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2, 2022
ISSN: 2764-1295
Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná – UniSL
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Psicologia jurídica e direito penal brasileiro: Atuação do psicólogo no sistema prisional
Willyane dos Santos Pereira1*, Adriana Damião Saraiva1, Anna Paula C. Salomão1, Karina
Alves Oliveira1, Phelipe Brendolin Bernades dos Santos1, Valdivino de Souza Oliveira1,
Teófilo Lourenço de Lima2
1
Acadêmicos do Curso de Direito. Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná - UniSL. *E-mail:
willyanesantos13@gmail.com.
2
Professor Orientador. Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná - UniSL. Email:
teofilolourencodelima@gmail.com.
*Autor correspondente: Willyane dos Santos Pereira. Curso de Direito do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná - UniSL. E-mail:
willyanesantos13@gmail.com.
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Resumo
O presente artigo reflete acerca da atuação do psicólogo no sistema prisional perante o sujeito encarcerado, é um
trabalho possível e se faz necessário, para poder aos poucos mudar a realidade do sistema prisional, a escuta com
uma boa transferência do psicólogo, tem resultados positivos. Já o principal método usado pelos psicólogos
forenses para avaliar o nível de risco de reincidência é o uso de testes psicológicos. Esses testes ajudam a
determinar o nível de função cognitiva e também ajudam a identificar quaisquer déficits nas habilidades sociais.
Na área jurídica criminal, o psicólogo geralmente trabalha como perito, buscando agir nas instituições prisionais
e nas políticas públicas, atuando e avaliando situações de periculosidade, capacidade de discernimento ou à
insanidade mental das pessoas envolvidas. O trabalho do psicólogo é fortalecer resistência, emancipação e o
enfrentamento das distinções enfrentadas rompendo com modelos orientados pela sociedade para o ambiente
prisional. Utilizou-se para a pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir de materiais publicados em: livros e
artigos científicos. Portanto, pensar na atuação do psicólogo no sistema prisional perante o sujeito encarcerado, é
um trabalho possível e faz se necessário, para poder aos poucos mudar a realidade do sistema prisional, a escuta
com uma boa transferência do psicólogo, tem resultados positivos nos trabalhos para recuperação dos apenados.
Palavras-Chave: Psicologia. Sistema Prisional. Atuação.
Abstract
This article reflects on the role of the psychologist in the prison system before the incarcerated subject, it is a
possible work and does it if necessary, in order to gradually change the reality of the prison system, listening with
a good transfer of the psychologist, has positive results. The main method used by forensic psychologists to assess
the level of risk of recidivism is the use of psychological tests. These tests help determine the level of cognitive
function and also help identify any deficits in social skills. In the criminal legal area, the psychologist usually
works as an expert, seeking to act in prison institutions and public policies, acting and evaluating situations of
danger, capacity for discernment or the mental insanity of the people involved. The psychologist's job is to
strengthen resistance, emancipation and the confrontation of the distinctions faced, breaking with models oriented
by society for the prison environment. It was used for bibliographic research, developed from materials published
in: books and scientific articles. Therefore, thinking about the role of the psychologist in the prison system before
the incarcerated subject is a possible work and if necessary, to be able to gradually change the reality of the prison
system, listening with a good transference of the psychologist, has positive results in the work for recovery of
inmates.
Keywords: Psychology. Prisonsystem. Acting.
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mediadas por algo. Esse algo inspira a ação divorciados dos procedimentos legais, os
do cidadão. recentes desenvolvimentos no estudo
interdisciplinar provaram o contrário. Por
meio desses exames, psicólogos e advogados
3.2 A psicologia e o direito penal exploraram criativamente o comportamento
atual e passado dos indivíduos. Eles também
De acordo com o artigo '' Atualidade
examinaram os efeitos desses
da Psicologia Jurídica'' da autora Sônia
comportamentos nos membros da família e
Altoé, a primeira conexão entre psicologia e
nas circunstâncias.
direito se deu por meio do exame de
depoimento. Segundo a história, a psicologia Por sua importância, essa relação
da testemunha criada no final do século XIX crítica requer atenção permanente. A fria
seduziu pela primeira vez a conexão entre análise da existência da psicologia deve ser
psicologia e direito. Essa fase buscou confrontada e substituída pelo direito do
comprovar a veracidade do relato do sujeito indivíduo de influenciar decisões jurídicas
por meio de pesquisas empíricas. Devido à futuras. Este aspecto da lei é imediatamente
influência do positivismo na época, que relevante porque envolve o participante em
favorecia os métodos das ciências naturais, vez de apenas existir por omissão.
isso foi crucial para o ordenamento jurídico. Importante ressaltar que no bojo do artigo
“Reflexões sobre Psicologia Jurídica e seu
Conforme Jesus (2001) a relação da
panorama no Brasil” da psicóloga jurídica
Psicologia e do Direito se mostra como uma
Fátima França, é enfatizada que a
forma de complementar o compromisso
denominação “Psicologia Jurídica” apesar de
social e comunitário, assim, a Psicologia
ser a mais usada no Brasil, não é a única
compreende e explica o comportamento
denominação que se têm para denominar a
humano e o Direito procura estar atenta a
área da psicologia que se relaciona com o
formação de normas para o convívio comum
Direito, por exemplo, na Argentina é
dos indivíduos conforme as regras e normas
utilizado o termo “Psicologia Forense”.
de conduta.
Como desfecho da análise
Com um estudo psicológico legal
jurisprudencial, pode-se utilizar as palavras
ainda em andamento, um júri deve
do excelentíssimo relator Carvílio da
considerar um fato apresentado em um caso
Silveira Filho, (2013):
não apenas por códigos ou lei escrita. Eles
devem considerar o contexto em que o fato é É cediço que a Psicologia Forense ou a
Psicologia Jurídica atuando em
apresentado para chegar a uma decisão mais conjunto com o Direito, buscam
precisa. A aplicação correta das políticas das esclarecer e identificar os fatos e
instituições penais pode ser alcançada delitos, bem como, realizar uma
avaliação do perfil psicológico e da
através da cooperação com o pessoal personalidade do agente que comete o
penitenciário. Além disso, os psicólogos crime. A avaliação psicológica é um
instrumento fundamental que pode
podem ajudar o prisioneiro a se readaptar à
embasar o Juiz nas questões que
sociedade após o encarceramento. envolvem o contexto vivencial do
agressor e da vítima.
Embora os exames de fatos
psicológicos geralmente permaneçam
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Por fim, fica claro que o direito e a alternativas efetivas que possam encontrar
psicologia têm convergido nas preocupações investimentos políticos e subsequente
de compreender e analisar o comportamento redução da incidência de crimes (... ). A
humano, ou seja, como interpretar uma resposta ao criminoso violento e suas ações,
determinada atitude de um indivíduo para portanto, é dada pela punição rápida e severa,
chegar à conclusão de que a decisão é a para que desta forma esteja garantida, a
melhor, ou a menos prejudicial para aquele segurança pública. (MATHIAS, 2009).
indivíduo.
A Psicologia Criminal contribui para
a elaboração de perfis criminais, através da
observação de características dos delitos,
3.3 Atuação do psicólogo na área criminal
assim como prováveis comportamentos dos
Na área jurídica criminal, o psicólogo criminosos vistos na cena do crime por
geralmente trabalha como perito, buscando testemunhas ou segundo relatos das vítimas,
agir nas instituições prisionais e nas políticas e também na prevenção de novos possíveis
públicas, atuando e avaliando situações de crimes, tendo como base outros crimes que
periculosidade, capacidade de discernimento já ocorreram (GOES JÚNIOR, 2012).
ou à insanidade mental das pessoas
Ela auxilia também no processo
envolvidas, com objetivo de compreender a
decisório do juiz, com base nos princípios do
mente ou dependência toxicológica do
livre convencimento motivado, para que
indivíduo, já que em alguns casos os presos
interprete corretamente o indivíduo
cometeram crime por transtornos de
cometedor do crime, para que estabeleça as
personalidade. Esses transtornos corroboram
penas da forma mais justa e equitativa
com o controle emocional como, por
presumível.
exemplo, falta de sensibilidade para o
sofrimento alheio ou falta remorso/culpa que Portanto, a psicologia criminal estuda
levam a um comportamento criminoso. a personalidade e os transtornos que levam a
uma perturbação grave no comportamento.
O transtorno de personalidade,
Contrapõe dúvidas sobre como e por que
transtorno antissocial, transtorno sociopático
ocorrem determinados atos criminosos
ou dissocial se referem à análise de
graves, estudando o comportamento
psicopatia como também a oligofrênicas
criminoso e seu desenvolvimento.
(deficiência mental), psicoses (alienação,
juízo crítico, atuação forte do inconsciente),
demências (deterioração mental) e neuroses
3.4 O trabalho do psicólogo no sistema
(sofrimento a nível consciente). O direito
prisional
penal caracteriza os psicopatas como aqueles
que não possuem certo “sentimento” ou O trabalho do psicólogo dentro do
culpa, mostram como característica de poder sistema prisional é indispensável uma vez
como os narcisistas, onipotentes e que seu desempenho é garantir a todos os
dominadores, isto é, sentem prazer em direitos humanos além de acompanhar os
assistir o sofrimento alheio, Mathias dispõe; sistemas penitenciários que muita das vezes
é lugares inadequados e corruptivos, já que
A proposta de reabilitação do
os sujeitos ali hospedados são considerados
criminoso, bem como a busca por
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De todo modo, os tratamentos devem acordo com atributos técnicos sem sequer
sempre estar pautados pela observância dos discutir sobre a vida das pessoas que
Direitos Humanos, pelo princípio da cometem crimes ou vidas das vítimas que
humanização das relações. Assim, devemos sofreram.
observar até a forma de chamar os presos,
Chaves (2010) evidencia
deixando de chamá-los por números ou por
sobremaneira a importância desse trabalho
“ladrão”. Afinal, a volta do detento à vida
grupal entre os detentos, pontuando que pode
social sem agredir ao próximo depende de
ser uma forma de resgatá-los, trazendo-os de
um conjunto de ações, desde aquelas
volta para a sociedade de uma forma mais
menores. (Chaves, 2010). Os psicólogos que
saudável, na medida em que, por exemplo,
trabalham em estabelecimentos prisionais
evita a contaminação do indivíduo
realizaram exames criminológicos e
encarcerado por eventuais companheiros de
participar de ações e/ou decisões que
cela entrelaçados com a cultura do crime.
envolvam práticas punitivas e disciplinares,
bem como documentação escrita resultante Vários projetos podem ser usados
de avaliações psicológicas em apoio à para demonstrar a importância de grupos
decisão de execução de sentença de específicos. Por exemplo, grupos focados em
sentenciados. encontrar comunicação, encontrar orientação
e fornecer informações podem ser citados.
Kolker (2004 p.167) afirma que
Outros grupos se concentram em encontrar
As avaliações psicológicas ajuda para pessoas que sofrem de
individualizadas, previstas em lei, são
inviáveis nos presídios brasileiros em
dependência de drogas ou prevenção de
razão das superpopulações existentes. DST/AIDS, fornecendo autoestima positiva,
Pelo mesmo motivo, proporcionar um apoio e reflexões, essas histórias ajudam os
“tratamento penal” aos apenados ou
estabelecer outro tipo de relações infratores reincidentes ao longo da vida a
institucionais com os demais mudar seus caminhos de vida. Portanto,
funcionários, internos e/ou seus
embora as disposições da LEP sejam
familiares são tarefas difíceis para os
psicólogos que trabalham junto ao cruciais, no sentido de que os presos devem
sistema carcerário. ser monitorados desde a chegada até a
Nos últimos anos, diversas Leis reintegração plena, ainda há alguns
Federais/Estaduais são editadas para regular compromissos na sua implementação
as atividades dos psicólogos que trabalham prática, especialmente os individuais.
com pessoas presas. Não há leis específicas
no Brasil que regulem a atuação do psicólogo
no serviço penitenciário. O desenvolvimento 3.7 Avaliação psicológica
deste projeto de pesquisa é auxiliado por Essa avaliação psicológica é um
legisladores nacionais e internacionais, método de identificação do processo
principalmente pelo Ministério da Justiça, psicológico através de procedimentos que
que permitiu a participação do psicólogo são: característica, funcionalidade,
como auditor e não como perito durante os diagnóstico e prognóstico, usa de medidas
julgamentos em todos os níveis. Este é um padronizadas e procedimentos técnicos o §
passo muito importante dado porque hoje em 1° do art. 13 da lei no 4.119/62 determina que
dia, alguns casos são julgados apenas de os testes psicológicos sejam instrumentos de
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