Joao Pedro Camara
Joao Pedro Camara
Joao Pedro Camara
OLVIDADO.
Todo êsse drama tão bem vivido de criação das bases físicas
decorreu, no entanto, a cabe aqui a pergunta, de um propósito do
Estado ou da iniciativa do próprio colono, que cêdo se afirmara
na terra e dela se ia assenhoreando à medida que os imperativos
econômicos lhe impunham a atitude?
A tese do planejamento, em grande estilo, da execução de
uma política de desrespeito ao tratado de Tordesilhas, visando à
criação de um império luso-americano que sucedesse ao império
montado na Índia, mas que, à concorrência voraz de outros povos
europeus, entrara a perder-se, esgotando as energias da mãe-pá-
trig, não é uma tese de recusar-se. Como não é igualmente de re-
cusar-se a outra, que explica o esfôrço da expansão pela vontade
única ou maior do colonizador. E isso porque, bem pesadas as ra-
zões em que se alicerçam, examinados os fatos históricos, nas suas
minúcias, há de concluir-se por que, efetivamente, em muitas opor-
tunidades, o bandeirante agiu sem obedecer senão aos seus pró-
prios anseios, como em outras foi evidente a diretriz-imperialista
decretada de Lisboa. O que não é possível, no entanto, é deixar
de reconhecer que a política oficial objetivou sempre manter, para
a soberania portuguêsa, na expansão, o que ia sendo descoberto, ex-
plorando e incorporando ao Brasil em formação. Nesse particular,
a documentação é a mais abundante, revelando mesmo a existência
de um estado d'alma, de uma constante a tal respeito, estado d'al-
ma e constante jamais perturbados ou alterados.
Quando, pois, no século XVIII, o bandeirante paulistano, aquê-
le da "Raça de Gigantes" de que Saint Hilaire nos falava cheio de
espanto e de admiração, atingiu o Mato Grosso, buscando outra
área aurífera de onde o emboaba não o expulsasse, e avizinhando-
se do espanhol de Santa Cruz de la Sierra, dos Moxos e Chiquitos,
da gobernación do Paraguai, o Estado não lhe deu ordens para
abandonar as posições que ocupava. Antes, animou-o no empre-
endimento, assegurou-lhe condições de vida, defendendo-o, legali-
zando a conquista pela presença das autoridades civis, militares e
eclesiásticas. E não cedendo às imposições do vizinho, manteve o
novo território e o grupo social aue incorporava à conjuntura eco-
nômica, executando política de envergadura„ pela ação hábil de
diplomatas e através de uma série de homens de govêrno que se
sagraram legítimos estadistas, legítimos lusíadas.
(17) . — Damos em apêndice o texto integral da exposição que, sôbre o episódio, fêz
Câmara ao governador Ataíde Teive.
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BIBLIOGRAFIA