A Síndrome Do Bêbado Seco (Livro Com Capítulos)
A Síndrome Do Bêbado Seco (Livro Com Capítulos)
A Síndrome Do Bêbado Seco (Livro Com Capítulos)
da compulsão seca
José Antonio Elizondo Lopez
Índice
Prólogo 7
Introdução 10
Capítulo 1 14
O Dragão de Duas Cabeças 14
Capítulo 2 17
Capítulo 3 22
Sintoma número 1 22
O Rei Menino 22
Capítulo 4 25
Sintoma número 2 25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto 25
Capítulo 5 28
Sintoma número 3 28
O Escorpião Amargo 28
Capítulo 6 33
Sintoma número 4 33
Velejando com uma bandeira culpada 33
Capítulo 7 38
Capítulo 8 43
Sintoma número 6 43
Medo do medo: a necessidade de não sentir 43
Capítulo 9 50
Sintoma número 7 50
Depressão: aquela agonia sem fim 50
Capítulo 10 56
Sintoma número 8 56
O mach-o-minus 56
Capítulo 11 64
Capítulo 12 69
Sintoma número 10 69
Transformar para não mudar 69
Capítulo 13 76
Sintoma número 11 76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro 76
Capítulo 14 82
Sintoma número 12 82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego 82
Capítulo 15 87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE 87
Capítulo 16 92
Da abstinência à sobriedade 92
Glossário 104
SINTOMA NÚMERO 1.
O MENINO REI
Imaturidade e infantilismo, estagnação do crescimento emocional e persistência das
dependências
Prólogo...................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................10
Capítulo 1.............................................................................................................................................14
O Dragão de Duas Cabeças..............................................................................................................14
Capítulo 2.............................................................................................................................................17
Capítulo 3.............................................................................................................................................22
Sintoma número 1.............................................................................................................................22
O Rei Menino...................................................................................................................................22
Capítulo 4.............................................................................................................................................25
Sintoma número 2.............................................................................................................................25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto...................................................................................25
Capítulo 5.............................................................................................................................................28
Sintoma número 3.............................................................................................................................28
O Escorpião Amargo........................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................................33
Sintoma número 4.............................................................................................................................33
Velejando com uma bandeira culpada..............................................................................................33
Capítulo 7.............................................................................................................................................38
Capítulo 8.............................................................................................................................................43
Sintoma número 6.............................................................................................................................43
Medo do medo: a necessidade de não sentir.....................................................................................43
Capítulo 9.............................................................................................................................................50
Sintoma número 7.............................................................................................................................50
Depressão: aquela agonia sem fim...................................................................................................50
Capítulo 10...........................................................................................................................................56
Sintoma número 8.............................................................................................................................56
O mach-o-minus...............................................................................................................................56
Capítulo 11...........................................................................................................................................64
Capítulo 12...........................................................................................................................................69
Sintoma número 10...........................................................................................................................69
Transformar para não mudar............................................................................................................69
Capítulo 13...........................................................................................................................................76
Sintoma número 11...........................................................................................................................76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro.................................................................................................76
Capítulo 14...........................................................................................................................................82
Sintoma número 12...........................................................................................................................82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego................................................................................82
Capítulo 15...........................................................................................................................................87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE.........................................................................................87
Capítulo 16...........................................................................................................................................92
Da abstinência à sobriedade.............................................................................................................92
Glossário.........................................................................................................................................104
SINTOMA NÚMERO 4.
VELEJANDO COM UMA BANDEIRA CULPADA
Sentimento permanente de culpa com autoavaliação, handicap e tendência à
autopunição
Capítulo 7 38
SINTOMA NÚMERO 5.
DIGA-ME O QUE VOCÊ SE GABA E EU LHE DIREI O QUE LHE FALTA
Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade e tendência à
onipotência
Capítulo 8 44
SINTOMA NÚMERO 6.
O MEDO DO MEDO: A NECESSIDADE DE NÃO SENTIR
Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e
tensão contínuas
Prólogo...................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................10
Capítulo 1.............................................................................................................................................14
O Dragão de Duas Cabeças..............................................................................................................14
Capítulo 2.............................................................................................................................................17
Capítulo 3.............................................................................................................................................22
Sintoma número 1.............................................................................................................................22
O Rei Menino...................................................................................................................................22
Capítulo 4.............................................................................................................................................25
Sintoma número 2.............................................................................................................................25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto...................................................................................25
Capítulo 5.............................................................................................................................................28
Sintoma número 3.............................................................................................................................28
O Escorpião Amargo........................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................................33
Sintoma número 4.............................................................................................................................33
Velejando com uma bandeira culpada..............................................................................................33
Capítulo 7.............................................................................................................................................38
Capítulo 8.............................................................................................................................................43
Sintoma número 6.............................................................................................................................43
Medo do medo: a necessidade de não sentir.....................................................................................43
Capítulo 9.............................................................................................................................................50
Sintoma número 7.............................................................................................................................50
Depressão: aquela agonia sem fim...................................................................................................50
Capítulo 10...........................................................................................................................................56
Sintoma número 8.............................................................................................................................56
O mach-o-minus...............................................................................................................................56
Capítulo 11...........................................................................................................................................64
Capítulo 12...........................................................................................................................................69
Sintoma número 10...........................................................................................................................69
Transformar para não mudar............................................................................................................69
Capítulo 13...........................................................................................................................................76
Sintoma número 11...........................................................................................................................76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro.................................................................................................76
Capítulo 14...........................................................................................................................................82
Sintoma número 12...........................................................................................................................82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego................................................................................82
Capítulo 15...........................................................................................................................................87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE.........................................................................................87
Capítulo 16...........................................................................................................................................92
Da abstinência à sobriedade.............................................................................................................92
Glossário.........................................................................................................................................104
SINTOMA NÚMERO 9.
A SÍNDROME DO AVESTRUZ: EU NÃO VEJO, EU NÃO OUÇO, EU NÃO FALO
Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção
Capítulo 12 72
SINTOMA NÚMERO 10.
TRANSFORME PARA NÃO MUDAR
Substituição do álcool por outras drogas ou substâncias que causam dependência
Capítulo 13 79
SINTOMA NÚMERO 11.
OS ADORADORES DO BEZERRO DE OURO
Espiritualidade ausente ou muito empobrecida com arrogância intelectual, tendência
ao materialismo e pouca ou nenhuma fé.
Capítulo 14 86
SINTOMA NÚMERO 12.
SEM PICHAN, SEM CACHAN, SEM DEIXAR BATER
Comportamento inadequado em seu tratamento, tanto com seu terapeuta quanto em
seu grupo de autoajuda
Prólogo...................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................10
Capítulo 1.............................................................................................................................................14
O Dragão de Duas Cabeças..............................................................................................................14
Capítulo 2.............................................................................................................................................17
Capítulo 3.............................................................................................................................................22
Sintoma número 1.............................................................................................................................22
O Rei Menino...................................................................................................................................22
Capítulo 4.............................................................................................................................................25
Sintoma número 2.............................................................................................................................25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto...................................................................................25
Capítulo 5.............................................................................................................................................28
Sintoma número 3.............................................................................................................................28
O Escorpião Amargo........................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................................33
Sintoma número 4.............................................................................................................................33
Velejando com uma bandeira culpada..............................................................................................33
Capítulo 7.............................................................................................................................................38
Capítulo 8.............................................................................................................................................43
Sintoma número 6.............................................................................................................................43
Medo do medo: a necessidade de não sentir.....................................................................................43
Capítulo 9.............................................................................................................................................50
Sintoma número 7.............................................................................................................................50
Depressão: aquela agonia sem fim...................................................................................................50
Capítulo 10...........................................................................................................................................56
Sintoma número 8.............................................................................................................................56
O mach-o-minus...............................................................................................................................56
Capítulo 11...........................................................................................................................................64
Capítulo 12...........................................................................................................................................69
Sintoma número 10...........................................................................................................................69
Transformar para não mudar............................................................................................................69
Capítulo 13...........................................................................................................................................76
Sintoma número 11...........................................................................................................................76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro.................................................................................................76
Capítulo 14...........................................................................................................................................82
Sintoma número 12...........................................................................................................................82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego................................................................................82
Capítulo 15...........................................................................................................................................87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE.........................................................................................87
Capítulo 16...........................................................................................................................................92
Da abstinência à sobriedade.............................................................................................................92
Glossário.........................................................................................................................................104
Prólogo
É inegável que o alcoolismo tornou-se um dos mais graves problemas de saúde pública,
tanto em nosso país quanto no resto do mundo, que não diz respeito apenas a quem dele
sofre, pois está associado a fenômenos como a violência familiar, acidentes, lesões,
homicídios e suicídios, entre outros.
Rejeição social, solidão, abandono, invalidez ou morte prematura são possíveis
consequências que um bebedor causa durante o desenvolvimento de sua dependência. No
extremo oposto, permanecem alguns valores fundamentais para o ser humano:
integridade, dignidade, solidariedade e liberdade.
Infelizmente, este é um problema generalizado e de alto impacto em nosso país. Dados
oficiais mostram que há cerca de três milhões de pessoas com problemas de álcool e pelo
menos três milhões têm problemas de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o que
significa uma diminuição substancial na capital mais importante que uma nação tem: seus
habitantes.
É paradoxal que esse fenômeno complexo seja pouco compreendido, não só na sociedade
em geral, mas também no campo profissional, incluindo a saúde, e que prevaleçam mitos e
crenças distorcidas sobre a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. bem
como referindo-se à sua causalidade.
Assim, na atualidade, as opções de prevenção e tratamento não correspondem à
magnitude e transcendência do problema. As opções de tratamento institucional são
comparativamente pobres e escassas; De facto, os esquemas e modelos de detecção,
tratamento e reabilitação do alcoolismo ou do abuso de álcool não foram integrados nos
programas de saúde.
No entanto, a sociedade civil e as organizações de ajuda mútua têm historicamente
respondido a este problema. A construção de suas respostas solidárias permitiu-lhes
formar um grande número de grupos, o que, por sua vez, levou à formação de redes de
grupos de ajuda mútua e centros de tratamento privados.
O reconhecimento do impacto e do custo do problema para a sociedade é crucial, assim
como a necessidade de modelos efetivos de prevenção, tratamento e reabilitação
incorporados aos programas de educação em saúde pública e assistência social. Para
isso, é preciso contar com elementos técnicos modernos e pertinentes à realidade nacional
que facilitem esse trabalho.
Por todo o exposto é relevante, sem a menor dúvida, contar com profissionais da
envergadura do Dr. José Antonio Elizondo López, que tem dedicado sua profícua vida
profissional ao estudo e à pesquisa do fenômeno do alcoolismo.
Dr. Elizondo é um proeminente psiquiatra e psicoterapeuta, pioneiro, em 1972, do
Programa de Reabilitação para Alcoólicos do Instituto Mexicano de Seguridade Social
(IMSS); membro comprometido do Conselho de Curadores e palestrante qualificado de
Alcoólicos Anônimos (AA); colaborador da revista Plenitud, desde 1978; promotor da
formação de pessoal diversificado na área do alcoolismo e das dependências; vice-
presidente do Centro de Estudos sobre Álcool e Alcoolismo (CESAAL); colaborador e
palestrante da Universidad Autónoma Veracruzana e da Universidad Nacional Autónoma
de México (UNAM), além de membro do Conselho Editorial da revista especializada
LíberAddictus.
Destaque especial merece o incansável impulso e divulgação deste especialista para os
grupos de AA, desde um fórum internacional de especialistas, até a mais simples reunião,
mas não menos importante, em lugares remotos do país.
Dr. Elizondo conseguiu aliar a solidez de seus estudos com a vasta experiência clínica,
adquirida durante o contato diário com pacientes alcoólatras e seus familiares, em seu
ambiente. Essa experiência tem se refletido em seu trabalho social permanente para
ajudar aqueles que sofrem ou estão expostos em maior extensão a essa doença.
Foi esse trabalho comprometido que lhe rendeu o apreço e a admiração de seus muitos
pacientes e instituições especializadas neste campo.
Da mesma forma, o Dr. Elizondo tem a rara virtude de aliar a profundidade de seus
estudos e análises, com concretude e eloquência, o que lhe permite traduzir e ensinar em
linguagem prática e acessível os sintomas emocionais do alcoólatra, com tamanha
contundência que quem sofre da doença, isso inevitavelmente se refletirá na Síndrome da
Embriaguez Seca.
Neste trabalho ele descreve, de forma didática, as formas de se reconectar com as causas
mais elementares do alcoolismo e revela os medos e sentimentos incompreensíveis que
em algum momento de suas vidas levam determinadas pessoas ao consumo de álcool.
Este livro será particularmente útil para aqueles que acreditam que apenas parando de
beber, eles automaticamente mudarão seus problemas e alcançarão a felicidade; ou para
aqueles que frequentam AA, mas não trabalham em seu programa de crescimento. Esses
alcoólatras acumulam abstinência, mas não atingem a sobriedade.
Na forma de histórias e moral, expressa-se em tom coloquial o sentimento mais fidedigno e
a experiência cotidiana do alcoolista, ocupado em permanecer abstêmio e em constante
luta com suas emoções e sentimentos, a fim de promover em si mesmo um verdadeiro
crescimento.
O autor levanta a importância de o alcoólatra se identificar e resgatar em tempo hábil da
dualidade aditiva e neurótica, para não deslocar para si ou para os outros outro fardo ainda
mais destrutivo que o álcool: o de apresentar essa síndrome para toda a vida e erguê-la
como uma bandeira que busca justificar outras fraquezas, Insuficiências e lacunas.
Estou convencido de que esta obra será interessante para qualquer leitor e promoverá nela
uma preocupação positiva e uma reflexão sobre a luta diária contra o alcoolismo.
Profissionais de disciplinas afins também receberão ferramentas técnicas que contribuirão
para o manejo integral e promoção da maturidade emocional do alcoolista, questão
fundamental para que se sustente na sobriedade.
De modo geral, esse material será muito útil para todos os interessados nesse complexo
problema, pois os ajudará na reconstrução dos esquemas e programas de cuidado e
gestão, com um sentido mais humano e abrangente do alcoolismo.
Em setembro de 2002, surgiu o artigo Síndrome da Compulsão Seca, em sua nova versão
com 12 sintomas, que estão listados abaixo:
1. Imaturidade e infantilismo: interrupção do crescimento emocional e persistência das
dependências.
2. Atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e para com os outros.
3. Amargura e insatisfação existencial devido à persistência de ressentimentos.
4. Sentimento permanente de culpa com autodesvalorização, desvantagem e
tendência à autopunição.
5. Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade e tendência à
onipotência.
6. Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e
tensão contínuas.
7. Depressão cíclica ou permanente com atitudes de pessimismo e desmotivação
8. Ingovernabilidade sexual e sentimental.
9. Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção.
10. Substituição do álcool por outras substâncias ou comportamentos aditivos.
11. Espiritualidade ausente ou muito empobrecida, com arrogância intelectual,
tendência ao materialismo e pouca ou nenhuma fé.
12. Comportamento inadequado em seu grupo AA, tanto com colegas quanto com
princípios do programa.
Como já mencionado, isso não significa que no espaço desses 24 anos tenham surgido
novos sintomas de embriaguez seca, mas que os oito primeiros sintomas foram mais
detalhados para torná-los mais compreensíveis, mais específicos e mais objetivos.
A tabela a seguir compara os oito sintomas do primeiro artigo com os 12 do segundo artigo
para explicar sua correlação:
1. Tendência ao exagero. Corresponde ao 5º sintoma da nova versão: autossuficiência
neurótica e tendência à onipotência.
2. Comportamento infantil. Corresponde ao 1º e 11º sintomas: imaturidade e
infantilismo e ausência de espiritualidade.
3. Insatisfação persistente. Corresponde ao 3º e 4º sintomas: insatisfação existencial
devido à persistência de ressentimentos e sentimento permanente de culpa.
4. Negação de sua realidade não alcoólica. Corresponde ao 9º e 10º sintomas:
negação de sua realidade não alcoólica e substituição do álcool por outras drogas e
substâncias aditivas.
5. Racionalização de seus problemas neuróticos. Corresponde ao 2º e 5º sintomas:
atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e com os outros, e
autossuficiência neurótica.
6. Persistência de problemas familiares. Corresponde ao 1º, 2º e 8º sintomas:
persistência de dependências, atitude de desonestidade para com os outros e
ingovernabilidade sexual e sentimental.
7. Comportamento inadequado em seu grupo AA. Corresponde ao 12º sintoma:
comportamento inadequado no grupo AA.
8. Angústia e depressão recorrentes. Corresponde ao 6º e 7º sintomas: medos
permanentes com angústia e tensão contínuas e depressão cíclica ou permanente.
Como se vê, a nova versão com 12 sintomas é muito mais didática e facilita a
compreensão e compreensão desses defeitos de caráter com maior precisão para a
identificação do sintoma.
Capítulo 1
O Dragão de Duas Cabeças
Era uma vez, a qualquer hora e em qualquer lugar, um príncipe loucamente apaixonado
por uma princesa. Infelizmente, ela foi mantida em cativeiro em um castelo do qual não
podia sair porque era guardado por um terrível dragão de duas cabeças que não permitia
que ninguém se aproximasse. Se alguém ousasse ousar, foi atacado ferozmente pelo
monstro que já contava com muitas vítimas a seu crédito: a maioria das quais havia
morrido em combate, outras foram aprisionadas nas masmorras do castelo sem esperança
de partir, e aqueles que feriram e espancaram conseguiram fugir, Sofreram pelo resto da
vida com alguma deficiência ou incapacidade, que lhes causou sofrimento sem fim,
afastando-os do bem-estar e da felicidade.
Mas nosso príncipe era uma pessoa determinada e corajosa, que sabia que a única coisa
que poderia lhe trazer felicidade era conquistar o amor de sua amada princesa.
Ele se propôs a derrotar o dragão, então estudou todos os seus movimentos e seus pontos
fracos, e armou-se até os dentes com armadura que o protegeria das chamas emanadas
do focinho da besta e uma espada poderosa que derrubaria sua cabeça no primeiro golpe.
Seu cavalo era rápido e ágil e estava acostumado com essas lutas, nas quais nosso herói
costumava vencer.
Assim, o ousado príncipe chegou aos portões do castelo e foi imediatamente atacado pelo
terrível dragão para impedi-lo de passar. Com movimentos ágeis de seu cavalo, o príncipe
conseguiu escapar do ataque da besta. Por sua vez, pegou sua espada e com muita força
e determinação cortou uma das cabeças. Na lança, o príncipe perdeu a espada e teve que
desistir da luta.
Quando retornou ao castelo, nosso herói ficou perplexo ao observar que o dragão tinha as
duas cabeças. Por algum motivo incompreensível para o príncipe, o monstro conseguiu
regenerar sua cabeça perdida.
O príncipe decidiu voltar à aldeia para pedir conselhos e, assim, conseguir montar uma
estratégia que lhe permitisse derrotar o dragão.
Ele consultou os sábios da cidade que lhe disseram que a única maneira de derrotar o
dragão era cortar suas duas cabeças em uma única barra, porque ele tinha a capacidade
de regenerar a cabeça perdida, desde que mantivesse a outra.
Sabendo desse segredo, o príncipe armou-se com uma espada muito maior e mais
poderosa e guardou mais duas espadas na sela de seu cavalo caso precisasse delas.
A luta foi feroz: o monstro atacou com todo o seu poder; Chamas enormes saíram de sua
boca e ele acertou fortes retalhos no cavalo que caiu duas vezes, mas ele conseguiu se
recuperar imediatamente. O príncipe jogou um forte golpe nas cabeças do dragão, mas o
golpe falhou e a espada ficou presa na cauda da besta; Ela torceu o pescoço na direção do
rabo para puxar a espada que lhe causava muita dor. O príncipe aproveitou para pegar
outra espada e com um golpe preciso no pescoço cortou as duas cabeças: o dragão havia
morrido.
O príncipe entrou no castelo e libertou a bela princesa com quem se casou e viveram
felizes por muitos e muitos anos.
Essa história que termina como a maioria das histórias infantis: com o triunfo do bem sobre
o mal e a conquista da felicidade eterna, representa a dura luta que um alcoólatra tem que
empreender para alcançar a sobriedade.
O príncipe representa o alcoólatra doente que quer se recuperar; O dragão é a doença do
alcoolismo, que tem uma dualidade: é representado pelas duas cabeças do dragão, a
primeira cabeça é a cabeça viciante, a segunda é a cabeça neurótica. A cabeça viciante
representa a ingovernabilidade do alcoolista diante do álcool; A cabeça neurótica
representa a ingovernabilidade do alcoólatra diante de seus sentimentos e emoções.
A princesa representa o que todo alcoólatra aspira em sua recuperação: a felicidade. O
castelo representa a sobriedade.
As duas cabeças do dragão: o vício em álcool e a ingovernabilidade emocional estão
impedindo o alcoólatra de entrar na sobriedade.
As espadas do príncipe representam a determinação, disciplina e atitude positiva do
alcoólatra que quer se recuperar e alcançar a felicidade.
Os sábios da aldeia representam os padrinhos de AA: os conselheiros, médicos,
psicólogos, psiquiatras e padres que dizem ao alcoólatra o que ele deve fazer para superar
sua doença.
Conhecendo essa história e seu simbolismo, é possível entender melhor o que é a doença
do alcoolismo e como superá-la.
Muitos alcoólatras carecem de firmeza, convicção e uma atitude positiva para parar de
beber e mudar. Suas espadas são muito fracas com eles, eles nunca serão capazes de
derrotar o dragão.
Outros acreditam que apenas parando de beber, todo o resto mudará automaticamente e
eles alcançarão a felicidade. São eles que frequentam a AA, mas não trabalham em seu
programa de crescimento. Eles acreditam que todos os seus problemas existenciais são
consequência de seu alcoolismo e que quando pararem de beber, a felicidade virá por
conta própria. Esses alcoólatras acumulam abstinência, mas não alcançam a sobriedade;
Eles apenas cortaram a cabeça viciante do dragão, mas deixaram a cabeça neurótica viva,
ela será responsável por regenerar a cabeça viciante e a recaída não demorará a chegar.
Outros, por outro lado, não aceitam seu alcoolismo e não querem saber nada sobre AA.
Pensam que só têm problemas emocionais e que, quando os resolverem, poderão beber
de forma controlada. Esses tipos de indivíduos são aqueles que vão ao psicólogo,
psiquiatra ou psicanalista, mas continuam a beber. São eles que cortam a cabeça
neurótica, mas deixam a cabeça viciante viva. Ao permanecer vivo, a cabeça viciante fará
com que a neurose reapareça e seu alcoolismo piore.
Foi mencionado que a princesa representa a felicidade que todo alcoólatra em
recuperação busca. Mas a história indica que para alcançar a felicidade é preciso lutar e
muito duro. Combate à ingovernabilidade frente ao consumo de álcool e combate à
ingovernabilidade emocional.
Aqueles que sofrem da Síndrome da Embriaguez Seca estão se recuperando alcoólatras
que se contentam em parar de beber, mas não mudam. Eles ainda têm as mesmas
alterações comportamentais de quando bebiam, só que agora estão secos; São bêbados
secos.
Por todo o exposto é importante entender que a doença do alcoolismo é muito complexa;
que o alcoólatra já apresenta ingovernabilidade emocional antes de começar a beber; que
essa ingovernabilidade emocional levou muitos bebedores a se tornarem alcoólatras, e
quando eles se juntaram a um grupo de AA porque decidiram parar de beber, a
ingovernabilidade emocional ressurge fortemente e é necessário trabalhar o crescimento
emocional.
Os capítulos seguintes descreverão os 12 sintomas da compulsão seca.
Capítulo 2
Síndrome
da compulsão secaAbstinência não é o mesmo que sobriedade
Abstinência significa parar de usar álcool, ou a droga que você é viciado. Sobriedade
significa aprender a viver em abstinência através do crescimento emocional contínuo que
lhe permite atingir a maturidade. Em outras palavras, a soma da abstinência e da
maturidade constitui sobriedade.
Muitos alcoólatras param de beber, mas não crescem emocionalmente. Apesar de serem
abstêmios, ainda são bebês emocionais.
Essas pessoas sofrem com o que é chamado de Dry Binge Drinking.
A Síndrome da Embriaguez Seca é uma forma de neurose sofrida pelo alcoólatra em
recuperação quando ele só está satisfeito em parar de beber.
Essa síndrome impede a plenitude de vida do alcoolista, pois faz com que seus problemas
familiares, laborais e sociais persistam e que a insatisfação e a infelicidade permaneçam e
é uma das principais causas de recaídas no alcoolista.
Alcançar a abstinência é apenas o fim do começo. O verdadeiro caminho para a
recuperação começa quando se atinge uma convicção absoluta da abstinência, o alicerce
onde será construído o edifício da sobriedade.
O número 12 em AA é um número muito especial. Temos os 12 passos, as 12 tradições,
as 12 promessas, as 12 coisas que o AA não faz, e assim por diante. Será conveniente
familiarizar-se com os 12 sintomas da embriaguez seca.
E é muito importante que um alcoólatra em recuperação realmente aspira à sobriedade,
para não ficar no conformismo medíocre da abstinência. Se é difícil parar de beber, é muito
mais difícil crescer emocionalmente para atingir a maturidade. Não se esqueça que a
combinação da abstinência do álcool (e de qualquer outra droga) mais a maturidade
emocional do indivíduo constitui verdadeira sobriedade.
Os sintomas explicaram brevemente:
1. Imaturidade e infantilismo: interrupção do crescimento emocional e persistência das
dependências. É o sintoma essencial da embriaguez seca. A incapacidade de crescer
emocionalmente. Apesar de não beber mais, o alcoólatra ainda é uma criança na forma
como pensa, administra suas emoções e age. Ao permanecer uma criança emocional, ela
não será capaz de se comportar como um adulto responsável que pode alcançar seus
objetivos de vida. Como bons bebês emocionais, esses alcoólatras continuam a depender
de figuras como sua mãe, pai, irmãos, esposa, amigos, chefe e assim por diante. Essa
dependência os impede de obter duas condições fundamentais na sobriedade: autonomia
e responsabilidade. Por estarem emocionalmente ligados a outras pessoas, culpam-nas
por seus fracassos existenciais e assumem o papel de vítimas.
2. Atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e para com os outros. A
desonestidade é um mau hábito que o alcoólatra adquire durante o desenvolvimento de
sua doença. Trai, mente, inventa pretextos, promete e não entrega, trapaceia, não respeita
as regras do jogo, pede emprestado e não paga, oferece mordidas para não ser preso e
pratica outros tipos de corrupção, e assim por diante. Essa inércia de desonestidade
permanece mesmo depois que o alcoólatra para de beber. Ele continua mentindo para sua
esposa, continua a deixar de pagar suas dívidas, promessas não cumpridas persistem, e
assim por diante. Ele muitas vezes continua a mentir para seu terapeuta ou contar mentiras
em seu grupo. Ele tem dificuldade em praticar a honestidade diariamente. O mais grave do
caso é que o alcoólatra acredita em muitas dessas mentiras, persistindo nessa atitude de
fugir da própria realidade e não aceitá-la.
3. Amargura e insatisfação emocional devido à persistência de ressentimentos. Apesar de
não beber mais, o alcoólatra não consegue alcançar a plenitude, a satisfação de viver. Ele
está infeliz, descontente, com muitas áreas de amargura em sua vida e incapaz de provar
os méis da sobriedade. Parar de beber significa uma obrigação e não uma convicção, e a
recaída é frequente entre os insatisfeitos existenciais. Além disso, ele ainda tem muitos
ressentimentos de sua vida passada que não conseguiu superar. Ele está zangado com as
pessoas e com o mundo. São os típicos bêbados secos acorrentados ao passado que não
podem aplicá-lo apenas por hoje.
4. Sentimento permanente de culpa com autodesvalorização, desvantagem e tendência à
autopunição. Esses alcoólatras carregam um fardo terrível de culpa acumulada no passado
e que não conseguiram perdoar. Eles continuam a se sentir culpados por muitas situações,
como a morte de um ente querido, a doença de um de seus filhos ou o fracasso de outros,
e assim por diante. São pessoas com autoestima muito baixa e com uma tendência muito
grande ao perfeccionismo. Como não se perdoam (embora os outros já os tenham
perdoado), sentem-se menos do que os outros e com sentimentos de autodesvalorização
pessoal. Para se libertarem desse fardo, desenvolvem uma necessidade neurótica de
expiação, por isso caem em comportamentos autodestrutivos, sabotam triunfos e não se
sentem dignos de felicidade. Essas tendências autodestrutivas podem levá-los à recaída.
5. Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade e tendência à
onipotência. O egocentrismo no alcoólatra é a compensação neurótica de um complexo de
inferioridade, e uma baixa autoestima que, como todas as pessoas emocionalmente
infantis, as leva a uma atitude de supercompensação e depois querem chamar a atenção
dos outros. Por isso, quando ficaram bêbados, viraram o bufão da festa. Uma vez que
param de beber, direcionam seu egocentrismo para seus familiares ou colegas de grupo,
no trabalho ou para as pessoas em geral; Desenvolvem atitudes conflituosas, com má
gestão da agressividade que, muitas vezes, se torna ingovernável, entrando em conflitos
contínuos com os outros e incapacitando-se para a sobriedade. A autossuficiência
neurótica refere-se não à autossuficiência produtiva que é consequência da maturidade,
mas àquele que continua a pensar que não precisa da ajuda dos outros e que só pode
administrar, o que o leva inevitavelmente a tomar decisões erradas para a resolução de
seus problemas existenciais. Quando a autossuficiência neurótica é exacerbada, torna-se
onipotência, que é o defeito de caráter mais grave em que um alcoólatra pode cair. A
onipotência é uma forma patológica de orgulho. Um complexo de superioridade que
disfarça um profundo sentimento de inferioridade que quer ser compensado.
6. Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e
tensão contínuas. Muitos alcoólatras vivem em permanente angústia. Na verdade, eles já
viviam em tensão antes de beber e o que os levou ao alcoolismo foi a necessidade de
aliviar suas tensões através do álcool. Esses indivíduos em geral são muito inseguros,
apreensivos, vivem em constante estado de tensão e desenvolvem muitos medos:
problemas, conflitos, doenças, responsabilidades, ser adulto, trabalho, perigos diários,
morte e assim por diante. Eles não têm a possibilidade de viver no presente, mas vivem
instalados no futuro. Eles agonizam com o que ainda não aconteceu. Tudo isso afeta sua
saúde, pois eles vivem continuamente em tensão e sob estresse prolongado que lhes
causa vários sintomas, como dor de cabeça ou nas costas, sudorese, distúrbios do sono e
do apetite, etc. Às vezes, sua angústia é tão grave que eles podem sofrer de outros
transtornos psiquiátricos, como fobias, obsessões, compulsões ou ataques de pânico.
Esses tipos de alcoólatras em recuperação, independentemente do grupo AA, devem
receber atendimento especializado de um psiquiatra.
7. Depressão cíclica ou permanente com atitudes de pessimismo, desmotivação e baixa
energia. Outro tipo de viciados em recuperação são os depressivos. São pessoas muito
vulneráveis emocionalmente que muitas vezes se sentem tristes, sem energia, sem poder
desfrutar das coisas, propensas à tristeza e à apatia, existencialmente desmotivadas, com
pouca vontade de viver e, às vezes, com muitos desejos de morrer. Tanto esse sintoma
quanto o anterior (angústia) correspondem ao chamado transtorno dual, ou seja, o paciente
tem outra doença psiquiátrica além do vício, já que tanto a angústia quanto a depressão
são doenças que afetam a saúde mental e, portanto, requerem atenção médica
especializada.
8. Ingovernabilidade sexual e sentimental. O perfil psicológico do dependente é
caracterizado pela dificuldade que ele tem em administrar os impulsos sexuais e
sentimentais. Antes mesmo de começar a beber, o alcoólatra já tem essas tendências. Ser
uma pessoa insegura e com baixa autoestima tem muita dificuldade em se envolver com o
sexo oposto. É por isso que ele recorre à muleta emocional do álcool ou de outras drogas
para conseguir se dar coragem e se desinibir. Sob a influência do álcool, ele ousa fazer
coisas que não faz sóbrio, mas mal planejadas e pior administradas. Quantos alcoólatras
declararam uma mulher totalmente bêbada e depois se arrependeram, ou quantos outros
concordaram em assinar uma certidão de casamento bêbada. Por outro lado, em um
estado de intoxicação alcoólica, os impulsos sexuais mais primitivos são desencadeados,
dando origem a comportamentos indesejáveis como violência sexual (estupro, estupro
legal, sadismo) ou comportamento homossexual. Muitos alcoólatras que não bebem mais
permanecem secos porque persistem com atitudes de violência sexual, machismo ou
ciúme patológico. Não se pode falar em sobriedade quando o alcoólatra em recuperação
continua controlando, ameaçando, batendo ou ciúmes de seu cônjuge. Há também
problemas de ejaculação precoce, impotência ou frigidez. A infidelidade com o parceiro e a
tendência à promiscuidade sexual é outra manifestação da embriaguez seca a nível sexual
e sentimental. Muitos desses indisciplinados sexuais acabam desenvolvendo um vício
sexual ou codependência sentimental em relação ao parceiro.
9. Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção. Embora permaneça em abstinência, esse bêbado seco continua
sendo um negacionista e, embora não negue mais seu alcoolismo, continua negando uma
série de defeitos de caráter, que não consegue visualizar ou aceitar e que o impedem de
um ótimo crescimento emocional. Esses tipos de alcoólatras tendem a ficar muito
chateados quando alguém os confronta com suas áreas erradas e muitas vezes mudam de
grupo porque dizem que são "atacados da tribuna". Também rejeitam qualquer tipo de
psicoterapia profissional, argumentando desconhecimento de médicos e psicólogos em
relação ao alcoolismo e ao programa AA. Continuam à procura de culpados por tudo o que
lhes acontece.
10. Substituição do álcool por outras substâncias ou comportamentos aditivos. Muitos
alcoólatras param de beber, mas substituem seu comportamento compulsivo em relação
ao álcool por outros tipos de drogas, como maconha, cocaína, inalantes ou tachas
(metanfetaminas). Muitos param de beber, mas em vez disso começam a desenvolver
comportamentos como jogo compulsivo, sexo compulsivo ou workaholism. Às vezes, eles
caem em pílulas tranquilizantes automedicantes ou se tornam viciados em tabaco. Às
vezes, os alcoólatras em recuperação esquecem que fumar também é um vício que
adoece e mata tantas pessoas quanto o alcoolismo. Não se deve esquecer que, no
alcoolismo, o comportamento de beber em excesso é apenas o sintoma de um transtorno
mais profundo caracterizado por uma estrutura patológica de natureza aditiva cuja origem é
genética e que o torna um potencial viciado em qualquer tipo de substância ou
comportamento que cause estimulação no centro de recompensa do cérebro. Essa
estrutura doentia do alcoolista também o leva a lidar mal com todas aquelas situações
existenciais que geram angústia ou estresse. Isso é chamado de ingovernabilidade
emocional.
11. Espiritualidade ausente ou muito empobrecida, com arrogância intelectual, tendência
ao materialismo e pouca ou nenhuma fé. Muitos alcoólatras se recuperam fisicamente,
conseguem um melhor controle de suas emoções e conseguem uma melhora em seu
funcionamento e adaptação social, mas não vivenciam aquele despertar espiritual que é
condição fundamental para alcançar a sobriedade completa. Não se deve esquecer que a
essência do programa de 12 passos é fundamentalmente espiritual e que além da
recuperação psicofísica e social deve haver uma recuperação espiritual, ou seja, a
recuperação da fé. Da fé em si mesmo, nos outros, no mundo e em um poder superior que
todos têm, inclusive os agnósticos. A crise de valores que vivemos hoje e que se reflete
num materialismo extremo, onde o valor superior é o sucesso econômico e a posse de
bens de consumo, faz com que as pessoas se distanciem de Deus e dos valores supremos
do espírito. A espiritualidade ausente ou empobrecida é também o reflexo de um orgulho
intelectual e de uma autossuficiência existencial típica de certos alcoólicos em recuperação
que alcançaram um bom nível de cultura, riqueza, poder ou prestígio. Essa falta de
humildade faz com que caiam em uma arrogância progressiva que pode degenerar em um
dos sintomas mais graves da embriaguez seca que é a onipotência. Aquele que sofre de
onipotência pensa que somente ele é o seu Poder Superior.
12. Comportamento inadequado em seu grupo AA, tanto com colegas quanto com
princípios do programa. A falta de crescimento emocional causa uma distorção da
compreensão, a tal ponto que o alcoólatra em recuperação distorce a filosofia e os
princípios do programa de 12 passos, resultando em comportamento inadequado em seu
grupo. Isso o leva a interpretar, muito à sua maneira e conveniência, os princípios básicos
do programa, que ele foca mais na compensação de suas deficiências neuróticas do que
no bem-estar, unidade e serviço comuns. Longe de se tornar um testemunho de
sobriedade e bom senso em sua maneira de se comportar com os outros, ele se torna o
típico membro de AA insatisfeito e conflituoso com tudo o que é feito no grupo. Os
comportamentos erráticos desses bêbados secos são disputas de poder, inveja,
ressentimento em relação a outros parceiros, exibicionismo, críticas doentias, fofocas e
politicagem. Outros, por outro lado, manifestam sua embriaguez seca adotando um
comportamento extremamente passivo em seu grupo (não usam a plataforma nem leem a
literatura, não cooperam com o serviço e apenas escutam passivamente concretamente,
tomam café e criticam os outros), ou tendo motivações neuróticas para frequentar o grupo,
como fazer negócios com colegas de grupo, pedir dinheiro emprestado (e não pagar) ou
envolver-se emocional ou sexualmente com parceiros do outro sexo.
A recuperação abrangente do alcoolismo e outros vícios é um processo longo e
complicado que todo paciente em recuperação deve levar em conta. Alcançar a sobriedade
envolve a prática de qualidades como liberdade, responsabilidade, honestidade e
humildade, desenvolvidas em um quadro de disciplina, perseverança, determinação para a
mudança e mente aberta. Uma vez atingida a inércia da sobriedade, consegue-se um
fenômeno de crescimento emocional progressivo que não tem limites e que levará a
pessoa ao objetivo final do tratamento que é alcançar a felicidade.
Capítulo 3
Sintoma número 1
O Rei Menino
Imaturidade e infantilismo, estagnação do crescimento emocional
e persistência das dependências.
Muitos alcoólatras que pararam de beber, que são membros de AA e que já completaram
vários aniversários sem recair no álcool, persistem manifestando essas características de
personalidade. É evidente que essas pessoas sofrem de uma Síndrome da Embriaguez
Seca, pois apesar da abstinência alcoólica não têm trabalhado seu crescimento emocional
e isso as expõe a uma recaída ou a levar uma vida muito pobre emocionalmente, com
problemas familiares crescentes e insatisfação permanente. Um número significativo de
casamentos alcoólicos se divorcia após um período prolongado de abstinência do
alcoólatra. Essa situação aparentemente contraditória nada mais é do que a expressão da
decepção e desencanto da esposa, que esperava uma mudança mais satisfatória no
alcoólatra e não apenas uma abstinência medíocre.
Por meio de um trabalho psicoterapêutico consistente, pode-se alcançar um melhor
autoconhecimento e autoaceitação que leva a um conhecimento mais objetivo de quais
áreas da vida requerem mudanças. Esse trabalho pode ser desenvolvido em alguns casos,
por meio do programa de 12 passos, mas em outros casos de neuroses mais graves o
apoio de grupos de autoajuda não é suficiente e deve-se recorrer à psicoterapia
profissional.
Capítulo 4
Sintoma número 2
Mestres da desculpa e campeões do pretexto
Atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e para com os outros
Do engano ao autoengano
Além da imaturidade, outro mecanismo psicológico que determina a desonestidade é a
negação. O viciado é um negacionista por natureza. Ele não aceita sua realidade, nem sua
realidade alcoólica, nem sua realidade não alcoólica. Isso pode estar na raiz de sua
tendência à desonestidade.
"O engano dos outros está quase sempre enraizado no engano de nós mesmos", afirma o
Grapevine de agosto de 1961. O alcoólatra é uma pessoa que vive permanentemente
autoenganada, como resultado da não aceitação de sua realidade e isso o leva a
desenvolver o mau hábito de enganar os outros. Mas por acreditar em suas próprias
mentiras, às vezes se sente vitimado pelos outros porque eles não acreditam ou confiam
nele.
Outra forma de desonestidade é a projeção. Projetar-se é ver nos outros, nossos próprios
defeitos, fraquezas e desvios. Quando no processo de recuperação do alcoolismo ou da
drogadição pensamos mais nos defeitos alheios do que nos nossos, estamos caindo em
um mecanismo de evasão da nossa própria realidade que nada mais é do que uma forma
de desonestidade para consigo mesmo. Bill W. Em uma de suas cartas (1966), ele se
refere a essa forma de desonestidade da seguinte forma: "Esta é uma forma sutil e
perversa de autossatisfação que nos permite permanecer confortavelmente inconscientes
de nossas deficiências".
Outro mecanismo psicológico de defesa que faz do alcoólatra o rei do pretexto é a
racionalização. O alcoolista e o drogado sempre racionalizaram sua necessidade
compulsiva de álcool e drogas, tentando justificar com pretextos por que consumiam. Uma
vez que abandonam o álcool ou as drogas, continuam a racionalizar em torno de sua
realidade não alcoólica. Eles racionalizam suas atitudes desonestas em casa ou no
trabalho. Eles sempre encontram um pretexto para justificar por que não cumpriram uma
promessa ou não terminaram um projeto. Já não bebem, já não usam drogas, mas
continuam a falhar, continuam a falhar, continuam a sabotar o sucesso... E eles sempre
encontram uma desculpa para se safar e não aceitar sua verdadeira realidade.
Precisamente como e quando dizemos a verdade – ou permanecemos em silêncio –
muitas vezes pode representar a diferença entre a verdadeira integridade e a completa
falta dela.
Complementamos essa ideia com o que lemos na página 68 do grande livro dos AA: "Mais
do que a maioria das pessoas, o alcoólatra leva uma vida dupla, ele tem muito ator. Para o
mundo exterior, ele desempenha seu papel como ator. Este é o único que ele gosta que
seus semelhantes vejam. Ele quer gozar de uma certa reputação, mas sabe no fundo do
seu ser que não a merece."
Honestidade absoluta?
Tudo isso não significa que a única maneira de não sofrer com uma embriaguez seca é
praticar uma honestidade férrea, absoluta e fundamentalista. Só Deus pode saber
perfeitamente o que é honestidade absoluta, portanto, cada um de nós tem que formar
uma ideia do que esse magnífico ideal pode ser de acordo com sua própria capacidade.
Em outra de suas cartas (1966) Bill W. Ele afirma: "Falíveis como somos e que todos
seremos na vida, seria presunçoso acreditar que poderíamos realmente alcançar a
honestidade absoluta. O melhor que podemos fazer é nos esforçar para melhorar a
qualidade de nossa honestidade."
Essa é uma característica da sobriedade, que é o equilíbrio. No aprimoramento pessoal do
alcoólatra em recuperação, o perfeccionismo e o fundamentalismo devem ser evitados. A
honestidade absoluta é, como mencionado acima, uma qualidade exclusiva de Deus.
O ressentido vaga pelo mundo como escorpiões, derramando seu veneno e quando seu
ferrão falha em sua tentativa de atacar, ele se pica.
O escorpião, também chamado de escorpião, é um aracnídeo noturno que passa o dia
escondido sob as pedras e à noite vai caçar. Sua característica mais marcante é o ferrão
em que termina sua cauda. Este ferrão é fornecido com uma glândula venenosa e cada
vez que pica injeta seu veneno em suas vítimas. Diz-se que quando o escorpião não
consegue picar sua vítima, ele gruda seu ferrão venenoso em si mesmo e pode causar sua
própria morte.
Às vezes, os seres humanos e, especialmente, os viciados em recuperação, que não
tiveram a possibilidade de se libertar de seus ressentimentos, comportam-se de maneira
semelhante a esses aracnídeos e, embora estejam em abstinência de álcool ou livres de
drogas, a persistência de seus ressentimentos faz com que caiam em uma amargura
existencial crônica que os impede de alcançar o estado de sobriedade. Este é outro tipo de
bêbado seco que chamamos de escorpião amargo.
O ressentimento é um sentimento natural. Todos nós já sentimos isso. De fato, às vezes o
ressentimento (administrado positivamente) pode ser útil, por exemplo, quando faz com
que uma pessoa se levante e aja positivamente; No entanto, é comum que alcoólatras e
dependentes lidem com o ressentimento de forma negativa, o que piora sua situação.
O ressentimento é um veneno que se acumula na mente. Esta glândula mental cheia de
veneno é chamada de amargura. O amargo ressentimento vagueia escondido sob a
maldade e camuflado de sarcasmo; Ele ataca com seu veneno qualquer um que se
aproxime dele e quando sua lanceta não consegue acertar o alvo, ele se pica causando
sua lenta autodestruição.
O alcoólatra (e o viciado em geral), quando inicia seu processo de recuperação, enfrenta
dois sérios problemas de insanidade mental: culpa e ressentimento, ambos são
sentimentos disruptivos que mostram que a pessoa em recuperação não conseguiu se
libertar do passado. Ele não alcançou sua verdadeira libertação. Ele ainda está preso pelos
fantasmas de ontem que o impedem de um manejo correto e adequado do presente. É o
alcoólatra em recuperação que deixou de perdoar a si mesmo (culpa) ou perdoar aos
outros (ressentimento).
A falha será o motivo de uma análise posterior em seu turno correspondente dentro dos 12
sintomas de embriaguez seca. Nesta seção analisaremos um dos mais frequentes e que
com mais tenacidade impedem o verdadeiro crescimento do dependente em recuperação,
a persistência de ressentimentos.
O ressentimento acumulado é um abscesso que se infecta e se transforma em amargura.
Há muitos alcoólatras e toxicodependentes que, embora já não bebam nem usem drogas,
continuam ressentidos. Ressentido com a vida, com os pais, com os irmãos, com a ex-
namorada, com o cônjuge, com um amigo ou com o patrão. E embora permaneçam
abstêmios, o ressentimento persistente impediu aquela libertação que lhes permitiria
desfrutar de todas as coisas agradáveis da vida que geram serenidade e realização. Em
outras palavras, o ressentimento causa amargura e a amargura impede a plenitude da
vida.
Ressentimento significa sentir novamente. O ressentido fica preso naquele sofrimento
psicológico que causa ressentimento. O ressentido ainda sente aquela sensação
desagradável, porque de alguma forma ela permanece acorrentada à memória. Ele está
preso. Ele não consegue sair.
O ressentido está ancorado no passado. A situação que gerou o ressentimento fica
armazenada em sua memória emocional e toda vez que vive situações semelhantes em
sua inter-relação com outras pessoas sente (ressentimento) a dor psicológica da primeira
experiência, repetindo o que aconteceu repetidamente em sua mente. Ao repetir isso por
muito tempo, o ressentimento se alimenta e o resultado é que o ressentido fica envolto em
autopiedade.
Isso faz com que o ressentimento se torne a força motriz de suas vidas; Claro, uma força
propulsora muito negativa que transforma o ressentido naquele escorpião que envenena
todos que se aproximam dele e que finalmente acaba destruído por seu próprio veneno.
Há pessoas ressentidas famosas na história que fizeram de seu ressentimento a força
motriz de suas vidas. É o caso de Adolf Hitler, que com seu ressentimento em relação aos
judeus desencadeou o holocausto; ou o recente caso do terrorista Osama Bin Laden, que
causou tanta destruição com seu rancor contra os americanos. Quando você se encontra
ocupado sofrendo algo ou alguém, esse alguém ou algo está controlando sua vida. Seu
ressentimento ocupa todo o seu tempo e energia e não deixa espaço para o
desenvolvimento de sua saúde mental e espiritual.
"O ressentimento é o ofensor número um. Destrói mais alcoólicos do que qualquer outra
coisa, disso derivam todas as formas de doença espiritual. (AA Big Book, pág. 60).
"É evidente que uma vida em que há ressentimentos profundos só leva à futilidade e à
infelicidade. Na medida exata em que permitimos que isso aconteça, perdemos mais horas
que poderiam ter valido a pena." (AA Grande Livro, pág. 62)
Causas do ressentimento
Uma vez elaborada essa lista de pessoas, instituições e princípios com os quais se
ressente é elaborada, é preciso refletir sobre cada um deles e analisar qual foi a causa do
ressentimento. Em muitos casos, as raízes do ressentimento são inconscientes, e certos
mecanismos de defesa psicológica impedem que a pessoa alcance as verdadeiras causas,
por isso, nesses casos, a ajuda de um psicoterapeuta profissional é necessária para ajudar
a esclarecer os verdadeiros motivos. Em outros casos, uma simples reflexão ou trabalhar o
quarto e quinto passos com os pares do grupo pode saber a causa dessa dor psicológica.
Por exemplo, Oscar F., alcoólatra em reabilitação, mencionou em sua história que sentia
um grande ressentimento em relação aos pais e ao irmão mais novo, pois quando nasceu,
isso o afastou de sua posição de filho mimado, o que afetou sua autoestima; mais tarde, o
irmão mais novo teve mais sorte nos estudos e com as mulheres e isso aguçou os
complexos e o ressentimento (ressentimento contra as pessoas) de Oscar.
Afonso P. Ele mencionou sentir-se muito ressentido com a polícia, porque em uma ocasião
eles o acusaram injustamente, ridicularizaram e ameaçaram prendê-lo, então ele teve que
dar dinheiro para libertá-lo. Como resultado dessa experiência, Afonso não só odeia a
polícia, mas qualquer um que represente autoridade (ressentimento contra as instituições).
Alicia Z., uma comedora compulsiva de excessos, e com muitos sentimentos de deficiência
e baixa autoestima por ser obesa, sentia uma grande animosidade contra as regras da
moda, culto ao corpo esguio ou roupas femininas que exaltavam a figura magra. Inclusive
sentia antipatia por atrizes ou cantoras de moda que eram admiradas por seu bom corpo
(ressentimento contra princípios).
Aquele que se ressente de instituições ou princípios assedia as pessoas que os
representam ou simbolizam ou simplesmente os associa a tais instituições ou princípios.
Refletir sobre os ressentimentos, falar sobre eles, analisá-los, associá-los a outros
fenômenos emocionais e investigar suas possíveis causas, nos permitirá descobrir muitos
fatores irracionais que giram em torno deles. Este é um bom começo para começar a
superá-los.
Perdoar e perdoar
Uma vez que o viciado em recuperação consegue quebrar o círculo vicioso e entrar no
círculo virtuoso, uma jornada promissora em direção à sobriedade pode começar. Mudar
uma atitude de culpa por uma de responsabilidade pode permitir que você execute a tarefa
do autoperdão. De acordo com Branden, o autoperdão envolve as seguintes condições:
1. Reconheça (torne real para nós mesmos, em vez de negar ou ignorar) que somos nós
que realizamos aquela ação específica.
2. Se outra pessoa foi ferida por nossa ação, é reconhecer explicitamente a essa pessoa
(ou pessoas) o dano que fizemos e transmitir nossa compreensão das consequências de
nosso comportamento, assumindo que isso é possível.
3. Realizar todas as ações ao nosso alcance que possam corrigir ou minimizar os danos
que causamos (pagar dívidas, retratar uma mentira, etc.).
4. Comprometa-se firmemente a se comportar de forma diferente no futuro, porque sem
uma mudança de comportamento recriaremos continuamente a desconfiança.
5. Esteja disposto a explorar os motivos pelos quais a ação foi cometida (aquela que gerou
culpa). Se evitarmos isso, não nos libertaremos da culpa, e é muito provável que repitamos
o padrão de comportamento inadequado.
Uma vez alcançado o autoperdão, adotamos uma atitude de responsabilidade pelo nosso
próprio comportamento e assumimos suas consequências. Aqui não precisamos mais
procurar culpados e, automaticamente, deixamos de fazer o papel de vítimas dos outros.
Nesse momento o campo está aberto para enfrentar, aceitar e superar nossos
ressentimentos, pois, o mais difícil é o autoperdão e tendo perdoado a nós mesmos é
muito mais fácil perdoar os outros.
Se aprendermos a nos entender e perdoar, sendo benevolentes e autocomplacentes com
nós mesmos, nosso comportamento tenderá a melhorar e nosso crescimento emocional
será superado, por outro lado, se continuarmos a nos autoflagelar e condenar nosso
comportamento, pois nossa autoestima tende a piorar.
"A culpa é de fato o inverso da medalha do orgulho. A culpa leva à autodestruição, o
orgulho à destruição dos outros" (Bill W., em Grapevine).
Capítulo 7
Sintoma número 5
Diga-me do que você se gaba e eu lhe direi o que lhe falta
Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade
e tendência à onipotência
Do egocentrismo ao perfeccionismo
Agora, o que dizer desses alcoólatras exibicionistas, prepotentes, fatuosos, fanfarrões e
grandiosos quando param de beber? Aqueles que trabalham bem seu crescimento
emocional (por meio de um programa de 12 passos, ou psicoterapia profissional, ou
ambos) gradualmente alcançam maior segurança e autoafirmação, o que melhora sua
autoestima, alcança um melhor equilíbrio emocional, diminui tendências egocêntricas e
desaparece comportamentos supercompensatórios. Mas muitos outros, embora já não
bebam nem usem drogas, persistem com aquele egocentrismo que os faz cair em outros
tipos de comportamentos compensatórios, igualmente neuróticos, como o perfeccionismo,
a autossuficiência neurótica e o mais grave deles, a onipotência.
Muitas esposas ou filhos de membros de AA reclamam que seu familiar, embora não
consuma mais álcool ou drogas, tornou-se um perfeccionista, exigente, que vê tudo errado
e que só se dedica a criticar e corrigir a todos. A mulher de um alcoólatra queixava-se de
que o marido, embora não bebesse há quase três anos, tornara-se uma pessoa
eternamente rabugenta e amarga, que já não queria ir a festas, que deixava de frequentar
os amigos e que, fora do trabalho, passava trancado em casa a repreender os filhos e a
criticar tudo o que, Segundo ele, foi mal feito. Este é um caso típico do alcoólatra pulando
de um extremo ao outro. Quando ficou bêbado, estava bagunçado, chegava tarde em
casa, não cumpria suas responsabilidades e negligenciava sua higiene pessoal. Hoje,
porém, quem não bebe e frequenta um grupo AA, desenvolveu todo aquele perfeccionismo
rígido e moralista que já descrevemos. Essa incapacidade de chegar a um meio justo é um
sintoma claro de embriaguez seca que continua a causar sofrimento a quem convive com o
alcoólatra. Apesar de já não beber, ainda não vive nem deixa viver. Muitos desses
parentes de alcoólatras chegam a desejar que seu familiar voltasse a beber, porque agora
as coisas se tornaram mais difíceis e desagradáveis do que quando bebiam.
Dizem que os perfeccionistas estão cheios de presunção porque imaginam que
alcançaram algum objetivo impossível, ou afundam na autocondenação por não o terem
feito.
O perfeccionismo é apenas mais um mecanismo de supercompensação do alcoólatra que
não bebe mais ou do viciado que não consome mais. No seu íntimo continuam a pensar
que são menos do que os outros, que valem muito pouco, que ainda são culpados, que
não são perdoados, que não têm competências ou capacidades, por isso tentam
compensar indo para o outro extremo e tornam-se perfeccionistas.
O perfeccionista é irracionalmente duro consigo mesmo ao qualificar seu próprio
comportamento, mas também é severo ao julgar o comportamento dos outros. Isso tem
implicações importantes para os perfeccionistas que atuam em um grupo de Alcoólicos
Anônimos ou Narcóticos Anônimos. Esses tipos de perfeccionistas quase sempre caem na
situação de "ver o cisco no olho do outro e não o raio no seu": estão sempre criticando o
comportamento dos outros e continuamente condenam as imperfeições dos outros e se
tornam especialistas em aconselhar os outros. Quanto mais criticam e condenam os
outros, mais se sentem bem e acabam acreditando nessa mentira. Esses alcoólatras em
recuperação tornam-se verdadeiros fariseus que rasgam suas vestes diante das
imperfeições de seus companheiros de grupo e se tornam verdadeiros inspetores do
comportamento alheio e, simultaneamente, desenvolvem uma crescente incapacidade de
autocriticar seu próprio comportamento e se sentem atacados quando alguém os critica.
Ele os corrige, os descobre ou lhes diz suas verdades.
Tornar-se um inspetor do comportamento alheio nada mais é do que um mecanismo de
evasão da realidade: "Prefiro julgar e condenar o comportamento alheio do que o meu".
Esse mecanismo de negação das próprias fraquezas é progressivo e faz com que a
pessoa caia no que se chama de autossuficiência neurótica. Esse fenômeno faz com que
esses tipos de dependentes em recuperação acreditem que não precisam de ajuda de
ninguém além de si mesmos. Eles recusam qualquer tipo de ajuda. Nenhum colega de seu
grupo o considera suficientemente preparado para ser seu patrocinador e prefere não ter
nenhum. Ele considera os sacerdotes muito afastados da realidade terrena para que
possam ajudá-los. Os médicos, e os psiquiatras em particular, são descritos como
ignorantes do alcoolismo e dos vícios, e como não sabem nada sobre o programa de AA,
e, portanto, também recusam sua ajuda. Essa autossuficiência neurótica os leva à
arrogância, à hipocrisia, a projetar uma falsa imagem de si mesmos e a se tornarem
"lâmpadas de rua e escuridão de sua casa".
A autossuficiência neurótica é uma forma de arrogância intelectual que esconde um grande
medo de enfrentar a si mesmo. Assim como quando o alcoólatra ativo era convidado para
um grupo de AA e não queria ir, a resposta invariável era sempre: "Não, muito obrigado, eu
sei que quando decido parar de beber, posso fazer isso sozinho". Esta é uma forma de
autossuficiência neurótica em relação à sua realidade alcoólica. No entanto, quando a
derrota for finalmente aceita e o tratamento for admitido e o álcool e/ou as drogas forem
abandonados, a pessoa continuará com essa autossuficiência neurótica, mas agora em
relação à sua realidade não alcoólica, pois, como já mencionamos, ela tem muito medo de
encarar sua verdadeira realidade que não aceita. Porque ele está muito distante do que
ele, por mecanismos supercompensatórios, acredita sobre si mesmo.
Esse medo que o alcoolista tem de enfrentar a si mesmo também tem sua origem na
infância, pois, certamente, eles viveram coisas assustadoras, surpreendentes, dolorosas e
frustrantes que o obrigaram a utilizar mecanismos defensivos de repressão emocional
como forma de tornar a vida mais tolerável. Dessa forma, o futuro viciado aprende rápido
demais para evitar esses pesadelos existenciais. Para sobreviver, habituam-se a ficar
indiferentes a este tipo de realidades dolorosas, cobrindo-se com um escudo de negação
para evitar a dor psicológica da sua própria realidade que, naturalmente, não aceitam.
Sintomas de angústia
Os principais sintomas físicos da angústia são: dispneia (sensação de falta de ar), aperto
no peito, palpitações, tremores, sudorese nas mãos, face e axilas, contrações musculares
especialmente na face, pescoço, costas e mãos, palidez ou rubor no rosto, boca seca,
formigamento no rosto e nas mãos, sensação de tontura ou instabilidade, sensação de
vazio abdominal (vazio no estômago) e bloqueio emocional com falhas na concentração e
atenção.
Já mencionamos que, para fins práticos, angústia e ansiedade são consideradas
sinônimos. No entanto, a angústia tem certos níveis que variam de menos a mais: o nível
mais baixo de angústia é a apreensão, que se caracteriza por um estado permanente de
alerta, a qualquer ameaça imaginária ou real que o indivíduo continuamente teme
enfrentar. Depois vem a angústia em si, cuja definição já expressamos e um estado
extremo de angústia é o pânico, onde a reação provocada à ameaça é tão intensa, que o
indivíduo perde o controle de seu comportamento e sua personalidade fica desorganizada.
É preciso saber distinguir entre angústia normal e angústia neurótica. O sofrimento normal
é um estado de alerta permanente que o ser humano tem para proteger sua sobrevivência,
por exemplo, o estado de alerta que deve ser tomado para atravessar uma avenida
movimentada ou para dirigir um carro na estrada. A angústia normal é algo que todo ser
humano deve possuir. A ausência de sofrimento normal em um indivíduo é um tanto
psicopatológica. Muitos tipos de esquizofrenia têm como uma de suas características a
ausência de sofrimento normal. O sofrimento neurótico, por outro lado, é uma forma
desproporcional de reação angustiante a certos estímulos, por exemplo, medo de cães ou
ratos, intolerância ao ruído ou as tendências hipocondríacas de muitas pessoas que temem
adquirir doenças sem que haja uma base real para esses medos.
Finalmente, devemos distinguir entre angústia como doença e angústia como estrutura de
personalidade: angústia como doença é quando um transtorno de angústia do tipo fobias,
transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático ou ataques de pânico se
desenvolve. Por outro lado, a angústia como transtorno de personalidade é uma
característica dominante e fundamental de certas personalidades patológicas que foram
batizadas como neuroses de caráter ou neurastenias. Observou-se que em uma proporção
significativa de pacientes alcoolistas e dependentes químicos apresentam como
característica psicológica essa angústia crônica associada à sua estrutura de
personalidade.
Por outro lado, muitos dependentes são pacientes duplos que, além de sua doença aditiva,
têm um transtorno de pânico (pânico como doença), por exemplo: alcoolismo e ataques de
pânico, dependência de maconha e fobia social ou transtorno obsessivo-compulsivo e
dependência de tranquilizantes.
A depressão, uma doença da nossa era, chamada de doença invisível porque muitas
pessoas sofrem dela sem saber, é uma das doenças crônicas mais desgastantes e
incapacitantes que existem Cerca de 60% dos dependentes têm algum tipo de depressão,
e ela não se cura com a abstinência.
É a doença da nossa época porque, hoje, é mais frequentemente diagnosticada por
médicos e, em particular, psiquiatras. No entanto, muitas pessoas não sabem que sofrem
com isso e passam a vida inteira convivendo com essa doença, achando que a existência
é aquela cor cinza escuro com que o deprimido percebe sua vida.
Em relação à comorbidade entre depressão e dependência, deve-se dizer que o transtorno
dual mais frequente associado tanto ao alcoolismo quanto ao consumo de outras drogas é
a depressão. Muitos dependentes de álcool, nicotina e outras drogas ilícitas, começaram
seu consumo para escapar do sofrimento psicológico que causa a depressão. A evasão de
sua realidade depressiva levou-os a buscar aquele consolo transitório e perigoso que o uso
de drogas significa. Os diferentes estudos sobre comorbidade relatam entre 30 e 70% a
coexistência de dependência e depressão.
Muitos alcoólatras ou viciados em drogas que tendem à depressão, quando finalmente
param de usar e começam sua recuperação, têm uma alta probabilidade de ter um
episódio depressivo. Isso porque tanto o álcool quanto a maioria das drogas costumam
mascarar a depressão e quando se consegue a abstinência que obriga o dependente a
encarar sua realidade e não fugir dela, um quadro depressivo é causado pela forte
predisposição do paciente a essa doença. A depressão é um fenômeno emocionalmente
disruptivo, um sofrimento psicológico que impede o indivíduo de se realizar apesar da
ausência de álcool e/ou drogas. É, portanto, a persistência da depressão, uma forma de
embriaguez seca.
O que é depressão?
Poderíamos definir depressão como um estado mental caracterizado por uma perda
generalizada de humor, associada a uma diminuição e desaceleração da atividade
desenvolvida pela pessoa e uma marcada incapacidade de desfrutar de todas as coisas da
vida, dentro de um quadro de tristeza e desmotivação existencial.
Não confunda tristeza com depressão. A tristeza é uma emoção frequente nas
experiências humanas, mas devemos considerá-la uma forma de reação normal a várias
situações adversas que não atinge o grau de uma patologia, pois não incapacita a pessoa.
A depressão, por outro lado, é um transtorno médico incapacitante, um
doença, uma síndrome que reúne um número diverso de sintomas que listaremos mais
adiante.
Também não devemos confundir depressão com angústia. O tema da angústia já foi
abordado no capítulo anterior quando falamos sobre o medo do medo. Angústia e
depressão são distúrbios de natureza totalmente diferente, embora seus limites muitas
vezes se cruzem porque as depressões ocorrem com sofrimento muito intenso.
"Depressão agitada" costumava chamar essa forma de depressão que é acompanhada de
grande ansiedade. "Na angústia preserva-se uma certa afirmação de si mesmo", diz
Ignacio Larrañaga em seu livro Do sofrimento à paz, "e uma témpida brasa de esperança
permanece. Mesmo a angústia encerra em suas dobras energias reativas capazes de
responder adequadamente a estímulos e desafios externos. Já na depressão, ocorre o
colapso total, em meio à desesperança, ao desamparo e ao infortúnio. É a morte, o
insondável e doloroso nada... "
Alguns números sobre a depressão
A depressão é mais comum em mulheres do que em homens. Segundo estudos do
Instituto Nacional de Psiquiatria "Ramón de la Fuente" (inprf), em nosso país 20 e 26% das
mulheres e entre 8 e 12% dos homens sofrem com isso.
Entre os homens, profissionais, altos executivos e grandes empresas são mais propensos
à depressão como resultado dos desafios de uma sociedade terrivelmente competitiva.
Viúvas, aposentados e, em geral, pessoas com mais de 60 anos têm muito mais chances
de ficar deprimidos do que os mais jovens.
Ao longo da vida, 30% da população terá sofrido um episódio de depressão maior
(depressão endógena).
Uma vez que o paciente sofre um primeiro quadro depressivo, o risco de sofrer um
segundo quadro é de 50%; 12% desses pacientes não se recuperam e sua condição se
torna crônica; 50% das pessoas com esta condição não são reconhecidas como doentes e
75% não são diagnosticadas.
Um quadro depressivo que é diagnosticado em tempo hábil e tratado adequadamente,
responde em cerca de 75% dos casos.
A depressão em crianças e adolescentes tem sido exacerbada de forma preocupante nos
últimos anos, sendo esse diagnóstico relatado com frequência crescente em clínicas e
hospitais infantis. Os números de suicídio de adolescentes aumentaram nos últimos anos,
com casos de suicídio em crianças também sendo relatados.
Mulheres climatéricas desenvolvem mais chance de desenvolver depressão a partir da
menopausa. Em homens com mais de 50 anos, na fase de andropausa, eles também são
candidatos a desenvolver depressão.
Países industrializados e grandes cidades relatam taxas mais altas de depressão do que
países menos desenvolvidos ou pessoas que vivem em pequenas cidades ou em áreas
rurais ou semi-rurais.
Os praticantes de religiões derivadas do cristianismo (católicos, protestantes, cristãos) são
mais propensos à depressão do que os membros de outras religiões (budismo, hinduísmo,
islamismo) por causa da ênfase do cristianismo na culpa. Enquanto em outras religiões,
como o budismo, não há conceito de culpa.
Em relação ao estado civil, a depressão em mulheres é mais frequente entre mulheres
divorciadas, separadas e solteiras acima de 30 anos; Por outro lado, entre os homens,
essa condição é mais frequente entre os casados. Viúvos (homens e mulheres) têm uma
chance muito maior de ficar deprimidos.
Como mencionamos no início do artigo, entre alcoólatras e dependentes químicos, a
probabilidade de desenvolver depressão aumenta de 30% na população em geral, para
50% entre dependentes químicos.
O triplo A da depressão
Falamos do triplo A da depressão, quando nos referimos aos três principais sintomas da
doença depressiva:
• Baixo humor
• Anhedonia
• Anergy
O baixo humor refere-se a uma condição de desmotivação ex-tential. Perde-se aquele
impulso vital tão necessário para enfrentar as situações cotidianas da vida. Não há impulso
para fazer as coisas. Não importa. Não há resposta emocional a estímulos gratificantes,
como boas notícias, um sorriso ou carinho de um ente querido, ou receber um presente de
alguém. A vida parece morro acima, os deprimidos parecem carregar um peso muito
grande nas costas e qualquer atividade é muito difícil de realizar. A pessoa é desanimada,
apática, pessimista e tende a permanecer inativa ou, simplesmente, deitada na cama a
maior parte do tempo. A desesperança e os poucos desejos de viver transformam-se em
desejos de morrer, o que dá origem à ruminação suicida, tentativas de suicídio ou suicídio
consumado.
Anedônia é a incapacidade de desfrutar das coisas. A impossibilidade de sentir prazer.
Você não gosta do que costumava gostar: uma boa refeição, um filme interessante ou uma
partida de futebol. O deprimido manifesta uma grande incapacidade de diversão ou
entretenimento. Ele não gosta de comida, não gosta de amor ou sexo. Uma pessoa que
está deprimida diminui o apetite sexual (libido), apresentando também impotência (no caso
dos homens) ou frigidez (no caso das mulheres). É por isso que é um absurdo dizer a uma
pessoa deprimida para tirar férias ou ir à praia por alguns dias para superar sua depressão.
Se forçarmos uma pessoa deprimida a ir para um lugar de férias, ela não desfrutará
minimamente das belezas e atrações do lugar e continuará imersa em sua depressão e
muito provavelmente permanecerá deitada em seu quarto de hotel sem querer ir à praia.
Por fim, a anergia é a perda ou diminuição da energia existencial. Uma pessoa deprimida é
uma pessoa sem energia. Ele tem dificuldade para começar o dia. Sair da cama é um feito
e tanto. Muitas pessoas deprimidas ficam vários dias sem sair da cama, sem fazer a barba
e sem tomar banho. Seus movimentos tornam-se lentos e sua caminhada muito lenta e um
pouco curvada. Eles se cansam muito facilmente e deixam de fazer atividades que
envolvam esforço físico significativo, como esportes ou atividades difíceis. A anergia não é
apenas física, mas também intelectual, pois há perda de concentração, atenção e
memória, o que interfere seriamente na atividade laboral de muitas pessoas deprimidas. A
diminuição do apetite e, consequentemente, a perda de peso, intensificam a nergia física.
A presença desses três sintomas é necessária para apoiar o diagnóstico de depressão
endógena. O resto dos sintomas são apenas manifestações desta trilogia essencial para
poder falar de uma depressão autêntica.
"Você me abandonou mulher, porque eu sou muito pobre/ e por ter a infelicidade de
ser casada. Três vícios eu tenho e os tenho profundamente enraizados: / estar
bêbado, jogador e apaixonado".
Vício em sexo
O alcoolismo e a drogadição constituem um transtorno afetivo da dependência química.
Como veremos mais adiante em outro sintoma de embriaguez seca, às vezes o alcoólatra
que consegue a abstinência do álcool ou o viciado que deixa de usar drogas, substitui o
vício em substâncias por um vício em comportamentos como o vício em sexo.
Assim como o efeito do álcool ou das drogas é uma experiência muito gratificante, a prática
do sexo também é. Quando o alcoólatra deixa de beber ou o dependente químico deixa de
consumir estimulantes, ele busca novas emoções fortes que encontra na prática do sexo.
Foi cientificamente comprovado que o álcool produz certas endorfinas que estimulam o
centro de recompensa do cérebro. Além disso, certas drogas estimulantes, como cocaína
ou anfetaminas, estimulam a produção de alguns neurotransmissores, como a dopamina,
que também estimula o centro de prazer do cérebro. No orgasmo sexual há produção tanto
de dopamina quanto de endorfina, com a consequente estimulação do circuito de
recompensa cerebral. Como você pode ver, quando você troca um vício por outro, você
ainda tenta alcançar o mesmo tipo de resposta cerebral que é a obtenção compulsiva de
prazer.
Ora, o vício em sexo não se manifesta apenas por esse comportamento de infidelidade
típico do mulherengo. A infidelidade não é necessariamente um vício sexual, mas a
manifestação de uma neurose resultante da imaturidade emocional dentro de uma
subcultura machista. Por outro lado, o vício em sexo é um comportamento excessivo,
repetitivo e compulsivo de certas práticas sexuais que levam à estimulação orgástica. A
patologia psiquiátrica os chama de parafilias, antigamente chamadas de desvios sexuais.
Tal denominação era mais moralista do que sanitária, por isso decidiu-se chamá-las de
parafilias e lidar com um termo mais científico e moralmente neutro.
As principais parafilias ou vícios sexuais são as seguintes:
Como você pode ver, o vício sexual já é um comportamento muito mais patológico do que
o indisciplinado sentimental que é basicamente um macho lascivo. O comportamento
patológico das parafilias deve ser atendido por um especialista em psiquiatria. Infelizmente,
um bom número de alcoólatras e dependentes químicos em recuperação sofre desses
transtornos.
O viciado codependente
O fenômeno da codependência não é exclusivo dos familiares de dependentes químicos.
Existem muitos alcoólatras e dependentes químicos que também são codependentes, e
quando um alcoólatra e/ou viciado em drogas é codependente de seu parceiro, ele terá
sérios problemas de ingovernabilidade sentimental e sexual, o que o levará a desenvolver
a Síndrome da Embriaguez Seca.
Já falamos sobre o menino rei. Aquele imaturo emocional que tem muita dependência da
mãe e de todas as mães-mulheres com quem se relaciona na vida, se autodenomina
namorada, amante ou esposa. Pois bem, esse sujeito desenvolverá uma grande
dependência, o que o levará a tentar controlar e dominar a mulher para não perdê-la. Isso
o levará a desenvolver comportamentos inadequados como possessividade, dominação,
ciúmes, ameaças e, às vezes, violência verbal e física. Parar de beber ou usar drogas não
isenta muitas pessoas em recuperação de continuar a manifestar esses sintomas claros de
embriaguez seca.
Quando há uma relação de codependência é necessário perguntar se existe um amor
verdadeiro para com o casal ou se é simplesmente necessidade. "Não é o mesmo dizer
que te amo porque preciso de ti, que preciso de ti porque te amo" (Erich Fromm, em A Arte
de Amar). Dizer que te amo porque preciso de você é uma manifestação de
codependência em relação ao seu parceiro, enquanto dizer "preciso de você porque te
amo" é uma manifestação de amor maduro.
O cerne do problema psicológico do dependente dependente está em sua incapacidade de
amar, ou que ele ama sem maturidade, como uma criança que precisa de sua mãe. Erich
Fromm, em seu livro A Arte de Amar, define o amor maduro como "a expressão da
produtividade que implica interesse, respeito, cuidado, responsabilidade e conhecimento,
um esforço para crescer e encontrar a felicidade da pessoa amada, enraizada na própria
capacidade de amar". Em contraste, Brenda Schaeffer, em seu livro É Amor ou Vício?,
define o amor viciante como imaturo, possessivo, limitante, medroso e dependente.
A própria Brenda Schaeffer acrescenta que o viciado em amor é uma pessoa que busca
apoio de alguém de fora de si, na tentativa de cobrir necessidades não atendidas para
evitar medo ou dor emocional, resolver problemas e manter o equilíbrio. "O paradoxo é que
o vício em amor é uma tentativa de ganhar o controle de nossas vidas e, ao fazer isso,
saímos do controle dando poder pessoal a alguém que não nós mesmos."
O alcoólatra que conseguiu tirar o álcool do centro de sua vida agora gira em torno de uma
pessoa que tomou o lugar que o álcool já teve. É por isso que ele está em embriaguez
seca, porque ele trocou o vício de uma substância pelo vício de uma pessoa.
Curiosamente, muitos desses alcoólatras, quando perdem a pessoa a quem são viciados,
recaem no álcool ou nas drogas. Como é difícil para eles alcançar a verdadeira libertação!
Você é misógino?
Finalmente, devemos dizer algo sobre o misógino, que é um tipo muito patológico e
perigoso de codependente. Entre alcoólatras e viciados em drogas há muitos misóginos.
Um misógino é um homem que odeia as mulheres, mas não pode viver sem elas. É uma
forma de codependência extrema e patológica onde o misógino se sente dono de sua
parceira e, portanto, a domina, subjuga e controla totalmente. Qualquer tentativa de se
opor a esse tipo de ação por parte do casal, gera tensões e problemas gravíssimos que
podem chegar à violência física.
Susan Forward, em seu livro When Love Is Hate, caracteriza o misógino da seguinte forma:
1. Eles precisam ter controle absoluto da relação.
2. São ciumentos e possessivos.
3. Para obter o controle, recorrem à sedução, chantagem, manipulação, ameaças,
intimidação, humilhação e agressões verbais e físicas.
4. Eles mantêm permanentemente uma atitude de superioridade diante de seu parceiro
à qual nunca dão a razão.
5. Eles nunca pedem desculpas. O misógino convence a companheira de que o
incidente não existiu.
6. Eles sempre transferem a culpa. Se algo der errado e ela agredir o parceiro, ela é a
culpada e ela tem que pedir desculpas.
7. Você fica com raiva se seu parceiro reclama de algo. Ela não tem o direito de
reclamar ou chorar.
8. Quando sente que está perdendo o controle, passa da violência psicológica para a
física.
9. Reduz o mundo do parceiro: ela não pode ter atividades nem amizades. Ela não
pode ser ela mesma. Ele tem que saber tudo o que faz.
10. Não tolera o término de um relacionamento. Ele sempre estará perseguindo e
assediando ela. Ele se considera dono da companheira.
Não se deve esquecer que a relação do misógino com seu parceiro é uma simbiose
neurótica, uma interdependência de um codependente com outro codependente. Ela
também tem que trabalhar em sua própria doença, a fim de se libertar. As principais
características do parceiro do misógino são as seguintes:
1. Eles são viciados em amor.
2. Eles não são ninguém se não tiverem um homem.
3. Eles são autossuficientes e fortes em outras áreas da vida.
4. São masoquistas: quanto mais os atacam, mais se agarram.
5. Eles continuam esperando que algo aconteça que o mude.
6. Vivem com medo e insegurança de perder o parceiro.
O misógino é uma das formas mais graves de embriaguez seca. O prognóstico dessas
pessoas é bastante reservado, pois pouquíssimos aceitam que são e não querem mudar. A
celotipia patológica e a síndrome da mulher agredida são fenômenos associados à
presença de um misógino na família.
Terminamos com uma citação de Bill W. publicado em As Bill Sees It e retirado dos Doze e
Doze (pp. 282 e 47, respectivamente):
Toda vez que uma pessoa impõe irracionalmente seus instintos a outras pessoas, a
infelicidade aparece. Se a busca pela riqueza esbarrar em outras pessoas ao longo
do caminho, a raiva, o ciúme e a vingança serão levantados. Quando o sexo corre
solto, há uma comoção semelhante. As demandas excessivas por atenção, proteção
e amor motivarão nas pessoas afetadas sentimentos de dominação ou rebeldia, duas
emoções tão doentias quanto as demandas que as provocaram. Esse choque de
instintos pode produzir desde um desprezo hostil até uma revolução incendiária.
Capítulo 11
Sintoma número 9
Síndrome do avestruz: não vejo, não ouço e não falo
Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção
Drogas pesadas
As drogas duras mais usadas entre os alcoólatras que param de beber são maconha,
cocaína, comprimidos tranquilizantes e metanfetaminas. Em menor grau, inalantes voláteis
(cimento), alucinógenos (ácidos, cogumelos, peiote) e derivados do ópio (heroína e
analgésicos narcóticos).
A maconha (cisco, erva daninha) é uma droga neurotóxica. Isso significa que consumido
regularmente e constantemente pode causar danos ao cérebro que afetam as funções
intelectuais e o comportamento das pessoas. A substância ativa da maconha é o 9-delta
tetraidrocanabinol. Quanto maior a concentração desta substância na droga, maior o seu
efeito e os danos que produz.
Existem diferentes tipos de maconha, dependendo da concentração de canabinoides. A
maconha tem uma concentração de 9-delta tetrahidrocanabinol de 3%. O haxixe (a resina
gomosa das flores das plantas femininas) é a forma de maconha com maior concentração
de canabinoides (de 7 a 24%).
Quase imediatamente após fumar maconha, a pessoa apresenta intoxicação, boca seca,
batimentos cardíacos acelerados, falta de jeito na coordenação do movimento e equilíbrio,
reações e reflexos lentos e vermelhidão dos olhos. Esses efeitos podem causar problemas
na coordenação visual e motora das pessoas e dificultar a realização de tarefas
complexas. Elas alteram a percepção e expõem o consumidor a acidentes de trânsito. O
uso prolongado causa os mesmos problemas que o tabaco, ou seja, distúrbios
cardiorrespiratórios e câncer. Além disso, há uma maior propensão a infecções devido a
danos ao sistema imunológico; há uma síndrome fetal nos filhos de mães que fumaram
maconha na gravidez, problemas de esterilidade nos consumidores masculinos devido à
diminuição da produção de espermatozoides e, o mais grave e frequente, distúrbios no
funcionamento cerebral com diminuição das funções intelectuais e desmotivação
existencial, que fazem com que o usuário de maconha abandone a escola ou o trabalho
(Síndrome amotivacional). Por fim, transtornos psiquiátricos agudos e crônicos podem
ocorrer com quadros de loucura muito semelhantes à esquizofrenia.
A cocaína é outra das drogas pesadas com as quais o álcool é frequentemente substituído.
Esta substância é um estimulante cerebral que pode ser administrado inalando-o pelo nariz
na forma de um pó, fumando-o na forma de uma pedra (crack) ou injetando-o diretamente
na veia. É uma droga altamente viciante e quando consumida há uma ansiedade muito
intensa que obriga o indivíduo a usar mais drogas e com mais frequência. Provoca um
estado de aceleração, com irritabilidade e agressividade, palpitações e arritmias cardíacas
que podem causar morte súbita em caso de overdose. Também causa pressão alta,
derrames e hemorragias cerebrais, além de quadros de loucura que são conhecidos como
psicose da cocaína.
Outro tipo de droga que está sendo usada é a anfetaminas. Destes, os mais utilizados são
o ecstasy (tachas) e o cristal (gelo), que são consumidos pelos jovens, embora os adultos
também tenham aderido como consumidores. A droga produz uma sensação intensa e
prazerosa de estimulação imediata que dura vários minutos ou até horas. Também produz
insônia, aumento da atividade física, sociabilidade excessiva e tendência à aproximação
corporal, bem como redução do apetite. Os problemas médicos causados pelo consumo
prolongado e excessivo são aumento da temperatura corporal, convulsões, aumento da
frequência cardíaca e pressão arterial, isso causa danos aos vasos sanguíneos do cérebro
e derrames, aumenta a possibilidade de contrair o vírus da AIDS pela promiscuidade
sexual que essas drogas produzem, comportamento violento, ansiedade, irritabilidade,
confusão, paranoia intensa e alucinações.
Muitos alcoólatras em recuperação mudam do álcool para pílulas tranquilizantes, como
Valium, Ativan ou Rohypnol, para acalmar a ansiedade e a insônia. Às vezes, os médicos
os prescrevem temporariamente, mas depois o alcoólatra os automedica. Essas
substâncias, chamadas de benzodiazepínicos, são depressores do sistema nervoso central
e têm um efeito muito semelhante ao do álcool, então, aos poucos, a pessoa precisa de
doses maiores da droga para conseguir obter os mesmos efeitos que conseguiu com uma
dose menor. Este será um fenômeno progressivo que terminará com um vício em
tranquilizantes, com efeitos e consequências muito semelhantes aos apresentados pelo
alcoólatra quando bebeu. É muito delicado e arriscado prescrever esse tipo de
medicamento em alcoólatras; Por isso, deve ser feito por um especialista com muita
experiência no tratamento de viciados e prescrevê-los por um curto período de tempo.
Como já mencionado, outras drogas que podem substituir o álcool são alucinógenos
(ácido, cogumelos e peiote), solventes (ativos) e derivados do ópio, tanto naturais quanto
sintéticos (morfina, heroína, analgésicos narcóticos).
Muitos alcoólatras pensam que são apenas viciados em álcool, e que podem usar
socialmente as outras drogas. Nada mais falso do que isso. Não se esqueça que a
verdadeira doença do alcoólatra é seu transtorno viciante, que reside em seu cérebro
doente, e que a tendência de substituir uma droga por outra nada mais é do que uma
embriaguez seca.
Capítulo 13
Sintoma número 11
Os Adoradores do Bezerro de Ouro
Espiritualidade ausente ou muito empobrecida com arrogância intelectual, tendência ao
materialismo e pouca ou nenhuma fé
Claro, você não precisa ter todas essas características para se qualificar como pobreza de
espírito. Ter pelo menos seis desses sintomas é suficiente para sofrer com esse tipo de
embriaguez seca.
Muitas vezes, um grande número de viciados em recuperação terá que tocar um segundo
fundo para alcançar a recuperação espiritual. Somente um choque existencial muito forte
causará aquele colapso do ego que o levará a um autêntico despertar espiritual.
Terminamos com esta citação do grande livro de AA: "Não estamos curados do alcoolismo.
O que temos, na verdade, é uma suspensão diária da nossa pena, que depende da
manutenção da nossa condição espiritual".
Capítulo 14
Sintoma número 12
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego
Comportamento inadequado em seu tratamento, tanto com seu terapeuta
quanto em seu grupo de autoajuda
O exercício da sobriedade
Como você pode ver, esses 12 sintomas representam a contrapartida dos 12 sintomas do
consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
O primeiro sintoma, liberdade, produtividade e responsabilidade, é uma característica
essencial da maturidade, contrapartida da imaturidade ou primeiro sintoma da embriaguez
seca. O indivíduo que administra sua liberdade com responsabilidade, alcança a
produtividade que lhe permitirá alcançar autonomia, tanto emocional quanto material. Essa
pessoa é a contraparte total do rei criança, que não é livre, nem responsável, nem
produtivo.
O segundo sintoma fala por si: honestidade, contrário à atitude permanente de
desonestidade para consigo mesmo e para com os outros, ou segundo sintoma de
embriaguez seca. A honestidade implica um compromisso consigo mesmo e com os
próprios valores e princípios. Uma pessoa honesta não trai a si mesma ou trai os outros e,
portanto, sua atitude em relação à vida será de retidão e honestidade.
A generosidade e a reconciliação são o terceiro sintoma da sobriedade. Ou seja, o oposto
da amarga e insatisfeita persistência existencial dos ressentimentos. As pessoas
generosas têm uma mente positiva, olham para a parte boa das coisas; vêem o copo meio
cheio e não meio vazio; têm a possibilidade de perdoar e libertar-se do passado; Olham
para a frente, mas vivem no presente.
O perdão e a autoafirmação constituem o quarto sintoma da sobriedade, sendo sua
contrapartida a persistência da culpa e a necessidade neurótica de expiação. Pessoas com
essas qualidades têm trabalhado bem no processo de autoperdão. Eles reconhecem e
aceitam seus fracassos, experimentam dor emocional por tudo o que afetaram,
desenvolvem arrependimento genuíno e tomam uma decisão honesta de não cometer os
mesmos erros novamente. Isso faz com que eles se sintam bem consigo mesmos e com
os outros, por isso melhora sua autoestima e aumenta seu próprio valor pessoal.
Serenidade e humildade, quinto sintoma da sobriedade, constituem a face oposta do
egocêntrico, autossuficiente e raivoso. Um indivíduo sereno é aquele que não perde,
objetividade, que é analítico para enfrentar os problemas, que primeiro pensa e depois
age; que aceita a realidade com moderação, por mais difícil que seja. Os humildes são
indivíduos que se aceitaram, que praticam a tolerância e que são aceitos, pacientes e
prudentes. Reconciliam-se consigo mesmos e com os outros.
O sexto sintoma da sobriedade é a assertividade, ou seja: a capacidade de dizer sim
quando se quer dizer sim e dizer não quando se quer dizer não. A pessoa assertiva é uma
pessoa autoconfiante, enquanto a insegura está sempre angustiada. Portanto, de certa
forma, a assertividade é a contrapartida da angústia. O assertivo, em geral, é um indivíduo
com altas aspirações, que sabe aonde quer chegar e busca sempre o triunfo, embora saiba
aceitar e superar suas derrotas.
Sétimo sintoma: ação. Esta é uma grande qualidade de sobriedade. Ação como
contrapartida da depressão. A ação implica um caráter empreendedor e construtivo. Ativos
são indivíduos que sabem para onde querem ir, são perseverantes e constantes; terminam
o que começam; muitas vezes superam derrotas ou fracassos; Aplicam o "aos poucos vai
longe". A ação envolve a produtividade, o alcance das metas estabelecidas e a
autorrealização. Essas pessoas são existencialmente satisfeitas e auto-realizadas,
positivas, autoconfiantes, e têm um bom autoconceito e alta autoestima.
O oitavo sintoma da sobriedade é a transcendência no relacionamento e a harmonia
interior. Essas são as virtudes opostas à ingovernabilidade sexual e sentimental. Pessoas
com tais qualidades têm relacionamentos estáveis e profundos com os outros. A sua
maturidade permitiu-lhes desenvolver a capacidade de amar. Não perdem a equanimidade
diante das tentações do sexo, do poder ou do dinheiro. Eles têm orgulho de si mesmos, de
seu parceiro e de sua família em geral. Praticam a lealdade e a fidelidade e são
monogâmicos. Suas relações são responsáveis, transcendentes e duradouras. Eles
genuinamente cuidam dos entes queridos e lhes fornecem cuidado e atenção. Eles
respeitam a individualidade um do outro e não são possessivos ou controladores. Aceitam
a autonomia dos outros e exigem respeito pelos seus. Eles sabem aceitar finais quando um
ciclo amoroso termina.
Nono sintoma: autoconhecimento e autoaceitação. Uma pessoa sóbria desenvolve um
conhecimento total de sua própria realidade e aprende a aceitá-la, por mais difícil e difícil
que seja, em oposição àqueles que sistematicamente negam sua realidade não alcoólica.
Os primeiros desenvolveram uma análise existencial dos principais eventos emocionais de
sua vida (quarto passo). Sempre que se conhecem, aceitam-se como são, incluindo
defeitos, limitações e qualidades. Assim desenvolvidos a auto-aceitação, eles trabalham
para maximizar suas qualidades e minimizar seus defeitos. Isso permite que eles vejam de
forma mais objetiva as áreas de sua vida que exigem mudanças.
Décimo sintoma: disciplina e equilíbrio. Esses dons fundamentais da sobriedade impedem
que o alcoólatra em recuperação substitua um vício por outro. Eles tendem a buscar o
meio certo em suas tomadas de decisão. Eles evitam pular de um extremo ao outro
quando estão mudando. Eles são participantes regulares do seu grupo de autoajuda ou
tratamento profissional. Eles não confiam ou desenvolvem complacência sobre sua
recuperação. Cobram-se, praticam a autocrítica e aplicam constantemente a cruz da
sobriedade (família, trabalho, diversão, descanso e cuidados com a saúde física e mental).
Décimo primeiro sintoma: humildade, compaixão e espiritualidade. Essas qualidades de
sobriedade integram o dom da iluminação que permite o desenvolvimento de necessidades
superiores. É a contrapartida do décimo primeiro sintoma da embriaguez seca, que é a
ausência de espiritualidade. Humildade refere-se a ter força suficiente para aceitar que
alguém precisa da ajuda dos outros. A humildade implica compaixão, que é a capacidade
de se comover com os sofrimentos dos outros. Isso gera necessidades de tipo espiritual,
como o desenvolvimento de uma vida interior que dá origem a recuperar ou desenvolver a
fé: em si mesmo, nos outros e em um poder que a transcende; bem como a prática da
oração, reflexão e meditação como ferramentas para aprofundar sua vida interior.
O décimo segundo e último sintoma: solidariedade e respeito. Grandes dons de sobriedade
que remetem a uma relação saudável e respeitosa com os outros. Este sintoma de
sobriedade impede o desenvolvimento do décimo segundo sintoma de embriaguez seca,
que é um comportamento inadequado no grupo e no seu tratamento. Uma pessoa
carinhosa e respeitosa tem espírito de serviço e vocação para ajudar os outros
desinteressadamente. No serviço que presta, não busca dinheiro, prestígio, sexo ou poder.
Ele não busca reconhecimento ou manipula os outros em troca de sua ajuda. Ele não
ostenta seu serviço ou impõe suas ideias aos outros. Eles encontram grande satisfação e
gratificação em ajudar os outros.
A sobriedade é um processo, lento e evolutivo, ou seja, não leva pouco tempo. A primeira
condição para alcançá-lo é parar de beber por um longo período que permita à pessoa em
recuperação começar a saborear e desfrutar dos méis de abstinência e, em seguida, iniciar
o trabalho terapêutico das diferentes fases de recuperação, através da observância pontual
dos 12 passos, terapia profissional e aconselhamento espiritual.
Não se esqueça que a reabilitação de um alcoólatra é progressiva. A superação de uma
pessoa não tem limites. Do círculo vicioso da doença alcoólica que leva à loucura, à
doença e à morte, pode-se passar para o círculo virtuoso da sobriedade que leva à
harmonia, à satisfação existencial e à transcendência.
Capítulo 16
Da abstinência à sobriedade
Generosidade e reconciliação
O desenvolvimento dessas duas grandes virtudes é o antídoto para aqueles que estão
acorrentados em seus ressentimentos: muitas pessoas têm ódios e rancores
irreconciliáveis, outras pensam que ser generoso é uma forma de estupidez ou fraqueza. O
cronicamente amargurado está zangado consigo mesmo, com os outros, com o mundo e
com Deus; Ele vê tudo errado. O pessimista não acredita que existam bons sentimentos no
mundo ou que existam pessoas boas. Trata-se de uma projeção perversa de sua própria
amargura e ressentimento.
Que grande virtude é perdoar, reconciliar-se com aqueles com quem se teve velhas
mágoas; Seja generoso e deixe de lado a arrogância e um conceito incompreendido de
dignidade pessoal. Quando o mau hábito do ressentimento é mudado para o bom hábito
da reconciliação, um grande peso é retirado das costas. As características fundamentais
de uma pessoa generosa são as seguintes:
1. Enfatiza o positivo dos outros e situações (veja o copo meio cheio e não meio
vazio).
2. Ele tem interesse e preocupação com os outros.
3. Ele sabe ouvir.
4. Dá-lhe mais satisfação do que recebe.
5. Tem vocação para o serviço.
6. Ele não é rancoroso.
7. Ele sabe pedir desculpas.
8. Aceite desculpas dos outros e conceda perdão.
9. Ele tem a capacidade de negociar em conflitos e sabe ceder.
10. Viva o presente.
Perdão e autoafirmação
A persistência da culpa provoca um terrível fenômeno de ingovernabilidade emocional: a
necessidade neurótica de expiação. Essa necessidade patológica de autoflagelação leva
ao desenvolvimento de uma autoestima muito baixa, quem sofre com isso acha que não é
digno de sucesso ou triunfo. Os melhores antídotos para essa terrível neurose são o
perdão e a autoafirmação.
Às vezes é mais fácil perdoar os outros do que perdoar a si mesmo
O alcoólatra é extremista e perfeccionista e às vezes desenvolve tanto ódio contra si
mesmo por ter falhado, que nunca se perdoará e se submeterá a uma autoflagelação
psicológica permanente. Essa incapacidade de perdoar a si mesmo levará a uma
persistente baixa autoestima que o impedirá de progredir e alcançar o triunfo. É por isso
que é tão importante desenvolver o bom hábito do autoperdão, não se levar tão a sério,
abandonar um pouco essas tendências de perfeccionismo rígido e aceitar que o ser
humano é imperfeito por natureza, e que a mesma condição humana de imperfeição,
eventualmente, Isso nos leva a cometer atos inadequados.
O autoperdão é uma forma de autoaceitação. Na medida em que me autoaceito, estou me
autoafirmando nas características positivas e negativas da minha personalidade. Tentarei
desenvolver as características positivas tanto quanto possível e reduzir as características
negativas à sua expressão mínima. Dessa forma, aos poucos vou me autoafirmando das
minhas características pessoais e isso vai melhorar muito a minha autoestima.
As principais características daqueles que praticam o perdão e a autoafirmação são as
seguintes:
1. Fizeram um completo exame de consciência naquilo que falharam.
2. Eles reconhecem e aceitam suas falhas; Eles têm uma consciência clara das
consequências de tais falhas.
3. Eles experimentaram dor emocional e sofrimento psicológico por todos que
afetaram.
4. Lamentam profundamente os seus fracassos e propõem uma alteração total.
5. Eles fazem a mais sincera determinação de não cometer tais faltas novamente.
6. Com toda a humildade, pedem perdão aos afetados.
7. Se são crentes, pedem perdão a Deus.
8. Eles fazem uma autoanálise completa para conhecer suas fraquezas e suas
inclinações negativas.
9. Eles buscam e descobrem as partes positivas de sua personalidade para neutralizar
tendências negativas.
10. Aceitam-se e perdoam-se, propondo uma mudança de vida para o positivo.
Assertividade
O cronicamente angustiado tem medo de viver, que lhe custa muito trabalho existir, tem
medo do que pode acontecer no futuro; Ele se torna vítima de seus próprios medos e
reage em vez de agir. O grande antídoto para esses medos é a assertividade.
Ação
Contra a depressão, ação. Este é o axioma que prega o antídoto para a depressão.
Independentemente dos aspectos médicos da doença da depressão, que envolve aceitar a
existência de um problema duplo e procurar ajuda profissional (o mesmo poderia ser dito
dos aspectos psicopatológicos do sofrimento), muitas pessoas deprimidas se jogam na
rede e optam por um estilo de vida depressivo. Sentem-se vitimizados, adoram fazer o
papel de doentes, estão sempre reclamando e se aposentam da vida por se considerarem
emocionalmente deficientes. Este é o bêbado seco que joga depressão e é uma maneira
disfarçada de fugir dos desafios da vida.
Portanto, contra a depressão, ação. A virtude da ação é o movimento constante que levará
a pessoa à satisfação pessoal, ao triunfo e à transcendência.
As principais características dos ativos são as seguintes:
1. Dependem apenas de si mesmos, não dos outros.
2. Eles têm um projeto de vida: sabem para onde querem ir.
3. São constantes: aplicam o "pouco a pouco vai longe".
4. São consistentes: terminam o que começam.
5. Eles fazem uma coisa de cada vez.
6. Avaliam periodicamente seu projeto de vida e, se houver algum desvio, corrigem-
no.
7. São perspicazes e parcimoniosos.
8. Eles são perseverantes.
9. Praticam a autocrítica.
10. Eles têm um plano de ação para cada dia, sempre atrelado ao seu projeto de vida.
11. Sabem ouvir: permitem os conselhos e conselhos de quem sabe melhor.
Autoconhecimento e autoaceitação
Na negação de sua realidade alcoólica há medo, assim como em tudo relacionado àquela
realidade e que o alcoolista não quer enfrentar, por isso prefere não ver, não ouvir e não
falar, como medida preventiva para não sentir, um mecanismo de evasão da realidade por
medo da mudança.
A contrapartida disso é o autoconhecimento e a autoaceitação. Ou seja, a audácia de se
conhecer e se aceitar como se é. Quando uma pessoa se conhece e se aceita, ela tem
todos os elementos e ferramentas necessárias para poder mudar, porque a mudança é a
condição essencial da sobriedade. A sobriedade não pode ser concebida sem mudança.
As características fundamentais de quem pratica o autoconhecimento e a autoaceitação
são as seguintes:
1. Eles desenvolveram uma análise existencial dos principais eventos emocionais de
sua vida.
2. Eles sabem de onde vêm e qual foi o seu passado.
3. Não há enigmas ou lacunas em sua história de vida.
4. Uma vez conhecidos, são aceitos como são, incluindo defeitos, limitações e
qualidades.
5. Eles também aceitam todos os membros de sua família de onde vêm, incluindo
defeitos e qualidades.
6. Eles não têm vergonha de seus parentes, de seu status social, de sua raça ou de si
mesmos.
7. Periodicamente, fazem um balanço de seu processo existencial e avaliam se estão
alcançando as metas que estabeleceram para si mesmos.
8. Eles aceitam seus defeitos e qualidades: eles tentam maximizar suas qualidades e
minimizar seus defeitos.
Disciplina e equilíbrio
Substituir o álcool por outra substância ou comportamento viciante é um disfarce que
esconde o propósito de não mudar. Muda superficialmente, mas basicamente permanece o
mesmo. Às vezes você pula de um extremo ao outro ou não tem disciplina para provocar
mudanças reais.
Por isso, disciplina e equilíbrio são as duas virtudes que se opõem a esse defeito de
caráter.
Disciplina é o trabalho constante e consistente que é desenvolvido de forma sistemática
para atingir um objetivo definido. O alcoólatra geralmente é uma pessoa de carreira curta,
ou seja, é difícil terminar o que começa, pois lhe falta um hábito na prática da disciplina.
Por outro lado, o alcoólatra costuma ser um extremista. É por isso que muitos deles
desistem do álcool, mas caem no vício do trabalho ou do sexo. Outros apenas trocam o
álcool por outras drogas, mas sem experimentar nenhuma mudança real.
O equilíbrio é a antítese do extremismo. A virtude de permanecer no centro das situações
é um hábito que ajudará a uma mudança real e não simplesmente substituir um
comportamento patológico por outro comportamento patológico.
As principais características do disciplinado e equilibrado são as seguintes:
1. Eles tendem a buscar o meio certo em suas decisões.
2. Eles evitam pular de um extremo ao outro quando estão mudando.
3. Sabem que o triunfo e o fracasso são dois impostores.
4. Evitam o fanatismo ou o fundamentalismo.
5. São flexíveis; Eles sabem que toda regra tem sua exceção.
6. Não confundem equilíbrio com mediocridade.
7. Evitam qualquer forma de exagero.
8. Eles se exigem.
9. Não adiam para amanhã o que podem fazer hoje.
10. Eles têm um plano de ação para cada dia e respeitam seu horário de trabalho
(evitar o trabalho).
11. Vão dormir cedo e levantam-se cedo.
12. Praticam a Cruz da Sobriedade.
Iluminação
A iluminação é a virtude de quem consegue alcançar a dimensão espiritual.
Quando seu espírito está cheio de uma paz interior e você consegue adquirir uma força
que o faz resistir com equanimidade e sabedoria ao ataque da vida, então você adquiriu
iluminação.
Ser iluminado não é ser profeta, santo ou enviado do Senhor, não. É qualquer ser humano
que desenvolveu sua espiritualidade para adquirir tal força que lhe permite lidar com os
problemas da vida com serenidade, aceitação e tranquilidade.
A iluminação é a maior virtude adquirida através do processo de recuperação. Da
recuperação física à recuperação social, depois à recuperação mental e emocional e,
finalmente, à recuperação espiritual.
O despertar espiritual leva o indivíduo à conversão, e a conversão envolve uma mudança
radical de vida. Há convertidos muito famosos na história da humanidade: São Paulo,
Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola... Eles mudaram
radicalmente suas vidas graças a um processo de conversão que levou a uma mudança de
180° em suas vidas.
O alcoólatra em recuperação que consegue esse despertar espiritual, essa conversão,
modificará sua vida de tal forma que suas chances de crescimento sejam máximas e as de
ter uma recaída sejam mínimas.
As características fundamentais de quem adquiriu iluminação são as seguintes:
1. Ele experimentou necessidades espirituais.
2. Ele recuperou ou desenvolveu a fé.
3. Ele acredita em um poder superior que o transcende.
4. Desenvolveu a prática da oração, da reflexão e da meditação.
5. Ele alcançou um equilíbrio entre sua vida exterior e sua vida interior.
6. Ele tem a capacidade de se abandonar em situações que não dependem dele.
7. Perdeu o respeito humano e as convenções sociais (vive para si e para as suas
próprias convicções).
8. Pratique o sacrifício, a autodisciplina e a privação de gratificação como forma de
reforço espiritual.
9. Ele não é um fanático religioso nem um ativista de seus dogmas. Ele respeita as
convicções dos outros e tende à espiritualidade em vez da religiosidade.
Solidariedade e respeito
Finalmente, o comportamento inadequado no grupo AA é a incapacidade do alcoólatra em
recuperação de desenvolver as virtudes da solidariedade e do respeito.
Para poder conviver com os colegas AA é preciso, antes de tudo, sentir-se parte do grupo,
sentir-se mais um da equipe, estar disposto a cooperar, ajudar e contribuir com tudo o que
o grupo precisar para que possa atingir seus objetivos.
Estas características correspondem à virtude da solidariedade, que implica uma grande
generosidade e desprendimento para se entregar ao grupo, para servir os outros, para
cumprir a responsabilidade que lhe foi atribuída por AA e para cumprir, com alegria e
desprendimento, todos estes deveres.
Ou seja, o principal objetivo de participar de um grupo AA é dar mais do que receber.
Claro, o alcoólatra também recebe. Recebo apoio, ajuda, orientação, uma plataforma para
sua catarse e, o mais importante, apoio incondicional do grupo para mantê-lo sem bebida e
em busca de sobriedade.
Mas muitos alcoólatras em recuperação colocam o recebimento antes de doar, e querem
receber muitas coisas de AA, como poder fazer negócios, pedir emprestado ou satisfazer
suas necessidades neuróticas de poder e prestígio. Aqueles que fingem receber mais do
que dar, são bêbados secos que inevitavelmente adotarão um comportamento inadequado
em seu grupo por causa de sua falta de solidariedade.
Outros, por outro lado, carecem da virtude do respeito. Não respeitam seus pares, os
princípios do grupo ou a si mesmos. São egoístas, amargurados e raivosos que só têm
prazer em criticar, fofocar, zombar ou sabotar a catarse do parceiro. Isso é desrespeito e
também inevitavelmente levará a comportamentos inadequados no grupo.
É por isso que é importante mudar os hábitos negativos de egoísmo e amargura para
aqueles de respeito e solidariedade.
Aqueles que desenvolvem essas virtudes têm as seguintes características:
1. Têm espírito de serviço e vocação para ajudar os outros.
2. Eles se importam e assumem a responsabilidade por tudo ao seu redor.
3. Eles encontram satisfação e gratificação em ajudar os outros.
4. Desinteressam-se em ajudar os outros: não procuram dinheiro, prestígio ou poder.
5. Não se ostentam para ajudar os outros ou as causas a que servem (não buscam
reconhecimento).
6. Eles não manipulam os outros em troca de sua ajuda.
7. Eles não obtêm benefícios pessoais (dinheiro, prestígio, poder ou sexo) em troca de
ajudar os outros.
8. Têm respeito pelas decisões de quem quer ajudar, mesmo que não concordem com
elas.
9. Não têm inveja da superação ou do sucesso daqueles que ajudam.
10. Não tomam conta da vida de quem ajudam, impondo-lhe o que deve ou deixar de
fazer.
11. Eles são capazes de ser movidos pelos sentimentos dos outros.
12. Eles não zombam ou humilham o recaído, mas oferecem sua mão para continuar
ajudando-o.
13. Eles não fazem comentários indiscretos ou descobrem o anonimato de nenhum
colega fora do grupo.