos.

67
Em 19/6/2008, antes da aprovação do novo plano diretor, a lei de zoneamento foi
novamente alterada (Lei Complementar nº. 926) para ampliar áreas comerciais e residenciais na
zona norte e na zona oeste da cidade. Esta lei alterou o uso industrial de uma área com 500.000
metros quadrados, vizinha a um distrito industrial, para o uso residencial e assim a administração
municipal pretendeu que as novas indústrias sejam implantadas mais afastadas da área urbana,
conforme o zoneamento de uso do solo do plano diretor de 2008.
O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971, foi o primeiro e único plano
diretor aprovado no município de Mogi Guaçu até 2008, suas propostas de urbanismo orientaram
a criação do sistema viário principal, que serviu ao crescimento do município até hoje;
estabeleceu o primeiro zoneamento urbano e propôs a implantação do Centro Cívico (Paço
Municipal e Fórum – Foto 3.2.1) no Morro do Ouro, no centro da cidade.

Foto 3.2.2 – Mogi Guaçu: Paço Municipal e Câmara no Morro do Ouro

Fonte: Arquivo do autor, 18/02/2009.


Na foto, o Forum encontra-se atrás do prédio da Prefeitura e da Câmara.
A proposta inicial do PDDI incluía também Biblioteca (2.000m²), Teatro (1.500m²),
Centro de Arte (1.500m²) e restaurante-bar (1.000m²). Conforme Mogi Guaçu, s/d, p.108.

68
3.3 A proposta de Plano Diretor de 1992

Um novo plano diretor para Mogi Guaçu foi elaborado em 1992, por Ruy Ohtake
Arquitetura e Urbanismo e Parcon – Participações, Representações e Consultoria9, após 21 anos
da aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI, apresentado na parte
anterior deste trabalho. Este novo plano diretor não foi aprovado na Câmara Municipal, porém
também fez parte desta pesquisa, e será aqui apresentado em linhas gerais. O objetivo é verificar
as propostas de planejamento urbano deste Plano e se as ideias elaboradas prosperaram ou se
apresentam, ainda hoje, alguma possibilidade de utilização no planejamento urbano local.
Inicialmente, serão apresentados alguns dados do plano diretor, referentes às condições de
vida, da infra-estrutura urbana e de uso do solo no município na época.
Na parte social, ocorreu no município de Mogi Guaçu, no final da década de 1980,
importante melhora nos índices referentes às condições de mortalidade infantil e de
analfabetismo, em relação a 1970, como se pode observar nas tabelas a seguir.

Tabela 3.3.1 – Mogi Guaçu: Mortalidade Infantil/ por mil nascidos vivos 1970, 1980 e 1988
1970 1980 1988
Mogi Guaçu 84,47 37,58 22,62
Estado 84,34 51,21 33,50
Reg. Administrat. 69,75 41,14 27,92
Fontes: SEADE e Ohtake (1992)

Tabela 3.3.2 – Mogi Guaçu: Taxa de Analfabetismo 1970 e 1980


1970 1980
Mogi Guaçu 27,10% 15,7%
Estado 22,5% 13,3%
Fonte: IBGE e Ohtake (1991)

9
O Plano Diretor de Mogi Guaçu elaborado em julho de 1992 por Ruy Ohtake Arquitetura e Urbanismo, em
conjunto com Parcon – Participações, Representações e Consultoria, embora não aprovado pela Câmara Municipal, é
uma fonte de pesquisa e referência nos estudos de planejamento urbano de Mogi Guaçu.

69
O uso do solo no município, em 1991, ocorria conforme o quadro 3.3.1 abaixo, quando
não aparecia a área inundada da represa com 2,26 km2.

Quadro 3.3.1 - Mogi Guaçu, Uso do Solo no municio em 1991


3,84% Áreas urbanas
9,51% Vegetação de várzea, matas nativas e cerrado
33,21% Pastagens e reflorestamento
53,44% Culturas anuais, pomares e cana-de-açúcar
100% Total
Fonte: OHTAKE (1992) - Plano Diretor de Mogi Guaçu

Com relação ao comércio, o plano diretor de Ohtake indicou a necessidade de reforçar o


eixo de comércio e serviços ao longo da Avenida 9 de Abril, o que já foi concretizado, como
também da Avenida dos Bandeirantes, continuação viária na direção sul-norte.
Em relação ao crescimento da cidade, Ruy Ohtake (1992, Volume 1- Levantamento)
apontou as tendências de crescimento urbano de Mogi Guaçu em direção à Estiva Gerbi (norte), à
Mogi Mirim (sul) e para leste em direção à represa da PCH Cachoeira de Cima, conforme se
pode observar no Mapa 3.3.1.
A cidade cresceu entre 1991 e 2008 em direção ao norte aproximadamente como foi
previsto por Ohtake (1992), porém não houve a expansão para leste, em direção à represa, como
se observa no Mapa 3.3.2 que mostra os perímetros urbanos em 1991 e 2008.
Essa estimativa de expansão da cidade de Mogi Guaçu para o leste estava vinculada à
ideia de ocupação da área da represa com um grande empreendimento de lazer, cultural e
habitacional, que constitui uma das principais, senão a principal proposta do plano diretor de
Ohtake.

70
Mapa 3.3.1 – Mogi Guaçu: área urbana em 1991 e tendências de crescimento

Fonte: Ohtake, 1992, volume 3, p.09 (Adaptado pelo autor)

71
Mapa 3.3.2 – Mogi Guaçu: crescimento urbano entre 1991 e 2008

Fonte: Proposta justificativa da revisão do PDDI de Mogi Guaçu, 2008. Adaptado pelo autor.

72
Ohtake (1992) previu a expansão do centro comercial para o lado oeste, em direção à
Rodoviária, na área da Cerâmica Martini, um novo uso para a área após a falência da indústria.
Para isso, propôs a criação de um grande “boulevard” ou “calçadão” de pedestres, no entorno do
qual surgiriam edifícios de comércio e de serviços. Esta área mostrada (na cor amarelo) na figura
abaixo, encontra-se ainda hoje como vazio urbano, porém em 2008 foi anunciado o projeto de
construção de um shopping center neste local.

Figura 3.3.1 – Mogi Guaçu: Expansão do centro conforme Plano Diretor 1992

Fonte: Ohtake, 1992 – volume 3, Proposições do Plano Diretor

73
Em relação ao sistema viário da cidade de Mogi Guaçu, resumiu que necessitava de
complementações nas ligações leste-oeste e que apresentava estrangulamento na região central,
situação presente ainda hoje.
De acordo com Ohtake (1992), apesar das dimensões avantajadas do sistema viário
(largura das vias, canteiro, calçadas) e das grandes extensões, ainda havia algumas dificuldades
de circulação, na falta de ligações no sentido leste-oeste e por dificuldades no sistema viário
local. A Avenida 9 de Abril despontava como o principal eixo comercial da cidade, ligando-se
aos bairros do norte da SP-342 por meio da Avenida dos Bandeirantes e também com a Rua
Paula Bueno, para chegar até o extremo leste da cidade. Parte da Rua Paula Bueno estrangula-se
no centro até a ferrovia.
Em 20 anos, entre 1971 e1991, a trama viária urbana cresceu 170 km, e as ruas asfaltadas
cresceram 258 km, sendo que em 1991, as vias públicas urbanas somavam 310,70 km, com 93%
pavimentadas
Para o transporte coletivo, em 1991, havia 10 linhas de ônibus urbanos que faziam ponto
inicial e final no Parque dos Ingás, como ocorre ainda hoje. O transporte público, era formado por
17 ônibus urbanos que percorriam 10 linhas a partir da estação do Parque dos Ingás, com 627.876
passageiros/mês. Além das linhas normais, a Prefeitura possuía 5 ônibus escolares em 27 linhas
para a zona urbana; e o transporte de escolares para a zona rural era proporcionado por peruas
“kombi” alugadas pela Prefeitura.

74
Em relação ao zoneamento urbano e rural foram propostas seis grandes zonas de uso das
terras: ZR - Rural, ZPR – Zona Predominantemente Residencial, ZCS – Zona de Comércio e
Serviços, ZEI – Zona Exclusivamente Industrial, ZPA – Zona de Proteção Ambiental e ZPE –
Zona de Proteção Ecológica ou Especial. A Zona Predominantemente Residencial abrangeria
todos os bairros de Mogi Guaçu, estendendo-se para Leste em torno da represa da PCH. A ZPE
abrangeria a margem norte do Rio Mogi Guaçu, em quase toda a extensão, menos no perímetro
urbano, além da Reserva Ecológica e Biológica da Fazenda Campininha. A área prevista para o
Parque da Cachoeira deveria ser implementada como área de proteção ambiental – ZPA, embora
o mapa de zoneamento mostre essa mesma área como ZPR – Zona Predominantemente
residencial, como se pode ver no Mapa 3.3.3.

Mapa 3.3.3 – Mogi Guaçu: macrozoneamento proposto em 1992

Fonte: Ohtake (1992) – Plano Diretor de Mogi Guaçu, vol. 3, Proposições

75
Com referência ao entorno da represa da Pequena Central Hidrelétrica10, o plano diretor
de 1992 considerou a possibilidade de implantação de um grande parque ecológico para proteção
das margens do lago da represa da Cachoeira de Cima, que permitiria o desenvolvimento de
atividades de turismo, esporte e lazer, além do uso habitacional e da implantação de museu,
estação ecológica e jardim botânico.
A ideia de um parque na Cachoeira de Cima, apareceu no PDDI de 1970, que recomendou
a criação de um parque florestal nesse local considerado adequado para recreação, com viveiro de
plantas e um jardim zoológico pequeno.
Ohtake (1992) propôs a implantação de um grande parque ecológico no entorno da
Pequena Central Hidrelétrica - PCH, unindo os municípios de Mogi Guaçu, Mogi Mirim e
Itapira; com uso múltiplo do reservatório para atividades produtivas como a pesca e para lazer e
turismo.
Conforme a proposta de Ohtake (1992), esse parque deveria integrar Mogi Guaçu, Mogi
Mirim e Itapira, estabelecer vínculo físico entre eles, reforçar a integração regional e com base na
integração urbanística fazer da microrregião um pólo de desenvolvimento industrial, turístico e
comercial, capaz de abranger parte da região nordeste do Estado de São Paulo e da região sudeste
do Estado de Minas Gerais. O Parque da Cachoeira, conforme mostrado na Figura 3.3.2, é o
grande projeto e talvez, a maior proposta do plano de Ruy Ohtake para Mogi Guaçu.

10
A represa da Cachoeira de Cima ou Pequena Central Hidrelétrica – PCH, conforme Ohtake (1991, volume 2 –
Levantamento), foi concebida e caracterizada como aproveitamento hídrico de uso múltiplo, para geração de energia,
controle das cheias na cidade, melhoria no abastecimento de água de Mogi Guaçu e Mogi Mirim e para
aproveitamento das áreas abrangidas pelo reservatório em irrigação, turismo e lazer.
A antiga represa da Cachoeira de Cima foi destruída em 1969, em virtude do rompimento da barragem. Tinha
potência instalada de 780 kw, entrou em operação em 1929 e foi fundamental para o progresso de Mogi Guaçu, Mogi
Mirim, Santo Antonio de Posse, Conchal e outros até a década de 1960.

A PCH possui 7.200 kw de potência instalada, com as seguintes características:


Dados hidrológicos
Vazão máxima registrada de 735 m3/s (08/03/1983)
Vazão mínima registrada de 60 m3/s (agosto/ 1980)
Vazão regularizada de 43 m3/s
Reservatório
Nível de água máximo normal: 598,5 m
Nível de água máximo maximorum: 602 m
Área inundada máxima normal: 4,5 km2
Área inundada máxima maximorum: 11,27 km2
Volume de água máximo normal: 11.200.000 m3
Barragem do tipo terra e enrocamento
Altura máxima: 14,5 m
Comprimento da crista: 200 m

76
Figura 3.3.2 – Parque da Cachoeira proposto para Mogi Guaçu

Fonte: Ohtake, (1992) – Plano Diretor de Mogi Guaçu, vol. 3, Proposições

77
No Parque da Cachoeira existiriam dois tipos de condomínios: Marina - com lotes nas
margens da represa, com ancoradouros para barcos e Rural com imóveis semelhantes a chácaras
rurais de lazer, Hotel Marina, Hotel Fazenda, marinas, praias, Rodeio, Clube de Tênis, Clube
Náutico, Clube de Pesca, Museu do Alto Mogi, Estação Ecológica, Estação de Piscicultura e
Jardim Botânico.
O parque não foi realizado e o crescimento industrial acorreu principalmente nas margens
das rodovias SP-340 e SP-342. Os recursos para a concretização do parque seriam imensos e
dependentes em grande parte da iniciativa privada, existindo também outro fator impeditivo
importante, na avaliação sobre a implantação de extensos equipamentos de lazer no entorno da
represa: o impacto ambiental que resultaria deste tipo de uso e a necessidade de preservação
ambiental do manancial de abastecimento de água de Mogi Guaçu e Mogi Mirim.

A urbanização de Mogi Guaçu ocorreu com a implantação de loteamentos populares


gerenciados pela Prefeitura. No período 1971-1991 foram produzidos 19.084 lotes para habitação
social, quando se implantaram 13.092 unidades residenciais.
Conforme Ohtake (1992) avalia corretamente, foi um processo de urbanização gerenciado
pelo município, que efetivou uma verdadeira reforma urbana.
Os loteamentos projetados e implantados geraram unidades que ficaram em parte com os
proprietários da terra e em parte foram destinados à Companhia de Habitação Popular (COHAB),
Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Estado de São Paulo (CDHU), Prefeitura,
Empresa Municipal de Desenvolvimento e Habitação de Mogi Guaçu (PROGUAÇU) e
Associações de moradores. De 1970 até 1991 foram implantados 19.084 lotes e construídas
13.092 unidades residenciais populares, e segundo Ohtake (1992) isso explica, em parte, o fato de
não existirem favelas no município.
Cabe indicar, na atualidade, a possibilidade de alguns vazios urbanos serem aproveitados
para habitação popular no modo descrito acima. Para isso, precisam ser feitos estudos detalhados,
tendo em vista a possibilidade de utilização do instrumento de política urbana do Estatuto da
Cidade, denominado Operações Urbanas Consorciadas. A utilização das Operações Urbanas
Consorciadas, prevista no art. 32 do Estatuto da Cidade, reúne, em função de um projeto, o Poder
Público municipal, usuários (futuros moradores) e proprietários da terra.

78
3.4 Novas Centralidades

A respeito das novas centralidades em Mogi Guaçu, ou sejam, novos eixos de comércio e
serviços ou novas concentrações de comércio e de serviços além do centro histórico; é preciso
observar, como já foi visto, que o crescimento da cidade ocorreu na direção norte-sul (ver Mapa
3.1.3 – Evolução histórica), assim como ocorreu também em Mogi Mirim, ou seja, na direção da
circulação principal que deu origem às duas cidades.
Dessa maneira, a região da Capela, ao norte do centro, tornou-se a primeira nova
centralidade de Mogi Guaçu, o que se pode observar no mapa 3.1.2, referente ao perímetro
urbano em 1938, quando a Capela e o Largo do Rosário já aparecem no extremo norte da cidade.
A ligação entre a capela e o centro, na distância de aproximadamente 1,2 km, é feita por meio de
duas vias de circulação, a Avenida 9 de Abril, com duas mãos de circulação, e a Rua Chico de
Paula, com o sentido do centro para a Capela. Estas duas vias de circulação tornaram-se as novas
centralidades seguintes, ou sejam, novos eixos de comércio e serviços a partir da década de 1970,
com a ocupação predominantemente comercial dos seus espaços.
Como resultado de proposta do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI,
houve a implantação do Paço Municipal e do Fórum no Morro do Ouro, que ampliou o centro da
cidade para uma área até então desocupada e resultou em uma nova centralidade administrativa e
institucional, porém sem a presença de atividades recreativas pensadas inicialmente.

Das três possibilidades estudadas para a localização do Centro Cívico e do Paço


Municipal, foi escolhida a do Morro do Ouro, recebida com entusiasmo pela
comunidade local e pela imprensa, quando da apresentação do Plano Preliminar.
O Morro do Ouro é uma área central muito visível, que permaneceu desocupada
até hoje, e de onde se tem uma vista soberba sobre o sítio de Moji-Guaçu.
Justamente sua qualidade topográfica foi até aqui uma das razões de sua
preservação e provavelmente constituiu um fator de desvalorização do morro
para fins residenciais.
A localização do Centro Cívico Cultural nesta área nos parece excepcional pois
permite um tratamento paisagístico e arquitetônico, de maneira audaciosa,
contribuindo decisivamente para o caráter da cidade e oferecendo à população
locais privilegiados para encontro e recreação.

79
Na estrutura urbana proposta, de desenvolvimento linear, não tem sentido pensar
no Centro Cívico como um foco central mas, tão somente, como a parte
principal e mais importante de uma faixa de atividades centrais. Qualquer
cidadão deve ter acesso a ele em tempo curto, e de qualquer ponto da
cidade.(Guedes & Ferrari, 1971, PDDI, vol.1 - Síntese, p.116)

Duas outras centralidades importantes em Mogi Guaçu ocorreram também na direção


norte-sul, sendo uma em continuidade à Avenida 9 de Abril para o norte com a implantação da
Avenida Bandeirantes até os núcleos residenciais Ipês, ultrapassando a rodovia SP–342; e a outra
para o sul com a ocupação comercial e de serviços da Avenida Mogi Mirim, que liga ao
município de mesmo nome. No município de Mogi Mirim, na continuação da Avenida Mogi
Mirim, chamada de estrada interna ou rodovia Deputado Nagib Chaib, também ocorreu a
intensificação do uso comercial e de serviços principalmente a partir da década de 1990.
Na Avenida Mogi Mirim (Foto 3.4.1 e Fig. 3.4.1) encontra-se grande número de revendas
multimarcas de automóveis, e também as revendas: Germânica - Volkswagen, Artvel – Chevrolet
e Fattore – Fiat.
Foto 3.4.1 - Avenida Mogi Mirim

Fonte: Arquivo do autor, 19 de abril de 2010

80
Figura 3.4.1 - Avenida Mogi Mirim, ligação entre Mogi Guaçu e Mogi Mirim

Fonte: Google Maps, 04/02/2009. A divisa dos municípios de Mogi Guaçu e Mogi Mirim é
Av. Maria F. Casemiro (embaixo) e a sua continuação nos dois sentidos.

Nos últimos anos a centralidade da Avenida dos Bandeirantes expandiu-se para a Avenida
Júlio Xavier da Silva (Fig. 3.4.2), na parte norte da cidade próxima da rodovia SP-342, com a
implantação de novos estabelecimentos comerciais e também para a Rua Inácio Franco Alves,
onde se localiza o Hospital São Francisco, e nas ruas próximas, com a implantação de clínicas e
serviços médicos.

81
Figura 3.4.2 - Avenida Bandeirantes e Avenida Júlio Xavier da Silva

Fonte: Google Maps, 04/02/2009

A cidade de Mogi Guaçu, na década de 1990, já havia ultrapassado a barreira da ferrovia,


expandindo-se para o leste, sendo a Avenida Emília Marchi Martini (Fig. 3.4.3) a principal via de
circulação para a parte leste da cidade, que se tornou uma parte da via expressa LO-1 do PDDI, e
onde está em processo de formação um eixo comercial e uma nova centralidade. No cruzamento
desta avenida com a Avenida dos Trabalhadores (implantada no antigo traçado da ferrovia, na
década de 1980, como a via expressa NS- 2 do PDDI), foi instalada uma unidade do BIG (atual
Walmart), o primeiro hipermercado da cidade.

82
Figura 3.4.3 - Avenida Emília Marchi Martini e Avenida dos Trabalhadores

Fonte: Google Maps, 04/02/2009

No capítulo seguinte será verificada em detalhes a revisão do Plano Diretor de


Desenvolvimento Integrado, aprovada como a Lei Complementar nº. 968 de 05 de dezembro de
2008, em um processo de elaboração que começou em 2006 com a realização de audiências
públicas pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano para ouvir a população
sobre questões da cidade e do município.

83
3.5 Mogi Guaçu como uma cidade média

Neste item da pesquisa procura-se caracterizar a cidade de Mogi Guaçu como uma cidade
média, embora esta classificação não encontre uma aceitação plena na literatura consultada.
Maria Luisa Castello Branco, em Cidades Médias no Brasil (BRANCO, 2006), buscou as
características básicas para identificar um conjunto de cidades médias brasileiras, considerando
as seguintes características como definidoras de cidade média: tamanho populacional e
econômico, grau ou porcentagem de urbanização, centralidade e qualidade de vida.
Em relação ao tamanho populacional de cidade média, Branco (2006) adota o patamar
mínimo de 100 mil habitantes e o patamar máximo de 350 mil habitantes, considerando que a
partir deste número de habitantes as cidades se enquadram nas grandes áreas urbanas do país.
Considerando o número de habitantes e a centralidade em relação às cidades vizinhas,
foram identificadas 66 cidades brasileiras, entre as quais a cidade de Mogi Guaçu, conforme o
Quadro 3.5.1.
A lista final de cidades médias adotou o princípio da existência de linhas aéreas regulares
e excluiu os centros que não atendem esse requisito, como Mogi Guaçu, chegando a 39 cidades
Em 2007, Mogi Guaçu apresentou taxa de urbanização de 93,7%, com uma população
urbana de 123.600 habitantes e população total no município de 131.870 habitantes.
O PIB municipal de Mogi Guaçu (ano 2006) é da ordem de R$ 2 bilhões e 73 milhões,
com produto interno bruto per capita de R$ 14.600. As cidades sob influência direta de Mogi
Guaçu são: Mogi Mirim, com a qual se encontra praticamente unida em uma só área urbana;
Itapira e Estiva Gerbi. Em relação à qualidade de vida, o Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal -IDHM ano 2000 é 0,813, ou seja, alto desenvolvimento humano, considerado quando
o índice for superior a 0,800. A centralidade de Mogi Guaçu em relação às cidades de Mogi
Mirim e a Estiva Gerbi encontra-se em serviços locais como hospitais, Receita Federal,
faculdades particulares e a Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro.
A Tabela 3.5.1 mostra as quantidades de cidades brasileiras por faixas de população,
sendo que as cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes somam 173 cidades em
um total de 5.507 cidades. A tabela não permite verificar o número de cidades entre 100 mil e
350 mil habitantes, que são os limites populacionais adotados por Branco (2006) para a
classificação das cidades médias.

84
Quadro 3.5.1 - Cidades identificadas para seleção de cidades médias

Castanhal - PA Teófilo Otoni - MG Piracicaba – SP


Marabá - PA Uberaba - MG Presidente Prudente – SP
Santarém - PA Varginha - MG Rio Claro - SP
Araguaína - TO Cachoeiro do Itapemirim - ES São Carlos – SP
Caxias - MA Angra dos reis - RJ Taubaté - SP
Imperatriz - MA Cabo Frio - RJ Apucarana – PR
Parnaíba - PI Macaé - RJ Cascavel – PR
Sobral - CE Petrópolis - RJ Foz do Iguaçu – PR
Mossoró - RN Teresópolis - RJ Guarapuava – PR
Caruaru - PE Araçatuba - SP Ponta Grossa – PR
Garanhuns - PE Araraquara - SP Chapecó – SC
Arapiraca - AL Bauru - SP Lages – SC
Alagoinhas - BA Botucatu - SP Caxias do Sul – RS
Barreiras - BA Bragança Paulista - SP Passo Fundo – SP
Jequié - BA Catanduva - SP Pelotas – RS
Vitória da Conquista - BA Franca - SP Rio Grande – RS
Barbacena - MG Itapetininga - SP Santa Maria – RS
Divinópolis - MG Jaú - SP Uruguaiana – RS
Governador Valadares - MG Limeira - SP Dourados – MS
Montes Claros - MG Marília - SP Rondonópolis – MT
Patos de Minas - MG Mogi Guaçu - SP Anápolis – GO
Poços de Caldas - MG Pindamonhangaba - SP Rio Verde - GO
Fonte: BRANCO (2006, p.253)

85
Tabela 3.5.1 - Número de municípios brasileiros por faixa de população total e urbana

Faixa de Nº de municípios Porcentagem Nº de municípios Porcentagem


População Com população Com população
Total por faixa Urbana por faixa
até 10 mil 2.637 47,9% 3.753 68,2%
De 10 a 20 mil 1.381 25,1% 826 15,0%
De 20 a 50 mil 964 17,5% 517 9,4%
De 50 a 100 mil 301 5,5% 208 3,8%
De 100 a 500 mil 193 3,5% 173 3,1%
De 500 a 1 milhão 18 0,3% 17 0,3%
Mais de 1 milhão 13 0,2% 13 0,2%
Total 5.507 100% 5.507 100%
Fonte: Déficit Habitacional no Brasil. Ministério das Cidades/ Fundação João Pinheiro,2006.
Censo Demográfico ano 2000

Como visto no Quadro 3.5.1, a cidade de Mogi Guaçu encontra-se entre as 66 cidades
brasileiras identificadas por Branco (2006), para a seleção de cidades médias, com as
características de tamanho populacional e econômico, porcentagem de urbanização, centralidade
e qualidade de vida; porém Mogi Guaçu não conta com linhas aéreas regulares, que constituiu a
característica diferencial para a eleição das 39 cidades médias brasileiras.
Ainda que Mogi Guaçu não conte com linhas aéreas regulares, possui todas as outras
características de cidade média e deste modo, pode ser considerada uma cidade média e não uma
pequena cidade.
Outra característica que existe em relação à Mogi Guaçu é a sua proximidade com a
cidade de Mogi Mirim, com a qual forma uma aglomeração não metropolitana (ver Fig. 3.5.1 e
Fig. 3.5.2), e o conjunto das duas cidades está incluído entre as principais áreas urbanas do
Estado de São Paulo, juntamente com Araçatuba, São José do Rio Preto, Catanduva, Franca,
Ribeirão Preto, Araraquara/ São Carlos, Presidente Prudente, Marília, Bauru, Jaú, Botucatu,
piracicaba, Limeira, Campinas, Sorocaba, Bragança Paulista, Jundiaí, São Paulo, Santos, São
José dos Campos e Guaratinguetá/ Aparecida. (Cf. SPOSITO, 2006, p.179)

86
Figura 3.5.1 – Mogi Guaçu e Mogi Mirim: aglomerado não metropolitano

Fonte: Sposito, 2006, p.179

Tabela 3.5.2 – Mogi Guaçu, Mogi Mirim e microrregião: populações municipais

Município 1980 1991 1996 2000 2007


Estado de São Paulo 25.042.074 31.588.925 34.119.110 37.032.403 39.827.570
Mogi Guaçu 73.570 107.454 114.546 124.228 131.870
Mogi Mirim 50.633 64.753 75.337 81.467 84.176
Itapira 47.923 56.586 60.791 63.377 68.187
Estiva Gerbi - - 8.074 8.856 9.185

Fontes: IBGE e Proposta Justificativa do Plano Diretor de Mogi Guaçu – 2008

Mogi Guaçu tem taxa de urbanização de 93,7% e Mogi Mirim tem 89,7% da população
na cidade. As populações urbanas de Mogi Guaçu, com 123.600 habitantes e de Mogi Mirim,
com 75.530 habitantes somam 199.130 moradores (ver Tabela 3.5.2), conforme a contagem

87
populacional do IBGE de 2007. Dessa maneira, em 2009 as populações das duas cidades
ultrapassam 200.000 habitantes, chegando a aproximadamente 205.000 moradores.

Figura 3.5.2 - Mogi Guaçu e Mogi Mirim: aglomerado e microrregião

Fonte: Google Maps, 04/02/2009

88
4- A REVISÃO DO PDDI DE MOGI GUAÇU DE 2008

Este capítulo do trabalho abrange a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento


Integrado de Mogi Guaçu, desde a realização das audiências públicas de 2006, que embasaram a
elaboração da revisão do PDDI e a Lei Complementar nº. 968 de 05 de dezembro de 2008, que
aprovou a revisão do PDDI. Inicia com o detalhamento das solicitações das audiências públicas
realizadas pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano. Em seguida estuda as
possibilidades de crescimento da cidade nos 3,25 km² de vazios urbanos. Também enfoca o
zoneamento urbano, as diretrizes viárias e as grandes áreas verdes e as suas potencialidades de
lazer para a população de Mogi Guaçu. A parte final do capítulo verifica e discute como os
instrumentos de planejamento urbano do Estatuto da Cidade foram abordados na revisão do
PDDI, e faz uma avaliação da sua aplicabilidade na cidade de Mogi Guaçu.

4.1 Audiências públicas para a revisão do Plano Diretor

As audiências públicas para a revisão do plano diretor foram realizadas pela Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Urbano, em junho, julho e agosto de 2006, com o objetivo de
obter sugestões dos moradores e atender a exigência do Estatuto da Cidade11 (art. 40, § 4º) para a
garantia de participação da população e de associações representativas da sociedade.

§ 4o No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua


implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:
I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da
população e de associações representativas dos vários segmentos da
comunidade;
II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;
III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações
produzidos.

11
A coordenação geral do processo de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI coube ao
então Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Mogi Guaçu, Eng. Edson Luiz Maretti Marchesi.

90
Todas as solicitações e sugestões das audiências públicas realizadas referem-se à vida
urbana e podem ser inseridas no planejamento urbano. As audiências públicas para discussão da
revisão do plano diretor tiveram assim, a possibilidade de discutir todos os aspectos urbanos e
gerais do município. Essa é uma característica peculiar das audiências públicas sobre planos
diretores, ou seja, a possibilidade de discutir a cidade como um todo, inclusive o município.
Outros tipos de audiências públicas, sobre a saúde, a educação e a segurança, apresentam
enfoques setoriais e sociais importantes, mas sem a possibilidade de se estender por todos os
aspectos do planejamento urbano, como as audiências sobre plano diretor municipal.
Em relação à localização geográfica na cidade, as audiências públicas realizadas em 2006
pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, para a revisão do Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu, foram bem distribuídas na malha urbana conforme
se pode observar no Mapa 4.1.1.
As audiências de números 3 (Jd. Ipê Pinheiros) e 4 (Jardim Ipê III) foram realizadas na
parte norte da cidade de Mogi Guaçu, na região dos núcleos residenciais dos Ipês entre a rodovia
SP-340, a rodovia SP-342 e a ferrovia.
As audiências de números 1 (Jd. Sta. Teresinha II) e 2 (Jardim Chaparral) localizaram-se
na parte leste da cidade, entre o Córrego dos Ipês e a rodovia SP-342; as audiências 10 (Jardim
Esplanada) e 11 (Jardim Hedy) localizaram-se também na parte leste da cidade, nas proximidades
da ferrovia e da indústria Corn Products (Maisena). A parte leste da cidade de Mogi Guaçu é a
zona de expansão urbana do plano diretor de 2008, onde estão as terras sem urbanização e com
possibilidade de crescimento, além dos vazios urbanos existentes na malha urbana.
Na parte oeste da cidade de Mogi Guaçu foi realizada a audiência 5 no Jardim Igaçaba,
próximo da rodovia SP-340.
A audiência de número 7 foi realizada na Vila São Carlos ao lado da Avenida dos
Bandeirantes. A audiência 8 foi feita no Jardim Almira, próximo da Avenida dos Trabalhadores e
da ferrovia.
Na parte sul da cidade, entre o rio Mogi Guaçu e o município de Mogi Mirim, foram
realizadas as audiências 12 (Vila Paraíso), 13 (Jardim Rosa Cruz) e 14 (Jardim Novo Itacolomy).
A 15ª audiência foi realizada no Distrito de Martinho Prado Júnior, a 20km a oeste de
Mogi Guaçu e próximo da cidade de Conchal.
Os locais, as datas de realização e as sugestões apresentadas nas audiências são as

91
seguintes:

1ª Audiência: CAlC Deputado Miguel Martini


Jardim Sta.Terezinha II
28 de junho de 2006
1- Ampliação de cursos profissionalizantes para os jovens aproveitando a estrutura física
existente do Centro de Atendimento Integral à Criança - CAIC.
2- Aulas de música, arte, cultura, esporte e lazer também aproveitando a estrutura física
existente.
3- Transformação do CAIC em Secretaria.
4- Programas sociais para pais de alunos com finalidade de aumento da renda familiar e
planejamento familiar (esterilização).
5- Trabalho com a terceira idade: lazer, cultura, esporte.
6- Criação de um centro comunitário na zona norte.
7- Exigência de investimento em educação para os loteadores (Centro de Educação Infantil –
CEI e Escola Municipal de Educação Infantil - EMEI).
8- Limitação da expansão urbana.
9- Criação de áreas de lazer, cultura e esportes.
10- Criação de pólos de cultura, esporte e programas sociais.
11- Melhorar o critério para contemplação de lotes urbanizados às famílias, que realmente
têm necessidade e moram há mais tempo no município.
12- União entre líderes da comunidade.
13- Priorizar a área da educação.
14- Cuidados com a expansão urbana e geração de resíduos sólidos e outros poluentes
gerados pelas atividades de uso residencial e industrial.
15- Descentralização da administração.
16- Inclusão de educação ambiental nas escolas da rede municipal.
17- Criação de hortas comunitárias.

2ª Audiência: EMEF Profª. Marcia H. Falselli M. Risola


Jardim Chaparral
11 de julho de 2006
1- Priorização e ampliação da estrutura de atendimento à saúde.
2- Investimentos em segurança, policiamento em horários de entrada e saída de alunos nas

92
escolas.
3- Eliminar valetas em ruas onde se acumulam água e sujeira.
4- Melhoria de transporte coletivo para os bairros principalmente com maior quantidade de
linhas e horários.
5- Gratuidade para o transporte de alunos para as creches e EMEIs (urbano).
6- Área para a prática de esportes e lazer.
7- Ampliação do programa Incentivo à Criança e ao Adolescente - ICA e implantação de
centro comunitário.
8- Garantia da participação popular na continuidade do Plano Diretor (Conselho da Cidade).
9- Implantação de áreas de lazer nas áreas públicas.

3ª Audiência: EMEF Pref.Car1os Franco de Faria Jardim


Ipê Pinheiros
13 de julho de 2006
1- Melhorar o atendimento à saúde (demora no atendimento).
2- Melhorias na área da educação (sem especificação).
3- Levar esporte, lazer e cultura aos bairros da região, aproveitando-se os espaços existentes
nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs).
4- Implantação de parques infantis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e EMEI’s.
5- Melhor atenção ao córrego dos Ipês no trecho que corta o bairro para urbanização e
criação de espaços para atividades de lazer à população.
6- Criação de centro comunitário e esportivo para desenvolver atividades inclusive sociais
junto à comunidade.
7- fornecimento de ferramentas e mudas para associações dos bairros e capacitá-las para
plantio e conservação.
8- Priorizar o atendimento à saúde para os moradores da cidade com a implantação de cartão
de identificação.
9- Cursos para capacitação das famílias com vistas a geração de rendas utilizando o espaço
das escolas do bairro.
10- Implantação de centro comunitário/esportivo para a comunidade.
11- Melhorias na área de segurança nos horários de entrada e saída das escolas.
12- Desvinculação da Divisão de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura (SEC).

93
4ª Audiência: EMEF Emílía Vedovello Pedroso
Jardim Ipê III
18 de julho de 2006
1- Abertura da via pública entre os dois blocos da EMEF.
2- Ampliação do número de salas de aulas na EMEF.
3- Transformar em um centro comunitário ou biblioteca o bloco anexo da EMEF para o uso
da comunidade.
4- Incentivar a prática de esportes e lazer nestes espaços.

5ª Audiência: EMEF Padre Estevo Fernando Laurindo


Jardim Igaçaba
20 de julho de 2006
1- Política para preservação dos mananciais do município.
2- Ampliar as exigências aos loteadores com outras obras de uso comunitário.
3- Diretrizes para ocupação de espaços vazios na área urbana.
4- Orientar a ocupação das áreas ao longo da Avenida Tancredo Neves.
5- Legislação para veiculação visual de propagandas (outdoors).
6- Melhorar a comunicação entre as Secretarias.
7- Melhorias no sistema de coleta de lixo domiciliar na cidade.
8- Implantação de coleta seletiva na cidade.
9- Educação ambiental nas escolas da rede pública.
10- Melhor destinação do lixo hospitalar da cidade.
11- Incentivo ao turismo e esporte no município.
12- Gestão do resíduo sólido de construção civil.

6ª Audiência: CEGEP Governador Mário Covas


Centro
02 de agosto de 2006
1- Sugerido pelo Sr. Alisson o incentivo e desenvolvimento do setor de turismo e de eventos
de âmbito regional.
2- Desvincular da Secretaria de Esportes e Turismo a área de turismo para que a mesma tenha
mais empenho e abrigando cultura e lazer.
3- Criação e desenvolvimento de turismo rural.
4- Implantação de ciclovias nas principais avenidas.

94
5- Orientação á população para o plantio adequado de espécies nas calçadas.
6- Criação de legislação municipal sobre questões do meio ambiente (Código Ambiental).

7ª Audiência: EMEI Franscisca de Lima


Vila São Carlos
08 de agosto de 2006
1- Extensão de atividades nos centros esportivos à terceira idade não somente da área
esportiva mas como outras que procurem integrar esta população à vida da comunidade.
2- Adequação das calçadas à circulação de pessoas da terceira idade.
3- Criação de centros públicos para cuidados com os idosos.
4- adequação do transporte coletivo para idosos e portadores de deficiências.
5- Criação do orçamento para o idoso.
6- Ampliação do orçamento para a área de esporte.
7- Melhoria na iluminação pública.
8- Melhorar o emplacamento das ruas e de orientação na cidade. Inclui-se também a melhoria
nas sinalizações vertical e horizontal das vias públicas.

8ª Audiência: EMEF Pref. Waldomiro Calmazini


Jardim Almira
09 de agosto de 2006
1- Ampliação das ligações leste-oeste com a implantação de novos viadutos sobre a linha
férrea na Avenida Emília Marchi Martini (Almira) e na Avenida Emília Chiarelli Silva
(Jardim Novo II).
2- Dispositivos para redução de velocidade de veículos na Avenida dos Trabalhadores.
3- Implantação de modalidades de turismo aproveitando o potencial do Rio Mogi Guaçu, em
especial próximo à área central da cidade.
4- Sinalização e pontos para travessia de pedestres (estudantes) na Avenida dos
Trabalhadores.
5- Criação de área de lazer no bairro.
6- Aproveitamento do prédio da escola para atividades de lazer, esporte e cultura e outras
com a população.
7- Melhoria na iluminação pública dos bairros e poda de árvores junto às luminárias.
8- Verificação das casas de repouso para idosos.
9- Projeto para preservação do córrego do Cantagalo.

95
9ª Audiência: Escola Estadual Prof. Geraldo Sorg
Martinho Prado Júnior
12 de agosto de 2006
Não houve presença da comunidade, mas houve o agendamento para data posterior no dia
31/08/06 na 15ª Audiência.

11ª Audiência: EMEI Oscar Pansani


Jardim Hedy
16 de agosto de 2006
1- Construção de mais CEI’s (Centro de Educação Infantil) e EMEF em período integral.
2- Participação da iniciativa privada e de associações na construção de CEI’s (Jd. Nova Mogi
Guaçu).
3- Instalação de novos pontos para transporte coletivo e também que sejam cobertos (um
deles próximo ao Posto de Saúde da R. Paula Bueno).
4- Melhoria no abastecimento de água da região.
5- Implantação do Programa de Saúde da Família - PSF no bairro (Jd. Hedy).
6- Alargamento da Rua Paula Bueno.
7- Melhoria na sinalização das ruas do bairro bem como o emplacamento (nome de ruas).
8- Melhoria na segurança em áreas próximas às escolas.
9- Estacionamento para veículos em estabelecimentos de comércio.
10- Estudo de trânsito no bairro.
11- Melhorar a segurança no bairro (posto avançado).
12- Áreas para práticas de esporte e lazer no bairro.

12ª Audiência: EMEF Antonio Giovanni Lanzi


Vila Paraíso
22 de agosto de 2006
1- parcerias para construção de CEI’s.
2- Obrigatoriedade para executar calçamento e fechamento dos lotes vagos.
3- Campanha de divulgação do código de Posturas do Município.
4- Padronização na execução das calçadas.
5- Áreas para práticas de esporte e lazer no bairro.
6- Construção de EMEF no Parque dos Eucaliptos.
7- Melhoria na sinalização horizontal e vertical.

96
8- Implantação de semáforos e faixas para travessia de pedestres na área próxima a ponte de
ferro.
9- Melhoria na captação de águas pluviais na Rua Mococa, próximo do CEREP.
10- Limpeza periódica das margens do Rio Mogi Guaçu.
11- Divulgação através dos boletos de contas de água para os avisos institucionais.
12- Educação ambiental (Código de Posturas) na rede pública municipal.
13- Continuidade do programa de coleta seletiva em toda a cidade.
14- Implantação de ciclovias nas principais avenidas da cidade.
15- Construção de Programa de Saúde da Família (PSF) no Parque dos Eucaliptos.
16- Implantação de policiamento a pé em praças.
17- Implantação de balcão de informações na área central da cidade.

13ª Audiência: EMEF Profª Maria Diva Franco de Oliveira


Jardim Rosa Cruz
23 de agosto de 2006
1- Construção de creche, posto de saúde ou PSF.
2- Mais indústrias e programa de incubadora de empresas.
3- Educação ambiental e cidadania.
4- Limpeza de terrenos baldios
5- Melhoria das calçadas, do trânsito e controle da poluição visual do centro.
6- Plano viário e mobilidade urbana.
7- Divulgar nas contas de água as datas de recolher entulhos.
8- Programas de esporte e lazer inclusive para a terceira idade.
9- ONGs nos bairros para o exercício da cidadania.

14ª Audiência: EMEF Profº Antonio Carnevale Filho


Jardim Novo Itacolomy
29 de agosto de 2006
1- Criação de casas de cultura para o bairro.
2- Criação de área de lazer nas margens do córrego dos Macacos.
3- Implantação do PSF no bairro.
4- Uso do espaço da EMEF para projetos com a comunidade.
5- Regulamentação das torres de celulares.
6- Melhoria das condições de drenagem no bairro.

97
7- Regulamentação do plantio de árvores nas calçadas.
8- Mais eficiência no recapeamento das obras corretivas do SAMAE.
9- Melhoria da iluminação ao longo das vias marginais do Córrego dos Macacos.

15ª Audiência: EMEI Maria Quineli de Oliveira


Distrito Martinho Prado Júnior
31 de agosto de 2006
1- Construção de rampa e sanitários para deficientes na Escola Estadual Geraldo Sorg.
2- Ampliação da UBS e de especialidades para diminuir o uso de ambulâncias e transporte de
pacientes da vila para outros locais.
3- estender o funcionamento da UBS para 24 horas.

O Mapa 4.1.1, a seguir, mostra a localização das 13 audiências públicas na zona urbana de
Mogi Guaçu, sendo que não aparece no mapa o Distrito de Martinho Prado Júnior, localizado a
aproximadamente 20 km a oeste da cidade, onde foi realizada a 15ª audiência.

98
Mapa 4.1.1 – Mogi Guaçu: locais das audiências, 2006

Fonte: elaborado pelo autor com base em mapa da cidade da Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Urbano - SPDU

99
Em relação às solicitações, apresenta-se a seguir as seguintes considerações.
1- As solicitações de implantação de centros comunitários nas 1ª, 2ª, 3ª e 4ª audiências
parecem conter como justificativa o fato de serem locais adequados e convenientes para a reunião
e a associação de moradores para atividades de interesse comum ou, também, de interesse
público. Conforme Jacobs (2000, p.61), nas pequenas cidades podem ocorrer modalidades
formais de associações, a partir de convocações de encontros e da disponibilidade de locais de
encontro e com base na existência de questões de interesse público.

Planejadores e até alguns assistentes sociais costumam entender que as


modalidades formais de associações numa cidade derivam direta e
consensualmente de convocações de encontros, da disponibilidade de locais de
encontro e da existência de questões de interesse público óbvio. Talvez isso
aconteça em subúrbios e cidades de pequeno porte, mas não nas cidades
grandes. JACOBS (2000, p.61)

Como as solicitações de centros comunitários nos bairros não detalham ou explicam quais
as atividades que os moradores pretendem ali realizar, essa questão poderá ser desenvolvida e
aprofundada pela administração pública ou por pesquisadores para avaliar quais as atividades e os
tipos de espaços mais favoráveis e convenientes para a implantação de centros comunitários
públicos nos bairros.
Outras solicitações são relacionadas com atividades de lazer e cultura nos espaços das
escolas públicas, como a possibilidade de “levar esporte, lazer e cultura aos bairros da região,
aproveitando-se os espaços existentes nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental” (3ª
audiência); “aproveitamento do prédio da escola para atividades de lazer, esporte e cultura e
outras com a população” (8ª audiência). Nesse sentido houve também na 14ª audiência, a
solicitação de uso do espaço da EMEF para projetos com a comunidade.

2- As questões culturais formaram um conjunto de solicitações, como na 14ª Audiência,


que se refere à criação de casa de cultura para o bairro (Jardim Itacolomy) e na 4ª audiência
(Jardim Ipê III) para transformar em um centro comunitário ou biblioteca o bloco anexo da
EMEF . Também nesse sentido, na 1ª audiência, a sugestão de trabalho com a terceira idade:
lazer, cultura, esporte. Ainda outras solicitações relacionadas à cultura e aos esportes, como a

100
criação de áreas de lazer, cultura e esportes e a criação de pólos de cultura, esporte e programas
sociais, na 1ª audiência (Jardim Teresinha III); e também a criação de área de lazer no Jardim
Almira na 8ª audiência.
A Lei Complementar nº. 968, de 05/12/2008, sobre a Revisão do PDDI de Mogi Guaçu,
no Capítulo XIII - Do Desenvolvimento Social, contemplou no artigo 17, de forma geral, a
implantação de casas de cultura e o aproveitamento dos espaços das escolas para atividades
culturais.
SEÇÃO I
DA PROMOÇÃO DA CULTURA

ART. 17) O Poder Executivo adotará ações para a promoção da cultura, que
permitam:
I – assegurar o pleno funcionamento e a ampliação de equipamentos e serviços
culturais municipais, especialmente com a implantação de Casas de Cultura nos
bairros e aproveitamento dos espaços das unidades de ensino para atividades
culturais da população;
[...]

A implantação de Casas de Cultura nos bairros e o aproveitamento dos espaços das


unidades de ensino para atividades culturais dependem de detalhamentos como projetos culturais,
caso sejam projetos adotados pela Secretaria de Cultura, recém criada na atual administração
municipal, em conjunto com a Secretaria de Educação do município.
Uma sugestão diferente das anteriores, por não depender do poder publico para a sua
realização, é a de formar ONGs nos bairros para o exercício da cidadania (13ª audiência – Jardim
Rosa Cruz).

3- Foram feitas solicitações para a implantação de espaços públicos de lazer nas partes
norte, leste e sul da cidade de Mogi Guaçu, conforme relacionadas abaixo:

 Criação de áreas de lazer, cultura e esportes (1ª audiência – Jd. Sta. Teresinha II na zona
leste);
 Área para a prática de esportes e lazer (2ª audiência – Jardim Chaparral na zona leste);
 Melhor atenção ao Córrego dos Ipês no trecho que corta o bairro para urbanização e
criação de espaços para atividades de lazer à população (3ª audiência – Jd. Ipê Pinheiros

101
na zona norte);
 Criação de área de lazer no bairro (8ª audiência – Jardim Almira na zona leste);
 Áreas para práticas de esporte e lazer no bairro (11ª audiência – Jardim Hedy e 12ª
audiência – Vila Paraíso na zona sul);
 Criação de área de lazer nas margens do córrego dos Macacos (14ª audiência - Jardim
Novo Itacolomy na zona sul).

A forma das solicitações de áreas de lazer não incluiu a tradicional praça pública, e assim
ficou esclarecido que as solicitações são referentes aos espaços públicos maiores, para a
realização de caminhadas e outras atividades de recreação e esportes. As solicitações citam duas
grandes áreas na cidade de Mogi Guaçu: uma na zona norte junto ao Córrego dos Ipês, onde se
localizam diversos núcleos residenciais populares; e outra, na zona sul, junto ao córrego dos
Macacos. Essas duas áreas públicas podem se transformar em grandes e importantes espaços de
lazer para atender toda a zona norte e toda a zona sul da cidade.
Em relação a essas importantes questões levantadas pelos moradores nas audiências, a
Proposta Justificativa da Revisão do PDDI apresentou propostas de implantação de áreas de lazer
nas zonas norte, leste e sul, e também na zona oeste e a revitalização do Parque dos Ingás no
centro, relacionadas a seguir:

1. Revitalização do Parque dos Ingás no centro da cidade;


2. Parque Linear do Córrego dos Macacos;
3. Área de Lazer e Verde na zona Leste;
4. Revitalização do Jardim dos Lagos;
5. Área de lazer na Praça Francisco Marchesi;
6. Parque Linear do córrego dos Ipês.

As propostas de novas áreas de lazer apresentadas na Proposta Justificativa de revisão do


PDDI para as áreas listadas acima, serão observadas em maiores detalhes na parte sobre Áreas
verdes e de lazer, neste capítulo do trabalho.
Na Lei Complementar nº. 968 de Revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
de Mogi Guaçu, as questões sobre as novas áreas verdes aparecem nos capítulos IV e V, com

102
ênfase em espaços estruturados, a partir da rede hídrica do município e nas áreas de entorno dos
córregos dos Macacos e dos Ipês, da maneira exposta a seguir:

CAPÍTULO IV
DA POLÍTICA DE ORDENAÇÃO DO TERRITÓRIO, DA
ESTRUTURA URBANA E DO USO DO SOLO
SEÇÃO I
DOS OBJETIVOS

ART. 20) São objetivos da política de ordenação do território:


[...]
III – a criação e a ampliação de espaços livres de uso comum de todos e áreas de
proteção ambiental, estruturados em sistema a partir da rede hídrica do
Município;
[...]

CAPÍTULO V
DA POLÍTICA AMBIENTAL E DE PROTEÇÃO À PAISAGEM
SEÇÃO IV
DOS RECURSOS HÍDRICOS

ART. 30) O Poder Executivo Municipal aplicará as seguintes diretrizes para a


proteção e regeneração dos recursos hídricos:
I – criar sistema integrado de corredores verdes e parques lineares, protegendo
toda a rede hídrica, composta pelas cabeceiras, cursos d’água estruturantes e
seus tributários, aqüíferos e áreas úmidas, protegendo e recuperando as matas
ciliares e permitindo usos controlados e compatíveis com a fragilidade do
suporte biofísico, para fins de recreação, lazer e convivência, na zona de
amortecimento, em especial no Córrego dos Macacos e no Córrego dos Ipês;
[...]

SEÇÃO V
DO SISTEMA DE ÁREAS VERDES

ART. 31) O Poder Executivo Municipal aplicará as seguintes diretrizes e ações


para a criação do sistema de áreas verdes:
[...]

103
III – criação de rede de parques lineares e corredores verdes para a proteção dos
fundos de vale, implantando zonas de amortecimento para resguardar a
integridade das áreas de preservação dos cursos d’água, em especial na área do
Córrego dos Macacos e na área do Córrego dos Ipês;
[...]
VIII – criação de conselhos gestores em parques públicos e áreas de proteção
ambiental onde se definam usos coletivos; [...]
XII – implantação de um parque na área da Cachoeira de Cima, com vistas à
recuperação e conservação da mata ciliar no entorno do lago da barragem, e o
uso racional para o turismo e o lazer, com plano de manejo de proteção
ecológica.

Assim, verifica-se que a revitalização de Parque dos Ingás no centro e a implantação de


equipamentos públicos na Praça Francisco Marquesi não foram citadas no texto de lei do plano
diretor, fazendo parte somente da Proposta Justificativa do plano. Como visto acima, a
implantação de um parque, na área da Cachoeira de Cima permanece como ideia no planejamento
de Mogi Guaçu, desde o PDDI de 1971. Além dos itens acima, a revisão do PDDI (Art. 24)
coloca como um dos objetivos da política ambiental e de proteção à paisagem, também a elaboração de
um Plano Diretor de Proteção do Meio Ambiente e de Saneamento Ambiental.

4- A sugestão de limitação da expansão urbana (1ª audiência – Jardim Santa Teresinha II)
e a indicação da necessidade de diretrizes para ocupação de espaços vazios na área urbana (5ª
audiência – Jardim Igaçaba) estão de acordo com a proposta de ocupação prioritária dos vazios
urbanos de Mogi Guaçu, que faz parte da revisão do PDDI, e que será vista na parte seguinte
deste trabalho.

5- Na 5ª audiência (Jardim Igaçaba) foram feitas as seguintes questões sobre os resíduos


sólidos urbanos, inclusive a solicitação de educação ambiental nas escolas da rede pública:

 Melhorias no sistema de coleta de lixo domiciliar na cidade.


 Implantação de coleta seletiva na cidade.
 Educação ambiental nas escolas da rede pública.

104
 Melhor destinação do lixo hospitalar da cidade.
 Gestão do resíduo sólido de construção civil.

As questões de saneamento, embora não abordadas diretamente na revisão do PDDI,


apresentam boas condições na cidade, conforme se pode observar na tabela abaixo:

Tabela 4.1.1 - Mogi Guaçu: Atendimento em saneamento – 2000 (em %)

Serviço de Saneamento Mogi Guaçu Reg. Governo Estado


Abastecimento de Água 99,56 97,23 97,38
Coleta de Lixo 99,69 99,03 98,90
Esgoto Sanitário 99,03 83,12 85,72
Tratamento de esgoto 70 NA NA
Lixo domiciliar c/ disposição 100 NA NA
Sanitária adequada
Fontes: Proposta Justificativa da revisão do PDDI de Mogi Guaçu e Fundação SEADE
NA – Não se aplica

6- Foram feitas diversas solicitações referentes às possibilidades de a gestão municipal


promover o crescimento econômico da cidade e das famílias e também para a promoção do
turismo rural no município.

1ª Audiência - Jardim Sta. Teresinha II:


Ampliação de cursos profissionalizantes para os jovens aproveitando a estrutura física existente
do Centro de Atendimento Integral à Criança – CAIC;
Programas sociais para pais de alunos com finalidade de aumento da renda familiar e
planejamento familiar (esterilização).

3ª Audiência – Ipê Pinheiros:


Cursos para capacitação das famílias com vistas a geração de rendas utilizando o espaço
das escolas do bairro.

105
6ª Audiência – CEGEP no Centro:
Incentivo e desenvolvimento do setor de turismo e de eventos de âmbito regional;
Criação e desenvolvimento de turismo rural.
13ª Audiência - Jardim Rosa Cruz:
Mais indústrias e programa de incubadora de empresas.

Essas questões levantadas nas audiências públicas foram contempladas na Lei


Complementar nº. 968 de Revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Mogi
Guaçu, no Capítulo II – Do Desenvolvimento Municipal, na forma de diretrizes ou ações para o
desenvolvimento social, rural , industrial e do turismo, nos artigos 12, 13, 14 e 16.
Destaca-se como interessante a questão de conhecimento da realidade e da geografia rural
do município, e a possibilidade de turismo rural como parte do conhecimento do município.

SEÇÃO I
DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO

ART. 12) Constituem diretrizes gerais para o desenvolvimento social e


econômico:
[...]
III – fomentar e apoiar as atividades econômicas baseadas nos princípios e
iniciativas de promoção da economia solidária, do cooperativismo, do
associativismo e dos agrupamentos familiares, e em especial, capacitar as
famílias para geração de trabalho e renda;
[...]
X – incentivar o turismo cultural, desportivo, de lazer, ecológico, rural e de
negócios, mediante ações em âmbito municipal e regional;
XI – incentivar programas de pesquisa e desenvolvimento no Município.
[...]

SEÇÃO II
DO DESENVOLVIMENTO RURAL

ART. 13) O Poder Executivo promoverá as seguintes ações para implementação


das políticas de desenvolvimento rural:
[...]

106
X – melhoria e ampliação da rede de estradas municipais para facilitar o
escoamento da produção, do transporte de insumos, da movimentação da
população rural e incentivo ao turismo ecológico, rural e de agronegócios;
XI – contextualização da grade curricular das escolas da rede pública municipal
e municipalizada, relacionando os conteúdos das aulas e atividades didático
pedagógicas a questões relacionadas à realidade e à geografia rural do
Município;
[...]

SEÇÃO V
DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

ART. 16) O Poder Executivo adotará as seguintes ações para o desenvolvimento


do turismo:
[...]
VII – desenvolvimento de roteiros e implantação da sinalização turística
conforme padrões e especificações técnicas pertinentes, nacional e
internacionalmente, inclusive e com especial atenção à zona rural;
VIII - produção de projetos e desenvolver atividades promocionais,
contemplando os atrativos naturais e históricos do Município, inclusive
sistematizar o levantamento e a atualização de dados e informações de interesse
para o desenvolvimento turístico no Município;
IX – recuperação dos pontos e construções históricas, inclusive com a
introdução de melhorias no seu entorno, visando seu aproveitamento turístico e
como ponto de comércio e serviços.
X – promoção da instalação de postos de informação turística; [...]

Cabe considerar que a forma de contemplar, no PDDI, as questões das audiências públicas
como diretrizes ou ações não garante a sua inclusão no plano de governo municipal, portanto, não
garante a sua realização. Também, é claro que as propostas de diretrizes, objetivos ou ações nos
planos diretores não garantem os recursos necessários aos projetos e à sua execução na
administração municipal.

107
Como diz Villaça (2000, p.4), a existência de planos não garante os recursos necessários
para as soluções de infra-estrutura urbana e a implantação de serviços públicos de qualidade. É
certo, também, que todos os serviços públicos e obras públicas devem ser planejados.
Quando o plano diretor municipal é aprovado no último ano de um governo, como no
caso do plano diretor de Mogi Guaçu em 2008, existe a questão de compatibilização do plano de
governo que assume a administração com as diretrizes e prioridades do plano diretor elaborado
na administração anterior.
Porém o Estatuto da Cidade (Lei 10.257 de 2001) é bem claro quanto a isso, como se
verifica no seu Art. 40: O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e expansão urbana; e no § 1o deste artigo: O plano diretor é parte
integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes
orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.
Assim, para o plano diretor ser parte integrante do processo de planejamento municipal é
necessário a inclusão das diretrizes e prioridades nele contidas, no plano plurianual elaborado no
primeiro ano de governo, na lei anual de diretrizes orçamentárias e no orçamento anual do
município.

7- Na 6ª audiência no Centro (Escola CEGEP) e na 12ª audiência na Vila Paraíso foram


solicitadas ciclovias nas principais avenidas da cidade de Mogi Guaçu, o que foi incluído no
Mapa de Diretrizes Viárias do PDDI, com a ideia de implantação de um anel viário central, com a
inclusão de ciclovia e ciclofaixa12.
Na lei de revisão do PDDI (Lei Complementar nº. 968) a implantação de ciclovias foi
incluída no artigo 3º como parte dos objetivos gerais da política de desenvolvimento integrado,
que inclui a atenção especial ao pedestre e a implantação de ciclovias e ciclofaixas e no artigo 64
como uma das ações para promoção da acessibilidade mediante uma rede integrada de vias.

8- Na 7ª audiência realizada na Vila São Carlos, as solicitações concentraram-se nas


questões relacionadas à terceira idade, sendo que a solicitação de adequação das calçadas não é
uma questão apenas da terceira idade, mas de toda a população urbana.

12
Ciclovias são pistas exclusivas para ciclistas e ciclofaixas são faixas demarcadas para o uso de ciclistas nas ruas e
avenidas.

108
9- Em relação à segurança pública foram solicitadas rondas escolares durante horários de
entrada e saída de alunos, implantação de policiamento a pé nas praças, posto avançado de
policiamento no Jardim Hedy, questões essas que não foram tratadas na revisão do PDDI, mas
que fazem parte da gestão da cidade.

10- Na 15º audiência, no distrito de Martinho Prado Júnior, as solicitações concentraram-


se na ampliação da Unidade Básica de Saúde para incluir as especialidades médicas e estender o
horário de atendimento para 24 horas. Também foi solicitada a construção de rampas e sanitários
para deficientes na Escola Geraldo Sorg.
Diversas questões relacionadas à saúde foram feitas nas outras audiências, como a
construção de Programa de Saúde da Família – PSF (12º audiência –Vila Paraíso e 14º audiência
– Jardim Novo Itacolomy), um programa de atendimento domiciliar de saúde que não necessita
necessariamente da construção de edifício no local.

A seguir, será tratada uma questão central do trabalho, que é a possibilidade de


crescimento da cidade de Mogi Guaçu abrangendo os vazios urbanos, no período de 2008 a 2017.

109
4.2 Os vazios urbanos e o crescimento da cidade

Este item do trabalho procura verificar as possibilidades de crescimento da cidade de


Mogi Guaçu nos próximos 10 anos, que é o horizonte de atuação do plano diretor municipal;
tomando em consideração a existência dos vazios urbanos e suas dimensões, a estimativa de
crescimento urbano e também a caracterização destes vazios como zona de urbanização
prioritária no plano diretor. O período de 10 anos é considerado a partir de 2008, quando foi
elaborada e aprovada na Câmara Municipal a revisão do PDDI de Mogi Guaçu, como a Lei
complementar nº 968 de 05/12/2008.
A estimativa de crescimento populacional considera a taxa geométrica de crescimento
anual de 1,8% ao ano, sendo que no período de 2000 a 2007, a taxa foi de aproximadamente
2,0% ao ano.

Tabela 4.2.1 – Mogi Guaçu: Estimativa de crescimento da população


Período 2008-2017

2007 131.870 habitantes 123.600 (Pop. Urbana)


2008 134.243 125.824
2009 136.660 128.089
2010 139.120 130.395
2011 141.624 132.742
2012 144.173 135.131
2013 146.768 137.564
2014 149.410 140.040
2015 152.100 142.560
2016 154.837 145.127
2017 157.624 147.739
Fontes: IBGE, SPDU e FMPFM – Proposta Justificativa: revisão do PDDI
Taxa estimada geométrica de crescimento anual -2007/2017: 1,8% ao ano.
Taxa de urbanização: 93,7% (Fundação SEADE)

O mapa 4.2.1 mostra os vazios urbanos distribuídos na zona urbana de Mogi Guaçu, que
tem uma área total de 42,30 km², e o Quadro 4.2.1 apresenta a lista com as denominações e as
áreas, conforme levantamento da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano.
A ocupação dos vazios urbanos deve respeitar os espaços culturais e ambientais de cada
lugar, tais como edificações significativas e vegetações de fundos de vales.

110
Mapa 4.2.1 – Vazios urbanos de Mogi Guaçu

Fonte: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Mogi Guaçu, 2008.

111
Quadro 4.2. 1 - Vazios Urbanos de Mogi Guaçu
Nº. Denominação Área (m²)
1 V. Mazon 100.674
2 Nakan 74.721
3 Leontina 21.322
4 C. Caveanha 17.046
5 J. N. Di Filipe 27.649
6 Artvel 75.709
7 Construvenda 37.683
8 Taguaçu 250.597
9 Margy 27.540
10 Pátaro 23.103
11 Multipart 1 123.734
12 Multipart 2 92.045
13 Multipart 3 278.749
14 H. Maldonado 21.618
15 Riwenda 97.692
16 Florindo 37.634
17 Zaniboni 152.093
18 JB Leite 46.446
19 G. Vendramini 16.361
20 J. N. Di Filipe 16.841
21 L. A. de Melo 18.269
22 Fantinato 27.789
23 W. Siqueira 1 28.909
24 W. Siqueira 2 12.328
25 Construmec 1 78.162
26 Construmec 2 5.862
27 Família Mendes 14.448
28 A. Andrade 489.556
29 Terra Boa 232.380
30 B. Pinheiro 25.295
31 A. Ramos 187.372
32 A. Ramos 222.822
33 Sul 1 190.000
34 Sul 2 474.000
TOTAL 3.546.449
Fonte SPDU e FMPFM

112
É preciso destacar que a gleba de nº. 1, com 100.674 m², inicialmente considerada como
vazio urbano, foi enquadrada no plano diretor como Zona de Urbanização Restrita - ZUR, por
conter as nascentes do córrego dos Macacos e a gleba de nº. 31 (não mostrada no mapa), com
187.372 m², não se encontra dentro, mas ao lado do perímetro urbano e assim não será
considerada como um vazio urbano. A soma das áreas destas duas glebas resulta em 288.046 m²,
que subtraída do total, resulta em 3.258.403 metros quadrados de vazios urbanos, ou 3,25 km².
Alguns vazios urbanos possuem projetos ou estudos para ocupação, como a gleba nº. 28
com 489.556 m², para parcelamento residencial e a gleba nº. 13 - Multipart com 278.749 m², em
estudo para a implantação de shopping center. Neste último caso a ocupação não será residencial,
embora o projeto possa conter também edifícios residenciais.

Foto 4.2.1 – Vazio urbano Multipart (Antiga Cerâmica Martini)

Fonte: Arquivo do autor, 26 de junho de 2008.

113
Caso as demais glebas de vazios urbanos sejam ocupadas com projetos residenciais ou
mistos, com uso residencial, comercial e de prestação de serviços, como estimar a população total
que pode ser abrigada em 3,25 km² de futuras glebas urbanizadas?
O aproveitamento estimado de lotes por hectare é de 60% ou 6.000 m², considerando-se
15% de áreas públicas institucionais e de lazer e 25% de vias públicas.
Assim em 3,25 km² ou 325 hectares de vazios urbanos, tem-se um aproveitamento de
60% para lotes, ou seja, 1,95 km² para o uso com habitação, comércio e serviços. Os restantes
40%, ou sejam, 1,3 km² são previstos para sistema de circulação, áreas institucionais e áreas
verdes e de lazer, conforme o Quadro 4.2.2 abaixo.

Quadro 4.2.2 – Vazios urbanos: Estimativa de área de lotes e áreas públicas


Vazios urbanos 3,25 Km² 100%
Lotes (parcelamento do solo) 1,95 Km² 60%
Áreas institucionais 0,16 Km² 5%
Áreas verdes de lazer 0,33 Km² 10%
Vias públicas (ruas e avenidas) 0,81 Km² 25%
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir das informações da SPDU.

Estimando o aproveitamento de lotes por hectare, tem-se em 10.000 m², o aproveitamento


de 60% ou 6.000 m² para lotes, que resulta em 20 lotes de 300 m² ou em 30 lotes de 200 m² por
hectare.
Considerando-se que cada lote terá um imóvel com 3,36 pessoas por domicílio13, temos a
estimativa de 67 habitantes por hectare14 ou 10.000m², no caso de lotes de 300 m²; ou 100
habitantes por hectare15 no caso de lotes de 200 m².
Dessa maneira, a estimativa é de 6.720 habitantes por km² (100 ha) em parcelamentos de
lotes de 300m²; ou 10.080 habitantes por km², no caso de parcelamentos de lotes de 200m². Este
trabalho considera o parcelamento em lotes de 200m² como o tipo de parcelamento a ser adotado
nos vazios urbanos de Mogi Guaçu.

13
Conforme a contagem populacional do IBGE – 2007 (O Regional, 28 de março de 2008)
14
Considera-se que 6.000m² ÷ 300m² = 20 lotes x 3,36 pessoas = 67,2 pessoas para cada hectare inicial.
15
Neste caso, considera-se 6.000m² ÷ 200m² = 30 lotes x 3,36 pessoas = 100,8 habitantes/ha.

114
Antes de chegar a um total de habitantes estimado nos vazios urbanos de Mogi Guaçu, é
necessário considerar que uma parte das glebas será ocupada com comércio e serviços, para
garantir a diversidade urbana, com o atendimento das necessidades de abastecimento dos
moradores além das demais, relacionadas à saúde, educação, cultura, lazer, etc.
De forma preliminar, será considerado que 15% da área total de parcelamento nos vazios
urbanos serão ocupados com comércio e serviços, conforme o Quadro 4.2.3 abaixo.

Quadro 4.2.3 – Uso do solo nos vazios urbanos: habitação, comércio e serviços
Tipo de uso do solo Área Porcentagem
Habitação 1,65 Km² 85%
Comércio e serviços 0,30 Km² 15%
Total 1,95 Km² 100%
Fonte: Elaborado pelo autor.

Assim, temos uma área total de 1,65 km² para uso habitacional nos vazios urbanos e de
0,30 km² para uso comercial e de serviços. Cabe agora, considerar as tipologias de uso
habitacional, que poderão caracterizar a ocupação do solo urbano no crescimento da cidade de
Mogi Guaçu até 2017.
A tipologia mais comum na cidade é a de residência em lote, e para os fins do trabalho,
considerou-se o parcelamento em lotes de 200m², de valor econômico menor do que os lotes de
300m², e assim mais viável de aquisição para uma parte maior da população de Mogi Guaçu.
Também foi considerada a ocupação de uma parte dos vazios urbanos com edifícios de 4
pavimentos, sem elevador, com 4 unidades por pavimento e 16 unidades habitacionais em cada
edifício, que é um tipo de habitação comum na cidade.
Considera-se que o uso habitacional em lotes de 200m² será de 80% do total e em
edifícios de 4 pavimentos será de 20% do total. Assim, tem-se que, dos 1,65 km² de vazios
urbanos para uso habitacional, 1,32 km² será ocupado por lotes de 200m² e 0,33 km² será
ocupado com edifícios de 4 pavimentos.
Para estimar a densidade populacional na tipologia de edifícios de 4 pavimentos com 16
unidades residenciais, foi considerada a implantação de um edifício em um terreno de 2.000 m², e

115
o resultado foi de 16 habitações x 3,36 pessoas por habitação = 53 pessoas para 2.000 m² ou 265
habitantes por hectare, ou ainda 26.500 habitantes por km².
Dessa forma, a densidade de ocupação populacional dos vazios urbanos será de 165
habitantes/ha, ou seja, maior do que a atual ocupação populacional na cidade de Mogi Guaçu, que
desde o ano de 1970, incluindo os vazios urbanos, é de aproximadamente 30 habitantes por
hectare. (Conforme a Proposta Justificativa de revisão do PDDI, 2008, p.16)
A Tabela 4.2.2 abaixo estima as quantidades de habitações unifamiliares (80%) e em
prédios de 4 pavimentos (20%), possíveis em 1,65 km².

Tabela 4.2.2 – Vazios urbanos de Mogi Guaçu: número de habitantes possíveis, 2008 a 2017
Área de Área de vazios

Tipologia de residencias Habitantes/hectare vazios Total de Habitantes urbanos em


urbanos em Km²
Ha
Unifamiliar/lote 200m² 100,8 hab. p/ ha 132 13.305 1,32
Prédio 4 pavimentos 265 hab. p / ha 33 8.745 0,33
Total -- 165 22.050 1,65
Fonte: Tabela elaborada pelo autor.

Esta estimativa de ocupação residencial dos vazios urbanos de Mogi Guaçu indica que a
ocupação integral dos vazios urbanos pode suprir o crescimento populacional da cidade até o ano
de 2017, com uma possibilidade de aumento populacional de 22.050 habitantes em relação à
população de 125.824 estimada para 2008, que resulta em 147.874 habitantes, ou seja,
praticamente igual ao número do crescimento da população urbana, estimado em 147.739
habitantes em 2017. (ver Tabela 4.2.1)
Dessa maneira, os vazios urbanos supririam a necessidade de novas áreas para habitação
até o ano de 2017, e a expansão além dos limites atuais do perímetro urbano poderia ocorrer em
áreas muito pouco extensas, resultando assim, em um maior aproveitamento da infra-estrutura
existente na zona urbana.
Apresenta-se a seguir, estudo preliminar de implantação de quatro edifícios de 4
pavimentos em uma parte do vazio urbano nº. 28, com o objetivo de verificar a ocupação
habitacional dos vazios urbanos de Mogi Guaçu com condomínios de vários edifícios.

116
Figura 4.2.1 – Estudo para edifícios de 4 pavimentos em Mogi Guaçu

Fonte: Arquivo do autor, 11 de maio de 2007.

A área de terreno, neste caso, é de 11.750m² para um total de 64 habitações, com a


população de 3,36 pessoas por domicílio, que resulta em 215 moradores, com uma densidade
populacional de 183 hab/ha, portanto, abaixo de 265 habitantes por hectare, considerada na
Tabela 4.2.2 para os cálculos de ocupação dos vazios urbanos.

117
Neste exemplo da Figura 4.2.1, a característica de implantação é de um condomínio
fechado com longos muros ou grades, ao contrário do edifício único de 4 pavimentos em um lote
de 2.000m², que tem uma característica de maior inserção na malha urbana. No caso do exemplo
citado na Figura 4.2.1, os espaços livres são amplos, com duas vagas de estacionamento por
unidade e com previsão de área de lazer com salão de festas.
Porém, neste caso a sensação de exclusão ou de separação urbana será maior do que com
prédios mais próximos das ruas.
Como foi visto anteriormente no item 2.3 do trabalho sobre o planejamento para a
vitalidade urbana, é preciso o cuidado de evitar os muros extensos nos projetos de condomínios
residenciais, que resultam em fronteiras desertas, e também prever a existência de lotes
comerciais e de serviços nas divisas dos condomínios, para permitir os usos que estão sempre em
contato com as ruas e assim ficam sob os olhares vigilantes dos comerciantes.
Nesse sentido, o plano diretor atual de Mogi Guaçu admite (Lei Complementar 968, art.
69, § 1º) que “os empreendedores poderão reservar, na parte externa da área do condomínio, de
acesso a todas as pessoas, quando o zoneamento local permitir, área destinada para uso misto, tais
como atividades de lazer, comércio e prestação de serviços, e para empreendimentos industriais
de pequeno e médio portes”.
A dificuldade de aproveitamento dos vazios urbanos resume-se na questão dos altos
valores das terras urbanas nas cidades vizinhas de Mogi Guaçu e Mogi Mirim, principalmente
nos casos de habitação popular financiada pelo governo federal ou produzida pelo governo
estadual. Sobre os altos valores das terras urbanas em Mogi Mirim (o que ocorre também em
Mogi Guaçu pelo fato das cidades serem zonas urbanas unidas), principalmente para o uso de
habitações populares, o Prefeito de Mogi Mirim (em 10/3/2010, sobre o Plano Local de
Habitação de Interesse Social) disse que os valores são de R$ 1 milhão ou mais por alqueire
(24.200 m²), o que resulta em um custo final16 de até R$ 30 mil por terreno de 200 m².

16
Considera-se o aproveitamento de 60% de um alqueire em lotes, ou seja, 14.520 m² ou 70 lotes de 200 m²
R$ 1.000.000 ÷ 70 = R$ 14.285. O custo da infra-estrutura pode ser estimado entre R$ 10.000 e R$ 12.000, que
somado ao valor da terra chega a R$ 26.000. Como o valor dos vazios urbanos pode ser superior a R$ 1 milhão por
alqueire, estima-se o custo de até R$ 30.000 por terreno de 200 m².

118
Na próxima etapa do trabalho será visto como a revisão do PDDI de Mogi Guaçu
estabeleceu o zoneamento urbano.

4.3 O zoneamento urbano

Como já foi visto no Capítulo 2, sobre Ordenamento Urbano e Territorial, entende-se por
zoneamento urbanístico e territorial a legislação de uso e ocupação das terras, ou do solo, que
varia no território do município, ou seja, o uso e a ocupação das glebas de terras urbanas podem
ocorrer de forma diferenciada nas diversas partes da cidade e na parte rural.

Ao contrário do zoneamento anterior de Mogi Guaçu, que contava com seis zonas de uso
do solo urbano (ver Mapa 3.2.2), na Revisão do PDDI de Mogi Guaçu, aprovada como lei
Complementar nº. 968 de 05/12/2008; o zoneamento atual é constituído de onze zonas de uso do
solo, além da zona rural. Essas zonas têm as seguintes denominações e cores no mapa de
zoneamento, conforme o Mapa 4.3.1:

1. Zona Residencial – ZR (cor amarela);


2. Zona de Atividades Centrais – ZAC (cor vermelha);
3. Zona Comercial – ZCO (cor laranja);
4. Zona Industrial – ZI (cor lilás);
5. Zona de Urbanização Específica – ZUE (cor marrom claro);
6. Zona de Urbanização Prioritária – ZUP (cor pêssego);
7. Zona de Expansão Urbana – ZEX (cor verde claro);
8. Zona Urbana Restrita – ZUR (cor azul);
9. Zona de Proteção Ambiental – ZPA (cor verde médio);
10. Zona de Integração Urbana – ZIU (cor areia);
11. Zona de Recreação e Lazer – ZRL (cor verde escuro).

119
Mapa 4.3.1 – Mogi Guaçu: Zoneamento urbano do Plano Diretor de 2008

Fonte: Revisão do PDDI de Mogi Guaçu – Lei Complementar nº. 968 de 05/12/2008

120
Conforme visto no item 2.3 do trabalho, o objetivo do planejamento urbano é conseguir a
vitalidade urbana e uma maneira de atingir esse objetivo é a diversidade de usos e de usuários em
locais específicos da cidade. Outras maneiras são: a contribuição dos usuários para a segurança,
os espaços urbanos sem fronteiras desertas e a existência de comércio e de serviços variados.

Quadro 4.3.1 – Metas de planejamento para a vitalidade urbana e formas de aplicação nos
zoneamentos dos planos diretores de cidades médias
1- Estimular a diversidade de usos e de usuários Zoneamento urbanístico com usos diferentes na
para a vitalidade social e como alicerce da força mesma área: habitação unifamiliar, habitação
econômica. multifamiliar, comércio e serviços.

2- Interpenetração de vizinhanças, cujos usuários e Zoneamento urbanístico permitindo usos diversos


proprietários possam dar uma contribuição para a e evitando os núcleos habitacionais populares sem
segurança. comércio e serviços.

3- Evitar fronteiras desertas e ajudar a promover a Prever lotes comerciais, de serviços, habitacionais
identificação das pessoas com os distritos extensos. ou institucionais na parte externa dos condomínios
fechados, e também dos loteamentos fechados,
evitando assim os muros extensos e desertos.
Implantação de áreas de lazer de pequeno porte
para atendimento de áreas menores da cidade.

4- Estimular forças econômicas construtivas e Zoneamento urbanístico possibilitando usos


projetos pessoais, em meio à diversidade em uma diferentes na mesma área: habitação unifamiliar,
área mais ampla da cidade. habitação multifamiliar, comércio e serviços.

5- Explicitar a ordem visual das cidades, por meio Implantação de áreas de lazer para atendimento de
da promoção e da compreensão da ordem funcional. áreas maiores da cidade, com comércio e serviços.
Implantação de sinalização informativa dos lugares,
com placas, indicações e inclusive com a
distribuição de mapas da cidade.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nas propostas de Jacobs (2000, p.454/455)

121
O Quadro 4.3.1 acima apresenta algumas maneiras de abordar essas questões no
zoneamento urbano, dos planos diretores municipais.
O zoneamento urbano da revisão do PDDI de Mogi Guaçu, de forma geral, foi elaborado
de acordo com os itens apresentados acima, pois permite usos diversos na Zona Residencial, na
Zona de Atividades Centrais e na Zona Comercial, sendo que essas zonas abrangem a maior parte
da cidade.

1. Zona Residencial
A zona residencial abrange todos os bairros da cidade, onde o uso residencial já é
predominante, assim o plano diretor reflete uma situação existente e permite os demais usos além
do residencial, mas também estabelece alguns parâmetros de uso com limitações, conforme o
artigo 71 da Lei Complementar nº. 968 de 05 de dezembro de 2008:

ART. 71) Na Zona Residencial (ZR) é permitido o uso residencial unifamiliar e


plurifamiliar, e os usos destinados ao comércio local, serviços diversificados,
institucional e atividade industrial leve e de pequeno e médio portes, com
funcionamento apenas diurno e compatíveis com o uso residencial.

ART. 73) Considera-se uso de comércio e serviço local aquele que se destine a
atender a vizinhança de seu entorno e não sejam geradores de atividades de
carga e descarga de grande porte e de poluição:
I - sonora, segundo as determinações da legislação ambiental para emissão de
ruídos em áreas habitadas;
II - atmosférica, de acordo com as determinações da legislação ambiental
relativa a limitação dos níveis de emissão de poluentes;
III - por meio de resíduos sólidos nocivos à saúde pública e ao Meio Ambiente,
conforme as legislações ambiental e sanitária aplicáveis;

Parágrafo Único. Considera-se uso industrial de pequeno a médio porte o


empreendimento cujas instalações possuam área igual ou inferior a 1000,00 m²
(mil metros quadrados) de área construída, de funcionamento apenas diurno, que
não sejam geradoras de carga e descarga de grande porte, de poluição máxima

122
conforme estabelecido no caput e que se enquadrem na figura de microempresa
ou empresa de pequeno porte, nos termos da legislação federal aplicável.

Os índices urbanísticos que definem as quantidades de ocupações permitidas não foram


estabelecidos no plano diretor de 2008. Conforme o artigo 70, lei específica estabelecerá os
índices urbanísticos para cada uma das zonas.
Por exemplo, o uso residencial plurifamiliar é permitido, o que é favorável à diversidade e
contra a rigidez do uso só unifamiliar, porém qual é o número máximo de pavimentos permitido?
A falta de definição dos índices de ocupação do solo deixa o plano diretor de Mogi Guaçu
incompleto, e dependente de outra lei específica. Para a aprovação de projetos de edificações, a
Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano conta com os índices urbanísticos
existentes e anteriores à aprovação da revisão do PDDI. No caso de edifícios residenciais, o
número máximo é de 15 pavimentos.
A seguir, apresenta-se a Tabela 4.3.1 com os índices urbanísticos para a ZR, que
constavam da minuta elaborada pela equipe da Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro.

Tabela 4.3.1 – Índices Urbanísticos para a Zona Residencial


TO C A básico C A mínimo Nº. de Pavim. TP

Edificação 40% 6,0 0,1 15 10%


Multifamiliar
Edificação 70% 1,5 0,1 02 10%
Unifamiliar
Demais Usos 70% 1,5 0,1 02 10%
Fonte: Minuta de Projeto de Lei de revisão do PDDI de Mogi Guaçu
TO: Taxa de Ocupação
CA básico: Coeficiente de Aproveitamento básico
CA mínino: Coeficiente de Aproveitamento mínimo
TP: taxa de permeabilidade (porcentagem da área do terreno sem pavimento)

2. Zona de Atividades Centrais - ZAC


A zona de atividades centrais é formada pela atual zona central da cidade. Abrange desde
o Rio Mogi Guaçu ao sul, a Avenida Brasil e a rodoviária ao leste, a capela, a Rua Manoel de
Paula, a Praça Cruzeiro ao norte e a Avenida dos Trabalhadores ao leste.

123
Na Zona de Atividades Centrais é permitido o uso comercial e os demais usos desde que
compatíveis com o uso comercial, inclusive residencial unifamiliar e multifamiliar.
A seguir, apresenta-se a Tabela 4.3.2 com os índices urbanísticos para a ZAC, que
constavam da minuta elaborada pela equipe da Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro.

Tabela 4.3.2 – Índices Urbanísticos para a Zona de Atividades Centrais


TO C A básico C A mínimo Nº de Pavim. TP
ou Gabarito
Edificação 40% 6,0 0,1 15 10%
Multifamiliar ou
Serviços
Edificação 70% 1,5 0,1 02 10%
Unifamiliar
Demais Usos 80% 2,5 0,1 03 10%
Comércio/serv.+ 70% 3,0 0,1 04 10%
Resd. Unif. ou
multifamiliar
Fonte: Minuta de Projeto de Lei de revisão do PDDI de Mogi Guaçu
TO: Taxa de Ocupação
CA básico: Coeficiente de Aproveitamento básico
CA mínino: Coeficiente de Aproveitamento mínimo
TP: taxa de permeabilidade (porcentagem da área do terreno sem pavimento)

3. Zona Comercial - ZCO


A Zona Comercial abrange as áreas definidas pelas principais avenidas e ruas, conforme
mapa específico (Mapa 4.3.1), onde é permitido o uso comercial e os demais usos desde que
compatíveis com o uso comercial, inclusive residencial unifamiliar e plurifamiliar. Assim, a zona
comercial permite os mesmos usos da zona de atividades centrais.
Os índices urbanísticos para a ZCO, propostos na minuta de projeto de lei de revisão do
PDDI, eram os mesmos propostos para a Zona de Atividades Centrais na Tabela 4.3.2.

4. Zona Industrial
A Zona Industrial (ZI) abrange os distritos industriais de Mogi Guaçu e outras áreas de
terras conforme o mapa de zoneamento, onde é permitida a instalação de atividades industriais de
pequeno, médio e grande porte, bem como serviços e comércio relacionados à atividade
industrial, com a infraestrutura adequada ao transporte de carga e passageiros, ao fornecimento de

124
energia e às comunicações, assim como a execução de medidas adequadas destinadas a ampliar a
oferta de infraestrutura para as demandas locais e ações para a redução ao máximo possível da
poluição, e para prevenir e reparar eventuais danos ambientais. (art. 78 da Lei 968 – Plano
Diretor de Mogi Guaçu)
Os índices urbanísticos permitidos para a ZI, conforme a minuta de revisão do PDDI,
eram os seguintes: Taxa de Ocupação de 60%, Coeficiente de Aproveitamento máximo de 1,2
vezes a área do terreno, Coeficiente de Aproveitamento mínimo de 0,1 e Taxa de Permeabilidade
de 10%.

5. Zona de Urbanização Específica - ZUE


Conforme o artigo 79 da Lei 968, esta zona abrange os Núcleos Urbanos Isolados,
localizados em área distante da área urbanizada central do Município, onde é permitido o uso
residencial unifamiliar, de comércio local, serviços diversificados e o uso institucional. Esta zona
engloba a questão de loteamentos em zona rural, que é prevista no plano diretor da seguinte
maneira:

ART. 81- A implantação de novos núcleos urbanos isolados em áreas rurais


dependerá de parecer favorável do Conselho Municipal de Desenvolvimento
Integrado de Mogi Guaçu (CONCIDADE), e de autorização por Lei
Complementar específica, e atenderá às seguintes condições:
I – obedecer as diretrizes e normas específicas previstas neste Plano Diretor para
a implantação de chácaras de recreio, inclusive a outorga onerosa de alteração
de uso rural para de urbanização específica;
II – atender as diretrizes definidas previamente pelo Poder Público Municipal,
especialmente no que diz respeito a mobilidade, acessibilidade, sistema viário,
infraestrutura urbana, serviços públicos, transportes e proteção ambiental;
III – lotes mínimos de 1.000,00 m² (hum mil metros quadrados);

De acordo com a minuta de lei da revisão do PDDI, os índices urbanísticos permitidos


para Zona de Urbanização Específica seriam os mesmos índices urbanísticos permitidos na Zona
Residencial, com exceção dos relativos ao uso residencial multifamiliar que não é previst nesta
zona.

125
6. Zona de Urbanização Prioritária – ZUP
A Zona de Urbanização Prioritária, conforme o artigo 83 do Plano Diretor, é formada
pelos vazios urbanos localizados no interior do atual perímetro urbano oficial do Município. A
questão do crescimento da cidade nos vazios urbanos de Mogi Guaçu foi vista em maiores
detalhes na parte anterior deste trabalho. O Plano Diretor, neste artigo, especifica a utilização de
instrumentos jurídicos, urbanísticos e tributários para induzir a urbanização prioritária dos vazios
urbanos e estabelece o coeficiente de aproveitamento mínimo 0,1; abaixo do qual o imóvel
localizado no vazio urbano é considerado subutilizado. As glebas da Zona de Urbanização
Prioritária são destinadas ao uso como Zona Residencial (ZR) e Comercial (ZCO).

§ 1º. O Poder Executivo utilizará os instrumentos jurídicos, urbanísticos e


tributários previstos neste Plano Diretor para induzir a urbanização prioritária
dos vazios urbanos visando o adequado aproveitamento da infraestrutura urbana
instalada e o cumprimento da função social da propriedade urbana.
§ 2º. Na Zona de Urbanização Priorítária são permitidos os mesmos índices
urbanísticos permitidos na Zona Residencial, assim como são exigidos os
mesmos afastamentos da edificação em relação à rua e às divisas do terreno.
§ 3º. Na Zona de Urbanização Priorítária é necessário o aproveitamento mínimo
com coeficiente 0,1.

Conforme a Lei Complementar 968 de revisão do PDDI, os três instrumentos de


planejamento urbano possíveis de aplicação na ZUP (vazios urbanos), são o Aproveitamento
compulsório, a Outorga onerosa do direito de construir e as Operações urbanas consorciadas, que
serão detalhados à frente no trabalho

7. Zona de Expansão Urbana –ZEX


As Zonas de Expansão Urbana, conforme os artigos 86 e 87 da Revisão do PDDI, são
destinadas à expansão urbana do Município de Mogi Guaçu para além de seu perímetro urbano
oficial. Essas áreas também estão delimitadas no mapa de zoneamento, na parte leste e também
na parte norte da cidade. O Poder Executivo adotará como diretriz para as Zonas de Expansão
Urbana a integração com a cidade, a partir da definição de diretrizes específicas para ocupação,
entre as novas frentes de urbanização e os tecidos urbanos consolidados em seu entorno.

126
Para melhor identificação das zonas de expansão de Mogi Guaçu, elas podem ser
denominadas zona de expansão leste e zona de expansão norte.
A zona de expansão leste (ver Mapa 4.3.1) pode ser visualizada com a imagem aérea da
Figura 4.3.1.

Figura 4.3.1– Mogi Guaçu: Zona de expansão leste

Fonte: Google Earth, 28/02/2009. A zona de expansão leste abrange as terras no entorno do
círculo de terra para plantação no centro da imagem, prolongando-se para o norte até a rodovia
vicinal que liga a rodovia SP-342 até a cidade de Itapira (a direita na imagem).

127
Alguns importantes pontos referentes à zona de expansão urbana leste devem ser
observados.
Em primeiro lugar a falta de ligações viárias de sentido leste para a ocupação das glebas
nesta parte do município. A Rua Paula Bueno é a única ligação viária leste-oeste importante com
a zona de expansão urbana leste.
Em segundo lugar a Avenida Emília Marchi Martini, que tem direção leste-oeste, termina
na Fazenda Tijuco e a sua continuação está impedida por plantação de café (ver Fig. 4.3.2), que o
proprietário, em conversa com o autor, não pretende transformar em uso urbano. Na parte
seguinte do trabalho, referente às diretrizes viárias do plano diretor, verifica-se que uma das
possibilidades de diretrizes viárias para o local é o prosseguimento da Avenida Emília Marchi
Martini em curva até encontrar a Rua Paula Bueno.
O terceiro ponto a observar é a rodovia vicinal asfaltada Mogi Guaçu – Itapira, que é uma
importante ligação viária, mas não é o limite para a expansão, que está até na parte que as micro-
bacias hidrográficas têm caimento para a cidade, onde existe e é possível o tratamento de esgotos.
A Figura 4.3.2 a seguir mostra em maiores detalhes o final da Avenida Emília Marchi
Martini e a Fazenda Tijuco.

128
Figura 4.3.2 – Final da Av. Emília Marchi Martini (esquerda em faixa dupla), Fazenda
Tijuco (centro) e a continuação da Rua Paula Bueno (embaixo, em cinza).

Fonte: Google Earth, fevereiro de 2009.

Em relação à zona de expansão urbana leste, estabelecida no plano diretor, existe a


necessidade de aprofundar os estudos geológicos, geotécnicos e geomorfológicos das micro-
bacias hidrográficas, além de verificar os demais detalhes referentes às propriedades, os usos
existentes.
O Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo (PONÇANO, 1981) indica a zona de
expansão urbana leste como de relevo de colinas amplas (ver Mapa 4.3.2 - código 212, cor verde-
claro), caracterizada por formas suavizadas, levemente onduladas, de declividades inferiores a
15%, parte da Zona do Mogi Guaçu na Depressão Periférica Paulista.

129
Mapa 4.3.2 – Relevo de Mogi Guaçu

Fonte: PONÇANO, Waldir Lopes (Coordenação). Mapa Geomorfológico


do Estado de São Paulo. Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência
e Tecnologia, 1981, p.62, Figura 5.7 e mapa.
Legenda:
212 – Colinas amplas,
213 – Colinas médias,
234 – Morrotes alongados e espigões

130
Também em relação à zona de expansão norte (Fig. 4.3.3 e Mapa 4.3.3), formada de
colinas amplas, existe a necessidade conhecer as terras em maiores detalhes, para verificar as
possibilidades de ocupação urbana futura de Mogi Guaçu, porém essa área de expansão é bem
menor do que a zona de expansão leste.

Figura 4.3.3 – Mogi Guaçu: zona de expansão urbana norte

Fonte: Google Earth, 04 de março de 2009. A zona de expansão urbana


aparece entre a Estrada Vereador Lourenço Gerbi e a ferrovia
à direita, onde localiza-se a estação de tratamento de esgoto (retângulo escuro
no centro da imagem).

131
Mapa 4.3.3 – Zona de Expansão Urbana norte

Fonte: Mapa de Zoneamento Urbano – Revisão do PDDI, 2008.

Como foi visto no Capítulo 2.1 do trabalho, a respeito de Plano Diretor e Estatuto da
Cidade, a Lei Orgânica de Mogi Guaçu - Art. 150, de forma adequada e coerente, determinou a
necessidade de elaboração de um Plano Municipal de Meio Ambiente e Recursos Naturais
anteriormente ao Plano Diretor e à Lei de Zoneamento. Este Plano de Meio Ambiente, ainda não
realizado, permitiria conhecer em maiores detalhes as terras abrangidas pela zona de expansão
urbana sob os aspectos ambientais e dessa maneira, seria de muita utilidade para o planejamento
urbano de Mogi Guaçu.

132
8. Zona Urbana Restrita – ZUR
A Zona Urbana Restrita abrange glebas na zona urbana, na parte leste e na parte oeste da
cidade (Mapa e Fig. 4.3.4), próximas do Rio Mogi Guaçu, onde o uso do solo para fins urbanos é
permitido de forma restrita, com a função de manter e desenvolver as suas características
naturais. Também constituem zona urbana restrita: a área das nascentes do córrego dos Macacos
e uma área na Avenida Luiz Gonzaga de Amoedo Campos, ambas na parte sul da cidade.

Mapa 4.3.4 – Zonas Urbanas Restritas leste e oeste (cor azul)

Fonte: Mapa de Zoneamento da revisão do PDDI, 2008. Sem escala.

Figura 4.3.4 – Zonas Urbanas Restritas leste e oeste

Fonte; Google Earth, 11 de março de 2009

133
Para a Zona Urbana Restrita, na minuta de revisão do PDDI, foram propostos os seguintes
índices urbanísticos e recuos (não incluídos na Lei Complementar 968):
Coeficiente de Aproveitamento máximo = 4,0;
Coeficiente de Aproveitamento mínimo = 0,1;
Taxa de Ocupação = 25%;
Taxa de Permeabidade = 25%;
Recuo Frontal = 8,00 m (oito metros);
Recuo de Fundo = mínimo de 4,00m;
Recuo Lateral = mínimo de 4,00 m;
Gabarito de altura = 15 pavimentos.

9. Zona de Proteção Ambiental – ZPA


Conforme o artigo 91 da lei de revisão do PDDI, a Zona de Proteção Ambiental abrange
as áreas definidas como APA – Áreas de Proteção Ambiental e outras modalidades de unidades
de conservação da natureza, conforme a legislação ambiental aplicável; para as quais são
aplicáveis as diretrizes estabelecidas no próprio plano diretor referentes à política ambiental e de
proteção da paisagem. As maiores áreas definidas como zona de proteção ambiental são as
seguintes: a primeira está no leste, junto do reservatório da Pequena Central Hidrelétrica, como
uma forma de proteção do manancial de água das cidades de Mogi Guaçu e Mogi Mirim; a
segunda está na parte oeste da cidade, próxima da estação de tratamento de esgoto; a terceira está
junto da SP-340, nas terras da indústria International Paper.

10. Zona de Integração Urbana – ZIU


A Zona de Integração Urbana é formada pelas áreas que fazem divisas com os municípios
de Mogi Mirim ao sul e o município de Estiva Gerbi ao norte. São destinadas à integração entre a
malha urbana do Município de Mogi Guaçu e a malha urbana do município lindeiro, nas quais a
urbanização fica sujeita à aprovação prévia de projetos urbanísticos específicos a serem
implantados em consonância com os dois Municípios. Esta diretriz do PDDI permite, em
princípio, que a malha urbana das cidades vizinhas tenham continuidade.

134
Sobre a integração regional, observa-se que não ficou bem atendida no zoneamento do
PDDI, além do exposto acima, pois integração regional deve haver principalmente com a cidade
de Mogi Mirim, com a qual Mogi Guaçu está unida ou conurbada. Um projeto comum das duas
cidades poderia ser a implantação de uma ciclovia no antigo leito da FEPASA, atual Avenida
Luiz Gonzaga de Amoedo Campos. Outro projeto poderia ser a construção de uma ponte sobre o
Rio Mogi Guaçu, próxima da represa e que permitiria a ligação direta de Mogi Mirim com o
campus da Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro

11. Zona de Recreação e Lazer – ZRL


A Revisão do PDDI (Lei Complementar Nº. 968) não faz referência à Zona de Recreação
e Lazer, porém a Proposta Justificativa da revisão diz que esta zona abrange as áreas públicas,
praças e áreas de lazer, e também as áreas onde podem ser implantados novos espaços de uso
público para lazer.

Verifica-se que a minuta da revisão do PDDI detalhou que, para o uso público em áreas
de lazer e praças – Zona de Recreação e Lazer, deveriam se utilizados os seguintes índices
urbanísticos e recuos:
Taxa de Ocupação = 5%;
Taxa de Permeabilidade = 50%;
Recuo de Frente = 5,00 m (cinco metros);
Recuo de Fundo = mínimo de 4,00m;
Recuo Lateral = Mínimo de 4,00 m (quatro metros);
Gabarito de altura = 1 pavimento.
Justifica-se a existência desses índices para os casos de construções em áreas de lazer
públicas, que assim teriam um padrão estabelecido de ocupação do solo.

A seguir, o texto verifica como foram tratadas as propostas de diretrizes viárias para o
crescimento da cidade de Mogi Guaçu na proposta Justificativa da Revisão do PDDI.

135
4.4 Diretrizes Viárias

A Proposta Justificativa da revisão do PDDI de Mogi Guaçu apresenta uma série de


propostas de diretrizes viárias a serem detalhadas quando da expansão urbana ou, ainda, para
melhoria do sistema viário existente da cidade, conforme o Mapa 4.4.1.
No total são 30 propostas de diretrizes viárias, das quais algumas serão destacadas, por
sua importância para toda a cidade de Mogi Guaçu.
Algumas das diretrizes viárias apresentadas já estavam previstas como a continuação sul
da Avenida Brasil até a divisa com Mogi Mirim. Neste caso, trata-se de uma importante via já
prevista no PDDI em 1970, sendo necessário que a Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Urbano do município garanta a reserva de área para a sua implantação, quando
do crescimento da cidade naquela parte ainda sem loteamentos.
A duplicação da avenida prefeito Nico Lanzi, desde a SP-340 até a Avenida Brasil, que
em conjunto com a Avenida Padre Jaime é a principal ligação leste-oeste ao sul do rio Mogi
Guaçu. Esta duplicação encontrará dificuldades para sua realização, pelo fato da Avenida Pref.
Nico Lanzi passar por zona de proteção ambiental – ZPA.
Uma das propostas viárias é a formação de um anel viário urbano principal com ciclovia
ou ciclofaixa em toda a sua extensão de 12 km, conforme o Mapa 4.4.3. A formação desse anel
viário precisa de complementações de alguns trechos de vias e da construção de uma ponte sobre
o rio Mogi Guaçu, paralela à Ferrovia. O percurso permitirá a ligação da cidade com a zona sul
sem passar pelo centro da cidade, e conforme a Proposta Justificativa do PDDI, poderá ser um
percurso também para pedestres. A dificuldade de implantação de uma ciclovia é a inclinação do
percurso na direção norte-sul da cidade.

136
Mapa 4.4.1 – Diretrizes viárias para a cidade de Mogi Guaçu

Fonte: Proposta Justificativa de revisão do PDDI, 2008.

137
O prolongamento da Av. Emilia Marchi Martini na direção leste (Mapa 4.4.2) até a
continuação da Rua Paula Bueno também é uma diretriz, que, como visto na parte anterior sobre
a Zona de Expansão Urbana, encontra a fazenda Tijuco pela frente como um obstáculo ao seu
prolongamento.

Mapa 4.4.2 – Diretriz de continuação da Av. Emília


Marchi Martini em sentido leste

Fonte: Revisão do PDDI de Mogi Guaçu – Lei Complementar


nº. 968 de 05/12/2008. Adaptado pelo autor.

As diretrizes viárias constam de forma geral, no artigo 63 da Lei Complementar nº. 968 de
revisão do PDDI, da seguinte maneira: “a ampliação do sistema viário do Município de Mogi
Guaçu obedecerá às diretrizes específicas em mapa anexo a esta lei Complementar” (Mapa
4.3.2).
A Proposta Justificativa da revisão do PDDI, apresenta diretrizes para complementação do
sistema viário no entorno das grandes áreas de lazer proposta para implantação na zona urbana de
Mogi Guaçu:

138
• Complementação da Rua Cristovão Colombo entre a Rua Osvaldo Carvalho e a Rua
Vicente J. de Carvalho, para definição do entorno viário da Área de Lazer e Verde do
Córrego dos Macacos.
• Via de ligação do Jardim Suécia com o prolongamento da Av. Ver. Victor Bueno, no
entorno do Parque Leste, a ser implantado.
• Complemento viário entre Rua das Petúnias e a Rua Antonio Toso, para melhor definição
do entorno do Parque dos Ipês, a ser implantado.
O Mapa 4.4.3 a seguir mostra a proposta de implantação do anel viário urbano principal,
que permitirá o contorno da parte central da cidade e necessita da complementação de dois
trechos na margem oeste da ferrovia (marcados em vermelho).

Mapa 4.4.3 – Mogi Guaçu: Anel viário principal

Fonte: Proposta Justificativa de revisão do PDDI, 2008.

139
A Proposta Justificativa contém também uma diretriz para ligação da Rua São Paulo com
a Rua Ana Teixeira Bueno. Esta complementação poderá ser uma alternativa à Rua Paula Bueno
para a circulação de veículos provenientes da zona leste até a Av. dos Trabalhadores.
A dificuldade é que a Rua São Paulo não liga na rotatória da Avenida dos Trabalhadores
(ver Figuras 4.4.1 e 4.4.2).
Outra questão impeditiva para esta diretriz é o fato do local ser residencial e de pouco
trânsito.

Figura 4.4.1 – Rua Paula Bueno e Rua São Paulo: proposta de sistema viário binário

Fonte: Google Earth, 09 de março de 2009. A Rua Paula Bueno é a primeira acima da curva do rio Mogi
Guaçu e estende-se da esquerda (rotatória) até a direita da imagem. A Rua São Paulo, a primeira acima da
Rua Paula Bueno, segue paralela e é interrompida por um pequeno vazio urbano.

140
Figura 4.4.2 – Mogi Guaçu: centro, Rua Paula Bueno, Rua São Paulo e Rua Ana Teixeira Bueno

Fonte: Google Maps, 12 de março de 2009.

Na parte leste, fora da cidade de Mogi Guaçu, é possível a ligação da estrada municipal
Miguel Martini com a Estrada Municipal Oscar C. Rodrigues (estrada da Faculdade Franco
Montoro), com a necessidade de ponte sobre o Rio Mogi Guaçu, nas proximidades da Faculdade
Municipal Prof. Franco Montoro em Mogi Guaçu e dos restaurantes da Cachoeira de Cima em
Mogi Mirim. Esta via permitirá uma ligação leste-oeste entre a Rodovia SP 340 e a Faculdade
Municipal Prof. Franco Montoro, passando pela Av. Prefeito Nico Lanzi, pela Av. Padre Jaime e
pela Estrada Miguel Martini, fazendo também uma integração com o município de Mogi Mirim,
pois uma parte da ligação ocorrerá no município de Mogi Mirim. Ver Mapa 4.4.4 e Figura 4.4.3 a
seguir.

141
Mapa 4.4.4 – Diretriz de ligação das estradas Miguel Martini e Oscar C. Rodrigues

Fonte: Proposta Justificativa de revisão do PDDI, 2008. Adaptado pelo autor.

Figura 4.4.3 – Estrada Miguel Martini e Estrada Oscar C. Rodrigues

Fonte: Google Earth, 11/03/2009.

142
4.5 Áreas de lazer e verdes

Com relação às áreas de lazer e verdes de Mogi Guaçu, a revisão do PDDI (Lei
Complementar nº. 968 de 05/12/08) apresenta os seguintes objetivos e diretrizes, especialmente
para a criação de corredores verdes e parques lineares no Córrego dos Macacos e no Córrego dos
Ipês e, também, para a implantação de um Parque na Cachoeira de Cima:

ART. 20) São objetivos da política de ordenação do território17:


I – o processo de urbanização limitado e concentrado no interior do atual
perímetro urbano oficial, impedindo a expansão horizontal da mancha urbana
com a criação de novos vazios urbanos;
II – a ocupação e o uso adequado dos vazios urbanos existentes, visando o
efetivo aproveitamento da infraestrutura urbana instalada;
III – a criação e a ampliação de espaços livres de uso comum de todos e áreas de
proteção ambiental, estruturados em sistema a partir da rede hídrica do
Município;
[...]

ART. 30) O Poder Executivo Municipal aplicará as seguintes diretrizes para a


proteção e regeneração dos recursos hídricos:
I – criar sistema integrado de corredores verdes e parques lineares, protegendo
toda a rede hídrica, composta pelas cabeceiras, cursos d’água estruturantes e
seus tributários, aqüíferos e áreas úmidas, protegendo e recuperando as matas
ciliares e permitindo usos controlados e compatíveis com a fragilidade do
suporte biofísico, para fins de recreação, lazer e convivência, na zona de
amortecimento, em especial no Córrego dos Macacos e no Córrego dos Ipês;
[...]

ART. 31) O Poder Executivo Municipal aplicará as seguintes diretrizes e ações


para a criação do sistema de áreas verdes:
[...]

17
No Capítulo IV – Da Política de Ordenação do Território, da Estrutura Urbana e do Uso do Solo.

143
II – ampliação da quantidade e melhoria da qualidade das áreas verdes, de seus
acessos e sua distribuição pelos bairros da cidade;
III – criação de rede de parques lineares e corredores verdes para a proteção dos
fundos de vale, implantando zonas de amortecimento para resguardar a
integridade das áreas de preservação dos cursos d’água, em especial na área do
Córrego dos Macacos e na área do Córrego dos Ipês;
[...]
XII – implantação de um parque na área da Cachoeira de Cima, com vistas à
recuperação e conservação da mata ciliar no entorno do lago da barragem, e o
uso racional para o turismo e o lazer, com plano de manejo de proteção
ecológica.

Assim, permanece no plano diretor de 2008 a ideia de implantação de um parque na


Cachoeira de Cima, que fez parte do PDDI de 1970 e, de forma muito ampliada e abrangente,
como já visto no trabalho, foi um ponto de muito destaque na proposta de plano diretor de Ohtake
(1992). O local é atraente para a população de Mogi Guaçu (ver Foto 4.5.1 e Fig. 4.5.1), onde já
existiu uma área pública verde de lazer antes da formação do lago da Pequena Central
Hidrelétrica no início da década de 1990. Atualmente não existe acesso público ao lago da
Pequena Central Hidrelétrica, nem ao rio a jusante da barragem até o Parque dos Ingás no centro
da cidade. A implantação de um parque municipal da maneira proposta no plano diretor de 2008,
para o uso racional do turismo e lazer e com manejo de proteção ecológica será um programa de
abrangência na microrregião, caso o Poder Público local pretenda e consiga viabilizar um projeto
com essas características. A Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, que possui curso de
Engenharia Ambiental, encontra-se instalada na margem da represa, mas não permite acesso
público até o lago. A implantação de um parque na Cachoeira de Cima, em uma zona de proteção
ambiental, deve considerar a complexidade de um programa municipal desse porte, com a
necessidade de recursos financeiros e humanos em conjunto com um estudo prévio de impacto
ambiental, e também que grande parte das terras de entorno da represa é de propriedade privada.

144
Figura 4.5.1 – Mogi Guaçu; Área de entorno da represa (Cachoeira de Cima)

Fonte: Google Earth, 12 de março de 2009.

145
Foto 4.5.1 – Vegetação na represa da Cachoeira de Cima

Fonte: Foto do autor, 25 de novembro de 2006.

As diretrizes para implantação de parques lineares no Córrego dos Macacos e no Córrego


dos Ipês correspondem, às solicitações das audiências públicas prévias à elaboração da revisão do
PDDI de Mogi Guaçu, realizadas em 2006.
O Córrego dos Macacos e a área do seu entorno (Fig. 4.5.2) localizam-se na parte sul da
cidade, entre o Rio Mogi Guaçu e o município de Mogi Mirim, sendo que as nascentes do
córrego estão em Zona de Urbanização Restrita, com as áreas de preservação permanente de 50
metros de raio ao redor das nascentes, conforme legislação federal ambiental. O sistema viário de
contorno do futuro parque linear precisa de uma pequena complementação na Rua Cristovão
Colombo.

146
Figura 4.5.2 – Mogi Guaçu: Córrego dos Macacos

Fonte: Google Maps, 12 de março de 2009.

Nesta área verde e de lazer do Córrego dos Macacos, a administração municipal iniciou,
em janeiro de 2010, obras de revitalização que prevêem a canalização do córrego e um parque
linear com 240.000 m². Além de projeto paisagístico estão previstas a instalação de quiosques,
pistas para caminhadas, pier para pesca esportiva, ciclovia, anfiteatro e sistema de iluminação
com um orçamento de R$ 7,1 milhões (Cf. Jornal da Cidade, 16-01-2010, p.6A).

147
O córrego dos Ipês nasce na zona de expansão urbana leste, atravessa parte da cidade de
Mogi Guaçu e a SP 342, passa pela área dos conjuntos habitacionais dos Ipês e dirige-se para
norte em direção à Estiva Gerbi. Na Proposta Justificativa de revisão do PDDI de Mogi Guaçu,
encontra-se a proposta de promover a implantação de duas grandes áreas de lazer e de promover
melhorias em uma terceira área de lazer existente no córrego dos Ipês: o Jardim dos Lagos.
As duas grandes áreas de lazer propostas são: uma área de lazer e verde na zona leste
(Figuras 4.5.3 e 4.5.4) e uma área de lazer junto aos conjuntos habitacionais da zona norte (Mapa
4.5.1), onde já existe uma lagoa represada.

Mapa 4.5.1 – Córrego dos Ipês

Fonte: Mapa de zoneamento urbano da revisão do PDDI de Mogi Guaçu, sem escala.
O córrego dos Ipês nasce no leste e se dirige para oeste, noroeste e em seguida
para norte.

148
Figura 4.5.3 – Área verde Leste no Córrego dos Ipês

Fonte: Google Earth, 15 de março de 2009.

Figura 4.5.4 – Área verde Leste no Córrego dos Ipês

Fonte: Google Maps, 15 de março de 2009.

149
Na zona norte (Mapa 4.5.1 e Fig. 4.5.5), entre a Rodovia SP-342 e a Avenida
Bandeirantes, conforme já visto na parte do trabalho sobre as audiências públicas de 2006, foi
solicitado “melhor atenção ao córrego dos Ipês no trecho que corta o bairro para urbanização e
criação de espaços para atividades de lazer à população”. Naquela parte da cidade foi proposta a
implantação de uma grande área de lazer para atender toda a zona norte, também por meio de um
concurso de ideias de urbanismo abrangendo:
• Caminhos de pedestres contornando a área, com equipamentos de exercícios
físicos;
• Paisagismo com utilização da lagoa (Foto 4.5.2);
• Iluminação;
• Espaço de descanso, lazer e recreação com quiosque para venda de comidas e
bebidas;
• Pontes sobre o córrego;
• Ciclovia de lazer. (Cf. Proposta Justificativa de Revisão do PDDI, p.36/37)

Foto 4.5.2 – Área verde do Córrego dos Ipês na zona norte

Fonte: Foto do autor, 02 de junho de 2008.

150
Figura 4.5.5 – Mogi Guaçu: área do Córrego dos Ipês na zona norte

Fonte: Google Earth, 15 de março de 2009.

Com relação à área verde do Jardim dos Lagos, que se encontra no Córrego dos Ipês, a
atual administração municipal pretende a implantação de uma unidade local do SESC – Serviço
Social do Comércio. A área será doada ao SESC, caso a solicitação municipal seja atendida.
(BIBIANO, 2009)
A atual administração de Mogi Guaçu, conforme o jornal O Regional (27/02/2009),
anunciou a liberação de recursos estaduais para projeto de revitalização de área verde no Parque
Cidade Nova, abrangendo um centro de lazer contendo uma ampla área para esta finalidade e
recreação, com pista de skate, teatro de arena, ciclovia e um espaço para eventos religiosos.
Trata-se de uma grande área pública em loteamento aprovado na década de 1960, localizada na
Av. Júlio Xavier da Silva e a implantação do projeto anunciado certamente reforçará a tendência
de nova centralidade na área de entorno desta avenida e da Avenida Bandeirantes (ver Cap. 3.4).

151
A Praça Francisco Marquesi (ver Fig. 4.5.6) é outra grande área pública, localizada entre a
Avenida Presidente Tancredo de Almeida Neves e a Avenida Brasil, próxima da rodoviária; que é
local de reunião de pessoas para aproveitar do extenso gramado ao sol nos finais de tardes,
durante a semana e principalmente nos fins de semana. Os carros são estacionados informalmente
dentro da área da praça. O Poder Público municipal poderia fazer melhorias neste local, além dos
cuidados de manutenção do gramado e limpeza, porém mantendo as características de uso
informal, deixando a possibilidade de as pessoas estacionarem os carros dentro da área, em
bolsões apropriados.

Figura 4.5.6 – Praça Francisco Marchesi

Fonte: Google Earth, 20 de março de 2009.

A Proposta Justificativa de revisão do PDDI (p.37) considerou que a Praça Francisco


Marchesi, “com aproximadamente 4 hectares de área é um importante local de lazer na parte

152
oeste da cidade de Mogi Guaçu, principalmente aos domingos de tarde, atualmente sem
equipamentos. O grande espaço livre é o seu maior atrativo”. Também para esta praça, como
para as áreas do Córrego dos Ipês, foi proposta a realização de um concurso de idéias de
urbanismo para o local, contemplando:
• Estacionamento de veículos em todo o seu perímetro;
• Caminhos de pedestres no interior e contornando a área, com equipamentos de
exercícios físicos;
• Paisagismo com amplos gramados para manter a característica atual da área como
um grande espaço aberto sob o céu;
• Iluminação;
• Espaço de descanso, lazer e recreação com quiosques para venda de comidas e
bebidas;
• Ciclovia de lazer.

Para completar este item do trabalho sobre as áreas de lazer na cidade de Mogi Guaçu é
preciso abordar, de forma geral, o Parque dos Ingás no centro e a área de vazio urbano,
denominada Taguaçu ao lado do Rio Mogi Guaçu (ver Foto 4.5.3), também na parte central da
cidade. A Proposta Justificativa de revisão do PDDI propõe a Revitalização do Parque dos Ingás,
e considera a possibilidade de aproveitamento do potencial turístico do Rio Mogi Guaçu,
próximo da área central da cidade, solicitado na audiência pública da Vila São Carlos em
08/08/2006. O Parque dos Ingás pode vir a ser um exemplo de como tratar as águas urbanas
como valioso recurso paisagístico, aumentando a sua visibilidade com a construção, por exemplo,
de deck de madeira na margem do rio, com possibilidade de pescaria nesse espaço público.

153
Foto 4.5.3: Rio Mogi Guaçu na área central

Fonte: Arquivo do autor, 2006


A área de vazio urbano Taguaçu localiza-se na margem esquerda da foto.

A área de vazio urbano Taguaçu (ver Figura 4.5.7), ao lado do rio Mogi Guaçu, quando
da sua ocupação com uso residencial, comercial ou de serviços, poderá ser trabalhada prevendo-
se a implantação de via marginal junto da faixa de preservação de 50 metros de largura no lado
esquerdo do rio, que poderá também ser utilizada como área de lazer, com caminhos e pontos
públicos de observação do rio, que faltam na cidade de Mogi Guaçu.
Os caminhos de lazer nesta área de preservação poderão estender-se até o Parque dos
Ingás, atravessando a Avenida Mogi Mirim e a ponte de ferro de pedestres, formando assim um
percurso pavimentado, sinalizado, iluminado e próximo do Rio Mogi Guaçu, que poderá ser
denominado Caminho do Rio. Este percurso entre a área Taguaçu e o parque dos Ingás precisará
passar por um terreno particular, que se encontra arborizado.
A ideia de projeto de revitalização do Parque dos Ingás consta da Proposta Justificativa de
revisão do PDDI, com a sugestão da realização de um concurso de ideias de urbanismo com os
seguintes objetivos gerais:

154
• Promover o uso público e de turismo em sua área;
• Assegurar à população a condição de visibilidade do Rio Mogi Guaçu, criando
estrutura de baixo impacto capaz de dar acesso, com a implantação de um deck de
madeira para contemplação do rio, sem prejuízo da mata ciliar;
• Proporcionar a atividade de feira de artesanato nos finais de semana;
• Organizar um comércio de comidas e bebidas com edificações de baixo impacto;
• Implantar um caminho que passe pelo Parque dos Ingás, pela ponte de pedestres
existente sobre o rio e pelo centro, de forma organizada, com a possibilidade de
criar outra ponte de pedestres sobre o rio, ligando o futuro deck à Rua São José,
que deverá receber melhorias.
• Implantar ciclovia de lazer.

O funcionamento de comércio e serviços junto de áreas verdes permite maior segurança


das pessoas, pois as áreas verdes deixam de ser desertas com a presença de um número maior de
pessoas, pedestres e comerciantes (ver Quadro 4.3.1 e Jacobs - 2000, p.454/455).
Com a existência de deck junto ao rio na área central, o Poder Público poderá permitir a
pesca no local nos meses em que é autorizada no Rio Mogi Guaçu. Certamente os pescadores
serão observadores do local, aumentando a segurança das pessoas no Parque dos Ingás.

A seguir, finalizando esta parte do trabalho, é apresentado um estudo preliminar de


parcelamento do solo para a área Taguaçu, de 28 de abril de 2007, onde a faixa de preservação
permanente de 50 metros de largura, no lado esquerdo do Rio Mogi Guaçu, formaria um conjunto
com alguns lotes comerciais e com a rua de entorno. A faixa de preservação abrigaria espécies
nativas de reflorestamento e também caminhos e dois pontos de observação do rio, além de
iluminação para permitir uso noturno com segurança. Neste estudo preliminar a área de
preservação permanente insere-se em um contexto de utilização pela população, pois está em área
urbana carente de locais públicos próximos do rio.

155
Figura 4.5.7 – Estudo preliminar de parcelamento: Vazio urbano Taguaçu

Fonte: Arquivo do autor, 28-04-2007.

O item seguinte e final desta pesquisa, verifica como os instrumentos de planejamento


urbano do Estatuto da Cidade foram incluídos na Lei Complementa nº. 968 de 05 de dezembro de
2008 e procura também identificar as suas possibilidades de aplicação no planejamento urbano de
Mogi Guaçu.

156
4.6 Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV

Esta etapa final do trabalho enfoca os instrumentos de planejamento urbano, estabelecidos


no art. 42 do Estatuto da Cidade - Lei nº. 10.257 de 10/7/2001; que dependem de previsão nos
planos diretores municipais para utilização na gestão das cidades. Com esse objetivo, será
verificado como a revisão do PDDI de Mogi Guaçu especificou cada um dos seis instrumentos de
planejamento urbano, como tratou a questão de um sistema de acompanhamento e de controle
social do plano diretor, e discute as possibilidades da sua aplicação na cidade.
Antes de iniciar as considerações sobre os seis instrumentos de planejamento urbano que
o Estatuto da Cidade considera apropriados nos planos diretores, é preciso considerar o estudo
prévio de impacto de vizinhança – EIV, que é outro instrumento de gestão municipal estabelecido
no Estatuto da Cidade, com o objetivo de verificar os efeitos positivos e negativos de
determinados empreendimentos em relação à qualidade de vida da população residente nas
proximidades.
Na revisão do PDDI de Mogi Guaçu – Lei Complementar nº. 968/2008, o estudo prévio
de impacto de vizinhança foi abordado de forma geral no art. 131, e ficou na dependência de lei
municipal para definir os empreendimentos e as atividades privadas ou públicas em área urbana
que dependerão do mesmo para obter as licenças ou autorizações de construção ou
funcionamento a cargo do poder público municipal. A definição dos empreendimentos que terão
necessidade de estudo de impacto de vizinhança é a parte mais importante e os outros aspectos da
questão, elencados no plano diretor, somente terão validade em caso de definição dos
empreendimentos.
Os artigos 132, 133 e 134 do plano diretor especificam o conteúdo mínimo e a divulgação
do EIV, e que a sua elaboração não substitui a elaboração e aprovação do estudo prévio de
impacto ambiental, da mesma forma que é especificada no Estatuto da Cidade, ou seja:

ART. 132 - O EIV será elaborado de forma a contemplar os efeitos positivos e


negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da
população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no
mínimo, das seguintes questões:
I – adensamento populacional;
II – equipamentos urbanos e comunitários;

157
III – uso e ocupação do solo;
IV – valorização ou desvalorização imobiliária;
V – geração de tráfego e demanda por transporte público;
VI – ventilação e iluminação;
VII – paisagem e patrimônio natural e cultural.

ART. 133 - O Poder Executivo dará ampla publicidade aos documentos


integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente
do Poder Executivo, por qualquer interessado.

ART. 134 - A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de


estudo prévio de impacto ambiental (EIA) com o respectivo relatório de impacto
ambiental (RIMA), quando este for exigido nos termos da legislação ambiental
em face de empreendimento, obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação ambiental.

4.7 Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios

Este instrumento, referente ao aproveitamento compulsório, é estabelecido no artigo 5º.


do Estatuto da Cidade como: “lei municipal específica para área incluída no plano diretor
poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para
implementação da referida obrigação”, considerando subutilizado o imóvel cujo aproveitamento
seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele decorrente.
Conforme o Estatuto da Cidade (art. 28), o aproveitamento do imóvel é determinado por
um índice ou coeficiente de aproveitamento, definido como a relação ou divisão entre a área
edificável e a área do terreno. Assim, por exemplo, uma área edificável igual à área do terreno
resulta em um coeficiente de aproveitamento igual a 1.
Na revisão do PDDI, esta questão foi elaborada no art. 116, com a definição das glebas na
Zona de Urbanização Prioritária (vazios urbanos com área total de 3,25 km²) para a aplicação do
parcelamento, edificação ou utilização compulsória e a definição do coeficiente de
aproveitamento mínimo de 0,1 e da característica de vazio urbano no artigo 117, conforme
abaixo:

158
ART. 116 - Lei municipal específica para áreas incluídas na Zona de
Urbanização Prioritária, conforme delimitadas no mapa específico anexo a esta
lei, nos termos deste Plano Diretor determinará o parcelamento, a edificação ou
a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não
utilizado e fixará as condições e os prazos para implementação da referida
obrigação.

ART. 117 - Considera-se subutilizado o imóvel:

I – cujo aproveitamento seja inferior ao CA mínimo de 0,1 definido nesta lei;


II – com área que se caracterize como vazios urbanos em áreas de ocupação
consolidada ou que representem a possibilidade de atendimento, mediante seu
parcelamento, a demandas relativas às áreas verdes e institucionais dos bairros
vizinhos.

O artigo 117 estabelece que, além de coeficiente de aproveitamento inferior ao mínimo


(CA = 0,1), para ser considerado subutilizado, o vazio urbano precisa localizar-se em áreas de
ocupação consolidada, ou seja, onde a urbanização apresenta infra-estrutura (pavimentação,
drenagem, redes de água e esgoto, possibilidade de tratamento de esgoto, energia e iluminação),
serviços públicos (escolas, creche e posto de saúde) e também com a existência de comércio e
serviços em geral.

A outra possibilidade, colocada no inciso II do art. 117, para considerar o imóvel sujeito à
utilização compulsória, refere-se aos imóveis, localizados em vazios urbanos, que têm coeficiente
de aproveitamento inferior ao mínimo de 0,1 e que representem a possibilidade de atendimento,
mediante seu parcelamento, a demandas de áreas verdes e institucionais de bairros vizinhos, ou
seja, onde possam ser implantadas áreas verdes e de lazer e institucionais de dimensões maiores
do que as necessárias para o parcelamento do vazio urbano considerado.

Rodrigues (2005, p.107) enfatiza a necessidade de analisar a complexidade do espaço


urbano e de utilizar instrumentos teóricos e analíticos que permitam verificar quando as
propriedades cumprem sua função social. Assim, a autora indica que apenas o coeficiente de
aproveitamento não é suficiente para comprovar a função social da propriedade. Nesse sentido,
como visto acima, o plano diretor de Mogi Guaçu estabelece outras condições para a verificação

159
da subutilização de imóvel em vazio urbano, além do estabelecimento do coeficiente de
aproveitamento mínimo, para verificar quando as propriedades cumprem a sua função social.

A revisão do PDDI de Mogi Guaçu, da mesma maneira que o Estatuto da Cidade, também
estabelece as condições e os prazos para o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios,
que são de um ano para protocolo de projeto e de dois anos, a partir da aprovação do projeto, para
iniciar as obras do empreendimento, conforme o artigo 118:

ART. 118 - O Poder Executivo promoverá a notificação de proprietários dos


imóveis sujeitos ao parcelamento, à edificação ou à utilização compulsórias,
intimando-os a dar o aproveitamento adequado para os respectivos imóveis de
acordo com a legislação em vigor dentro do prazo de dois (02) anos contados a
partir da data inicial de vigência de lei específica que venha determinar outras
condições e prazos, sob pena de sujeitar-se o proprietário, sucessivamente, ao
pagamento do imposto predial e territorial progressivo no tempo (ITU e IPTU) e
à desapropriação.

Em caso de descumprimento das condições e dos prazos o Município procederá à


aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU progressivo no
tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco (05) anos consecutivos.
Para possíveis empreendimentos de grande porte, a lei municipal específica para áreas
incluídas na Zona de Urbanização Prioritária, delimitadas no mapa específico de zoneamento
urbano, poderá prever a conclusão em etapas, assegurando-se que o projeto aprovado
compreenda o empreendimento como um todo.
Deve-se ressaltar a possibilidade de ser formado consórcio imobiliário entre o Poder
Público e os proprietários que, neste caso, transferem o imóvel ao Poder Público municipal e
após a realização das obras recebe como pagamento, unidades imobiliárias devidamente
urbanizadas ou edificadas. Esta maneira de viabilização de planos de urbanização é parecida com
a forma já utilizada em Mogi Guaçu (Ohtake, 1992) nas décadas de 1970 e 1980.
O município, depois de cinco anos de cobrança do imposto progressivo da propriedade
urbana, poderá proceder desapropriação da mesma e terá o prazo de cinco anos para o adequado
aproveitamento do imóvel.

160
Fica claro que a aplicação deste instrumento poderá demorar 11 anos18 até o
aproveitamento por parte do município, em caso de não haver entendimento com o proprietário
do imóvel e que este prazo certamente será muito longo no caso de implantação de um programa
habitacional urbano.
Em vez da utilização compulsória nos vazios urbanos, a administração municipal poderá
discutir com a sociedade o aumento do imposto territorial em todos os terrenos urbanos sem
edificações, o que poderá ser uma maneira mais simples de induzir a utilização dos imóveis
urbanos vazios.
A utilização do instrumento denominado Operações Urbanas Consorciadas, como será
visto à frente, poderá ser um processo mais ágil do que o aproveitamento compulsório na
implantação de programas nos vazios urbanos de Mogi Guaçu e de outras cidades.

4.8 Outorga Onerosa do Direito de Construir

Na revisão do PDDI de Mogi Guaçu, a aplicação da outorga onerosa do direito de


construir, também conhecida como “solo criado”, ficou estabelecida para a Zona de Urbanização
Prioritária (vazios urbanos), da seguinte maneira:

ART. 127 - Na Zona de Urbanização Prioritária (ZUP) o direito de construir


poderá ser exercido acima do coeficiente de aproveitamento adotado, mediante
contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.

Parágrafo único. O limite máximo a ser atingido pelo coeficiente de


aproveitamento será de até 25% (vinte e cinco porcento) superior ao
estabelecido para a Zona Residencial (ZR) ou para a Zona Comercial (ZCO),
conforme o uso na Zona de Urbanização Prioritária.

18
Este prazo total de 11 anos para a aplicação do instrumento de utilização compulsória de imóvel urbano
subutilizado considera: 01 ano a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto de construção; 05 anos de
aplicação do imposto progressivo no tempo e mais 05 anos após a desapropriação do imóvel para a adequada
utilização pelo município.

161
Verifica-se, assim, que dois instrumentos (Aproveitamento compulsório e Outorga
onerosa do direito de construir) poderão ser utilizados para uma mesma zona, por meio do plano
diretor, neste caso a zona dos vazios urbanos. O limite máximo refere-se ao coeficiente de
aproveitamento máximo, 25% superior ao coeficiente de aproveitamento básico.
Como o índice de aproveitamento básico da Zona de Urbanização Prioritária não foi
definido na revisão do PDDI19, este instrumento da outorga onerosa do direito de construir não
poderá ser utilizado na gestão municipal até a definição dos índices urbanísticos de uso e
ocupação do solo da ZUP em uma lei municipal.
Conforme o Estatuto da Cidade (art. 30), também é necessária lei municipal específica
para estabelecer as condições a serem observadas para a outorga onerosa do direito de construir e
de alteração de uso do solo, determinando a fórmula de cálculo para a cobrança; os casos
passíveis de isenção do pagamento da outorga e/ou a contrapartida do beneficiário.
O art. 31 do Estatuto da Cidade determina que os recursos auferidos com a adoção da
outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso serão aplicados com as seguintes
finalidades:
• regularização fundiária;
• execução de programas e projetos habitacionais de interesse social;
• constituição de reserva fundiária; ordenamento e direcionamento da expansão
urbana;
• implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
• criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes;
• criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de interesse
ambiental e
• proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico.

Pelo exposto acima, caso o município utilize este instrumento da outorga onerosa do
direito de construir ou a outorga onerosa de alteração de uso do solo, é necessário que os recursos

19
O Art.. 70 da Lei Complementar nº. 968 de 05 de dezembro de 2008 refere-se à necessidade de definição dos
índices de ocupação do solo urbano: “Lei específica estabelecerá os índices urbanísticos para cada uma das zonas
elencadas ...”.

162
financeiros provenientes destes instrumentos sejam colocados em conta ou fundo de destinação
específica, o que justifica a constituição de um Fundo de Urbanismo, ou de Urbanização.

4.9 Outorga Onerosa de Alteração de Uso

A outorga onerosa de alteração de uso do solo foi estabelecida no Art. 128 da lei
Complementar 968 de revisão do PDDI, no caso de implantação de núcleos urbanos isolados no
município de Mogi Guaçu, quando a zona rural original será mudada para Zona de Urbanização
Específica. A alteração de uso do solo dependerá de lei municipal específica, nos mesmos termos
da outorga onerosa do direito de construir, que estabelecerá as condições para a outorga onerosa
de alteração do uso rural, determinando a fórmula de cálculo para a cobrança ou de contrapartida
do beneficiário.
A possibilidade de expansão do atual perímetro urbano de Mogi Guaçu significará uma
alteração de uso do solo rural para urbano, mas neste caso não poderá ser aplicada a outorga
onerosa de alteração de uso, pois a expansão do perímetro urbano em áreas contínuas não
constitui núcleos urbanos isolados.
Cabe considerar, que a implantação de novos núcleos isolados no município de Mogi
Guaçu precisa ser muito bem justificada, pois a limitação da expansão urbana com a ocupação
dos vazios urbanos é um dos objetivos da revisão do PDDI20, embora o zoneamento urbano
também estabeleça as Zonas de Expansão Urbana leste e norte, como foi visto na parte do
trabalho sobre o zoneamento urbano.

20
Os artigos 7º e 8º, da lei Complementar nº. 968, referem-se à limitação da expansão horizontal da cidade:

ART. 7º - Constituem objetivos gerais relativos à expansão horizontal da cidade:


I – a ocupação prioritária de vazios urbanos, para aproveitamento da infraestrutura
urbana instalada,
II – a integração de bairros e outros aglomerados urbanos atualmente isolados.

ART. 8º - Fica proibida a urbanização dispersa e desprovida de infraestrutura urbana


adequada.

163
4.10 Operações Urbanas Consorciadas

A revisão do PDDI estabeleceu a possibilidade de aplicação do instrumento


operações urbanas consorciadas para os vazios urbanos (Zona de Urbanização Prioritária) e para
a Zona de Expansão Urbana no município de Mogi Guaçu, como uma possibilidade de
planejamento e de projetos com a participação do Poder Público, investidores, proprietários de
terras urbanas e usuários permanentes, conforme os seguintes artigos do plano diretor:

ART. 129 - Os vazios urbanos e a Zona de Expansão Urbana (ZEX) constituem-


se nas áreas para a aplicação de operações urbanas consorciadas na cidade de
Mogi Guaçu.

ART. 130 - Lei municipal específica poderá delimitar área para aplicação de
operação urbana consorciada, disciplinando sobre o respectivo plano, e dispondo
sobre a emissão pelo Município de certificados de potencial adicional de
construção e a forma de sua alienação.

Parágrafo único. Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de


intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a
participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores
privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas
estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental.

Também para a aplicação das operações urbanas consorciadas é necessária lei municipal
específica, baseada no plano diretor, onde constará o plano de realização contendo, no mínimo,
conforme o artigo 33 do Estatuto da Cidade:

• definição da área a ser atingida;


• programa básico de ocupação da área;
• programa de atendimento econômico e social para a população diretamente
afetada pela operação;
• finalidades da operação;

164
• estudo prévio de impacto de vizinhança;
• contrapartida a ser exigida dos proprietários, usuários e investidores privados em
função da utilização dos benefícios previstos (modificação dos índices
urbanísticos de parcelamento e de edificação, considerando o impacto ambiental; e
a regularização de construções em desacordo com a legislação vigente);
• forma de controle da operação, com representação da sociedade civil.

Os possíveis recursos obtidos pelo Poder Público municipal nas operações urbanas
consorciadas serão aplicados na própria operação. (Cf. Estatuto da Cidade, art. 33)
Os certificados de potencial adicional de construção, emitidos pelo município, serão
alienados em leilão ou usados diretamente para pagar as obras necessárias à própria operação. Na
apresentação de pedido de licença para construir, o certificado de potencial construtivo será
utilizado para pagamento da área de construção que supere os padrões de uso e ocupação do solo,
até o limite fixado pela lei específica da operação.(Cf. Estatuto da Cidade, art. 34)
Como a aplicação das operações urbanas consorciadas ficou reservada para os vazios
urbanos de Mogi Guaçu, os proprietários dos mesmos poderão ser beneficiados com o adicional
de construção acima dos padrões básicos do plano diretor, que representa o chamado “solo
criado”, caso o custo dos certificados de potencial construtivo emitidos pelo Poder Público seja
atraente para novos empreendimentos. Dessa maneira, poderão ser elaborados planos de
urbanização para os vazios urbanos, sem a necessidade de aplicação por parte do Poder Público
do instrumento de parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; de aplicação demorada
de até 11 anos, como já visto.

Deve-se enfatizar na operação urbana consorciada o caráter diferenciado de uma obra


pública tradicional, como bem enfoca Caio Márcio Ebhart21:

Ditas operações têm características de projeto urbano e não de obra pública


tradicional. Vale dizer: além dos institutos normativos especiais, em alguns
casos, o gestor público precisa lançar mão de mecanismos gerenciais adequados,
sobretudo de ordem técnica, diversos da administração usual.

21
Disponível em http://www.parana-online.com.br/colunistas/237/57272/ acesso em 28/03/2009.

165
Daí a diferença entre operações urbanas e obra pública tradicional, constatável
pela complexidade social da intervenção, aferida pelos seguintes parâmetros:
tempo do projeto; métodos de avaliação dos resultados; fontes de recursos;
métodos de execução da organização gerencial; otimização do ambiente urbano
existente; poupança de recursos públicos e redução do endividamento na
realização de ações públicas, na medida em que estas podem ser financiadas
pelo capital privado, dentre outros aspectos.

Esse caráter diferenciado da operação urbana consorciada faz desse tipo de intervenção
urbana uma forma mais complexa e menos utilizada na administração das cidades médias do que
as obras públicas tradicionais. Dessa maneira, o Estatuto da Cidade parece ser uma lei com
muitas possibilidades ainda por explorar e viabilizar considerando-se a gestão das cidades.

4.11 Direito de Preempção

De forma geral, o direito de preempção foi estabelecido na revisão do PDDI de Mogi


Guaçu, como uma possibilidade a ser exercida na cidade, sem especificar as áreas ou tipos de
imóveis para a sua aplicação: “O direito de preempção ou de preferência, confere ao Poder
Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano, objeto de alienação onerosa
entre particulares (Art. 122, Lei 968 de 05/12/2008)”.
“Lei municipal, baseada no plano diretor, delimitará as áreas em que incidirá o direito
de preempção e fixará prazo de vigência, não superior a cinco (05) anos, renovável a partir de
um ano após o decurso do prazo inicial de vigência (Art. 123, Lei 968 de 05/12/2008)”.
O direito de preempção é normalmente entendido como uma interferência no direito de
propriedade e na livre negociação de imóveis entre particulares, pois com a incidência do direito
de preempção sobre o imóvel, passa a existir a obrigação de, em caso de negociação onerosa do
imóvel, informar à prefeitura e oferecer primeiro a alienação onerosa ao município, deixando
aparentes as condições de negociação entre as partes particulares.
No caso do direito de preempção, o plano diretor praticamente nada define sobre isso
além do conteúdo do Estatuto da Cidade sobre esse direito e deixa para uma discussão futura as
possibilidades da sua aplicação.

166
4.12 Transferência do Direito de Construir

A Revisão do PDDI de Mogi Guaçu, da mesma maneira que em relação ao direito de


preempção, também neste caso deixou a transferência do direito de construir, como uma
possibilidade futura a ser praticada na cidade, dependendo de estudos e de legislação municipal,
porém estabelece as condições gerais para a sua implementação, condições essas baseadas no
Estatuto da Cidade e que estão explicadas de maneira mais detalhada e compreensível do que na
lei federal:

ART. 126 - Lei municipal, decorrente deste Plano Diretor, poderá autorizar o
proprietário de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local
passível de receber o direito de construir nela previsto ou em legislação
urbanística dela decorrente, deduzida a área construída utilizada, quando
necessário, nos termos desta lei, ou aliená-lo, parcial ou totalmente, mediante
escritura pública, para fins de:
I – implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
II – preservação, quando for considerado de interesse histórico, ambiental,
paisagístico, social ou cultural;
III – servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas
ocupadas por população de baixa renda e habitação de interesse social.

§ 1º. A mesma faculdade poderá ser concedida ao proprietário que doar à


Prefeitura Municipal seu imóvel, ou parte dele, para os fins previstos nos incisos
deste artigo.
§ 2º. A lei municipal a que se refere este artigo estabelecerá as condições
relativas à aplicação da transferência do direito de construir, tais como a fórmula
de cálculo, os limites máximos transferíveis e os imóveis suscetíveis de receber
o direito de construir transferido.

Como visto acima, no texto da lei do PDDI, este instrumento parece bem apropriado no
caso de preservação de imóvel de interesse histórico e cultural, lembrando que ao transferir o
direito de construir para outro local será um tipo de “solo criado”.

167
4.13 Sistema de Acompanhamento e Controle

O Estatuto da Cidade estabelece a obrigação de um sistema de acompanhamento e de


controle do plano diretor municipal (art. 42) e também a implantação de outros instrumentos (art.
43) para garantir a gestão democrática da cidade, ou sejam:

• órgãos colegiados de política urbana;


• debates e audiências;
• conferências sobre assuntos de interesse urbano e
iniciativa popular de projeto de lei e de planos de desenvolvimento urbano.

A revisão do PDDI de Mogi Guaçu não especifica um sistema de acompanhamento e


controle do plano diretor, porém estabelece objetivos gerais quanto à gestão democrática da
cidade, como a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Integrado (CONCIDADE) e
a criação de Ouvidoria Municipal, da seguinte forma:

ART. 10 - Constituem objetivos gerais relativos à gestão democrática da cidade:


I – informar periodicamente a população sobre temas, projetos e intervenções
urbanas com vistas a estimular a participação popular para a formulação de
sugestões e críticas;
II – assegurar a participação de associações representativas dos segmentos da
comunidade nos processos de planejamento, de decisão, formulação, execução,
acompanhamento e fiscalização de planos, projetos, programas, obras e
atividades destinados ao desenvolvimento urbano;
III – a realização periódica de consulta popular mediante audiências públicas,
pesquisas e quaisquer outros meios modernos de consulta à população;
IV – a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Integrado de Mogi
Guaçu (CONCIDADE), para tratar da política urbana, rural e ambiental do
Município;
V – criação da Ouvidoria Municipal, com finalidade de recepcionar
informações, sugestões, elogios, críticas, reclamações e reivindicações dos
munícipes, encaminhá-los aos órgãos, entidades e autoridades competentes, e

168
responder e esclarecer à população sobre providências já adotadas e que serão
tomadas ou não.

Em Mogi Guaçu, a criação do CONCIDADE e a criação da Ouvidoria Municipal


precisam de leis próprias, especificando as condições, responsabilidades e a composição dos seus
integrantes. Caso exista interesse da administração municipal na implantação do CONCIDADE,
haverá um sistema de acompanhamento e de controle da sociedade sobre o planejamento urbano
em geral que poderá também abranger as questões relacionadas ao plano diretor, nos moldes do
Estatuto da Cidade. Conforme visto acima, a revisão do PDDI estabelece, no art. 10, objetivos
para diversas formas adequadas e progressistas de participação social no planejamento urbano,
porém estas formas precisam de algumas etapas e de vontade política para a sua implantação e
funcionamento na cidade, caso contrário esta parte do plano ficará sem uma efetiva utilização.

169
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na pesquisa ficou demonstrado que, para o crescimento de Mogi Guaçu ocorrer com
vitalidade urbana, o planejamento urbano local pode e deve aproveitar, sempre que possível, os
vazios urbanos que, em sua totalidade de 3,25 km², comportam o crescimento urbano de 22.050
habitantes até o ano de 2017, quando a população urbana estimada será de 147.739 pessoas em
um total de 157.624 pessoas no município. As tipologias de habitações unifamiliares em lotes de
200m² e de habitações em edifícios de 4 ou mais pavimentos, que são as mais utilizadas na cidade
de Mogi Guaçu, podem ser edificadas nos vazios urbanos existentes, com infra-estrutura
adequada de vias públicas, equipamentos urbanos, serviços públicos e também com comércio e
serviços, sem a necessidade de ampliação do perímetro urbano. Como dificuldade de
aproveitamento dos vazios urbanos existe a questão dos altos valores das terras urbanas nas
cidades vizinhas de Mogi Guaçu e Mogi Mirim, principalmente para a implantação de habitação
popular financiada pelo governo federal ou produzida pelo governo estadual.

Em relação ao zoneamento urbano a pesquisa indicou que existe a possibilidade de


diversidade de usos e de usuários, que constitui uma das metas do planejamento para a vitalidade
urbana. A possibilidade de diversidade de usos e de usuários em um mesmo local da cidade foi
estabelecida no zoneamento urbano da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
aprovado em 2008, de forma que as habitações, comércio e os serviços possam ser localizados
próximos. Porém, a revisão do PDDI (lei Complementar nº. 968 de 05 de dezembro de 2008)
define apenas o uso do solo e não estabelece os índices urbanísticos de ocupação do solo urbano
(Taxa de Ocupação e Coeficiente de Aproveitamento), nem os recuos mínimos das edificações
em relação às divisas dos terrenos; e assim a aprovação de projetos de edificações depende da Lei
de Zoneamento nº. 766 de 04/01/1971, com algumas alterações posteriores.
Como visto no trabalho, a revisão do PDDI de 2008 resultou em um plano de diretrizes e
de objetivos, sem possibilidades de uma efetiva participação no planejamento urbano, pois
depende de outra lei para a definição dos índices urbanísticos de ocupação do solo. Como a lei de
zoneamento de 1971 também permite, de forma geral, a proximidade dos usos habitacional,
comercial e de serviços, a diversidade de usuários em uma mesma área pode ser conseguida.

170
É preciso cuidado e atenção por parte da Secretaria de Planejamento de Desenvolvimento
Urbano – SPDU, na aprovação de condomínios urbanos fechados, para que não resultem em
locais de exclusão e segregação; evitando fronteiras desertas em longos muros de frente para as
vias públicas. A existência de comércio e de serviços nas vias públicas, em vez de apenas muros
de condomínios, pode evitar ou diminuir a sensação de exclusão urbana.

A implantação de área verde de lazer na zona sul junto ao Córrego dos Macacos (já em
realização pela administração municipal) e as indicações para novas áreas verdes de lazer na zona
norte junto ao Córrego dos Ipês entre o Jardim São José e o Jardim Ipê VIII, na zona leste
também junto ao mesmo córrego; no centro da cidade com a revitalização do Parque dos Ingás e
na margem do Rio Mogi Guaçu ao lado da área Taguaçu; correspondem às solicitações das
audiências públicas prévias à elaboração da revisão do PDDI de Mogi Guaçu, realizadas em
2006.
Na zona norte, entre o Jardim São José e o Jardim Ipê VIII, existe a possibilidade de
implantação de uma área verde de lazer pública junto ao córrego dos Ipês para urbanização e
criação de espaços para atividades de lazer à população. Naquela parte da cidade os estudos de
elaboração da revisão do PDDI indicaram uma proposta de implantação de grande área de lazer
para atender toda a zona norte, por meio de um concurso de ideias de urbanismo abrangendo:
caminhos de pedestres contornando a área, equipamentos de exercícios físicos; paisagismo com
utilização da lagoa; iluminação; locais de descanso, lazer e recreação com quiosque para venda
de comidas e bebidas; pontes de pedestres sobre o córrego e ciclovia de lazer.
O Parque dos Ingás e a área de preservação permanente do vazio urbano Taguaçu, na
margem esquerda do Rio Mogi Guaçu, formam praticamente um conjunto pela proximidade, na
parte central da cidade, separados apenas pela ponte de concreto e por uma pequena parte de uma
propriedade particular, que constitui área de preservação permanente. Existe a possibilidade de
aproveitamento do potencial de lazer das duas áreas junto do Rio Mogi Guaçu, que podem vir a
ser um exemplo de como tratar as águas urbanas como valioso recurso paisagístico, aumentando
a sua visibilidade com a construção, de um ou mais decks de madeira na margem do rio, com
possibilidade de pescaria nesse espaço público. A implantação de um caminho pelas duas áreas
constituirá um importante espaço de uso público de lazer, que poderá ser denominado Caminho
do Rio e poderá ser unido às ruas centrais de comércio e à praça central.

171
A implantação de um parque municipal na região denominada Cachoeira de Cima é uma
possibilidade colocada na revisão do PDDI, para o uso racional do turismo e lazer e com manejo
de proteção ecológica. Trata-se de uma ideia de abrangência na microrregião, caso o Poder
Público local pretenda e consiga viabilizar um projeto com essas características. O local é
atraente para a população de Mogi Guaçu, que não possui acesso público ao rio nem à represa. A
questão de uma área pública verde de lazer na Cachoeira de Cima, que já existiu antes da
formação do lago da Pequena Central Hidrelétrica no início da década de 1990, precisa ser muito
bem equacionada tendo em vista a sua localização em uma zona de proteção ambiental, que é o
manancial de abastecimento de Mogi Guaçu e Mogi Mirim. A Faculdade Municipal Professor
Franco Montoro encontra-se instalada na margem da represa, mas não permite o acesso público
até o lago. Deve-se considerar a complexidade de um parque municipal, com a necessidade de
recursos financeiros e humanos em conjunto com um estudo prévio de impacto ambiental, e
também que grande parte das terras de entorno da represa é de propriedade privada.

De forma geral, a pesquisa comprovou que as colocações de Jane Jacobs (2000) para o
planejamento urbano são adequadas para a cidade de Mogi Guaçu e também para outras cidades
médias brasileiras na atualidade, como a cidade vizinha de Mogi Mirim. Algumas ideias de
Jacobs, que constituem um conjunto de procedimentos para o planejamento urbano, foram
verificadas na pesquisa: estimular a diversidade de usos e de usuários em uma mesma área da
cidade; interpenetração de vizinhanças, cujos usuários e proprietários possam contribuir para a
segurança pela simples presença nos locais de atividades comerciais e de serviços; evitar as
fronteiras desertas em áreas verdes e muros extensos de condomínios fechados; estimular forças
econômicas construtivas e projetos pessoais; explicitar a ordem visual das cidades, por exemplo,
com a adequada sinalização informativa dos lugares inclusive com a distribuição de mapas
urbanos.

Sobre os instrumentos de planejamento urbano do Estatuto da Cidade, a pesquisa


verificou que a Outorga Onerosa do Direito de construir, embora onerosa como o nome indica,
poderá ser um atrativo para o aproveitamento de 25% superior na Zona de Urbanização
Prioritária (vazios urbanos). A revisão do PDDI estabeleceu o aproveitamento mínimo de 0,1 (ou
10% da área do terreno com edificações) nos vazios urbanos, abaixo do qual o imóvel localizado

172
em vazio urbano é considerado subutilizado. Porém não estabeleceu o aproveitamento básico,
sobre o qual se poderá calcular o aproveitamento 25% superior, assim como não estabeleceu os
demais índices urbanísticos de ocupação do solo urbano. Também em relação aos instrumentos
do Estatuto da Cidade, a revisão do PDDI de Mogi Guaçu ficou no aguardo de uma lei municipal
específica para definição dos índices urbanísticos de aproveitamento e de ocupação do solo
urbano.
A revisão do PDDI estabeleceu as Operações Urbanas Consorciadas para utilização nos
vazios urbanos e na zona de expansão urbana, sendo que a sua utilização depende de estudo
detalhado e especifico das condições locais econômicas, sociais, ambientais e de projeto
urbanístico. Entende-se que o instrumento das Operações Urbanas Consorciadas no município de
Mogi Guaçu será uma possibilidade de planejamento e de projetos com a participação do Poder
Público, investidores, proprietários de terras urbanas e usuários permanentes.
Quanto ao instrumento da utilização compulsória, que inclui a aplicação do imposto
predial e territorial progressivo no tempo, que foi estabelecido para a Zona de Urbanização
Prioritária, verificou-se que a sua aplicação depende também de lei municipal e pode demorar 11
anos até a sua conclusão; além da possibilidade de questionamentos em relação ao direito de
propriedade e também que o Poder Público precisará de recursos para as desapropriações e para a
implantação de projetos completos nas áreas em que o instrumento da utilização compulsória for
aplicado, o que pode inviabilizar a sua aplicação em Mogi Guaçu.
Em vez da utilização compulsória, a administração municipal poderá discutir com a
sociedade o aumento do imposto territorial em todos os terrenos urbanos sem edificações, o que
poderá ser uma maneira mais simples de induzir a utilização dos imóveis urbanos vazios.
A Outorga Onerosa de Alteração de Uso do Solo poderá ser utilizada em casos de
eventuais implantações de núcleos urbanos na zona rural. Nestes casos, uma lei municipal
definirá o valor da cobrança pela alteração de uso do solo rural para urbano. A implantação de
núcleos isolados na zona rural de Mogi Guaçu dependerá de estudos sérios e objetivos que
comprovem os benefícios para os futuros moradores ou para a sua utilização como chácaras de
lazer.
O Direito de Preempção, ou seja, a preferência do Poder Público municipal na aquisição
de imóvel urbano, objeto de alienação onerosa entre particulares e a Transferência do Direito de

173
Construir para outro imóvel foram estabelecidos na revisão do PDDI de forma geral, apenas
como possibilidades do planejamento urbano, sem aplicação atualmente.

Assim, completa-se esta pesquisa sobre o planejamento urbano e sobre o espaço de Mogi
Guaçu, uma cidade média do interior paulista no início da década de 2010, embora o seu início
tenha sido em 2006 no programa de Pós-Graduação em Geografia, ano da realização das
audiências públicas que embasaram a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. A
principal motivação da pesquisa foi a procura de indicações para a vitalidade urbana na cidade de
Mogi Guaçu. Uma pesquisa pode e deve ser completada, porém a questão do planejamento
urbano local deve ser um processo contínuo que leve em conta os referenciais teóricos
apropriados e as observações e descrições precisas das condições locais. Espera-se que, de
alguma forma, esta pesquisa possa colaborar com outras pesquisas sobre a cidade, a região e a
vida urbana nas cidades médias brasileiras.

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