Aula 19
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O processo de ensino
e aprendizagem de
educandos com
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deficiência visual
Edicléa Mascarenhas Fernandes
Meta da aula
Apresentar a área de deficiência visual, os aspec-
tos históricos do atendimento a estes alunos, as
metodologias de acompanhamento, e o processo
de escolarização na perspectiva da Educação
Inclusiva.
objetivos
PRÉ-REQUISITOS
Para que você encontre maior facilidade na com-
preensão desta aula, é importante que tenha
assimilado os conteúdos anteriores das unidades
em que foram abordados os conceitos de Educa-
ção Inclusiva, necessidade educacional especial
e as modalidades de atendimento a alunos com
estas necessidades, para que possa identificá-las
no contexto pedagógico do atendimento aos alu-
nos com deficiência visual.
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INTRODUÇÃO
QUEM SÃO OS EDUCANDOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL?
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MECANISMO DA VISÃO
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Figura 19.1: Mecanismo da visão.
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Figura 19.2: Modelo de campo visual de uma pessoa acometida por retinose pig-
mentar.
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A retinose pigmentar destrói as células da retina (cones e bastonetes)
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e a pessoa acometida perde a visão periférica ou central enxergando o
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mundo da forma como é apresentada na figura anterior. Porém, a pessoa
pode não possuir consciência de sua própria deficiência visual. Imagine
um aluno seu tentando localizar o quadro de giz, ou as pautas do caderno,
possuindo um campo visual como o mostrado nas figuras anteriores? Ou
então, ao andar, pode esbarrar por não possuir visão lateral. Portanto, é
muito importante que o professor esteja atento às características compor-
tamentais do aluno e indicar uma avaliação oftalmológica antes de que
o mesmo seja rotulado como “desatento”, “dispersivo”.
Claudia Meyer
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transforma felizmente em um talento. Para ele é importante compre-
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ender totalmente as particularidades do cego, descobrir as tendências
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existentes, os embriões do futuro. Em essência, estas são as exigências
gerais do pensamento dialético na ciência: para entender completamente
algum fenômeno é necessário examiná-lo em relação com seu passado
e seu futuro, o que este autor define como desenvolvimento proximal,
um vir a ser. Desse modo, o ponto final do desenvolvimento, e assim, a
conquista da posição social, e todo o processo do desenvolvimento, são
iguais para a criança cega e vidente.
Em resumo, Vygotsky enfatizou o meio social como primordial
para o desenvolvimento da pessoa com deficiência visual, tendo como
ênfase os aspectos prospectivos e a ênfase na educação e no trabalho
como mecanismos de superação da deficiência.
Atualmente, os pressupostos de Vygotsky estão sendo utilizados
amplamente tanto na neurociência, quanto na educação inclusiva, porque
devemos enfatizar no sujeito a sua vocação à prospecção (ao futuro),
isto é, ao desenvolvimento e também a capacidade da compensação, do
que é possível em termos de crescimento afetivo e cognitivo, apesar da
deficiência orgânica. Há também uma forte ênfase no meio social.
ATIVIDADE
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter respondido que atividades como cópia do quadro,
desenhos de figuras geométricas, respostas a exercícios em folhas
mimeografadas com letras pequenas ou pouco contraste e manter
atenção em mapas ou painéis, nos quais esteja refletindo luminosi-
dade podem gerar dificuldades para estes educandos.
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após o anoitecer.
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UÊ Dificuldade de leitura: uma dificuldade durante os trabalhos
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que requerem que o aluno aproxime, de seus olhos, o livro ou
objeto de trabalho. Mas ele pode se sair muito bem em relação
a comandos e tarefas orais.
UÊ Dificuldade com a realização de trabalho escrito (sem conseguir
seguir as pautas do caderno ou respeitar os espaços destinados
à escrita).
UÊ Dificuldade com visão a distância, que pode levar o aluno a evitar
brincadeiras no parquinho ou a participação em qualquer ativi-
dade que exija grande coordenação motora ampla. Ele pode até
preferir ler ou realizar outras atividades acadêmicas.
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Diga a direção exata: “Vire agora à direita”, “no próximo passo,
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há um desnível no chão”, “Estamos frente a uma escada que desce”.
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Os alunos cegos devem ser encorajados a caminhar sozinhos
pela escola com o auxílio de uma bengala, que deve ter comprimento
suficiente para ir do solo até a metade da distância entre os ombros e a
cintura da pessoa que a utiliza. Uma bengala curta demais irá forçar o
usuário a caminhar inclinado. O ideal é que o aluno receba orientações
de especialistas. Não remova os obstáculos da frente o tempo todo, pois o
aluno deve ser treinado para dar a volta e evitá-los. É possível que caiam
e o professor deve estar atento e encorajá-los na atividade.
!
O Decreto nº 5.904 de 21 de setembro de 2006 regulamentou a Lei nº
11.126 de 27 de junho de 2005, que dispõe sobre o direito da pessoa com
deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso cole-
tivo acompanhada de cão-guia, que também é um aliado na orientação
e mobilidade da pessoa cega.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
2. Carlos tem dez anos, está no terceiro ano de escolaridade e foi trans-
ferido para sua escola, devido à mudança de residência da família. Ele é
cego desde um ano de idade. Como você pode auxiliá-lo na orientação
e mobilidade?
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter respondido que, inicialmente, mostraria todos os
ambientes da escola, e as rotas mais fáceis para sua chegada à
sala de aula. Lembrando-se de que a melhor forma de condução
é caminhando ligeiramente à frente, com o educando atrás e lhe
segurando pelo cotovelo. A cada marco importante é aconselhável
informá-lo, como, por exemplo, à direita, no final do corredor, temos o
bebedouro. Importante também saber que este é apenas o primeiro
encontro de seu aluno com o ambiente novo da escola. O mapa
mental ela fará com seu apoio, mas também podendo explorá-lo
de forma independente após as visitas guiadas.
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O SISTEMA BRAILLE
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Após ter experimentado essa escrita noturna com cegos, Carlos
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Barbier apresentou seu modelo no Instituto Real dos Cegos. Porém, as
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grandes dimensões dos pontos tornavam difícil, ao primeiro contato,
o cego poder ziguezaguear os dedos através das linhas. Este sistema
constituiu a base com a qual Louis Braille criou o alfabeto, reduzindo
as proporções e criando os sinais que poderiam ser tocados pelos dedos,
dando um valor ortográfico e não fonético a cada símbolo.
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Figura 19.7: Materiais em contraste preto e branco utilizados com bebês com resí-
duo visual.
Fonte: Edicléa Mascarenhas Fernandes.
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aumenta a página inteira, enquanto o outro amplia apenas uma
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linha de cada vez, o que pode ser útil como auxílio de leitura;
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UÊ encoraje o aluno a acompanhar a leitura com os dedos ou com
outro tipo de instrumento. Cubra o restante da página com papel,
deixando à mostra apenas o parágrafo que ele está lendo. Use um
apoio de livros, para evitar reflexos;
UÊ alunos com baixa visão precisam aprender tanto pelo tato quanto
pela audição. Devem ter a chance de manusear os objetos;
UÊ coloque o aluno com deficiência visual para trabalhar em dupla
com um colega de boa visão que possa assisti-lo na organização
de seu trabalho. O parceiro poderá ajudar a encontrar a página
correta, repetir as instruções do educador etc.;
UÊ use elogios verbais e também o toque para dar encorajamento ao
aluno. Um bom abraço nunca é demais!
UÊ pronuncie o nome dos alunos durante as discussões em sala de
aula, para que a criança deficiente saiba quem está falando;
UÊ coloque o sorobã à disposição da criança durante as aulas de
Matemática;
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Figura 19.10: Mapa geográfico do Brasil com regiões retratadas por texturas dife-
renciadas.
Fonte: Acervo do Núcleo de Estudos de Educação Especial e Inclusiva produzido por alunos
da disciplina Prática Pedagógica em Educação Inclusiva.
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Figura 19.16: Estratégias de adaptações para deficientes visuais com visão subnormal
– caderno com pauta ampliada, gravuras de livros de história sem coloração com
contraste em preto e branco e as letras ampliadas.
Fonte: Acervo do Núcleo de Estudos de Educação Especial e Inclusiva produzido por alunos
da disciplina Prática Pedagógica em Educação Inclusiva.
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CONCLUSÃO
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ATIVIDADE FINAL
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No fim do ano letivo, a Escola Professora Maria Celestina matriculou um aluno
cego no quarto ano do ensino fundamental. Você foi convidado (a) pelo gestor
de sua escola a planejar um sistema de suporte para recepção deste aluno. Quais
seriam suas sugestões?
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter iniciado sua reflexão entendendo que este aluno já possui uma vida
educacional e sem dúvida propôs uma entrevista com a família e o aluno para
identificar quais suportes ele vem utilizando, até então, em sua vida acadêmica.
Você poderá sugerir à direção a aquisição de reglete, punção e a possibilidade de
máquina Perkins para confecção de materiais em braille. Destinar um local com
computador para instalação de softwares livres para ledores de tela. Se a escola
possui sala de leitura, poderá iniciar um projeto de livros e textos gravados. O preparo
dos recursos humanos da escola também é fundamental para acolhida ao aluno,
tais como pequenas orientações e oficinas acerca de mobilidade para a equipe da
escola (porteiros, pessoal de limpeza e merendeiras) e adaptações curriculares para
a equipe de professores. Lembre-se de que, num projeto de educação inclusiva, o
aluno pertence à escola e todos precisam estar envolvidos.
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RESUMO
A deficiência visual é uma condição que clinicamente pode acometer tanto uma
perda parcial quanto a cegueira total. Suas causas podem ser, tanto de base
genética quanto adquirida e, dependendo da estrutura do sistema visual afetada,
produz condições clínicas diferenciadas. Por exemplo, a retinose pigmentar é uma
condição que afeta a retina e o campo visual, ao passo que o astigmatismo e a
catarata comprometem a acuidade visual. O resultado subjetivo é particular e, afeta
diretamente o processo de aprendizagem destes alunos. Neste sentido, é impor-
tante que o professor possa detectar os sinais da perda visual em seu aluno para
que a intervenção ocorra o mais cedo possível: olhos lacrimejantes, avermelhados,
dificuldade para copiar do quadro podem ser alguns sinais de comprometimento
visual. As ajudas técnicas e a tiflotecnologia, são recursos especiais para alunos
com baixa visão e cegos e devem ser utilizados nas escolas tanto nas classes comuns
como, nos suportes de salas de recursos, as lupas, lentes de aumento, recursos de
ledores de tela são essenciais. É fundamental que o sistema Braille, que consiste
em códigos tateados, seja disponibilizado aos alunos com perda visual progressiva
ou cegueira. As adaptações curriculares baseadas em materiais tridimensionais
são também de fundamental importância para que o aluno cego possa adquirir
os conceitos estudados.
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