29 Univ Rumo Sustentab

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Universidades

Rumo à
Sustentabilidade
Editores
Tadeu Fabrício Malheiros
Denise Crocce Romano Espinosa
Fernanda da Rocha Brando Fernandez
Patrícia Faga Iglecias Lemos
Paulo Santos de Almeida
Tamara Maria Gomes
Tércio Ambrizzi

i
Universidades Rumo à
Sustentabilidade

Editores
Tadeu Fabrício Malheiros
Denise Crocce Romano Espinosa
Fernanda da Rocha Brando Fernandez
Patrícia Faga Iglecias Lemos
Paulo Santos de Almeida
Tamara Maria Gomes
Tércio Ambrizzi

2019

ii
REITOR
Vahan Agopyan

VICE-REITOR
Antônio Carlos Hernandes

SUPERINTENDENTE DE GESTÃO AMBIENTAL


Tercio Ambrizzi

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
Edmund Chada Baracat

PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Carlos Gilberto Carlotti Júnior

PRÓ-REITORA DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA


Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado

PRÓ-REITOR DE PESQUISA
Sylvio Roberto Accioly Canuto

APOIO TÉCNICO E EDITORIAL


Caroline Costa Bonato
Paloma Chiccolli

EDIÇÃO E TEXTO FINAL


Tadeu Fabrício Malheiros
Denise Crocce Romano Espinosa
Fernanda da Rocha Brando Fernandez
Patrícia Faga Iglecias Lemos
Paulo Santos de Almeida
Tamara Maria Gomes
Tércio Ambrizzi

iii
Comitê Editorial Consultivo

Alineaurea Florentino Silva (EMBRAPA/UFPE), Beatriz Antoniassi Tavares (USC),


Bernardo A. Nascimento Teixeira (UFSCAR), Ester Feche Guimarães (SABESP),
Fernanda da Rocha Brando Fernandez (USP), Frederico Yuri Hanai (UFSCAR),
Gustavo Baptista (UnB), Paulo Santos de Almeida (USP), Rodrigo Martins Moreira
(UNIR), Tadeu Fabrício Malheiros (USP), Tamara Maria Gomes (USP), Tatiana
Tucunduva (UNINOVE), Tiago Balieiro Cetrulo (UNEMAT)

iv
EDITORES
Tadeu Fabrício Malheiros, Denise Crocce Romano Espinosa,
Fernanda da Rocha Brando Fernandez, Patrícia Faga Iglecias Lemos,
Paulo Santos de Almeida, Tamara Maria Gomes, Tércio Ambrizzi

AUTORES

Adriana Cristina Ferreira Caldana Leonardo Brian Favato


Ana Cristina Machado Vasconcelos Letícia Guimarães Pereira
Ana Maria Maniero Moreira Lillian da Silva Cardoso
André Coimbra Felix Cardoso Luis Marcio Arnaut de Toledo
André Luis Canha da Silva Luma Carvalho Scannavino
Andressa Sales Garcia Marcelo Machado de Luca Oliveira Ribeiro
Arlindo Saran Netto Marcelo Nivert Schlindwein
Bruna Lopes Coêlho Maria Angélica Vieira Pinto
Camila Amorim Araújo Magalhães Maria Betânia Melo de Oliveira
Camila Claudino de Souza Maria de Fátima Morais Xavier
Carmen Odette Antinarelli Maria Estela Gaglianone Moro
Caroline Costa Bonato Mariana Zagatti
Celso José da Silva Almeida Noah Webster
César Augusto da Silveira Castro Osvaldo Shigueru Nakao
Christiano Bernini Peres Paola Petry
Denise de La Corte Bacci Patricia Risa Iwanaga
Ednelí Soraya Monterrey- Quintero Paulo Mario Ripper
Ednilson Viana Perla Calil Pongeluppe Wadhy Rebehy
Fernanda de Marco de Souza Rafael da Silva Damasceno Pereira
Fernanda Pereira da Silva Raquel Stucchi Boschi
Fernanda Ramos Teixeira da Paula Robert Marans
Flávio Meirelles Roberta Sanches
Flavio Pinheiro Martins Rodrigo Martins Moreira
Gabriel Pires de Araújo Rogério Souza da Silva
Gabriela Strozzi Rômulo Simões Cezar Menezes
Henor Artur de Souza Rosana Louro Ferreira Silva
Janete da Silva Moreno Martins Suelen Cristiane Rodrigue
José Aquiles Baesso Grimoni Tadeu Fabrício Malheiros
Jose Francisco Alfaro Tamara Maria Gomes
José Francisco do Prado Filho Thiago Henrique Oliveira Silva
Joyce Meneses da Silva Jaege Vinicius Almeida
Karoline Santos de Lima Silva Vitória Albuquerque Buen
Késia Yuli da Silva Pereira Wanda Maria Risso Günther
Leandro Alves de Oliveira Yanca Antunes Salomoni

v
SUMÁRIO

PREFÁCIO x

Tércio Ambrizzi

APRESENTAÇÃO xi

Tadeu Fabrício Malheiros

CAPÍTULO 1 1

Iniciativas de gestão de resíduos da Universidade de São Paulo e


Universidade de Michigan
Rodrigo Martins Moreira, Tadeu Fabrício Malheiros, José Francisco Alfaro,
Noah Webster, Robert Marans

CAPÍTULO 2 32

Eletrocoleta – projeto de coleta e destinação de resíduos eletroeletrônicos na


Universidade Federal de Ouro Preto - MG
Letícia Guimarães, José Francisco do Prado Filho e Késia Yuli da Silva Pereira

CAPÍTULO 3 50

Proposta de transformar o Campus Congonhas do Instituto Federal de


Minas Gerais em Escola Verde Ambientalmente Sustentável
Camila Amorim Araújo Magalhães, Thiago Henrique Oliveira Silva, Maria
Angélica Vieira Pinto, Henor Artur de Souza, José Francisco de Prado Filho

CAPÍTULO 4 65

O Programa Ecoeficiência do Senac São Paulo


César Augusto da Silveira Castro, Leandro Alves de Oliveira, Mariana Zagatti
CAPÍTULO 5 78

Avaliação de Sustentabilidade na Universidade Federal do Triângulo


Mineiro com o uso do UI GreenMetric
Luma Carvalho Scannavino, Bruna Lopes Coêlho

vi
CAPÍTULO 6 94

Gerenciamento de Resíduos na Universidade Federal de Pernambuco:


avanços e desafios
Camila Claudino de Souza, Maria Betânia Melo de Oliveira, Maria de Fátima
Morais Xavier, Rômulo Simões Cezar Menezes

CAPÍTULO 7 113

Sustentabilidade no campus universitário: análise de parâmetros


socioambientais em uma Universidade Federal
Suelen Cristiane Rodrigues, André Coimbra Felix Cardoso

CAPÍTULO 8 128

Gestão Sustentável na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São


Paulo
Ana Maria Maniero Moreira, Wanda Maria Risso Günther.

CAPÍTULO 9 144

Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos no Campus Leste da


Universidade de São Paulo como instrumento de educação ambiental e de
construção de um campus sustentável
Gabriel Pires de Araújo, Fernanda de Marco de Souza, Joyce Meneses da Silva
Jaeger, Ednilson Viana

CAPÍTULO 10 163

Avanços do Campus de Pirassununga da Universidade de São Paulo na


questão da Sustentabilidade
Ednelí Soraya Monterrey-Quintero, Arlindo Saran Netto, Flávio Meirelles,
Marcelo Machado de Luca Oliveira Ribeiro, Maria Estela Gaglianone Moro

CAPÍTULO 11 173

Avaliação de desempenho da usina piloto de biodisel do Instituto de


Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo
Paola Petry

vii
CAPÍTULO 12 185

Levantamento qualitativo da fauna de pequenos vertebrados do Campus


de Pirassununga da Universidade de São Paulo visando conservação de
áreas verdes
Maria Estela Gaglione Moro, André Luis Canha da Silva, Fernanda Pereira
da Silva, Fernanda Ramos Teixeira da Paula, Yanca Antunes Salomoni

CAPÍTULO 13 198

Plano Diretor Socioambiental Participativo do campus de Pirassununga


da Universidade de São Paulo
Tamara Maria Gomes, Patricia Risa Iwanaga, Maria Estela Gaglianone Moro,
Ana Cristina Machado Vasconcelos, Ednelí Soraya Monterrey- Quintero

CAPÍTULO 14 210

Práticas Sustentáveis promovidas pela Coordenação de Meio Ambiente da


Prefeitura da UFRJ
Paulo Mario Ripper, Celso José da Silva Almeida, Carmen Odette Antinarelli,
Janete da Silva Moreno Martins, Vinicius Almeida

CAPÍTULO 15 226

Avaliando a arborização urbana no Campus de São Carlos da


Universidade Federal de São Carlos: ações para uma Universidade
Sustentável
Raquel Stucchi Boschi, Gabriela Strozzi, Roberta Sanches, Caroline Costa
Bonato, Vitória Albuquerque Bueno, Marcelo Nivert Schlindwein

CAPÍTULO 16 241

Proposta para implementação da Política Ambiental da USP no Campus


de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Fernanda da Rocha Brando Fernandez, Flavio Pinheiro Martins

CAPÍTULO 17 265

Educação Ambiental na Universidade de São Paulo: investigando


concepções dos estudantes e professores
Rosana Louro Ferreira Silva; Denise de La Corte Bacci; Lillian da Silva
Cardoso; Andressa Sales Garcia; Karoline Santos de Lima Silva; Rafael da
Silva Damasceno Pereira

viii
CAPÍTULO 18 288

Programa de Uso Racional de Recursos Hídricos e Energéticos da


Universidade de São Paulo
José Aquiles Baesso Grimoni,Osvaldo Shigueru Nakao, Leonardo Brian
Favato, Rogério Souza da Silva, Luis Marcio Arnaut de Toledo,Christiano
Berrini Perez

CAPÍTULO 19 298

PRME da Faculdade de Economia e Administração do Campus de


Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo: Educação executiva
Responsável
Flavio Pinheiro Martins; Adriana Cristina Ferreira Caldana; Perla Calil
Pongeluppe Wadhy Rebehy

ix
x
Prefácio
O uso consciente dos recursos naturais, novas alternativas e ações em relação
ao planeta e as implicações para o bem-estar coletivo estão cada vez mais em
evidência, definindo de forma geral o conceito de sustentabilidade, termo cunhado
em Estocolmo, na Suécia, na Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano em 1972. Esta conferencia foi a primeira a chamar a atenção mundial para
questões ligadas à degradação ambiental e à poluição. No entanto, foi na Conferencia
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) em 1992 que o conceito de
desenvolvimento sustentável passou a ser utilizado de forma mais ampla, onde
incorporou-se a preocupação de termos um desenvolvimento de longo prazo onde os
recursos naturais utilizados pela humanidade não comprometessem nosso planeta.
Desde então, temos prestado atenção não somente na degradação que a raça
humana tem feito ao meio ambiente, mas em função de sua evolução, o planeta vem
sentindo um aquecimento atmosférico nunca visto em 800 mil anos e com isso, o
clima como nós o conhecíamos num passado recente tem se alterado, causando um
grande impacto na sociedade.
As universidades têm tido desde sua criação há séculos um papel importante
na transmissão no conhecimento científico e tecnológico. Elas vêm se mantendo
dentro de um importante tripé, ou seja, ensino, pesquisa e extensão. No entanto, um
novo pilar deve ser adicionado a sua manutenção, ou seja, uma preocupação com o
desenvolvimento de suas atividades de forma sustentável. As atividades acadêmicas
devem propiciar uma educação ambiental e a formação de um pensamento crítico em
relação à exploração racional do meio ambiente, onde as instituições de ensino
superior (IES) devem ter um sistema integrador de suas gestões ambientais,
minimizando os impactos socioambientais causados por suas próprias atividades.
A maior parte das universidades brasileiras ainda estão se conscientizando
da importância de um desenvolvimento sustentável enquanto que outras já possuem
algumas ações com mais de 25 anos neste pensamento. No entanto, a importância
deste livro se dá, ao meu ver, nos exemplos que algumas universidades fornecem sobre
seus direcionamentos rumo a sustentabilidade. Estou certo que através destes
exemplos, várias outras IES poderão se sentir motivadas e, desta forma, possamos
educar cada vez mais nossos jovens dentro de uma consciência ambiental e que este
conhecimento possa ser transmitido de geração para geração. Somente unidos
através da educação teremos condições de fazer a diferença e lutar para a preservação
do meio ambiente de nosso ainda único planeta habitável.

Prof. Tercio Ambrizzi


Superintendente de Gestão Ambiental - Universidade de São Paulo

xi
xii
Apresentação
No mundo todo, pressionadas pelo seu papel estratégico junto à sociedade, e de
referência na formação de lideranças, Instituições de Ensino Superior - IES vêm
colocando esforços para alinhar suas políticas à ideia do desenvolvimento
sustentável.
As IES no Brasil também vêm desenvolvendo ações nos pilares de pesquisa,
ensino, extensão e gestão de seus campi institucionalizando a questão
socioambiental nos seus processos de planejamento e gestão. Não há dúvidas que se
configura em momento propício à criação de espaços de trocas de experiências, com
projetos de co-produção com os atores da sociedade e governo, de forma a acelerar esta
transição rumo às universidades sustentáveis.
Entre os desdobramentos do seminário internacional “II National Workshop on UI
GreenMetric for Universities in Brazil – 2018”, organizado pela Superintendência
de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo – SGA/USP, realizado em junho
de 2018 em São Paulo - SP, destaca-se a criação da Rede Universidades
Sustentáveis com ações e interesses no tema da Sustentabilidade, visando o
intercâmbio de boas práticas.
Este Livro reúne um conjunto de textos que tratam de experiências e desafios das
instituições desta Rede e tem como objetivo fortalecer a troca de experiências em
ambiente de cooperação acadêmica entre instituições de ensino superior. São 19 de
capítulos e 68 autores atuando em pesquisa, ensino, extensão e gestão de campi
universitários. Os estudos de casos aqui relatados abordam práticas interessantes e
que estão dando certo na gestão de resíduos sólidos; a questão energética também é
um dos temas abordados; áreas verdes e biodiversidade e sua integração no dia a dia
destas universidades; planejamento e os desafios na elaboração de planos diretores de
campi universitários.
Estes e muito mais são exemplos de que é possível avançar e transformar, ter
nossos espaços universitários como exemplos e referências de boas práticas no
alinhamento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Também fica evidente
nos capítulos a importância de participação de todos atores de dentro e fora da
universidade, especialmente engajando as comunidades onde estas universidades se
inserem.
Os resultados demonstram que estes processos ampliam os aprendizados,
estimulam colaboração, e a melhoria de desempenho reflete em significativa
economia em seus orçamentos.

Prof. Tadeu Malheiros

xiii
xiv
Capítulo 1

Iniciativas de gestão de resíduos da


Universidade de São Paulo e
Universidade de Michigan

Rodrigo Martins Moreira


Tadeu Fabrício Malheiros
Jose Francisco Alfaro
Noah Webster
Robert Marans

1
Rodrigo Martins Moreira
Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental - EESC/USP (2017).
Mestre em Ciências Agrárias (2014). Graduado em Saneamento
Ambiental (2011) e Gestão Ambiental (2013). Professor do curso de
gestão ambiental - UEMS (08/2017 - 12/2019). Professor do
Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de
Rondônia - Campus de Ji-Paraná, fomentando atividades integradoras
entre academia, governo, e iniciativa privada. Atua nas áreas de
Geotecnologias e Análise Ambiental Aplicada, desdobrando-se em
Geoprocessamento; Gestão de Recursos Hídricos, Avaliação de
Sustentabilidade; Gerenciamento de Resíduos Sólidos; Elaboração e
aplicação de Indicadores de Sustentabilidade.

Tadeu Fabrício Malheiros

Possui graduação em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo (1991), engenharia ambiental pela
Faculdade de Saúde da USP (1993), mestrado em Resources
Engineering - Universitat Karlsruhe (1996), doutorado em Saúde
Pública pela Universidade de São Paulo (2002), pós-doutorado em
Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública - USP (2006).
Atualmente é professor associado na Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo. É coordenador do programa de
Pós Graduação Mestrado Profissional em Rede Nacional para Ensino
das Ciências Ambientais. Tem experiência na área de Engenharia
Ambiental, com ênfase em Saúde Ambiental e Sustentabilidade,
atuando principalmente nos seguintes temas: indicadores de
sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, meio ambiente, saúde
pública, resíduos sólidos e gestão ambiental.

2
Jose F. Alfaro

O trabalho do Prof. Alfaro usa ferramentas de engenharia e


sistemas complexos, como modelagem baseada em agentes,
dinâmica de sistema e ciência de rede. De acordo com sua
posição como professor da prática, Alfaro tem um foco
aplicado. Isso o levou a trabalhar em estreita colaboração com
comunidades, indústria, ONGs e organizações governamentais
no desenvolvimento de seu trabalho. Prof. Alfaro também é o
fundador e diretor da Sustainability Without Borders, uma
organização interdisciplinar de estudantes que trabalha com as
comunidades para desenvolver parcerias éticas para o
aprendizado e o aprimoramento da sustentabilidade. Essa
organização trabalha para proporcionar aos alunos uma
experiência engajada significativa que também aumenta a
capacidade das comunidades e ONGs com as quais trabalha e
aumenta seu bem-estar.

Noah J. Webster

Cientista e Assistente de Pesquisa no Programa de


Desenvolvimento de Cursos de Vida no Instituto de Pesquisa
Social da Universidade de Michigan. A pesquisa do Dr.
Webster enfoca os temas inter-relacionados de: 1) influências
bidirecionais da saúde, comportamentos relacionados à saúde
e relações sociais; e 2) o papel dos contextos ambientais e
sociais na formação das disparidades de saúde ao longo da
vida. Ele tem um Ph.D. em Sociologia pela Case Western
Reserve University, com especializações em Sociologia
Médica e Métodos de Pesquisa.

Robert Marans
O professor Marans conduziu pesquisas e estudos avaliativos
que tratam de vários aspectos de comunidades, bairros,
moradias, parques e instalações recreativas. Sua pesquisa se
concentrou em atributos do ambiente físico e sociocultural e
sua influência no comportamento individual e em grupo, bem-
estar e qualidade de vida. Grande parte da pesquisa do Dr.
Marans tem sido no contexto de áreas urbanas, incluindo o
metrô de Detroit. Seu trabalho atual trata de questões culturais
de sustentabilidade e conservação de energia em ambientes
institucionais, incluindo universidades e o impacto dos
ambientes naturais e construídos na qualidade de vida.

3
INTRODUÇÃO
A Universidade de São Paulo (USP) foi fundada em 1934 e conta com 11 campi,
ocupando um total de 76 milhões de m2, desses, 12 milhões de m2 são reservas ecológicas.
Sua estrutura organizacional é composta por 31 setores administrativos, 48 escolas e
institutos de pesquisa, 49 bibliotecas, quatro hospitais e quatro bibliotecas.
A USP tem um histórico ativo de ações referentes à temática de gestão ambiental e
sustentabilidade. No entanto, questões sobre a continuidade destas ações e suas
fragilidades são temas importantes que devem ser ressaltados quando estas iniciativas são
descritas.
Um de seus programas socioambientais de maior destaque é o USP Recicla, com mais
de 20 anos de existência, atuando nas áreas de educação ambiental e gestão de resíduos
sólidos em diversos campi da USP.

METODOLOGIA
Coleta dos dados
As informações presentes neste texto foram coletadas a partir de entrevistas
semiestruturadas e aplicação de questionários via plataforma online a participantes e ex-
participantes do programa, artigos, e atas das reuniões de comissões do programa, além
de textos disponíveis na internet.
O questionário foi aplicado no ano de 2017. Ao final deste questionário havia a opção
de o respondente marcar uma reunião com o pesquisador a fim de um maior
aprofundamento no tema. O questionário foi enviado a atores chave na história dos
programas de gestão e gerenciamento de resíduos da USP e Universidade de Michigan, e
foi elaborado e disponibilizado para resposta na plataforma online GoogleForms.
Foram obtidas um total de 15 respostas, de diversos campi da USP, e duas pessoas da
Universidade de Michigan. Destas, quatro pessoas concordaram em ser entrevistadas. As
entrevistas tiveram duração entre 30 minutos e uma hora, e foram gravadas e
transcrevidas. O material das entrevistas foi utilizado principalmente na discussão de
análise dos resultados. Para efeito de sigilo, nomes não serão citados neste trabalho.

Como funciona o USP Recicla?


As ações do USP Recicla iniciaram em 1993 no campus da USP Capital em São Paulo
posteriormente estendendo suas ações aos diversos campi da USP e hoje é o programa de
cunho socioambiental mais consolidado e com maior quantidade de produtos.
O programa espelha as postulações da Conferência Rio 92, Agenda 21 e no programa
de Qualidade Total, tem foco em questões ambientais e gestão de resíduos. As ações do
programa são de cunhos educativo, através de palestras aos discentes ingressantes, aos

4
técnicos administrativos e funcionários terceirizados responsáveis pela limpeza, bem
como, prático, com diversas intervenções de conscientização nos espaços físicos da
universidade, como a identificações de cestos de lixo e intervenções nos restaurantes
universitários visando a redução de desperdícios.

A missão do programa é a seguinte, (USP Recicla, 2016):

“O USP Recicla – da Pedagogia à Tecnologia nasceu em 1993, fruto da


preocupação com as questões socioambientais e com o desejo de que a USP
ampliasse suas contribuições nesse campo. O USP Recicla é um programa
permanente da Universidade de São Paulo.
O “USP Recicla – da Pedagogia à Tecnologia” é um programa permanente da
Universidade de São Paulo, desenvolvido por suas unidades e órgãos em
parceria com a Agência USP de Inovação/USP, a qual tem a função de articular
e facilitar sua implantação e promoção.
Por meio de iniciativas educativas, informativas e de gestão integrada de
resíduos, o USP Recicla busca transformar a Universidade de São Paulo em
um bom exemplo de consumo responsável e de destinação adequada dos
resíduos. O público prioritário do Programa é a Comunidade USP (estudantes,
professores, pesquisadores, funcionários e visitantes). São aproximadamente
100.000 pessoas, das quais cerca de 15.000 se renovam a cada ano.
Na medida do possível, o USP Recicla também atende o público em geral por
meio de:
• Disponibilização de informações no “site”
• Atendimento a consultas telefônicas
• Atendimento de consultas via correio eletrônico ([email protected]);
• Atendimento a visitantes
• Realização ou colaboração em eventos abertos à sociedade em geral
• Formulação de parcerias com Prefeituras Municipais, organizações da
sociedade civil e outras instituições.
O Programa está presente nos sete campi da USP e conta com a atuação de
docentes, funcionários e alunos. Partindo da noção de redes sociais, o USP
Recicla possui uma estrutura organizativa baseadas nas comissões de unidades
ou órgãos.
Atualmente o USP Recicla é financiado principalmente por verbas do
orçamento da USP.”

Os objetivos do Programa, (USP Recicla, 2016) são:

“O USP Recicla tem como missão contribuir para a construção de sociedades


sustentáveis por meio de ações voltadas a minimização de resíduos,
conservação do meio ambiente, melhoria da qualidade de vida e formação de
pessoas comprometidas com estes ideais.
Neste sentido, suas iniciativas visam:
• Estimular a comunidade USP a incorporar valores, atitudes e
comportamentos ambientalmente adequados, em especial, a redução na
geração de resíduos.

5
• Colaborar para o estabelecimento de políticas de conservação,
recuperação, melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida na USP, no
seu entorno e interfaces.
• Contribuir para fortalecer as preocupações e os cuidados
socioambientais dos estudantes que anualmente se formam na USP.
• Constituir um processo de gestão compartilhada e integrada de
resíduos na USP, tornando-o um bom exemplo para a sociedade.
• Apoiar e fomentar a promoção de iniciativas voltadas aos objetivos
acima e que articulem aspectos de pesquisa, ensino, extensão e gestão
cotidiana da Universidade.”
Os principais produtos do USP Recicla são presentados no Anexo 2.

USP Recicla – Desafios e perspectivas


O Programa USP Recicla, em seus 26 anos, atuou em seis campi e mobiliza mais de
500 pessoas em suas atividades (SGA, 2017), oferecendo, cursos de especialização na
área ambiental, além das ações e intervenções de educação ambiental a funcionários e
discentes.

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


A estrutura do USP Recicla
O Programa USP Recicla foi consolidado, inicialmente, nas cidades de Ribeirão Preto,
Piracicaba, Pirassununga, São Carlos e Bauru. A organização estrutural do USP Recicla
trabalha com a formação de comissões, compostas por um coordenador mais quatro
pessoas, dentro de cada unidade dos campi onde o Programa foi instalado, de maneira a
fomentar a descentralização.
Parte deste modelo de estrutura é devido a cada unidade ter maior conhecimento do
que é produzido e qual o destino a ser tomado, como menciona uma das pessoas
entrevistadas é a seguinte: “As comissões são voltadas dentro da unidade. Então, a
matemática tem uma realidade diferente da química, ou engenharia. Então, por exemplo,
é mais fácil ela saber qual resíduo ela tem e qual o destino.”
De acordo com dados das entrevistas, o programa funciona melhor nos campi do
interior, como São Carlos, Ribeirão Preto e Piracicaba, devido à contratação de
educadores ambientais com caráter de mobilização da comunidade. Esses educadores são
responsáveis pela organização das palestras de apresentação do programa aos
funcionários e discentes ingressantes, atuando em conjunto com a comissão do USP
Recicla de cada unidade.

A trajetória do USP Recicla no Campus de São Carlos


No campus de São Carlos as atividades do USP Recicla começaram em meados de
1996, com a contratação de um educador ambiental designado exclusivamente para

6
trabalhar junto ao programa, e desde 2004 conta com uma Comissão Interna em cada
Unidade do campus, num total de 7 comissões. Há também uma Comissão Local do
Campus, formada pelo coordenador de cada uma das Comissões Internas.
O prédio no qual foram iniciadas as atividades, em caráter de teste, foi o Edifício
administrativo E1, da Escola de Engenharia de São Carlos, que também aportava o
Departamento de Engenharia de Produção, do Centro de Tecnologia Educacional para
Engenharia (CETEPE) e da Prefeitura do Campus Administrativo de São Carlos
(PCASC).
A implantação do programa obteve êxito e, assim, suas atividades foram estendidas
aos outros institutos do campus de São Carlos, como o Instituto de Química de São Carlos
(IQSC) e o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC).
O USP Recicla do campus de São Carlos é um dos mais ativos de todos os campi da
USP. Suas ações de educação ambiental vão desde iniciativas administrativas, a
iniciativas que atuam no restaurante universitário e alojamento, além de diversas
intervenções realizadas a fim de conscientizar os discentes e funcionários.
Além disso, o Programa também possuía parceria com a Prefeitura Municipal de São
Carlos, com a coleta seletiva, realizada por três empresas, no entanto, devido à
descontinuidade política da prefeitura municipal, estas três empresas foram transformadas
em uma só. Após um período de reorganização estrutural e funcional desta cooperativa,
em março de 2016, o USP Recicla estava com parceria consolidada com ela. Havia
parceria, também, com a horta municipal, no entanto, também devido à descontinuidade
política da prefeitura municipal, a parceria foi desativada.
Por meio da publicação de Relatórios anuais, o Programa compartilhava suas
experiências com a comunidade. Foram publicados quatro relatórios, referentes aos anos
de 2008/2009, 2009/2010, 2010/2011, e 2011/2013.
Em março de 2016 havia parceria com a Prefeitura do Campus de São Carlos, com o
projeto de Aperfeiçoamento da Coleta Seletiva. Este projeto atua no sentido de contribuir
com a estrutura física do campus, aumentando e identificando os coletores de resíduos
recicláveis, até intervenções de educação e conscientização ambiental, por meio de
minicursos e palestras sobre redução de geração, reuso e reciclagem de resíduos a
comunidade interna e externa a universidade.
Os resultados do Relatório referente as atividades de 2008/2009 (USP Recicla, 2009)
estão resumidos no Quadro 1.

7
Quadro 1 – Relatório do Programa USP Recicla do Campus de São Carlos referente
as atividades de 2008/2009.
Relatório 2008/2009
Pessoas envolvidas 74 pessoas
Projetos 5 projetos
Número de Palestras 39 palestras
Público atingido pelas palestras 1282 pessoas
Atividades educativas para público interno 13 atividades
Público atingido pelas atividades educativas para públicos interno 481 pessoas
Atividades educativas para público externo 31 atividades
Público atingido pelas atividades educativas para públicos externo 1557 pessoas
Quantidade de papel coletado para reciclagem 35.340 kg
Os resultados do Relatório referente as atividades de 2009/2010 (USP Recicla, 2010)
estão resumidos no Quadro 2.
Quadro 2 – Relatório do Programa USP Recicla do Campus de São Carlos referente
as atividades de 2009/2010.
Relatório 2009/2010
Pessoas envolvidas 80 pessoas
Projetos 5 projetos
Número de Palestras 18 palestras
Público atingido pelas palestras 846 pessoas
Atividades educativas para público interno 9 atividades
Público atingido pelas atividades educativas para públicos interno 582 pessoas
Atividades educativas para público externo 16 atividades
Público atingido pelas atividades educativas para públicos externo 759 pessoas
Quantidade de papel coletado para reciclagem 21049 kg
Os resultados do Relatório referente as atividades de 2008/2009 (USP Recicla, 2011)
estão resumidos no Quadro 3.
Quadro 3 – Relatório do Programa USP Recicla do Campus de São Carlos referente
as atividades de 2010/2011.
Relatório 2010/2011
Pessoas envolvidas 80 pessoas
Projetos 7 projetos
Número de Palestras 17 palestras
Público atingido pelas palestras 819 pessoas
Atividades educativas para público interno 1 atividade
Público atingido pelas atividades educativas para públicos interno 12 pessoas
Atividades educativas para público externo 12 atividades
Público atingido pelas atividades educativas para públicos externo 685 pessoas
Quantidade de papel coletado para reciclagem não informado

8
No ano de 2011, o Programa USP Recicla lança seu website na internet com o objetivo,
de acordo com (USP Recicla, 2011):

“A partir do desenvolvimento de um ambiente web próprio, o projeto


visou aproximar a comunidade São Carlense das questões ambientais e
das atividades relacionadas à temática ambiental desenvolvidas no
campus de São Carlos, especialmente as ligadas ao Programa USP
Recicla. O uso do site, dos folhetins via e-mail e das apresentações,
permitiu, por meio da internet, a divulgação das questões ambientais
discutidas pelo Programa, inserindo a comunidade nos debates mais
relevantes nessa área, disponibilizando maiores informações sobre os
projetos desenvolvidos pelo mesmo e contribuindo para a formação
ambiental da comunidade são-carlense. Além disso, o site também
passou a disponibilizar informações relevantes da prefeitura municipal
que antes eram de difícil acesso, como: Dados sobre a coleta seletiva
em cada bairro (datas, horários e mapa da coleta, materiais que são
recicláveis, destino adequado de lâmpadas fluorescentes, pilhas,
resíduos eletro-eletrônicos), realizações de projetos e feiras envolvendo
o meio ambiente na cidade, entre outras. ”

Os resultados do relatório seguinte foram bianuais, representando o período de


2011/2013 (USP Recicla, 2013).
Quadro 4 – Relatório do Programa USP Recicla do Campus de São Carlos referente
as atividades de 2011/2012.
Relatório 2011/2012
Pessoas envolvidas 90
Projetos 6
Número de Palestras 22
Público atingido pelas palestras 763
Atividades educativas para público interno 1
Público atingido pelas atividades educativas para públicos interno 200
Atividades educativas para público externo 11
Público atingido pelas atividades educativas para públicos externo 1035
Quantidade de papel coletado para reciclagem 17370
A partir de 2013, houve uma mudança de estrutura no USP Recicla, onde, de acordo
com uma das pessoas entrevistadas “antes tinha o USP Recicla do campus, no entanto,
agora, está fragmentado. Para que cada unidade tenha seu USP recicla atuante.”. Devido
a isso, as unidades ainda estão se adequando, em questão estrutural, portanto, não estão
produzindo os relatórios anuais, também, não foi repassado para as unidades como será
feita a produção dos relatórios, se serão anuais ou bianuais.
O Programa, até o ano de 2013 contava com uma educadora ambiental, vinculada a
agencia de inovação da universidade, designada especificamente para promover as ações
do USP Recicla, que incluíam palestras de recepção dos novos alunos, e distribuição de
canecas. Além disso, a educadora ambiental, ao longo de seu tempo de atividade, engajou
diversos alunos, inclusive bolsistas, em ações no campus. Um dos principais projetos foi
o de minimização de desperdício no restaurante universitário, onde houveram diversas

9
intervenções de divulgação e engajamento dos usuários do restaurante. O Projeto
alcançou resultados bastante positivos, onde, foi possível observar uma participação
massiva dos discentes para a redução de desperdícios. Além disso, a mesma publicou
diversos trabalhos relatando suas experiências no programa.
Quadro 5 – Relatório do Programa USP Recicla do Campus de São Carlos referente
as atividades de 2012/2013.
Relatório 2012/2013
Pessoas envolvidas 31
Projetos 6
Número de Palestras 1434
Público atingido pelas palestras 1282
Atividades educativas para público interno 13
Público atingido pelas atividades educativas para públicos interno 481
Atividades educativas para público externo 31
Público atingido pelas atividades educativas para públicos externo 1557
Quantidade de papel coletado para reciclagem 14889

Figura 1 – Progressão das atividades do Programa USP Recicla no Campus de São Carlos
de 2008 a 2013.
Em março de 2016, a responsabilidade do USP Recicla do campus de São Carlos
estava vinculado ao Laboratório de Resíduos Químicos do campus. Em março de 2016,
a empresa de coleta seletiva da cidade fazia visitas periódicas ao galpão do USP Recicla
no campus, onde toda sexta-feira o caminhão da cooperativa recolhia os resíduos
recicláveis. O pessoal deste laboratório ficou, então, responsável pela logística de
destinação final de todos os resíduos do campus, de recicláveis, como papel, papelão e
plástico, até pilhas, baterias, equipamentos laboratoriais, solventes e outros resíduos
laboratoriais, resíduos da produção de alimentos dos restaurantes universitários, resíduos
das empresas terceirizadas alocadas dentro do campus, e resíduos das oficinas. Desta
forma, é difícil dizer o que é da alçada do Programa USP Recicla, e o que é da alçada do
Laboratório de Resíduos Químicos.

10
De acordo com uma das pessoas entrevistadas, não existe um consenso quanto às
responsabilidades do Programa USP Recicla, enquanto uns acreditam que o programa
deve focar nas ações práticas diretamente relacionadas reciclagem, outros acreditam que
o programa vai além destas ações de reciclagem, de acordo com um dos discursos o
programa USP Recicla deve focar em promover ações de educação ambiental, por meio
das comissões responsáveis por engajar a comunidade de cada unidade e pela
disseminação de informações sobre redução, reuso e reciclagem de resíduos, ou seja, um
cunho mais comportamental.
Enquanto uns acreditam que o USP Recicla é apenas distribuição de canecas, outros
acreditam que o programa deve se fortalecer mais em engajar a comunidade das unidades.
Por exemplo, uma das pessoas entrevistadas cita suas motivações e algumas ações de seu
departamento, que abrangem diversos âmbitos:

“O CDCC é uma unidade pequena (30 funcionários) que trabalha


com extensão. O nosso envolvimento com o programa sempre foi tentar
implementar as propostas apresentadas pelo programa relacionadas a
redução, reutilização e reciclagem de materiais. As salas possuem as
caixas para descarte de papel que são encaminhados para reciclagem.
Temos conversado sobre maneiras de diminuir a impressão de
documentos, compra de impressores que fazem impressão frente e
verso com o objetivo de diminuir o consumo de papel. Também há
alguns anos não utilizamos copos descartáveis, inclusive em eventos.
Final de 2015 implementamos uma estante de troca onde os
funcionários podem disponibilizar objetos que não tem mais interesse e
pegar outros que são de seu interesse. Não é preciso trocar. Como
programa de extensão trabalhamos com visitas ao Aterro Sanitário e ao
Quintal Agroecológico do CDCC que contem composteira e
minhocario para trabalhar com os resíduos orgânicos, além da proposta
de reutilização de materiais como garrafas PET para montar horta
suspensa e pneus como vasos. Já desenvolvemos projetos junto as
escolas de São Carlos com apoio da FAPESP. Produzimos as canecas
plásticas para o Programa USP Recicla. Minha maior motivação em
continuar participando do programa é transformar a USP em uma
Universidade realmente Sustentável.”

Percebe-se, de acordo com as entrevistas, que o principal estopim para a participação


no programa é a preocupação e engajamento prévio com a temática ambiental.
Desde o rearranjo do programa em 2015, onde, cada unidade deveria ter sua própria
comissão autônoma, de modo a fomentar um processo de desfragmentação e
descentralização de tomada de decisão, cada unidade do Campus de São Carlos formou
sua própria comissão composta por um presidente e mais quatro pessoas, no mínimo. O
processo de seleção dos participantes das comissões funcionou de maneira indicativa,
onde o diretor da unidade indicava pessoas que estavam engajadas na temática, bem
como, a partir de participação voluntária.

11
O Programa USP Recicla no Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação, no
ano de 2016 está ligada ao Gabinete de Planejamento e Gestão. O USP Recicla no
Instituto de Física de São Carlos está vinculado à Comissão de Gestão Ambiental da
unidade. O USP Recicla do Instituto de Química de São Carlos está vinculado à
Comissões de Assessoria a Assuntos Administrativos. O USP Recicla da Escola de
Engenharia de São Carlos está vinculado à Comissão Assessora para Gestão da Qualidade
e Produtividade.

Desafios do Programa USP Recicla


A Figura 2 mostra a porcentagem de resposta dos entrevistados quanto aos fatores de
influência na fragilização do programa.

Figura 2 – Porcentagem de resposta dos entrevistados quanto aos fatores de influência


na fragilização do programa.
Por ser um programa descentralizado e com ações de cunho interdisciplinar, ao longo
de sua existência, encontrou vários desafios. No entanto, a integração e transversalidade
sempre foi um dos maiores obstáculos do programa, como citado em um dos discursos:
“Se não houver apoio da Direção, da Assistência Administrativa e da
equipe de limpeza, não há como manter o programa.”
A seguir são discutidos os principais aspectos de fragilização do programa.
- Insuficiência de recursos humanos: com um baixo contingente de pessoas envolvidas
com dedicação exclusiva. O USP Recicla abrange mais de três unidades da universidade,
contando com diversos projetos de extensão, parcerias com a municipalidade e associação
de catadores, e, mesmo assim, são poucas as pessoas com dedicação exclusiva destinadas
ao programa. A SGA tem mitigado essa problemática fornecendo bolsas para estagiários
atuarem juntamente as comissões. No entanto, devido a rotatividade destes discentes

12
estagiários, o programa fica fragilizado por sempre ter de renovar o treinamento destes
indivíduos. Além disso, o programa contou, e ainda conta, com a boa vontade e a
dedicação de voluntários, discentes, docentes, funcionários e técnicos administrativos
para sua continuidade.
Um ponto levantado por diversos entrevistados foi a rotatividade dos funcionários
responsáveis pela limpeza dos campi, devido a ser um serviço terceirizado, a taxa de
evasão é alta, e o treinamento para a correta identificação dos sacos, bem como, questões
básicas, como não misturar os resíduos recicláveis e que os são destinados ao aterro
sanitário, são problemas recorrentes que fragilizam as ações do programa.
- Insuficiência de recursos financeiros: de acordo com o discurso dos entrevistados, o
programa sempre trabalha com recursos limitados, desde que a discussão do tema
socioambiental não é uma prioridade da universidade. No entanto, com a criação da SGA,
mais prioridade tem sido dada ao tema, bem como, ao programa. Uma das ferramentas
para isso foi o edital lançado em 2013 a fim de fomentar, especificamente, projetos com
caráter de sustentabilidade. De acordo com um dos entrevistados, no momento do repasse
da verba para a execução dos projetos, a universidade entrou em crise econômica e o
recurso não foi disponibilizado aos pesquisadores.
- Insuficiência de infraestrutura: nas entrevistas, um dos pontos levantados para a
descontinuidade do programa foi a falta de um espaço físico dedicado ao programa, de
acordo com um discurso de um dos entrevistados de uma das unidades onde o USP
Recicla foi inserido, isso afetou a construção da identidade do programa, visto que, o
programa estava sempre mudando de sala, e prédios. A falta de uma sala fixa dificultava
o acesso da comunidade ao programa.
- Conflitos de interesses: o programa conta com uma rede de relações interpessoais
complexas e dinâmicas, onde várias esferas da universidade devem conversar entre sim,
de funcionários a docentes, onde os poucos educadores ambientais, com dedicação
exclusiva as atividades do programa, devem se portar como mediadores. Além disso,
devido ao USP Recicla não possuir uma estrutura de liderança definida, assim, papéis de
cobrança e incentivo geralmente são tomados como cargos de confiança. Isso tem gerado
diversos atritos nas relações profissionais dos atores inseridos no programa.
- Vontade política: A falta de apoio pelos tomadores de decisão e pelos chefes de seção
podem se tornar um fator limitante para o engajamento dos funcionários. De acordo com
o discurso de uma das pessoas entrevistadas
“Mesmo que você tenha pessoas superengajadas, super se doando
para fazer a coisa acontecer, se você não tiver um chefe que te
libere, você não vai, não vai fazer [...] a gente aqui como
funcionário, a gente é contratado como CLT, então a gente precisa
dar satisfações para o chefe imediato, e ele é o chefe da área, então
esse tipo de organograma que já existe em toda empresa e a USP
segue esse modelo, né, fragiliza. Quando você tem, não só um

13
chefe imediato, mas um chefe da seção, da unidade, que não
incentive, o negócio para. [...] Mesmo que o diretor libere, mas
seu chefe imediato ache desnecessário, o incentivo para aquilo
será mínimo. Porque querendo ou não, é um período do seu
horário de trabalho que você está se dedicando a uma coisa que
não é pertencente a sua seção, então se seu chefe imediato não vê
importância naquilo, ele pode te perseguir por isso.”
- Descontinuidade Política: Um dos pontos levantados por uma das pessoas
entrevistadas, ao ser questionada quanto a parcerias do Programa USP Recicla com a
prefeitura, foi a descontinuidade política e conflitos de interesse. Pois, de acordo com seu
discurso, por exemplo, em um dos campi havia a pareceria entre a prefeitura e a horta
municipal, onde, a universidade enviava material orgânico e compostado para servir
como adubo aos alimentos ali cultivados. No entanto, ocorreram novas eleições e devido
a mudança de prefeito, a parceria foi descontinuada.
Além disso, também é citado a descontinuidade política por meio dos dirigentes das
unidades, que podem influenciar a descontinuidade do programa. Vê-se que, mesmo um
programa com nome forte, e ações pertinentes no campus, acabam sucumbindo à mercê
da vontade política de tomadores de decisão.
Outro exemplo também é que na cidade havia, inicialmente, três cooperativas de
reciclagem, devido à mudança de prefeito e conflitos de interesses, essas três cooperativas
se fundiram em uma, o que ocasionou diversos problemas, como, a fragilização da
reciclagem na cidade, afetando, também, as ações do Programa USP Recicla.
Alguns outros fatores também podem influenciar e dificultar a caminhada de
programas focados em redução de geração de resíduos. Uma das pessoas entrevistadas,
cita, por exemplo, o caso do surto da gripe H1N1, onde o programa em seu campus ficou
muito fragilizado neste aspecto, pois, foi fomentado o não uso de materiais duráveis para
evitar contaminação.
No entanto, algumas unidades se mostram mais engajadas, melhor estruturadas e
proativas que outras. Por exemplo, algumas unidades possuem manuais de gerenciamento
de seus resíduos, produzem cartilhas e distribuem para a comunidade. Enquanto outras se
mostram mais desestruturadas, e sem produções significativas.
Em suma, o principal apontamento das pessoas entrevistadas quanto aos desafios do
USP Recicla tem sido a falta de ações de engajamento da comunidade por parte das
comissões, bem como, falta de organização e estrutura dentro destas comissões.
Além disso, devido a temática ambiental não ser uma das áreas prioritárias da
universidade, o programa muitas vezes encontrou dificuldades, como mostrado no
discurso de uma das pessoas entrevistadas.
“A área ambiental sempre apresenta conflito de interesses e ainda é
entendida por alguns gestores como um "mal necessário", que

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"atrapalha o progresso”, quando obrigados por lei. Precisamos fomentar
a superação disso. ”

Fatores de Sucesso do USP Recicla


A Figura 3 a seguir mostra a porcentagem de resposta dos entrevistados quanto aos
fatores de influência no sucesso do programa.

Figura 3 – Porcentagem de resposta dos entrevistados quanto aos fatores de influência


no sucesso do programa.
Porém, não só de desafios foi feita a caminhada do USP Recicla, vários fatores
influenciaram para que o programa se consolidasse como um modelo de iniciativa
socioambiental para universidades e empresas. O Programa USP Recicla é um programa
voltado para a educação ambiental e engajamento da comunidade, ele trabalha tanto na
parte de mobilização, quanto na parte de operacionalização da logística e gestão de
resíduos do campus. Como mostra o discurso de uma das pessoas entrevistadas:
“A gente (USP Recicla) orienta o pessoal da limpeza que vai recolher
esse material separado e que vai trazer aqui no nosso galpão. Esse
pessoal está orientado a fazer isso. Meu galpão está sempre cheio.
Agora, se a orientação está passada em outro nível (nas unidades). Isso
a gente não sabe. Agora, o que foi jogado no cesto abóbora ou na
caixinha a mocinha (da limpeza) pegou! Agora o que não foi orientado
para jogar lá e já foi para o lixo, isso a gente não tem o controle. É isso
é uma questão de orientação. É uma coisa de costume, depois que você
acostuma fica fácil. Os alunos são flutuantes. Todo ano a gente entrega
as canequinhas para o aluno novo. Se ficarmos sem entregar um ano,
aquele ano o cara não vai saber se tem canequinha, então é uma coisa
que tem de ser constante. Daqui a pouco o aluno sai e entram novos, daí
você tem de falar tudo de novo.”

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Além disso, alguns pontos chave que podem ser identificados nos discursos das
diversas pessoas entrevistadas, são estes os principais:
- Infraestrutura: Como dito por uma das pessoas entrevistadas:
“A infraestrutura é indispensável, sendo um pressuposto de ordem material
de importância equivalente à disponibilidade de recursos financeiros.
Lembro que o IQSC possuía (e deve possuir ainda) um espaço importante
para acolhimento dos materiais recicláveis. A existência desse espaço foi
de suma importância para estruturarmos nossas iniciativas na unidade.”
- Engajamento da comunidade: o programa sempre contou com um alto engajamento
da comunidade acadêmica da universidade, na maior parte das intervenções contou com
o apoio de diversos voluntários dentre docentes, discentes e funcionários. Além disso, as
comissões das unidades dos programas são compostas por docentes e técnicos voluntários
engajados na temática da gestão de resíduos e que assumem o papel de multiplicadores
de ações socioambientais.
Além disso, o USP Recicla sempre buscou engajar a comunidade através de um senso
de identidade, de pertencimento a algo maior. Um exemplo citado por uma das pessoas
entrevistadas foi o uso da caneca, onde, os discentes ingressantes utilizavam a caneca
devido a influência dos discentes veteranos.
Uma das pessoas entrevistadas reforça o engajamento da comunidade como pilar do
sucesso do Programa em seu campus.
“Acredito que as pessoas envolvidas, sempre comprometidas e
engajadas, tiveram papel relevante para a implantação e continuidade
do programa no campus de Ribeirão Preto, principalmente pelo
estímulo e pela presença da educadora ambiental. Também considero
fundamental a própria estrutura organizacional do programa, ou seja, a
composição de comissões de Unidades, vinculadas a uma comissão do
campus, que por sua vez era anteriormente ligada a um Comitê Gestor
no campus USP capital. Essa estrutura existente até a instituição da
Superintendência de Gestão Ambiental da USP, que hoje tem avaliado
o futuro do programa. No meio do percurso do programa considero um
impacto negativo a extinção da Coordenadoria Executiva de
Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (CECAE), órgão
onde o programa USP Recicla foi pensado, gerado e instituído. ”
- Vontade política: O programa, principalmente em seu início, e após a criação da
Superintendência de Gestão Ambiental, possuiu bastante respaldo de vontade política.
Uma das pessoas entrevistadas cita, por exemplo, que é necessária, além da motivação
dos diretores, e coordenadores, os chefes imediatos das seções. Este é um fator
importante, pois de acordo com a experiência desta pessoa, o incentivo de seu chefe
imediato foi extremamente motivacional para sua participação.
No caso específico do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, uma das
pessoas entrevistadas cita que após a criação do Gabinete de Planejamento e Gestão no
ano de 2013, houve maior engajamento e apoio por parte dos tomadores de decisão ao

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programa, citando- como um “forte apoiador dentro da unidade do ICMC.” O órgão tem
funcionado como um mediador nos trâmites referentes às atividades do Programa dentro
da unidade.
- Recursos humanos capacitados: mesmo com um baixo contingente, as poucas
pessoas que foram contratadas como educadoras ambientais fizeram total diferença na
caminhada do programa, sendo capazes de engajar e mobilizar diversas pessoas, tanto
dentro quanto fora da universidade, dentro e fora do Brasil. Além de tudo, compartilhando
as experiências do programa em congressos e artigos científicos, fomentando e auxiliando
que outras universidades conseguissem implantar seus próprios programas
socioambientais, relacionados ou não, com o tema de gestão de resíduos e educação
ambiental. “Os recursos humanos são o motor do programa, e o principal nó a ser
resolvido, pois a maior parte das pessoas não se interessa em participar com tanto
compromisso desse tipo de iniciativa.”
- Recursos financeiros: Algumas das pessoas entrevistadas citam a crise que a
universidade passa como um fator que contribuiu para o sucesso de algumas atividades
do programa. Isso, devido ao fomento a diminuição do consumo de bens de consumo e
duráveis, por exemplo, diminuição de impressão, envolvendo papel e toners e
recuperação de alguns resíduos químicos com potencial de reaproveitamento.
- Respaldo através de Portarias e Resoluções da Universidade: Apenas uma das
pessoas entrevistadas citou este item em seu discurso.
“O respaldo através de portarias e resoluções é de suma importância.
Quando a Comissão Interna do USP Recicla no IQSC passou a figurar
ao lado de outras comissões e órgãos colegiados no próprio website da
unidade, acabamos nos sentindo mais fortalecidos e reconhecidos. Os
recursos financeiros são imprescindíveis para qualquer programa
educacional [...] infelizmente não lembro de minha unidade demonstrar
tanta vontade política em prol das ações do programa. Era claro que os
dirigentes da unidade não compreendiam a importância e abrangência
do USP Recicla, inclusive ignorando que as ações do programa vão
muito além do que seu nome sugere (apenas ações de reciclagem).”
Todas as dimensões aqui ressaltadas são de fundamental importância para o sucesso
do programa, algumas são mais pertinentes que outras, mas não devem se sobrepor.

Breve apanhado do Programa USP Recicla em outras unidades e campi


da Universidade de São Paulo

Programa USP Recicla da Escola de Agronomia Luiz de Queiroz


(ESALQ)
O Programa USP Recicla foi instituído na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, no
dia 14 de novembro de 2012, onde foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo,
a Portaria ESALQ nº. 15, que institui a Comissão do Programa USP Recicla.

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Aos membros da Comissão cabia elaborar o planejamento, bem como executar e
implementar ações estratégicas na USP/ESALQ, relacionadas a Educação Ambiental e
Gestão Compartilhada de Resíduos Sólidos, além de apoiar e participar das ações
propostas por grupo (s) de trabalho, elaborar relatórios e balanços de ações semestrais
para apresentar ao Coordenador local do Programa e ao dirigente da Unidade.
Uma dessas ações e iniciativas proposta pelo USP Recicla/ESALQ, é o Centro de
Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), iniciou suas atividades em
dezembro de 2009. Esta iniciativa é ligada ao Centro de Computação Eletrônica (CCE)
da USP, e tem como missão propiciar o descarte adequado de materiais de informática e
de telecomunicações da USP.

Programa Poli Recicla da Escola Politécnica da USP (Poli)


A experiência da POLI de acordo com seu sítio na internet diz (POLI RECICLA,
2016):
“O Programa Poli USP Recicla iniciou suas atividades no segundo semestre de
2006, integrando a Escola Politécnica ao Programa USP Recicla, de
responsabilidade da COCESP (Coordenadoria do campus de São Paulo), e
dedica-se a promover a gestão sustentável dos resíduos dentro da USP. A
grandeza da Escola (uma comunidade de mais de 17.000 pessoas/dia
distribuídas em oito edifícios) e a complexidade dos resíduos gerados, que
incluem desde resíduos típicos de escritório até resíduos de diferentes
laboratórios, levaram o projeto a se iniciar através de um diagnóstico da
situação momentânea atendendo as exigências impostas pela Política Estadual
de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo e de outras legislações pertinentes.
Temos em atividade os seguintes processos: Gestão de Lâmpadas; Gestão de
Pilhas e Baterias; Gestão de Resíduos Laboratoriais; Gestão de
Toners/Cartuchos; Coleta Seletiva de Resíduos Não Perigosos. Além disso, o
Poli USP Recicla tem por missão incorporar a gestão sustentável dos resíduos
gerados ao sistema de gestão da Escola Politécnica, além de estimular a
comunidade a participar deste processo. O programa é delineado em
consonância com as diretrizes da Escola, buscando cumprir na íntegra a
legislação vigente e o desenvolvimento de soluções mais avançadas. O Poli
Recicla é gerenciado por uma Comissão composta por 2 professores (3 anos),
3 funcionários (3 anos) e 2 alunos (1 ano). Completam a equipe quatro Alunos
Monitores e um gestor, que com a colaboração da comunidade Poli buscam de
forma participativa soluções simples e eficazes. A equipe do Poli Recicla
sugere nomes que participam ativamente dos processos e a Diretoria da Poli
escolhe os membros da comissão.”
A unidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo tem um histórico
interessante de resultados com o Programa USP Recicla. Uma de suas iniciativas foi a
coleta de lâmpadas fluorescentes, que, desde que foi implantada em 2006, até o ano de
2012, foram encaminhadas para descontaminação mais de 25 mil unidades, além disso,
nestes quatro anos ainda foram coletadas 3 toneladas de pilhas e baterias.
A unidade também possui um sistema de logística reversa, onde toners e cartuchos de
tinta são retirados pelos fabricantes. Já seus aparelhos eletroeletrônicos, após sua
funcionalidade expirada, são encaminhados para o Centro de Descarte e Reuso de

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Resíduos de Informática da USP, onde são reaproveitados. Neste período, uma média de
1,4 toneladas de materiais recicláveis por semana, eram levados por uma cooperativa.
O Poli Recicla, ainda, fornece treinamento sobre gestão de resíduos para os
funcionários responsáveis pela limpeza, uma vez que são terceirizados e têm uma grande
rotatividade. O treinamento serve para sensibilizar sobre a temática de gestão de resíduos,
fornecendo informações pertinentes quanto como funciona o trabalho, no que precisa
melhorar, novidades da área, quais as diretrizes para o correto gerenciamento dos
resíduos.

Programa USP Recicla de Ribeirão Preto


O Programa USP Recicla iniciou suas atividades no Campus da Usp de Ribeirão Preto
no ano de 1996, desde este período já concretizou diversas atividades relacionadas a
gestão de resíduos no campus.
Um dos produtos mais palpáveis foi a publicação do Guia Tá na Mão: Olhando os
Resíduos e Repensando as Práticas – Gestão de Resíduos no Campus da USP de Ribeirão
Preto.

Outros programas de cunho socioambiental da Universidade de São


Paulo

Programa Pessoas Aprendem Participando (PAP)


O Pessoas que Aprendem Participando (PAP) elaborado pela Superintendência de
Gestão Ambiental da USP, em 2014, funciona através da metodologia de Rede de
Multiplicadores. Onde profissionais da USP, técnicos e funcionários, serão responsáveis
pela formarão socioambiental de outros profissionais da universidade. O projeto conta
com a coordenação de uma educadora ambiental ligada diretamente à SGA.
A ideia central do programa é formar os funcionários da USP de maneira crítica em
temas referentes a temática socioambiental. De maneira que todo o conhecimento
produzido dentro da USP, referente a sustentabilidade, seja aplicado e disseminado aos
funcionários e seus colegas de trabalho.
O programa é dividido em níveis, onde o primeiro nível, o PAP 1, foi composto por
20 funcionários que estavam inicialmente envolvidos com a temática socioambiental da
USP, entre eles, alguns professores. Os PAPs 2 contaram com 180 participantes
multiplicadores.
Cada participante do PAP 2 foi responsável pela formação de mais 30 servidores.
Assim, espera-se que todos os 17 mil funcionários da USP sejam apresentados ao
programa.

19
Superintendência de Gestão Ambiental e a Política Ambiental da
Universidade de São Paulo
A Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP iniciou suas atividades no
final de 2012. Desde então tem moldado a identidade socioambiental da universidade,
além de fomentar e dar respaldo a caminhada em direção a sustentabilidade através da
consolidação de sua visão, missão e iniciativas.
A SGA tornou-se um marco na discussão da temática socioambiental da USP por ser
um órgão com missão e orçamento exclusivamente focado neste tema. Funcionando como
um órgão estrategista, ela elabora as demandas que deverão ser cumpridas nos âmbitos
dos campi, unidades e museus que compõem a universidade.
A SGA lançou em 2013 um edital estimulando projetos de sustentabilidade na
universidade, onde vários projetos, em todos os campi foram contemplados com subsídio
financeiro. No ano de 2014, inovou ao iniciar as discussões sobre a criação da Política
Ambiental da USP, onde foi definida a identidade ambiental da USP, a partir da
postulação dos princípios, diretrizes, missão e metas para a temática da gestão
socioambiental da universidade.
O Quadro 6 (SGA, 2015) mostra os detalhes da política ambiental da USP.
Quadro 6 – Detalhes da Política Ambiental da USP.

TERMO DEFNIÇÃO QUEM FAZ?

Conjunto de princípios, objetivos, diretrizes e SGA


instrumentos de gestão do Programa USP Ambiental GT’s
que inclui: a política ambiental da USP, políticas SEF
Política ambiental: temáticas, o Plano de Gestão Ambiental e Planos Coordenadores de
Temáticos, os Plano Diretores Ambientais e os GT’s
Programas Ambientais. Conselhos Gestores
Comissões Internas

Conjunto de princípios, objetivos, diretrizes e


Política ambiental
instrumentos estabelecidos pela instituição, para GT’s e SGA
temática da USP
traçar os seus rumos ambientais.

É um instrumento de implementação da política


Plano de Coodernadores de
ambiental da USP, que inclui diagnósticos, objetivos,
GT’s
Gestão Ambiental e prognóstico, metas, indicadores, monitoramento e
SEF
Ações avaliação da política ambiental. É composto por todos
SGA
os planos temáticos.

É um instrumento de implementação de cada política


temática ambiental da USP, que inclui diagnósticos,
Plano de Mini GT’s
objetivos, prognóstico, metas, indicadores, tomada de
Gerenciamento SEF
decisões, monitoramento e avaliação da política
Ambiental da USP SGA
temática ambiental. Cada política ambiental temática
terá o seu Plano de gerenciamento.

20
É um instrumento de governança que tem como
objetivo a sustentabilidade ambiental dos campi e a Comissão
inclusão social; com ordenamento de uso do Permanente de
Plano diretor território, planejamento do futuro e cumprimento à Gestão Ambiental do
ambiental legislação, e que deverá ser elaborado em cada campus
campus da USP. Este plano será desenvolvido com (SGA, SEF,
base nos documentos da Política Ambiental e Plano Conselhos Gestores)
de Gestão Ambiental da USP.

Conjunto de ações desenvolvidas pelas Unidades,


Museus, Órgãos de Integração, Órgão
Programas ambientais Complementares e Prefeituras dos campi para a Comissões internas
aplicação dos Planos Diretores de cada Campus para
a prevenção e a resolução de problemas ambientais.

São 12 Grupos de Trabalho temáticos que se reuniram periodicamente e trataram de


diversas áreas, e a apresentação de sua primeira minuta ocorreu em setembro de 2015. Os
temas são: água e efluentes, edifícios sustentáveis; educação ambiental; emissões de
gases; energia; fauna; mobilidade; resíduos; sustentabilidade na administração; uso do
solo - áreas verdes - reservas ecológicas.

Política de Resíduos da USP


EM 2014 foram iniciadas as discussões sobre a elaboração da Política de Resíduos da
USP, com iniciativa da SGA foi criado um grupo de trabalho composto por professores
de diversos campi. O Grupo de Trabalho de Gerenciamento de Resíduos (GT Resíduos)
teve como objetivo estruturar as diretrizes de gerenciamento de resíduos sólidos e líquidos
perigosos dentro da Universidade de São Paulo.
Esta política foi baseada de acordo com as premissas da Política Nacional de Resíduos
Sólidos brasileira. E dispõe sobre os princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre
as diretrizes relativas a resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos
geradores de resíduos sólidos e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
Tem como premissa que as unidades serão executoras de tais diretrizes de acordo com
suas as especificidades.
De acordo com o website da SGA, (SGAb, 2016):
“O GT Resíduos tem desenvolvido esforços para:
1) Conhecer a diversidade de resíduos através de um mapeamento e
construção de uma matriz de resíduos;
2) Resgatar as diretrizes que já existem dentro dos campi;
3) Elaborar um diagnóstico da situação atual dentro das unidades;
4) Delimitar a partir do nome do grupo de trabalho para “Grupo de
trabalho de Resíduos Sólidos e Líquidos perigosos” deixando a parte de
efluentes e água para outra comissão que aborde questões mais
específicas e seja representada por especialistas da área.”

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Descrição da Gestão de Resíduos na Universidade de Michigan

O Programa de Reciclagem da Universidade de Michigan


O Programa de Reciclagem da Universidade de Michigan (UofM) atualmente atua sob
a supervisão do departamento “Custodial and Grounds”, que são os funcionários
responsáveis pelas edificações e espaços abertos que tornam o campus de Ann Arbor
único. Este departamento e responsável por mais de 26 milhões de metros quadrados de
propriedade.
A missão de acordo do departamento é a seguinte:
“Nossa missão é servir, com excelência, oferecendo serviços de
manutenção, gestão de pragas, gestão de resíduos e reciclagem,
manutenção de terrenos e serviços paisagísticos no apoio de tornar o
campus um ambiente seguro, funcional e atraente. “
As atividades do Programa de Reciclagem da Universidade de Michigan são
executadas pelo Waste Reduciton & Recycling Office (WRRO), que se esforça para
fornecer programas de cunho operacional e educacional de redução de resíduos e
reciclagem, que diminuem a pegada ambiental da Universidade dentro da comunidade
local, estadual e global. O WRRO também motiva os alunos, professores, funcionários e
visitantes a aplicar as habilidades aprendidas através destes programas dentro e fora do
campus, agora e no futuro.

DESAFIOS DO PROGRAMA DE RECICLAGEM DA


UNIVERSIDADE DE MICHIGAN
A Figura 4 apresenta a porcentagem de resposta quando os entrevistados foram
questionados quais os fatores influenciam ou influenciaram a fragilização do programa
de reciclagem da Universidade de Michigan.

Figura 4 – Porcentagem de respostas, sobre fatores que podem fragilizar as iniciativas


de reciclagem em universidades, das pessoas entrevistadas na UofM.

22
Falta de recursos financeiros, Falta de Engajamento
Um dos principais desafios descritos pelas entrevistas realizadas na Universidade de
Michigan quanto a aspectos que influenciam ou influenciaram seu programa de
reciclagem, a falta de engajamento por parte dos funcionários da universidade. Como
pode ser observado no seguinte discurso “When there is a lack of administrative and
financial support from upper administration and campus stakeholders, it is difficult to
move programs forward”.
Ainda, os entrevistados mencionam que o engajamento dos funcionários não ocorre de
maneira pró-ativa, ainda não há suporte da alta administração para a participação dos
mesmos nas atividades. Quanto a participação dos discentes, estes apresentam interesse
e comparecem e interagem com as atividades de intervenção propostos pelos programas.
No entanto, a participação se limita a eventos específicos, foi citado o evento Earth
Festival, onde o programa conta com um espaço interativo com atividades didáticas sobre
conscientização e recrutamento. No entanto, após o recrutamento, devido ao engajamento
ser voluntario, a taxa de evasão é grande.

Falta de recursos humanos


O programa de reciclagem da UofM carece de recursos humanos para a realização
de atividades como redação dos relatórios, mobilização de agentes, quantificação de
resíduos recicláveis, elaboração de material de divulgação, e pessoas para as atividades
de intervenção.
Dois dos entrevistados mencionaram que uma maneira de mitigar tal problema seria
a contratação de mais pessoas para participar efetivamente do programa, mas não
preveem isso em um futuro próximo, devido a isso eles se contentariam com a
disponibilização de mais recursos ao programa para que eles pudessem contratar
estagiários.

Falta de vontade política, Conflito de interesses e Falta de Respaldo


através de portarias e resoluções
A falta de vontade política tem grande influência no sucesso de qualquer tipo de
inciciativa em qualquer tipo de organização. Semelhante a Universidade de São Paulo, os
entrevistados na Universidade de Michigan também citam que a falta de interesse da alta
administração fragiliza o sucesso e a continuidade do programa de reciclagem. Como
pode ser observado no discurso de um dos entrevistados “Lack of interest/desire by
leaders will negatively impact any waste reduction programs success”.

23
Ainda, conflito de interesses entre tomadores de decisão são fragilizadores, o discurso
dos entrevistados mencionou questões como a descontinuidade de atividades com a
mudança dos Presidentes da Universidade de Michigan, bem como, o como o programa
perdeu força em um dos institutos após a mudança do diretor deste instituto.
Um dos entrevistados menciona como a postulação dos objetivos de redução de
geração de resíduos, amparado pela presidente da universidade ajudou na consolidação e
no engajamento das atividades do programa.

Falta de infraestrutura
Quanto a este aspecto, um dos discursos dos entrevistados “The disappearance of the
glass market has resulted in U-M no longer accepting glass for recycling” menciona o
exemplo do mercado de vidrarias, onde a universidade fornecia um espaço de arrecadação
de vidros onde artesãos e outras organizações podiam comprar estes materiais, após esta
iniciativa ser descontinuada devido a ordens da alta administração a universidade parou
de reciclar vidros.
Ainda uma das pessoas entrevistadas menciona que um dos principais desafios é
encontrar entidades para comprar os materiais recicláveis recolhidos, “additionally, we
can only recycle items that have a market for them in this area. If there were more
markets, we could expand the items accepted for recycling.”

Fatores de Sucesso da Universidade de Michigan


A Figura 5 apresenta a porcentagem de resposta quando os entrevistados foram
questionados quais os fatores influenciam ou influenciaram a fragilização do programa
de reciclagem da Universidade de Michigan.

Figura 5 – Porcentagem de respostas, sobre fatores que podem fragilizar as iniciativas


de reciclagem em universidades, das pessoas entrevistadas na UofM.

24
Vontade política, Conflito de interesses e Políticas e Resoluções da
Universidade
Assim como identificado na Universidade de São Paulo, os entrevistados na
Universidade de Michigan mencionam que o apoio dos líderes da universidade é de
fundamental importância para o sucesso das iniciativas, onde, um dos entrevistados
ressalta que “Leadership in all levels/areas is critical in reaching the university.
recycling/waste reduction goals”.
Os entrevistados mencionam a consolidação de diversas atividades, e o aumento da
procura pelo programa após a postulação dos objetivos de sustentabilidade da
universidade em 2010 em carta aberta escrita pela presidenta da universidade na época.
Desde então a busca por uma universidade mais sustentável tem feito parte de sua missão.
Além disso, os objetivos fomentam a comunidade a abraçar a missão e identidade da
universidade quanto a aspectos de sustentabilidade, diz um dos entrevistados.

Infraestrutura
Infraestrutura foi um dos principais pontos levantados durante a entrevista, relacionado
com recursos financeiros e respaldo através de legislações internas da universidade, os
entrevistados mencionam que um espaço onde a comunidade universitária possa ir para
se engajar, tirar dúvidas, e até mesmo levar seus resíduos facilitaria o trabalho do
programa.

Recursos financeiros, Recursos Humanos, Engajamento, e Respaldo através de


portarias e resoluções
Os aspectos de Engajamento, Recursos Financeiros e Recursos humanos foram os mais
citados nas entrevistas, um dos entrevistados reforça que engajamento da comunidade é
um fator chave para o sucesso do programa de reciclagem da universidade, “Engagement
is essential for a successful recycling program because we need students, faculty, and
staff to be knowledgeable about waste reduction and recycling and for them to be
motivated to participate”.
Quanto aos suportes ao programa, a universidade não possui política de resíduos
ou política ambiental, no entanto, em 2010 a presidenta da universidade postulou diversas
metas para 2025, e estas metas oferecem suporte para o programa, como explanado por
um dos entrevistados “University Policies support our program, such as the President's
sustainability goals for 2025”.

25
Descrição das atividades de gestão de resíduos na Universidade de
Michigan

Quem coleta os Resíduos Não Perigosos da Universidade de Michigan?


A coleta de resíduos da UofM é realizada pela empresa terceirizada PBGS Waste
Management Services, que realiza a coleta e demais serviços de caráter ambiental dos
prédios e diversas propriedades da universidade. A equipe trabalha de 5am a 1pm, seis
dias por semana para recolher e eliminar os resíduos não perigosos e materiais recicláveis.

Quem coleta os Resíduos Perigosos da Universidade de Michigan?


A coleta de resíduos perigosos, como resíduos de serviço de saúde e laboratoriais, são
de responsabilidade do departamento Occupational Safety and Environmental Healh, em
especifico o programa Hazardous Material Managemen (HMM)t, este departamento
presta serviços e supervisiona os geradores de resíduos perigosos para assegurar o
cumprimento dos regulamentos relativos à coleta, embalagem e identificação destes
resíduos perigosos. Sob os resíduos sob sua supervisão, encontram-se: Resíduos
Químicos, Resíduos Radioativos, Resíduos Biológicos e Resíduos Universais.
O HMM, com o suporte de outros programas, também responde a derramamentos
químicos, biológicos, materiais radioativos e resíduos de potenciais impactos ambientais
que ocorrem em instalações do campus ou em terrenos do campus.

Histórico do Programa de Reciclagem da Universidade de Michigan


Todas as informações deste capítulo têm suas fontes de entrevistas, questionários ou
da página do Escritório Waste Reduction and Recycling. O Programa de Reciclagem da
Universidade de Michigan (UofM) foi criado em meados da década de 1970, em uma
escala pequena, contando com esforços de reciclagem voluntaria.
No ano de 1988, alunos e funcionários do departamento Housing Division e Grounds
and Waste Management da UofM planejaram um programa de reciclagem para todo o
campus. Em 1989, a universidade contrata o primeiro Coordenador de Reciclagem; o
Programa de Reciclagem da UofM é implementado dentro dos alojamentos; Jornais,
papelão ondulado e papel branco de escritório começam a ser coletados em rotas
separadas.
Em 1990, a coleta e estendida para todo o campus graças a uma verba oferecida pelo
Estado de Michigan. Papel de escritório e papel branco se tornam recicláveis para o
programa, mas precisam ser separados. A coleta e reciclagem de pallets e resíduos de
madeira é iniciada. Esforços começam para coletar papelão gerados durante a mudança
dos alunos, bem como roupas, alimentos, artigos de higiene pessoal, e móveis.
Em 1991 a UofM ganha o Prêmio Michigan Recycling pelo seu programa de
reciclagem. No ano seguinte, em 1992, papelão e papel de escritório são coletados juntos.

26
Containers de reciclagem mistos são implementados nos refeitórios dos alojamentos e em
outras áreas de serviço de alimentos selecionadas dentro do campus.
Em 1993 os containers de reciclagem mistos são instalados nos escritórios e prédios
administrativos. UofM ganha o prêmio Michigan Recycling Coalition Award pelo
Programa de Mudança dos Alunos (Student Move Out Program).
Em 1994, o fluxo de reciclagem de papel é consolidado, jornais são adicionados a rota
de papelão e papel de escritório. Reciclagem de papelão no estádio é iniciada. A disciplina
Greening the Maize and Blue é iniciada na Escola de Recursos Naturais e Ambiente. Esta
disciplina combina projetos de pesquisa dos alunos com programas ambientais como:
estudos da reciclagem dentro da UofM e práticas relacionadas a resíduos sólidos, energia,
uso da água e serviços de transporte.
Em 1995 a cidade de Ann Arbor abre a Material Recover Facility (MRF), um espaço
que facilita a reciclagem, expandindo para inclusão de caixas de prato, listas telefônicas
e materiais têxteis. Recipiente mistos de coleta também são expandidos. Nasce o atual
sistema de papel misturado e recipientes de reciclagem misturados. Cestos de reciclagem
são colocados ao ar livre no Diag. O boletim de notícias Recycling Matters estreou. O
boletim de notícias Recycling Matters é digitalizado e disponibilizado no Sistema U-M
GOpherBlue.
Em 1996, a coleta de materiais recicláveis da Northwood Family Housing é agora
tratada através do departamento Waste Management Services. Recycle Ann Arbor, uma
empresa privada da cidade de Ann Arbor geria anteriormente a reciclagem nesta área.
Neste ano também se inicia o projeto de compostagem utilizando lixeiras com minhocas.
A universidade comprou e distribuiu 10 lixeiras com minhocas pelo campus. As caixas
foram colocadas nos refeitórios que recolhem restos de comida, exceto carne. Sacos
plásticos de reciclagem foram comprados e distribuídos em todas as salas do prédio de
moradia, tornando mais fácil para os alunos armazenarem e transportarem materiais para
os armários de lixo / reciclagem.
No ano de 1997, os departamentos Grounds and Waste Management e Housing, usam
o dinheiro da verba para executar um programa experimental de compostagem de
alimentos desperdiçados em três cozinhas dos dormitórios. O Programa de Reciclagem
da UofM estréia sua página na web. As informações são transferidas do sistema U-M
GOpherBlue para o website. O Programa recebe uma verba do Condado Washtenaw
através da proposta "Green Backs for Green Acts" para iniciar programa piloto de
compostagem de resíduos alimentares. Um acordo de cooperação é feito com a cidade de
Ann Arbor para levar os alimentos desperdiçados de três cozinhas de alojamentos para o
sitio de compostagem da cidade. Os três alojamentos participantes são Mary Markley,
East Quad e South Quad.
Em 1998, é criado o Environmental Semester (inverno de 1998), pela Faculdade de
Literatura, Ciência, e Artes e pela Escola de Recursos Naturais e Ambiente. Funcionários,
e estudantes de uma variedade de departamentos e escolas se juntam para prover uma

27
interessante junção de aulas, palestrantes, eventos, e programas especiais relacionados a
temática ambiental. Essa iniciativa corrobora com as Ecolympics, que é uma competição
entre os alojamentos que premia esforços voltados para conservação do meio ambiente.
No ano de 1999, a transparência quanto aos valores de reciclagem é iniciada. Duas
estações de reciclagem são instaladas no Michigan Stadium para a reciclagem de resíduos
provenientes de recipientes mistos.
No ano 2000, a recipientes de recicláveis de mistos são instalados no Michigan
Stadium no primeiro jogo em casa da temporada, neste dia, 11.84 toneladas de garrafas
foram recicladas. O West Quad começa a participar do programa de compostagem de
resíduos. A reciclagem dos materiais provenientes da mudança dos estudantes é
expandida para incluir blocos de poliestireno e material de preenchimento de embalagens
tipo amendoim.
Na primavera de 2001 os funcionários do departamento de Waste Management
Services ajudam no treinamento dos funcionários do departamento Building Services
duas vezes por mês mostrando como lidar com resíduos e reciclagem. No outono de 2001
inicia-se o projeto piloto da unidade de vermicompostagem, contando com 50 mil
minhocas que são capazes de compostar mais de 22Kg de resíduos. Neste ano também
é promovida a coleta de materiais de escritório que foram doados para organizações sem
fins lucrativos. O Programa de Reciclagem da UofM foi reconhecido pela National
Recycling Coalition, com o selo Outstanding School Program.
Em 2003, a iniciativa Office Trash and Recycling começa suas atividades dentro do
departamento Building Services. Neste mesmo ano, a reciclagem de pequenos eletrônicos
e telefones celulares é iniciada.
Em 2004, a UofM inicia em escala piloto a reciclagem de resíduos de construção e
demolição gerados no campus. O programa Cultivating Community, iniciativa formada
por estudantes da Matthaei Botanical Gardens e Nichols Arboretum, assumem a
responsabilidade pela vermicomposteira. O grupo começa a utilizar parte dos resíduos
alimenticios da UofM para criar um vermicomposto que depois é usado para cultivar
legumes servidos pela University Unions Catering. Neste mesmo ano, dois novos tipos
de recipientes para reciclagem são testados no Michigan Stadium. Além disso, o
Programa de Reciclagem da UofM torna-se parceiro do Washtenaw County Waste Knot,
um programa que reúne escolas, empresas, agências governamentais e organizações sem
fins lucrativos comprometidas com a redução de resíduos e proteção do meio ambiente.
Em 2005 a UofM inicia seu processo de alavancagem de redução de resíduos como
um tema para a America Recycles Day. A universidade renegocia seu contrato com a
empresa MRF. Novos containers para resíduos recicláveis mistos são distribuídos pelo
Michigan Stadium.
Em 2006, UofM compete pela primeira vez no campeonato de reciclagem para
universidades RecycleMania e termina no top 25. O departamento Waste Management

28
Services coleta a quantidade recorde de 14.22 toneladas de doações durante a época de
mudanças dos estudantes, todas as doações foram direcionadas a organizações não
governamentais.
Em 2007 a UofM compete pela segunda vez no campeonato RecycleMania, reciclando
um total de mais de 500 Kg em 10 semanas e terminando no top 10 em três categorias.
Além disso, junto com a RecycleMania, o departamento WMS realiza a primeira
Recycling Champions Competition, na qual escolas e prédios do campus competem pela
maior taxa de reciclagem. UofM ganha o prêmio Recycler of the Year Award, Michigan
Recycling Coalition 2007 pela alta quantidade de redução e reuso de resíduos dos projetos
Student Move Out e Office Supply Reuse Programs.
No ano de 2008 a UofM compete pela terceira vez no campeonato RecycleMania,
reciclando 450 Kg de resíduos em 10 semanas. Alem disso o departamento WMS realiza
pelo segundo ano consecutivo o Recycling Champions Competition juntamente com a
RecycleMania. Ainda neste ano, o Programa de Reciclagem consolida uma parceria com
a iniciativa Planet Blue, uma iniciativa ambiental e relacionada a energia que abrange
todo o campus, de modo a incrementar as iniciativas de reciclagem do campus.
Em 2009, a UofM comemora seu 20º Aniversário do Programa de Reciclagem no
campus! Ainda, a UofM concorre pela quarta vez na competição RecycleMania,
reciclando 44Kg em mais de 10 semanas. O departamento WMS realiza pelo terceiro ano
consecutivo o Recycling Champions Competition juntamente com a RecycleMania.
Em 2010, a UofM concorre pela quinta vez na RecycleMania, reciclando 40 kg em
mais de 10 semanas. O departamento WMS realiza pelo quarto ano consecutivo o
Recycling Champions Competition juntamente com a RecycleMania. A UofM converte
seus processos de reciclagem para reciclagem de fluxo único.
Em 2011, os receptores de resíduos recicláveis em todo o campus foram re-
identificados para mostrar a reciclagem de fluxo único. A campanha Back to Basics,
utilizando cartazes, é lançada.
Em 2012, inicia-se a compostagem de resíduos alimentícios pós consumo. Eventos
com geração de resíduos zero são alvo da universidade.
Em 2013, inicia-se a programação dedicada a redução de resíduos através da iniciativa
No-Throw-Ber-Challenge através das mídias sociais.

Iniciativas de Reuso de Resíduos Perigosos (ChEM Reuse Program)


O Programa Chemical, Equipment, and Materials Reuse (ChEM), é uma iniciativa de
sustentabilidade da UofM onde criou-se um estoque de produtos químicos vencidos,
equipamentos e materiais não utilizados que estão disponíveis para uso em laboratórios
de pesquisa e ensino. O programa ChEM visa:
- Proteger o ambiente reduzindo o volume global de resíduos perigosos enviados para
eliminação; Reduzir o custo de compra de novos materiais se aqueles no estoque forem
aceitáveis para suas necessidades de pesquisa ou ensino.

29
O programa permite que laboratórios de pesquisa e ensino da UofM:
- Obtenham gratuitamente produtos químicos, equipamentos e materiais disponíveis
em seu estoque; doem o excesso de produtos químicos, equipamentos e materiais para
este programa de redistribuição para outras que pessoas possam encontrar uma finalidade.

CONCLUSÕES
É perceptível que vários fatores podem influenciar a continuidade de um programa
relacionado a temática socioambiental em uma IES, no entanto, alguns fatores como o
engajamento e disponibilidade de recursos humanos proativos são de essencial
importância para a efetividade e eficiência das atividades propostas para o programa.
A partir dos dados coletados nas entrevistas e que foram agregados pela pesquisa na
literatura torna-se evidente a necessidade de um sistema de gestão de resíduos, focado nas
peculiaridades das IES, que discuta de maneira setorial estratégias técnicas,
organizacionais e financeiras no uso de recursos, redução de geração e manejo de
resíduos.
Uma IES que se comprometa em adotar melhores práticas de sustentabilidade deve
superar estas fragilidades encontradas nos diversos campi da USP, que possuem
características divergentes.
Neste capítulo foi apresentado um programa já consolidado e institucionalizado. A
análise levantou algumas discussões pertinentes quando discutida a gestão de resíduos
dentro de IES, as principais são:

A institucionalização de um programa voltado para gestão de resíduos é a


solução?
Sim e não.
Sim, pois irá fortalecer e dar respaldo para a discussão, provendo recursos financeiros
e humanos.
No entanto, o engajamento é de extrema importância, aí entra o “Não”, pois sem o
engajamento da comunidade, encontra-se o principal fator de fragilização do programa,
visto não só aqui na USP-SC, como percebido na pesquisa exploratória e nas entrevistas
realizadas.

A universidade deve buscar parcerias com a municipalidade.


É de extrema importância que a IES consolide uma parceria junto a municipalidade.
Principalmente nos aspectos de educacionais, onde os estudantes possam interagir através
de programas de extensão e estágio dentro da prefeitura, aprendendo como funciona a
ponta dos processos de gestão de resíduos e aplicação das políticas, bem como suas
ferramentas, como ações de comando e controle; fornecendo cursos de sensibilização e
formando multiplicadores dentro da prefeitura; os pesquisadores das IES devem se

30
integrar na tomada de decisão, agregando conceitos da academia a tomada de decisão do
município.
Além disso, aspectos operacionais devem ser levados em conta, através de editais de
consórcio, como exemplo citado por um dos entrevistados onde a USP-São Carlos, a
partir de convênio com a Prefeitura de São Carlos, leva seus resíduos de poda para o
triturador da prefeitura, outro exemplo era a horta municipal que recebia e compostava os
resíduos do Restaurante Universitário.

REFERÊNCIAS
USP Recicla. Disponível em: https://usprecicla.wordpress.com/about/o-que-e/. Acessado
em 02/02/2016.
POLI RECICLA. http://www.poli.usp.br/pt/a-poli/comissoes/comissao-poli-
usprecicla/apresentacao.html. Acessado em 05/02/2016.
PAPs, Programa Pessoas Aprendendo com Pessoas,
http://www5.usp.br/44518/iniciativa-da-superintendencia-de-gestao-ambiental-visa-
mudanca-cultural-para-a-sustentabilidade. Acessado em 18/02/2016.
SGAa. Superintendência de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo.
Apresentação ocorrida no dia 02/12/2015 pelo Superintendente de Gestão Ambiental da
Universidade de São Paulo, Marcelo de Andrade Romero.
SGAb. Superintendência de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo. Disponível
em: http://www.sga.usp.br.
SGA. SGAb. Superintendência de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo.
Disponível em http://www.sga.usp.br/acoes-da-sga/usp-recicla/. Acessado em
03/04/2017.

31
Capítulo 2

Eletrocoleta - projeto de coleta e


destinação de resíduos
eletroeletrônicos na Universidade
Federal de Ouro Preto - MG

Letícia Guimarães Pereira


José Francisco do Prado Filho
Késia Yuli da Silva Pereira

32
Letícia Guimarães Pereira
Engenheira Ambiental pela Escola de Minas da Universidade Federal de
Ouro Preto – MG, 2019. Foi bolsista do Programa de Educação Tutorial
– PET Engenharia Ambiental UFOP MEC/SESu, 2014 a 2019, pós-
graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho e Analista de Meio
Ambiente da Projeto Hexágono Consultoria e Engenharia – Ouro
Preto/MG. E-mail: [email protected]

José Francisco do Prado Filho


Ecólogo pela Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro - SP
(1979), mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - Porto Alegre - RS (1985) e doutorado em Ciências da
Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo - USP - Escola
de Engenharia de São Carlos - SP (2001). Professor Titular aposentado
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde atuou no ensino
de disciplinas ambientais na graduação e pós-graduação. Foi
coordenador do curso de graduação em Engenharia Ambiental da
Escola de Minas da UFOP de 2007 a fevereiro de 2011 e docente
permanente e orientador do programa de pós-graduação (stricto-sensu)
em Engenharia Ambiental (PROAMB-UFOP, Conceito 5 na Capes
2017-2020). E-mail: [email protected]

Késia Yule Kesia Yuli da Silva Pereira


Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de
Ouro Preto, bolsista no Programa de Educação
Tutorial (PET/MEC/SESu) - PET Engenharia Ambiental - UFOP,
atuando nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. E-mail:
[email protected]

33
INTRODUÇÃO
A fase moderna da história da humanidade, marcada pelo que se denomina de
revolução tecnocientífica [1], é marcada pela produção em grande escala de equipamentos
eletroeletrônicos (EEE) tais como, computadores e periféricos, televisores e monitores,
projetores, celulares, câmeras, tablets, etc., e tem crescido em um ritmo considerado
bastante alto. Associado a este contexto, grande parte desses equipamentos são
rapidamente descartados devido aos novos e variados produtos que são lançados no
mercado a cada dia numa velocidade cada vez maior. A esse comportamento em que
alguns produtores propositadamente desenvolvem, fabricam, distribuem e vendem um
produto de forma que ele se torne, num curto espaço de tempo, obsoleto ou não mais
funcional, forçando o consumidor a adquirir uma nova geração de produto numa
velocidade cada vez maior, dá-se o nome de obsolescência programada ou planejada.
De acordo com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, equipamentos
eletroeletrônicos (EEE) são todos aqueles produtos cujo funcionamento depende do uso
de corrente elétrica ou de campos magnéticos [2]. Podem ser classificados, de acordo com
a mesma instituição, em quatro diferentes categorias, que estão apresentadas no Quadro
1.
Quadro 1. Categorias de EEE
Categorias Produtos
Linha branca Refrigeradores e congeladores, fogões,
lavadoras de roupa e louça, secadoras,
aparelhos de ar condicionado;
Linha marrom Monitores e televisores de tubo, plasma,
LCD e LED, aparelhos de DVD e VHS,
equipamentos de áudio, filmadoras;
Linha azul Batedeiras, liquidificadores, ferros
elétricos, furadeiras, secadores de cabelo,
espremedores de frutas, aspiradores de
pó, cafeteiras;
Linha verde Computadores desktop e laptops,
acessórios de informática, tablets e
telefones celulares.
Fonte: [2]

34
Devido à cultura do consumismo, implantada na sociedade moderna, associada à
obsolescência planejada dos próprios produtos, a revolução tecnocientífica, que é vivida
atualmente, é responsável por efeitos ambientais, inclusive a geração, em larga escala,
dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE), que são denominados, de forma
popular, como lixo eletrônico. Os REEE são definidos como “equipamentos elétricos e
eletrônicos, partes e peças que chegaram ao fim da sua vida útil ou que teve o uso foi
interrompido” [3].
Os problemas ambientais relacionados ao elevado consumo de EEE, e por
consequência ao grande volume gerado de REEE, se tornam cada vez mais intensos e
preocupantes. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2017, por
meio do relatório “The Global E-Waste Monitor 2017”, no ano de 2016, foram gerados,
no mundo, 44,7 milhões de toneladas de REEE, correspondendo a um aumento de 8%
quando comparado ao ano de 2014. Além do mais, o mesmo relatório dispõe que em 2016
apenas 20% dos REEE mundiais foram reciclados, ou seja, apenas 8,9 milhões de
toneladas [4].
Considerando estes dados em escala mundial, percebe-se que os REEE significam um
problema ambiental relevante, já que apresentam em sua composição, entre outros
materiais, muitos metais pesados, tais como bário, chumbo, prata, cobre, cádmio e
mercúrio, que podem contaminar os solos e as águas subterrâneas e superficiais, caso
sejam dispostos no meio ambiente sem a adoção de medidas de controle ambiental.
Por essas razões, os REEE são considerados resíduos sólidos perigosos, ou seja,
resíduos que “em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas,
podem apresentar riscos à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças
ou acentuando seus índices, e riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado
ou disposto de forma inadequada” [5].
Diante dos fatores comentados acima, acrescido de informações obtidas pela pesquisa
realizada em Ouro Preto (MG), em 2011, na qual apontou, por meio de entrevistas, que
pouco mais da metade da população da cidade (52,2%) tinha consciência que o resíduo
eletroeletrônico necessitava de um descarte diferenciado [6], considerou-se importante
pelo Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Engenharia Ambiental da
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) a implantação de um projeto de coleta e
destinação correta dos REEE, denominado de “Eletrocoleta” no campus Morro do
Cruzeiro.
O objetivo do Eletrocoleta não se resume em atender apenas a comunidade acadêmica
da universidade, mas torna-se também uma alternativa para a cidade de Ouro Preto, que
conta com apenas um ponto de entrega voluntária para resíduos especiais, denominado
de “Ecoponto Municipal”. É de salientar, ainda, que poucos moradores da cidade de Ouro
Preto conhecem o único ecoponto local disponível para recebimento de resíduos especiais
(é precária a sinalização até o local e situa-se bastante afastado do centro da cidade) e que

35
é comum verem descartadas, sem nenhum critério ou preocupação ambiental, em terrenos
baldios e também próximos à lixeiras para resíduos domésticos, sucatas de materiais
eletroeletrônicos, quando não equipamentos quase inteiros [7].

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os REEE possuem em sua composição diversos materiais, como o plástico, níquel,
chumbo, alumínio, ferro, estanho, cobre, mercúrio e outros. Muitos desses materiais
apresentam elevada toxicidade, ou seja, são capazes de agir no organismo humano,
alterando mecanismos naturais e causando anomalias ou doenças quando em altas
concentrações no ambiente. Além disso, os plásticos, por exemplo, são materiais que
podem demorar centenas de anos para se decomporem, gerando importantes problemas
ambientais devido a essas e outras características. Dessa forma, a separação de cada tipo
de metal dos REEE exige um processo diferenciado, além de exigirem altos custos para
a realização da reciclagem completa dos seus constituintes. O manuseio não adequado
desses compostos pode resultar em riscos de contaminação tanto para aqueles que estão
em contato direto com o REEE quanto para o meio ambiente [2].
No Quadro 2 constam os principais agentes tóxicos que compõem os REEE, assim
como os problemas relacionados a esses agentes e em quais EEE eles são utilizados.
Quadro 2. Principais danos causados no organismo humano por agentes tóxicos
encontrados nos REEE

Principais agentes tóxicos Danos Causados Onde é usado


Atua causando danos no Computadores, celulares,
sistema nervoso e sanguíneo, televisões. Baterias de
Chumbo
irritabilidade. Tremores chumbo-ácido,
musculares. Hiperatividade e componentes eletrônicos,
alucinações. entre outros
Arsênico Doenças de pele, danos ao Aparelhos celulares.
sistema nervoso, apode
ocasionar câncer de pulmão.
Cádmio Agente cancerígeno. Causa Equipamentos
danos ao sistema nervoso, tecnológicos em geral.
provoca danos aos ossos, rins e
pulmão.
Manganês Dores abdominais, anemia e Monitores de tubo,
perturbações emocionais baterias de notebooks e
computadores.

36
Cromo hexavalente Danos na síntese de DNA e Grandes eletrodomésticos
apresenta toxicidade ao meio
ambiente
Berílio Câncer de pulmão, tumores Componentes celulares.
cerebrais, fraqueza muscular e
danos ao coração.
Retardantes de chama Afeta no sistema nervoso, Caixas plásticas, TV e
reprodutor e hormonais. monitores CRT.
Mercúrio Afeta o cérebro e o fígado, Placas de circuitos, TVs
alterações neurológicas e LCD, lâmpadas
genéticas fluorescentes e baterias
Zinco Vômitos, diarreias e problemas Eletrônicos em geral.
pulmonares.
Cloreto de amônia Pode causar asfixia. Eletrônicos em geral.
PVC Inalado, pode causar problemas Fios e cabos
respiratórios,
Fósforos e aditivos O manuseio é tóxico. Monitores CRT e TVs

Fonte: [8]

Pode-se citar também os impactos ambientais que os resíduos de equipamentos


eletroeletrônicos ou substâncias presentes neles podem trazer, destacando-se a
bioacumulação de resíduos químicos, poluição de lençóis freáticos e solos.
A bioacumulação é um processo onde um composto químico se acumula em
organismos de baixo nível trófico do ecossistema e que, na cadeia e teia alimentar, pode
ser transferida para um outro organismo de nível trófico mais alto, se autoacumulando
[9]. É muito conhecido no meio acadêmico e científico fatos, inclusive históricos
emblemáticos, como o desastre ambiental ocorrido na cidade de Minamata no Japão
constatado na década de 1950, associado à contaminação por mercúrio, devido à poluição
industrial provocado por uma fábrica de acetaldeido e PVC, a Chisso Coporation. Em
tempos recentes, os problemas ambientais, geopolíticos e de saúde sobre a contaminação
provocada pelos REEE podem ser vistos no documentário The E-Waste Tragedy (2014)
que trata de uma investigação sobre o tráfico de lixo eletrônico entre países desenvolvidos
e subdesenvolvidos expondo de maneira bastante didática e dramática os problemas
sociais, ambientais e de saúde pública provocados pelo manuseio, transporte
transfronteiriço, manuseio, tratamento e disposição inadequada desses materiais no
ambiente [10].

37
A poluição dos lençóis freáticos e solos também é uma preocupação que se relaciona
diretamente ao descarte incorreto desses resíduos, uma vez que os compostos químicos
em contato com o ambiente podem alterar suas composições e afetar diretamente a água
passível de uso da população, causando a bioacumulação. Além disso, a queima irregular
desses resíduos ocasiona a evaporação e suspensão desses compostos químicos na
atmosfera, com grande potencial tóxico, ocasionando problemas respiratórios, sanguíneos
e oculares.
De forma a buscar um melhor gerenciamento dos resíduos sólidos no país, visando
mitigar os impactos, como os apontados acima, o Brasil instituiu a Lei Federal n° 12.305,
de agosto de 2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A Lei
Federal n° 12.305 altera a Lei n° 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 e dá outras providências
[11]. Para isso, apresenta em seu artigo 3° definições de importantes aspectos
relacionados à problemática dos resíduos sólidos, podendo-se destacar a que se refere à
disposição ambientalmente adequada dos resíduos. De acordo com a PNRS, a disposição
final ambientalmente adequada equivale à “distribuição ordenada de rejeitos em aterros,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde
pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos” [11]. Porém, as
empresas que produzem produtos com uso de materiais perigosos à saúde e ao ambiente
também têm que realizar a logística reversa (onde a empresa tem o dever de coletar seus
produtos pós-uso pelos consumidores), além de declarar dados para prefeituras e órgãos
que fiscalizam o lixo eletroeletrônico.
Para evitar impactos ambientais e sobre a saúde humana, a reciclagem do lixo
eletrônico se apresenta como uma melhor alternativa se comparado à sua disposição final
na natureza em aterros. Muitos REEE possuem um volume elevado de materiais como
plástico e vidro, além de quantidades pequenas de metais valiosos como prata e ouro, o
que torna atraente reciclá-los de forma a recuperar tais componentes. Embora seja mais
complexo e oneroso quando comparado aos resíduos domésticos comuns, o processo de
reciclagem dos REE ainda é viável, visto que são geradas anualmente milhões de
toneladas de lixo eletrônico em todo o mundo [2]. Com a reciclagem, é possível
reintroduzir total ou parcialmente os materiais que compõem os resíduos no ciclo
produtivo, reduzindo a demanda por áreas maiores e mais numerosas para disposição final
de rejeitos em aterros. Mas, para isso, é necessário a implantação de iniciativas públicos
e privadas e de ONGs para o devido e correto recolhimento desses materiais e, ao mesmo
tempo, tornando imprescindível o envolvimento da população no encaminhamento de tais
materiais aos postos de entrega voluntária (PEV), quando espalhados por todos os cantos
das cidades tais como, bairros, associações, comércios, escolas, universidades etc.

38
METODOLOGIA
Local de estudo
Ouro Preto (MG) é considerada umas das principais e mais visitadas cidades históricas
do estado de Minas Gerais e do Brasil, principalmente por pelo fato de deter riquezas
culturais que entusiasmam e atraem não apenas os brasileiros, mas turistas de diversos
países. Apresenta como principais atrações, as igrejas, chafarizes, museus, minas
auríferas antigas, pontes e sua arquitetura barroca singular. Pelo fato de guardar e
preservar riquezas arquitetônicas, culturais e históricas, oriundas principalmente do
período da extração de ouro em Minas Gerais no século XVII, Ouro Preto foi reconhecida
pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) em
1980 como Patrimônio Cultural da Humanidade [12].
Além das riquezas culturais, Ouro Preto também se destaca por ser sede da
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a qual foi fundada em 1969 por meio da
união de duas instituições centenárias de ensino superior, a Escola de Farmácia, criada
em 1839, e a Escola de Minas, criada em 1876. A universidade se expandiu desde a sua
criação e no ano de 2018 conta com meia centena de cursos de graduação oferecidos nos
campi Ouro Preto, Mariana e João Monlevade [13].
Em 2017, a universidade ocupava uma área de aproximadamente 151 mil m², com
mais de 150 salas de aula e 140 laboratórios de ensino e pesquisa. Contava, ainda, com
848 professores efetivos e 806 técnicos-administrativos e 683 terceirizados. Ofereceu 51
cursos de graduação, sendo 4 de educação a distância, 13 programas de doutorado, 28 de
mestrado e 20 cursos de especialização lato sensu, sendo 13 presenciais e 7 a distância.
Quanto ao corpo discente, eram 13.021 alunos de graduação, 1.409 deles matriculados na
modalidade a distância. Na pós-graduação, foram 357 matrículas em programas de
doutorado; 1.118 em programas de mestrado, dos quais 860 em mestrado acadêmico e
258 em mestrado profissional; e aproximadamente 3.500 matrículas em programas de
especialização (presencial e a distância) [13].
No entanto, mesmo com a expansão e crescimento, a universidade não se mobilizou
em termos de planos e infraestrutura em relação às iniciativas ambientais e ainda tem
muito a avançar em relação às questões de saneamento básico do campus e tampouco
aborda a temática meio ambiente de forma consistente em seu Projeto de
Desenvolvimento Institucional (PDI 2015-2026). Diversas passagens no PDI abordam o
tema meio ambiente, mas sem objetividade e aprofundamento, não tratando a gestão
ambiental institucional da forma como documentam outras universidades em seus planos
de desenvolvimento institucional [16]. As iniciativas ambientais existentes na UFOP são
de caráter individual e pontual (sem uma coordenação institucional).
Considerando ser o campus da UFOP de característica urbana, e de possuir muitos
prédios na parte histórica da cidade, até 2018 a instituição ainda carecia de tratamento de
esgoto (Estação de Tratamento de Esgoto) no campus, lançando in natura os dejetos

39
humanos em sistema de afastamento ligado diretamente nos cursos d´água, não havia um
plano de gerenciamento de resíduos sólidos domésticos e perigosos, não possuía uma
política para a gestão de efluentes de laboratórios de ensino e pesquisa, não se executavam
iniciativas para a economia de água e energia, não tinha metas ambientais claras e
concretas a serem atingidas e não possuía uma política ambiental institucional que se
estendesse às demais unidades universitárias existentes em outros dois municípios de
Minas Gerais (Mariana e João Monlevade).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ações socioambientais recentes verificadas na UFOP de iniciativas individuais e
pontuais de representantes de seu quadro discente e docente.
Mesmo não havendo políticas e ações ambientais institucionalizadas, documentadas,
estruturadas e planejadas, a UFOP ao longo dos últimos vinte anos fez por iniciar de
forma bastante precária, insipiente e sem sistematização ações pontuais para o tratamento
de algumas questões ambientais básicas que são apresentadas resumidamente a seguir no
Quadro 3. É de se ressaltar que não há documentação institucional disponível e de fácil
acesso que permita se fazer um relato pormenorizado das iniciativas operacionais
adotadas ao longo do tempo nas suas unidades acadêmicas. Não há também um setor no
organograma da UFOP que se responsabilize por essas demandas como já visto e
divulgado em outras instituições de ensino.
Quadro 3. Principais iniciativas ambientais da UFOP

Ações Descrição
Iniciado em outubro de 2000 a ação consistiu em um
programa tradicional de coleta seletiva, com o objetivo
de separar os recicláveis, por meio da distribuição de
recipientes de coleta de resíduos pelo campus. Vale
Programa de coleta seletiva comentar que atualmente, em 2018, a atividade perdeu
de recicláveis o sentido e não acontece de forma sistematizada
institucionalmente. Relata-se que faltou mobilização
institucional para a consolidação a participação da
comunidade e o programa por não ter destinação
correta dos itens segregados caiu em descrédito [15].
Criado em 2007 no Departamento de Engenharia
Ambiental, o Programa UFOP Reduz reunia várias
ações e projetos nas áreas de saúde, coleta seletiva,
UFOP Reduz minimização de resíduos sólidos na universidade,
convênio com associações de catadores, reciclagem de

40
banners e de outros materiais utilizados na
universidade, e etc. Vale comentar que em 2010 houve
a proposta da institucionalização do programa e
atualmente encontra-se totalmente desmobilizado.
O projeto é parte do Programa UFOP Reduz, e foi
criado internamente para atendimento do Decreto
Federal nº. 5940/2006. Formalizou-se uma comissão
para a coleta seletiva solidária, cujo objetivo
era supervisionar a separação dos resíduos recicláveis
descartados, a sua destinação para as associações e
Formação de comissão
cooperativas locais de catadores de materiais
interna para a coleta seletiva
recicláveis conveniadas com a UFOP. O projeto
solidária de resíduos
acontece de forma precária sem monitoramento e
acompanhamento institucional. Há relatórios esparsos
desse projeto.
Com o objetivo de minimizar os resíduos da
instituição, implantou-se por meio do programa UFOP
Reduz o Projeto Canecas, em que uma das diretrizes
baseia-se na distribuição de canecas aos calouros de
Projeto Canecas (vinculado forma a acabar com o consumo de copos descartáveis
ao UFOP Reduz) nos restaurantes universitários (RU) da UFOP. Tal
programa se estruturou como implantando na USP,
denominado USP Recicla.

Projeto do Programa de Educação Tutorial (PET


Engenharia Ambiental) em convênio com os Correios
(Agência Local) para o recolhimento de pilhas e
baterias. Comenta-se que o programa se manteve
funcionado de 2010 a 2011 e que se inviabilizou por
dificuldades logísticas e por desinteresse de
Coleta de pilhas e baterias
continuação pela agência local dos Correios. Ainda há
alguns pontos de coleta de pilhas e baterias na UFOP,
mas sem se conhecer os seus responsáveis e as formas
de destinação final. Não há relatórios desses projetos.
O Projeto apresenta como uma das diretrizes o
incentivo à separação do lixo reciclável no prédio das
engenharias da Escola de Minas. Além do mais
trabalha com uma linha extensionista a fim de atender
Projeto: Engenharia para a sociedade local com diálogo, treinamento, discussão
Sustentabilidade e pesquisa de novas tecnologias e materiais,

41
trabalhando, principalmente, com comunidades de
baixa renda. Projeto é de responsabilidade de um
docente do Departamento de Engenharia de Produção.
Coleta de REEE em três pontos do campus da UFOP
Ouro Preto. Iniciou-se em julho de 2017 como
Eletrocoleta
iniciativa do Programa de Educação Tutorial em
Engenharia Ambiental. Projeto se encontra em
funcionamento e com boa aceitação e conhecimento
da comunidade. Há relatórios do projeto.
Idealizada pela reitoria e instituída por meio da
Portaria da Reitoria nº 215/2018, de maio de 2018 tem
Criação de comissão para
proposição de projeto “UFOP como objetivo elaborar estudos e propostas para
implementação de ações técnicas e administrativas
Campus Ambiental”
para ações de sustentabilidade no campus da UFOP. A
Comissão se reuniu algumas vezes, mas em menos de
um ano de atividade o presidente se aposentou
obrigando a reorganização da Comissão.

Apenas alguns laboratórios de pesquisa e ensino remetem seus resíduos contaminantes


para empresas terceirizadas especializadas para descarte, reciclagem ou neutralização
correta desses materiais. Também não há na UFOP orientações para que as licitações e
pregões para compras de materiais e equipamentos sejam feitas impondo aos
fornecedores exigências ambientais como, por exemplo, o recolhimento após uso de tais
produtos, como lâmpadas, pneus, lubrificantes, produtos químicos usados e vencidos e
outros.

O ELETROCOLETA
Trata-se de uma iniciativa de coleta de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na
UFOP, denominado Eletrocoleta, e que teve início em julho de 2017 por meio de proposta
do Programa de Educação Tutorial Engenharia Ambiental UFOP (PET Engenharia
Ambiental/MEC/SESu) com apoio da UFOP para aquisição de containers especiais para
a coleta diferenciada dos REEE. Tem como objetivo recolher os REEE da comunidade
acadêmica (e eventualmente local) e destinar corretamente o material recolhido na UFOP.
O projeto baseia-se em uma parceria informal e verbal entre o PET Engenharia Ambiental
e uma empresa local parceira, a “Chagas Soluções em Destinação de Resíduos” de Ouro
Preto.
Nessa parceria, é de responsabilidade do grupo PET Engenharia Ambiental
desenvolver ações internas para aquisição dos containers, o marketing em relação à
comunidade universitária e definição sobre aos pontos de destinação e os resíduos que

42
devem ser descartados, e o monitoramento dos materiais descartados nos pontos de
recolhimento. A empresa parceira tem como finalidade encaminhar os resíduos coletados
para reciclagem por equipamento de transporte regulamentado pelas agências ambientais
local e estadual. É digno de registro que o Eletrocoleta orienta não se descartarem
equipamentos patrimoniados pela UFOP, não apresenta fins lucrativos para o PET
Ambiental nem para a UFOP, considerando principalmente que o objetivo do projeto é
apenas socioambiental e de cunho pedagógico e educativo.
Para dar início ao projeto, foram adquiridos e dispostos três containers de plástico,
com volume de 1.000 litros cada, na cor laranja, conforme Resolução do CONAMA
275/2002, em três pontos de alta circulação de pessoas da UFOP no campus Ouro Preto,
sendo eles: Escola de Minas (EM), prédio no qual são ministradas as aulas dos cursos de
engenharia e arquitetura; Instituto de Ciências Exatas e Biológicas (ICEB) e no
Restaurante Universitário (RU) do campus.

Os REEE que podem ser descartados nos três PEVs são:


• Informática, vídeo e som: computador, notebook, impressora, periféricos (mouse,
teclado, cabos, outros), televisor, DVD, aparelho de som e pilhas;
• Telecomunicação: celular e telefones;
• Equipamentos de impressão: cartuchos e tonner;
• Outros: sanduicheira, secador, chapinha, liquidificador, etc.
O que não deve ser descartado são as baterias alcalinas
Com o monitoramento dos containers é avaliada constantemente a quantidade de
REEE descartados e quando o volume da estrutura é saturado, a empresa parceira é
acionada para o recolhimento. Como se trata de um projeto de iniciativa o PET cabe a
esse informar a empresa para a retirada do material do campus.
Na Figura 1 podem ser visualizados dois dos PEVs para REEE, sendo um localizado
na Escola de Minas e o outro no restaurante universitário da UFOP.

Figura 1. PEVs para coleta de REE na Escola de Minas e RU

43
Diante da necessidade de implementação de novos pontos de coleta de REEE em Ouro
Preto visando-se a minimizar os impactos ambientais relacionados ao descarte
inadequado desses tipos de resíduos no ambiente, assim como o de promover um
incentivo às exigências da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, o presente trabalho
envolveu o desenvolvimento do projeto piloto do Eletrocoleta, em três pontos de coleta
na Universidade Federal de Ouro Preto.
Em um ano de existência do projeto Eletrocoleta, de julho de 2017 a julho de 2018,
considera-se que houve significativa coleta de REEE no campus da UFOP com boa
adesão da comunidade. Neste intervalo de tempo fora feitas três coletas pela empresa
parceira, totalizando mais de uma tonelada de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.
A primeira delas ocorreu em setembro de 2017, a segunda em março de 2018 e a última
em maio de 2018, perfazendo um total de 1.024 Kg de REEE coletados, conforme a
Tabela 1. As etapas de coleta podem ser visualizadas por meio da Figura 2.

Tabela 1. Coleta de REEE na UFOP 2017-2018

Total, em Kg, de REEE


Coleta Data
recolhido

1 27/09/2017 273 Kg
2 29/03/2018 381 Kg
3 11/05/2018 370 Kg

Figura 2. Coleta dos REEE pela empresa parceira do Eletrocoleta


Por meio de uma estimativa entre as coletas realizadas, percebeu-se que os REEE em
maior proporção são as CPUs, os monitores, e as impressoras. Aproximadamente 45%
dos materiais coletados são caracterizados como CPUs. Seguindo a mesma lógica,

44
estima-se que 25% da sucata eletrônica é formada por monitores, 15% por impressoras e
o restante por cartuchos, cabos, telefones, celulares, estabilizadores e etc. Esta relação
pode ser visualizada através da Fig. 3

Relação dos REEE coletados

CPUs
Monitores
Impressoras
Outros

Figura 3. Relação dos REEE coletados


Observou-se, neste período de tempo de um ano, que o PEV do RU apresenta uma
maior contribuição de REEE quando comparado com os PEVs da Escola de Minas e do
ICEB. Acredita-se que pelo fato da grande maioria dos discentes, docentes e visitantes da
UFOP passarem pelo restaurante acaba também sendo alta a coleta desses materiais. Na
Fig. 4 é possível observar o grande descarte de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos
no restaurante universitário da UFOP.

Figura 4. PEV do RU da UFOP


Por outro lado, mesmo com a logomarca do projeto fixada nos PEVs de forma bastante
visível, além das propagandas realizadas em redes sociais e em cartazes espalhados pela
universidade sobre o que pode ser corretamente descartado, observa-se uma quantidade
significativa de material não caracterizado como REEE, como papel, plástico, papelão,

45
lâmpadas florescentes, vidro e embalagens diversas sendo descartados nos recipientes
considerados específicos para resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Nessas
situações os resíduos que não são REEE obviamente não são levados pela empresa
parceira e são destinados em recipientes de coleta de resíduos domésticos da UFOP.
Sobre esse fato é digno de registrar a semelhança de situação vista na UFOP é a que
comumente acontece com os equipamentos tradicionalmente utilizados para a coleta
seletiva tradicional de resíduos espalhados por muitos municípios, instituições e
empresas. Ao que tudo indica nossa população, de um modo geral, ainda não está madura
o suficiente para colaborar com essas iniciativas já bastante divulgadas por diversos meios
e estudos. Aspectos que impedem ou que dificultam a participação da população em
programas de coleta seletiva seriam principalmente: a falta de divulgação dos resultados
da coleta seletiva; a acomodação e desinteresse da população; nível cultural e de instrução
geral do povo brasileiro; descrédito relativo a ações oriundas do poder público, dentre
outros [14].
Mesmo assim, seria de esperar, devido ao bom nível educacional de grande parte do
público que circula e frequenta o campus UFOP, um maior respeito e colaboração para
com a proposta do Eletrocoleta fazendo depositar nesses locais apropriados apenas os
resíduos com tais características. Do que se viu nesse pequeno espaço de tempo de vida
do projeto, percebe-se que mesmo em camadas da população com maior nível de
informação e escolaridade, a comunidade, “deve ser sensibilizada, motivada sendo que
os conceitos e práticas precisam ser assimilados e incorporados no cotidiano da população
envolvida, com vistas a assegurar sua operacionalização, viabilidade e continuidade,
fatores fundamentais para se atingir os resultados esperados e garantir sua
sustentabilidade” [14]. Outro aspecto a comentar é que esses conteiners são
frequentemente revirados e visitados por pessoas da comunidade universitária buscando
identificar peças e equipamentos de interesse mais imediato.
Diante dos fatos constatados, fez-se então, pelas redes sociais, o reforço das
informações dos resíduos que são recolhidos através do projeto, para que os equipamentos
não sejam usados inadequadamente para descarte de matérias sem as características para
qual foram implantados.
Mesmo assim, percebeu-se a partir dos resultados obtidos preliminarmente que o
projeto Eletrocoleta vem trazendo resultados satisfatórios durante o período de análise.
Comenta-se que não apenas a comunidade acadêmica, mas parte da comunidade
ouropretana apresentou uma boa aderência com o projeto de coleta dos REEE e a massa
total de resíduo coletada é tida como significativa. Outro ponto a salientar é que
internamente o projeto já é relativamente bem conhecido tendo em vista que os
idealizadores do projeto já receberam telefonemas e e-mails solicitando informações de
como poderiam ser adquiridos novos containers e se haveria a possibilidade de instalá-
los em outas unidades universitárias.

46
CONCLUSÕES
Na sociedade moderna do consumismo, os equipamentos eletrônicos ficam obsoletos
numa velocidade bastante significativa, e com isso os REEE resultantes desse processo
apresentam rápido crescimento em volume, na escala global. Na Universidade Federal de
Ouro Preto e bairro da circunvizinhança do campus a situação não é diferente. No entanto,
a universidade não dispunha de pontos de descarte desse tipo de resíduo que apresentam
materiais tóxicos e ambientalmente agressivos. Com a implantação do Eletrocoleta,
percebeu-se que a UFOP deu um passo, ainda pequeno, em relação à adoção de condutas
socioambientais. Os resultados obtidos com o desenvolvimento do projeto mostraram-se
promissores, uma vez que tem sido bem recebido principalmente pela comunidade
universitária.
Diante de tais observações, tem-se a ideia de ampliação do projeto, abrangendo-o para
os campi da Universidade Federal de Ouro Preto de Mariana/MG e João Monlevade/MG.
O objetivo é expandir opções para descarte correto dos resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos e, além de tudo, conscientizar a população universitária e circunvizinha
para se fazer o descarte adequado desse tipo de resíduo que carrega consigo perigos
ambientais e para a saúde humana como rapidamente retratado neste trabalho. Entretanto,
a ausência ainda de uma política ambiental institucional é fator que impede que essa e
outras iniciativas se consolidem por se caracterizarem como atividades pontuais e de
pessoas do quadro da UFOP sem a garantia de sua continuidade. Percebe-se com esse e
outros projetos ambientais, muitos dos quais com dificuldades institucionais de
continuidade, a necessidade de urgentemente a administração superior estabelecer como
novas prioridades a elaboração e implantação de um plano de gestão ambiental global
visando enfrentar de maneira organizada e estruturada todos os flancos ambientais e de
saneamento.
Muitas instituições de ensino superior internacionais e algumas nacionais, mais
recentemente vêm dando maior atenção à esse tema visando mostrar para alunos e
comunidade onde se insere como se ensina e ao mesmo tempo como se pode colaborar
para a sustentabilidade ambiental adotando na prática ações concretas para a geração de
energia própria, uso sustentável da água de chuva, coleta, reciclagem e tratamento de
resíduos sólidos, tratamento de efluentes líquidos e atmosféricos de laboratórios e
instalações de apoio. Essa parece ser uma nova e bonita tendência e que por certo poderá,
num médio espaço de tempo, além dar cara nova aos campi universitários, contribuir
concretamente em programas e ações ambientalmente sustentáveis.
Cabe salientar, porém, no caso das instituições federais de ensino (IFES), devido à
recente política do Ministério da Educação (adotada no primeiro semestre de 2019) de
impor cortes substantivos de 30% no orçamento sobre gastos não obrigatórios das
universidades e institutos federais tecnológicos (referentes a obras, pagamentos de luz,
água, terceirizados, aquisição de equipamentos, etc.) trará significativos atrasos na
apresentação e execução de projetos e ações que vinham sendo estudados, preparados e

47
executados visando implantar, monitorar e atender as medidas de sustentabilidade
ambiental.

REFERÊNCIAS
[1] Santos, M.,1991. A Revolução Científica-Técnico e suas Consequências. Revista
Terra Livre-ABG, Volume 9, pp. 7-17.
[2] ABDI, 2013. Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos – Análise de
Viabilidade Técnica e Econômica. Disponível online em
http://www.abdi.com.br/Estudo/Logistica%20reversa%20de%20residuos_.pdf,
acessado em 8 de julho, 2018.
[3] ABNT, 2013. NBR 16.156. Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos –
Requisitos para a atividade de manufatura reversa. Disponível online em
http://www.abnt.org.br/, acessado em 8, julho, 2018.
[4] Baldé, C.P., Forti V., Gray, V., Kuehr, R., Stegmann,P., 2017. The Global E-
waste Monitor – 2017. United Nations University (UNU), International
Telecommunication Union (ITU) & International Solid Waste Association (ISWA),
Bonn/Geneva/Vienna.
[5] ABNT, 2004. NBR 10.004 Resíduos sólidos – Classificação. Disponível online em
http://www.abnt.org.br/, acessado em 9, julho, 2018.
[6] Silva, A.P. G., 2011. Diagnóstico do Descarte de Resíduos Eletroeletrônicos em
Ouro Preto – MG. Monografia de graduação em engenharia ambiental. Publicações
da Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP.
[7] Sagakuti, L.M.J., 2017. A Funcionalidade dos Sistemas de Coleta à Destinação de
Resíduos Sólidos Especiais em Ouro Preto/MG. Monografia de graduação em
engenharia ambiental Publicações da Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP.
[8] Universidade do Estado de Santa Catarina – Departamentode Sistemas de
Informação. Lixo Eletrônico: conscientizar, reaproveitar e reciclar. Disponível
online em http://nti.ceavi.udesc.br/e-lixo/index.php?makepage=danos_a_saude,
acessado em 10, julho, 2018.
[9] Sisinno, C.L.S., Oliveira Filho, E.C., 2013. Princípios da Toxicologia Ambiental.
Editado por Inteciência, Rio de Janeiro, RJ.
[10] Dannoritzer, C., 2014. The E-Waste Tragedy. Disponível online em
https://greenpeacefilmfestival.org/en/les-films/les-films-en-competition-
2017/pollution-dechets/la-tragedie-electronique/, acessao em 12, julho, 2018.
[11] Brasil, 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS. Disponível online em
http://www.agricultura.gov.br/assuntos/vigilancia-agropecuaria/ivegetal/bebidas-

48
arquivos/lei-no-12-305-de-02-de-agosto-de-2010.pdf/view, acessado em 10, julho,
2018.
[12] UNESCO, 2014. Patrimônio da Humanidade no Brasil: Suas Riquezas Culturais e
Naturais. Disponível online em
http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002333/233395m.pdf, acessado em 28,
julho, 2018.
[13] UFOP, 2017. UFOP em números. Disponível online em https://ufop.br/ufop-em-
numeros, acessado em 31, julho, 2018.
[14] Bringhenti, J.R., Günther, W. M. R., 2011. Participação Social em Programas de
Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos. Revista Engenharia Sanitária
Ambiental, Volume 16, pp. 421-430.
[15] Jornal da UFOP. A coleta seletiva dos resíduos sólidos da Escola de Minas da
UFOP, pg.12, Ouro Preto, 2002.
[16] MAGDALENO, D.F., 2014. Diagnóstico preliminar da divulgação de ações de
gestão ambiental em portais elewtrônicos das instituições federais de ensino
superior da região sudeste do Brasil. Monografia de graduação em engenharia
ambiental. Publicações da Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP.

49
Capítulo 3

Proposta de transformar o
Campus Congonhas do Instituto
Federal de Minas Gerais em Escola
Verde Ambientalmente Sustentável

Camila Amorim Araújo Magalhães


Thiago Henrique Oliveira Silva
Maria Angélica Vieira Pinto
Henor Artur de Souza
José Francisco de Prado Filho

50
Camila Amorim Araújo Magalhães
Sou formada em Técnico em Edificações pelo Instituto Federal de
Minas Gerais-Campus Congonhas. Tive a experiência de participar
como bolsista de dois projetos de iniciação científica durante o curso.
O primeiro foi em 2017, Projeto de Jardim Filtrante para pós-
tratamento de águas residuais do IFMG-Campus Congonhas. Nesse
trabalho estudamos tudo sobre a implantação do Jardim Filtrante,
normas a serem seguidas, materiais necessários para a execução,
estudamos sobre as etapas do tratamento de esgoto, o papel das
plantas, realizamos o estudo topográfico do local, entre outros. O
segundo foi em 2018, Proposta de transformar o IFMG-Campus
Congonhas em escola verde ambientalmente sustentável. Nesse
trabalho estudamos importantes selos para as universidades, que são
Certificação Verde e Certificação LEED. Estudamos também como
acelerar a eficiência das edificações, a importância do conforto e da
sustentabilidade nas escolas, entre outros. Em janeiro de 2018,
concluí meu estágio na Iulya Oliveira-Arquitetura & Interiores, no
qual auxiliei na realização de projetos arquitetônicos em AutoCAD
e na realização de projetos de decoração de interiores 3D em
Sketchup. Durante o estágio tive a oportunidade de conhecer e
participar do processo de aprovação de projetos na Prefeitura, tal
como seguir as exigências do município e adequar o projeto
arquitetônico para ser aprovado. Atualmente, estou cursando
Zootecnia na Universidade Federal de São João Del Rei.

Thiago Henrique Oliveira Silva


Atualmente sou servidor público federal no Instituto Federal de Minas
Gerais (IFMG) em exercício na unidade administrativa central em Belo
horizonte – MG. Possuo curso técnico em Mecatrônica, com formação
também nas áreas de tecnológica em Gestão Financeira, Engenharia de
Produção, com MBA em Finanças e Engenharia de segurança do
trabalho. Estou a doze anos no mercado de trabalho sendo sete na
iniciativa privada e cinco na administração pública federal, tendo atuado
nos segmentos de Mineração, Siderurgia e Educação, em áreas como
administração de materiais/suprimentos, gestão de projetos de
engenharia, tecnologias para mineração, TI e na administração nos
setores administrativos, ensino, modelagem de dados e Meio Ambiente.
Contatos: (31) 99295-6102 E-mail:[email protected]
/[email protected]/[email protected]

51
Maria Angélica Vieira Pinto
Graduada em Engenharia Civil e Mestrado em Estrutura/Estrutura
Metálica pela Universidade Federal de Ouro Preto (PROPEC). Tem
experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em construção civil
residencial. No Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) Campus
Congonhas leciona atualmente Planejamento de Obras, Gerenciamento
de Obras, Tecnologia das Construções II e Serviços de Acabamentos,
dando ênfase aos sistemas construtivos industrializados. Participou da
Comissão de Sustentabilidade no período de 2015 a 2018 no IFMG
Campus Congonhas. Atualmente é representante do Colegiado do Curso
Técnico de Edificações do IFMG Campus Congonhas. Desenvolve
projetos de iniciação científica nos temas de sustentabilidade, patrimônio
histórico, sistemas construtivos industrializados e compósitos. E-mail:
[email protected]

Henor Artur de Souza


Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de
Santa Catarina-UFSC (1981), mestrado em Engenharia Mecânica,
Ciências Térmicas, pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
(1985), doutorado em Engenharia Mecânica, Fluídos, pela Universidade
Federal de Santa Catarina-UFSC (1993). Professor Titular da
Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP atuando na graduação em
Engenharia e Arquitetura e pós-graduação a nível de mestrado e
doutorado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil-
PROPEC. Possui experiência na área de Engenharia Mecânica, com
ênfase em Fenômenos de Transporte, atuando principalmente nos
seguintes temas: pesquisa básica e aplicada em fenômenos de transporte,
desempenho térmico de edificações e conforto ambiental. E-mail:
[email protected]

José Francisco do Prado Filho


Ecólogo pela Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro - SP
(1979), mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul - Porto Alegre - RS (1985) e doutorado em Ciências da Engenharia
Ambiental pela Universidade de São Paulo - USP - Escola de Engenharia
de São Carlos - SP (2001). Professor Titular aposentado da Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP), onde atuou no ensino de disciplinas
ambientais na graduação e pós-graduação. Foi coordenador do curso de
graduação em Engenharia Ambiental da Escola de Minas da UFOP de
2007 a fevereiro de 2011 e docente permanente e orientador do programa
de pós-graduação (stricto-sensu) em Engenharia Ambiental (PROAMB-
UFOP, Conceito 5 na Capes 2017-2020). E-mail: [email protected]

52
INTRODUÇÃO
Uma das formas de se garantir uma melhor qualidade de vida às futuras gerações pode
ser àquela por meio de um processo pedagógico participativo que promova uma
consciência crítica sobre os problemas do ambiente por meio da discussão na sala de aula
da importância de se preservar e não agredir o meio ambiente. Durante a infância a criança
está sempre em contato com diversos conteúdos. Essa é uma fase essencial para que a
escola desenvolva uma educação ambiental essencial para a criação de uma consciência
sustentável. A Educação Ambiental (EA) nas escolas foi dificultada pela pouca
institucionalização da questão ambiental nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs),
currículos e outros documentos normativos das instituições. Outros fatores que
dificultavam o desenvolvimento da EA foram as limitações dos professores em
desenvolver a temática ambiental a partir dos conteúdos disciplinares, devido à carência
de material didático, inadequação estrutural e ergonômica das escolas. A importância do
Projeto Escola Verde (PEV) é fazer uma investigação a respeito das dificuldades e
promover ações no sentido de minimizar os problemas identificados, a partir da
participação das comunidades escolares (PEV, 2017). O Brasil desde a Rio 92, Agenda
21 e a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) trazem diversos instrumentos
norteadores de práticas de EA. Vários livros estão disponíveis trazendo metodologias
ativas para inserção de práticas educacionais voltadas para EA. Em 2015 líderes mundiais
reuniram-se e criaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) que são
parte da Agenda 30 com o propósito de modificar o atual cenário do planeta. No Brasil é
cada vez maior o número de selos verdes de empreendimentos imobiliários nos quais a
certificação ambiental tornou-se uma realidade na construção civil. As Certificações
Ambientais (CA) na construção civil, do ponto de vista de políticas públicas tem como
meta a afirmação formal à sociedade de que empresas se destacam, em termos ambientais
em seus processos produtivos e prestação de serviços e educar consumidores sobre
impactos ambientais da produção, uso e descarte de produtos, levando a uma mudança no
padrão de consumo, reduzindo os impactos negativos (TÉCHNE, 2017). A norma NBR
ISO 14001 (ABNT, 2015) certifica o sistema de gestão ambiental de empresas e
empreendimentos de qualquer setor. Em sua operação, a empresa deve levar em conta o
uso racional de recursos naturais, a proteção de florestas e a preservação da
biodiversidade, entre outros quesitos. Ao contrário das demais certificações, não há um
selo visível em produtos.
Os métodos para avaliação ambiental dos edifícios foram criados na Europa, EUA e
Canadá, por volta dos anos 1990, com a intenção de encorajar o mercado a obter níveis
superiores de desempenho ambiental. Pelo fato das agendas ambientais serem
diferenciadas, os métodos empregados em outros países não devem ser utilizados sem as
devidas adaptações, incluindo a definição dos requisitos de sustentabilidade que devam
ser atendidos pelos edifícios no Brasil. Atualmente, cada país europeu, além de Estados
Unidos, Canadá, Austrália, Japão e Hong Kong, possui um sistema de avaliação de
edifícios. O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, criado em 2007 com o

53
objetivo de difundir a utilização de práticas sustentáveis no setor da construção civil,
trazendo qualidade de vida aos usuários, trabalhadores e ambiente em torno da edificação,
reconhece a certificação como meio de contribuição para o desenvolvimento sustentável
no setor da construção civil. Dada à importância da construção civil e sua grandiosidade
no que envolve materiais, serviços e pessoas, justifica-se a fundamental importância na
implementação e valorização da certificação ambiental no setor. No Brasil, o atestado de
boa conduta ambiental e social mais difundido é a certificação LEED, do Conselho Norte
Americano de Prédios Verdes (USGreen Building Council - GBC). Mas outros sistemas
de certificação estão começando a despontar. Em abril de 2008 foi lançada a certificação
para empreendimentos sustentáveis de Alta Qualidade Ambiental (Aqua), que foi
adaptada para atender as características ambientais do país. Há também o Selo Procel
Edifica e o Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal.
Os temas que estão bastante em evidência atualmente é eficiência energética e
edificação sustentável. Um conceito sobre eficiência energética é a conservação e uso
racional de energia por meio de medidas para a economia da energia elétrica por meio
do consumo consciente de iluminação, de climatização (aquecimento e refrigeração) e
envoltória (ventilação natural e isolamento térmico). Neste conceito pode ser incluída a
geração de energia por fontes renováveis. São muitas as ações de mitigação e adaptação
necessárias para combater as mudanças climáticas e alcançar as metas estipuladas para
este objetivo (FEBRABAN, 2017).
O selo Procel Edificações tem por objetivo principal identificar as edificações que
apresentam melhores classificações de eficiência energética em uma dada categoria. É
um instrumento de adesão voluntária estabelecida em novembro de 2014. Nos edifícios
comerciais, de serviços e públicos são avaliados três sistemas: envoltória, iluminação e
condicionamento de ar. Nas unidades habitacionais são avaliados: a envoltória e o sistema
de aquecimento de água. O selo Procel é outorgado tanto na etapa de projeto, válido até
a finalização da obra, quanto na etapa da edificação construída. Os selos são emitidos pela
Eletrobrás Procel após a avaliação realizada por um Organismo de Inspeção Acreditado
(OIA), pelo Inmetro, com escopo de eficiência energética em edificações OIA-EEE. Até
o ano de 2015, dezesseis edificações receberam o selo, sete na fase de projetos e nove
edificações concluídas. Duas edificações da Eletrosul foram contempladas com o selo da
Procel: o retrofit do edifício sede, em Florianópolis, e a nova construção do setor de
manutenção da empresa, localizada também em Santa Catarina, no Município de Campos
Novos (SELO PROCEL, 2015).
A Portaria no53 de 27 de fevereiro de 2009 (JORNADA, 2009) tem como objetivo
criar condições para etiquetagem do nível de eficiência energética de edifícios comerciais,
de serviços e públicos. Este regulamento é aplicado a edifícios com área total útil mínima
de 500m2 e/ou com tensão de abastecimento superior ou igual a 2,3kV, incluindo
edifícios condicionados, parcialmente condicionados e não condicionados. A etiquetagem
de eficiência energética de edifícios deve atender aos requisitos relativos ao desempenho

54
da envoltória, à eficiência e potência instalada do sistema de iluminação e à eficiência do
sistema do condicionamento do ar.
O Projeto de Lei no568/2015 do Executivo apresenta parâmetros e ferramentas para a
utilização em imóveis (novos ou construídos) que passarão por reforma ou ampliação da
edificação ao adotarem o conceito sustentável e obterem o incentivo fiscal. Esse projeto
de lei atende ao disposto do parágrafo único do artigo 195 da Lei no 16.050 de 2014 –
Diretrizes da Política Ambiental – que estabelece que para estimular as construções
sustentáveis, lei específica poderá criar incentivos fiscais tais como IPTU Verde,
destinados a apoiar adoções de técnicas de construção voltadas à racionalização do uso
de energia e água, gestão sustentável de resíduos sólidos, aumento da permeabilidade do
solo, entre outras práticas (BRASIL, 2017).

Estudo das atividades desenvolvidas da comissão no IFMG Campus


Congonhas
No dia 07 de dezembro de 2015 foi publicada uma matéria no site antigo do IFMG
Campus Congonhas informando a criação da comissão de estudos de práticas sustentáveis
do IFMG Campus Congonhas. Nas reuniões feitas pelos membros da comissão foram
estabelecidos os primeiros projetos a serem desenvolvidos no Campus tais como a
implementação do jardim filtrante (limpeza do efluente da ETE, por meio de raízes de
plantas para utilização na limpeza dos prédios e na irrigação), e o desenvolvimento do
processo de compostagem (transformação da matéria orgânica, encontrada na limpeza
das plantas em um produto orgânico que poderá ser utilizado como substância para o
fortalecimento das plantas). A iniciativa teve como objetivo prever maior eficiência e
racionalização dos recursos ambientais disponíveis e a minimização do impacto da
instituição no meio ambiente e na sociedade e a conscientização da comunidade
acadêmica. Uma das propostas da comissão foi de atuar em um projeto de eficiência
energética que visa reduzir o consumo de energia no campus.
Outras propostas de projetos neste período foram a organização de um pomar, um
viveiro de mudas, melhorias no projeto paisagístico, contribuindo para a qualidade de
vida e redução de calor, paredes verdes, reaproveitamento de água de chuva, campanha
de redução de consumo de água, (descritos na Ata 03/2017 da comissão de estudos e
práticas sustentáveis do IFMG Campus Congonhas, em 20 abr. 2017). Outras questões
que estão sendo levantadas e verificadas é a garantia da área permeável que é exigida pela
legislação local e o plantio de árvores para melhorar as condições de conforto térmico nos
ambientes.

Jardim filtrante
O projeto do jardim filtrante nasceu da necessidade da associação do bairro da região
que reclamou do mau cheiro que a ETE causava no local. Devido à esta reclamação, a
comissão de estudos de práticas sustentáveis do IFMG Campus Congonhas reuniu-se para
verificar a situação. A solução encontrada para resolver a situação seria a construção de

55
um jardim filtrante, que ia servir como sistema terciário de tratamento do esgoto. A partir
deste período houve uma busca por alternativas para construção do jardim filtrante. Em
uma reunião da comissão surgiu a ideia de começar um projeto de pesquisa, no qual teve
a participação dos alunos do curso técnico de edificações. A pesquisa na primeira fase
aconteceu com o amadurecimento das ideias, a partir de estudos sobre o assunto com as
referências bibliográficas disponíveis. Houve um avanço considerável no primeiro ano,
onde houve uma apresentação do projeto na feira de ciências que aconteceu em 03
dezembro de 2016, Figuras 1 e 2.

Figura 1. Modelo do projeto Figura 2. Maquete do projeto inicial


inicial de pesquisa do jardim filtrante de pesquisa do jardim filtrante do
do IFMG Campus Congonhas.Fonte: IFMG Campus Congonhas. Fonte: os
os autores. autores.

A segunda fase do projeto, no ano de 2017, houve um avanço no desenvolvimento dos


estudos, Figura 3. Foi feito um levantamento topográfico da área onde será seria
construído o jardim filtrante. A função deste levantamento topográfico é de locar o jardim
filtrante e verificar o desnível desde a caixa de saída da ETE até a entrada do jardim
filtrante. Atualmente, o projeto está na fase de compras de materiais para a implantação
no IFMG Campus Congonhas para a sua construção.

56
Figura 3. Modelo do jardim filtrante feito em SketchUp. Fonte: os autores.

Usinas fotovoltaicas
O IFMG implantou um total de oito usinas fotovoltaicas, no segundo semestre de 2016.
Os campi que receberam as usinas foram os campi Bambuí, Formiga, Ribeirão das Neves,
Betim, Ouro Preto, Congonhas, Governador Valadares e São João Evangelista com o
objetivo de produzir energia elétrica de forma mais sustentável. Os critérios para a escolha
das localidades foram o nível de incidência solar e a infraestrutura mínima. Outro fator
importante para a seleção do campus contemplado para a instalação da usina fotovoltaica
foi que as usinas fossem agrupadas por região, de modo que houvesse dois campi
contemplados em cada uma delas. A usina de geração de energia é constituída por placas
fotovoltaicas, um inversor e um transformador. No IFMG Campus Congonhas, Figura 4,
a instalação da usina de energia fotovoltaica foi feita no telhado do prédio dos
laboratórios.
Na usina fotovoltaica, a energia solar incide sobre os painéis que são instalados em
locais estratégicos, normalmente em telhados, que conseguem captar e transformar essa
energia em energia elétrica contínua. O inversor transforma a energia elétrica das placas
solares para o padrão distribuído pela Companhia Energética de Minas Gerais S.A.
(Cemig), o que possibilita a interligação entre as redes. A Cemig instalou um medidor
bidirecional, que mede tanto a energia injetada na rede, quanto à consumida. Com este
projeto houve um investimento no desenvolvimento de pesquisas nesta área, pois existe
um banco de dados do sistema utilizado, possibilitando o desenvolvimento de estudos
sobre energia eficiente, de tal forma que haja uma interação com a comunidade para a
solução de redução da conta de energia elétrica.

57
Figura 4. Instalação da usina de energia fotovoltaica no telhado do prédio dos laboratórios do
IFMG Campus Congonhas.
Fonte: CORREIO DE MINAS, 2017.

Escritório de projetos sustentáveis


Outro projeto muito importante foi a criação doescritório de projetos sustentáveis,
iniciado em 2017, que dentre os projetos do seu portifólio deu início na prospecção e
execução do projeto paisagístico no próprio Campus Congonhas, Figura 5, com a
colaboração dos alunos bolsistas do curso integrado de edificações. Este estudo fez uma
introdução sobre o paisagismo, análise do tipo de solo para verificar a adaptação das
espécies selecionadas e correção do solo. Um dado muito importante que irá influenciar
nas condições de conforto térmico nas edificações existente no Campus Congonhas é o
estudo de sombras, feito nos horários de 10:00h, 12:00h e 15:40h.

Figura 5. 3D da vista principal do IFMG Campus Congonhas.


Fonte: MARTINS et al., 2017.

58
Neste estudo houve um mapeamento das plantas que se adequam às condições do
ambiente no IFMG Campus Congonhas. Existe um registro fotográfico com a
identificação de cada espécie, Figuras 6 e 7.

Figura 6. Quaresmeira no estacionamento Figura 7. Flor da Quaresmeira. Fonte:


frontal do IFMG Campus Congonhas. MARTINS et al., 2017.
Fonte: MARTINS et al., 2017.

Jardim Sustentável
Um conceito que está sendo implantado no paisagismo do Campus Congonhas é o
jardim sustentável, que se preocupa com o meio ambiente favorável e a economia de
energia e de água na sua manutenção. Neste jardim está sendo utilizado a adaptação de
plantas e a utilização de materiais reciclados para compor o ambiente, Figuras 8 e 9. Como
um exemplo simples, o carrinho de mão, Fig. 9, que foi utilizado nas obras de
infraestrutura do IFMG Campus Congonhas, após a sua vida útil foi pintado e reutilizado
como elemento decorativo do jardim.

Figura 8. Vista lateral esquerda do Figura 9. Foto do carrinho de


jardim do IFMG Campus Congonhas. mão como elemento decorativo
do jardim do IFMG Campus
Fonte: MARTINS et al., 2017.
Congonhas. Fonte: MARTINS et
al., 2017.

59
Para que o paisagismo continue contribuindo para o conforto visual e térmico do
espaço verde do IFMG Campus Congonhas foi estudado a manutenção do jardim e o
combate às pragas e doenças. A fertilização das plantas está sendo feito com o material
de compostagem feito a partir da decomposição da matéria orgânica, como por exemplo,
as folhas secas das árvores que são cercas vivas, sansão do campo, do IFMG Campus
Congonhas, Figura 10.

Figura 10 . Foto da cerca viva que contorna o IFMG Campus Congonhas


Fonte: MARTINS et al., 2017.

Conforto térmico nas edificações


Algumas das edificações que compõem o IFMG Campus Congonhas possuem salas
de aula e laboratórios técnicos e de informática, que já foram utilizadas por um período
médio de 10 anos. Este prédio é o prédio que corresponde ao prédio que é visto ao entrar
no campus. Neste caso é importante fazer um estudo de avaliação dos ambientes internos
em relação à satisfação dos usuários quanto à sensação térmica do ambiente, quanto ao
nível de ruído interno, quanto à quantidade de luz natural e/ou artificial e quanto ao
próprio espaço físico. A primeira alternativa foi verificar as condições de conforto térmico
dos ambientes, levando em conta as medições de temperatura do meio externo, por meio
de uma estação meteorológica implantada no local, Figura 11.
No ano de 2018, foi feito uma pesquisa de campo na cidade de Congonhas e verificou-
se que não existia uma estação meteorológica, para fazer a coleta dos dados climáticos da
cidade. A estação meteorológica modelo wt1081 freq 433mhz, foi adquirida pelo IFMG
Campus Congonhas. As medições feitas são a temperatura externa, umidade relativa do
ar, velocidade e direção do vento e nível pluviométrico. Este modelo de equipamento foi
adquirido devido ao custo mais acessível, e foi instalada no prédio dos laboratórios do

60
IFMG Campus Congonhas. A estação meteorológica possui uma estação base (receptor),
que se encontra na sala dos professores do curso técnico de edificações.

Figura 11. Instalação da Estação Meteorológica no prédio dos laboratórios do IFMG Campus
Congonhas.
Fonte: os autores

Resultados parciais obtidos


Com as adequações da educação ambiental propostas no IFMG Campus Congonhas
verificou-se que houve mudança no comportamento dos alunos, técnicos e professores, a
saber:
Adequação das ementas de algumas disciplinas, utilizando como exemplos práticos
estudos ambientais nas aulas dos cursos técnicos. Um exemplo de adequação é na
disciplina de serviços de acabamentos que trata sobre os sistemas de construção
industrializados brasileiros. Nesta disciplina foi adicionado o assunto sobre a reutilização
dos materiais que sobram na obra, por exemplo o gesso acartonado, as sobras dos cortes
das chapas devem retornar para o distribuidor que devolve para a fábrica para a
reutilização do produto.
Ao término de 2018 juntamente com a equipe de diretoria de administração do campus
foram finalizadas as substituições das lâmpadas fluorescentes por lâmpadas de led,
observando os parâmetros para conforto dos usuários como potência e luminosidade. Esta
troca de tipos de lâmpadas vai gerar uma economia bem favorável ao IFMG Campus
Congonhas.
Com a estação meteorológica instalada, os primeiros dados climáticos da cidade de
Congonhas foram medidos no dia 16/03/2018, Tabela 1. A temperatura interna é medida
pela estação base e os dados são coletados por um software EasyWeather. O ambiente
interno considerado na coleta dos dados foi a sala dos professores, no prédio dos
laboratórios.

61
Tabela 1. Dados obtidos da estação meteorológica instalada no campus
Tempo (h) Temperatura Umidade Temperatura Umidade Pressã Vento Chuva
interna (ºC) relativa externa (ºC) relativa o (Km/h) (mm)
interna externa absolu
ta
(RH) (RH)
(hpa)

18:07 25,3 74 20,7 95 909,2 1,1W 0,3

18:08 25,3 74 20,7 95 909,2 5,0W 0,3

18:09 25,3 74 20,7 95 909,2 7,2W 0,3

18:10 25,3 74 20,7 95 909,2 8,6 W 0,3

18:11 25,3 74 20,6 95 909,4 9,7 SE 0,3

Na Figura 12 apresenta-se a evolução temporal da temperatura do ar externo e interno


para o dia 08 de abril de 2018, como um exemplo dos resultados que estão sendo obtidos.

Figura 12. Gráfico temperatura x tempo no dia 08 de abril de 2018, da cidade de


Congonhas.
Fonte: os autores.

Observa-se que a temperatura interna da sala do laboratório de edificações tem uma


variação média de 1˚C, ou seja, a temperatura interna variou entre 23˚C a 24˚C. O valor
médio da temperatura interna ficou em 23,3˚C. Já a temperatura externa variou de 17˚C
até 26,2˚C, tendo um valor médio de 21,1˚C. A diferença entre a temperatura externa e a
temperatura interna foi de 2,2˚C.

62
CONCLUSÃO
Algumas ações que foram planejadas chegaram a ser concluídas. Estas ações foram a
instalação de uma usina de energia fotovoltaica, o tratamento de esgoto por meio de
Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), o paisagismo do campus e a instalação e
operação de um escritório de gestão dos projetos sustentáveis. O resultado da usina de
energia fotovoltaica foi bem receptivo à comunidade, pois houve uma economia no custo
final da energia elétrica consumida. O paisagismo promoveu melhorias no que se refere
às condições de conforto no ambiente escolar. A ETE atendeu às condicionantes
ambientais exigidas pelo município onde o campus está inserido. O escritório tem
operado no gerenciamento do portfólio de projetos da comissão, utilizando as boas
práticas de mercado nesta área.
Diante de todos os projetos que estão em andamento no IFMG Campus Congonhas
para melhorar as condições ambientais, os estudos que necessitam desenvolver de forma
mais ampla são:
a) A análise de conforto térmico, acústico e luminotécnico dos prédios que
compõem o campus. O conforto ambiental em sala de aula é um assunto
bastante discutido entre os pesquisadores. Para que haja um
desenvolvimento adequado nas tarefas escolares, são necessários
parâmetros mínimos de temperatura, ruído e iluminação no ambiente;
b) Sistema de irrigação por gotejamento, que são econômicos e sustentáveis, e
levam a água diretamente as plantas por gotejamento em doses adequadas,
eliminando a possibilidade de gastos desnecessários de água;
c) Sistema de captação de água de chuva, que é uma atitude ecologicamente
responsável e que em períodos de crise hídrica podem ser alternativas
emergenciais;
d) Descarte dos resíduos sólidos, em especial orgânicos, que são gerados nos
períodos de atividades do campus, tanto na área administrativa, quanto na
área acadêmica. Deverão ser verificados o volume semanal produzido e uma
adequada reutilização e descarte em conformidade com as questões
ambientais sustentáveis.
Outra atividade que deu início em 2018 no IFMG Campus Congonhas é a campanha
contra o desperdício e pela preservação do patrimônio. Esta campanha tem como meta
diminuir o desperdício em relação ao consumo de água, energia elétrica, recursos
patrimoniais e dos alimentos consumidos.

63
REFERÊNCIAS
CORREIO DE MINAS, 2017. Disponível em:<
http://www.correiodeminas.com.br/site/energia- sustentavel-gera-economia-nos-campi-
do-ifmg-em-congonhas-e-ouro-preto/>. Acesso em 28 jun. 18.
FEBRABAN, 2017. Edificações sustentáveis e eficiência energética. Centro de estudos
de sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas - FVG e EAESP e Federação Brasileira
de Bancos – FEBRABAN. 1a edição – fevereiro de 2017, p. 52.
JORNADA, J. A. H., 2009. Regulamento técnico da qualidade para eficiência energética
de edifícios comerciais, de serviços e públicos. INMETRO, Portaria no 53 de 27 de
fevereiro de 2009.
PEV, 2017. Disponível em:< http://escolaverde.org/site/>. Acesso em: 14 nov.17.
MARTINS et al., 2017. Relatório Criação de escritório de projetos
sustentáveis.Congonhas, p. 87.
BRASIL. 2017. Projeto de Lei No568/ 2015 do Executivo. Câmara Municipal de São
Paulo. Secretaria Geral Parlamentar. Secretaria de Documentação. Equipe de
Documentação do Legislativo.
SELO PROCEL, 2015. Disponível em: <http://sustentarqui.com.br/dicas/selo-procel-
edificacoes/>. Acesso em 15 nov. 17.
TÉCHNE, 2017. Revista mensal. Edição 246, ano 25 – set. 2017. p.56.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 14001:
2015. Sistemas de gestão ambiental. Requisitos com orientações para uso, p. 41.

64
Capítulo 4

O Programa Ecoeficiência do
SENAC São Paulo

César Augusto da Silveira Castro


Leandro Alves de Oliveira
Mariana Zagatti

65
César Augusto da Silveira Castro
Doutor pelo Programa de Saúde Global e Sustentabilidade da
Faculdade de Saúde Pública - USP. Mestre em Gestão
Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, Bacharel
em Relações Internacionais e Master em Programação
Neurolinguística. Atua em Docência, Consultoria, Auditoria,
Treinamentos e em Gestão para a Sustentabilidade. Com
trabalhos realizados em países da Comunidade Europeia,
América do Sul e África. E-mail: [email protected] /
[email protected].

Leandro Alves de Oliveira e Mariana Zagatti


Bacharel em administração pela Unisant’Anna, pós-graduado
em gestão ambiental pelo Senac São Paulo e auditor líder da
ABNT NBR ISO 14.001 pela De Norske Veritas - DNV. Atua
na coordenação do Programa Ecoeficiência do Senac São Paulo
desde 2007 e é membro do Conselho de Sustentabilidade da
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado
de São Paulo. E-mail: [email protected]

Mariana Zagatti
Bióloga, Pós-graduada em Gestão Ambiental e Gestora Ambiental
do Centro Universitário Senac – Santo Amaro, atua com educação
ambiental e treinamentos, gestão de resíduos, fiscalização
ambiental, gestão integrada, elaboração de estudos de impactos
ambientais, auditoria, licenciamento e consultoria. E-mail:
[email protected]

66
INTRODUÇÃO
Criado em 1946, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac é uma
instituição sem fins lucrativos, sendo o principal agente de educação profissional voltado
para o Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Brasil. Com cursos presenciais e à
distância, em diversas áreas do conhecimento, que vão da Formação Inicial e Continuada
à Pós-graduação, está presente em todo território brasileiro.
Neste capítulo aborda-se somente o Senac São Paulo, que possui estrutura composta,
atualmente, por três Campi: Centro Universitário Senac Águas de São Pedro, Centro
Universitário Senac Campos do Jordão e Centro Universitário Senac Santo Amaro, na
zona sul da capital – e outras 57 unidades distribuídas pela Grande São Paulo e interior
do Estado, no qual o Programa Ecoeficiência é obrigatório para todas as unidades do
Estado de São Paulo.
O Programa Ecoeficiência foi criado em 2002 pelo Senac São Paulo, e é composto por
nove procedimentos: 1) Indicadores de Ecoeficiência; 2) Monitoramento da qualidade de
água; 3) Limpeza e desinfecção de reservatórios e rede hidráulica; 4) Limpeza e
desinfecção de bebedouros; 5) Coleta seletiva de resíduos sólidos; 6) Coleta seletiva de
óleo vegetal usado; 7) Coleta e destinação de lâmpadas fluorescentes ; 8) Destinação de
pilhas e baterias e 9) Cadastramento e renovação de Cadastro de Grande Gerador de
Resíduos (São Paulo – SP). Com três níveis de certificação, sendo que no nível 1: envolve
funcionários e alunos, no nível 2: funcionários, alunos e prestadores de serviços e nível
3: funcionários alunos, prestadores de serviços e a comunidade. Após a implantação do
Sistema de Gestão Ambiental, ou seja, adequação de todos os requisitos da norma com
base no nível desejado (1, 2 ou 3) para a realidade da unidade, ela pode solicitar uma pré-
auditoria. A pré-auditoria tem um caráter de assessoria, de auxílio nas dificuldades
encontradas com relação à implantação e na identificação de não conformidades e
orientação quanto à sua adequação. Após a pré-auditoria e a implantação das adequações
sugeridas, a unidade deve solicitar a auditoria. A auditoria tem o objetivo de verificar a
conformidade do sistema implantado na unidade com a norma do Sistema Senac de
Gestão Ambiental. Após a auditoria a Gerência de Materiais e Serviços emite um relatório
formal e assinado pela Gerência. Caso a unidade obtenha a certificação, ela recebe
também um certificado assinado pela diretoria informando o nível implantado e o prazo
de validade. Desta forma, o Senac São Paulo demonstra o claro posicionamento quanto
aos compromissos que devem nortear a relação de suas atividades, seus produtos e
serviços com o meio ambiente e, consequentemente, com a sociedade, reforçando seu
engajamento na promoção do desenvolvimento sustentável.

67
ECOEFICIÊNCIA E O SENAC
A expressão ecoeficiência foi lançada pelo World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD), conselho formado pela união de mais de 200 grandes empresas
internacionais com o objetivo de utilizar a liderança empresarial de seus associados como
um catalisador para a promoção do desenvolvimento sustentável (WBCSD, 2018).
Trata-se de uma estratégia de gestão que associa performances empresariais e
ambientais para criar valor com menos impactos ambientais.
Conforme o WBCSD, “a ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens
e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam
qualidade de vida, reduzindo progressivamente o impacto ambiental e o consumo de
recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de
sustentação estimada da Terra” (WBCSD, 2018)..
Em outras palavras, buscar ecoeficiência é melhorar a performance ambiental da
empresa por meio da otimização ou da redução do uso de insumos, como água, energia,
materiais e matérias-primas, no processo produtivo.
É gerar menos resíduos e efluentes e assumir a responsabilidade pelos seus produtos
no ciclo de vida completo, ou seja, desde a fabricação até o destino final, mitigando os
impactos ambientais sem perder a eficácia empresarial.[tm1]

Aplicação no Senac
No caso do Senac, a implantação de uma estratégia de ecoeficiência envolve ações de
eficiência no uso de recursos naturais e materiais, como:
• Redução do consumo de energia, pela adoção de condutas mais eficientes e,
quando cabível, pela substituição de equipamentos ineficientes.
• Diminuição do consumo de água, por meio de ações preventivas (monitoramento,
controle de vazamentos) e corretivas.
• Redução da geração de resíduos e destinação adequada dos resíduos gerados.
• Ampliação dos programas de reciclagem.
• Expansão de programas que contribuam para alcançar a eficiência ambiental em
conjunto com a economia financeira.
• Implantação de estratégias ecoeficientes, além de novas tecnologias, apostando na
disseminação interna e externa de uma consciência ambiental por meio de
atividades com foco em educação ambiental.

68
Como surgiu
O racionamento compulsório de energia elétrica, estabelecido pelo governo federal,
ocorrido no ano de 2001, representou um grande desafio para o Senac em razão de suas
características organizacionais, como o número de unidades, a regionalização, a
diversidade de porte, a complexidade e as características de engenharia e arquitetura das
edificações.
Durante os nove meses de racionamento, foi possível promover uma economia global
de 30% ou 3.700.000 kWh com relação ao consumo de energia elétrica do mesmo período
do ano anterior.
A experiência evidenciou a oportunidade de ampliação dessa prática para outros
aspectos que, além da relevância administrativa e financeira, têm forte implicação
ambiental, como no consumo de água e materiais, e na geração e disposição de resíduos
sólidos.
Assim, no dia 27 de novembro de 2002, o Conselho Regional do Senac aprovou, por
meio da Resolução nº 46/2002, o Projeto Ecoeficiência e, com ele, a Política Ambiental
da Rede Senac São Paulo, hoje Compromisso com o Meio Ambiente.
Esse ato marcou o claro posicionamento do Senac São Paulo quanto aos compromissos
que devem nortear a relação de suas atividades, seus produtos e serviços com o meio
ambiente e, consequentemente, com a sociedade, reforçando seu engajamento na
promoção do desenvolvimento sustentável.

Estrutura de trabalho do Programa do SENAC


O Programa Ecoeficiência possui a seguinte estrutura de trabalho:
• Coordenação e desenvolvimento: Locada na Gerência de Materiais e Serviços
(GMS). Tem a função de dar suporte, orientar e direcionar os trabalhos de
ecoeficiência na instituição, além de auditar as unidades nas questões relativas ao
Sistema Senac de Gestão Ambiental (SGA).
• Representantes de ecoeficiência: Profissional de cada unidade. Esses funcionários
disseminam as ações do Programa Ecoeficiência e desenvolvem atividades
ambientais voltadas para a realidade na qual estão inseridos. É com o apoio deles
que o Programa Ecoeficiência se concretiza na instituição (veja item 2.4).

Além disso, o programa conta com o apoio de um grupo de trabalho de ecoeficiência


composto por gerentes do Senac São Paulo.

69
Materiais orientadores
O Programa Ecoeficiência é norteado pelo Compromisso com o Meio Ambiente. Para
atingir os objetivos do compromisso, alguns materiais orientadores estão disponíveis:
o Norma para implantação do Sistema Senac de Gestão Ambiental (SGA):
Apresenta os requisitos necessários para implantar o Sistema Senac de Gestão
Ambiental (SGA).
o Manual de aplicação da identidade visual do Sistema Senac de Gestão
Ambiental: Dispõe de informações sobre o uso eficiente da identidade visual e
mostra como baixar.
Além disso, o programa conta com uma página e uma coluna (chamada
“Reconstruindo Atitudes”) na intranet e uma página na internet (portal do Senac São
Paulo).
A página da intranet é constantemente atualizada com informações sobre o programa.
Conta com todos os materiais orientadores e demais informações. Tem foco no
funcionário e, principalmente, no representante de ecoeficiência.
Quanto ao portal, as informações sobre o programa são mais fechadas. É uma página
que pode ser usada para divulgar o programa para alunos, interessados, comunidade, etc.

Representante de ecoeficiência
Toda unidade/gerência deve designar pelo menos um funcionário para representar o
programa em sua unidade.
O representante é o contato da unidade com a coordenação do Programa Ecoeficiência.
É por meio dele que as ações elaboradas pelo programa acontecem na unidade.
Basicamente, suas funções são:
• Implantar na unidade os procedimentos básicos e monitorá-los.
• Implantar e manter o Sistema Senac de Gestão Ambiental (SGA).
• Introduzir novos projetos propostos pelo programa, quando possível ou
necessário.
• Ser a fonte de informações do programa.

Características do representante
Na instituição de um representante, a gerência/unidade considera:

70
Características gerais
• Funcionário contratado, de preferência, por 40 horas semanais ou professor da
área de meio ambiente e/ou saúde e segurança do trabalho com contratação CLT.
• Possibilidade e disponibilidade de dedicação ao Programa Ecoeficiência.
• Disponibilidade para participar das atividades desenvolvidas e dos cursos
oferecidos pelo Programa Ecoeficiência.
• Interesse pelas ações relacionadas ao meio ambiente/saúde e segurança do
trabalho/sustentabilidade realizadas pelo Senac São Paulo.

Características pessoais
• Afinidade com a área ambiental ou de saúde e segurança do trabalho.
• Bom relacionamento com os colegas da unidade (é fundamental, pois todas as
atividades dependem do envolvimento dos colegas).
• Facilidade de comunicação e compartilhamento de informações.
• Facilidade de trabalho em equipe.
• Comprometimento com o desenvolvimento e o acompanhamento dos projetos.
• Visão sistêmica.

Procedimentos básicos
Para iniciar as atividades do Programa Ecoeficiência na unidade, devem-se introduzir
alguns procedimentos iniciais, que são compulsórios, isto é, devem ser implantados em
todas as unidades da rede e de acordo com a orientação de aplicação. São eles:
• PROCEDIMENTO 1: Indicadores de Ecoeficiência
• PROCEDIMENTO 2: Monitoramento da qualidade de água
• PROCEDIMENTO 3: Limpeza e desinfecção de reservatórios e rede hidráulica
• PROCEDIMENTO 4: Limpeza e desinfecção de bebedouros
• PROCEDIMENTO 5: Coleta seletiva de resíduos sólidos
• PROCEDIMENTO 6: Coleta seletiva de óleo vegetal usado
• PROCEDIMENTO 7: Coleta e destinação de lâmpadas fluorescentes
• PROCEDIMENTO 8: Destinação de pilhas e baterias
• PROCEDIMENTO 9: Cadastramento e renovação de Cadastro de Grande
Gerador de Resíduos (São Paulo – SP)

71
SISTEMA SENAC DE GESTÃO AMBIENTAL[tm2]
Apresentação
Para Berthanlanffy (1975), “Sistema é um conjunto de elementos interconectados, de
modo a formar um todo organizado”.
Para Valle (2006), “Gestão Ambiental consiste em um conjunto de medidas e
procedimentos bem definidos que, se adequadamente aplicados, permitem reduzir e
controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente”.
No caso da qualidade, por exemplo, os processos são direcionados para a satisfação do
cliente; na saúde e segurança do trabalho, para a preservação da saúde e satisfação do
trabalhador, logo, nos sistemas de gestão ambiental, o foco está voltado para preservação
e controle dos recursos naturais e minimização dos impactos no meio ambiente causados
pela organização.

Implantação
A implantação do Sistema de Gestão Ambiental é um processo que deve ser bem
elaborado, pois envolve um aspecto muito delicado que é a mudança da cultura e dos
hábitos comportamentais dos colaboradores. Desse modo, é fundamental explicar as
mudanças que serão realizadas e a grande importância que elas terão.
Para auxiliar na implantação e na manutenção do sistema, o Senac São Paulo optou
pela metodologia PDCA, um ciclo de melhoria contínua utilizado em conformidade com
o que preconizam as normas ISO da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O método PDCA reúne os conceitos básicos da administração, apresentando-os em
uma estrutura simples e clara, por meio de um ciclo. As letras que formam a sigla PDCA
representam em seu idioma de origem: Plan, Do, Check, Act, o que significa: Planejar,
Executar, Verificar e Atuar.
A metodologia foi desenvolvida por Walter A. Shewhart na década de 30 e consagrada
por Willian Edwards Deming a partir da década de 50. Foi empregada com sucesso nas
empresas japonesas para aumento da qualidade em seus processos.

Figura 1. Metodologia PDCA – Melhoria Contínua

72
Planejamento (Plan)
Antes de qualquer atitude, é necessário observar a atual situação. Um bom começo é
identificar o que já existe na unidade. Com base nos requisitos da norma, diagnosticar as
ações já existentes para saber se falta algo para atender aos requisitos.
Verificar pontos fracos e pontos fortes das ações existentes, procurar dados numéricos
da situação atual e, a partir disso, pensar nos objetivos e metas de cada ação do sistema.
Pensar em “o que fazer” e “como fazer” e estabelecer um cronograma para isso.

Indicadores
É um conjunto de dados que expressam o desempenho de determinados processos.
Eles podem ser qualitativos ou quantitativos. Exemplo: Com respostas de uma pesquisa
de satisfação do cliente, trabalhamos considerando um indicador qualitativo. Na
comparação do volume de resíduos gerados entre meses ou anos em um processo de
reciclagem, consideramos um indicador quantitativo.
Na fase de planejamento, é interessante pensar na criação de alguns indicadores, pois
na terceira etapa, na verificação, haverá a necessidade de avaliar as ações implantadas.
Posteriormente, os indicadores criados poderão ser aperfeiçoados e serão úteis para
manter o ciclo contínuo do sistema.
Diversos indicadores podem ser criados, considerando a realidade de cada unidade e
as especificidades de cada processo, porém temos de tomar cuidado para não tornar o
processo muito burocrático.
Execução (Do)
As ações estabelecidas no planejamento devem ser executadas dentro do cronograma
estabelecido, registradas e acompanhadas.
Nesta etapa, com base no planejamento, é necessário trabalhar sensibilização e
treinamento.

Verificação (Check)
Comparando os dados obtidos na execução com os que foram estabelecidos no
planejamento, podemos avaliar e verificar se as metas ou expectativas foram atingidas.
Promover auditorias internas é bem interessante nesta fase.

Ação ou correção (Act)


Ação ou correção é a etapa que caracteriza o ciclo de melhoria contínua, o PDCA.
Executá-la significa que o planejamento, a execução e a verificação do sistema já foram
realizados e agora é o momento de revisar, corrigir e melhorar.

73
É comum que os problemas identificados ampliem a nossa visão de planejamento, e
esse conhecimento deve ser registrado e utilizado para novas ações. Nesse caso, manter
o controle dos documentos é muito importante.
Voltando ao planejamento, caracteriza-se a melhoria contínua do sistema com vistas
ao que a Norma do Sistema Senac de Gestão Ambiental orienta e com foco no
atendimento ao Compromisso com o Meio Ambiente do Senac.

Comitê do sistema de gestão ambiental


O Comitê do SGA é um ponto muito forte e importante dentro do sistema. Consiste
em um grupo formado pelo representante do Programa Ecoeficiência, o responsável pelo
setor administrativo da unidade, mais as pessoas, voluntárias, indicadas ou eleitas, cuja
função é participar do planejamento, da execução e do acompanhamento das ações do
sistema.
É o primeiro passo para envolver os funcionários nas ações ambientais e, dessa forma,
criar uma “massa crítica” dentro da unidade

Controle de documentos
O controle de documentos é um ponto importante em qualquer sistema de gestão, e a
documentação bem organizada pode facilitar a auditoria.
Temos de ter em mente que os documentos do sistema devem estar atualizados,
organizados, identificados e disponíveis para consulta.
São basicamente três tipos de documentos:
• Documentos em geral (DC): Todos os documentos oficiais do sistema.
Exemplos:
• Programas de Gestão Ambiental (PGA)
• Procedimentos
• Normas
• Manuais
• Planilha de inventário de resíduos
• Compromisso com o Meio Ambiente
• Formulários e templates (FO): São todos os documentos-base para outros
processos. Podem ser atualizados e sua versão deve ser controlada.
Exemplos:
• Ficha de entrega de Equipamento de Proteção Individual (EPI)
• Planilha-modelo de indicadores

74
• Formulário-modelo do Programa de Gestão Ambiental (PGA)
• Registros (RG): São todas as formas de evidenciar um determinado processo ou
ação. Como esses documentos são evidências, não são passíveis de alteração.
Pode ser um formulário preenchido (ex.: lista de presença evidenciando a
participação).
Outros exemplos:
• Ficha de entrega de EPI preenchida
• Lista de presença
• Fotos de ações específicas (adesivos, oficinas, Semana no Meio Ambiente)
• E-mails
• Informativos (arquivo eletrônico e cartazes)
Os documentos devem ser organizados de forma lógica e salvos, a fim de permitir a
identificação da versão do documento. Versões anteriores devem ficar em local separado
ou podem ser deletadas, dependendo da situação.

Verificação de certificação
Após a implantação do Sistema de Gestão Ambiental, ou seja, adequação de todos os
requisitos da norma com base no nível desejado (1, 2 ou 3) para a realidade da unidade,
ela pode solicitar uma pré-auditoria.
A pré-auditoria tem um caráter de assessoria, de auxílio nas dificuldades encontradas
com relação à implantação e na identificação de não conformidades e orientação quanto
à sua adequação.
Após a pré-auditoria e a implantação das adequações sugeridas, a unidade deve
solicitar a auditoria.
A auditoria tem o objetivo de verificar a conformidade do sistema implantado na
unidade com a norma do Sistema Senac de Gestão Ambiental.
É possível solicitar auditoria em qualquer nível. Por exemplo, não é necessário ter
certificação nível 2 para solicitar auditoria para o nível 3.
Após a realização da pré-auditoria ou auditoria, a Gerência de Materiais e Serviços
emite um relatório formal e assinado pela gerência. Caso a unidade obtenha a certificação,
ela recebe também um certificado assinado pela diretoria informando o nível implantado
e o prazo de validade.
Para solicitar pré-auditoria ou auditoria, o representante de ecoeficiência ou o
coordenador administrativo precisa entrar em contato com o Programa Ecoeficiência por
e-mail ou telefone, solicitando o agendamento.

75
Na pré-auditoria, é necessária a presença do representante para acompanhar o auditor.
Na auditoria, devem estar presentes o representante, o coordenador e o gerente da
unidade.
Desta forma, o Senac São Paulo demonstra o posicionamento quanto aos
compromissos que devem nortear a relação de suas atividades, seus produtos e serviços
com o meio ambiente e, consequentemente, com a sociedade, reforçando o engajamento
na promoção do desenvolvimento sustentável.

BIBLIOGRAFIA
CEMPRE – COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM; IPT –
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS. Lixo Municipal: Manual de
Gerenciamento Integrado. 2ª ed. São Paulo: IPT/Cempre, 2000.
SMA – SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Coleta Seletiva: na escola, no
condomínio, na empresa, na comunidade e no município. São Paulo: SMA, 2001.
SMA – SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Utilização Racional de Energia no Ar-
condicionado. São Paulo: SMA, s/d.
BERTHANLANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Rio de Janeiro: Vozes,
1975.
CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL.
Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares. Relatório-síntese. São Paulo:
Cetesb, 2001.
COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM. Pesquisa Ciclosoft: coleta
seletiva cresce 138%, 2002. Disponível em: <www.cempre.org.br>. Acesso em:
23/05/2018.
FUNDAÇÃO VANZOLINI/DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
& UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO/ESCOLA POLITÉCNICA. Produção Limpa.
São Paulo: s/ed., 1998.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Populacional,
1996. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20/05/2018.
LIMPNET. Limpeza de Higienização de Bebedouros. Disponível em:
<www.limpnet.com.br/comofazer/default3.asp>. Acesso em: 15/05/2018.
MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE; SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL; IDEC – INSTITUTO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. Políticas para o Desenvolvimento Sustentável: guia de boas práticas
para o consumo sustentável. Brasília: MMA, 2003.

76
SMA – SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Utilização Racional de Energia em
Sistemas de Iluminação. São Paulo: SMA, s/d.
UNCTAD – UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT.
Integrating Environmental and Financial Performance at Enterprise Level: a methodology
for standardizing eco-efficiency indicators. Nova York: UNESP, 2000.
VALLE, Cyro Eyer. Qualidade Ambiental: ISO 14000. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2006.
WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT (WBCSD).
Disponível em: <www.wbcsd.org>. Acesso em: 10/05/2018.

77
Capítulo 5

Avaliação de Sustentabilidade na
Universidade Federal do Triângulo
Mineiro com o uso do UI
GreenMetric

Luma Carvalho Scannavino

Bruna Lopes Coêlho

78
Luma Carvalho Scannavino
Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do
Triângulo Mineiro – UFTM. Conhecimentos adquiridos como estagiária
em laboratório de estações de tratamento de água e esgoto municipal; em
escritório de consultoria ambiental com atividades relacionadas ao
Cadastro Ambiental Rural (CAR), laudos ambientais, outorgas,
recuperação ecológica e reflorestamento e Estudo de Impacto de
Vizinhança (EIV); e em frigorífico desenvolvendo atividades voltadas ao
tratamento de água e efluentes, Diálogo Diário de Segurança – DDS,
controle de vetores, monitoramento diário e diário de bordo, orçamentos,
rota e Inspeção Sistêmica de Segurança – ISS. E-mail:
[email protected]

Bruna Lopes Coêlho


Docente na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Engenheira Ambiental, Mestra em Inovação Tecnológica e Doutoranda no
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental (PPG-
SEA) na USP. Atua como membro da Comissão Gestora do Plano de
Logística Sustentável da UFTM, membro-diretora da Associação de
Profissionais de Engenharia Ambiental (APEA TMAPS) e conselheira no
Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) da Secretaria de Meio
Ambiente de Uberaba. Experiência em Avaliação de Impactos Ambientais,
Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior e Indicadores de
Avaliação de Sustentabilidade. E-mail: [email protected]

79
INTRODUÇÃO
Ações antrópicas como o desmatamento proveniente do crescimento das cidades, o
avanço da tecnologia e o consumo desenfreado, aliado ao esgotamento de recursos
utilizados como matéria prima de produtos, vêm causando grandes impactos ambientais.
A fim de enfrentar os desafios impostos pelo desenvolvimento, a preocupação com a
sustentabilidade passou a fazer parte da agenda de reuniões da Organização das Nações
Unidas e criaram-se indicadores, legislações e propostas de educação ambiental,
aumentando assim a sensibilização da população sobre o tema [1]. Logo tornou-se claro
que a sustentabilidade seria o objetivo de importantes organizações governamentais e não
governamentais, comunidades e empresas [3].
Sustentabilidade é a capacidade de um sistema humano, natural ou misto, resistir ou
se adaptar à mudança endógena ou exógena por tempo indeterminado, enquanto o
desenvolvimento sustentável é uma via de mudança intencional e melhoria que mantém
ou aumenta esse atributo do sistema, ao responder às necessidades da população presente
[4]. Nesse caso, desenvolvimento sustentável é o caminho para se alcançar a
sustentabilidade, isto é, a sustentabilidade é o objetivo final, de longo prazo.
Nesse contexto, o papel das universidades foi reconhecido devido às instituições terem
responsabilidade social no desenvolvimento da sociedade, formando líderes e auxiliando
na propagação da conscientização da comunidade externa [5].
Logo, integrar o desenvolvimento sustentável no planejamento, gerenciamento,
educação, pesquisa, operações, serviços comunitários, aquisições de materiais, transporte
e infraestrutura, com ferramentas, facilita a inserção do conceito “universidade
sustentável” e torna-se possível mensurar a eficácia das práticas sustentáveis nas
universidades e obter informações sobre sua situação, além de atuar como agentes de
mudança, servindo de modelo e inspirando outras universidades, segundo [6].
Para mensurar a eficácia das práticas sustentáveis nas universidades e obter
informações sobre a situação da instituição são necessários ferramentas para avaliar a
sustentabilidade que apresentam dados concretos através do uso de indicadores [6].
O UI GreenMetric World University Ranking é uma importante ferramenta de
avaliação da sustentabilidade. Por meio dela, analisam-se critérios como infraestrutura,
energia, transporte, resíduos, água e educação das universidades. Os resultados são
dispostos na forma de ranking com pontuação numérica, facilitando a comparação entre
as universidades do mundo, além de estimular a busca constante por melhorias e melhor
classificação [7].
Diante o exposto, aliado ao crescente interesse das universidades em se destacarem
quanto à sustentabilidade, é proposto um diagnóstico das ações da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro – UFTM nesse sentido, visando posterior avaliação de

80
sustentabilidade. O presente capítulo tem sua inovação por contribuir com a aplicação de
uma ferramenta inexistente até o momento na instituição.

SUSTENTABILIDADE EM UNIVERSIDADES
Os impactos ambientais causados pela ação antrópica para atender a evolução
constante de tecnologia e o consumo desenfreado de mercadorias sem preocupar-se com
o esgotamento de recursos naturais, fundamenta-se na exploração do homem pelo homem
e da natureza pelo homem, onde há um domínio sobre a natureza. As preocupações pela
diminuição da biodiversidade e aspectos da poluição causaram grande preocupação na
população mundial, evidenciando a necessidade de abordar questões relacionadas à
degradação ambiental e uso sustentável dos recursos.
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, também intitulada
Conferência de Estocolmo, na década de 1970, é um marco histórico internacional para o
surgimento de políticas ambientais. Em 1983, criou-se a Comissão Mundial do Meio
Ambiente e, consequentemente, em 1987, publicou-se o relatório “Nosso Futuro
Comum”, o qual trazia o conceito de desenvolvimento sustentável, ressaltando o risco do
uso excessivo dos recursos naturais [5]
De acordo com [8], “as universidades possuem um papel chave na busca pelo
desenvolvimento sustentável. As instituições de ensino superior têm especial
responsabilidade social no desenvolvimento da sociedade, particularmente na educação
de futuros líderes e na proliferação da conscientização pública sobre a sustentabilidade”.
Dessa forma, os autores afirmam que a universidade deve “liderar pelo exemplo”.
Segundo [1], “se a educação é considerada um dos desafios mais importantes da
humanidade para o século XXI, a inserção das questões ambientais no processo educativo
constitui um desafio adicional e inerente”. Com isso, viu-se a necessidade de ações
voltadas à eficiência do uso dos recursos em universidades devido ao grande crescimento
dos campi aliado à falta de conscientização e comprometimento dos agentes envolvidos,
pois “as universidades são em parte responsáveis pela formação dos futuros líderes,
políticos, cientistas, formadores de opinião, especialistas e agentes de mudança que
ocuparão cargos de destaque nos governos, nos setores públicos, nas empresas e em outras
organizações privadas” [1].

Plano de Gestão de Logística Sustentável – PLS


O princípio de sustentabilidade socioambiental é um dos grandes desafios das
instituições humanas, incluindo o processo de planejamento e gestão das Universidades.
Destaca-se ainda a importância da sustentabilidade como suporte para pesquisas, durante

81
a graduação e em procedimentos administrativos da Instituição, a qual é importante na
formação de novos líderes. Para isso, é necessário a elaboração de um instrumento de
Planejamento Sustentável que seja dinâmico e prático para sugerir e propor ações e
medidas na Universidade, visto que todos os órgãos e entidades da administração pública
federal direta, autárquica, fundacional e as empresas estatais dependentes devem elaborar
o PLS [11].
“O PLS/UFTM é um instrumento consultivo e democrático de planejamento com
potencial para auxiliar a Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM a
estabelecer práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos em toda a
sua estrutura administrativa e operacional“ [11]. O PLS/UFTM, com suas versões em
2015, 2017 e 2018, foi estruturado na forma dos seguintes programas: compras
sustentáveis, uso racional de energia, gestão de água e efluentes, obras e manutenção
predial, conservação da paisagem e biodiversidade, deslocamento eficiente, gestão de
resíduos, qualidade de vida no ambiente de trabalho e educação ambiental. Cada
programa possui seus planos de ação estruturados em: diagnótisco, objetivo do programa,
ações propostas, cronograma de implementação e matriz de responsabilidades, recursos,
riscos e desafios [11].

Compras sustentáveis
Buscando integrar critérios ambientais, sociais e econômicos, uma compra sustentável
é quando o comprador considera a necessidade de efetuar a comprar, levando em conta
os materiais e mão de obra utilizada na fabricação do produto, tendo em mente como será
sua vida útil e disposição final, a fim de garantir que o produto necessário seja elaborado
de forma sustentável [12].
Algumas ações propostas são realizar um planejamento de compra anual especificando
itens sustentáveis similares a serem adquiridos, reduzir a aquisição de materiais que não
atendam à sustentabilidade, realização de comprar em larga escala e padronizar materiais
permanentes atendendo os critérios de sustentabilidade.

Uso racional de energia


Sabendo do crescimento da utilização da energia elétrica no país, estabelecem-se metas
de redução e conservação de energia, utilizando tecnologias e materiais redutores de
impacto ambiental e de maior eficiência energética, tais como: automação da iluminação
do prédio, lâmpadas fluorescentes compactas, valorização e utilização da luz natural, uso
de sensores de presença, equipamento de climatização mecânica e uso de energia solar
[11].

Gestão de água e efluentes


O saneamento básico é um direito e é garantido pela Constituição, onde são abordados
conjunto de serviços, infraestrutura e instalações de abastecimento de água, esgotamento
sanitário, drenagem e limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos e águas pluviais. Nesse

82
caso, o PLS tem como objetivo proporcionar o uso racional da água e dar a destinação
adequada ao esgoto [11].

Obras e manutenção predial


Um programa único foi criado para englobar as obras em geral, como os subprogramas
infraestrutura, paisagismo e serviços como de limpeza, telefonia e processamento de
dados.
Para a infraestrutura, os serviços contratados devem visar à economia da manutenção
e operacionalização do edifício, além de ações propostas como promover conforto
térmico, desenvolver estudo de reaproveitamento da água servida.
Como o paisagismo realiza a interação ser humano e natureza, através de uma
paisagem equilibrada e vigorosa, propõe-se a arborização do sistema viário e “muro
verde“ na entrada de um campus, construção de praças de convivência e contratação de
empresa especializada para a manutenção das áreas verdes da Universidade.
A limpeza está relacionada à proteção contra doenças e contaminações, indispensáveis
para garantir uma qualidade de vida adequada ao ser humano. Com isso, propõe-se
viabilizar a reciclagem ou dar uma destinação adequada aos resíduos na instituição,
treinamentos aos funcionários sobre práticas de redução de desperdício e poluição e
substituir materiais com substâncias tóxicas. Esse tópico relaciona-se com o Programa de
Gestão de Resíduos.
Buscando a qualidade de vida no ambiente de trabalho, devem-se otimizar os serviços
de telefonia e processamento de dados, adequando a rede de telefonia atual para a
tipologia estruturada em conjunto com a rede de dados, atualizar a normatização interna
para utilização de telefonia fixa e móvel e divulgar e utilizar o serviço Voice over Internet
Protocol (VoIP) [11].

Conservação da paisagem e biodiversidade


Para um equilíbrio ecológico e social, deve-se preservar as paisagens de vegetação
natural, visando diminuir a perda da biodiversidade e da qualidade de vida das pessoas.
Portanto, elabora-se um planejamento para a preservação ecológica e o bem estar humano
de acordo com a realidade da Instituição, seguindo as políticas públicas e pela legislação
ambiental. Sabendo que é um programa inovador no PLS/UFTM, foram propostas
práticas como ampliação do controle do capim alto para diminuir as chances de incêndios
na estação seca, implantação de jardins ecológicos ou teatros ao ar livre e divulgação da
importância das áreas verdes para a comunidade acadêmica [11].

Deslocamento eficiente
Uma das práticas para a preservação e manutenção do meio ambiente é a redução do
de emissão de gás carbônico nos deslocamentos para a Universidade e realização de suas
atividades. Ações eficientes e viáveis de implantação como a criação de campanhas

83
educativas que estimulem a prática da “carona“, mínimo de utilização de veículos para
uma mesma localidade pelo setor responsável pelo transporte, construção de bicicletários
nas unidades da UFTM, criação de ciclofaixas e promover descarte adequado dos resíduos
gerados pelo serviço de transporte, são propostas [11].

Gestão de resíduos
Para a gestão de resíduos na Universidade, destacam-se os projetos Educar para
Reciclar, UFTM Recicla e compostagem. O objetivo dos projetos de gestão de resíduos
em universidades é desenvolver ações relacionadas a cada tipo de resíduo [11]
Para os resíduos recicláveis secos, propõe-se práticas como a elaboração de um projeto
para descarte desses resíduos, formar uma comissão para a coleta seletiva solidária,
realizar estudos e monitoramento da qualidade da coleta, delimitação do local destinado
ao armazenamento do resíduo, realização de campanhas e treinamentos sobre o programa
de coleta seletiva e sua divulgação por meio de palestras e eventos acadêmicos, formalizar
a parceria com a cooperativa de catadores de recicláveis de Uberaba e realização de
estudos para averiguar a adesão à coleta seletiva pela comunidade acadêmica [11].
Para para os resíduos de laboratórios de ensino-pesquisa foram reforçadas algumas
práticas como o levantamento sistemático dos resíduos químicos, biológicos e
perfurocortantes gerados na Universidade, verificar a necessidade de um local para
armazenar os resíduos químicos e realizar a sensibilização da comunidade acadêmica
sobre as formas corretas de descarte desses resíduos [11].
Os resíduos de serviço de saúde necessitam de processos diferenciados em seu manejo,
portanto foram propostas práticas como melhorar a identificação dos recipientes em que
são dispostos os resíduos, adquirir plásticos coloridos para a realização de coleta seletivo
no Hospital da Universidade e monitorar o programa de reciclagem no Hospital das
Clínicas [11].
Para os resíduos orgânicos foram propostas algumas ações como realizar um
diagnóstico dos resíduos do restaurante universitário, promover campanhas para a
redução do desperdício de alimentos, realizar projeto para aproveitar os materiais
orgânicos provenientes da capina e poda das árvores e viabilizar o desenvolvimento do
projeto de compostagem [11].
Os resíduos eletrônicos e demais passíveis de logística reversa como mouses de
teclados podem ser revertidos em outros produtos, as pilhas e baterias descartadas pela
Instituição devem receber a destinação final adequada pela cooperativa responsável e as
lâmpadas descartadas podem ser transformadas em resíduo não perigoso através de um
equipamento para tratá-las [11].
Já os resíduos da construção civil devem ser alocados corretamente em caçambas, além
de verificar se a empresa empresa responsável está dando a destinação final correta, deve-
se analisar o resíduo gerado para fins de reaproveitamento em outras obras, delimitar o

84
local adequado para o armazenamento deles e promover a conscientização da comunidade
acadêmica sobre os objetivos das caçambas [11].

Qualidade de vida no ambiente de trabalho


A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é um aspecto desejável de uma cultura
sustentável. A fim de alcançar a sustentabilidade, foram propostas práticas como a
identificação dos fatores influentes na qualidade de vida no ambiente de trabalho na
Universidade, realização de atividades psicossociais, oferecer serviços de saúde mental
aos servidores, técnico-administrativos e docentes, aumentar a participação de servidores
nos exames periódicos da Campanha de Sensibilização e Educação para a Saúde e
acompanhar as relações de trabalho nos ambientes organizacionais [11].

Educação ambiental
O programa de educação ambiental, foi criado para atender ao artigo 5º da IN
nº10/2012, que determina o conteúdo mínimo do PLS e contempla ações de divulgação,
conscientização e capacitação que possibilitem a execução dos demais programas. Ele
visa disseminar os entendimentos e práticas voltadas à sustentabilidade para dar
efetividade nas ações propostas. Para isso, a realização de algumas ações como encontros,
palestras e fóruns relacionados à sustentabilidade para a comunidade interna e externa,
campanhas educativas para o uso racional de recursos, disponibilização dos gastos da
Universidade com água, energia, copos e papel, oficinas de reutilização de banners,
sinalização e orientação sobre o uso de materiais de segurança, retirar o uso de copos
descartáveis na Universidade e implantar Caixinhas de Ideias Sustentáveis em locais
estratégicos, não são somente necessárias, como praticadas.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS


Em 2015, na sede da ONU em Nova Iorque, líderes mundiais reuniram-se para decidir
um plano de ação a fim de erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas
alcancem a paz e a prosperidade, surgindo assim a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável que, além de conter os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os
países comprometeram-se a tomar medidas para promover o desenvolvimento sustentável
em todos eles [9].
Segundo [9], “a Agenda 2030 afirma que para por o mundo em um caminho
sustentável é urgentemente necessário tomar medidas ousadas e transformadoras. Os
ODS constituem uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes,
a serem cumpridas até 2030. Se cumprirmos suas metas, seremos a primeira geração a
erradicar a pobreza extrema e iremos poupar as gerações futuras dos piores efeitos
adversos da mudança do clima“.
Os 17 Objetivos, que se baseiam nas dimensões social, ambiental e econômica do
desenvolvimento sustentável, são apresentados na Figura 1.

85
Figura 1. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

UI GreenMetric World University Ranking


A ferramenta escolhida para Avaliar a Sustentabilidade da Universidade Federal do
Triângulo Mineiro foi UI GreenMetric.
Como uma iniciativa da Universidade da Indonésia, o GreenMetric é um ranking que
visa classificar universidades que preocupam-se com a sustentabilidade e não recebiam
mérito por isso, exigindo mudanças de comportamento quanto à atenção dada ao meio
ambiente, problemas econômicos e sociais. Sua origem remete à necessidade de
adequação de outros métodos de avaliação como o “Boletim Verde dos Estados Unidos”,
cuja classificação incluía informações sobre sustentabilidade em 300 universidades
resultando em graus de A a F ao invés de um ranking [7].
Utilizando critérios e metodologias de fácil preenchimento, criou-se um questionário
por meio do qual é possível, além de fornecer dados sobre indicadores-chave, receber
comentários das universidades participantes sobre possíveis aprimoramentos. Para
participar do ranking, solicita-se para as universidades interessadas o fornecimento de
dados numéricos sobre critérios que mostram seu compromisso com políticas
sustentáveis. Os critérios são informações básicas, tais como infraestrutura, energia,
transporte, resíduos, água e educação. Após o preenchimento e envio do questionário,
calculam-se as pontuações e disponibilizam-se as classificações resultantes [7].
Logo, entende-se que o GreenMetric é um sistema de classificação onde os resultados
são dados em pontuação numérica que refletem os esforços da implementação de políticas
e programas sustentáveis, possibilitando rápidas comparações entre as universidades em
diversos quesitos, atraindo o interesse delas em tomar medidas para melhorar a

86
sustentabilidade, consequentemente, conquistar um lugar melhor no ranking [7].
Portanto, o resultado da pesquisa online deste ranking mostra as condições atuais e
políticas relacionadas à sustentabilidade nas Universidades.

METODOLOGIA
Área de estudo
Com sede no município de Uberaba e um campus em Iturama, ambos municípios de
Minas Gerais, a anteriormente chamada Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro,
fundada em 1953, foi transformada em Universidade Federal, em 2005. Atualmente,
possui aproximadamente 7000 alunos distribuídos nos cursos de graduação e pós
graduação [10].
A estrutura da Universidade, como pode ser vista na Figura 2, além da Unidade
Univerdecidade, Centro Educacional, Hospital das Clínicas e Complexo Cultural e
Científico de Peirópolis, conta também com o Campus Iturama.

Figura 2. a) Unidade Univerdecidade – Campus Uberaba b) Hospital das Clínicas c) Centro


Educacional – Campus Uberaba d) Complexo Cultural Científico de Peirópolis

Como valores para orientar e inspirar a conduta, a Universidade visa o pioneirismo,


inclusão social, cidadania e respeito às diferenças , tratamento justo e respeitoso ao ser
humano e à vida, liberdade de expressão e participação democrática, profissionalismo e
competência técnica, ética e transparência, qualidade e desenvolvimento sustentável,

87
inovação tecnológica, preservação e incentivo aos valores culturais e prioridade ao
interesse público [10].

Procedimento metodológico
O diagnóstico, que subsidiará uma avaliação de sustentabilidade da instituição, teve
início com participação no II National Workshop on UI GreenMetric for Universities in
Brazil – USP para busca de informações sobre o ranking, as tendências, desafios e o
processo de submissão, além da assinatura da rede UI GreenMetric na Declaração de
Associação junto aos representantes da rede.
Na sequência, verificou-se a disponibilidade de dados sobre as operações dos campi
junto aos setores responsáveis dando, assim, condição para a formação de grupos de
trabalho para o levantamento de dados qualitativos e quantitativos seguindo os critérios
do UI GreenMetric.
Foram realizadas oficinas com especialistas da Universidade com o intuito de nortear
essa busca e levantar possíveis fragilidades.
Os envolvidos passaram por capacitação para o desenvolvimento das atividades, que
consistiram no levantamento de informações relevantes e coerentes, a partir de fontes
confiáveis e com o olhar para os aspectos da sustentabilidade com visão ampla.
Após a coleta dos dados, requeridos pelos critérios e indicadores, deu-se início ao
processo de preenchimento do questionário com posterior submissão para classificação
no ranking.

RESULTADOS
Resultados preliminares
O Plano de Logística Sustentável é o principal documento de consulta para
levantamento dos dados necessários. Como valioso instrumento de fomento à inovação,
transparência e acesso à informação, o PLS vai ao encontro das necessidades atuais de
revisão dos padrões de produção e consumos para modelos mais sustentáveis.
O diagnóstico tem possibilitado o conhecimento da realidade local e sua execução tem
sido vantajosa por levantar as práticas de sustentabilidade e de racionalização do uso de
materiais e serviços; é feito por eixo temático, tornando as informações mais claras aos
leitores e gestores do processo.
Em relação ao avanço desse documento em relação às versões já publicadas, a última
versão do Plano apresenta como medida implementada pela UFTM para a
sustentabilidade em sua gestão e funcionamento a adoção do SEI (Sistema Eletrônico de
Informação), que permite o trâmite de processos institucionais com eficiência,
possibilitando a redução de custos e também de recursos como energia, papel, tinta para
impressão, entre outros.

88
Com um dos valores da Universidade sendo a qualidade e desenvolvimento
sustentável, são desenvolvidos projetos relacionados à sustentabilidade, como o projeto
de reciclagem da Instituição chamado RECILA, cuja logomarca pode ser vista na Figura
3.

Figura 3. Logomarca do projeto de reciclagem da UFTM

Explorando a grande quantidade de eventos que são realizados nas Universidades,


como semanas acadêmicas, simpósios, cerimônias e congressos, aliado à grande geração
de resíduos e impactos ambientais decorrentes da elaboração e realização dos mesmos,
surge a necessidade de promover a inserção de práticas sustentáveis nesse setor.
Após elaboração do Guia de Eventos Sustentáveis da UFTM, no qual foram descritas
práticas para que fossem inseridos critérios de sustentabilidade no planejamento e
execução de eventos vinculados à Universidade, foi formada uma equipe discente com a
função de assessorar esses eventos, tornando mais efetiva a execução das práticas
propostas pelo Guia. A assessoria de eventos sustentáveis em universidades foi entendida
como uma inovação proposta pela equipe, uma vez que não foram encontradas referências
relacionadas a essa prática.
Segundo [13], o Guia de Eventos Sustentáveis tem como objetivo auxiliar as
comissões organizadoras de eventos vinculados à UFTM na preparação e realização de
eventos como simpósios, encontros, congressos, torneios, cursos, entre outros, de acordo
com as necessidades requeridas para cada tipo, como coffee break, decoração ou
hospedagem.
Com o objetivo de facilitar a busca pelas práticas sustentáveis desejadas, o Guia é
composto por onze tópicos que versam sobre diferentes maneiras de reduzir impactos
negativos no planejamento e execução dos eventos. São eles: comissão organizadora do
evento; patrocínio; divulgação e inscrição; acessibilidade; hospedagem; consumo de água
e energia; resíduos sólidos; materiais utilizados; transporte; alimentação; e serviços de
limpeza.
Foi criado um grupo de assessoria de eventos sustentáveis na Universidade, cuja
logomarca pode ser vista na Figura 4, para tornar mais efetivo o emprego das práticas
sugeridas pelo Guia, que depende do comprometimento da comunidade acadêmica para
a adoção dessas práticas nos eventos. Em outras palavras, a assessoria foi criada para
levar as informações do Guia até às comissões e orientar sua aplicação da maneira mais
eficiente para garantir o sucesso dos eventos no quesito sustentabilidade.

89
Figura 4. Logomarca da equipe que presta assessoria aos eventos da Universidade

A Liga Acadêmica de Sustentabilidade da UFTM, que tem como logomarca a Figura


5, atua como um programa composto por membros discentes, técnico-administrativos e
docentes dos cursos de Engenharia Ambiental, Engenharia de Produção e Ciências
Biológicas. É uma entidade particular, sem fins lucrativos, de duração ilimitada e com
caráter multiprofissional, organizada por discentes universitários sob a supervisão de
professores e profissionais especialistas. A Liga Acadêmica de Sustentabilidade (LS) na
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) vem incentivar o estudo sobre o
tema sustentabilidade, promover o desenvolvimento de projetos científicos e atividades
voluntárias destinadas à comunidade, através da valoração do meio ambiente e
responsabilidade social.
O quadro de atividades da LS contempla promoção de grupos de estudo,
desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão, oferta de cursos e oficinas
relacionados ao tema, organização de um Simpósio anual e divulgação das atividades
científicas realizadas. Há incentivo à realização de parcerias com Instituições. Todos os
integrantes da LS participam das reuniões programadas no calendário anual, enquanto
alguns participam de projetos específicos, aplicando conhecimentos de sua área de
interesse. Os grupos de estudo proporcionam a integração de bases teóricas e visões de
diferentes profissionais acerca do tema desenvolvido.

Figura 5. Logomarca do Programa Liga Acadêmica de Sustentabilidade

O objetivo do projeto CanECO, logomarca mostrada na Figura 6, é promover a


substituição dos copos descartáveis pelas canecas permanentes no RU da Unidade
Univerdecidade da UFTM a partir de ações de divulgação, mobilização e conscientização.
Espera-se promover a compra de canecas permanentes pelos próprios usuários através de
campanhas utilizando os meios de comunicação da UFTM, com palestras e cartilhas
explicativas sobre a importância do projeto, além de desenvolver e sugerir uma gestão
sob as perspectivas sustentáveis no Restaurante Universitário. A substituição deve ser

90
feita de forma gradativa, até que esse material não seja mais distribuído pelo RU,
diminuindo seu descarte até a sua total eliminação.

Figura 6. Logomarca do projeto que visa a redução de copos descartáveis

São exemplos de outros projetos realizados na Instituição:


• Reutilização de resíduos da construção civil em obras de interesse social, o qual
utilizam-se os resíduos para o benefício da sociedade, dando uma disposição adequada e
possibilitando inovações tecnológicas;
• Composta UFTM, projeto criado para aproveitar os resíduos orgânicos gerados
nos campi transformando-os em adubo pelo processo de compostagem;
• Participação da equipe do Triângulo Verde na Maratona Universitária da
eficiência energética, que visa a construção de um veículo o mais eficiente possível;
• Enactus UFTM, uma organização internacional da qual a UFTM fez parte da ação
empreendedora para criar e implementar projetos comunitários de maneira sustentável a
fim de melhorar a qualidade e padrão de vida;
• Evento “V INTERPET”, o qual informa a comunidade interna e externa das
atividades realizadas pelo grupo do PET, cujo tema foi “Políticas ambientais e sistema
educacional: os desafios da sustentabilidade”;
• Programa de incentivo e fortalecimento da agricultura familiar, visando a
utilização de biofertilizantes e educação no campo para o desenvolvimento de sistemas
agrícolas sustentáveis;
• “I Fórum da Cultura Empreendedora”, cujo tema foi “Sustentabilidade – ações
empreendedoras para redução do impacto ambiental”;
• Implementação da educação ambiental em rede de ensino fundamental aplicando
a Política Nacional de Resíduos Sólidos, onde alunos da UFTM levaram o tema à rede do
ensino fundamental, mostrando, de forma educacional, como respeitar o meio ambiente,
além de influenciar uma nova geração a ser mais sustentável e
• Projeto de educação ambiental na Casa do Adolescente Guadalupe, onde um
grupo de estudantes da Universidade levaram seus conhecimentos sobre a
sustentabilidade utilizando de técnicas de gestão, inovação e criatividade para reintegrar
a comunidade do local promovendo a educação ambiental, sustentabilidade, técnicas de
jardinagem, captação de água da chuva sustentável, reciclagem e compostagem.

91
Resultados esperados
Espera-se que a avaliação dos dados coletados na etapa de diagnóstico e os
desdobramentos da submissão ao UI GreenMetric possibilite uma avaliação de
sustentabilidade da Universidade condizente com sua realidade, refletindo suas limitações
mas também seus esforços na busca pelo alinhamento das propostas do desenvolvimento
sustentável, proporcionando maior visibilidade para a Universidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do GreenMetric como ferramenta de Avaliação de Sustentabilidade é um
estímulo à coleta e ao acompanhamento dos dados existentes na Universidade, com
efeitos positivos no planejamento e gestão ambiental local. Tem o potencial de acarretar
avanços em pesquisa, ensino e extensão relacionados à sustentabilidade e a melhoria do
Plano de Gestão de Logística Sustentável.
A UFTM tem apresentado posturas proativas nesse sentido, no intuito de alinhar-se
aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Dessa forma, trabalhará pelo
fortalecimento da rede, buscando fomentar maior comunicação, com troca de
experiências e resultados entre as universidades sobre a forma de abordar o tema dentro
de seus campi.

REFERÊNCIAS
[1] MARCOMIN, F. E.; SILVA, A. D. V., 2009. A sustentabilidade no ensino superior
brasileiro: alguns elementos a partir da prática de educação ambiental na
Universidade. Reflexões Acadêmicas. Volume 9, pp 104-117.
[2] LEAL FILHO, W., 2011. About the role of universities and their contribution to
sustainable development‖. Higher Education Policy. Volume 24, pp 427–438.
[3] ROORDA, N. Sailing on the winds of change. The odyssey to sustainability of the
universities of applied science in the Netherlands, Tese de D.Sc, The Netherlands:
Maastricht University Press, 2010 Maastricht, Holanda. Disponível em:
<https://www.box.net/shared/nz75typdk5. > Acesso em: 31 mai. 2018.
[4] DOVERS, S.R.; HANDMER, J.W. Uncertainty, sustainability and change. Global
Environmental Change, Volume 2, n.4, pp 262-276, 1992.
[5] PACHECO, R. M. Análise da sustentabilidade das operações dos campi da
Universidade Federal de Santa Catarina com as Ferramentas Stars. 2016. J
Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis.

92
[6] BRANDLI, L. L. et al. Avaliação da presença da sustentabilidade ambiental no ensino
dos cursos de graduação da Universidade de Passo Fundo. Avaliação, Campinas,
Volume 17, n. 2, pp 433-454, jul. 2012.
[7] GREENMETRIC. UI GreenMetric World University Ranking Background of the
ranking. Disponível em: < http://greenmetric.ui.ac.id/what-is-greenmetric/>. Acesso
em: 20 abr. 2018.
[8] AMARAL, L. P.; MARTINS, N.; GOUVEIA, J. B. Quest for a Sustainable
University: a review. International Journal of Sustainability in Higher Education,
Volume 16, n. 2, pp 155-172, 2015. Disponível em:
<https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/IJSHE-02-2013-0017>. Acesso
em: 21 abr. 2018.
[9] Plataforma Agenda 2030. O que é agenda 2030? Disponível em: <
http://www.agenda2030.com.br/>. Acesso em: 21 abr. 2018.
[10] UFTM - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Conheça a UFTM. Disponível
em: < http://uftm.edu.br/institucional/conheca-a-uftm>. Acesso em: 21 abr. 2018.
[11] PLS – Plano de Logística Sustentável. Disponível em:
<http://www.uftm.edu.br/proplan/planejamento-e-desenvolvimento/planejamento-
estrategico/pls/plano>. Acesso em: 07 jun. 2018.
[12] ICLEI – GOVERNOS LOCAIS PELA SUSTENTABILIDADE; MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. Apresentação de Metodologia
para Elaboração do Plano de Gestão de Logística Sustentável – PLS. Brasília, DF.
2013.
[13] Galdino, G. V; Coêlho, B. L. Guia de Eventos Sustentáveis. Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, 2015. Disponível em:
<https://sistemas.uftm.edu.br/integrado/?to=N29zTFVkdGh2bjcyeC9odGFlSlRIRG
thNjZ1VWY5Z1N1blFtdTJLUnFmbDdkU0V1YzVvZEtjbkZhTyt2UFBaeXRFSnp
FbEMweitJNWV6NXR3RWZBVGE2T2dYMityc3JqbVp5UitkT3Z4LzFiNFNtNH
dwU2ZNRTQ0R3RCVURjenluR0hnVzE4Ynd2T0psYkdwZFJUeHRpTXBUQmV
DVFNyM1FZZFM1Mzd4VHpBM2k1Qi9VTy9wOUppWjZPY1lQdTNy&secret=
uftm>. Acesso em: 20 ago. 2018.

93
Capítulo 6

Gerenciamento de Resíduos na
Universidade Federal de
Pernambuco: avanços e desafios

Camila Claudino de Souza


Maria Betânia Melo de Oliveira
Maria de Fátima Morais Xavier
Rômulo Simões Cezar Menezes

94
Camila Claudino de Souza
Graduada em Farmácia pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), especialista em Gestão Pública e mestranda em Gestão e
Economia da Saúde na UFPE. É Gerente de Projetos e Ações
Ambientais da UFPE desde 2017. Atua nos seguintes temas: Saúde
Pública, Gerenciamento de Resíduos Perigosos e Sustentabilidade no
Setor Público.

Maria Betânia Melo de Oliveira


Possui graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco, mestrado e doutorado em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). Atualmente é Professor Associado II da UFPE, onde ministra
aulas na graduação e Pós - Graduação em Ciências Biológicas, sendo
líder do Núcleo de Pesquisa Biossegurança e Meio Ambiente
(NuBioma). É colaboradora do Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhaes
IAM/FIOCRUZ e Coordenadora do Grupo de trabalho de resíduos
perigosos: químicos e infectantes da UFPE. Possui experiência na área
de Biologia Molecular de Microrganismos e Biossegurança, atuando
principalmente nos seguintes temas: Caracterização fenotípica e
molecular de isolados bacterianos clínicos e ambientais; Tipagem
molecular de microrganismos de importância clínica e ambiental;
monitoramento de ambientes aquáticos impactados e gerenciamento de
resíduos químicos e infectantes.

95
Maria de Fátima Morais Xavier
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), especialista em Gestão Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável e Diretora de Gestão Ambiental da
UFPE entre os anos de 2012 a 2018.

Rômulo Simões Cezar Menezes


Graduado em Agronomia pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco, mestrado em Soil Fertility - University of Georgia e
doutorado em Soil and Crop Sciences - Colorado State University.
Atualmente é Professor Associado do Departamento de Energia
Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco. É docente do curso
de Engenharia de Energia e do Programa de Pós-Graduação em
Tecnologias Energéticas e Nucleares (Proten-UFPE), onde lidera o
Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa. É membro da Rede Clima,
atuando como Vice Coordenador da Sub-Rede de Usos da Terra. Atua
também como membro do Comitê Assessor do CNPq na área de
Agronomia/Ciência do Solo. Tem experiência na área de Agronomia e
Ecologia de Ecossistemas e trabalha principalmente com ciclagem
biogeoquímica em agroecossistemas da região Nordeste do Brasil,
incluindo o uso de técnicas isotópicas e de modelagem. Nessa linha,
coordena projetos sobre ciclagem de água, carbono e nutrientes no
sistema solo-planta-atmosfera e também sobre a quantificação dos
estoques e emissões de carbono em ecossistemas.

96
INTRODUÇÃO
As universidades possuem amplos espaços e equipamentos físicos que se notabilizam
por gerar resíduos complexos de composição diversificada, oriundos da natureza tríplice
de suas atividades – ensino, pesquisa e extensão. A partir da institucionalização da
"Responsabilidade Objetiva”, conceituada pela Política Nacional do Meio Ambiente, na
qual o gerador torna-se responsável pelo resíduo e pelos possíveis danos causados [1],
universidades e instituições de ensino do país passaram a colocá-la em prática. No
entanto, apesar desse conceito ser fundamental para envolver todos na dinâmica do
gerenciamento, é imprescindível o apoio institucional para iniciar e fortalecer qualquer
programa de gestão de resíduos.
Com o crescimento do debate sobre a destinação correta dos resíduos sólidos, foram
instituídas diversas leis: a Lei nº 6.938/81, a qual dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação [1]; o Decreto nº
5.940/06, o qual determina que os órgãos da administração pública federal direta e
indireta deverão implantar a separação dos resíduos recicláveis descartados, na fonte
geradora, destinando-os para a coleta seletiva solidária [2]; a Lei 12.305/10 [3], que
implantou a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, atribuindo novas ferramentas
à gestão de resíduos sólidos; a Lei nº 14. 236/2010 que dispõe sobre as diretrizes gerais
aplicáveis aos resíduos sólidos no Estado de Pernambuco [4] e, por fim, a Instrução
Normativa nº 10, de 2012, que estabelece as regras para elaboração do Plano de Gestão
de Logística Sustentável - PLS [5]. Este plano é uma ferramenta de planejamento que
permite aos órgãos públicos estabelecer práticas de sustentabilidade e racionalização de
gastos.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) destaca-se entre as melhores
instituições de ensino superior do Brasil e da América Latina, segundo o The World
University Rankings [6]. No que concerne à sustentabilidade na gestão pública, mudanças
de atitudes são necessárias e o grande desafio consiste em transpor o discurso para a
prática, concretizando-o em ações. A sustentabilidade implica no reconhecimento da
necessidade do homem de fazer uso dos recursos naturais, sem esquecer que tais recursos
são finitos. Nesse sentido, a UFPE vem promovendo empreendimentos preocupados com
a existência futura de recursos naturais, envolvendo decisões quanto ao futuro do planeta
que abrange justiça social, equilíbrio econômico e respeito ao meio ambiente.
Além do atendimento das exigências legais no âmbito federal e estadual, a UFPE
também aderiu voluntariamente a programas de políticas ambientais como a Agenda
Ambiental na Administração Pública - A3P, programa do Ministério de Meio Ambiente,
iniciado em 1999, que possibilita a certificação ambiental de órgãos públicos que
implementarem o programa, tendo a UFPE realizado sua adesão em 2014. Já no âmbito
internacional, a UFPE engajou-se ao GreenMetric, iniciativa lançada em 2010 pela
Universidade da Indonésia, que consiste num ranking que fornece o resultado sobre o
estado atual e as políticas relacionadas à sustentabilidade e preocupação ambiental em

97
universidades de todo o mundo. Além disso, observa medidas adotadas pelas instituições,
que precisam ser identificadas e tomadas como exemplo para a implementação de
políticas sustentáveis.
Especificamente quanto à gestão dos resíduos, a UFPE através da Diretoria de Gestão
Ambiental - DGA vem desenvolvendo projetos relacionados à área de gerenciamento de
resíduos sólidos. O objetivo principal deste trabalho foi descrever as ações realizadas
nessa instituição para implantação de um Programa de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos - PGRS. Assim, a universidade enquanto difusora da transformação social, vem
aos poucos servindo de modelo de desenvolvimento sustentável para a sociedade.
Nesse contexto, este capítulo visa apresentar avanços alcançados e os desafios
encontrados na construção do Programa de Gestão de Resíduos Sólidos - PGRS na UFPE.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Questões acerca da Sustentabilidade em universidades
A questão ambiental, nas últimas décadas, tem sido um tema amplamente discutido
devido à preocupação com a conservação dos recursos naturais e com a degradação
ambiental provocada pelo ser humano. Um dos aspectos que mais tem chamado à atenção
é a elevada geração de resíduos nos estados sólido, líquido e gasoso, como resultado das
inúmeras atividades desenvolvidas no cotidiano da sociedade, sejam elas industriais,
domésticas, hospitalares, comerciais, agrícolas ou até mesmo a varrição pública [7].
Em relação às práticas de sustentabilidade em órgãos públicos, o PLS é uma
ferramenta de planejamento que propicia o estabelecimento de práticas de
sustentabilidade e racionalização dos gastos institucionais e processos administrativos.
O objetivo do PLS é estabelecer metas estratégicas que promovam a gestão de recursos
organizacionais de maneira eficiente, levando em consideração atributos de
sustentabilidade e, considerando a redução dos gastos públicos desnecessários e o
desperdício no trabalho. Para que seja alcançado esse objetivo, são utilizados diversos
artifícios, através de práticas de sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e
serviços visando à eficiência do gasto público e da gestão de processos; na prática são
estimulados e organizados processos como:
-Atualização do inventário de bens e materiais, a fim de identificar similares de menor
impacto ambiental para substituição;
-Reformulação do modelo de produção, contratação e consumo para que sejam
adotados padrões sustentáveis e de responsabilidade socioambiental;
-Ações de conscientização, divulgação e capacitação para implantação do Plano;
promover a qualidade de vida no ambiente do trabalho [5].

98
A Instrução Normativa nº 10/2012 também possibilitou aos órgãos e entidades
públicas incorporarem aos seus Planos de Gestão de Logística Sustentável (PGLS)
iniciativas anteriormente realizadas, de forma esparsa, tais como a Agenda Ambiental na
Administração Pública – A3P e a Coleta Seletiva Solidária, entre outros. Esses
instrumentos têm propiciado a esses órgãos e entidades a mudança de alguns hábitos,
promovendo redução no consumo, no desperdício e tomando decisões mais conscientes
sobre os impactos que eles causam no ambiente, afastando a ideia de que os bens naturais
são inexauríveis e apresentando a necessidade de mudança de postura diante da
exploração dos recursos naturais.

Gestão de Resíduos em universidades


Universidades muitas vezes são comparáveis a núcleos urbanos, por conta de sua
infraestrutura, população e a consequente necessidade de um saneamento para os resíduos
gerados pela instituição. A maioria das instituições de pesquisa e ensino superior do
Brasil, inclusive a UFPE, enfrenta grandes desafios para à gestão adequada de seus
resíduos, ou seja, ainda não estão preparadas para o cumprimento das exigências da
PNRS. Na maioria das vezes, as instituições públicas atuam apenas realizando atividades
pontuais, no tocante à gestão de resíduos [8].
No entanto, por ser um órgão de vanguarda para o desenvolvimento social, cabe às
Instituições de Ensino Superior (IES) contribuir com o desenvolvimento sustentável por
meio da incorporação de práticas socioambientais no seu ambiente construído, na sua
gestão e nos seus sistemas [9], identificando demandas e expectativas da sociedade para
definir diretrizes e metas, planejar estratégias e ações. São nestes espaços que se tem a
oportunidade de promover estratégias e modelos que culminem no desenvolvimento
sustentável [10].
Dentre as legislações que tratam do meio ambiente no serviço público, destaca-se o
Decreto nº 5.940/06, o qual estabelece que os resíduos recicláveis gerados pelas entidades
da administração pública federal direta e indireta devem ser destinados às associações e
cooperativas dos catadores de materiais recicláveis [2]. Na UFPE, a implantação da coleta
seletiva solidária ocorreu em cumprimento da lei, sendo implantada a partir de 2012; no
entanto, apenas em 2015 o trabalho de coleta, logística e educação ambiental foi
estabelecido [11].
Ainda, em busca de soluções para os resíduos sólidos, em 2010 foi promulgada pelo
poder público a PNRS, que considera as dimensões política, econômica, ambiental,
cultural e social para permitir o desenvolvimento sustentável [3]. As universidades
devem, portanto, observar atentamente a PNRS para elaborar seus programas de
gerenciamento de resíduos sólidos.

Educação Ambiental em universidades


Atualmente, diferentes setores da sociedade, como o econômico, político, de saúde e
educação, têm demonstrado preocupação com o futuro do planeta e já faz parte do

99
cotidiano das pessoas falar sobre o tema. Assim, a Educação Ambiental tem se
apresentado como alternativa para tentar despertar uma consciência crítica frente à
problemática ambiental [12], e tem buscado novas formas de relação dos seres humanos
com a sociedade e com o planeta, criando novos conceitos para uma construção social
sustentável, democrática, participativa, justa e ambientalmente correta [13].
Para que uma instituição pública realize suas atividades fins com procedimentos
ambientalmente corretos, ações educativas que envolvam os diversos setores devem ser
propostas e executadas buscando sensibilização e parceria de todos os envolvidos, a fim
de provocar mudanças no comportamento da comunidade acadêmica, sejam eles alunos,
professores, técnico-administrativos ou funcionários terceirizados. O trabalho de
educação ambiental precisa ser feito de forma contínua e sistemática, devido à alta
rotatividade de pessoas que frequentam e exercem suas práticas no campus universitário
[10, 13].
As Instituições de Ensino Superior devem propor processos educativos vinculados aos
sistemas concretos de gestão integrada de resíduos sólidos. Processos educativos, por si
só, não terão resultados efetivos, porém alinhados às propostas sistêmicas de gestão,
podem atingir bom grau de eficácia [14]. A participação efetiva da comunidade
acadêmica nos processos de gestão institucional de resíduos sólidos é essencial para
fortalecimento e continuidade do processo educativo [15].
A atuação correta do gerador de resíduos no cotidiano requer orientação educativa
fundamental para procedimentos iniciais de manuseio, segregação e disposição adequada
dos resíduos gerados. A participação de todos os atores envolvidos no processo é
essencial para o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, já que a gestão
dos resíduos sólidos ocorre desde a sua geração até o destino final. A Lei nº 9795/99, que
dispõe sobre educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental,
enfatiza que a educação ambiental é componente essencial e permanente da educação
nacional em caráter formal e não formal, devendo ser um processo educativo amplo e
abrangente para toda a sociedade [16]. Reforçando a importância da Educação Ambiental,
a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) tem, entre os seus cinco eixos
temáticos, a capacitação e sensibilização de servidores [17].
No entanto, mesmo com todo o arcabouço legal e demais iniciativas, ainda existem
limitações à efetividade de ações de sustentabilidade em universidades, pois a ideia de
desenvolvimento sustentável ainda enfrenta barreiras como resistência à mudança na
rotina [18], baixo interesse por parte dos integrantes da comunidade acadêmica [19], falta
de comprometimento da gestão universitária que impacta na falta de orçamento específico
para as atividades de gestão ambiental como também falta de articulação com setores
estratégicos. Ainda agravante são os problemas na comunicação institucional, visto que
a ausência de uma política de comunicação clara compromete também as propostas de
mudança, pois a comunidade acadêmica geralmente não é envolvida no processo por

100
escassez de informação, como também não é chamada frequentemente para refletir sobre
o significado e o impacto dessas transformações [20].
O presente trabalho teve como o objeto de estudo o gerenciamento de resíduos na
UFPE, campus Recife, desenvolvido através de ações da DGA, atualmente ligada à
Superintendência de Infraestrutura - SINFRA, anteriormente denominada Prefeitura da
Cidade Universitária - PCU. A UFPE, fundada em 1946, conta com mais de quarenta mil
colaboradores, entre alunos, professores e servidores, distribuídos em três campi,
localizados nas cidades de Recife, Vitória de Santo Antão e Caruaru. O campus Recife
conta com mais de cinquenta prédios, dentre eles, Reitoria, doze centros acadêmicos, oito
órgãos suplementares, creche, casas de estudantes, restaurante universitário, dentre
outros. Com uma área total de 1.396.844 m² e área construída de 439.293,87 m², faz-se
necessário o gerenciamento adequado de todos os resíduos sólidos gerados dentro da
instituição, buscando práticas sustentáveis e contribuindo para o gerenciamento
sustentável dos resíduos no local.

MATERIAIS E MÉTODOS
Este texto tem caráter descritivo e qualitativo, trata-se de estudo de caso [21].
Como instrumentos de pesquisa para a coleta de dados, foram feitas análises de
documentos oficiais, projetos elaborados e planilhas com informações sobre o
quantitativo dos resíduos coletados. Houve a observação da estrutura física e
organizacional da UFPE, além de dados obtidos através de questionários aplicados a
professores e técnico-administrativos que iniciaram as ações acerca da estruturação da
gestão de resíduos na UFPE, a partir da criação da DGA em 2012. Esses procedimentos
embasaram o diagnóstico da situação atual da gestão dos resíduos na UFPE, do período
entre 2013 até 2018.
A escolha do objeto de análise está ancorado no Plano Estratégico Institucional da
UFPE 2013-2017, que tem como um de seus objetivos promover a Política de
Sustentabilidade, a ser atingido através de ações estratégicas, como por exemplo,
proceder a coleta seletiva e fortalecer as iniciativas do Grupo de Resíduos Sólidos [22].
De posse dos dados coletados foram elaboradas tabelas e gráficos para apresentação dos
resultados obtidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Criação da COOPERE
Para que a comissão de resíduos atuasse em diferentes esferas foi necessário integrar
professores, alunos e servidores de vários setores. A partir de 2012, ano da instituição da
DGA, foi criado o projeto COOPERE - Coordenação de Gestão e Prevenção de Resíduos
e Efluentes, resultado da parceria com docentes e pesquisadores com o objetivo de sugerir

101
mudanças na estrutura administrativa da UFPE para possibilitar a gestão sustentável dos
resíduos gerados em seus campi e criação de uma rede de pesquisa em gestão sustentável
de resíduos urbanos, tendo como “município piloto” o campus Recife da UFPE.
Através da COOPERE, a UFPE propôs a gestão sustentável de todos os resíduos
gerados em seus campi promovendo uma integração entre pesquisa acadêmica e gestão
administrativa. Ainda, também agrega as atividades de ensino, pesquisa e extensão desta
universidade, proporcionando um ambiente de aprendizado e capacitação para a
comunidade acadêmica do Estado de Pernambuco, estando alinhado com o que preconiza
o Plano Estratégico Institucional da UFPE 2013-2017, que destaca a importância de
estimular nos parceiros o comprometimento com a sustentabilidade, de forma que
desenvolvam uma atitude cidadã no seu ambiente de trabalho e dia a dia [22].
Dados obtidos no diagnóstico
A partir da criação do grupo de trabalho da COOPERE, evidenciou-se a necessidade
de realizar, como primeira ação, um diagnóstico para caracterizar a tipologia dos resíduos
gerados no campus, como também dimensionar o quantitativo produzido. A partir deste
trabalho, obteve-se o diagnóstico que encontra-se sintetizado na Figura 1.

Figura 1. Geração de resíduos e efluentes na UFPE.

102
Após a identificação dos resíduos gerados, a quantidade destes resíduos vem sendo
monitorada, juntamente com os custos envolvidos com a destinação. Na Figura 2,
observa-se o quantitativo gerado em 2017 por tipologia, bem como os custos diretos com
a destinação dos resíduos.

Figura 2. Destinação de resíduos e efluentes na UFPE e seus custos.

Classificação por fase de implantação da gestão por tipo de resíduo


Tendo em vista os avanços e as dificuldades observadas na implantação da gestão de
cada resíduo, este estudo propôs a classificação da gestão dos resíduos conforme sua fase
de implantação, sendo, portanto, considerados como: resíduos com a gestão implantada,
gestão parcialmente implantada ou gestão não implantada, sendo essa última ainda em
fase inicial de projeto.
Assim, foram consideradas como implantadas a gestão dos seguintes resíduos:
Gestão de resíduos implantada
Foram consideradas como implantadas a gestão dos seguintes resíduos: Pilhas e
Baterias. A coleta das pilhas e baterias na UFPE teve início em 2016, com a instalação de
pontos de coleta em todo o campus Recife. O recolhimento é feito por uma empresa de
logística reversa, que encaminha os resíduos para uma recicladora.

103
Toners e Cartuchos de tinta. A coleta de toners e cartuchos na UFPE foi iniciada em
2017. A DGA coleta o material conforme solicitação pelos setores administrativos. O
recolhimento é feito pelos fabricantes dos materiais, sendo cada fabricante responsável
pela coleta do resíduo de sua marca específica.
Resíduos Infectantes ou Biológicos. A partir de um levantamento de informações sobre
os laboratórios geradores de resíduos infectantes e químicos, foram identificados cerca
de 400 laboratórios na UFPE com este perfil. Foram adquiridos coletores específicos para
o acondicionamento dos resíduos e distribuídos aos laboratórios. Os resíduos gerados são
encaminhados diariamente para uma empresa especializada no descarte e destinação final
deste tipo de resíduo. Estes laboratórios são continuamente visitados, a fim de prestar
orientações e atenuar possíveis erros que demandam correção imediata.
Resíduos Químicos. A partir do levantamento dos laboratórios geradores, foi
identificado um grande passivo de substâncias químicas, ficando constatada a
necessidade de contratação de uma empresa especializada no tratamento deste tipo de
resíduo. Em 2013 foi realizada a primeira coleta de resíduos químicos na UFPE – campus
Recife, com a retirada de 30 toneladas do resíduo; em 2016, foram recolhidas 28 toneladas
do campus Recife; e em 2018 até o primeiro semestre foram coletadas oito toneladas,
com previsão de recolher mais 10 toneladas até o final do ano. Nesta última coleta
também foram atendidos os campi Vitória e Caruaru.
Medicamentos. A DGA iniciou a coleta de medicamentos (vencidos ou sobras) em
2017, com a disponibilização de coletores no campus Recife. O material é encaminhado
para incineração por empresa especializada contratada.
Como ferramenta para orientar o manejo dos resíduos químicos e infectantes nos
laboratórios, a DGA e a COOPERE elaboraram o Guia Prático para Gerenciamento de
Resíduos Químicos e Infectantes da UFPE, que fornece informações para o
gerenciamento eficaz dos resíduos gerados nas atividades de ensino, pesquisa e extensão
da UFPE, com o objetivo de promover a prevenção da poluição, a redução na quantidade
e frequência de utilização de substâncias e materiais perigosos, o reaproveitamento do
resíduo inevitavelmente gerado, através da reciclagem, recuperação ou reutilização e, se
após as etapas anteriores ainda houver formação de resíduos, o Guia disponibiliza
informações sobre segregação e identificação para facilitar as etapas de tratamento,
acondicionamento, armazenamento temporário e coleta [23].

Resíduos com gestão parcialmente implantada


Para os resíduos com gestão parcialmente implantada, considerou-se os casos que já
existem soluções sistematizadas para a destinação dos resíduos, mas que no entanto ainda
não atingiram a capacidade de tratar a quantidade total do resíduo gerado:
Resíduos Recicláveis. A coleta de resíduos recicláveis é destinada para cooperativas e
associações de catadores, conforme orientado pelo Decreto nº 5.940/06. A partir de 2014,

104
iniciou-se o diagnóstico com projeto piloto experimental, aquisição de equipamentos e
publicação do edital de habilitação das cooperativas.
Anteriormente a esse diagnóstico, foram adquiridos coletores coloridos de resíduos
recicláveis para segregação por tipo de material (papel, plástico, metal e vidro) e
instalados no campus, com aquisição viabilizada com recursos próprios de custeio e
manutenção da UFPE. Em virtude da fase inicial de sensibilização da comunidade e da
baixa consciência ambiental dos envolvidos, no diagnóstico foi observado que as pessoas
não estavam acondicionando os materiais corretos nos coletores separadamente,
principalmente por não saber diferenciar o tipo de resíduo. Este fato demonstrou a
necessidade de mais ações de educação ambiental e da substituição de coletores coloridos
por apenas dois tipos, recicláveis e não recicláveis, para facilitar a compreensão e tornar
a segregação adequada, e assim melhorar o trabalho da equipe de triagem [24].
Ao longo dos anos, a coleta seletiva dos resíduos recicláveis foi implantada na UFPE
em diversos prédios, no entanto, ainda não atinge 100% das unidades prediais de forma
sistemática, pois muitos setores ainda não fazem a separação correta, como também não
há estrutura de coletores adequados e faltam casas coletoras em todos os espaços
necessários, por isso a gestão deste resíduo foi considerada parcial.
Biomassa Residual. No diagnóstico realizado pela DGA, identificou-se que a geração
deste tipo de resíduo abrange os seguintes materiais: óleo de fritura e resíduos
alimentares, oriundo das unidades alimentares do campus, e a biomassa vegetal,
proveniente das atividades de varrição, capinação e poda. A estimativa atual é que no
campus Recife sejam gerados cerca de 500 litros de óleo de fritura por mês, dez toneladas
de biomassa vegetal e uma tonelada de restos de consumo e preparação de alimento.
A partir de 2016, a UFPE vem inserindo o reaproveitamento da biomassa residual, ou
seja, toda matéria orgânica que pode ser utilizada como fonte de energia, para geração de
energia elétrica, biogás, biocombustível e composto orgânico. Em 2017 entrou em
operação a Biorrefinaria Experimental de Resíduos Sólidos Orgânicos – Berso, que
atualmente tem em sua estrutura pátio de compostagem, biorrefinaria e biodigestor, além
de outros projetos que estão em desenvolvimento. O objetivo da Berso é embasar um
modelo replicável em 95% dos municípios brasileiros, utilizando tecnologias de baixo
custo [25].
Na compostagem são utilizados os resíduos da biomassa vegetal e resíduos
alimentares. A biomassa é processada e o produto final, o composto, é utilizado como
adubo no campus Recife da UFPE, na horta orgânica da Berso e em projetos de extensão
com comunidades que sobrevivem da agricultura. Os resíduos alimentares também são
utilizados no biodigestor, para produção de biogás.
O óleo de fritura recolhido dos restaurantes é utilizado para produção de biodiesel
através da biorrefinaria experimental da Berso. Ainda, com o intuito de descentralizar o
sistema de coleta seletiva desse resíduo para toda a universidade, a partir de 2016 foi feita
a implantação de pontos de coleta de óleo de fritura [26], a fim de que a comunidade

105
acadêmica também possa trazer o seu resíduo, que também é utilizado na pesquisa e
produção da biorrefinaria. O biodiesel produzido é utilizado atualmente em um trator que
opera na UFPE, e também é encaminhado para um gerador para produção de energia
elétrica. Ainda, o óleo de fritura que, devido as características físico-químicas, não possa
ser utilizado para produção de biodiesel, é encaminhado para uma recicladora para
produção de sabão.
Mesmo com grandes avanços na gestão da biomassa residual, os processos de
reaproveitamento e reciclagem destes resíduos ainda ocorrem em pequena escala, não
absorvendo a totalidade do resíduo gerado na UFPE.
A UFPE enfrenta como os próximos desafios a implantação da gestão dos resíduos de
equipamentos eletroeletrônicos, que impacta em um grande acúmulo deste resíduo nas
unidades administrativas; a gestão dos resíduos da construção civil, que ainda não há
normas estabelecidas para a fiscalização na UFPE no sentido de verificar a separação dos
resíduos nos canteiros de obras; e a gestão das águas residuárias, que está em fase de
projeto. Porém, a DGA está estabelecendo parcerias no sentido de formar comissões para
solucionar estes desafios.

Ações de Capacitação e Educação Ambiental


Todas essas ações de implantação de gestão de resíduos, independente do seu estágio
de implantação são objetos de treinamentos direto e/ou indiretos com servidores técnico-
administrativos, professores e funcionários terceirizados, além de campanhas de
educação ambiental. Também são ofertados cursos de capacitação em gestão de resíduos
químicos para técnicos de laboratórios, em gestão de resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos para os servidores da UFPE e também a realização de fóruns
institucionais para discutir a gestão dos resíduos na universidade.
No que se refere à implantação da coleta seletiva de resíduos recicláveis, foi realizado
um trabalho sistematizado de implantação na UFPE, acompanhado de um trabalho de
educação ambiental. Em julho de 2016 teve início o projeto “UFPE Coopera”, que visa
implantar diversas ações ambientais voltadas para a comunidade acadêmica,
contemplando a implantação da coleta de pilhas e baterias, óleo de fritura, medicamentos
vencidos e a ampliação da coleta seletiva de resíduos recicláveis. Neste projeto ocorre a
distribuição de coletores e promoção de campanhas de sensibilização, a fim de ampliar a
quantidade de resíduos coletados e garantir o sucesso do projeto [11, 26]. O UFPE
Coopera disponibilizou 21 coletores de pilhas e baterias, 21 de óleo de fritura e três para
medicamentos vencidos, distribuídos por toda a UFPE, conforme figura abaixo.

106
Figura 3. Mapa de distribuição de coletores de óleo de fritura, pilhas e medicamentos.

Manuais de Gestão de Resíduos Sólidos e Sustentabilidade


A educação ambiental é um processo individual e coletivo, no qual ações ambientais
devem ser planejadas e colocadas em prática. A interdisciplinaridade é um princípio
básico da Política Nacional de Educação Ambiental [16], que estimula a produção e
divulgação de material educativo, voltados à gestão de resíduos, sustentabilidade e meio
ambiente de forma geral.
A UFPE enfrenta vários desafios no âmbito da educação ambiental. A descentralização
física, a heterogeneidade e quantitativo de pessoas e atividades que compõem a
comunidade acadêmica além da frequente rotatividade de alunos, por exemplo, dificultam
ações que atinjam um grande número de pessoas [27]. Porém, esta universidade, através
da DGA, ao ter consciência da necessidade de realizar alguma ação relacionada ao tema,
elaborou os Manuais de Gestão de Resíduos Sólidos e Sustentabilidade, com objetivo de
consolidar ainda mais o processo de educação ambiental da comunidade acadêmica.Para
os temas dos manuais foram selecionadas ações contínuas da DGA que contemplam as
seguintes áreas: Coleta Seletiva, Óleo de Fritura, Pilhas e Baterias, Medicamentos,
Resíduos Químicos, Resíduos Intectantes, Vidrarias Contaminadas, Cartuchos e Toners,
Construção Civil, e Sustentabilidade. A identidade visual foi uniformizada,
diferenciando-os por meio de um padrão cromático [27], conforme observado na Figura
4.

107
Figura 4. Capas dos manuais de gestão de resíduo e sustentabilidade da UFPE.
Por se tratar de ação relativa ao UFPE Coopera, no qual a pessoa deve trazer o resíduo
de casa e descartar em um dos coletores espalhados pela universidade, a estrutura dos
manuais de Pilhas e Baterias, Óleo de fritura e Medicamentos foi a mesma, ou seja,
contemplam quais as consequências do descarte incorreto, qual procedimento deve-se
tomar para não descartar inadequadamente e a localização dos pontos de coleta. Já o
manual de Coleta Seletiva possui também tópicos adicionais, como: 5Rs (repensar,
recusar, reduzir, reutilizar e reciclar), o que pode ser reciclado (reciclável x não
reciclável), logística e cronograma de coleta no campus Recife.
Por tratarem de resíduos gerados na universidade, os manuais de Cartuchos e Toners,
Resíduos Químicos, Resíduos Infectantes e Vidrarias Contaminadas apresentam também
informações de procedimentos internos da UFPE a serem adotados na gestão destes
resíduos. O manual de Resíduos da Construção Civil traz conceitos sobre a destinação
deste resíduo. O manual de Sustentabilidade, por envolver várias outras áreas discutidas
nos demais manuais, traz de forma mais resumida os conteúdos já abordados, além de
orientações sobre boas práticas que podem ser inseridas na rotina da universidade, como
redução de consumo de energia elétrica e materiais de consumo.
A elaboração destes manuais digitais por uma equipe multidisciplinar da DGA
envolvendo técnicos, alunos e professores parceiros da UFPE visa a eficácia aos sistemas
de gestão adotados, utilizando os manuais como ferramentas para divulgação das ações,
de forma ecologicamente adequada, diminuindo o impacto ambiental e os custos com
impressão. Ainda, permite maior agilidade na transferência do conhecimento, uma vez
que podem ser acessados por qualquer pessoa e lugar [27].

CONSIDERAÇÕES FINAIS[3][4]
Esta pesquisa se propôs a descrever as principais ações realizadas na UFPE para a
implantação de um PGRS, que vem sendo construído a partir de ações que envolvem a
integração entre pesquisa acadêmica e gestão administrativa, na qual foi possível iniciar
o projeto de gestão dos resíduos a partir de um diagnóstico que identificou e dimensionou

108
os diversos resíduos gerados na universidade. Todos os levantamentos e análises foram
realizadas por grupos de trabalhos (GT’s) da DGA com a colaboração de professores
parceiros.
A partir dos dados obtidos, foram propostas iniciativas de projetos relacionados à área
de gerenciamento de resíduos sólidos. A partir do desenvolvimento de cada ação, buscou-
se neste trabalho apontar os avanços e as dificuldades encontradas na implantação da
gestão de cada tipo de resíduo.
Ao analisar o funcionamento atual da gestão dos resíduos da UFPE, foi possível
classificar a gestão dos resíduos pelo estágio de implantação em três categorias: resíduos
cuja gestão encontra-se implantada, parcialmente implantada ou não implantada. Foram
consideradas como implantadas as gestões de resíduos de pilhas e baterias, cartuchos e
toners, resíduos químicos, resíduos infectantes e medicamentos vencidos. É importante
ressaltar que, mesmo estando totalmente implantadas, a gestão desses resíduos está em
constante análise para ampliação e melhoramento dos processos de coleta e destinação.
As ações para gestão dos resíduos recicláveis e da biomassa residual foram
consideradas parcialmente implantadas, pois no caso dos resíduos recicláveis, ainda não
há cobertura da coleta sistematizada em todas as unidades prediais da UFPE, que enfrenta
problemas na implantação e no monitoramento da separação dos resíduos. Ainda, aponta-
se a falta de infraestrutura dos prédios para amparar a gestão desses resíduos e também a
baixa adesão da comunidade acadêmica na separação correta dos resíduos recicláveis,
sendo necessárias mais ações educativas para que ocorra uma maior adesão à iniciativa.
Já a gestão da biomassa residual, apesar de já apresentar grandes avanços na sua gestão,
ainda se encontra em fase piloto, não absorvendo todo o resíduo gerado na UFPE.
Como desafios para o estabelecimento do PGRS na UFPE, considera-se a implantação
da gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, dos resíduos da construção
civil e a gestão das águas residuárias, que ainda estão em fase de projeto e também
precisam de mudanças na administração da universidade para que possam ser
implantadas.
Aliadas ao estabelecimento de processos e ações para implantação, aprimoramento e
ampliação da gestão dos resíduos, as iniciativas de Educação Ambiental são essenciais
para o alcance dos objetivos do PGRS, e ferramentas como os Guias e Manuais da DGA,
o UFPE Coopera e os cursos de capacitação são exemplos de sucesso das ações de
sustentabilidade da UFPE.
Ainda que existam lacunas na gestão dos resíduos, as ações já desenvolvidas na UFPE
trouxeram impactos positivos nos aspectos socioeconômicos e ambientais. Contudo, é
importante compreender que soluções isoladas não garantem a sustentabilidade da
universidade, fazendo-se necessário um maior comprometimento de toda a comunidade
acadêmica para que a UFPE possa servir como modelo de desenvolvimento sustentável
para a sociedade.

109
Assim, espera-se que este trabalho contribua para o desenvolvimento de soluções para
a implantação e melhoria das ações de gestão de resíduos na UFPE, principalmente para
a gestão dos resíduos que ainda não tem soluções sustentáveis dentro da realidade local.
Recomendam-se estudos futuros que possam analisar mais profundamente a gestão de
cada um dos resíduos gerados na UFPE, a fim de propor mais soluções para a construção
de um PGRS cada vez mais sustentável.

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[21] Gil, A.C., 2002. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª Edição, São Paulo. Atlas.
[22] Universidade Federal de Pernambuco, 2013. Plano Estratégico Institucional. 2013
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40fe-b285-90bf01186a5d. Acesso em 01 jul 2018.
[23] Universidade Federal de Pernambuco, 2014. Guia Prático para Gerenciamento de
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https://www.ufpe.br/documents/40906/520030/Guia+Res%C3%ADduos+Qu%C3
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[24] Ferreira, S.O. P.M., Ferreira Júnior, J.A.M., Souza, C.C., Lyra, M.R.C.C., 2018.
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(Org.). Resíduos Sólidos: impactos socioeconômicos e ambientais. Recife:
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[25] Believe.Earth, 2017. Comida que vira combustível e energia elétrica. Disponível
online em https://believe.earth/pt-br/comida-que-vira-combustivel-e-energia-
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[26] Santiago Júnior, C.J.N., Pinheiros, R.L.S., Souza, C.C., Menezes, R.S.C., 2018.
Operacionalização da Coleta Seletiva de Óleo de Fritura para Produção de
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[27] Oliveira, M.B.M., Gonzaga, W.V., Menezes, R.S.C., Xavier, M.F.M., 2018.
Educação Ambiental por Meio de Manuais: uma Estratégia para Gestão de
Resíduos Sólidos e Sustentabilidade na UFPE. In: Santos, J.P.O; Silva, R.C.P.,
Mello, D.P., El-Deir, S.G. (Org.). Resíduos sólidos: tecnologia e boas práticas de
economia circular. Recife: EDUFRPE, pp. 320-329.

112
Capítulo 7

Sustentabilidade no campus
universitário: análise de
parâmetros socioambientais em
uma Universidade Federal

Suelen Cristiane Rodrigues


André Coimbra Felix Cardoso

113
Suelen Cristiane Rodrigues
Mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela Universidade
Federal de São Carlos, possui especialização em Gestão Pública
pela Universidade Federal de São Carlos e graduação em
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Paulista. Atua nas áreas
de Arquitetura e Urbanismo e Ciências Ambientais, abordando a
temática: gestão ambiental em universidades. Atualmente, é
Diretora da Divisão de Desenvolvimento Físico e Obras e integrante
da Comissão de Acessibilidade da UFSCar Campus Sorocaba, onde
também é idealizadora de projetos relacionados à acessibilidade,
gestão de resíduos e gestão de áreas verdes do campus.

André Coimbra Felix Cardoso


Super Pai da Sophia. Também é Faixa Preta de Jiu-jitsu formado pela
Academia Gracie de Jiu-jitsu. Nas horas vagas é cantor em Satsangas
e facilitador de meditação. Ah! E sem esquecer que André também
é professor-empreendedor na UFSCar (Campus Sorocaba), e hoje
uma de suas grandes paixões é criar jornadas educacionais
transformadoras que conectam a essência do indivíduo e o seu poder
criativo com as tecnologias e as necessidades do mundo, através do
processo interminável de autorealização. É idealizador e
Coordenador Geral do Programa de Inovação MBI UFSCar - Master
in Business Innovation da Universidade Federal de São Carlos - onde
também leciona as cadeiras do conhecimento: Fundamentos de
Administração; Gestão Estratégica; Empreendedorismo; e Gestão da
Sustentabilidade e de Organizações do Terceiro Setor.

114
INTRODUÇÃO
As universidades têm a responsabilidade de educar para o desenvolvimento sustentável,
sendo difusoras da transformação social [1, 2]. Elas têm potencial para desenvolver
práticas socioambientais no âmbito da gestão e da educação, dando assim a sua
contribuição para a construção de uma sociedade inovadora e para a promoção de uma
cultura de sustentabilidade.
A saber, no Brasil, nas últimas décadas, as políticas ambientais nessas instituições
tornaram-se mais abundantes e as ações de gestão ambiental têm ganhado um espaço
crescente [3]. Essas iniciativas contemplam, por exemplo: o Sistema de Gestão
Ambiental, que vêm sendo implantado em alguns campi [4], o Programa Agenda
Ambiental na Administração Pública (A3P) e o Plano de Gestão de Logística Sustentável
(PLS).
Ainda nesta perspectiva, no âmbito internacional, alguns pesquisadores apontam para
uma nova proposta de estruturação universitária emergente: o Green Campus [2, 5, 6],
modelo que visa reduzir o impacto ambiental causado pela implantação do campus por
meio da integração das atividades que constituem o seu cotidiano [2].
Entretanto, apesar de crescentes, ainda são limitadas as práticas observadas nas
universidades as quais têm o papel de qualificar e sensibilizar os cidadãos formadores de
opinião sobre a questão ambiental [3] e ainda existem limitações para a efetividade da
temática socioambiental nas ações dos campi universitários que envolvem a cultura
organizacional, revezes políticos, burocráticos, orçamentários, além da falta de atenção e
interesse [2].
Assim, diante desse cenário, esta pesquisa estabeleceu critérios de sustentabilidade,
baseados nas experiências nacionais e internacionais, concebendo assim um esboço de
framework de implantação de um campus sustentável. Com base nesse modelo, foram
analisadas as práticas socioambientais de uma universidade pública brasileira, a
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Campus Sorocaba, visando apontar se tem
atendido a alguns parâmetros de sustentabilidade, contribuindo assim com a questão
ambiental.
Portanto, a questão central que estrutura este capítulo é: como vem sendo a experiência
de implantação das práticas de sustentabilidade na UFSCar Sorocaba?

115
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Algumas iniciativas e desafios relacionados à sustentabilidade nas
universidades brasileiras
Sendo um exemplo de cidade em menor escala [2, 3, 6] a universidade com suas
atividades e infraestrutura gera impactos ambientais. Portanto, cabe a ela contribuir com
o desenvolvimento sustentável por meio da incorporação de práticas socioambientais no
seu ambiente construído, na sua gestão e nos seus sistemas [3].
Para tanto, há três tipos de abordagens amplamente utilizadas nos campi universitários:
as construções sustentáveis, a ISO 14.001 e o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) [6].
Conquanto, apesar de essas iniciativas serem relevantes e de demonstrarem a busca de
meios para se enfrentar a problemática ambiental, a adoção de qualquer uma dessas
ferramentas, por si só não garante a sustentabilidade, uma vez que todas possuem pontos
fracos, sendo necessário reconhecer a complexidade dos problemas ambientais e
desenvolver soluções integradas [6].
Quanto ao primeiro tipo de abordagem, no âmbito das universidades públicas
especificamente, as construções sustentáveis ainda estão no plano dos desejos, visto que
a utilização de novas tecnologias não é comum nas edificações dos campi, sendo que as
soluções hightech são vistas como incompatíveis com a realidade da maioria dessas
instituições [7]. No entanto, a iniciativa do Escritório Verde da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná é um exemplo de superação dessa barreira. Concebida e projetada pelo
Prof. Dr. Eloy Fassi Casagrande Jr. e a empresa “EcoStudio – Soluções Sustentáveis em
Arquitetura e Design”, a obra foi realizada por meio de uma parceria público-privada,
sinalizando que é possível associar a arquitetura bioclimática à inovação estando inserido
na esfera pública, representando um marco para essas instituições ao conseguir se
distanciar dos processos e da tipologia construtiva comumente adotada pelos órgãos
públicos.
Por sua vez, a norma ISO 14.001 volta-se ao gerenciamento ambiental, fornecendo
assistência às organizações que visam implantar uma abordagem sistêmica de melhoria
contínua por meio do SGA, estabelecendo requisitos para esse modelo: definição,
documentação e melhoria contínua do escopo do sistema; política ambiental;
planejamento; implementação e operação; verificação; e análise pela administração [8].
Assim, através do Sistema as organizações podem abordar suas preocupações ambientais,
alocando recursos, definindo responsabilidades e promovendo uma avaliação contínua de
práticas, procedimentos e processos [9]. Haja vista, no setor educacional existe uma
proposta de SGA para universidades estruturada nas normas e sistemas de gestão
ambiental, NBR ISO 14.001 e NBR ISO 14.004 e o ciclo PDCA, sigla do inglês Plan,
Do, Chech, Act [3]. E no Brasil, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS),
Campus São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, é um exemplo de Instituição que implantou
o Sistema de Gestão Ambiental e por meio dele foi a primeira universidade da América
Latina a receber a Certificação ISO 14.001, em 2004 [10].

116
Ainda nesse contexto de práticas de sustentabilidade, evidencia-se também o Plano de
Gestão de Logística Sustentável, instrumento de gestão obrigatório às universidades
públicas brasileiras, criado pelo Artigo 16 do Decreto nº 7.746, de 5 de junho de 2012 e
regulamentado por meio da Instrução Normativa nº10, de 12 de novembro de 2012, da
Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, que determina que os PLS são “ferramentas de planejamento com
objetivos e responsabilidades definidas, ações, metas, prazos de execução e mecanismos
de monitoramento e avaliação, que permite ao órgão ou entidade estabelecer práticas de
sustentabilidade e racionalização de gastos e processos na Administração Pública” [11].
De acordo com a Instrução Normativa 10/2012, o Plano deve conter no mínimo:
atualização do inventário de bens e materiais do órgão ou entidade; práticas de
sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e serviços abrangendo consumo,
uso dos recursos naturais, resíduos, qualidade de vida no ambiente de trabalho,
contratações sustentáveis e mobilidade sustentável; responsabilidades, metodologia de
implementação e avaliação do plano; ações de divulgação, conscientização e capacitação
[11].
Ademais, outro exemplo nesse sentido, porém de adesão voluntária às universidades
públicas, é o Programa Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P, iniciativa do
Ministério do Meio Ambiente criada em 1999, que visa estimular a incorporação de
princípios e critérios de gestão ambiental nas atividades de rotina da administração
pública, tendo por princípio fundamental a política dos 5R’s: Repensar, Reduzir,
Reaproveitar, Reciclar e Recusar consumir produtos e serviços que gerem impactos
socioambientais. Ele contempla ações que envolvem cinco eixos estratégicos: uso
racional dos recursos naturais e bens públicos, gestão adequada dos resíduos gerados,
qualidade de vida no ambiente de trabalho, sensibilização e capacitação dos servidores e
licitações sustentáveis [12].
A saber, a A3P criou uma certificação ambiental voltada a implementação do programa.
As universidades que possuem essa certificação são: Universidade Estadual do
Maranhão, Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Universidade Federal de
Pernambuco, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Sergipe e
Universidade Federal do Rio Grande do Norte [12].
Em contrapartida a essas iniciativas, salienta-se que ainda há limitações à efetividade
da sustentabilidade nos campi universitário, sendo que a ideia de incorporar o
desenvolvimento sustentável nas universidades é recente e para a institucionalização do
referido conceito é preciso romper barreiras à mudança, como a resistência de alguns
grupos, que pode ser explicada pelo fato de que normalmente os indivíduos se conformam
com o Status Quo e não se dispõem a mudar suas atitudes e rotinas [13]. Faz-se necessário
um trabalho de sensibilização, envolvimento e empoderamento da temática
socioambiental nos campi [14], uma vez que em algumas situações o nível de
conscientização da comunidade acadêmica é maior para questões ambientais locais ou

117
globais do que para questões que afetam diretamente o campus universitário, indicando
que é preciso trazer essas discussões e reflexões para o dia-a-dia da Instituição [14].
Enfim, existem poucas universidades brasileiras que conseguiram efetivar um
compromisso de caráter sistêmico com a promoção do desenvolvimento sustentável dado
que essa mudança organizacional esbarra na falta de comprometimento da Alta
Administração com a referida questão, na ausência de orçamento específico para as
atividades de gestão ambiental, além da falta de conhecimento e interesse na temática por
parte dos membros da comunidade acadêmica [15]. Diante disso, a presença de uma
política ambiental institucional e a nomeação de um grupo para efetivar o compromisso
com a gestão ambiental no espaço universitário, características estas encontradas na
estrutura conceitual do Green Campus, são fatores primordiais para inserir a
sustentabilidade na agenda da universidade [15].

O conceito de Green Campus


O conceito de Green Campus ou Campus Verde surgiu como produto do engajamento
das universidades com as políticas de desenvolvimento sustentável [16]. Ele foi difundido
inicialmente nos Estados Unidos, Europa, Austrália e Nova Zelândia. Contudo, se
expandiu para países da América do Sul e dos continentes Africano e Asiático [14].
Esse termo é usado para descrever uma instituição de ensino superior empenhada com
a temática ambiental nos diversos âmbitos, desde a promoção do ensino, pesquisa e
extensão até a forma de ocupar e gerir o ambiente físico, sendo que alguns pesquisadores
propuseram modelos gráficos de maturidade com indicadores para a construção desse
conceito [5, 6].
Considerando que a sustentabilidade afeta a todas as esferas da universidade, o Campus
Verde é um modelo que além de gerar economia por meio da conservação dos recursos
naturais, reduzir os resíduos e promover uma gestão ambiental eficiente, visa fomentar a
equidade e a justiça social, transcendendo esses valores à comunidade, a nível global [6].
Ele deve abordar, envolver e promover a minimização dos impactos negativos
ambientais, econômicos, sociais e à saúde gerados pelo uso dos recursos quando do
cumprimento das funções de ensino, pesquisa e extensão, bem como na gestão da forma
de ajudar a sociedade a fazer a transição para estilos de vida sustentáveis [5]. Para isso é
necessária a integração de três estratégias de forma sistêmica: Sistema de Gestão
Ambiental; Participação Pública e Responsabilidade Social; Sustentabilidade no Ensino
e na Pesquisa [6].
Nessa abordagem sistemática e integrada é preciso se atentar para a importância do
compromisso com a sustentabilidade nas políticas institucionais e nas práticas
universitárias e do estabelecimento de um gestor dessas ações [6, 15]. A saber, o Green
Office ou Escritório Verde desempenha essa função, sendo uma realidade em algumas
instituições do mundo. Um exemplo disso é o escritório de sustentabilidade da
Universidade de New Hampshire, que delineia claramente as estratégias para a instituição

118
lidar com as mudanças climáticas e as emissões de gases do efeito estufa [2]. No Brasil,
a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, por sua vez, foi a primeira instituição de
ensino brasileira a implantar esse modelo [17].
Uma outra definição de Campus Verde contempla um processo de gestão estratégica
composto por quatro fases, baseado na análise de dados e experiências extraídos de várias
instituições de ensino superior em todo o mundo, tais como iniciativas de
sustentabilidade, métricas, barreiras, sistemas de gestão ambiental, ensino, projetos de
pesquisa, falhas, sucessos e relações de proximidade [5].
A primeira fase desse modelo está relacionada ao desenvolvimento de uma visão de
sustentabilidade na instituição. A segunda consolida-se com a inclusão dessa temática
dentre as missões universitárias [5, 6]. A terceira fase relaciona-se com a estrutura
organizacional da instituição, no qual se faz necessária a criação de um comitê para
estabelecer políticas, metas e objetivos institucionais voltados a sustentabilidade, além de
coordenar as iniciativas, evitando a sobreposição de esforços [5, 6, 15]. Por fim, a quarta
fase está ligada a implantação de estratégias para minimização de impactos ambientais,
econômicos e sociais nas dimensões da educação, pesquisa, extensão e gestão do campus
[5].
Tendo em vista que na maioria das universidades há escassez de condições para o
estabelecimento e cumprimento das fases desses modelos, essas não são estruturas
rígidas, mas sim, exemplos para o desenvolvimento e instauração de missões, políticas,
estratégias, procedimentos e indicadores de sustentabilidade [5].

Materiais e Métodos
Este capítulo apresenta uma abordagem qualitativa, com caráter exploratório e
descritivo e os procedimentos metodológicos utilizados foram: a análise documental,
visto que foram estudados materiais que ainda não haviam recebido tratamento analítico
sendo assim possível extrair e resgatar informações importantes [18]; e a observação
participante, dada a interação dos pesquisadores com o objeto a ser relatado.
O principal parâmetro para escolha do objeto de análise foi o fato da Universidade
Federal de São Carlos ser uma instituição pública de ensino superior que tem como um
dos seus vieses institucionais o desenvolvimento sustentável, como aponta o seu Plano
de Desenvolvimento Institucional [19], além de ter desenvolvido o Plano Diretor de
Infraestrutura para o Campus Sorocaba com princípios voltados a sustentabilidade para
nortear o crescimento da estrutura física da universidade [20].
O processo de coleta de dados foi realizado através de documentos oficiais públicos,
disponíveis no website da universidade, tais como o Plano de Desenvolvimento
Institucional e o Plano Diretor de Infraestrutura do Campus Sorocaba; por meio da
observação da estrutura física e organizacional da instituição e através da participação
dos pesquisadores nas reuniões a respeito da construção do Plano de Gestão de Logística
Sustentável da UFSCar.

119
Por meio do embasamento teórico foi proposto um esboço de estrutura conceitual –
framework – de implantação com parâmetros de sustentabilidade para o ambiente
universitário, composto por níveis, baseado nas experiências de campi universitários e
nas propostas metodológicas de análise desenvolvidas por pesquisadores [2, 3, 5, 6]. E,
compilando as informações apresentadas, por meio de uma abordagem teórica conceitual
proposta na Figura 1, foi possível a observação de critérios socioambientais no campus
universitário [21].

Figura 1. Proposta de um framework de implantação de parâmetros de sustentabilidade


no campus

ANÁLISE DOS RESULTADOS


A Institucionalização da sustentabilidade
Primeiramente, em relação ao primeiro nível do modelo proposto, ainda que a temática
socioambiental não tenha se consolidado como uma política institucional [22], a
universidade demonstra um grau de envolvimento com esse assunto por meio de seu
Plano de Desenvolvimento Institucional, que apresenta a sustentabilidade como princípio
norteador, apesar do conceito ser abordado de forma genérica nas diretrizes gerais do
Plano [19]:

120
“Promover e inovar em processos eficazes de sustentabilidade,
em suas diferentes dimensões, em todos os níveis de atuação na e
da Instituição, bem como incentivar ações voltadas para
sociedades sustentáveis, integrando áreas do conhecimento e
constituindo a Universidade como exemplo dessas práticas”.
Ademais, a sustentabilidade revela-se também no Plano Diretor de Infraestrutura do
Campus Sorocaba, que orienta que a implantação da infraestrutura da universidade
considere os princípios da sustentabilidade ambiental [20].
Em suma, cabe destacar outro instrumento de institucionalização da temática
socioambiental identificado, que se encontra em estruturação: o Plano de Gestão de
Logística Sustentável, apontado como uma importante ferramenta nesse processo [22].

Gestor de práticas institucionais sustentáveis


Em relação ao gestor de práticas institucionais sustentáveis, verificou-se que
inicialmente a gestão ambiental na UFSCar era realizada pela Coordenadoria Especial de
Meio Ambiente, que posteriormente se transformou em Secretaria de Gestão Ambiental
e Sustentabilidade (SGAS), conforme Portaria GR nº262 de 12 de junho de 2013, e que
em 2018 estava passando por um trâmite de reavaliação e reestruturação de suas
atividades, onde ao final do processo teria a sua estrutura reformulada e passaria a se
chamar Secretaria de Ambiente e Sustentabilidade.
Vinculada à Reitoria da UFSCar, a Secretaria tem por finalidade [23]:
“(...) o planejamento, a coordenação e o monitoramento das
atividades da universidade que tenham interações com o
componente ambiental, incluindo o controle, a correção e a
prevenção de problemas ambientais, incluindo incentivos e
restrições (normatização) ao uso de espaços ou atividades que
causem problemas ambientais, em cogestão com todos os setores
da universidade”.
E dentro da estrutura departamental da SGAS eram previstas Seções de Gestão
Ambiental e Sustentabilidade em três campi da UFSCar (Araras, Sorocaba e Buri), que
com a nova proposta da Secretaria de Ambiente e Sustentabilidade passariam a ser
Coordenadorias de Meio Ambiente. Todavia, essas Seções ainda não se efetivaram
devido à falta de corpo técnico para a implementação da gestão ambiental multicampi na
UFSCar [23]. Portanto, cabe dizer que em 2018 o Campus Sorocaba não possuia um
gestor de práticas institucionais sustentáveis.

Estratégias Sustentáveis
Tendo em vista as estratégicas para a promoção da sustentabilidade, foram identificadas
algumas ações que encontram correspondência com os eixos do framework de
implantação proposto [21]:

121
Ensino. Verificou-se que os projetos pedagógicos dos cursos de graduação fazem
referência a sustentabilidade como eixo das ações institucionais do campus e abordam a
temática ambiental em trechos como “objetivos do curso”, “valores transmitidos”,
“habilidades e competências do profissional formado”. Além disso, os cursos possuem
disciplinas com correspondência parcial à temática socioambiental.
Projetos de pesquisa. Foram identificados grupos de pesquisa dentro da Instituição, tais
como: “Biomossa e Bioenergia”, “Hidrologia em Ecossistemas Florestais”,
“Biotecnologia e Biomonitoramento”, entre outros, que desenvolvem trabalhos no âmbito
socioambiental.
Projetos de extensão. Verificou-se a realização de cursos e eventos de capacitação sobre
temas que envolvem a sustentabilidade, além da feira agroecológica de agricultura
familiar e o projeto cestas agroecológicas, sendo todas essas ações desenvolvidas pelo
Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã.
Parcerias. Na universidade foram identificadas parcerias firmadas com outras
instituições de ensino, prefeituras, Organizações Não-Governamentais, associações,
produtores rurais e empresas para a realização de projetos de pesquisa e extensão.
Responsabilidade social. Verificou-se o desenvolvimento de projetos em algumas áreas
que demonstram a preocupação da instituição com questões no âmbito social. Um
exemplo é o “Cursinho Educação e Cidadania”, oferecido gratuitamente à comunidade,
no qual as aulas são ministradas por alunos da universidade de forma totalmente
voluntária.
Uso racional dos recursos naturais. Neste âmbito, o Plano Diretor de Infraestrutura do
Campus prevê a existência de mecanismos para captação e reuso de água da chuva nos
edifícios e o Plano de Desenvolvimento Institucional incentiva o uso de fontes
alternativas de energia como sistema fotovoltaico nos prédios. Além disso, verificou-se a
existência de uma rede de água de reuso no Campus; de uma Estação de Tratamento de
Esgoto, ainda em construção; de mecanismos para economia de água, tais como torneiras
com acionamento automático nas pias e vasos sanitários com sistema de duplo
acionamento da descarga; além de um sistema de aquecimento de água por meio de
energia solar nos chuveiros dos vestiários da Quadra Poliesportiva.
Programas de reciclagem, resíduos e reúso. A Universidade prevê a construção da
Unidade de Gerenciamento de Resíduos para Sorocaba, conforme o Zoneamento
Ambiental do Campus. Além disso, ocorre a coleta de resíduos eletroeletrônicos, pilhas
e baterias por meio de uma parceria com a empresa Sinctronics; a coleta seletiva solidária
e a coleta de óleo residual de fritura por meio de uma parceria com a Cooperativa de
Reciclagem de Sorocaba; a coleta de resíduos químicos diversos dos laboratórios; de
lâmpadas fluorescentes; e a coleta de parte dos resíduos orgânicos gerados no Restaurante
Universitário por meio de parceria com produtor da região.

122
Planejamento físico e projeto sustentável. Neste quesito, o Plano Diretor de
Infraestrutura estabelece que devem ser implementadas ações no âmbito do uso, ocupação
e expansão dos espaços físicos, tendo em vista as diretrizes ambientais. Além disso, pode-
se observar que as edificações da instituição possuem princípios da arquitetura
bioclimática.
Mobilidade e acessibilidade. Verificou-se a existência do projeto Carona Solidária; a
existência de um trecho de ciclovia e bicicletário coberto dentro do campus. Constatou-
se também a realização de reuniões por meio de videoconferências para redução do uso
dos veículos da frota oficial e a observação às normas de acessibilidade nas construções
do campus.
Áreas Verdes. O Plano Diretor da UFSCar Sorocaba estabelece o desenvolvimento de
ações voltadas a preservação ambiental do campus. Além disso, cabe destacar o trabalho
realizado pela Sub-Comissão de Áreas Verdes que contribuiu com a recuperação,
adensamento e preservação das áreas verdes do Campus e o levantamento do
ordenamento espacial realizado pela SGAS, visando manter e atualizar as informações
referentes ao Cadastro Ambiental Rural.
Contratações sustentáveis. Não foram constatadas ações nesta seara realizadas no
Campus Sorocaba.

OBSERVAÇÕES FINAIS
A proposta deste capítulo foi analisar as práticas de sustentabilidade adotadas por uma
universidade pública brasileira que teve a intenção de ser um campus sustentável: a
Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba. Para tanto, elaborou-se um
esboço de framework de implantação baseado nas experiências nacionais de gestão
socioambiental e no modelo internacional de Campus Verde e por meio do levantamento
de dados na UFSCar Sorocaba foi possível conhecer algumas ações promovidas pela
instituição que encontram correspondência parcial com os parâmetros de sustentabilidade
estabelecidos nessa pesquisa.
A princípio, averiguou-se que ela demonstra um grau de envolvimento com a temática
socioambiental através de seus documentos oficiais. E apesar desses instrumentos não
garantirem a institucionalização da sustentabilidade no campus universitário [6], eles são
uma maneira de formalizar um compromisso com a questão socioambiental. Portanto,
isto leva a crer que a instituição teve a intenção de construir uma nova proposta de campus
universitário sustentável. No entanto, não foram identificados mecanismos para assegurar
a prática das ações socioambientais, como um Sistema de Gestão Ambiental, iniciativa
relevante na construção de um Campus Verde [6] e que por ora é apenas uma ideia
formalizada em documentos oficiais.
Ademais, considerando o parâmetro relacionado ao estabelecimento de um gestor e
articulador das estratégicas empreendidas a favor da sustentabilidade, verificou-se que na

123
UFSCar a ausência de uma Coordenadoria de Meio Ambiente em Sorocaba pode ser um
fator limitante do desenvolvimento das atividades socioambientais no campus. A saber,
a presença dessa figura institucional é um elemento de sucesso na promoção da
sustentabilidade na universidade [2, 5, 6].
Quanto às práticas socioambientias identificadas, observou-se que as de maior
visibilidade são as relacionadas aos programas de reciclagem, resíduos e reuso [3], ainda
que existam lacunas dentro desse eixo, tais como a ausência de atividades envolvendo a
gestão de resíduos orgânicos provindos de poda e da construção civil [22]. A evidência
dessas ações pode estar relacionada a existência de uma legislação específica
regulamentando essa vertente e incentivando o desenvolvimento de iniciativas nessa
seara, como a Lei Federal nº 12.305, de 02 de Agosto de 2010, que trata da Política
Nacional de Resíduos Sólidos e o Decreto Federal 5.940, de 25 de Outubro de 2016, que
dispõe sobre a separação de resíduos recicláveis descartados na fonte geradora,
destinando-os a coleta seletiva solidária.
Deve-se ressaltar também o trabalho desenvolvido pela instituição no que diz respeito
à educação e a responsabilidade social, uma vez que as iniciativas voltadas ao ensino, a
pesquisa e extensão também devem ser valorizadas [24]. No Campus Sorocaba um caso
prático neste âmbito é o trabalho realizado pelo Núcleo Apetê Caapuã que promove a
agroecologia entre a comunidade interna e externa, favorecendo o fortalecimento de
comunidades regionais e proporcionando a capacitação dos produtores, atendendo assim
a diretriz de produção e disseminação do conhecimento do Plano de Desenvolvimento
Institucional da UFSCar.
Em contrapartida não foram constatadas ações em Sorocaba dentro da categoria
contratações sustentáveis, indicando que ela representa um gargalo à efetividade da
sustentabilidade no campus [22]. E isto pode estar relacionado aos entraves legais, a baixa
oferta de produtos sustentáveis no mercado e a falta de capacitação técnica dos servidores,
fatores que podem ser barreiras às compras sustentáveis [25].
Em suma, em que pesem as suas ações, apesar de formalizar a sua intenção de inserir a
temática socioambiental no seu cotidiano e atender a alguns parâmetros de
sustentabilidade, executando práticas de gestão socioambiental, o Campus Sorocaba não
pode ser considerado um modelo de Campus Verde, visto que apresenta ações pontuais e
desarticuladas, possivelmente devido à falta de preparação da universidade para lidar com
essas questões, sendo que soluções isoladas não garantem a sustentabilidade do campus
[6].
Presume-se que isso aconteça devido a algumas barreiras, tais como: as restrições
orçamentárias, que implicam em escassez de recursos humanos e financeiros, sendo que
nos últimos anos as universidades públicas têm trabalhado com quadros de servidores
enxutos e orçamentos escassos; e a alta burocracia dos processos. Além disso, outro
aspecto relevante nesse contexto é a cultura organizacional [2, 13, 15], uma vez que as
dificuldades relacionadas à efetividade da sustentabilidade no campus também podem

124
estar ligadas à falta de priorização de projetos nessa área por parte de membros da
comunidade acadêmica, que não consideram esse tema relevante ou tão prioritário quanto
outros, demonstrando desinteresse em promover mudanças de hábito em suas rotinas de
trabalho.
Por fim, algumas limitações foram identificadas no desenvolvimento desse estudo. Uma
delas é o fato dos pesquisadores serem servidores da UFSCar Sorocaba, o que pode ter
levado a uma possível parcialidade na análise e discussão dos resultados. Além disso,
devido ao tempo escasso não houve um aprofundamento no levantamento de alguns
dados, como os projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos pela universidade junto às
Fundações de Apoio Institucionais e Agências de Inovação e das cláusulas de
sustentabilidade inseridas nos contratos de serviços.
Dessa forma, recomendam-se estudos futuros mais aprofundados abrangendo cada um
dos eixos do framework proposto e investigações no sentido de averiguar a interferência
dos atuais cortes em investimento na pesquisa científica no país envolvendo a inovação
para a sustentabilidade.

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Desenvolvimento Sustentável. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa,
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[4] Vaz, C.R., et al., 2010. Sistema de Gestão Ambiental em Instituições de Ensino
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[5] Velazquez, L., et al., 2006. Sustainable university: what can be the matter? Journal
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[8] Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004. NBR ISO 14001: Sistemas de

125
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[9] Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2005. Sistemas de gestão ambiental –
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[11] Brasil., 2012. Instrução Normativa 10, de 12 de novembro de 2012. Estabelece
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Disponível online em:
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[12] Ministério do Meio Ambiente., 2009. Agenda Ambiental na Administração
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[13] Lozano, R., 2006. Incorporation and institutionalization of SD into universities:
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[14] Yuan, X., Zuo, J., Huisingh, D., 2013. Green Universities in China - What
matters?. Journal of Cleaner Production, Volume 61, pp. 36–45.
[15] Otero, G.G.P., 2008. Sustentabilidade em Instituições de Ensino Superior: Brave
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[16] Deeke, V., Casagrande Jr, E.F., Silva, M.C., 2008. Edificações Sustentáveis em
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[17] Casagrande, E.F., 2010. Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná: Inovação Tecnológica e Sustentabilidade na Prática. Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. APS Jornal Online, Curitiba.
[18] Godoy, A.S., 1995. Pesquisa Qualitativa: tipos fundamentais. Revista de
Administração de Empresas, Volume 35, pp.20-29.
[19] Universidade Federal de São Carlos., 2013 Plano de Desenvolvimento
Institucional. São Carlos. Disponível online em: http://www.pdi.ufscar.br/, Acesso
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[20] Universidade Federal de São Carlos., 2006. Plano Diretor Físico da UFSCar,
campus de Sorocaba. São Carlos. Disponível online em:
http://www.sorocaba.ufscar.br/ufscar/mce/arquivo/ufscar_pdf_sor_06022006.pdf
, Acesso em: 19 Nov.2015.
[21] Rodrigues, S.C., 2018. Análise dos parâmetros de sustentabilidade em dois campi
de universidades federais: UNIFESP e UFSCar. 145 f. Dissertação de mestrado

126
(Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Gestão Ambiental) –
Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba, Sorocaba.
[22] Rodrigues, S.C., Cardoso, A.C.F, Schlindwein, M.N., 2018. O processo de
construção do plano de logística sustentável (PLS) da Universidade Federal de São
Carlos: uma reflexão crítica. In: 11 Congresso Internacional de Educação Superior
- Universidad 2018: La Universidad y la agenda 2030 para el desarrollo sostenible,
2018, Havana. Anais..., Volume 1, p. 187-194.
[23] Universidade Federal de São Carlos. Relatório de Gestão. São Carlos, 2012 – 2016.
Disponível online em: http://www.blogdareitoria.ufscar.br/gestao2012-2016/wp-
content/uploads/rt_sgas.pdf, Acesso em: 26 Jun. 2017.
[24] Sorrentino, M., Nascimento, E.P., 2010. Universidade e Políticas Públicas de
Educação Ambiental. Educação em Foco, Volume 14, pp. 15-38.
[25] Brammer, S., Walker, H., 2011. Sustainable procurement in the public sector: an
international Comparative study. International Journal of Operations & Production
Management, Volume 31, pp. 452-476.

127
Capítulo 8

Gestão Sustentável na
Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo

Ana Maria Maniero Moreira


Wanda Maria Risso Günther

128
Ana Maria Maniero Moreira
Instituição: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
(FSP/USP). Formação, experiência e atuação: médica, mestre e doutora
em Ciências pela FSP/USP, atualmente pós-doc pelo Departamento de
Saúde Ambiental da FSP/USP e consultora em questões de resíduos
sólidos. E-mail: [email protected].

Wanda Maria Risso Günther


Instituição: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
(FSP/USP). Formação, experiência e atuação: engenheira civil e
socióloga, mestre e doutora em Saúde Pública pela FSP/USP, pós-
doutorado pelo Departamento de Geologia e Geoquímica da
Universidad Autónoma de Madrid e livre docência em Gestão
Ambiental pela USP. Professora titular do Departamento de Saúde
Ambiental da Faculdade de Saúde Pública/USP. E-mail:
[email protected].

129
INTRODUÇÃO

A busca da sustentabilidade em universidades


A história tem mostrado que o desenvolvimento tecnológico e a inovação não levam
automaticamente à prosperidade e à melhoria da qualidade de vida da população.
Principalmente em países em desenvolvimento, a tecnologia e inovações têm sido
associadas à deterioração ambiental, a qual, pelo contrário, deveria ser minimizada ao
serem aplicadas novas tecnologias. O desafio da inovação, portanto, é lidar com as
possíveis limitações e gerar prosperidade sem comprometer as habilidades das gerações
futuras [1].
Ao promoverem o ensino e a pesquisa, as universidades desempenham papel
significativo na construção do caminho para um universo sustentável, visto que lideram
a geração do conhecimento, a difusão e aplicação de resultados e contribuem para a
conscientização tanto da comunidade interna como do restante da população.
Diversas pesquisas mostram a importância das universidades na moldagem do estilo de
vida de seus alunos como atores ambientais, ao incorporar questões de sustentabilidade
nos currículos e nas operações de seus campi. Ao capacitar futuros líderes do mundo,
devem proporcionar meios para que os alunos desenvolvam habilidades e atitudes
multidisciplinares e que assim possam contribuir para as metas de sustentabilidade [2-7].
Para Leal Filho [3], a aprendizagem deve se utilizar de cenários do mundo real,
permitindo o desenvolvimento de competências que não serão valorizadas apenas na
carreira profissional, mas que se tornarão vitais para a correção do desenvolvimento
insustentável, para o aprendizado institucional e para uma abordagem mais integradora
dentro do próprio campus.
Rooney e Mc Millin [4] destacam ainda que o processo de aprendizagem será sempre
aprimorado quando as práticas cotidianas de uma instituição reforçarem as lições
ensinadas no currículo formal e vice-versa. Para os autores, a comunidade do campus é o
local ideal para que tanto alunos como funcionários aprendam estratégias para instigar a
mudança, tenham uma consciência mais compreensível e de longo prazo sobre a
preservação ambiental e para que coloquem em prática a cidadania responsável.
Torna-se, portanto, indispensável que essas organizações comecem a incorporar os
princípios e práticas da sustentabilidade, seja para iniciar um processo de conscientização
em todos os seus níveis, atingindo professores, funcionários e alunos, seja para tomar
decisões fundamentais sobre planejamento, treinamento, operações ou atividades comuns
em suas áreas físicas [8].
Campi universitários cobrem grandes extensões de terra com numerosos edifícios,
instalações e espaços abertos. Muitas vezes precisam lidar com o crescente aumento de
alunos e funcionários, o que exige recursos e atividades que não se limitam ao ensino, à

130
pesquisa e ao aprendizado, mas também ao desenvolvimento de negócios e programas
que afetam direta ou indiretamente a sociedade e o ambiente [7]. Programas de extensão
contemporâneos em campi universitários têm envolvido questões socioambientais e de
sustentabilidade do próprio campus, utilizando o território institucional como laboratório
e campo de aplicação. Nesse sentido, os resultados desses estudos contribuem para
melhorar as condições e a gestão institucional e permitem a replicabilidade em situações
similares na sociedade, o que confirma o papel significativo das universidades.

O gerenciamento dos resíduos sólidos em universidades


A gestão dos resíduos sólidos é considerada um elemento crítico ao se considerar a
busca pela sustentabilidade. Resíduos sólidos são gerados em todos os setores da
sociedade, inclusive nos campi universitários, muitos dos quais tão complexos e
populosos que podem ser equiparados a pequenas cidades.
Grande parte dos resíduos nas sociedades atuais, impulsionadas pela produção e
consumo, é constituída de embalagens de diferentes tipos de material, papéis impressos,
resíduos orgânicos e restos alimentares, resíduos elétricos e eletrônicos, perigosos ou não,
os quais necessitam ser encaminhados para descarte adequado para que não provoquem
impactos socioeconômicos e ambientais relevantes [9]. Apesar da diversidade e
complexidade da composição dos resíduos sólidos é importante buscar sua minimização
e valorização, para poder contribuir com a redução dos impactos ambientais e sanitários
decorrentes de seu gerenciamento. Seguindo as diretrizes da Política Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS) há diferenciação entre resíduos e rejeitos e necessariamente a
gestão de resíduos sólidos deve seguir a hierarquia de resíduos, que contempla a seguinte
ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos
resíduos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos [10].
No Brasil, há regulamentações específicas que estabelecem as diretrizes aplicáveis
para os diferentes tipos de resíduos gerados, considerando suas características,
periculosidade e possibilidades de recuperação. Entre esses, o grupo dos Resíduos de
Serviços de Saúde (RSS) é um tipo particular, gerado em todos os estabelecimentos de
saúde, em qualquer nível de porte ou complexidade, destinados à prestação de assistência
à saúde humana ou animal, englobando ações de promoção, prevenção, diagnóstico,
tratamento, recuperação, além de instituições de ensino e pesquisa em saúde, entre outros.
Para esses estabelecimentos enquadrados como geradores de RSS há normativas
específicas: a RDC nº 306/2004 [11] e, mais recentemente, a RDC nº 222/2018 [12] da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que dispõem sobre o regulamento
técnico para o gerenciamento interno de RSS, assim como a Resolução nº 358/2005 [13]
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que trata com maior ênfase das
fases externas do gerenciamento: tratamento e disposição final.

131
Em laboratórios de Instituições de Ensino Superior (IES), que se caracterizam por
ensino e pesquisa, como é o caso de muitas universidades, além dos resíduos comuns,
recicláveis ou não, são também gerados resíduos considerados perigosos e que requerem
cuidados especiais. Esses resíduos são resultantes de práticas laboratoriais biológicas,
físico-químicas e radiológicas, como por exemplo: meios de cultura; carcaças e peças
anatômicas de animais utilizados em experimentação; vacinas (risco biológico);
substâncias tóxicas, inflamáveis, corrosivas ou reativas (risco químico); perfurocortantes
(agulhas, lâminas, instrumental de vidro quebrado), que são considerados de duplo risco,
e resíduos que contêm radionuclídeos acima dos limites de isenção. Esses tipos de
resíduos são proibidos de seguir diretamente para disposição no solo ou serem
descartados na rede de esgoto, sem que ocorra tratamento prévio.
Nas IES são gerados ainda certos tipos de resíduos classificados como especiais em
função do tipo, características e periculosidade e que também necessitam de
gerenciamento específico. É o caso de pilhas; baterias; lâmpadas fluorescentes; pneus;
óleos lubrificantes; resíduos da construção civil, resíduos da manutenção e poda de
jardins e áreas verdes e resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE).
As regulamentações brasileiras específicas para RSS [11-13] instituem que o
gerenciamento interno e externo de todos os resíduos produzidos é de responsabilidade
dos próprios geradores, os quais são obrigados a elaborar, implantar e monitorar o Plano
de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) da instituição. Com o
planejamento, adequação dos procedimentos de manejo, rotulagem e uso de
equipamentos apropriados é possível promover o reaproveitamento de diversos materiais,
considerando-se que podem ser empregados como matéria prima secundária em
processos produtivos – reciclagem. O gerenciamento adequado implica também na
possibilidade de se reduzir os riscos e a quantidade gerada de resíduos infectantes e
tóxicos e, consequentemente, os custos operacionais e ambientais.
No entanto, a simples elaboração do PGRSS não soluciona a questão dos resíduos
sólidos. A grande dificuldade está em sua implantação, que depende de um compromisso
institucional estabelecido e amplamente incorporado pelos diferentes atores envolvidos.
A implantação do PGRSS não é fácil ou rápida; requer planejamento, articulação,
modificação de espaços, procedimentos e certo custo econômico e operacional,
necessitando ainda de controle e monitoramento permanente e reavaliação periódica para
readequação, quando necessário.
A segregação dos diferentes tipos de resíduos, etapa inicial e de vital importância para
seu gerenciamento, deve ser efetuada na fonte geradora, no momento da geração, visto
ser proibida a separação dos mesmos, uma vez ocorrida a mistura.
As etapas subsequentes (acondicionamento, identificação, coleta interna, transporte,
armazenamento, coleta externa, tratamento e disposição final) devem receber igual
atenção, pois também podem representar risco ocupacional e ambiental significativo. RSS
mal acondicionados, armazenados ou dispostos de forma inadequada propiciam a atração

132
e proliferação de insetos, artrópodes e roedores, com risco de disseminação de material
contaminado e de enfermidades diversas, além de representar situação de risco à
exposição humana e animal.
Esses cuidados facilitam o encaminhamento diferenciado e adequado dos diferentes
tipos de resíduo; reduzem os riscos à saúde dos trabalhadores, da população e do
ambiente; preservam a qualidade dos materiais; evitam reações entre substâncias
incompatíveis; além de se reduzir a quantidade de resíduos perigosos ou especiais a serem
tratados e dispostos, com redução significativa de custos com tratamento e disposição no
solo.
A minimização da geração de RSS e a redução do risco sanitário e ambiental a eles
associado devem ser as principais preocupações para os gestores dos estabelecimentos
geradores, não somente no sentido de cumprirem com as obrigações legais, mas também
como forma de buscar a sustentabilidade da instituição.
Dentro deste contexto, o objetivo deste capítulo é apresentar o status quo do
gerenciamento dos resíduos perigosos e não perigosos gerados na Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), uma instituição de ensino e pesquisa
em saúde, localizada no município de São Paulo, Brasil. A FSP é um gerador de RSS de
pequeno porte, considerando sua geração de menos de 20kg/dia de resíduos infectantes e
químicos perigosos, os quais necessitam encaminhamento diferenciado para estações de
tratamento ou de valorização.

Faculdade de Saúde Pública (FSP) – uma instituição de ensino e


pesquisa geradora de RSS
A FSP teve origem em 1918 e foi incorporada à USP em 1939. Localiza-se em região
central do Município de São Paulo, vizinha de outras unidades da USP que formam o
Quadrilátero da Saúde: Faculdade de Medicina, Instituto de Medicina Tropical e Escola
de Enfermagem.
Oferece dois cursos de graduação: Nutrição e Saúde Pública, além de cursos de cultura
e extensão. Atuando em pós-graduação desde 1970, possui atualmente seis programas
stricto sensu: Ambiente, Saúde e Sustentabilidade (mestrado profissional), Entomologia
em Saúde Pública (mestrado profissional), Epidemiologia (doutorado), Nutrição em
Saúde Pública (mestrado e doutorado), Saúde Global e Sustentabilidade (doutorado) e
Saúde Pública (mestrado e doutorado).
Em 2018, circularam em suas dependências mais de mil alunos, 77 docentes, 176
funcionários técnicos e administrativos, além de funcionários terceirizados (segurança e
limpeza) e usuários da biblioteca, da creche e do Centro de Saúde, o qual insere-se no
território e é administrado pela FSP.


Fonte: http://novahygeia.fsp.usp.br/site/

133
O edifício principal, construído na década de 1930, é reconhecido como exemplo da
arquitetura pública do início do século XX. Foi restaurado em 2010, sofrendo adaptações
ao seu uso intensivo, sem perder suas características originais. É rodeado por uma extensa
área verde (Figura 1), aberta para uso pela comunidade USP e externa.

Figura 1 - Vista aérea que compreende a FSP e o Centro de Saúde (Fonte: Google mapas)
Pesquisa florística, realizada por empresa de consultoria contratada em 2012, indicou
a existência de 648 indivíduos de 63 diferentes espécies, sendo quase metade nativas.
Entre os elementos da sustentabilidade ambiental proporcionados pelo jardim estão:
alívio do clima e da poluição urbana, capacidade de absorção da água pluvial e
conservação da biodiversidade, além de proporcionar momentos de laser e reconforto aos
usuários.[tm5][AMMM6]
O programa educacional voltado para a sustentabilidade na FSP cobre três áreas: i)
Ensino – capacitação de profissionais para atuar nos problemas de saúde ambiental; ii)
Pesquisa – busca por soluções paradigmáticas e geração de conhecimento e difusão de
ações sustentáveis; e iii) Ações práticas – conscientização de cidadãos e estabelecimento
de exemplos de responsabilidade socioambiental e prevenção de impactos ao ambiente e
à saúde humana.
Muitas disciplinas acadêmicas contribuem para o entendimento e enfrentamento dos
problemas ambientais. O Departamento de Saúde Ambiental, o primeiro no Brasil,
oferece 15 matérias em dois cursos de graduação da própria unidade ou externos (na
enfermagem e engenharia). O Departamento também oferece 33 disciplinas para alunos
de pós-graduação na interface ambiente-saúde e sustentabilidade.
Por outro lado, três dos cinco departamentos da FSP geram RSS em seus 14
laboratórios de pesquisa: Saúde Ambiental (2 laboratórios), Epidemiologia (7) e Nutrição
(5). Além disso, o Centro de Saúde possui oito ambientes que geram resíduos infectantes
e/ou químicos: consultórios da saúde da mulher e de odontologia; salas de medicação, de

134
coleta de material de análise laboratorial, imunização e de curativos; e em dois
laboratórios - de análises clínicas e de dermatologia sanitária.
Esses RSS perigosos são direcionados para três fluxos principais: infectantes,
químicos perigosos e carcaças animais, sendo necessário o credenciamento da unidade
junto à Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (AMLURB), responsável pela coleta e
destinação. É necessário ainda a solicitação do certificado para movimentação de resíduos
de interesse ambiental (CADRI) junto à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(CETESB), o qual aprova o encaminhamento destes resíduos para locais de
reprocessamento, armazenamento, tratamento ou disposição final, licenciados ou
autorizados por esse órgão ambiental.

MÉTODOS APLICADOS PARA ALCANCE DOS OBJETIVOS


Em 1993, seguindo um movimento conjunto em vários Campi da USP, teve início na
FSP o Programa USP-Recicla. Esse programa nasceu voltado, inicialmente, apenas para
atividades de redução do uso e descarte de papel durante as atividades acadêmicas e
correlatas. Na FSP, com o passar dos anos, essas ações foram sendo aprimoradas,
principalmente a partir de 2009, com os objetivos de ampliar sua abrangência, melhorar
o desempenho e fortalecer a corresponsabilidade. Desde então, as ações implantadas são
direcionadas para: redução do consumo de recursos naturais e da geração de todos os
tipos de resíduos; ampliação da gama de recicláveis coletados; consolidação da coleta
seletiva com inclusão social de catadores cooperativados; reaproveitamento interno de
alguns resíduos orgânicos gerados; capacitação de profissionais; sensibilização da
comunidade para mudança de atitudes e elaboração e implantação do PGRSS da
instituição.
As estratégias aplicadas para a elaboração do PGRSS da FSP são apresentadas no
Quadro 1. Como ferramenta, tem sido adotado o ciclo PDCA (Plan, Do, Check & Act)
defendido por Deming [14], o qual auxilia no planejamento e desenvolvimento das ações,
na avaliação de resultados, reajustes e melhoria contínua do plano. O PGRSS é submetido
constantemente a atualizações e suas conquistas e metas são mensuradas, avaliadas e
monitoradas por meio de indicadores quali e quantitativos.
Quadro 1 - Estratégias utilizadas para cumprir cada objetivo
Objetivos Estratégias
Instruir alunos e capacitar profissionais com Cursos, palestras, workshops
alta qualidade e competência para atuarem na
solução de problemas socioambientais
Desenvolver novos estudos e aprimorar os Pesquisas utilizando a unidade e o
existentes voltados para a temática prevenção campus como laboratório
de impactos ambientais e danos à saúde e
questões de sustentabilidade

135
Produzir e disseminar informações sobre Participação em eventos internos e
saúde pública, ambiental e sustentabilidade externos, publicação de artigos científicos e
manuais, notícias no site, boletim semanal,
redes sociais, relatórios anuais, distribuição
de cartazes
Identificar e discutir as demandas do campus Reuniões das comissões formadas por
de forma integrada e participativa representantes das diversas áreas geradoras
de RSS, setor administrativo, CIPA1,
SESMT2
Formular propostas para promover uma Reuniões com dirigentes, gerentes e
gestão mais sustentável e fortalecer a técnicos; desenvolvimento de projetos de
corresponsabilidade adaptações
Capacitar e sensibilizar os atores Palestras, capacitação em biossegurança,
envolvidos, desafiando-os para a mudança de higienização, reciclagem, campanhas de
atitudes coleta de resíduos

PRINCIPAIS AÇÕES E RESULTADOS ALCANÇADOS NA


BUSCA DA SUSTENTABILIDADE ATÉ O PRESENTE
Constituição da Comissão de Gerenciamento de RSS
Em 2014, com a finalidade de congregar, discutir e encaminhar as questões referentes
ao gerenciamento de RSS, foi criada uma comissão composta por representantes de cada
laboratório, do setor administrativo e do Centro de Saúde, além de professores, alunos,
pesquisadores e membros da CIPA e do SESMT. Essa comissão é responsável por
analisar as demandas trazidas pelos participantes, discutir, planejar, implantar e monitorar
as ações implantadas, assim como realizar a comunicação dos resultados alcançados.
Reuniões mensais, com ênfase no gerenciamento dos resíduos, trazem também a
possibilidade de inserção de outras ações como redução de consumo de água (substituição
dos antigos destiladores), aquisição de materiais certificados e mais sustentáveis,
substituição de instrumentais contendo metal pesado (mercúrio), uso de EPIs adequados
às atividades, distribuição de sinalizações e mapas de risco, aprimoramento de medidas
de segurança, entre outras.

Indicação de responsável técnico pelo gerenciamento dos RSS


Uma enfermeira do Centro de Saúde assumiu a responsabilidade técnica pelo
gerenciamento dos RSS, porém recebe o apoio e assessoria dos demais membros da

1
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

2
SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

136
comissão, os quais possuem formação multidisciplinar que envolvem áreas como
biologia, medicina, engenharia, arquitetura, farmácia, química e outras.

Obtenção de cadastros, licenças e certificados


O cadastro no Serviço de Coleta Municipal de RSS (AMLURB) foi regularizado e
foram obtidos os Certificados de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental
(CADRIs) referentes aos três diferentes fluxos de coleta para tratamento dos resíduos
perigosos (infectantes - autoclavagem, incineração e carcaças de animais - cremação).
A emissão dos Manifestos de Transporte de Resíduos (MTR) para cada tipo de resíduo
(infectante, químico e de origem animal), exigência legal, foi implantada, assim como o
registro da quantidade diária de resíduos perigosos gerados.

Diagnóstico das etapas internas e externas do gerenciamento dos RSS


Checklist contendo todos os requisitos legais necessários para boas práticas de
gerenciamento de resíduos, em âmbito sanitário, ocupacional e ambiental, foi elaborado.
Dados foram obtidos por meio de entrevistas com representantes de cada área geradora
de RSS, de observações in loco e registro fotográfico. Essas atividades permitiram o
levantamento das inadequações, necessidades e registro de sugestões de melhoramentos,
que foram devidamente encaminhadas aos responsáveis para providências.

Medidas para minimizar a geração de resíduos


A distribuição estratégica de recipientes devidamente identificados, com capacidade
suficiente para a demanda diária e diferenciados para cada tipo de resíduo é investimento
não oneroso, mas que favorece a segregação adequada na origem, evitando-se a mistura
dos diferentes tipos de resíduos e a contaminação do conteúdo. A Figura 2 apresenta os
diferentes tipos de recipientes acondicionadores distribuídos internamente na FSP e no
Centro de Saúde.

Figura 2 - Recipientes estrategicamente distribuídos para favorecer segregação adequada

137
Na FSP resíduos orgânicos são valorizados por meio do método de tratamento de
resíduos via compostagem. O projeto acadêmico sobre compostagem em instituição de
ensino e pesquisa, iniciado em 2009, é responsável pela redução de 2,2% do total de
resíduos comuns e que seguiriam para o aterro sanitário, resultando em ganhos
econômicos e ambientais. Esse projeto é supervisionado, operado e monitorado por
docentes, funcionários efetivos e terceirizados, alunos e estagiários da faculdade. Desse
modo, até dezembro de 2017, grande parte (22,5 toneladas) de resíduos [tm7]orgânicos
(restos e cascas de frutas, borra de café e podas do jardim) gerados internamente na FSP,
foram transformados em composto orgânico, o qual tem sido distribuído à comunidade
ou utilizado no jardim e vasos da FSP. Frequentemente, a composteira recebe visitantes
interessados em conhecer o método de valorização de orgânicos e essa prática passou a
ser replicada em residências e outras instituições de ensino e pesquisa (Figura 3).
[AMMM8]

Figura 3 - Visita de alunos de cursos da faculdade à composteira, 2017


O controle e a avaliação da geração de resíduos por meio de indicadores são
importantes instrumentos quando a meta da instituição é minimizar a geração. Conforme
projeto de pesquisa acadêmica para elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos,
uma média de 472kg de resíduos são gerados diariamente na FSP. Desses, a maior parte
(78,5%) é composta por resíduos comuns e 18,0% constituída de materiais recicláveis,
encaminhados para cooperativa de catadores. A média de geração diária de resíduos
perigosos (infectantes e químicos) é de 16,8kg (3,6%), os quais seguem para tratamento
e eliminação da periculosidade[tm9] (Figura 4). [AMMM10]
Entretanto, ainda existe grande potencial de se aumentar a parcela de recicláveis
(18,0%), com intensificação da conscientização da comunidade e implantação de novos
programas e campanhas de coleta. É também esperado que a parcela de orgânicos que
tem alimentado a composteira (2,2%) aumente com a futura ampliação do projeto que
tem como objetivo abranger a totalidade dos resíduos orggânicos resultantes dos dois
restaurantes em funcionamento no local.[tm11]

138
Figura 4 - Quantificação dos resíduos gerados, maio de 2018[tm12]
Fonte: Plano de Gerenciamento de Resíduos da FSP
[AMMM13] Além dos materiais recicláveis que seguem o fluxo cotidiano, de março
de 2010 a junho de 2018, durante 18 campanhas de coleta diversificada (Figura 5), 15
toneladas de papeis sigilosos foram arrecadadas e fragmentadas, seguindo diretamente
para indústria recicladora, sem risco de quebra de sigilo das informações contidas no
papel descartado e preservando-se a qualidade nobre do papel ao se evitar a mistura com
outros tipos de recicláveis[tm14].

[AMMM15]

Figura 5 - Material sigiloso coletado na campanha de 2017

Participação na inclusão social


Os materiais passíveis de reciclagem são encaminhados à Cooperativa de Catadores
COOPERE (Figura 6), onde são triados e comercializados, contribuindo com a inclusão
social e geração de emprego e renda para os cooperados. Palestras para capacitação desses
trabalhadores foram realizadas por alunos da FSP, em dezembro de 2014 e fevereiro de
2015, com o propósito de contribuir com a cooperativa.

139
Figura 6 - Triagem de recicláveis por catadores na Coopere

Medidas de redução do impacto ambiental


Levantamento realizado em 2018, para atualização do Plano de Gerenciamento de
Resíduos da FSP[AMMM16], detectou a presença de 4 frascos, 75 termômetros e 4
esfigmomanômetros, contendo mercúrio[tm17]. Visando à redução de riscos ambientais
e para se adequar à legislação vigente para banimento do mercúrio em instituições do
território nacional, medidas para a substituição por instrumentos digitais e eliminação
total do mercúrio passaram a ser consideradas prioritárias e estão em andamento na FSP.
As lâmpadas fluorescentes largamente empregadas na unidade estão sendo
substituídas por lâmpadas de LED (Light-Emitting Diode), sem mercúrio em sua
composição, o que ainda pode ser a melhor escolha em relação à qualidade da luz,
consumo de energia e menor impacto ambiental. As lâmpadas fluorescentes continuam a
ser enviadas para tratamento para evitar a emissão de vapor de mercúrio no ambiente e
para reaproveitamento do vidro.
Pilhas, baterias e celulares contêm substâncias perigosas que representam riscos à
saúde e ao ambiente. Apesar de atuar em nível local, a FSP tenta organizar estratégias de
coleta desses resíduos ao disponibilizar coletores em suas dependências para incentivar a
coleta e recuperação desse tipo de resíduo. Segundo monitoramento do setor
administrativo, a FSP contribui com a arrecadação de cerca de 100 kg/ano [tm18]desses
materiais, os quais são destinados a empresas especializadas em tratamento e recuperação
de metais,[AMMM19]
Equipamentos de telefonia e informática com defeito, ou que se tornam obsoletos, são
enviados ao Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR/USP) onde
é feita a recuperação ou desmanche e posteriormente são encaminhados para
reaproveitamento. Quando ainda estão em condições de uso são destinados a projetos
sociais de inclusão digital.
Desde 2011, são organizadas campanhas para que a comunidade traga seus Resíduos
de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE) domiciliares, sendo estes doados para uma

140
cooperativa especializada em desmonte desses materiais (Coopermiti) com vistas ao
reaproveitamento dos componentes.
Coleta de cartuchos de tinta e toners de impressora institucionais e particulares
ocorrem de tempos em tempos, conforme a demanda.

Divulgação dos resultados e multiplicação do conhecimento


Desde 2010, na FSP são ministradas palestras no início de cada ano letivo, para
estimular o envolvimento dos alunos ingressantes de graduação (120 alunos/ano) e de
pós-graduação (cerca de 100 alunos/ano) com atividades inerentes ao programa.
Anualmente, são realizados eventos técnico-científicos e atividades conscientizadoras
em celebração do “Dia Mundial do Meio Ambiente” (5 de junho). A programação
envolve palestras relacionadas à saúde ambiental e sustentabilidade, oficinas de
reutilização de materiais recicláveis, feira de artesanato com recicláveis, gincanas e peças
teatrais com temática ambiental, visitas guiadas à composteira, trilha monitorada pelos
jardins da FSP, oficina de reaproveitamento integral de alimentos (Figura 7), distribuição
de amostras do composto orgânico produzido na faculdade e de livretos de receitas para
aproveitamento de cascas e sobras de alimentos.

Figura 7 - Oficina “Comer sustentável”, evento da Semana do Meio Ambiente de 2017


Todas as ações e atividades voltadas para a sustentabilidade na FSP são resumidas em
relatórios anuais publicados no site da faculdade. Esses relatórios apresentam fotos,
indicadores e os principais resultados alcançados ao longo do tempo, além de chamarem
a atenção da comunidade para questões que poderiam ser melhor exploradas, o que induz
a uma reflexão sobre a temática e suas possiblidades de aprimoramento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além de trazer melhorias das condições sanitárias, de segurança e socioambientais, o
programa de sustentabilidade implantado na FSP, voltado mais especificamente para a
questão dos resíduos sólidos, tem trazido também economia de recursos, por exemplo, ao
evitar que grande parte de resíduos comuns seja enviada para tratamento desnecessário
ou para disposição final em aterros reduzindo o custo de gerenciamento.

141
A avaliação contínua das ações implementadas e a divulgação dos resultados com base
em indicadores, que são periodicamente introduzidos no sistema, tem proporcionado
integração dos setores envolvidos, credibilidade ao programa e legitimam sua existência
e aprimoramento, evitando retrocessos.
Apesar das dificuldades, como a falta de recursos econômicos e humanos para
implementar alguns projetos, os resultados alcançados até agora são amplos,
principalmente em termos de conscientização da comunidade e de benefícios para a
preservação ambiental, considerados fundamentais para a sustentabilidade.
Para o futuro, a expectativa é de ampliação do projeto da composteira e incorporação
de uma visão mais sistêmica das ações, envolvendo atividades em outras áreas, como o
Programa do Uso Racional de Energia (PURE) e o Programa do Uso Racional da Água
(PURA). Os primeiros passos nesse sentido foram a distribuição de orientações de
combate ao desperdício e economia de água e energia, instalação de redutores de fluxo
em torneiras e válvulas e de um sistema de coleta e aproveitamento de água de chuva.
Desde 2015, a partir de um projeto de reuso apoiado pela Superintendência de Gestão
Ambiental da USP, a água da chuva [AMMM20]captada do telhado passa por tratamento
simplificado e é conduzida a um reservatório subterrâneo pré-existente de onde pode ser
disponibilizada para alimentar o espelho d’água, lavagem do pátio e irrigação,
possibilitando redução do consumo de cerca de 900 m³ de água/ano.[tm21]
As ações implantadas na FSP têm despertado interesse externo e mostrado grande
potencial de replicabilidade em outras instituições de ensino, assim como em outros
órgãos da administração pública. Dessa forma, alcança-se o efeito esperado de uma
unidade de ensino e pesquisa, no papel de geradora de conhecimento aplicável a
realidades semelhantes, o que vem contribuir com a redução de danos e com uma
sociedade mais sustentável.
Todas as imagens são de autoria das autoras.

REFERÊNCIAS
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Journal of Cleaner Production, Volume 10, pp. 215–223.
[2] IARU - The International Alliance of Research Universities, 2014. Green Guide for
Universities. Sustainia and IARU.
[3] Leal Filho, W.; Shiel, C., Paço, A., 2016. Implementing and operationalising
integrative approaches to sustainability in higher education: the role of project-
oriented learning”. Journal of Cleaner Production, Volume 133, pp. 126 -135.
[4] Rooney, M., Mc Millin, J., 2010. The Campus as a Classroom: Integrating People,
Place, and Performance for Communicating Climate Change”. In: FILHO, W.L. Filho

142
(ed.). Universities and Climate Change, 117 DOI 10.1007/978-3-642-10751-1_10, #
Springer-Verlag Berlin, 2010.
[5] Lozano, R., 2011. The state of sustainability reporting in universities. International
Journal of Sustainability in Higher Education, Volume 12, Number 1, pp. 67-78.
[6] Sharp, L., 2009. Higher education: the quest for the sustainable campus.
Sustainability: Science, Practice, & Policy, Volume 5, Number 1, pp. 1-8.
[7] Tauchen, J., Brandli,L.L., 2006. A gestão ambiental em instituições de ensino
superior: modelo para implantação em campus universitário. Gestão & Produção,
Volume13, Number 3, p. 503-515.
[8] Ifegbesan, A.P., Ogunyemi, B., Rampedi,I.T., 2017. Students’ attitudes to solid waste
management in a Nigerian university: Implications for campus-based sustainability
education. International Journal of Sustainability in Higher Education, Volume 18,
Number 7, pp. 1244-1262.
[9] Kumar, V., Beel, D., Shirodkar, P., Tumkor, S., Bettig, B., Sutherland, J., 2005.
Towards sustainable ‘product and material flow’ cycles: identifying barriers to
achieving product multi-use and zero waste, ASME International Mechanical
Engineering Congress and Exposition, Orlando, FL: November 5-11, pp. 1-10.
[10] Brasil. Presidência da República. 2010. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui
a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de
1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2 de agosto de
2010.
[11] Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 10 dez. 2004.
[12] Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 222, de 28 de março
de 2018. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, D. F, 29 mar.
2018.
[13] Conama - Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 358, de
29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos de
serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, D.F, 4
maio 2005.
[14] Deming, W.E. (1990). Qualidade: a revolução da administração. Rio de Janeiro:
Marques Saraiva.

143
Capítulo 09

Centro de Valorização de
Resíduos Orgânicos no Campus
Leste da Universidade de São
Paulo como instrumento de
educação ambiental e de
construção de um
campus sustentável

Gabriel Pires de Araújo


Fernanda de Marco de Souza
Joyce Meneses da Silva Jaeger
Ednilson Viana

144
Gabriel Pires de Araújo
Bacharel em Gestão Ambiental pela Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP),
atualmente é Mestrando do Programa de Ciência Ambiental do
Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo
(IEE-USP) e participa do Grupo de Estudos Urbanos Ambientais
(GEURBAM) e do Grupo de Pesquisa Cidade, Sustentabilidade
e Gestão Ambiental (CIDSGAM), ambos da USP. Realizou
pesquisa de Iniciação Científica na graduação sobre a
importância da gestão sustentável de resíduos orgânicos e
contribuiu na elaboração do Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos do Campus USP Área Capital Leste, de 2017.
E-mail: [email protected]

Fernanda de Marco de Souza


Graduanda em bacharelado em Gestão Ambiental pela Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo
(EACH-USP). Realizou pesquisa científica pelo Programa
Unificado de Bolsas da USP para o desenvolvimento de um
biodigestor residencial urbano e contribuiu com o planejamento
e construção do Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos
(CVRO) da USP-Leste. Atualmente, é pesquisadora de Iniciação
Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP), com um projeto que visa analisar o
digerido produzido em uma usina de biometano.
E-mail: [email protected]

145
Joyce Meneses da Silva Jaeger
Graduanda em bacharelado em Gestão Ambiental pela Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo
(EACH-USP). Contribuiu com o planejamento e construção do
Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos (CVRO) da USP-
Leste. É pesquisadora de Iniciação Científica pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com um
projeto que visa analisar a produção de biogás de uma usina
móvel de biometano.
E-mail: [email protected]

Ednilson Viana
Formado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Unesp
de S. J. Rio Preto, Mestre em Ciências pela USP São Carlos,
Doutor em Hidráulica e Saneamento pela EESC, pós doutor
pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal) e University of
Wisconsin (Estados Unidos). Atualmente é Livre docente na
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de
São Paulo (EACH-USP) e professor no curso de Bacharelado
em Gestão Ambiental, da mesma universidade. Desenvolve
trabalhos em Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos, onde se
destaca a linha de valorização de resíduos orgânicos com foco
na biometanização e compostagem. E-mail: [email protected]

146
INTRODUÇÃO
A hierarquia dos resíduos, presente no art. 7°, inciso II da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, estabelece que após a ordem de prioridade: não geração, redução,
reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, apenas os rejeitos (resíduos
que não possuem possibilidades de receber tratamento e recuperação), devem ser
submetidos a disposição final ambientalmente adequada [1]. Desta maneira, o
aterramento e a disposição inadequada de resíduos orgânicos devem ser evitados,
estimulando-se a segregação dos mesmos na fonte geradora, com a sua posterior
valorização por meio de tecnologias já existentes.
Com esta concepção, o Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos (CVRO),
localizado no Campus USP Área Capital Leste (USP-LESTE), busca ser um espaço
que apresenta tecnologias e procedimentos para a valorização da fração orgânica dos
resíduos sólidos urbanos (FORSU), contribuindo para a disseminação do
aproveitamento dos resíduos orgânicos, seja no contexto de campi universitários, seja
no âmbito de domicílios urbanos.
O presente capítulo busca apresentar o CVRO como um instrumento de promoção
da educação ambiental e de construção de um campus sustentável, uma vez que se
pretende valorizar os resíduos orgânicos produzidos no campus, diminuindo desta
forma os potenciais impactos ambientais gerados pelas atividades exercidas no
ambiente universitário. Para tal, este documento é dividido em três seções.
Na primeira parte da fundamentação teórica, apresenta-se a importância da gestão e
valorização dos resíduos orgânicos, destacando-se os gerados em ambientes urbanos.
A valorização da FORSU permite ganhos ambientais e econômicos, como o combate à
problemas de saúde pública e às mudanças climáticas, o aumento da vida útil dos
aterros sanitários, geração de subprodutos úteis (biogás, digerido, etc.), dentre outros.
O papel da gestão de resíduos orgânicos para o alcance da sustentabilidade no
contexto mais específico de um campus universitário é tratado na segunda parte da
fundamentação teórica, onde buscou-se tratar da responsabilidade inerente às
universidades na busca por um desenvolvimento caracterizado pela sustentabilidade
para a sociedade como um todo, seja na geração de conhecimento que contribua para
que trilhemos o caminho do desenvolvimento sustentável, seja por meio de ações que
diminuam os impactos de suas atividades, incluindo no rol deste a geração de resíduos
orgânicos decorrente do consumo dos estudantes, funcionários, visitantes, etc. na
universidade.
Por fim, na terceira sessão, aborda-se mais especificamente o CVRO da USP-
LESTE, projeto cujo intuito é apresentar e utilizar ferramentas e tecnologias que
permitam a valorização de resíduos orgânicos, contribuindo para a construção da
sustentabilidade no campus por meio de vantagens ambientais, econômicas e
pedagógicas, permeando-se também por preceitos da educação ambiental.

147
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A gestão de resíduos sólidos dentro da universidade se insere como uma das práticas
elementares para o alcance de um campus mais sustentável. Dentre as categorias de
resíduos, a fração orgânica ganha destaque devido seu elevado potencial de recuperação
e tratamento, que ainda é subaproveitado, e pelo fato de ser responsável por mais de
50% da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos do Brasil. Diante disso,
faz-se necessário um reconhecimento da importância da gestão de resíduos orgânicos
e seu papel para a sustentabilidade no campus, abordado na seguinte fundamentação
teórica.

A importância da gestão de resíduos orgânicos


A FORSU corresponde a cerca de 50% do total dos resíduos sólidos urbanos gerados
e coletados em todo o país [2]. Esta composição gravimétrica característica de países
emergentes como o Brasil [3], indica que esta fração deve ter uma atenção especial nos
planos de gerenciamento e gestão de resíduos sólidos urbanos propostos no país.
De maneira geral, o modelo de gestão de resíduos predominante no Brasil é o de
aterramento [4]. No caso dos resíduos orgânicos, tanto o aterramento quanto a
disposição inadequada em lixões causam impactos ambientais significativos (ainda que
neste segundo caso, os impactos sejam muito maiores e mais diversificados). Dentre os
impactos ao ambiente e à saúde humana, pode-se citar: emissão de metano (um dos
gases responsáveis pelo aumento do efeito estufa e consequentemente do processo de
mudanças climáticas) [5]; potencialização na proliferação de vetores de doenças [6] e
a formação de lixiviados que podem vir a contaminar o solo [7] e águas subterrâneas
[8].
Desta forma, a inserção da gestão dos resíduos orgânicos como parte primordial da
gestão dos resíduos sólidos contribui no combate a estes problemas, uma vez que a
valorização dos resíduos orgânicos diminui a quantidade de resíduos enviados para
aterros sanitários, resíduos estes que podem vir a emitir metano no processo de
degradação [5] e gerar lixiviados [8], além de evitar a proliferação de insetos e ratos
vetores de doenças por meio da segregação e valorização na fonte geradora.
Além disso, a fração orgânica dos resíduos é tida como matéria-prima para a geração
de subprodutos úteis (obtidos através da conversão da matéria orgânica em compostos
mais simples), que podem gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais, como: o
biogás (com potencial energético), o digerido e o composto (que podem ser utilizados
como adubos orgânicos e apresentar vantagens socioambientais frente aos adubos
químicos), dentre outros, que possuem grande importância na construção de uma
sociedade mais sustentável.

148
O papel da gestão de resíduos orgânicos para a sustentabilidade no
contexto de um campus universitário
Em um contexto de crise socioambiental decorrente de uma relação predatória entre
a espécie humana e o planeta [9], são necessárias ações de caráter corretivo e preventivo
mais intensivas, que tenham como objetivo reverter a situação socioambiental em que
nos encontramos [10]. Para que estas ações ocorram de fato e sejam efetivas, o
desenvolvimento de uma consciência coletiva ecológica é primordial. A educação é um
dos passos mais importantes para o alcance desta consciência coletiva, sendo as
universidades capazes também de atuar por meio da inovação e do desenvolvimento
tecnológico na construção desta cultura, permitindo a preparação e qualificação dos
estudantes formados por meio da prática com modelos e ferramentas que forneçam
exemplos de gestão sustentável, fazendo com que estes incluam a problemática
ambiental em suas práticas profissionais [11].
A importância do papel das universidades na busca pelo desenvolvimento
sustentável, assim como o comprometimento das mesmas para com este
desenvolvimento, passou a ser mais relevante e incisiva a partir do momento em que as
universidades passaram a ser reconhecidas como geradoras de impactos ambientais,
como os decorrentes da geração de resíduos sólidos, geração de efluentes líquidos, o
consumo de recursos naturais, dentre outros impactos, que possuem como característica
o fato de transcenderem a área onde o campus está inserido, uma vez que as
universidades são consideradas sistemas abertos com entrada e saída de matéria e
energia [11,12], podendo ser encaradas como “pequenas cidades” [13].
Diante disso, os campi universitários podem atuar de diversas maneiras a fim de
contribuir para o alcance da sustentabilidade no ensino superior, uma vez que, o amplo
conceito de “sustentabilidade” permite múltiplas leituras. Tendo em vista que ele ainda
está em evolução, à medida que é testado em diferentes contextos, o conceito reflete as
diferenças culturais, regionais, econômicas e política de cada universidade [14, 15, 16].
Estas atuações podem ser direcionadas a fim de reduzir a pegada ecológica da
universidade e melhorar seu desempenho em relação ao consumo, geração de resíduos
e emissões, assim como refletir o papel da instituição e suas contribuições para a
sustentabilidade, através da educação e da pesquisa, com o foco em mudanças
operacionais e de iniciativas curriculares nos cursos e nas pesquisas, respectivamente
[16, 17]. Neste último quesito, vale ressaltar que as universidades transformam
realidades individuais e coletivas por meio da construção de pensamentos e na
formação sociocultural, política e cidadã, sendo então um importante indutor do
desenvolvimento sustentável através da potencialização e difusão de reflexões
referentes à questão socioambiental [18], gerando também ações práticas que se
direcionam a resolução das problemáticas que permeiam esta questão.
Deste modo, ainda que com limitações, as universidades têm apresentado medidas
relacionadas à gestão ambiental no contexto de campi, medidas essas que são

149
sistematizadas pela atuação de redes como a International Sustainable Campus
Network (ISCN) [19] e a Alianza de Redes Iberoamericana de Universidades por la
Sustentabilidad y el Medio Ambiente [20]. Também há mobilizações como a
Environmental Management for Sustainable Universities (EMSU); o Encontro Latino-
Americano das Universidades Sustentáveis (ELAUS); e o Simpósio A Universidade
frente aos Desafios da Sustentabilidade: Educação para a Sustentabilidade [21]. Além
disso, através da categorização das práticas desenvolvidas nos campi, têm-se os
sistemas de ranqueamento entre universidades que buscam promover o
compartilhamento das medidas adotadas e seus resultados em relação às práticas em
direção à sustentabilidade, como o Sustainability, Tracking, Assessment and Rating
System (STARS) e o próprio GreenMetric World University Ranking, - que foi moldado
e formulado através da incorporação de diferentes instrumentos e sistemas de avaliação
ambiental de ordem global, com diretrizes e categorias que podem ser aplicadas sob
diferentes contextos de desenvolvimento e de condições locais [22], sintetizando assim
as principais ações norteadoras para a construção de um campus sustentável.
Considerando a já citada relação entre os impactos ambientais das atividades
realizadas nas universidades e a busca global pela sustentabilidade, a atuação das
universidades vai além das ações práticas em sua operação, englobando também: o
ensino; a pesquisa; o envolvimento com a comunidade; e a governança sustentável [19],
indicando a importância da visão abrangente na proposição de projetos em prol de um
campus sustentável.
Inserido neste contexto, a gestão dos resíduos sólidos é tida como fundamental e um
elemento crítico para o alcance da sustentabilidade no campus [23], tendo em vista que
as universidades são responsáveis pela produção diária de elevadas quantidades de
resíduos sólidos [24]. No escopo do presente capítulo, concentra-se mais
especificamente a problemática da geração e disposição dos resíduos sólidos orgânicos,
visto que, apenas uma pequena parcela desta categoria é reciclada no Brasil (4%) [25],
predominando a disposição no solo (94%) [26]; cenário que em face da necessidade de
um futuro sustentável, exige mudanças.
As universidades são indutoras de transformações em prol do melhor gerenciamento
das questões socioambientais nos campi, e promotoras de comportamentos e valores
para a construção de interações mais justas entre sociedade e natureza [27]. Devido a
isto, atualmente alguns campi universitários têm buscado alternativas para a correta
gestão e valorização de resíduos orgânicos, contribuindo assim para o início de um
processo de mudança em relação à forma como se encara a fração orgânica, que pode
se expandir e alterar o atual quadro de elevada disposição final, onde a redução,
reutilização e reciclagem não são colocadas em prática.
Dentro deste contexto, destacam-se algumas iniciativas em campi universitários que
possuem medidas semelhantes ao que se deseja com o CVRO na USP-Leste. A primeira
delas diz respeito ao projeto de compostagem termofílica realizado na Universidade

150
Federal de Santa Catarina, que começou em 1995 e em 2011 já tratava cerca de 60
toneladas de resíduos orgânicos por mês, através de um convênio com bares e
restaurantes próximos à universidade [20]. A magnitude do projeto demonstra que a
implementação de sistemas de tratamento de resíduos orgânicos nas universidades é
promissora, inclusive no que diz respeito à possibilidade que tais sistemas possam ser
utilizados para a reciclagem de resíduos externos à universidade, contribuindo para uma
expansão da mitigação dos impactos negativos gerados pela disposição inadequada da
FORSU.
A segunda iniciativa destacada é a do Centro de Demonstração de Compostagem da
Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, criado em
1996. Implementado inicialmente com o intuito de sensibilização da comunidade
estudantil, este centro possuía programas para visitação de grupos de diversas faixas
etárias, realização de seminários e cursos práticos, publicação de material para o
público interessado e outras iniciativas. No Centro, os visitantes observavam os
processos de compostagem e vermicompostagem e os métodos para reciclar os resíduos
orgânicos domésticos [28]. Esta última iniciativa muito se assemelha ao que se pretende
com o CVRO, no qual adiciona-se dentre as medidas de valorização dos resíduos, a
digestão anaeróbia dos resíduos.
Outras iniciativas mais atuais estão sendo desenvolvidas em instituições de ensino
superior do Brasil, localizados na Região Metropolitana de São Paulo (Faculdade de
Saúde Pública - USP) e em Vitória, Espírito Santo (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Espírito Santo). Na Faculdade de Saúde Pública, iniciou-se
em 2009 um projeto piloto de compostagem simplificado localizado dentro das
dependências do campus, onde a operação, a manutenção e o monitoramento é
realizado por diferentes grupos de voluntários, gerando-se também estudos e análises
referentes a este sistema de compostagem. Já o Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Espírito Santo adotou um sistema de compostagem inspirado no
exemplo da Faculdade de Saúde Pública no ano de 2013. Seu sistema busca envolver
toda a comunidade universitária na valorização dos resíduos orgânicos por meio da
entrega semanal dos resíduos orgânicos para valorização [29].
Outro exemplo importante é o digestor anaeróbico da Universidade do Estado de
Michigan, nos Estados Unidos. Construído em 2013, consome cerca de 22.000
toneladas métricas de resíduos orgânicos, formado predominantemente por resíduo
orgânico do sistema de restaurantes e cantinas da Universidade e de excrementos
animais da fazenda da universidade, gerando biogás e digerido, produzindo
constantemente de 300 a 500 kW. Esse sistema de digestão anaeróbica serve também
para aulas práticas ao ar livre para alunos de graduação e de pós-graduação, sendo
realizados projetos de pesquisa e teses sobre este digestor [30].
Portanto, decorrente do papel e responsabilidade da universidade para com os
impactos ambientais gerados dentro do campus, assim como para com a promoção da
sustentabilidade - através da produção de conhecimento e conscientização individual e

151
coletiva -, aliada à importância de uma gestão adequada dos resíduos sólidos orgânicos,
o CVRO apresenta-se como um instrumento relevante para o estímulo de práticas
sustentáveis na USP-Leste.

O CENTRO DE VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DA


USP-LESTE: CONSTRUINDO A SUSTENTABILIDADE POR MEIO
DA VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS E DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos pretende ser um espaço onde


práticas e técnicas para a recuperação da FORSU sejam aplicadas e difundidas,
abrangendo atividades nas áreas de digestão anaeróbia, compostagem,
vermicompostagem e cultivo de cogumelos. Para tal, o CVRO será abastecido pelos
resíduos orgânicos gerados no campus, trazendo um conceito novo de sustentabilidade
para a Universidade de São de Paulo e a região Leste da capital paulista, atuando na
valorização dos resíduos provenientes das duas maiores fontes geradoras do campus:
os resíduos orgânicos do restaurante universitário e a poda da vegetação.
Atualmente, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), da Superintendência de Gestão Ambiental da USP (SGA-USP) e de
parcerias com a University of Wisconsin - Oshkosh, o CVRO está sofrendo alterações
estruturais a fim de possibilitar o atendimento das atividades de valorização propostas.
Tem-se já instalado um laboratório em contêiner para testes e análises relacionadas à
digestão anaeróbia em reatores de bancada que compõe uma das etapas para a
implementação de uma Usina Móvel de Biometano, relacionado à dois projetos de
Iniciação Científica e um projeto de Auxílio Regular, bolsistas FAPESP, relativos aos
autores deste artigo.
Além deste, também é possível visualizar no CVRO um sistema de compostagem
de aparas de grama, no qual se tem o direcionamento de parte da poda realizada no
campus. No mais, ressalta-se a valorização de resíduos que está sendo realizada através
de um minhocário, compostagem em composteira de forma elétrica (com o objetivo de
reduzir o tempo necessário para a estabilização dos resíduos), e um bidigestor em
bombona de mil litros (que está ligado A um fogão de duas bocas para geração de
chama, ilustrando as potencialidades do biogás). É importante destacar que no
momento, pelo projeto se encontrar no início, os resíduos ainda não são aqueles
advindos do restaurante universitário, mas sim, de contribuições individuais dos alunos
do campus, e que tais métodos de valorização já estão servindo como ferramenta de
educação ambiental para aqueles que visitam o CVRO e para os alunos de Gestão
Ambiental (USP), que possuem aulas práticas no espaço, no decorrer da disciplina de
“Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos”, ministrado semestralmente pelo professor
Ednilson Viana.
O CVRO tem como objetivos norteadores o aproveitamento da matéria-prima que
está sendo desperdiçada pelo campus e sua transformação em benefícios econômicos,

152
ambientais e sociais; além de contribuir para uma mudança no comportamento da
comunidade acadêmica e da população do entorno no que concerne à visualização dos
resíduos orgânicos não meramente como resíduos que serão descartados, mas como
fonte de geração de benefícios, que podem ser aproveitados em seu próprio domicílio
e que surtem efeitos positivos para a sociedade e o meio ambiente como um todo.

Práticas a serem realizadas no Centro de Valorização de Resíduos


Orgânicos
Nesta parte da seção, serão apresentadas as principais práticas que serão realizadas
no CVRO com o intuito de valorizar os resíduos orgânicos do campus e incrementar o
caráter de sustentabilidade do mesmo.

a) Digestão anaeróbia
Dentre os métodos de valorização existentes destaca-se a digestão anaeróbia (DA),
por utilizar compartimentos fechados, exigir pouco espaço para os equipamentos, ter
facilidade de manutenção, e gerar subprodutos úteis como o biogás e o digerido [31].
A DA por sua vez é um processo de degradação microbiológico da matéria orgânica
na ausência de oxigênio, onde diversas comunidades microbianas interagem, gerando
como produto final gases (metano, gás carbônico, gás sulfídrico e água sob a forma de
vapor) e matéria orgânica digerida [31].
Esse processo se dá por meio do encadeamento de reações químicas
interdependentes, divididas em hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese
[32]. Por estas vias, os compostos orgânicos complexos são convertidos em substâncias
estáveis, mais simples, como os ácidos voláteis, os quais são transformados em ácidos
orgânicos, gás carbônico e hidrogênio e estes, por fim, em produtos finais gasosos
como o metano e o gás carbônico [33, 34, 35].
Dentre os gases gerados na DA, o metano é produzido em maior quantidade (60-
70%), seguido do gás carbônico (30-40%) [36, 37]. O metano, após purificação, pode
ser utilizado para diversas finalidades como gás de cozinha ou mesmo a geração de
calor e energia elétrica [35, 38]. Já o digerido produzido na DA pode ser utilizado
como adubo orgânico na agricultura, substituindo os adubos químicos, que por vezes
causam prejuízos à saúde humana e ao equilíbrio ecossistêmico. Vale ressaltar, que
cada tonelada de substrato utilizado na DA produz cerca de 80 a 130 m3 de biogás e
423 kg de digerido [31].
Diante de tais qualidades, a DA se torna uma prática de futuro, tendo em vista a
geração crescente de resíduos e a preocupação pela utilização de fontes alternativas de
energia em substituição aos combustíveis fósseis. Somado ao fato que, no Brasil, pouca
ou quase nenhuma iniciativa de digestão anaeróbia tem sido verificada [25], é
necessário que se tenham projetos voltados para tal tratamento biológico, a fim de

153
contribuir para a geração de informações quanto à qualidade dos produtos produzidos
e as dificuldades relacionadas à implementação dos sistemas em diversas escalas.
Neste contexto, se insere a construção da Usina Móvel de Biometano, que está sendo
implementada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP) e
será uma das atividades que farão parte do CVRO. O projeto da Usina Móvel é dividido
em três etapas de funcionamento: escala de bancada, escala piloto e reator de biometano
em contêiner móvel.
Atualmente, está sendo desenvolvida a primeira etapa do projeto, junto a um
laboratório em contêiner, que está acoplado ao CVRO - permitindo que, futuramente,
o público que visitar o Centro de Valorização também tenha acesso às pesquisas em
realização no laboratório -, conforme é possível visualizar na Figura 1.

Figura 1. Laboratório de digestão anaeróbia acoplado ao CVRO.


Fonte: Fernanda de Marco de Souza, 01/07/2019.

Nesta primeira etapa, a digestão anaeróbia se dá em reatores de 1 L, em conjunto


com uma estrutura de tubos eudiômetros que permitem verificar a quantidade de biogás
gerado. Após um ciclo de 21 a 28 dias, tem-se a finalização da decomposição da fração
orgânica biodegradável por meio da ação das bactérias anaeróbias e com isso, é possível
obter os primeiros resultados. O digerido e o biogás gerados no processo são avaliados.
O digerido é avaliado através de análises físico-químicas como pH, umidade, sólidos
voláteis, sólidos totais, sólidos fixos, temperatura, relação Carbono-Nitrogênio (C/N),
metais pesados, macronutrientes e patogênicos. Já o biogás passa por uma avaliação
em relação à sua composição e qualidade, a fim de uma utilização futura como fonte
energética. A segunda etapa, se dá com a utilização de reatores pilotos de 5 L no lugar
dos reatores de 1L, e com ela, seguem-se os mesmos procedimentos descritos
anteriormente. Tal etapa já está em andamento, com a finalização da adaptação do
sistema de aquecimento dos reatores, para que os testes possam ser iniciados. Por fim,
a terceira etapa em contêiner está prevista para ocorrer no ano de 2019, onde buscar-
se-á avaliar a viabilidade de um reator móvel e a qualidade dos produtos gerados.

154
Os resultados deste estudo poderão nortear não só medidas efetivas de desvio de
matéria-prima dos métodos de disposição no solo, como favorecer a elaboração de
políticas públicas na área e novos caminhos para a sustentabilidade da gestão de
resíduos sólidos no espaço urbano, e principalmente, em universidades.
No contexto específico de campus universitário, os resíduos orgânicos gerados no
restaurante universitário passarão a ser valorizados por meio da Usina Móvel de
Biometano. O biogás gerado apresenta grande potencial de uso, e pode ser destinado
ao aquecimento dos chuveiros do ginásio e/ou para a produção das refeições do
restaurante universitário, fornecidas pela empresa responsável.
A Usina de Biometano pode ter sua geração voltada à transformação do biogás em
energia elétrica, por meio de geradores. Esse potencial será explorado futuramente e
trará ao campus Leste uma maior autossuficiência no setor energético, sendo uma das
possibilidades de utilização do biogás.
O restaurante universitário do campus gera em torno de 250 kg de resíduos orgânicos
ao dia [39], que atualmente são destinados a aterros sanitários. A partir da finalização
da instalação da Usina Móvel, estes resíduos passarão a servir de matéria-prima para
abastecimento energético do campus.
O modelo de Usina instalado em um contêiner traz consigo o conceito de
mobilidade, sendo considerado como uma forma inovadora de destinação para resíduos
orgânicos por meio da sua valorização próxima a fonte geradora, e, além disso, possui
potencial para atender a populações afastadas, em comunidades tradicionais ou zonas
rurais, por exemplo. Esse tipo de abordagem ainda justifica-se diante do trânsito intenso
nas grandes cidades (que é acentuado pelo transporte dos resíduos até a destinação no
solo) e a ausência de espaços amplos no contexto urbano para implantação de
tecnologias em grande escala, assim como as dificuldades em vigorar tais tecnologias.

b) Compostagem e vermicompostagem
A compostagem é um processo de tratamento biológico da matéria orgânica que
ocorre de forma aeróbia, no qual tem-se a transformação de materiais orgânicos em
adubos orgânicos utilizáveis na agricultura. Na compostagem, os microrganismos
utilizam a fração orgânica como fonte de energia, gerando a mineralização (conversão
da matéria em gás carbônico, água e sais inorgânicos) e humificação do material. Por
sua vez, a vermicompostagem é o processo de estabilização da matéria orgânica através
da ação de minhocas e os microrganismos presentes no seu trato digestivo [40].
A partir disso, busca-se a implementação de um minhocário no CVRO, com fins
didáticos e práticos na vermicompostagem. Outro sistema em estudo no CVRO é a
compostagem em cesto telado com a poda de grama do campus, pois considerando que
o terreno da USP-Leste possui 43.842,90 m2 de área construída em um total de
1.240.578,00 m2 [41], onde, deste total, grande parte é coberta por vegetação - que

155
necessita de constante manutenção -. A poda da grama decorrente desta manutenção
passará a ser utilizada como matéria-prima em um processo de compostagem.
Quando enviada para aterros sanitários, a poda é uma despesa financeira e também
um desperdício de matéria-prima. Com a implementação do sistema, a poda passa a ser
compostada in loco. O processo consiste em usar as podas do gramado da USP-Leste
como matéria-prima, e após testes para determinar as condições de funcionamento
ótimo, as composteiras serão instaladas em outras áreas do campus, externas ao CVRO.
Uma das vantagens é o fato de que a compostagem pode ocorrer próxima da zona
geradora e os cestos telados apresentam uma estrutura de baixo custo, com potencial
para ser replicado em outras unidades da USP. Outro benefício a se considerar é que o
processo in loco extingue a necessidade de coleta e transporte do resíduo para locais
distantes, bem como traz a possibilidade de usar o material gerado como adubo na
própria região. Se bem sucedido, pode servir de estímulo para diversas ações nesse
sentido.
A compostagem realizada no CVRO também servirá para o tratamento do digerido
gerado na digestão anaeróbia, anteriormente descrita, com fins de estabilizar os
componentes orgânicos e eliminar os possíveis patógenos presentes no produto da DA.

Benefícios ambientais, econômicos e pedagógicos do Centro de


Valorização de Resíduos Orgânicos
Como exposto, o CVRO pode proporcionar benefícios nas áreas econômica,
ambiental e pedagógica. Em relação aos aspectos econômicos, de acordo com uma
pesquisa realizada por Bueno et al. [39], a geração mensal de resíduos orgânicos no
restaurante universitário da EACH-USP é de cerca de 11,2 toneladas/mês no ano de
2015. Para a coleta, transporte e disposição destes resíduos em aterro sanitário, existe
um custo médio que gira em torno de 280 reais por tonelada, o que indica o gasto de
mais de 3 mil reais por mês para aterrar um resíduo com potencial de aproveitamento.
Com a Usina de Biometano, a tendência é de que estes tipos de custos sejam, em um
cenário ótimo, zerados, e assim sendo, a universidade estará um passo mais próximo
da sustentabilidade, inclusive no que tange ao aspecto econômico. Além disso, com a
geração de energia elétrica, é possível que se tenha mais uma redução nos gastos
internos do campus.
Com relação aos aspectos ambientais, a disposição de resíduos orgânicos em aterros
sanitários tem como efeito ambiental adverso a geração de lixiviados que podem
contaminar o solo e a emissão de gases de efeito estufa, tanto no processo de transporte
dos resíduos para o aterro, quanto por parte do próprio resíduo aterrado, que emite
principalmente o gás metano. A valorização deste resíduo tem como principal benefício
ambiental o fato de evitar a emissão desses gases para a atmosfera, diminuindo dessa
forma a contribuição da universidade com o aquecimento global. A geração de energia
elétrica e de compostos com potencial biofertilizante também trazem benefícios
ambientais importantes, uma vez que permite a geração de energia por uma fonte

156
renovável e diminui a utilização de fertilizantes sintéticos.
Por fim, o Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos é um aliado à educação
ambiental uma vez que o espaço tem capacidade de servir como centro de referência e
instrução a novas práticas para lidar com o resíduos em uma sociedade em que o
descarte irregular dos mesmos tem criado diversos problemas. Somado a isso, a zona
leste é a região mais populosa da capital paulista, e uma das mais carentes, apresentando
uma elevada produção de resíduos, cuja destinação por diversas vezes não é adequada.
Desta maneira, o CVRO, por estar inserido dentro deste contexto, pode ser o início de
iniciativas voltadas a atender essa região, a fim de influenciar políticas públicas e
conduzir a população local a práticas mais sustentáveis.
É importante ressaltar, que dentro de um contexto urbano, a geração de resíduos e o
descarte destes, reflete o estilo de vida e consumo da população. Deste modo, a
educação ambiental pode atuar na conscientização de soluções individuais e coletivas
no gerenciamento dos resíduos sólidos. Além disso, as práticas educativas devem
voltar-se aos impactos ambientais causados pela geração e destinação dos resíduos
[42], e o CVRO será um espaço de promoção de medidas para valorização e
recuperação dos resíduos orgânicos.
Neste cenário, é importante destacar que a educação ambiental é um canal para que
sejam difundidas práticas que garantam novos estilos de vida e desenvolvimento de
uma consciência ética e ambiental - que questione o papel individual e coletivo diante
do atual modelo de desenvolvimento, marcado por um caráter predatório -, e que
possibilitem uma atuação direta na defesa do meio ambiente [43].
Ademais, a EACH-USP tem como característica o fato de apresentar cursos
centrados na interdisciplinaridade e que buscam a construção de uma universidade que
possui como objetivo o desenvolvimento sustentável, inclusive no que diz respeito à
relação da universidade com o entorno [44]. Os cursos de graduação de Bacharelado
em Gestão Ambiental, Biotecnologia e de Licenciatura em Ciências da Natureza serão
beneficiados diretamente no quesito pedagógico, tendo em vista que será oferecido
contato direto com técnicas de gestão sustentável de resíduos orgânicos, geração de
fontes alternativas de energia e utilização de compostos com potencial biofertilizante.
Além disso, existe a possibilidade de oferecimento de cursos de extensão e em outras
modalidades, o que permitirá que toda a comunidade, seja da própria USP ou de pessoas
provenientes da sociedade civil em geral e principalmente do entorno, obtenham
ganhos pedagógicos a fim de mudar a perspectiva e a visão sobre formas de lidar com
os resíduos, mostrando as possibilidades de uso e recuperação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme o exposto neste artigo, as atividades no CVRO irão contribuir com os três
eixos que englobam a universidade: pesquisa, ensino e extensão. O local traz consigo

157
a iniciativa de integrar a população externa à comunidade USP com práticas
sustentáveis que podem gerar benefícios individuais e coletivos. Sua proposta permite
que resultados práticos possam ser aplicados à sociedade, de modo a converter os
conhecimentos gerados dentro da Universidade a contextos também domiciliares.
Além disso, a proposta do CVRO permite ganhos para o campus em si, através da
possibilidade de geração de energia elétrica e biofertilizantes, redução de custos para
transporte e destinação de resíduos orgânicos e atenuação dos impactos ambientais
negativos relativos ao desperdício da FORSU. Adicionado à isso, os cursos de
graduação do campus, que possuem disciplinas relacionadas à temática de resíduos
sólidos e sustentabilidade, terão um novo espaço para desenvolver atividades e
pesquisas, sendo este um local que pode servir como meio para a geração de novas
ideias e medidas que podem beneficiar a sociedade como um todo.
Portanto, o Centro de Valorização de Resíduos Orgânicos contribui para fortalecer
a construção de um campus sustentável, unindo a pesquisa, ensino e extensão. Além
disso, atua na construção de uma consciência ambiental e ética adequada, evitando o
desperdício de recursos financeiros e energia e contribuindo para reduzir a geração de
impactos negativos à saúde humana e ao meio ambiente.

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162
Capítulo 10

Avanços do Campus de
Pirassununga da Universidade de
São Paulo na questão da
Sustentabilidade

Ednelí Soraya Monterrey-Quintero


Arlindo Saran Netto
Flávio Meirelles
Marcelo Machado de L. O. Ribeiro
Maria Estela Gaglianone Moro

163
Ednelí Soraya Monterrey- Quintero
Instituição: Prefeitura do Campus USP Fernando Costa Formação:
Engenharia de Alimentos, Especialista em Formação de Agentes
Locais de Sustentabilidade Sócio-Ambiental Destaques de
Atuação: Gestão ambiental integrada no Campus USP Fernando
Costa, Membro da Comissão do Programa USP Recicla. E-mail
[email protected].

Arlindo Saran Netto


Possui graduação em Zootecnia pela Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos FZEA/USP (2000). Recebeu Láurea
Acadêmica, concedida pela Reitoria da Universidade de São Paulo,
por excelência acadêmica. Possui Mestrado em Ciência dos Alimentos
pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas FCF/USP (2003),
Doutorado em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de
Zootecnia e Engenharia de Alimentos FZEA/USP (2006). Pós
Doutorado na área de valor nutricional do leite e saúde de crianças
(2010). Especialização em Capacitação Docente no Ensino Superior
(2009/2010). Atualmente é professor na FZEA/USP com Livre
Docência realizada em (2013). É assessor da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo e de várias revistas, com ênfase em
Nutrição de Ruminantes e Qualidade de produtos de origem animal
para saúde humana. Possui experiência na área de Bioquímica,
Fisiologia, Nutrição, Qualidade e Produtividade Animal.

164
Marcelo Machado de Luca Oliveira Ribeiro
Possui graduação em Zootecnia pela Universidade de São Paulo
(1984), mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1995) e doutorado em Ciências Sociais pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003). Atualmente é
professor doutor da Universidade de São Paulo. É o Professor
Responsável pelas disciplinas &quot;Sociologia&quot;,
&quot;Sociologia Rural&quot;, &quot;Comunicação e Extensão
Rural&quot; para os cursos de graduação em Zootecnia, Engenharia
de Alimentos e Medicina Veterinária. No Programa de Mestrado
Profissional em Gestão e Inovação na Indústria Animal é responsável
pela disciplina &quot;Análise de Discurso em Gestão do
Agronegócio&quot;. Atuou como Prefeito do Campus de
Pirassununga da Universidade de São Paulo no período de 2006 a
2013. Tem experiência nas áreas de Sociologia e de Gestão Pública,
com ênfase em Relações Técnico/Produtor na Agropecuária
Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: agronegócio
e empreendedorismo, sociologia rural, profissionalização,
comunicação e extensão rural, gestão e políticas públicas.

Maria Estela Gaglianone Moro


Graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias (FCAVJ) da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, Mestre em Genética e Melhoramento Animal
pela FCAVJ da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho, Doutora em Zootecnia pela FCAVJ da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho. Bolsista do Programa Jovem
Pesquisador FAPESP na FMVZ/USP. Pós Doutorado na FMVZ/USP.
Professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos -
FZEA - Universidade de São Paulo. Áreas de atuação Animais
Silvestres, Apicultura, Meio Ambiente.

165
INTRODUÇÃO
Sabe-se que, nas universidades, o uso de eletricidade, combustíveis, água e produtos
químicos são significativos, podendo ser um dos maiores usuários desses insumos na
comunidade ou região onde se encontram inseridas [1]. Os campi universitários, pela
complexidade de suas atividades, enfrentam problemas na área de sustentabilidade
comuns a algumas cidades: descarte de produtos químicos; disposição dos resíduos;
poluição do ar e auditiva gerada pelos veículos que circulam nos campi, etc. No caso
do Campus Fernando Costa da USP em Pirassununga, com cursos na área do
agronegócio (Zootecnia, Medicina Veterinária e Engenharia de Biossistemas), há
problemas potenciais específicos relacionados com a criação dos animais, tais como o
descarte de dejetos, carcaças, fertilizantes utilizados no cultivo das espécies vegetais
para a ração animal, resíduos das atividades do matadouro e do laticínio, etc. Os
problemas são diversos e requerem soluções multidisciplinares. Em 2013 foi indicado
um servidor para a gestão ambiental no Campus visando integrar os diversos atores e
competências. Este artigo trata de um resumo das atividades desenvolvidas ou
acompanhadas pelo setor de gestão ambiental do Campus USP de Pirassununga

Mapa do território do Campus

166
AVANÇOS NA GESTÃO DE RESÍDUOS E
SUSTENTABILIDADE DO CAMPUS
Regularização de Documentação Ambiental
Diversas das atividades realizadas no Campus são passíveis de causar impacto
ambiental e precisam de licença de operação da CETESB (Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental), como por exemplo, o abatedouro-escola, o laticínio, entre
outros setores. Além das licenças de operação, é necessário também regularizar a
destinação dos resíduos de interesse ambiental gerados nas diversas atividades. Para
tanto, os Certificados de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental (CADRIs)
são obtidos junto à CETESB.
No período de 2013, até o presente momento, foram obtidos e/ou regularizados os
documentos, descritos na Tabela 1.
Tabela 1. Listagem de documentos de interesse ambiental regularizados no
período 2013-2018.

Documento Setor/Resíduo
CADRI Abatedouro/ Despojos de carne
CADRI Campus/Resíduos de Serviços de Saúde
CADRI Campus/Lâmpadas Fluorescentes
CADRI Abatedouro/ Pele
CADRI Campus/Carcaças animais
Licença de Operação Abatedouro
Parecer Técnico Campus/Compostagem de carcaças
Parecer Técnico Abatedouro/Tratamento de efluentes

Adicionalmente, existem no Campus captações e lançamentos de água que com


outorga de direito de uso hídrico junto ao Departamento de Águas e Energia Elétrica
(DAEE). Todas as outorgas estão regularizadas.

Conservação e Restauração das Reservas Ecológicas


Desde o ano de 2014, a USP tem destinado recursos específicos para as atividades
de conservação, restauração, pesquisa, ensino e extensão nas áreas de reservas
ecológicas. Com esta verba, entre outras coisas, as áreas de reserva do campus de
Pirassununga têm sido protegidas de fatores de degradação por meio da instalação de
quase 20 quilômetros de cercas e da construção de aceiros; foram adquiridos
equipamentos para as atividades de preservação destas áreas e para o desenvolvimento
de pesquisas em colaboração com docentes; foram sinalizadas as trilhas ecológicas para
a visitação visando a educação ambiental; foi adquirida a estação de compartilhamento
de bicicletas para melhoria da acessibilidade às trilhas ecológicas; foi favorecida a
restauração de áreas de proteção permanente através de retirada de linha de média

167
tensão que havia numa delas; foi confeccionado o projeto de tratamento de resíduos do
abatedouro com ferti-irrigação de pastagens, para a conservação dos corpos d'água da
reserva ecológica; foi adquirido o sistema de monitoramento das áreas de reservas
ecológicas, para proteção de incêndios e outros.

Adequação do descarte resíduos agropecuários


Em 2018, foram conquistados importantes avanços na destinação de resíduos
agropecuários do Campus. Em primeiro lugar, foi construído o biodigestor dos
efluentes do setor de suinocultura mostrado na
Figura 1; está em construção a estação de compostagem de carcaças (Figura 2) e foi
conseguida a autorização da através de parecer técnico Nº 65100328 da CETESB para
construção da estação de tratamento de efluentes do abatedouro.

Figura 1. Biodigestor dos efluentes do setor de suinocultura da PUSP-FC


no Campus USP Fernando Costa (Junho de 2018 - Foto de Rodrigo
Mangetti)[tm22]

Figura 2. Construção da estação de compostagem de carcaças do Campus


USP Fernando Costa (Maio de 2018 - Foto de Rodrigo Mangetti)[tm23]

168
Todas estas estruturas estão disponíveis para utilização para as atividades
acadêmicas dos cursos do Campus como modelos produtivos e de gestão de resíduos
sustentáveis.

Educação Ambiental
O Campus USP Fernando Costa é um espaço público de grande valor cultural e
natural pouco frequentado pela população do município. Tem espaços privilegiados
que precisavam de desenvolvimento no campo da acessibilidade e de sinalização para
poder ser usufruído com segurança pela comunidade interna e externa. Em 2014, foram
traçados e sinalizados 3 trechos de trilhas ecológicas, interligados num único circuito.
A ideia inicial das trilhas ecológicas do Campus Fernando Costa surgiu como uma
iniciativa de servidores técnico-administrativos participantes do Programa de
Formação Socioambiental da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) através do
Projeto Trilhas Ecológicas – Olhar ambiental sobre o campus de Pirassununga. Eles
que definiram o traçado, idealizaram os nomes dos trechos e desenvolveram o conteúdo
das placas de sinalização. Tudo isso com o intuito de valorizar o conhecimento que os
servidores têm do Campus; internalizar a sustentabilidade na gestão universitária e
colaborar para a melhoria da qualidade de vida dos funcionários, entre outros objetivos.
Atualmente, as trilhas estão sinalizadas e abertas ao público interno e externo do
Campus.

Figura 3. Imagem ilustrativa dos 3 trechos de trilhas ecológicas do Campus USP Fernando Costa

169
Figura 4. Imagem do Google Earth com o desenho[U24] do
circuito de trilhas ecológicas do Campus USP Fernando Costa

Gestão Integrada de Resíduos


Em julho de 2014 foi formado um grupo de trabalho para a elaboração do Plano de
Gerenciamento de Resíduos de Saúde (PGRSS). Este grupo contou com o apoio do
Conselho Gestor do Campus e inclui membros de todas as Unidades presentes no
Campus. A formação de um grupo interunidades teve como princípio estabelecer
procedimentos que fossem de benefício de toda a comunidade numa gestão
compartilhada dos resíduos, conforme indicado pelo item IV, do artigo 21 da Lei
Federal 12.305 de 2010 [2]. O grupo foi formalizado no ano de 2017 como Comissão
para Elaboração do Plano Integrado de Resíduos Sólidos no Campus USP Fernando
Costa através da Portaria CGCFC Nº 5 de 15/09/2017. Entre as atividades desta
Comissão, podem ser mencionadas: treinamentos de gestão dos Resíduos Sólidos de
Saúde - RSS para todos os servidores envolvidos nas atividades geradoras de resíduos
de interesse ambiental; assessoria em questões administrativas para detalhamento de
itens e serviços para a correta coleta e disposição de resíduos; diagnóstico e registro de
geração de resíduos; confecção de procedimentos padrão e diagramas de destinação de
resíduos. Todos estas são atividades complementares e necessárias à confecção do
PGRSS.

Mobilidade Sustentável
Uma das características do campus USP Fernando Costa é a sua grande extensão
territorial, com consequente distanciamento entre as edificações. Esta situação traz
diversos problemas de mobilidade interna, aliadas à dificuldade de integração com o
transporte municipal restringindo a acessibilidade da comunidade externa ao Campus.
Visando minimizar este problema, e dar acessibilidade às trilhas ecológicas, foi
instalada no Campus uma estação de compartilhamento de bicicletas. Esta foi adquirida
com verba da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA). O sistema foi pensado
como meio de transporte alternativo para acesso à entrada das trilhas ecológicas

170
localizadas próximas às áreas de Reservas Ecológicas do Campus.

Figura 5. Estação de compartilhamento de bicicletas do Campus USP Fernando Costa


Vários fatores adicionais fazem do sistema de bicicletas compartilhadas do Campus
Fernando Costa um conjunto sustentável. Começando pelo novo trecho da ciclovia. O
material do mesmo é fresa de asfalto, uma sobra da manutenção de rodovias doado à
PUSP-FC pela Concessionária Arteris.
Adicionalmente, os paraciclos espalhados pelo Campus foram adquiridos com verba
de multas ambientais do convênio entre o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
e a PUSP-FC . Lembrando que numa segunda fase do projeto Vamos de Bike -
Mobilidade sustentável e educação ambiental nas trilhas ecológicas do Campus,
pretende-se estender o benefício de uso das bicicletas compartilhadas à comunidade
externa.
Mais recentemente, foi recebida a doação da iluminação solar (60 postes) desse
trecho da ciclovia através da Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C). Estes
postes estavam instalados na raia olímpica da PUSP-C. Os mesmos tornaram-se
desnecessários quando um novo sistema de iluminação instalado na marginal Pinheiros
supriu as necessidades de iluminação do local.

Midias Digitais
A informação, o compromisso, o encorajamento e o feedback, devem estar sempre
presentes, como forma de facilitar a introdução de mudanças e a manutenção do
entusiasmo, nas iniciativas administrativas para a implantação de processos ou rotinas
mais sustentáveis. Visando suprir esta necessidade de informação, comunicação e
encorajamento foi idealizado o Projeto Sítio Web “Campus Pirassununga Sustentável”.
Este é um espaço unificado, no qual todas as informações do campus de Pirassununga,
no campo da sustentabilidade, podem ser acessadas e discutidas com a comunidade. O
endereço eletrônico é atualmente http://ambiental.puspfc.usp.br. Paralelo ao site, é
mantido um perfil na rede social Facebook, com o nome “Campus Fernando Costa

171
Sustentável - USP”. Tanto o site como o perfil, têm como objetivo complementar o
desenvolvimento de um senso de comunidade e inter-relacionamento dentro do Campus.

CONSIDERAÇÕES[tm25]
O trabalho desenvolvido do Campus da USP Fernando Costa, incluiu 3 eixos de
dedicação:
1) O primeiro, visando conservar e garantir o manejo correto de nossas áreas de
exploração e de preservação permanente, incluindo um descarte correto de resíduos e
gerando ao mesmo tempo uma área produtiva e ecologicamente correta.
2) O segundo eixo trabalhou a questão da diminuição do consumo de energia não
renovável, que incluíram a priorização do uso de bicicletas, com a edificação de uma
ciclovia produzida com asfalto reciclado; iluminação de led, e finalmente o
oferecimento de bicicletas de uso compartilhado para a comunidade.
3) O último eixo foram os de geração de energia mediante aproveitamento de
resíduos e uso de placas fotovoltaicas, como uma forma de mostrar as possíveis
aplicações aos nossos alunos. Entendemos que com estas atitudes, estamos criando um
quarto eixo, que do ponto de vista da universidade é o mais importante. É o de mostrar
para a comunidade, que é possível, neste nosso ambiente universitário mostrar atitudes
sustentáveis.
Com estas ações o Campus vai evoluindo para se tornar um modelo para a
comunidade interna e externa. O gerenciamento atual mostra-se favorável para a
organização e continuidade dos projetos. A complexidade dos problemas exige
constante busca por novas soluções e , isto provavelmente repercutirá na formação de
uma equipe de gestão ambiental para o Campus integrando gestão e ensino, pesquisa e
extensão.

REFERÊNCIAS
[1] Creighton, S. H., 1998. Greening the ivory tower improving the environmental
track record of universities. MIT Press, Cambridge, Mass: 337p.
[2] Lei Federal 12.305 de 2 de agosto de 2010, 2010. Política Nacional de Resíduos
Sólidos.

172
Capítulo 11

Avaliação de desempenho da
usina piloto de biodisel do
Instituto de Energia e Ambiente da
Universidade de São Paulo

Paola Petry

173
Paola Petry
Formada em engenharia química pela Escola Politécnica da USP e atua
como pesquisadora no programa de pós graduação em energia do Instituto
de Energia e Ambiente (IEE/USP). Seu tema de mestrado é a política de
biodiesel e biocombustíveis no Brasil. Compõe também o grupo de
serviço jurídico para o gás natural do RCGI (Research Centre for Gas
Innovation).

174
INTRODUÇÃO
No cenário atual, a preocupação com geração, tratamento e reaproveitamento de
resíduos está cada vez mais em alta. O óleo residual de fritura de residências e restaurantes
é um resíduo utilizado para a produção de sabão por exemplo, porém, existe também a
possibilidade de um aproveitamento energético por meio da produção de biodiesel.
Assim, um resíduo com potencial de poluir corpos d‘água, se for descartado sem
tratamento no meio ambiente, pode ser convertido em combustível para veículo com
motores a diesel, como ônibus e caminhões.
Pensando nisso, o uso do óleo residual da fritura dos restaurantes universitários e a
conversão em biodiesel na própria universidade para uso do combustível nos ônibus que
percorrem o campus, fecha o ciclo do resíduo e colabora com uma gestão sustentável do
campus.
Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar e discutir o potencial de produção
de biodiesel a partir da usina piloto de biodiesel localizada no Instituto de Energia e
Ambiente da Universidade de São Paulo.
O biodiesel é um combustível derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e
gorduras animais. Estimulados por um catalisador, os óleos e gorduras reagem
quimicamente com álcool em uma reação de transesterificação que resulta em uma
mistura de ésteres denomidada biodiesel. Existem diferentes espécies de oleaginosas no
Brasil que podem ser usadas para produzir o biodiesel, entre elas estão mamona, dendê,
canola, girassol, amendoim, soja e algodão. Matérias-primas de origem animal, como o
sebo bovino e gordura suína, também podem ser utilizadas na fabricação do biodiesel [1].
A Figura 1 mostra o perfil de matérias-primas para produção de biodiesel de 2008 a
2017 e verifica-se que o óleo de soja é a matéria-prima mais utilizada, seguida da gordura
animal. O óleo de fritura é pouco utilizado na produção nacional de biodiesel e integra a
categoria de outros materias graxos.

175
5.000.000
4.500.000
Produção de biodiesel (m³)

4.000.000
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
-
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Óleo de soja Óleo de algodão Gordura animal1 Outros materiais graxos2

Figura 1. Produção de biodiesel no Brasil por matéria-prima de 2008 a 2017. 1Inclui gordura
bovina, de frango e de porco. 2Inclui óleo de palma, óleo de amendoim, óleo de nabo-forrageiro,
óleo de girassol, óleo de mamona, óleo de sésamo, óleo de fritura usado e outros materiais graxos.
Elaboração própria a partir de dados da ANP [2].
A reação de transesterificação para produção de biodiesel utiliza geralmente metanol
ou etanol, porém o metanol apresenta um rendimento maior. Além disso o tempo e a
temperatura da reação também são menores quando comparado à rota etílica de produção
de biodiesel [1]. Baseado nisso, esse trabalho utilizou a rota metílica.
O biodiesel apresenta características físico-químicas semelhantes ao diesel podendo
substituir, total ou parcialmente, o diesel em motores de ignição por compressão (ciclo
Diesel). A utilização do biodiesel apresenta vantagens por ser renovável e emitir menos
poluentes atmosféricos como monóxido de carbono (CO), material particulado (MP),
hidrocarbonetos (HC) e óxidos de enxofre (SOx), quando comparado ao diesel puro.
Entretanto, a mistura com biodiesel acarreta um aumento nas emissões de óxidos de
nitrogênio (NOx), sendo necessários aditivos ao biodiesel para reduzir essas emissões.
O biodiesel não emite SOx por não apresentar enxofre na sua composição,
diferentemente do diesel. Nesse sentido, o Brasil tem inclusive regulação específica para
determinar os teores máximos de enxofre no diesel. Os dados da variação das emissões
desses poluentes em misturas de biodiesel em relação ao diesel puro - 0% de biodiesel-
são mostrados na Figura 2.

176
Figura 2. Alteração nas emissões com o uso de diferentes porcentagens de biodiesel no diesel
[3].
Com relação a redução das emissões de CO2, a queima do biodiesel emite menos CO2
comparativamente à queima do diesel de petróleo, principalmente considerando o ciclo
de vida do óleo de soja, pois neste há absorção de CO2 pelo cultivo da oleaginosa [4]. A
mistura de 10% e 20% de biodiesel no diesel pode reduzir em 7,3% e 14,5% as emissões
de CO2, respectivamente, em comparação com a queima do diesel puro [5].
A inserção do biodiesel no setor de transportes brasileiro se consolidou em 2004
quando o Ministério de Minas e Energia lançou o Programa Nacional de Produção e Uso
do Biodiesel (PNPB). A partir de 2008 a mistura de biodiesel no diesel passou a ser de
2% (B2) em todo o diesel comercializado no país. Essa porcentagem aumentou para 5%
(B5) em 2010, 7% (B7) em 2014, 8% (B8) em 2017 e 10% (B10) em 2018 [6].
Os fabricantes de motor a diesel certificam que seus motores podem operar sem
adaptação com misturas até 20% de biodiesel (B20) desde que esse cumpra as
especificações de qualidade [7]. No Brasil, a qualidade do biodiesel é determinada pela
Resolução ANP Nº 45 de 25.08.2014 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis, ANP [8].
No caso do biodiesel de óleo residual, a degradação do óleo pelo processo de fritura
aumenta o teor de ácidos graxos livres (AGL) e, consequentemente, a acidez do óleo,
implicando na necessidade de correção da acidez do óleo antes de ser processado [7].
Nesse trabalho foi adicionada a base hidróxido de potássio (KOH) para essa finalidade e
junto com o metilato de sódio funciona como catalisador da reação de transsesterificação.
Estudos mostram que até o nível de 5% de AGL, a reação de formação de biodiesel pode
ser realizada com catalisador alcalino, porém devem ser utilizadas quantidades maiores
de catalisador para compensar a perda nas reações de saponificação [7]. A reação de
saponificação consiste na formação de água e sabão a partir do óleo e do catalisador
básico, acontecendo comcomitantemente com a reação de transesterificação.

177
Assim há a formação de água no produto final proveniante da reação de saponificação
e essa precisa ser retirada do biodiesel, já que a água no combustível está relacionada à
corrosão do motor e é um dos critérios que deve ser mensurado para atestar a qualidade
do biodiesel. Nesse trabalho optou-se por avaliar a viscosidade cinemática, o índice de
acidez e teor de água do biodiesel como critérios de qualidade e os valores foram
comparados com as especificações da ANP.
O teor de água no biodiesel é medido em miligramas de água por quilograma de
biodiesel (mg/Kg). A viscosidade é uma propriedade fluidodinâmica do combustível
medida em mm²/s e exerce grande influência na circulação e injeção do combustível e na
qualidade da combustão [9]. O biodiesel tem uma viscosidade semelhante a do diesel de
petróleo e, isso é um dos principais fatores que permite sua utilização em motores a diesel.
O índice de acidez é um parâmetro relacionado à corrosão do motor e tem interferência
na estabilidade oxidativa do biocombustível. Esse índice se expressa em miligramas de
hidróxido de potássio (KOH) necessários para neutralizar os ácidos graxos livres (AGL)
presentes em uma grama de gordura. Esse parâmetro é determinante na escolha da matéria
prima para produção de biodiesel, pois um óleo ou gordura com alto índice de acidez
representa uma alta % AGL.

A Usina de biodiesel
A usina de biodiesel localizada no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de
São Paulo é composta por 17 tanques tendo capacidade de operar com 100 litros de óleo
por batelada. O escoamento dos fluidos ao longo do processo é feito pela tubulação da
usina por meio da abertura das válvulas e o acionamento das bombas. São um total de 11
bombas sendo uma a bomba a vácuo, acoplada ao tanque secador para retirada da umidade
do biodiesel após a reação de transesterificação. A usina ainda apresenta estrutura para
recuperação do álcool colocado em excesso na reação, porém essa etapa não foi realizada
nesse trabalho. A Figura 3 mostra uma foto da usina piloto de biodiesel.

Figura 3. Foto da usina piloto de biodiesel do IEE/USP.

178
METODOLOGIA
Etapas do processo
O óleo residual de fritura chega em bombonas na usina e é carregado por ação da bomba
1 para o tanque decantador de óleo. Em seguida o óleo é conduzido a passar pelo filtro
existente na tubulação da usina entre o tanque decantador de óleo e o tanque de óleo
filtrado, como pode ser verificado no diagrama da usina apresentado na Figura 4. Essa
etapa permite uma filtragem do óleo e demora cerca de uma hora pois o fluido ainda não
foi aquecido e apresenta uma alta viscosidade, o que dificulta a passagem pelo filtro. Caso
o óleo residual apresente acidez acima do ideal é feita a correção da acidez do óleo
diretamente na bombona e em seguida esse é bombeado para o tanque decantador de óleo.
A reação de transesterificação ocorre no tanque reator que recebe a mistura de
catalisador e álcool preparada anteriormente no tanque catalisador. Tanto a reação quanto
a secagem precisam de aquecimento para operar em temperaturas maiores que a
temperatura ambiente, assim esses tanques têm sua temperatura aumentada pela
passagem de um fluido térmico aquecido por resistências elétricas.
O fluido térmico é armazenado no tanque de óleo térmico que contém as resistências e
uma tubulação específica para não entrar em contato com os fluidos do processo, como
está representado na Figura 5 que ilustra o funcionamento do reator da usina de biodiesel
e o sistema de aquecimento pelo fluido térmico. Os tanques aquecidos apresentam
terrmômetros internos que permitem o monitoramento da temperatura.

Figura 4. Diagrama da usina piloto de biodiesel IEE/USP

179
Figura 5. Esquema representativo do reator [10].

Após a reação de transesterificação, o conteúdo do reator segue para o tanque


decantador que apresenta duas saídas, uma ao fundo do tanque para escoamento da
glicerina, que por ser mais densa que o biodiesel decanta primeiro, e outra mais em cima
para escoamento do biodiesel. A separação das fases entre a glicerina e o biodiesel é feita
de forma manual por meio da abertura das válvulas instaladas na saída do tanque
decantador e os visores acoplados auxiliam nesse processo. A saída mais baixa do tanque
decantador leva a glicerina para o tanque de armazenamento da glicerina e a saída mais
elevada conduz o biodiesel para a etapa posterior. A figura 6 mostra os visores durante a
separação de fases entre a glicerina e o biodiesel, sendo o biodiesel de coloração mais
clara e a glicerina mais escura.

Figura 6. Foto dos visores abaixo do tanque de decantação. É possível identificar a


separação das fases glicerina de cor escura e do biodiesel de cor clara.

Após a separação das fases, o biodiesel é levado para o tanque de lavagem onde pode
ser lavado para retirada das impurezas ou seguir para o tanque secador. A usina contem
três tanques de lavagem, assim o biodiesel pode passar pelas três lavagens ou ser enviado
do tanque de lavagem um para o três que é o único que tem conexão com o tanque sacador.
O biodiesel então passa pela secagem e após essa etapa segue para o tanque de

180
armazenamento. Esse último tanque é de onde são retiradas as amostras para serem
analisadas.
O óleo residual utilizado foi fornecido pelo restaurante universitário do campus da USP,
cidade universitária, e foram realizadas duas bateladas, cada uma com 50 litros do óleo
coletado. As condições adotadas para cada batelada se diferenciam em relação à correção
da acidez do óleo residual e as quantidades de metanol e de catalisador, metilato de sódio.
Também foram alteradas algumas variáveis de operação do processo como tempo de
reação e realização ou não da lavagem do biodiesel. As condições de operação das
bateladas são apresentadas na tabela 1.
Para cálculo das razões molares foram considerados os seguintes valores: densidade e
massa molar do metanol, 0,79 g/mL e 32g/mol e para o óleo residual 0,8 g/mL e 866,45
g/mol [11].

Tabela 1. Condições de operação testadas na usina piloto

%AGL do Razão molar Tempo de Tempo de Tempo de


Batelada
óleo corrigido óleo/metanol reação lavagem secagem
1 2% 1:8 120 min 10 min 120 min
2 5% 1:5 60 min - 120 min

Correção do óleo residual


Uma amostra de 18g do óleo residual utilizado foi titulado em laboratório com uma
solução 0,1mol/L de hidróxido de sódio (NaOH) e o volume obtido foi de 40 mL.
Aplicando-se a equação 1 para cálculo da porcentagem de ácidos graxos livres (% AGL)
obteve-se 6,67%. A %AGL do óleo residual deve ser menor que 5% para que a reação de
transesterificação ocorra [7]. Assim, a correção do óleo para as bateladas foi feita com a
adição de KOH para que a %AGL passasse a ser 2% e a 5%.

𝑉(𝑚𝐿)×𝐹×100
%𝐴𝐺𝐿 = 𝑚(𝑔)
(1)

Na equação (1), V corresponde ao volume obtido na titulação, F ao fator em


decimiliequivalente-grama do ácido oléico (F = 0,0282), ácido graxo majoritário para o
óleo de soja e m o peso da amostra de óleo que foi titulada [12].
Uma amostra de óleo foi transesterificada em laboratório sem correção da acidez para
averiguar a importância da correção no processo de obtenção de biodiesel.

181
RESULTADOS
Os testes na usina mostraram, em primeiro lugar, a importância da correção da acidez
do óleo residual de fritura para que a reação de transesterificação ocorra. Sem a correção,
não se observou uma separação de fases nítida entre a glicerina e o biodiesel, apontando
para o prevalecimento da reação de saponificação sobre a reação de transesterificação.
Feita a correção da acidez, observou-se a separação de fases como mostra a figura 6.
Assim, o biodiesel obtido nas duas bateladas foi analisado segundo os parâmetros de
qualidade selecionados. Os resultados das análises constam na tabela 2.
Tabela 2. Analíses químicas dos parâmetros de qualidade do biodiesel. Elaboração
própria com resultados das análises e comparação com as especificações de qualidade [8].

Limite
Parâmetros Batelada 1 Batelada 2 Unidade
ANP
Índice de acidez 4,1 0,5 0,5(máx) mgKOH/g
Teor de água 3409 2734 200(máx) mg/Kg
Viscosidade
6,3 4,8 3,0 a 6,0 mm²/s
cinemática

Os dados da Tabela 2 mostram que a batelada 2 resultou em um biodiesel que atende


as especificações de qualidade em relação aos critérios de viscosidade cinemática e índice
de acidez. Por outro lado, o alto teor de água do biodiesel obtido nas duas bateladas indica
que, nas condições adotadas, não foi possível atingir o padrão de qualidade estipulado
pela ANP.
Na batelada (2) não foi realizada a etapa de lavagem e mesmo assim o teor de água é
superior ao exigido. A presença de água pode ser devido ao teor de umidade do óleo
residual e ainda à água formada no processo pela reação de saponificação. Como dito
anteriormente, a reação de saponificação forma água pela reação do óleo com o KOH
utilizado na correção da acidez. Sem a correção, a reação de transesterificação não
prevalece, entretanto, com a correção aumenta-se a formação de água no produto final.
Assim é preciso uma etapa de secagem mais eficiente na usina.
Como o tempo de cada batelada foi em torno de 6 a 8h, seria inviável estender o tempo
de secagem para além das duas horas adotadas. Portanto, é preciso um estudo mais
aprofundado sobre essa questão e a realização de testes com outros métodos de secagem,
como a utilização de um produto secante ou a secagem em estufa [13].
Novas condições de operação teriam que ser testadas num trabalho posterior para
verificação da sua aplicabilidade no contexto da usina utilizada. Além disso, estudos para

182
aprimoramento de cada etapa da usina também são necessários para melhorar o
desempenho da produção.

CONCLUSÕES
Dessa maneira, verificou-se a viabilidade de produção de biodiesel na usina piloto com
o óleo residual dos restaurantes universitários, porém dentre os parâmetros de qualidade
testados, identificou-se uma limitação da etapa de secagem da usina. Assim, são
necessários mais estudos para aprimorar a qualidade do biodiesel, alterando a
metodologia de secagem e investigando o desempenho com outras condições de operação
ainda não testadas. Vale ressaltar que é preciso também avaliar o restante dos parâmetros
estabelecidos pela ANP.
O trabalho mostrou que é possível gerir sustentavelmente o resíduo em questão, óleo
residual de fritura, porém os testes na usina precisam continuar a fim de melhorar a
qualidade do biodiesel para que esse possa ser utilizado nos motores dos ônibus
circulares. O trabalho contribuiu com o projeto de gestão sustentável do campus da cidade
universitária da USP e criou pontos de partida para futuros estudos.

AGRADECIMENTOS
Os ensaios realizados e relatados neste trabalho não seriam possíveis sem o apoio do
Instituto de Eneria e Meio Ambiente da USP (IEE/USP) e a orientação e auxílio de Nildeir
da Silva e Orlando da Silva, pertencentes ao quadro técnico do Instituto.

REFERÊCIAS
[1]PARENTE, E.J.S de., 2003. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado.
Fortaleza: Tecbio.
[2] ANP. Anuário estatístico 2018. Seção 4, Biocombustíveis, Matérias-primas utilizadas
na produção de biodiesel (B100) no Brasil. Disponível em
http://www.anp.gov.br/publicacoes/anuario-estatistico/anuario-estatistico-
2018#Se%C3%A7%C3%A3o%204. Acesso 24/06/2019.
[3] USEPA, 2002. A Comprehensive Analysis of Biodiesel Impacts on Exhaust
Emissions, Draft Technical Report, EPA420-P-02-00, apud: KNOTHE, Gerhard;
GERPEN, Jon Van; KRAHL, Jürgen; RAMOS, Luiz., 2006.Manual do biodiesel. São
Paulo, Editora Edgard Blucher, pp. 1-192.
[4] CORONADO, Christian, CARVALHO, João, SILVEIRA, José, 2007. Biodiesel CO2
emissions: a comparison with the main fuels in the Brazilian market”.

183
[5] DELTACO2,2007. Pegada de Carbono na Produção de Biodiesel de Soja.
Piracicaba/SP.
[6] ANP. Evolução do percentual de teor de biodiesel presente no diesel fóssil no Brasil,
2018. Disponível em http://www.anp.gov.br/biocombustiveis/biodiesel Acesso
10/08/2018.
[7] KNOTHE, Gerhard; GERPEN, Jon Van; KRAHL, Jürgen; RAMOS, Luiz,
2006.Manual do biodiesel. São Paulo, Editora Edgard Blucher,pp. 1-192.
[8] Resolução ANP Nº 45 de 25.08.2014. REGULAMENTO TÉCNICO ANP Nº 3/2014.
Especificações do biodiesel (B100) para comercialização em território nacional.
Publicada no Diário Oficial da União em 28/08/2014.
[9] DIB, Fernando, 2010. Produção de biodiesel a partir de óleo residual reciclado e
realização de testes comparativos com outros tipos de biodiesel e proporções de mistura
em um moto-gerador. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Ilha
Solteira/SP.
[10] SILVEIRA, B. I., 2011. Produção de Biodiesel – Análise e Projeto de Reatores
Químicos. ISBN 978-85-7893-877-2. Editora Biblioteca 24 horas. São Paulo/SP,
apud:GARCILASSO, V.P., 2014. Análise entre processos e matérias-primas para a
produção de biodiesel. Universidade de São Paulo. São Paulo/SP.
[11] CHRISTOFF, Paulo., 2006. Produção de biodiesel de óleo de fritura comercial.
Estudo de caso: Guaratuba, litoral Paraense. (Tese de Mestrado). Instituto de Engenharia
do Paraná - IEP, Curitiba.
[12] Sociedade Brasileira de Química (SBQ). ROBERTO J. T. P. Júnior; GUSMÃO,
Eduardo; SCHULER, Alexandre, 2014. Determinação dos Óleos de Fritura para
Produção de Biodiesel.
[13] RODRIGUES, M.C., GONÇALVES, C.R., G.B., MARTINS, W.M., LEÃO, M.F.,
2015. Avaliação do rendimento da secagem do biodiesel utilizando dois métodos distintos
a partir de óleos residuais. Simpósio Nacional de Biocombustíveis.

184
Capítulo 12

Levantamento qualitativo da
fauna de pequenos vertebrados do
Campus de Pirassununga da
Universidade de São Paulo visando
conservação de áreas verdes

Maria Estela Gaglianone Moro


André Luis Canha da Silva
Fernanda Pereira da Silva
Fernanda Ramos Teixeira da Paula
Yanca Antunes Salomoni

185
Maria Estela Gaglianone Moro
Graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias (FCAVJ) da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Mestre em Genética e Melhoramento Animal pela
FCAVJ da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Doutora em Zootecnia pela FCAVJ da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho. Bolsista do Programa Jovem Pesquisador
FAPESP na FMVZ/USP. Pós Doutorado na FMVZ/USP. Professora da
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - FZEA -
Universidade de São Paulo. Áreas de atuação Animais Silvestres,
Apicultura, Meio Ambiente

André Luis Canha da Silva


Graduando em Zootecnia da FZEA/USP.

186
Fernanda Pereira da Silva
Graduanda em Zootecnia pela Universidade De São Paulo, estagiou
nas áreas de Preservação Ambiental e Cunicultura. Contato:
[email protected].

Yanca Antunes Salomoni


Graduando de Medicina Veterinária 7º semestre – Faculdade de
Engenharia de Alimentos e Zootecnia (FZEA). Atividades
Extracurriculares: Participante do Grupo de Estudo de Animais
Silvestres – FZEA/USP; Participante do Grupo de Estudo de Pequenos
Animais – FZEA/USP ; Campanha do Agasalho - Pirassununga/SP,
Campanha de Vacinação de Raiva em Leme - Leme/SP; Organização
da Secretaria Acadêmica da Medicina Veterinária – FZEA/USP; Atual
Organização do Grupo de Estudo de Animais Silvestres. Projetos:
Levantamento qualitativo de fauna de pequenos mamíferos vertebrados
do Campus da USP de Pirassununga visando sua conservação. Estágio
LOCT - Laboratório de Oncologia Comparada e Transicional -
FZEA/USP Clínica de Animais Silvestres e Exóticos - SELVA -
Medicina para Animais Silvestres e Exóticos.
E-mail: [email protected]

187
INTRODUÇÃO
O Campus Fernando Costa é o maior campus da USP em extensão territorial,
possuindo 2269 hectares de área total ocupada por diferentes fisionomias de cerrado, além
de áreas de cultivo e pastagens. As florestas preservadas (cerrado senso strictu, cerradão
(80%), fragmentos de matas mesófilas semidecíduas e mata ciliar) correspondem a cerca
de 30% da área total, e lagoas e cursos d’água ocupam cerca de 50 ha.
Ele está localizado na cidade de Pirassununga, a 210 km da cidade de São Paulo, na
Região Centro-Leste do estado a uma latitude 21º59'46" Sul e a
uma longitude 47º25'33" Oeste. O Campus apresenta uma grande diversidade de animais
silvestres, sendo um ponto de refúgio para os mesmos, entretanto pode-se observar uma
alta interferência antrópica no ambiente.[26]
Sabe-se que os mamíferos estão entre os vertebrados mais atingidos pela fragmentação
e destruição de habitats naturais [1,2]. Dessa forma, o levantamento de fauna visando
pequenos mamíferos cataloga os animais presentes estudando seu comportamento por
meio dos dados obtidos, como rotatividade, reprodução, hábitos, e alimentação, podendo
servir para detecção de problemas de desequilíbrio ecológico e problemas decorrentes da
relação cada vez mais próxima entre humanos e animais na interação com o ambiente.
No ambiente do Cerrado são conhecidas até o momento mais de 1.500 espécies
animais, formando o segundo maior conjunto animal do planeta. [27]A fauna encontrada
no Campus da USP de Pirassununga é muito rica e basicamente composta por animais do
Bioma Cerrado com sua grande variedade de espécies.
Levantamentos qualitativos registraram a ocorrência de 64 espécies de aves não
Passeriformes, distribuídas em 16 Ordens e 28 Famílias, como tucano (Ramphastos toco),
arara (Ara ararauna), curicaca (Theristicus caudatus), papagaio (Amazona aestiva),
periquitos, gaviões, seriema (Cariama cristata), urubu (Coragyps atratus) e
aproximadamente 140 espécies de aves Passeriformes, como canário-da-terra (Sicalis
flaveola), sabiá (Turdus rufiventris), saíras, sanhaços, pintassilgo (Sporagra sp.), bico-
de-lacre (Estrilda astrild), viuvinha (Colonia colonus), freirinha (Arundinicola
leucocephala), curió (Oryzoborus angolensis), pássaro-preto (Gnorimopsar chopi), entre
outros.
Entre outras, algumas das espécies de mamíferos encontradas nesta área são: onça
parda (Puma concolor), lobo guará (Chrysocyon brachyurus), cachorro-do-mato
(Cerdocyon thous), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), veado catingueiro
(Mazama gouazoubira), gato-mourisco (Puma yagouaroundi), capivara (Hydrochoerus
hydrochaeris), paca (Cuniculus paca), tatus, diversos marsupiais e pequenos
roedores.[28]
Esta área possui dentre as 202 espécies de aves já catalogadas no Campus, algumas
ameaçadas de extinção a nível estadual. As mais de 20 espécies de mamíferos e répteis
aqui encontrados, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e o jacaré do papo-

188
amarelo (Caiman latirostris), certificam esta área como importante ponto de refúgio dos
animais silvestres na região, tendo em vista a expansão agrícola, principalmente do
cultivo de cana-de-açúcar na região [3].
Apresentam-se identificados até o momento 24 espécies de mamíferos, mas a fauna de
pequenos mamíferos silvestres ainda não é totalmente conhecida.
Através da presença de animais ameaçados de extinção como o lobo guará, a paca e
de vários passeriformes além do grande número de espécies silvestres aqui detectadas,
considera-se que a posição desta área é estratégica, em uma região bastante devastada,
mostrando a importância da conservação de sua flora nos fragmentos de cerrado e de
floresta estacional semidecidual como fonte de alimentação, nidificação e refúgio para a
manutenção da biodiversidade.

OBJETIVOS
Apresentar as espécies de pequenos mamíferos encontradas no Campus, e estabelecer
a relação entre a diversidade e quantidade encontrada.
Propor medidas que visem a conservação da fauna e flora, divulguem estes
conhecimentos e promovam orientação para preservação da fauna e da flora à
comunidade do Campus.

METODOLOGIA
As áreas eleitas para a realização deste estudo foram: um fragmento de floresta
semidecidual e um fragmento de cerrado abrangendo, assim, os principais biomas
presentes no Campus.
O tipo de vegetação com domínio de floresta estacional semidecidual localiza-se
próximo à Lagoa do Barrajão, chamado de mata do Barrajão (Figura 1A). O dossel
variava de emergente, com grandes árvores a dossel baixo, com formações vegetais
adaptadas a varrições no clima bem marcantes, com inverno seco e verão chuvoso.
A segunda área estudada apresentava-se dominada por vegetação típica de cerrado,
com fisionomia mais similar a de um cerradão, localizada entre a Estrada de Acesso, a
Lagoa do Barrajão e a Estrada Municipal (Figura 1B). A formação de vegetação no local
apresenta um dossel contínuo e cobertura arbórea, porém com bastante luminosidade
dentro da mata, sendo estas árvores caracterizadas por serem esclerófilas e xeromórficas.
A cobertura arbórea tem tamanho médio, não havendo árvores que ultrapassassem 15
metros.
As duas regiões envolvidas na pesquisa são propensas a ameaças de seu ecossistema,
principalmente por sua proximidade da rodovia Anhanguera (SP-330).

189
Foram realizadas três excursões de captura em regiões de mata semidecídua e cerrado.
Para as capturas foram utilizadas armadilhas do tipo Tomahawk® (tamanho 44,0 x 20,5
x 21,5 cm) e Sherman (8,0 x 9,0 x 25 cm, Sherman Trap Co., EUA). Além destes foram
utilizados métodos indiretos como câmera trap, vestígios de fezes e rastros de pegadas
com objetivo de colher mais informações sobre a fauna local.
Foram utilizadas, em cada trilha, dez armadilhas tipo Tomahawk colocadas no solo e
posicionadas de 5 a 10 metros uma da outra, viradas para dentro da mata, além de duas
armadilhas tipo Sherman. As armadilhas Sherman foram estrategicamente dispostas em
locais com acesso para as copas das árvores, visando a captura de animais arbóreos.
Para as iscas foram utilizados fruta da época ou banana e uma mistura composta de
aveia, paçoca e sardinha, algodão embebido com óleo de fígado de bacalhau (emulsão
Scott) um método frequentemente utilizado para captura de pequenos mamíferos. A
banana e a mistura de aveia, paçoca e sardinha foram colocadas alternadamente nas
armadilhas no decorrer da trilha, e nas armadilhas Sherman foi utilizado o algodão com
óleo de fígado de bacalhau.
As armadilhas inicialmente foram todas iscadas e permaneceram nos lugares
predeterminados durante todo o dia até a manhã do dia seguinte, onde foram vistoriadas
e tiveram as iscas trocadas, ou no caso de captura, a armadilha foi retirada da trilha e
trocada por outra limpa, evitando assim que qualquer odor do animal anteriormente
capturado interferisse no processo.
As áreas de capturas totalizaram um total de 100m² em cada localidade, contendo 125
armadilhas, armadas todos os dias por uma semana a cada três meses.
Os animais capturados foram contidos, sexados, medidos e pesados, além disso houve
a coleta de swab e, quando disponível, realizada a coleta de fezes. Os animais foram
tingidos no dorso com violeta genciana, evitando a contabilização no caso de recaptura.
Posteriormente o animal foi solto no mesmo local onde foi capturado pela armadilha.

190
191
Figura 1. Mapa das áreas eleitas para a realização deste estudo, fragmento de floresta
semidecidual (A) e fragmento de cerrado (B) os principais biomas presentes no Campus.

RESULTADOS
Na mata semidecídua notou-se densidade de vegetação mais elevada nos substratos
mais baixos, com presença de cipós, árvores de porte grande e umidade mais elevada. O
cerradão sofreu uma mudança no local de estudo após a primeira captura, pois resultou
na presença de nenhum animal nas armadilhas. A princípio a área a ser estudada
apresentava poucos vestígios de animais, sendo esta já muito degradada, sem a presença
de nascentes perto ou outras fontes de água e com áreas muito abertas. Devido ao fracasso
na primeira expedição, as duas expedições seguintes foram em um local próximo, a 300
metros de distância, porém, com nascentes e vestígios de animais (pegadas, fezes, rastros
e pelos).
As Tabelas de 1 a 4 mostram os detalhes dos 63 pequenos mamíferos capturados,
sendo estes pertencentes à ordem Rodentia (roedores) e Didelphimorphia (gambá e
cuíca). Das três espécies capturadas 57 animais eram Didelphis albiventris (Figura 2), 4
cuícas (Figura 3) e 2 roedores. Devido à complexidade taxonômica a cerca dos roedores
e cuícas, seria necessário que o projeto desenvolvesse outras metodologias para confirmar
a qual espécies estes animais pertenciam. Dentre elas podemos citar a eutanásia para

192
diferenciação anatômica cranial ou para coleta de tecidos e posterior identificação por
marcadores moleculares [4]. Entretanto, o projeto não era direcionado para posteriores
análises, sendo que os animais eram capturados, contidos e soltos logo após a avaliação
morfológica. Além disso, os dois roedores capturados fugiram durante a contenção,
impossibilitando as análises morfológicas e anatômicas visuais destes.
Quando comparado a outros trabalhos similares, [5; 6], o número de animais
capturados foi baixo. Ademais, dos 57 Didelphis albiventris capturados 22 foram
recapturas, sendo que só nesta espécie houve recaptura.
Notou-se a presença de ambas as espécies nas duas localidades e com a mesma
proporção de capturas de machos e fêmeas, porém a abundância de animais era maior na
Mata semidecídual.
A grande maioria das capturas foram nas armadilhas tipo Tomahawk, ocorrendo nestas
também a captura de outros animais que não pequenos mamíferos: Nasua nasua (Quati),
Arremon flavirostris (Tico –tico bico amarelo), Tupinambis teguixin (Teiú) e Ameiva
ameiva (Calango verde). Sendo que a quantidade de cuícas capturadas nas armadilhas foi
maior na Sherman e de gambás (D. albiventris) na Tomahawk (Tabela 4), em razão do
tamanho das armadilhas, pois a Sherman utilizada limitava a captura de gambás jovens e
adultos por ter uma abertura menor que o tamanho corporal desses animais. Outro fator
que influenciou as capturas em relação à espécie e armadilha foi o posicionamento destas.
As Sherman foram estrategicamente dispostas em locais com acesso para as copas das
árvores favoreceram a captura de cuícas, em razão dos hábitos arbóreos desta espécie
(Quadro 1).

Figura 2. Contenção e medição de gambá (Didelphis albiventris)

193
Figura 3. Contenção de cuíca e coleta de swab

Tabela 1. Quantidade de animais capturados por espécie

Espécie Quantidade
D. albiventris 57
Cuíca 4
Roedor 2
Total 63

Tabela 2. Capturas e recapturas em relação a cada uma das áreas estudadas

Capturas Recapturas
Espécies Mata- Cerradão Mata - Cerradão
semidecídual semidecídual
D. 30 4 22 1
albiventris
Cuíca 2 2 0 0
Roedor 1 1 0 0
Total 55 7 22 1

194
Tabela 3. Quantidade de machos e fêmeas capturados em relação às espécies

Espécies Machos Fêmeas


D. albiventris 13 14
Cuíca 2 2
Roedor * *
*Ambos fugiram durante a contenção, impossibilitando identificações.

Tabela 4. Quantidade de animais capturados em relação aos tipos de armadilhas


utilizadas

Quantidade de animais capturados


Armadilha D. albiventris Cuíca Roedor
Tomahawk 52 1 1
Sherman 5 3 1

Quadro 1. Relação de espécies e local, e forma de observação

Espécie Observação; Local


Mamíferos
D.albiventris (gambá) Captura; Ms/Ce
Cuíca Captura; Ms/Ce
Roedor Captura; Ms/Ce
Nasua nasua (Quati) Captura; Ce
Tamandua tetradactyla (Tamanduá) Câmera trap; Ce
Mazama gouazoubira (Veado) Pegadas; Ce
Aves
Arremon flavirostris (Tico –tico bico Captura; Ms
amarelo)

Répteis
Tupinambis teguixin (Teiu) Captura; Ms
Ameiva ameiva (Calango verde) Captura; Ce
Ms = mata-semidecídual; Ce = Cerrado

195
DISCUSSÃO
Apesar dos pequenos mamíferos formarem o mais diversificado grupo na mastofauna
em florestas tropicais [7], em estudos anteriores [9] observaram que a população de
pequenos mamíferos é dominada por duas ou três espécies apenas, que aparecem de forma
abundante em um local, enquanto os demais raramente são observados. Geralmente, estas
espécies de pequenos mamíferos apresentam alta plasticidade ecológica, adaptando-se
facilmente ao ambiente [8]. Esta dominância de poucas espécies foi notável no presente
estudo, sendo observada a presença de duas ordens, com maior expressão da espécie D.
albiventris, 57 capturas, em relação a apenas duas capturas de roedores e quatro de cuícas.
Durante o período de experimentação, notou-se maior taxa de capturas em épocas com
alto índice pluviométrico e no começo da estação seca (maio a julho). Sendo que os meses
com maiores índices pluviométricos compreenderam a maior taxa de captura dos gambás
e as cuícas apresentaram maior taxa de captura nos meses de seca. Estes fatores de chuva
e seca estão intimamente correlacionados a sazonalidade, pelo qual a maioria das espécies
de pequenos mamíferos neotropicais é influenciada [9].
Além da dominância de gambás nas áreas estudadas, ocorreram diversas recapturas
destes animais que indicaram possível ausência de rotatividade, ou seja, estes
permaneciam no mesmo local, sem muita movimentação em seu habitat. Isso pode ser
explicado pelo fato de que as áreas estudadas são fragmentos de mata pequenos, limitando
a ocorrência de predadores de médio e grande porte, o que causa um equilíbrio e favorece
a dominância dessas espécies [10; 11]. Segundo [11], a diminuição da área de habitat, em
razão da degradação e ações antrópicas, torna-se inviável para médios e grandes
mamíferos, que necessitam de grandes territórios para manutenção da espécie.
Considera-se que houve poucas capturas no decorrer de um ano se comparado a
trabalhos similares, como [5; 6]. Segundo [11], essa baixa quantidade de capturas implica
na diminuição da probabilidade de observação de animais raros ou na diversidade de
espécies capturadas, assim como o ocorrido no projeto, do qual apenas gambás, cuícas e
dois roedores foram observados. Dentre as causas mais comuns para a pequena
quantidade de capturas deve ser considerada a degradação ocasionada pela antropização
[12; 13], que está presente nas duas áreas, em razão da proximidade destas aos pastos,
plantações, moradias e rodovia.
Mesmo com a baixa quantidade de espécies capturadas, ambas estavam presentes nos
dois locais, tanto o florestal quanto o cerrado, não variando a riqueza das espécies. Porém
a abundância de capturas na mata em comparação com o cerradão foi bem maior. [6]
explicam que a diferença de abundância de animais entre locais deve-se à complexidade
vegetal mais elevada em uma área quando comparada a outra. Ainda segundo os autores,
em locais com maior densidade de árvores há maior influência na disponibilidade de
alimentos. Esses dados condizem com as características vegetativas da mata semidecídua.
Os resultados obtidos no estudo mostraram-se importantes para entender o status de
conservação da área. E como estratégia para contínua conservação do local, foi realizado

196
durante o projeto, duas apresentações sobre a importância desse estudo e as implicações
dos resultados achados. Uma apresentação se deu em uma reunião do Grupo de Estudos
de Animais Selvagens da USP, Campus de Pirassununga e a outra ministrada na matéria
Preservação e Produção de Animais Selvagens. Atingindo uma gama de estudantes, a fim
de despertar nestes a preocupação com a educação ambiental do Campus.

CONCLUSÃO
A fragmentação das localidades estudadas reduziu o número de espécies de pequenos
mamíferos nestas áreas antropizadas. Entretanto, estes fragmentos ainda abrigam parte
importante da fauna brasileira, com capacidade de abrigar algumas espécies de pequenos
mamíferos. Desta forma é crucial que sejam conservadas. Os monitoramentos de fauna
nestes remanescentes de mata, assim como o presente trabalho, são de grande valia para
estratégias de manutenção e preservação das espécies no Campus Fernando Costa, sendo
necessária a aplicação de estratégias de conservação, como as apresentações utilizadas.

REFERÊNCIAS
[1] Peres, C. A. 1990. Effects of hunting on western Amazonian primate communities.
Biological Conservation, Volume 54, pp. 47-59.
[2] Cullen Junior, L.; Bodmer, R.E.; Pádua, C.V. 2001. Ecological consequences of
hunting in Atlantic forest patches, São Paulo, Brazil. Oryx, Volume 35, n.2, pp. 1-8.
[3] Moro, M.E.G.; Carrer, C.R.O.; Pereira da Silva, E.M. 2004. Diversidade de espécies
silvestres encontradas no Campus da USP de Pirassununga – SP. In: the Proceedings do
Encontro sobre Animais Selvagens, 3, Poços de Caldas – MG.
[4] Neer, S.. 2001. Inferring speciation rates from phylogenies. Evolution, Volume 55,
n. 4, pp. 661-668.
[5] Talamoni, S. A.; Motta-Junior, J. C.; Dias, M. M. 2000. Fauna de mamíferos da
Estação ecológica de Jataí e da Estação Experimental de Luiz Antônio. Estudos
integrados em ecossistemas, Estação Ecológica de Jataí, Volume 1, pp. 317-329.
[6] Ribeiro, R.; Marinho Filho, J.. 2005. Estrutura da comunidade de pequenos
mamíferos (Mammalia, Rodentia) da Estação Ecológica de Águas Emendadas,
Planaltina, Distrito Federal, Brasil. [7] Pardini, R.; Umetsu, F.. 2006. Pequenos
mamíferos não-voadores da Reserva Florestal do Morro Grande: distribuição das espécies
e da diversidade em uma área de Mata Atlântica. Biota Neotrop. [online]. Volume 6, n.2.
[8] Junior, V. C.; Leite, Y. L. R.. 2007. Uso de habitats por pequenos mamíferos no
Parque Estadual da Fonte Grande, Vitória, Espírito Santo, Brasil. Boletim do Museu de
Biologia Mello Leitão, Volume 21, pp. 57-77.

197
[9] Lessa, G. et al. 1999. Caracterização e monitoramento da fauna de pequenos
mamíferos terrestres de um fragmento de mata secundária em Viçosa, Minas Gerais. Bios,
Volume 7, n. 7, pp. 41-49.
[10] Andren, H.. 1994. Effects of habitat fragmentation on birds and mammals in
landscapes with different proportions of suitable habitat: a review. Oikos, pp. 355-366.
[11] Calaça, A. M. 2009. A utilização da paisagem fragmentada por mamíferos de médio
e grande porte e sua relação com a massa corporal na região do entorno de Aruanã, Goiás.
Dissertação (Mestrado em ecologia) Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
[12] Briani, D. C. et al. 2001. Mamíferos não-voadores de um fragmento de mata mesófila
semidecídua, do interior do Estado de São Paulo, Brasil. Holos environment, Volume 1,
n. 2, pp. 141-149.
[13] Gheler-Costa, C.; Verdade, L. M.; Almeida, A.F. de. 2002. Mamíferos não-voadores
do campus" Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, Brasil. Revista
Brasileira de Zoologia, Volume 19, n. 2, pp. 203-214.

198
Capítulo 13

Plano Diretor Socioambiental


Participativo do campus de
Pirassununga da
Universidade de São Paulo

Tamara Maria Gomes


Patricia Risa Iwanaga
Maria Estela Gaglianone Moro
Ana Cristina Machado Vasconcelos
Ednelí Soraya Monterrey- Quintero

199
Tamara Maria Gomes
Graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (1994), mestrado em Agronomia (Irrigação e
Drenagem) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (1998) e doutorado em Agronomia (Irrigação e Drenagem) pela
Universidade de São Paulo (2001). Participou do programa de Pós
Doutorado da Universidade de São Paulo no período de 2007 a 2010,
para desenvolvimento de pesquisas dentro do tema “Utilização de
Efluentes de Estação de Tratamento de Esgoto na Agricultura”.
Também participou de 2009 a 2011 como auditora do programa de
certificação agrícola para recomendação do selo Rainforest Alliance.
Desde 2011 é professora doutora da Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos no curso de Engenharia de Biossistemas da
Universidade de São Paulo, campus Pirassununga/SP e a partir de
Jul/2017 está como assessora técnica da Superintendência de Gestão
Ambiental/USP. Orienta na Pós-Graduação da ESALQ/USP no
programa de Engenharia de Sistemas Agrícolas. Tem experiência na
área de Irrigação e Drenagem, trabalhando com elaboração,
implantação e avaliação de projetos de irrigação, além de assistência
nas áreas afins como: manejo de irrigação e fertirrigação, gestão do
recurso hídrico e reuso agrícola. E-mail: [email protected]

Patricia Risa Iwanaga


Engenheira de Biossistemas formada pela Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos. Foi estagiária da Superintendência de Gestão
Ambiental da USP, ano de 2018, na elaboração do Plano Diretor
Socioambiental do Campus “Fernando Costa”, em Pirassununga.

200
Maria Estela Gaglianone Moro
Graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias (FCAVJ) da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Mestre em Genética e Melhoramento Animal pela
FCAVJ da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Doutora em Zootecnia pela FCAVJ da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho. Bolsista do Programa Jovem Pesquisador
FAPESP na FMVZ/USP. Pós Doutorado na FMVZ/USP. Professora da
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - FZEA -
Universidade de São Paulo. Áreas de atuação Animais Silvestres,
Apicultura, Meio Ambiente.

Ana Cristina Machado Vasconcelos


Técnica do Laboratório de Biossistemas na Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos (FZEA-USP). Bacharel em Gestão
Ambiental pela Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH-
USP). E- mail [email protected]

Ednelí Soraya Monterrey- Quintero


Instituição: Prefeitura do Campus USP Fernando Costa Formação:
Engenharia de Alimentos, Especialista em Formação de Agentes Locais
de Sustentabilidade Sócio-Ambiental Destaques de Atuação: Gestão
ambiental integrada no Campus USP Fernando Costa, Membro da
Comissão do Programa USP Recicla. E-mail [email protected].

201
INTRODUÇÃO
A Política Ambiental (PA) da Universidade de SãoPaulo (USP), assinada em 11 de
janeiro de 2018 por meio da Resolução N° 7465, tem a finalidade de conduzir e legitimar
as ações sustentáveis em todos os campi da USP no tocante à preservação, à conservação
e ao uso racional dos recursos naturais[1].
A Política aborda 11 diferentes temáticas, sendo estas: administração; águas e
efluentes; áreas verdes e reservas ecológicas; edificações sustentáveis; educação
ambiental; emissões de gases de efeito estufa e gases poluentes; energia; gestão fauna;
mobilidade; resíduos; uso e ocupação territorial. E um dos instrumentos desta Política
são os planos diretores ambientais, no âmbito dos campi.
Em consonância com a Política, formou-se uma Comissão Técnica de Gestão
Ambiental para a elaboração do Plano Diretor Socioambiental Participativo do campus
Fernando Costa (PDSAP – FC).
O campus USP Fernando Costa, localizado no interior do estado de São Paulo,
apresenta 2.269 ha de área total das quais 38% são destinadas à reserva ecológica.
O campus surgiu em 1989, apartir da integração entre a Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP e a Escola Prática de Agricultura Fenando
Costa, que já existia no mesmo local desde 1945. Atualmente, o campus reúne 3
unidades: a Prefeitura do campus USP (PUSP), a FMVZ e a Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos (FZEA), criada pela Resolução USP N° 3946 de 3 de julho de
1992.
A PUSP é o órgão responsável pela administração e manutenção da infraestrutura do
campus. Já a FMVZ e a FZEA são unidades de ensino e pesquisa, responsáveis por
oferecerem cursos de graduação em Engenharia de Alimentos, Engenharia de
Biossistemas, Medicina Veterinária e Zootecnia, além do oferecimento de diversos
cursos de pós-graduação. Essas unidades juntas contemplam em torno de 2086 pessoas.
Assim, em agosto de 2017, iniciaram as atividades para diagnosticar a situação atual
do campus, para elaboração PDSAP-FC.

PLANO DIRETOR SOCIOAMBIENTAL PARTICIPATIVO-


PDSAP
A elaboração do PDSAP está sendo conduzida de forma participativa, por meio de
grupos de trabalhos (GTs), nas diferentes temáticas propostas pela PA da USP. A
formação inicial dos GTs foi realizada por convite via internet a toda comunidade
interna, totalizando 123 participantes. A Tabela 1 apresenta a adesão dos participantes
nos diferentes GTs.

202
Tabela 1. Participação nos GTs para elaboração do PDSAP do campus de
Pirassununga, por categoria: docente (D), servidor técnico administrativo (STA) e
aluno (A)
Grupo de Categoria Nº por Nº Total de
Trabalho Categoria Participantes
D 4
AE 18
STA 2
A 12
D 1
R 17
STA 7
A 9
D 1
ES, UOT, M 21
STA 12
A 8
D 5
GF, AVRE 23
STA 4
A 14
D 2
A 17
STA 7
A 8
D 1
EA 11
STA 6
A 4
D 1
EGEEGP 10
STA -
A 9
D 2
E 6
STA -
A 4
AE=Águas e Efluente, R=Resíduos, ES=Edificações Sustentáveis, UOT=Uso e Ocupação
Territorial, M=Mobilidade, GF=Gestão da Fauna, AVRE=Áreas Verdes e Reservas Ecológicas,
A=Administração, EA=Educação Ambiental, EGEEGP=Emissões de Gases do Efeito Estufa e Gases
Poluentes, E=Energia. Fonte: Própria.

203
Todas as informações levantadas, assim como as memórias das reuniões,
encaminhamentos e material fotográficos foram armazenados e compartilhados por
meio da Plataforma Tidia AE versão 4.0, estruturados em pastas por GTs, de forma a
facilitar o acesso a informação.

Diagnóstico
A seguir são apresentadas as principais ações realizadas para compor o diagnóstico
da situação atual do campus de Pirassununga.
a) Elaboração deMapas
Para melhor compreensão do espaço físico e das atividades desenvolvidas no
campus de Pirassununga foram elaborados mapas, por meio da ferramenta Google
Earth, relacionados a: redes de infraestrutura (saneamento, água, dados, energia,
ciclovias, sistema viário); uso e ocupação do solo (uso do solo, jardins / gramas);
reservas e cadastros legais (reservas USP, Figura 1), declaração INCRA); condições
geográficas (declividades, aptidão do uso do solo) e áreas construídas (cadastro de
edificações, interesse cultural, lugares de reuniões e aulas).

Figura 1. Mapa do Campus de Pirassununga, com pontos que definem os limites das
Reservas ecológicas. Fonte: Adaptado do Google Earth.

b) GT Resíduos Sólidos

A temática de Resíduos foi incialmente dividida em subgrupos de acordo com a


discriminação de resíduos realizados no campus, sendo estes: recicláveis; químicos e
biológicos; agropastoris; eletrônicos e automotivos. O levantamento dos resíduos foi
realizado a partir de contatos à distância (telefone e e-mail) e contato presencial,
obtendo-se informações, como quantidade, local gerado, destinação dos resíduos

204
(Tabela 2).
O levantamento finalizado foi satisfatório quanto ao controle e à destinação da
maioria dos resíduos gerados no campus, sendo os próximos passos, a classificação
destes resíduos e a definição das diretrizes e metas para redução, reutilização e
reciclagem.

Tabela 2. Parte do Inventário de resíduos sólidos do Campus de Pirassununga

Tipo de Resíduo Quantidade gerada Destino


Químico e Biológico 23,3 toneladas/ano Empresa Terceirizada

Informática 163 unidades/ano Projeto Social-


Recicratesc
Ração animal;
compostagem; Fertilização
Agropastoril 1103 toneladas/ano
de lavouras e pastos.
Fonte: Própria

De acordo com a Tabela 2 é possivel verificar que o resíduo agropastoril, gerado em


quantidade excepcional devido à maioria das atividades no campus serem voltadas à produção
agropecuária, tem sua destinação correta, aproveitando-se ao máximo a sua utilização, como a
palha do milho empregado para o plantio direto, o esterco e camas de aviários para fertilização
do pasto.

c) GT Administração e Emissões de Gases de Efeito Estufa e Gases Poluentes

Os grupos de Administração e Emissões de Gases de Efeito Estufa e Gases Poluentes


dividiram-se em 3 subgrupos, sendo cada subgrupo responsável em coletar informações de
cada unidade (FZEA, FMVZ ou PUSP), presente no campus.
O GT Administração realizou o estudo do Plano Diretor Ambiental do campus de Piracicaba
e, posteriormente, realizou o levantamento dos contratos efetuados pelas unidades,
identificando e analisando a presença de cláusulas relacionadas à sustentabilidade.
O levantamento realizado pelo grupo de Emissões foi para um histórico de 5 anos, entre
2013 e 2017, divido em 3 setores: combustível: coleta da quantidade total gasta de combustível
(diesel, etanol e gasolina), por cada unidade; agricultura: quantificação das áreas utilizadas em
práticas agrícolas, a cultura produzida, tipo e quantidade de insumos aplicados; pecuária:
quantificação de animais. A partir destes levantamentos e utilizando equações especificas para
cada setor, será possível estimar a quantidade de gases emitidos no período de 2013 a 2017.

d) Questionário on line
Foi elaborado questionário online, com auxílio da ferramenta Google Forms, com a

205
finalidade de responder questões de pontos ainda desconhecidos do diagnóstico, nas
diferentes temáticas.
A partir do questionário finalizado, avaliou-se o tempo gasto para responder todas
as perguntas, selecionando alguns funcionários e alunos para respondê-lo. Assim, o
questionário foi liberado no e- mail USP da comunidade no dia 04 de maio de 2018,
com replica por 3 semanas.
O questionário teve amostragem significativa de 10% de todo o público alvo (235
pessoas), sendo que metade dos participantes foram alunos (Figura 2). Os resultados
foram importantes para conhecer o perfil da comunidade interna do campus, por meio
de questões relacionadas às suas atitudes e percepções relacionadas as diferentes
temáticas abordadas pela Política Ambiental da USP.

Figura 2. Porcentagem de pessoas, por categoria, participantes do questionário. Fonte:


Própria.

206
Figura 3. Porcentagem de pessoas, por unidade (Faculdade de Zootecnia e Medicia
Veterinária-FMVZ, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos-FZEA e
Prefeitura-PUSP), participantes do questionário. Fonte: Própria.

Figura 4. Porcentagem de pessoas, por curso de graduação e pós-graduação (Faculdade


de Zootecnia e Medicia Veterinária-FMVZ, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos-FZEA), participantes do questionário. Fonte: Própria.
A Tabela 3 apresenta algumas das perguntas realizadas no questionário especificamente
aos docentes.

207
Tabela 3. Perguntas realizadas aos docentes
O(s) curso(s) de graduação em que você leciona contribui(em) para a formação
socioambiental dos estudantes?
Grau de N° de
relação docentes
1 (nada) 2
2 5
3 13
4 8
5 (muito) 8
sem 1
resposta
A(s) pesquisa(s) que você desenvolve relaciona(m)-se com a área ambiental?
Grau de N° de
relação docentes
1 (nada) 6
2 7
3 12
4 7
5 (muito) 4
sem 1
resposta

Fonte: Própria.
Outras perguntas, ao público em geral, em diferentes temáticas são apresentadas na
Tabela 4.
Tabela 4. Perguntas do questionário e quantidade de respostas para diferentes
temáticas, ao público interno do Campus

Você já presenciou alguma infração à fauna e flora no campus?


Resposta Número de pessoas
Nenhum/ não relatou nada 133
Atropelamento 83
Violência aos animais 16
Desmatamento 25
O que você acha que faz parte do meio ambiente aqui no Campus?
Resposta Número de pessoas

208
Tudo 144
Árvores 87
Lagos/lagoas 87
Córrego 68
Animais silvestres 86
Animais domésticos e de criação 57
Solo/campos/ áreas cultivadas 79
Matas/ APPs/Reserva legal 83
Clima/ Temperatura 74
Ar 74
Área de vivência 37
Pessoas 36
Carros 13
Prédios 13
Resíduos/esgoto 42
sem resposta 3
Dentre os programas de gestão de resíduos sólidos no campus, qual você tem conhecimento?
Resposta Número de pessoas
Coleta seletiva 118
Nenhum 7
USP na escolinha 144
Coleta de pilhas e baterias 151
Resíduos biológicos 104
Resíduos informática 54
Resíduos agropastoris 15
Resíduos de construção civil 15
Qual(is) local(is) você reconhece como espaço de interesse histórico e/ou arquitetônico?
Resposta Número de pessoas
Prédio Central e entorno 140
Portaria antiga 119
Antigo ginásio - UNICETEX 103
Campus inteiro 91
Arquibancada e antigo parque de exposições 102
CAEPE (FMVZ) 54

209
Traçado viário do campus 17
Centro de eventos 4
Nenhum 1

Fonte: Própria.

Dentre os outros resultados da pesquisa, também foi possivel verificar, que


aproximadamente 60% das pessoas que responderam ao questionário utilizam algum
automóvel para acessar o campus, isso acontece pelas distâncias envolvidas para
deslocamento e devido aos poucos horários de funcionamento do circular interno, que
levam a comunidade dependerem de condução própria para maior agilidade e conforto.

CONCLUSÃO
O plano diretor socioambiental paticipativo do campus ”Fernando Costa”,
município de Pirassununga, está sendo elaborado, em consonância com a Politíca
Ambiental da USP, considerando suas especificidades locais.
Os GTs estão finalizando a fase do diagnóstico e devem seguir para fase de análise
crítica dos dados, para construção das diretrizes, metas de curto, médio e longo prazo,
assim como os indicadores de acompanhamento.
Espera-se que o documento final seja um guia para as futuras gestões. O maior
desafio encontrado até o momento está relacionado à motivação dos participantes, cuja
participação é voluntária e se dá em um cenário econômico brasileiro, muito pouco
favorável.

REFERÊNCIAS
[1] Universidade de São Paulo, jan/2018. Resolução Nº7465, Política Ambiental da
Universidade de São Paulo. Disponível em:
http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-7465-de-11-de- janeiro-de-2018.

210
Capítulo 14

Práticas Sustentáveis promovidas


pela Coordenação de Meio
Ambiente da Prefeitura da UFRJ

Paulo Mario Ripper


Celso José da Silva Almeida
Carmen Odette Antinarelli
Janete da Silva Moreno Martins
Vinicius Almeida

211
Paulo Mario Ripper
Prefeito da Universidade Federal do Rio de Janeiro no período de 2015 a
2019. Vice-prefeito da UFRJ entre os anos de 2011 a 2015. Assessor do
Gabinete do Prefeito da UFRJ no período de 2006 a 2011, Sub-prefeito
do Centro da Cidade-PU/UFRJ de 2002 a 2006 e Sub-prefeito do campus
da Praia Vermelha-PU/UFRJ de 1998 a 2002. Possui 32 anos de
experiência no planejamento, acompanhamento e gestão de obras em
engenharia civil. Possui formação técnica de nível medio em Edificações
pelo &quot;CEFET-RJ/CSF&quot; (1987), Graduação em Engenharia
Civil pela Universidade Veiga de Almeida-UVA (2002), Pós-Graduação
(Especialização) incompleta em Engenharia de Segurança no Trabalho
pela UFRJ (2004), Pós-Graduação (Especialização) em Engenharia
Sanitária Ambiental pela UFRJ (2009) e Mestrado em Engenharia Urbana
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Exerce ainda
atividades de coordenação de equipes, suporte e apoio em planejamento,
controle e execução de obras civil e manutenção predial na Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Possui experiência suplementar na área de
gerenciamento de obras e planejamento, bem como em logística urbana e
gestão de cidades.

Janete da Silva Moreno Martins


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Doutora em
Humanidades, Artes e Ciências da Educação pela Universidade Nacional
de Rosário (ARG),Gestora Ambiental pela Escola Politécnica da
UFRJ/Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente(PNUMA).
Licenciatura Plena em Administração e em Docência do Ensino Superior
pela Universidade Cândido Mendes, Graduada em Administração e
Ciências Contábeis. Possui experiência em implantação,
desenvolvimento e coordenação de projetos socioambientais. Educação
Ambiental, Escola Sustentável, Parceria Público Privada em Educação;
Implantou a Agenda Ambiental na Decania do Centro de Tecnologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente exerce suas
atividades profissionais como Diretora de Gestão Ambiental na
Coordenação de Meio Ambiente da Prefeitura Universitária da UFRJ,
onde coordena projetos de extensão e desenvolvimento, entre eles:
Projeto de Conscientização e Mobilização no Controle e Combate ao
mosquito Aedes aegypti e a Agenda Ambiental da Prefeitura
Universitária da UFRJ. É a Coordenadora responsável do GreenMetric
World University Rankings, na UFRJ; Membro efetivo do Comitê Gestor
do Fórum Ambiental da UFRJ. Áreas de interesse: Meio Ambiente,
Educação, Educação Ambiental, Gestão Ambiental, Políticas Públicas,
Desenvolvimento para a Sustentabilidade e Gestão Pública.

212
Vinícius do Santos Almeida
Mestre em Arquitetura Paisagística pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro , graduado em Paisagismo pela Escola de Belas Artes,
UFRJ. Atua como paisagista desde 2011 participando da idealização e
construção de projetos de diferentes programas e escalas, como
residenciais, comerciais, institucionais e urbanos. Tem experiência
prática em manutenção e plantio, tendo atuado na iniciativa privada e
hoje na Prefeitura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Co-autor
dos livros "Arquitetura Paisagística: Quatro Paisagens, Quatro
Narrativas" e "Arquitetura Paisagística: Arte, Natureza e Cidade" pela
editora RioBooks. Colaborador do GreenMetric World University
Rankings, na UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
E-mail: [email protected]

213
HISTÓRICO
Pesquisa desenvolvida por Antônio José de Oliveira no Programa de História
Comparada do IFCS/UFRJ percorre o período de 1935 a 1955, fase dos debates que
antecederam a construção da Cidade Universitária.
A decisão de erguer, conforme a Lei nº 447, de 20/10/1948, uma monumental Cidade
Universitária em área ser formada a partir da unificação de nove ilhas; por meio de
aterros, mas notadamente por desmonte do relevo das ilhas originais, que era bastante
acidentado, nivelando a superfície e integrando as ilhas, sendo uma delas a do Fundão,
foi o capítulo final de uma série de discussões travadas desde a década de 1930. Não se
tratava apenas de oficializar a localização geográfica do campus universitário, mas de
detalhar seu funcionamento e as unidades que comporiam a “ilha universitária”.
A escolha pelo arquipélago aterrado, próximo ao bairro de Manguinhos, à época uma
região com baixa densidade populacional, deu por encerrado debate que se arrastava havia
pelo menos dez anos, desde a reforma de Gustavo Capanema.
Descartado o bairro da Urca, na Zona Sul da cidade, o projeto de construção da Cidade
Universitária voltou-se para os arredores da Quinta da Boa Vista, área mais ampla e
localizada na região central da cidade.
Arquitetos do exterior foram convidados a elaborar o plano, dentre eles Marcello
Piacentini, responsável pela construção do campus da Universidade de Roma durante o
governo de Benito Mussolini, e Le Corbusier (nome profissional de Charles Edouard
Jeanneret-Gris), cujas obras influenciaram diretamente os arquitetos brasileiros Lúcio
Costa e Oscar Niemeyer. Eles vieram ao Brasil, respectivamente, em agosto de 1935 e
julho de 1936. O próprio Lúcio Costa chegou também a elaborar projetos de criação da
Cidade Universitária na região da Quinta. Outras áreas foram cogitadas para abrigá-la:
Lagoa Rodrigo de Freitas, Gávea, Niterói, Manguinhos e Vila Valqueire.
A definição pela Ilha do Fundão foi alvo de questionamentos por parte de professores,
políticos, engenheiros e arquitetos. O trabalho do Escritório Técnico da Universidade do
Brasil (Etub), sob a coordenação do engenheiro Luiz Hildebrando de Horta Barbosa,
concluiu que a “ilha universitária” era o local mais adequado em razão da área disponível
– em torno de 5 milhões de metros quadrados –, da localização e dos custos de
desapropriação, dentre outras variáveis. A avenida Brasil, Inaugurada em 1946, era um
importante polo de desenvolvimento. Além disso, a Ilha do Governador passava por
transformações urbanas importantes, como a construção da infraestrutura aeroportuária.
(https://ufrj.br/noticia/2015/10/22/desmistificando-cidade-universit-ria)
As nove ilhas, localizadas na parte noroeste da baía de Guanabara, antes do aterro,
depois do aterro e aspecto atual, conforme ilustrado nas Figuras 1 a 3.

214
Figura 1. Antes (Fonte: Arquivo da Prefeitura Universitária da UFRJ)

Figura 2. Depois do Aterro (Fonte: Arquivo da Prefeitura Universitária da UFRJ)

Figura 3. Aspecto Atual (Fonte: Google em 22/11/2018)

Sobre a Prefeitura Universitária


A Prefeitura Universitária da UFRJ está localizada no campus Fundão e, neste campus,
tem sob sua administração, cerca de 4,6 milhões m2.Também, sob sua administração,
existem diversos campi, conforme
destacados na Tabela 1.

215
Tabela 1. Campi sob a coordenação da Prefeitura da UFRJ
CAMPI UNIDADE ÁREA (M²)

POLO UNIVERSITÁRIO 16.993,56

NUPEM 14.463,86
MACAÉ
POLO AJUDA 9.576,22

HPM 5.588,00

CABO FRIO IPUFRJ 22.237,17

POLO XERÉM 2.060,35


DUQUE DE CAXIAS
POLO SANTA CRUZ DA SERRA 118.221,00

PRAIA VERMELHA PRAIA VERMELHA 89.610,83

TOTAL 287.750,99

Sobre a Coordenação de Meio Ambiente (COMA)


A sede da Prefeitura Universitária da UFRJ está localizada na parte oeste do campus
Fundão. Lá, em uma área de 27.000 M2, está o seu Horto que, por sua vez, abriga a sede
da Coordenação de Meio Ambiente.
Figura 4. Estrutura e atribuições da COMA

Coordenação de
Meio Ambiente
COMA

Divisão de Divisão de Gestão


Manutenção Urbana Ambiental

-Manutenção de Áreas -Educação Ambiental


Verdes
-Legislação Ambiental
-Limpeza Urbana
-Agenda Ambiental da ADM.
-Coleta de Resíduos
Pública (A3P) – Prefeitura
Universitária

216
A Prefeitura realiza inúmeras melhorias em sua infraestrutura do Horto com o objetivo
de atender plenamente as demandas de manutenção das áreas verdes dos campi de forma
sustentável, a partir:
• da economia recursos naturais e financeiros;
• do suporte para projetos de extensões universitária;
• da sensibilização e mobilização da comunidade universitária para as questões
socioambientais;
• da promoção da educação ambiental.

Sobre o Horto da UFRJ – Sede da Coordenação de Meio Ambiente


Melhorias no Horto Universitário ao Longo do Tempo
• Estrutura do Horto/PU (melhor logística)
• Pavimentação Drenante
• Jardins de Chuva/de Infiltração
• Iluminação LED
• Reordenamento da Produção
• Sistema de Coleta de Águas Pluviais
• Irrigação Semiautomatizada
Há projetos realizados em parceria com Petrobrás Petróleo Brasileiro s/a, conforme
destacado na Figura 5.

217
Figura 5 - Esquema de melhorias implantadas desde 2009.
Estrutura do Horto/PU

Figura 6 - Etapas de construção de edificações (laboratórios e Centros de Pesquisa)

218
Figura 7 – Etapa de Construção: Viveiros e estufas.

Figura 8. Esquema de distribuição da Pavimentação Drenante e Jardins de Chuva

219
Figura 9 - Etapas de construção da Pavimentação Drenante

Figura 10 – Pisos Permeáveis e Jardins de Chuva

220
Iluminação por LED

Figura 11 – Iluminação com lâmpadas LED

Reordenamento dos locais de produção

Figura 12 – Nova distribuição dos locais de produção

221
Figura 13 – Estufas para produção de mudas para manutenção da vegetação de
campus

Figura 14 – Compostagem para produção de terra para manutenção do campus

222
Figura 15 – Produção de hortaliças – Horta Coletiva

Tabela 2. Dados Quantitativos-Produção em 2015/2016

223
Tabela 3. Valores anuais de Produção em 2017/2018
Produto Quantidade/Unidade Valor de mercado
Terra Vegetal 240m³ R$ 30.300,00
Mudas 240.000 R$ 500.000,00
Total Valor de mercado R$ 530.300,00

Sistema de Coleta de Águas Pluviais e Irrigação Semiautomatizada


O sistema capta precipitação pluviométrica por meio de dispositivos instalados em
edificações existentes no Horto. As águas fluem para caixas de filtragem fabricadas com
blocos de concreto, com duas visitas, contendo grade e britas com granulometrias para
limpezas de folhagem e galhos. Passa, ainda, por uma última fase de filtragem, antes do
armazenamento em cisternas, a fim de eliminar resíduos não retidos pelos filtros
anteriores.
A água já filtrada é armazenada em 04 cisternas de 5.000 litros cada (20.000 litros)
localizadas abaixo do nível do solo. A partir daí, são impulsionadas por bombas para o
Sistema de irrigação do Horto (Figura 16) e para abastecer caminhões que operam a
manutenção da cobertura vegetal por todo o campus.
Em 12 meses (outubro/2017 – setembro/2018), foram captados e utilizados cerca de
820.000 litros de água correspondentes, em termos econômicos, a 18.400,00 reais
economizados. Estes valores sinalizam amortização total do investimento em novembro
de 2021.

Irrigação Semiautomatizada

Figura 16 – Esquema de Irrigação e reuso de águas pluviais.

224
Figura 17 - Esquema geral de captação e armazenagem de águas de chuva

Componentes do Sistema

Figura 18 - Componentes de cada fase.

225
Projetos e Ações da Coordenação de Meio Ambiente
Em 2016, primeiro ano da gestão do atual prefeito, foi criada a Coordenação de Meio
Ambiente da Prefeitura Universitária da UFRJ. Depois de assentada sua atual estrutura, a
Coordenação de Meio Ambiente (COMA) resolveu que a melhor forma de estabelecer
seu planejamento seria através do levantamento das demandas operacionais e de projetos
já instalados no Horto.
A Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), iniciada formalmente em 2012,
já havia reconhecido e produzido relatórios de uma série de situações ligadas ao tema
ambiental que careciam de atenção e apoio à decisão da direção.
A situação político/econômica do país levou a direção da PU a priorizar os
projetos/iniciativas que demandassem pouca ou nenhuma aplicação financeira. Dessa
forma, alguns projetos foram adiados ou não implementados.
Foi necessário o replanejamento para enfrentar a conjuntura vigente e as emergências
que apareciam, o que resultou no conjunto de atividades demonstrado no Quadro 1.
Quadro 1. Projetos e ações socioambientais anos 2015 e 2016

226
Capítulo 15

Avaliando a arborização urbana


no Campus de São Carlos da
Universidade Federal de São
Carlos: ações para uma
Universidade Sustentável

Raquel Stucchi Boschi


Gabriela Strozzi
Roberta Sanches
Caroline Costa Bonato
Vitória Albuquerque Bueno
Marcelo Nivert Schlindwein

227
Raquel Stucchi Boschi
Graduada em Engenharia Agronômica pela UFSCar, doutora em
Engenharia Agrícola pela UNICAMP (2014), com pós-doutorado na
Embrapa Informática (2015) e no Departamento de Ciências do Solo da
USP/Esalq (2016-2017). Atualmente, é Engenheira Agrônoma pela
Secretaria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade – SGAS, UFSCar,
trabalhando com produção de mudas florestais, restauração ecológica e
gestão ambiental. As áreas de interesse incluem ciência do solo,
restauração ecológica e modelagem numérica. E-mail:
[email protected]

Gabriela Strozzi
Possui graduação em Engenharia Agronômica (2010) pela Universidade
Brasil, Pós-Graduação em Gestão Ambiental e Sustentabilidade (2013)
pela UNINTER, mestrado (2014) e doutorado (2018) em Ciências com
área de concentração em Produtividade e Qualidade Animal, pela USP.
Atualmente, é Técnica em Agropecuária na, UFSCar, Secretaria de
Gestão Ambiental e Sustentabilidade, autuando na produção de mudas
florestais, manejo das áreas verdes do campus, gestão ambiental e
arborização urbana. E-mail: [email protected]

Roberta Sanches
Graduação em Administração (2005), pós-graduação em Gerenciamento
Ambiental (2007), ambas pela UNICEP, além de mestrado (2011) e
doutorado (2016) em Ciências da Engenharia Ambiental pela USP.
Desenvolve estudos na área de ciências ambiental, com temas
relacionados à gestão ambiental pública e empresarial, com ênfase em
licenciamento ambiental. Atualmente é Técnica Administrativa na
Secretaria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade - SGAS, UFSCar. E-
mail: [email protected]

228
Caroline Costa Bonato
Graduação em Administração (2005), pós-graduação em Gerenciamento
Ambiental (2007), ambas pela UNICEP, além de mestrado (2011) e
doutorado (2016) em Ciências da Engenharia Ambiental pela USP.
Desenvolve estudos na área de ciências ambiental, com temas
relacionados à gestão ambiental pública e empresarial, com ênfase em
licenciamento ambiental. Atualmente é Técnica Administrativa na
Secretaria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade - SGAS, UFSCar. E-
mail: [email protected]

Vitória Albuquerque Bueno


Bacharel em Gestão e Análise Ambiental pela UFSCar. Atuou como
membro da Comissão de Eventos e Esportes do Centro Acadêmico Livre
da Gestão e Análise Ambiental – UFSCar por 2 anos. Foi estagiária por 6
meses na Secretaria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS) da
UFSCar, onde realizou atividades como a avaliação quantitativa e
qualitativa de árvores, e condução de experimentos. Atualmente está
cursando Nutrição pela UNICEP, e estagiando no Armazém Daíza. E-
mail: [email protected]

Marcelo Nivert Schlindwein


Bacharel em Ciências Biológicas pela UFSC (1987), mestrado (1991) e
doutorado (1996) em Ciências Biológicas (Zoologia) pela UNESP
(1991). Foi Professor de Juiz de Fora, UFLA, UNIMEP e UNIARA.
Participou da elaboração do projeto e fez parte da Coordenação do Curso
Especial Agronomia (UFSCar/INCRA-PRONERA). Atualmente é
Professor Associado I da UFSCar, orientando no Programa de Mestrado
em Conservação de Fauna (UFSCar/Fundação Zoológico de São Paulo)
e no Programa de Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural.
Atuou como assessor didático-científico dos cursos de Biologia na
UEMT em projetos de Formação de Professores na área de Biologia.
Tem experiência didática na área de Ecologia, Evolução e Zoologia,
atuando nos seguintes temas: ecologia comportamental, agroecologia,
etnoecologia e evolução do comportamento. Atualmente ocupa o cargo
de Secretário de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da UFSCar. E-
mail: [email protected]

229
INTRODUÇÃO
Pensar a sustentabilidade implica na conservação de biodiversidade e no equilíbrio do
meio ambiente, no reconhecimento da democracia, da importância da participação social
e da diversidade cultural e política, e na formulação de uma reflexão a respeito do
conhecimento, saber, educação, capacitação e informação da cidadania. E diante desse
contexto, observa-se o papel essencial das universidades, como instrumentos para
promover o debate a respeito do desenvolvimento sustentável e difundir a transformação
social (FINLAY e MASSEY, 2012; RODRIGUES, et al. 2009). Deste modo as
Instituições de Ensino Superior (IES) ocupam uma posição de destaque no que diz
respeito à disseminação de conhecimento, desenvolvimento de metodologias, formação
de opiniões e incorporação de técnicas inovadoras ao cotidiano da sociedade, objetivando
alcançar o seu desenvolvimento (LEF, 2009).
Poucas universidades conseguiram efetivar um compromisso de caráter sistêmico com
a promoção do desenvolvimento sustentável, principalmente em fatores como a
necessidade de mudança organizacional, a ausência de orçamento específico para as
atividades de gestão ambiental, além da falta de conhecimento e interesse na temática por
parte dos membros da comunidade acadêmica. Nesse contexto, as instituições de ensino
devem destacar-se na busca por não apenas disseminar informações associadas a variável
sustentável, mas também incorporar ações efetivas em seus processos de planejamento e
gestão. Temáticas como eventos sustentáveis, gestão de resíduos, educação ambiental,
consumo consciente, gerenciamento de áreas verdes, plano gerenciamento de riscos
devem estar cada vez mais presentes na gestão socialmente sustentáveis das IES
((RODRIGUES et. al. 2018)
O presente trabalho discute a sustentabilidade ambiental a partir da promoção e a
proteção ambiental das áreas verdes do campus, visando a reversão de danos pela
restauração e recuperação do meio, o controle e manutenção do capital natural,
preservando e conservando os espaços nativos do campus. Como ação preliminar, foi
iniciado um processo de gestão das árvores urbanas disponíveis na área que compõe o
campus de São Carlos.
As árvores urbanas diminuem os impactos ambientais da urbanização, e desempenham
inúmeros benefícios como a melhoria do microclima (BOLUND & HUNHAMMAR,
1999; SILVA et al., 2011; KONG et al., 2014; THOM et al., 2016), redução da poluição
atmosférica e sonora, fornecimento de sombra e de abrigo para animais, redução de custos
com energia (McPHERSON & SIMPSON, 2003), absorção de dióxido de carbono
(McPHERSON et al., 2005; McHALE et al., 2007), aumento da permeabilidade e
diminuição do escoamento superficial (SILVA et al., 2007; McPHERSON et al., 2011;
LIVESLEY et al., 2014; BERLAND et al., 2017), além de apresentar benefícios de ordem
estética e de saúde mental (NOWACK et al., 1998; MILANO & DALCIN, 2000;
SCHALLENBERGER et al., 2010).

230
Diante do atual cenário de mudanças climáticas e crescimento urbano a garantia destes
serviços é cada vez mais urgente. As árvores enfrentam algumas dificuldades nos espaços
urbanos (MULLANEY et al., 2015), como por exemplo, presença de entulhos, solo
compactado, espaço reduzido, danos mecânicos e podas drásticas. A falta de um
planejamento apropriado de arborização pode comprometer os benefícios e ainda causar
transtornos, como danos a rede de fiação elétrica, destruição de calçadas, entupimento em
redes de esgoto, queda de galhos, infestações por doenças e pragas, e acidentes
envolvendo pedestres, veículos ou edificações (ARAUJO, M.; ARAUJO, A., 2016;
MARTINI; GASPAR & BIONDI, 2014; SILVA FILHO et al., 2002).
Para um planejamento adequado é necessário o conhecimento quantitativo e
qualitativo da floresta urbana. Dessa forma, é possível alcançar a permanência dos
benefícios da arborização urbana com baixo risco associado e com redução de custo de
manutenção. A floresta urbana está em constante transformação, uma vez que os
organismos que a constitui tem um ciclo de vida definido. Sendo assim, para que a floresta
urbana seja sustentável ela precisa ser constituída por diversas espécies, com diferentes
tamanhos e idades, para que haja continuidade e permanência dos benefícios oferecidos
(CLARK et al., 1997).
O conhecimento da floresta urbana permite ações planejadas, como por exemplos,
podas periódicas, tratos fitossanitários, substituição de indivíduos problemáticos,
diversificação de espécies, seleção de espécies mais adequadas e até mesmo a expansão
da floresta para áreas com baixo índice de cobertura vegetal. Além disso, é possível
priorizar as ações em função do risco associado, visando mitigar os impactos de possíveis
acidentes. Vale ressaltar que com o planejamento é possível, também, tratar a questão dos
resíduos oriundos das podas e remoções que, geralmente, são subutilizados e apresentam
múltiplos usos (McKEEVER & SKOG, 2003; MACFARLANE, 2009). Modelos para
uma floresta urbana sustentável trabalham com três premissas, que são indivíduos
saudáveis, envolvimento da comunidade e um manejo apropriado e contínuo (CLARK et
al., 1997).
Dessa forma, este trabalho teve como objetivo avaliar quantitativa e qualitativamente
as árvores localizadas nos estacionamentos da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) – campus São Carlos, e definir as áreas de maior risco de acidentes. Estas áreas
foram priorizadas em função do alto fluxo de pedestres e veículos, visando identificar
locais com alto risco de danos materiais ou às pessoas, e oferecer suporte ao manejo das
áreas. Os dados coletados irão compor um banco de dados com informações qualitativas
e quantitativas das árvores do campus, com o intuito de planejamento e gestão da
arborização urbana.

231
MATERIAL E MÉTODOS
A princípio, para avaliar a condição em que as árvores se encontram foi elaborado um
Protocolo (Apêndice 1), com base em Sampaio et al. (2010), Seitz (2006), Silva Filho et
al. (2002) e Schallenberger et al. (2010). O Protocolo proposto abrange aspectos
fitossanitários: se há presença de fungo, cupim e parasitas; e aspectos de risco: galhos
com interferência em rede elétrica, galhos secos, galhos angulados, cavidades, poda
drástica, inclinação do tronco, injúrias mecânicas, espaço permeável, raiz cortada e
proximidade de construções. E para cada aspecto analisado, foram atribuídos valores que
variam de 0 a 5, indicando a intensidade com que cada aspecto está ocorrendo na árvore.
Sendo que quanto mais próximo de 0, menos intenso tal aspecto está ocorrendo, e quanto
mais próximo de 5, mais intenso. Além disso, o Protocolo contém as variáveis; nome
popular, espécie e família de cada indivíduo; e as variáveis quantitativas, altura e diâmetro
a altura do peito (DAP).
Em seguida, todos os estacionamentos da Universidade foram demarcados com o
auxílio de um GPS.
A avaliação de cada árvore foi feita de forma visual em campo, com base no Protocolo
estabelecido e implementado em formato de formulário online da Google. Todas as
árvores avaliadas foram demarcadas com lacre numerado, além disso, foram marcadas
com GPS.
Após o término das avaliações em campo, os formulários foram extraídos e
manipulados no programa Excel®. Primeiramente, foi atribuído peso 2 as variáveis que
comprometem à estrutura das árvores, afetando sua estabilidade e/ou apresentam um risco
mais elevado para as pessoas e propriedades, sendo elas: orifício de cupim, cavidade, raiz
cortada e proximidade de construção.
Por fim, foi feita a somatória dos valores atribuídos as variáveis, e determinado em
qual intervalo que define o risco de queda das árvores cada resultado se enquadra. Para
resultados entre 0 e 17, determinou-se baixo risco de queda; entre 18 e 35, risco
intermediário e de 36 a 52, alto risco.

Resultados e Discussão
Foram avaliadas um total de 1307 árvores presentes nos 38 estacionamentos da
UFSCar – São Carlos. Sendo que, 83 árvores (6%) possuem alto risco de queda, 531
árvores (41%) risco intermediário e 694 (53%) com baixo risco (Figura 1). O
estacionamento 15, localizado em frente ao Anfiteatro Bento Prado Junior, é o que
apresenta o maior número de árvores em condição de alto risco de queda (15 árvores),
seguido do estacionamento de número 6, localizado em frente ao restaurante Pão de
Queijo, o qual apresenta 11 árvores em condição de alto risco.

232
Figura 1. Mapa das árvores inventariadas nos estacionamentos da UFSCar - São
Carlos, com destaque em vermelho para os indivíduos que apresentam alto risco de
queda.

A grande maioria das árvores que se encontram com alto risco de queda (73,49%)
estão localizadas na Área Norte da Universidade, devido ao maior número de árvores,
quando comparado a Área Sul. No entanto, se a análise das áreas for realizada
separadamente, apenas 5,47% das árvores da Área Norte estão comprometidas, enquanto
na Área Sul o valor é de 11,2%. Este dado pode estar relacionado com a idade das árvores,

233
uma vez que a urbanização da Área Norte é mais recente e consequentemente, a maior
parte dos plantios também.
Dentre os problemas mais danosos e frequentes que ocorrem nas árvores com alto risco
de queda do campus, está em primeiro lugar a presença de cupins (Figura 2a) sendo que
85,5% das árvores apresentam este problema, o qual é um indicativo de que a árvore
provavelmente já está comprometida. O outro problema corriqueiro nas árvores com alto
risco de queda é a presença de cavidades no tronco (Figura 2b), a qual atinge 73,5% das
árvores comprometidas, problemas esse que permite a infiltração de água, causando
deterioração da madeira.

(a) (b)
Figura 2. Árvores localizadas em um dos estacionamentos da UFSCar - São Carlos,
SP; a) presença de cupins; b) presença de cavidade no tronco.

Dos 1307 indivíduos avaliados, foram identificados 1153 indivíduos ao nível de


espécie e 154 não tiveram suas espécies identificadas, ficando registrados como “Não
Identificado (NI)”. A arborização urbana dos estacionamentos da UFSCar – São Carlos é
formada por 65 espécies e 25 famílias. Dentre às Famílias, as mais abundantes foram a
Fabaceae com 22 espécies e 479 indivíduos e a Oleaceae com uma espécie e 165
representantes (Figura 3). Entre as espécies identificadas a mais abundante foi a
Caesalpinia pluviosa (nome popular: Sibipiruna) com 236 indivíduos, que representa
20,4% do total. Outras espécies tiverem números de indivíduos significativos, como a
Ligustrum vulgare (nome popular: Alfeneiro) com 165 representantes (14,3%) e a Salix
babylonica (nome popular: Chorão) com 112 indivíduos e 9,7% (Figura 4). As 19
espécies com mais de 10 indivíduos, representam 76% da arborização dos
estacionamentos.

234
A arborização urbana deve ser composta por uma diversidade de espécies, uma vez
que a alta densidade de uma única espécie pode aumentar a ocorrência de pragas e
doenças, principalmente se esses indivíduos estiverem agrupados. De acordo com
Santamour (1990), para uma diversidade de árvores segura contra doenças e pragas, não
se deve plantar mais que 10% de uma mesma espécie, não mais que 20% do mesmo
gênero e não mais que 30% da mesma família. Nos estacionamentos da UFSCar, as
maiores frequências de espécies ultrapassam o valor sugerido por Santamour (1990),
chegando em 14,3% e 20,4%. Assim como, em relação às famílias, em que a maior
frequência chega em 41,5%, o que está acima do proposto.

Figura 3. Número de indivíduos por família encontrados na arborização urbana dos


estacionamentos da UFSCar – São Carlos, SP.

235
Figura 4. Espécies com mais de 10 indivíduos em ordem decrescente encontrados na
arborização urbana dos estacionamentos da UFSCar – São Carlos, SP.

Em relação à origem das espécies, das 66 espécies identificadas, 37 são nativas e 29


são exóticas. Quando avaliado o número de indivíduos, têm-se 60% de árvores nativas
(686) e 40% de exóticas (467). Considerando as 19 espécies com maior número de
indivíduos (Figura 7), têm-se 12 nativas e 7 exóticas, sendo que em número de indivíduos,
tem-se 62% de nativas e 38% de exóticas.
As espécies nativas fazem parte de uma determinada floresta onde uma espécie ajuda
a outra, de diversas formas; são de suma importância como alimento e abrigo para a fauna
nativa, de forma que provém exatamente o alimento que os animais nativos necessitam e
são as árvores nativas que os pássaros nativos procuram para fazer seus ninhos; a relação
entre os nutrientes disponíveis e os nutrientes necessários para a árvore é harmoniosa; e
as espécies nativas são mais resistentes às pragas e doenças, pois já desenvolveram uma
defesa para cada praga da região, diminuindo a utilização de agrotóxicos. Além disso, as
espécies nativas diminuem o risco da introdução de espécies invasoras, as quais podem
causar problemas para a conservação da biodiversidade em uma região.
A altura das árvores e o valor máximo que uma espécie pode atingir é um fator muito
importante para o planejamento de arborização urbana, pois pode conflitar com algumas
infraestruturas urbanas, como edificações, fiação elétrica e iluminação pública. Sendo
este um fator determinante na escolha para o local do plantio, visto que cada espécie tem
um crescimento médio.

236
A altura média da arborização urbana dos estacionamentos da UFSCar foi de 8,15 m,
com altura mínima de 0,5 m e a máxima de aproximadamente 36 m. A Figura 5 apresenta
a média e o desvio padrão da altura para as 19 espécies que apresentaram mais de 10
indivíduos. De acordo com o Manual Técnico de Arborização Urbana de São Paulo,
árvores de pequeno porte apresentam até 5 m de altura, de médio porte entre 5 a 10 m de
altura, e de grande porte acima de 10 m. Dessa forma, 31% das árvores são de pequeno
porte, 42% de médio porte e 27% de alto porte.

Figura 5. Altura média e desvio padrão para as 19 espécies que apresentaram mais de
10 indivíduos nos estacionamentos da UFSCar – São Carlos, SP.

Em relação a medida do Diâmetro a Altura do Peito (DAP), a média foi de 0,31 m,


com máxima de 14,3 m e mínima de 0,0031 m. A Figura 6 mostra que a maior parte dos
indivíduos apresentam um valor baixo de DAP.

237
Figura 6. Diâmetro a Altura do Peito (DAP) e desvio padrão para as 19 espécies que
apresentaram mais de 10 indivíduos nos estacionamentos da UFSCar – São Carlos, SP.
O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de São Carlos (COMDEMA 01/
2012) prevê as medidas compensatórias baseadas na origem da espécie (nativa ou exótica)
e no seu diâmetro a altura do peito. Com a obtenção desses dados e a localização de cada
árvore é possível prever e planejar quais árvores devem ser cortadas e quantas deverão
ser plantadas, como compensação.
Como resultado, obteve-se, ainda um banco de dados com informações qualitativas e
quantitativas da condição das árvores presentes nos estacionamentos do campus da
UFSCar, São Carlos (Figura 7). Por meio do banco de dados construído é possível
identificar todas as informações coletadas, como nome popular, espécie e família de cada
indivíduo; altura e diâmetro à altura do peito (DAP); estacionamentos; número do lacre;
valores atribuídos à cada variável e o nível de risco de queda em que cada árvore se
encontra.

Figura 7. Banco de dados construído com informações qualitativas e quantitativas das árvores
inventariadas nos estacionamentos da UFSCar – São Carlos, SP.

238
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento de políticas ambientais e a incorporação de práticas sustentável à
rotina das IES vêm alterando a forma como as mesmas lidam com a sustentabilidade de
seus campi.
A Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos, seguindo a tendência das
Universidades Sustentáveis, iniciou um processo de incorporação de práticas ambientais
ao seu escopo de atuação com o intuito de incrementar a gestão ambiental do campus. A
internalização pela UFSCar do processo de gestão das árvores urbanas disponíveis na área
do campus de São Carlos compõe as ações iniciais de sustentabilidade da instituição.
Os dados levantados demonstram que a maior parte dos indivíduos inventariados se
encontra, no geral, em boas condições. Porém, as árvores que se encontram
comprometidas apresentam grande ocorrência de cupim e cavidades no tronco. A
realização de um planejamento para determinar ações de controle fitossanitário, a
avaliação dos riscos e a identificação de árvores em estado crítico se tornam necessários,
assim como, o planejamento para os próximos plantios. Tal planejamento também
contribuirá para reduzir a ocorrência de espaços livres deixados por árvores que foram
removidas, mantendo assim um ciclo de plantios, contribuindo para a manutenção da
sustentabilidade nesses ambientes.
Os estacionamentos 15 e 6 foram os que mais apresentaram árvores com alto risco de
queda, demandando maior atenção e um manejo mais adequado a estes locais, evitando a
ocorrência de problemas e acidentes.
A arborização urbana dos estacionamentos da UFSCar – São Carlos apresenta uma
grande riqueza de espécies, no entanto não possui uma boa distribuição da dominância de
algumas espécies. Dessa forma, não se pode dizer que a comunidade arbórea dos
estacionamentos possui uma estabilidade considerável, e riqueza e diversidade de
espécies aconselháveis. Planejar novos plantios, com a introdução de espécies variadas,
resultará em maior diversidade tanto na flora como na fauna, além de diminuir a
incidência de doenças e pragas que são causadas pela baixa diversidade de espécies.
A identificação das espécies quanto sua origem, indicou que a maioria são espécies
nativas, porém a quantidade de espécies exóticas presentes (43%) é significativa, o que
deve ser evitado por não serem adaptadas ao clima local e serem mais suscetíveis a
ataques de pragas e doenças. Outra opção de se minimizar esses problemas, e se manter
a sustentabilidade das espécies, é proceder a coletas de sementes nativas na região da
universidade, visando à confecção de novas mudas e a substituição desse percentual de
árvores invasoras por nativas.
O banco de dados construído com informações qualitativas e quantitativas sobre a
condição das árvores é um facilitador na identificação de áreas com riscos de acidentes,
ou seja, aquelas que possuem árvores com alto risco de queda, de forma que as
autoridades competentes da Universidade têm fácil acesso à essas informações, para o

239
caso de um planejamento de prevenção. Assim como para tomada de decisões,
direcionadas a melhorias das condições das árvores com risco intermediário de queda.
Além disso, informações como a origem das espécies e o DAP dos indivíduos
possibilitam a realização de medidas compensatórias ao retirar as árvores que se
encontram comprometidas.
Os resultados dessa pesquisa mostram que a realização de um inventário da
arborização urbana aliado a um sistema de informação geográfica (SIG), possibilita
realizar a gestão da arborização urbana, ou seja, permite executar um manejo preventivo,
assim como, aperfeiçoar as tomadas de decisões, evitando a ocorrência de problemas,
transtornos e acidentes.
O inventário realizado contribui para a construção da sustentabilidade da universidade,
contribuindo para o mapeamento das áreas, evitando que essas fiquem sem a presença de
exemplares arbóreos. Além disso, a substituição dos indivíduos comprometidos, antes
mesmo de sua remoção, visa promover uma melhor qualidade de vida das pessoas que
frequentam o meio, e esperam do ambiente uma paisagem mais agradável e arborizada,
com maior diversidade de insetos e aves que virão com o aumento da diversidade,
melhora da oferta de alimentos e moradia.
A base de dados construída neste trabalho poderá servir de apoio na elaboração de um
plano de arborização, podendo contribuir para a melhoria da gestão ambiental da UFSCar
para um horizonte de médio e longo prazo.

REFERÊNCIAS
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Agenda Parlamentar. CREA - PR, 2016.
BOBROWSKI, R. Problemas e distinções entre métodos de avaliação da condição geral
de árvores urbanas. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba,
v. 11, n. 2, p. 01 -11, 2016.
COMDEMA. Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente. Resolução
COMDEMA/SC Nº 01/2012. Prefeitura Municipal de São Carlos, 2012.
D.B. McKeever, K.E. Skog. Urban tree and wood yard residues another wood resource
Research note: FPL-RN-0290. USDA Forest Service, Forest Products
Laboratory, Madison, WI (2003). p. 4
FINLAY, J.; MASSEY, J. Eco-campus: Applying the ecocity model to develop green
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Education, v.13, p. 150-165, Apr. 2012.
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240
LEFF, E. Ecologia, Capital e Cultura: a territorialização da racionalidade ambiental.
Editora Vozes: Petrópolis - RJ, 2009.
MARTINI, A.; GASPAR, R.G.B.; BIONDI, D. Diagnóstico da implantação da
arborização de ruas no bairro Santa Quitéria, Curitiba – PR. Revista da Sociedade
Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba, v.9, n.2, p 148-167, 2014.
PSP. Manual Técnico de Arborização Urbana. 2ª Edição ed. São Paulo: Prefeitura da
Cidade de São Paulo, Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, 2005. P. 48.
RODRIGUES, S..C.; CARDOSO, A. C. F. ; SCHLINDWEIN, M. N. . O processo de
construção do plano de logística sustentável (PLS) da Universidade Federal de São
Carlos: uma reflexão crítica.. In: 11 Congresso Internacional de Educação Superior -
Universidad 2018: La Universidad y la agenda 2030 para el desarrollo sostenible, 2018,
Havana. Anais..., 2018, v. 1, p. 187-194.
SAMPAIO, A. C. F. et al. Avaliação de árvores de risco na arborização de vias públicas
de Nova Olímpia, Paraná. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana,
Piracicaba, v. 5, n. 2, p. 82-104, 2010.
SANTAMOUR, F. Trees for urban planting: diversity uniformity, and common sense. 7th
Conference of the Metropolitan Tree Improvement Alliance, v. 7, p. 57-66.
SCHALLENBERGER, L. S. et al. Avaliação da condição de árvores urbanas nos
principais parques e praças do município de Irati-PR. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, Piracicaba, v. 5, n. 2, p. 105-123, 2010.
SEITZ, R.A. Avaliação visual de árvores de risco (AVR). Minicurso In: X XBAU –
CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, Maringá, 2006. Anais...
Maringá, 2006. CD-ROM.
SILVA FILHO, D. F. et al. Banco de dados relacional para cadastro, avaliação e manejo
da arborização em vias públicas. Revista Árvore, v. 26, n. 5, p. 629 - 642, 2002.

241
Capítulo 16

Proposta para implementação da


Política Ambiental da USP no
Campus de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo

Fernanda da Rocha Brando Fernandez


Flavio Pinheiro Martins

242
Fernanda da Rocha Brando Fernandez
Licenciada em Ciências Biológicas (USC, 2000); especialista em Gestão
Ambiental (UFSCar, 2001), mestre e doutora em Educação para a
Ciência (UNESP, 2005; 2010). Livre-docente pela Universidade de São
Paulo (USP, 2018), atualmente é professora associada do Departamento
de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), onde ministra as
disciplinas de Educação ambiental e Metodologia da pesquisa em Ensino
de Biologia e de Ciências no curso de graduação em Ciências Biológicas.
É credenciada no Programa de Pós-graduação em Biologia Comparada
(FFCLRP-USP), onde orienta projetos de mestrado e doutorado na área
de pesquisa "História, Filosofia e Ensino de Evolução e Ecologia"; e no
Programa de Pós-graduação em Ensino das Ciências Ambientais (EESC-
USP), onde orienta projetos de mestrado na área de pesquisa "Ambiente
e Sociedade". Coordena o Laboratório de Epistemologia e Didática da
Biologia (http://www.ledibusp.com.br). Atua junto à Superintendência
de Gestão Ambiental da USP (SGA) como Assessora Técnica e na
FFCLRP-USP como Vice-Presidente da Comissão de Cultura e Extensão
Universitária. Tem interesse de pesquisa em temas como Ensino de
Ciências e Biologia, Epistemologia, Filosofia da Biologia, História da
Ecologia, História Ambiental, Filosofia Peirceana, Sustentabilidade.
E-mail: [email protected].

Flavio Pinheiro Martins


Graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, FEA-RP/USP. Aluno
de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de
Organizações da FEA-RP/USP, área: Inovação e
Sustentabilidade. Atualmente trabalha Superintendência de Gestão
Ambiental da USP (SGA-USP). É membro da Comissão do PRME da
FEA/RP-USP e do Grupo de Trabalho - Sustentabilidade na
Administração, do Campus USP Ribeirão Preto. Tem experiência na área
de licitações e contratos públicos. Pesquisa Políticas Públicas em
Sustentabilidade, Compras Públicas Sustentáveis e Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável. E-mail: [email protected].

243
INTRODUÇÃO
A insustentabilidade do atual modelo vigente torna-se cada vez mais evidente pela
perspectiva do esgotamento dos recursos naturais do planeta, mas também pelo impacto
no bem-estar social, ambiental e econômico das gerações presentes e futuras
(DEDEURWAERDERE, 2013). Tal cenário faz da promoção do desenvolvimento
sustentável um imperativo incontornável.
O planeta não comporta o modelo de desenvolvimento vigente; embora tal anúncio
tenha sido feito há quase meio século, pelo Clube de Roma, a questão não tem sido
abarcada com atenção proporcional e capaz de reverter os danos e impedir que novos
passivos sejam criados e herdados pelas gerações futuras. Dez anos atrás, Lukman &
Glavič (2007), apontavam que a adoção dos princípios do desenvolvimento sustentável
representava um dos principais desafios para a garantia de um mundo melhor para as
futuras gerações; atualmente, a questão não aparenta ser menos desafiadora, não
obstante diversas ações tenham sido deflagradas no âmbito internacional. As
Organizações das Nações Unidas (ONU), tem sido um importante ator nesse cenário,
articulando, por meio de suas diversas instâncias e parceiros, o debate e a ação
articulada entre os atores, em prol da transição para a sustentabilidade. Notadamente, a
promoção da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
frutos de um acordo firmado entre os 193 Estados-membros da ONU no ano de 2015,
mostrou-se um modelo amplo e condizente com a complexidade da questão em escala
global.
Seja por pressões externas ou pela internalização do debate, empresas, governos e
sociedade civil tem promovido, em maior ou menor escala, a transição para o modelo
sustentável, estimulando a criação de regulações e atividades orientadas a produção e
consumo responsáveis.
Dentre os diversos agentes relevantes para o cenário do desenvolvimento
sustentável, as Instituições de Ensino Superior (IES) ocupam um papel crucial na
disseminação de boas práticas socioambientais. Não obstante, enquanto são as
principais responsáveis pela formação ética e técnica de líderes capazes de virar a maré
em prol da sustentabilidade, gestores responsáveis pelo cisalhamento ambiental e social
contemporâneo formaram-se nas melhores universidades do mundo (LUKMAN;
GLAVIČ, 2007).
Nesse ponto, é imprescindível que as IES chamem para si uma maior
responsabilidade frente a questão socioambiental; as universidades representam o
estado da arte no conhecimento científico, podendo assim, atuar também no limiar das
práticas do desenvolvimento sustentável e ser consideradas hubs de conscientização
sobre a sustentabilidade (SEPASI et al, 2018): inovando, desenvolvendo tecnologias,
orientando políticas públicas e formando líderes responsáveis.
Quando tais instituições são financiadas, por recursos públicos, como é o caso da

244
Universidade de São Paulo, existe uma expectativa ainda maior quanto a sua vanguarda
e protagonismo na promoção e manutenção de um ambiente sustentável nas suas
perspectivas social, ambiental e econômica. No contexto de um Estado democrático de
Direito, a Administração Pública é, ou deveria ser, a maior interessada na manutenção
de uma sociedade sustentável e saudável para a coletividade. Essa interconexão entre
ciência, política pública e prática é desejada e necessária para que os desafios
complexos sejam enfrentados (CVITANOVIC et al, 2018). O conhecimento científico
só conseguirá atuar de maneira transformacional se estiver nidificado em instituições
organizadas de maneira colaborativa, iterativa e exploratória (DEDEURWAERDERE,
2013).
Nesse contexto que se insere a propagação de uma Política Ambiental Institucional da
USP, promovendo uma maior integração e entre os campi, por meio de Grupos de
Trabalho, compostos pelos diversos agentes da universidade: docentes, servidores
técnico-administrativos e discentes de graduação e pós-graduação. Tais grupos
organizaram-se em 11 temáticas e deram origem ao documento denominado Política
Ambiental da Universidade de São Paulo, por meio da Resolução Nº 7465, de 11 de
Janeiro de 2018, sendo, um de seus instrumentos técnicos, os Planos Diretores
Ambientais de cada campus. O instrumento definido como Plano Diretor Ambiental
apresenta-se como a ferramenta selecionada para efetuar a integração da expertise
científica existente no campus universitário de uma IES pública com a política e prática
orientada ao desenvolvimento sustentável. Este trabalho objetiva identificar, por meio de
uma revisão exploratória, os principais aspectos positivos e as barreiras existentes em
documentos correlatos ao Plano Diretor Ambiental e, com base na percepção da realidade
existente no campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, propor um modelo
de estruturação desta ferramenta orientado para diagnóstico, normatização e gestão
socioambiental, colaborativo e eficaz.

REVISÃO INTEGRATIVA
Experiências existentes
A bibliografia existente relaciona experiências equiparáveis a proposta do Plano
Diretor Ambiental no âmbito de IES, em específico nos campi universitários.
O levantamento de experiências correlatas ao instrumento proposto inspirou-se nos
trabalhos de revisão realizados por Jabbour (2013), Amui et al (2017).

245
Quadro 1 – Síntese da revisão
Descritore
s
utilizados
policy OU university OU campus sustainable OU sustainability
program OU OU
OU tool OU plan higher education environment OU environmental OU
institutions green
Bases de dados SCOPUS Base de dados integrada da CAPES

Filtro de tópico Nenhum environmental policy

Tipo de documento Artigos Artigos revisados por pares

Quantidade 7 24

Critérios de Trabalhos que abordam políticas, projetos ou programas para


inclusão promoção do desenvolvimento sustentável no cenário do campus
universitário.
Fonte: Elaborado pelos autores

Com base nos critérios de inclusão, restaram 12 trabalhos, referenciados na Tabela


1.
Das experiências avaliadas, depreende-se que a gestão ambiental nas IES é um dos
vetores de promoção da sustentabilidade para a sociedade como um todo (JONES, et
al. 2012); através da eficiência no trato com o consumo de recursos naturais e no
controle dos impactos ambientais relacionados ao funcionamento do campus, a
universidade assuma um papel duplo de laboratório e de modelo para sua comunidade
interna e externa.
Conclusão recorrente é de que as IES têm uma responsabilidade, ainda não
inteiramente assumida, perante a situação socioambiental vigente e que, assim sendo,
deve ocupar seu lugar de promotor do desenvolvimento sustentável, na medida em que
a complexidade atual dos desafios exige.

Barrreiras e facilitadores
Dentre os estudos revisados, foram identificados alguns que abordam de maneira
mais clara, as barreiras e aspectos facilitadores para a implementação de programas,
planos e sistemas de gestão ambiental.

246
Destaca-se o trabalho de que Clark et al (2011) , no qual são identificados três
princípios que devem balizar as propostas de gestão ambiental: I) adoção como fator
primordial, que se sobrepõe aos outros, do conceito de promoção da dignidade humana
definida como a liberdade e justiça social em um ambiente saudável e sustentável; II)
adoção de uma abordagem genuinamente interdisciplinar, capaz de alocar a
multiplicidade de competências disponíveis nos problemas complexos existentes; III)
desenvolvimento de programas educacionais que possibilitem, tanto a compreensão
teórica, quanto a vivência prática.
Tais programas devem objetivar a transformação de alunos em líderes responsáveis
e com pensamento crítico, sendo que um dos facilitadores identificados é o fato de que
os alunos anseiam por programas de gestão ambiental mais participativos (JONES et
al, 2012) e são fáceis de se motivar (LUKMAN; GLAVIČ, 2007).
Em contrapartida, constata-se que mesmo em instituições nas quais os estudantes
são formados para serem solucionadores de problemas ambientais, altamente
qualificados, os planos de ação ambiental têm falhado em atingir seus objetivos
(CLARK, et al, 2011). Entre os fatores associados a isso, identificou-se a restrição ou
segregação das atividades dos estudantes como um dos impeditivos na implementação
dos programas (PRADO FUENTES & PÉREZ CAMPUZANO, 2011). Embora
coordenar atividades em conjunto com alunos seja uma tarefa complexa (LUKMAN;
GLAVIČ, 2007), eles anseiam por serem integrados no processo decisório e não
somente realizar ações simples e de baixa complexidade.
Os alunos são ao mesmo tempo agentes e beneficiários desse tipo de iniciativa, na
medida em que a implementação de programas de gestão ambiental nos campi
universitários influencia de maneira significativa na conscientização e comportamento
dos estudantes (JONES et al, 2012).

Tabela 1 – Categorização dos trabalhos pesquisados

N TÍTULO AUTORES BASE PERIÓDICO AN CITAÇÕ PAÍS KEYWORDS


º O ES
The
Journal Institutions of
sustainability
YÁÑEZ, of higher
1 report as an Scopus 2019 0 Espanha
Susana et al. Cleaner education;
essential tool
Producti Sustainability
for the holistic
on report;
and strategic
vision of higher Sustainability
education reporting
process;
institutions.
Sustainable
development
Developing a
SEPASI,
sustainability
Sahar;
2 reporting Scopus Sustainable 2018 0 Irã N/A
RAHDARI,
assessment Developme
Amir;
tool for higher nt

247
education REXHEPI,
institutions: Gadaf.
The
University of
California

International
CRONEMBERG
Journal of
Higher ER DE ARAÚJO University;
Sustainability in
education GÓES, Brazil; Higher
3 Scopus Higher 2016 3 Brasil
institution education
Heloisa; Education
sustainability institution;
assessment MAGRINI, Comparability;
tools: Alessandra. Sustainability
Consideration assessment;
s on their use Sustainability
in Brazil framework
best
A Review of
management
Non-Major
Sustainability practice;
Sustainability GIEFER, Estado
4 Scopus : The Journal 2015 0 curriculum;
Programs in Madeline M. s
of Record education
American and Unido
policy;
Canadian s
educational
Higher
development;
Education:
environmental
Trends and
education;
Developments
higher
across
education;
Institutions
institutional
framework;
learning;
sustainability;
sustainable
development;
trend analysis
Do Actions Acervo Contemporar
Speak As Loud SIRIANNI, integrad y Economic Estado
5 Philip; 2014 1 s N/A
As Words? o Policy
Commitments O’HARA, CAPES Unido
Michael. s
to “Going
Green” on
Campus.
Transdisciplin
ary Higher
DEDEURWAER Sustainabilit education
6 sustainability Scopus 2013 15 Bélgica
DE y institutions;
science at
RE, Tom (Switzerland Research
higher
) policy;
education
Sustainability
institutions:
science;
Science policy
tools for Transdisciplinar
incremental ity
institutional
change
Clean
Investigating
Technologies
benefits from Acervo Reino Universities
JONES, and
the integrad Unido Environmental
Nikoleta et al. Environmenta
7 implementatio o 2012 14 / Management
l Policy
n of CAPES Grécia System
Environmental Sustainability
Management Students’
Systems in a environmental
Greek awareness
university.

248
N TÍTULO AUTORES BASE PERIÓDICO AN CITAÇÕ PAÍS KEYWORDS
º O ES
International Colleges; EPA;
Participation
Journal of Government policy;
in the Green
Sustainability Estad Greenhouse gas
Power in Higher emissions; Higher
8 GHOSH, Scopus 201 6 os
Partnership:
Soma. Education 1 Unid education; Renewable
An analysis
os energy; United States of
of higher
America; Universities;
education
Voluntary
institutions
environmental programs
as partners
in the
program
PRADO
FUENTES,
Participación Environmental
Sandra Perfile
estudiantil en education, Students'
9 Elizabeth; Scopus s 201 0 México
programas participation,
PÉREZ educati 1
ambientales en Universities,
CAMPUZA vos,
instituciones de Knowledge, Social
NO,
educación influence,
Enrique.
superior. Responsibility.
Environmental studies
Environmental sciences
College and Acerv Estado
CLARK, Environmen Environmental education
university o s
Susan G. et tal Interdisciplinary
1 environmental integra 201 22 Unido
al. Managemen education Human dignity
0 programs as a do 1 s/
t Sustainability Problem-
policy problem CAPE Canad
solving skills Leadership
(part 2): S á
strategies for
improvement.
Clean
Technologie
What LUKMAN, Acerv Eslovê Sustainable University
s and
are the Rebeka; o ni a Key elements Sustainable
1 Environmen 200 143
key GLAVIČ, integra development
1 tal Policy, 7
eleme Peter. do
nts of CAPE
a S
sustai
nable
univer
sity?
International
Journal of
Applying ISO Acerv Standar
Sustainability Nova
14001 as a o ds,
in Higher Zelândi
1 business tool FISHER, integra 200 71 Environ
Education a
2 for campus Richard M. do 3 mental
sustainability A CAPE impact
case study from S assessm
New Zealand ent,
Environ
mental
audit,
Universi
ties,
New
Zealand

Fonte: Elaborado pelos autores

249
Tabela 2 – Síntese dos objetivos e conclusões dos trabalhos

REFERÊNCIA SÍNTESE
O trabalho aborda o desafio do
DEDEURWAERDERE, Tom. desenvolvimento sustentável sob a
Transdisciplinary sustainability science at perspectiva da responsabilidade que a
higher education institutions: science comunidade científica tem nesse cenário.
policy tools for incremental institutional Partindo desse pressuposto, ele explora os
change. Sustainability, v. 5, n. 9, p. 3783- três componentes básicos da promoção da
3801, 2013. sustentabilidade na pesquisa científica: (I)
abordagem interdisciplinar de sistemas
humanos e naturais, (II) integração
explícita de uma forte ética de
sustentabilidade e (3) o desenvolvimento
de colaborações de pesquisa
transdisciplinares e extra científicas. Entre
as principais barreiras identificadas pelo
autor estão o financiamento dedicado e o
ambiente de competitividade entre
disciplinas e métodos, que prejudica a
abordagem transdiciplinar.
GHOSH, Soma. Participation in the Green O trabalho avalia um programa de parcerias
Power Partnership: An analysis of higher proposto pelo governo dos Estados Unidos
education institutions as partners in the para a promoção de uso de energias
program. renováveis nos campus universitários. Como
International Journal of Sustainability in resultados, os autores avaliaram que as
Higher Education, v. 12, n. 4, p. 306-321, principais universidades aderentes ao
2011. programa são de origem privada, bem como
detém um nível de envolvimento e
conscientização grande com a questão
ambiental, em especial por parte dos alunos,
o que fica evidenciado no currículo e nas
organizações estudantis capitaneadas por
estudantes.
CRONEMBERGER DE ARAÚJO GÓES, O objetivo do trabalho foi avaliar modelos de
ferramentas para avaliação de
Heloisa; MAGRINI, Alessandra. Higher
sustentabilidade e propor um modelo
education institution sustainability
unificado, adequado a realidade das
assessment tools: Considerations on their use
Instituições de Ensino Superior (IES)
in Brazil. International Journal of
brasileiras. Os autores avaliaram os modelos
Sustainability in Higher Education, v. 17, n.
de maneira comparativa e chegam a
3, p. 322-341, 2016.
conclusão que a adoção de padrões globais é
uma opção válida para as instituições
nacionais, todavia, devem ser avaliadas sua

250
aderência às necessidades locais; no entanto,
a criação de um outro modelo requer um alto
grau de planejamento e definição de uma
série de fatores importantes, tais como os
agentes envolvidos e o propósito do modelo.
As Instituições de Ensino Superior têm um
relevante papel na transformação dos
modelos convencionais em sustentabilidade.
YÁÑEZ, Susana et al. The sustainability O desafio dessa mudança de estado
report as an essential tool for the holistic and organizacional envolve a captação holística
strategic vision of higher education das atividades da instituição. Na pesquisa
institutions. Journal of Cleaner Production, aqui apresentada, os autores avaliam os
v. 207, p. 57-66, 2019. relatórios de sustentabilidade de uma escola
de engenharia localizada em Madri -
Espanha. Os resultados indicam que os
relatórios facilitam uma abordagem
compreensiva da sustentabilidade,
contribuem para melhoria do planejamento
estratégico, propagação dos valores em toda
a instituição e a participação colaborativa dos
agentes.
As universidades tem encontrado
dificuldades na comunicação de suas práticas
SEPASI, Sahar; RAHDARI, Amir;
REXHEPI, de sustentabilidade. O trabalho aqui propõe-
se a examinar os modelos de avaliação da
Gadaf. Developing a sustainability reporting sustentabilidade na educação superior e
assessment tool for higher education desenvolver uma ferramenta capaz de avaliar
institutions: The University of California. os relatórios desse tipo de instituição. A
Sustainable Development, 2018. proposta é aplicada na Universidade da
Califórnia e os resultados demonstram que,
no caso estudado, as dimensões ambientais e
educacionais têm sido abordadas com
bastante propriedade, enquanto que as
dimensões governamentais e econômicas,
tem ficado em segundo plano. Outra
conclusão do estudo é a de que as ferramentas
para avaliação da sustentabilidade não têm
alcançado seus objetivos nas IES.
PRADO FUENTES, Sandra Elizabeth; O objetivo do trabalho foi analisar quais
PÉREZ CAMPUZANO, Enrique. fatores favorecem e inibem a participação de
Participación estudiantil en programas estudantes em um programa de gestão de
ambientales en instituciones de educación resíduos em uma universidade do México.
superior. Perfiles educativos, v. 33, n. 134, p. Um dos resultados encontrados é que os
77-98, 2011 estudantes sentem-se mais engajados se
forem envolvidos no processo como um

251
todo, incluindo as etapas de gestão e tomada
de decisão. A divisão injustificada do
processo decisório tem impacto negativo na
integração com o projeto.
.
REFERÊNCIA SÍNTESE

O trabalho parte do pressuposto que muitos


programas para educação ambiental
CLARK, Susan G. et al. College and fracassam em decorrência de três fatores
university environmental programs as a principais: Falta de clareza e alinhamento dos
policy problem (part 2): strategies for objetivos, falta de um modelo adequado para
comunicação e gerenciamento da
improvement. Environmental Management,
v. 47, n. 5, p. 716-726, 2011. interdisciplinaridade existente no programa e
uma oferta de uma multiplicidade de
metodologias e abordagens, sem o devido
acompanhamento dos alunos, para que estes
consigam conciliar as diferentes visões.
Como proposta de solução do atual problema,
os autores sugerem uma clarificação maior
dos objetivos, uma abordagem realmente
interdisciplinar, baseada no modelo de
ciências políticas descrito no trabalho.

O trabalho aborda a necessidade de


integração da ciência com a política e a
prática para que os desafios socioambientais
CVITANOVIC, Christopher et al. Building contemporâneos possam ser aplacados.
university-based boundary organisations Nesse contexto, avalia o projeto Baltic Eye
that facilitate impacts on environmental da universidade de Estocolmo, buscando
policy and practice. PloS one, v. 13, n. 9, p. identificar: (I) os impactos alcançados pelo
e0203752, 2018. projeto, (II) os desafios e barreiras
encontrados, (III) as características chave
necessárias para que as instituições de
pesquisa se envolvam, de maneira efetiva, na
política e prática socioambiental. Os
resultados do projeto, ao longo de três anos,
foram satisfatórios. Entre as barreiras que
limitam o enlace entre ciência, política e
prática, as principais identificadas foram:
falta de clareza nos objetivos e as
persistência de algumas métricas
acadêmicas, desalinhadas com os objetivos
do projeto.

252
JONES, Nikoleta et al. Investigating benefits O estudo avalia o papel das IES na promoção
from the implementation of Environmental de sistemas de gestão ambiental a partir de
Management Systems in a Greek university. um estudo de caso da Universidade de
Clean Technologies and Environmental Aegean, na Grécia. Os resultados, obtidos
Policy, v. 14, n. 4, p. 669-676, 2012. através de survey, indicam influências
positivas no comportamento e
conscientização ambiental dos estudantes.
Uma observação interessante é a constatação
do desejo que os estudantes tem por
iniciativas mais participativas, em outras
palavras, o corpo discente quer sentir-se
integrado e com poder decisório na gestão
ambiental do campus.
FISHER, Richard M. Applying ISO 14001
as a business tool for campus sustainability:
O estudo avalia o potencial que a ISO 14000
A case study from New Zealand. tem para fomentar a gestão ambiental nas
International Journal of Sustainability in IES. Não obstante a ferramenta seja
Higher Education, v. 4, n. 2, p. 138-150, desenhada para o ambiente empresarial, os
2003. autores indicam que seu uso em campus
universitários pode auxiliar a adoção de
sistemas de gestão ambiental. Uma
contribuição adicional da ISO seria a
aproximação da realidade do mundo
corporativo para as salas de aula.
LUKMAN, Rebeka; GLAVIČ, Peter. What Os autores propõem um modelo de gestão
are the key elements of a sustainable ambiental baseado no método de feedbacks
university?. Clean Technologies and contínuos, popular na teoria da
Environmental Policy, v. 9, n. 2, p. 103-114, administração e referenciado como o modelo
2007. espiral de Deming. No trabalho, a
universidade de Maribor, na Eslovênia, é
utilizada como estudo de caso para testar a
efetividade do modelo proposto. Entre os
resultados encontrados, destaca-se que a
abordagem bottom-up, com especial
participação dos estudantes, mostrou-se
efetiva no caso estudado.
Fonte: Elaborado pelos autores

A participação de todos os agentes envolvidos no processo (professores,


funcionários e estudantes) é necessária para auxiliar tanto na obtenção das
informações necessárias, quanto na definição do papel de cada grupo dentro da
gestão ambiental do campus (TADDEI-BRINGAS; ESQUER-PERALTA, 2008;

253
JONES et al, 2012).
Quando um grupo não se sente adequadamente representado, é esperado que este
deixe de contribuir com o projeto e, na medida que tais instituições de ensino são
formadas por faculdades, escolas e departamentos relativamente autônomos, as
decisões de cima para baixo, tendem a não funcionar onde não encontrarem
ressonância (FISHER, 2003).
Nesse sentido, algumas instituições reforçam o caráter integrativo com um ajuste
na terminologia, passando a denominar o documento de Plano Diretor
Socioambiental Colaborativo (COOPER, 2009), outras, recorrem a divulgação e
convites recorrentes para toda a comunidade (LUKMAN; GLAVIČ, 2007).
Outro ponto focal, responsável por obstaculizar a gestão ambiental no campus é
a falta de clareza nos objetivos, apontada por alguns como principal fator de
insucesso (CLARK, et al, 2011; CVITANOVIC et al, 2018); em alguns casos, a
definição insuficiente dos objetivos, faz com que alguns integrantes os substituam
por objetivos próprios, desalinhados do programa ambiental do campus e nem
sempre de interesse comum (CLARK, et al, 2011). Além dos objetivos, existe uma
necessidade de gestão qualificada de projetos, na definição dos papéis e
responsabilidades de cada um dos agentes (FISHER, 2003).
O ambiente acadêmico é orientado dentro uma lógica própria e muito peculiar; a
existência de métricas específicas para aferir a produtividade acadêmica (FISHER,
2003) e a configuração institucional e organizacional responsável por criar um
ambiente de competitividade entre diferentes disciplinas e métodos
(DEDEURWAERDERE, 2013) são indicados também como barreiras a integração
de gestão ambiental no campus.

Quadro 2 – Fatores de sucesso e barreiras


AUTOR FATORES DE SUCESSO

Clark et al (2011) Foco na dignidade humana, promoção de um ambiente sustentável e


saudável

Abordagem genuinamente interdisciplinar

Ações educacionais: teóricas e práticas

Cvitanovic et al Inclusão de analistas em políticas nas equipes


(2018)
Estabelecimento de objetivos claros

Presença de lideranças efetivas

Garantia de financiamento para os projetos

Fisher (2003) Compromisso da gerência

254
Definição e comunicação dos papéis e responsabilidades

AUTOR BARREIRAS / FATORES DE INSUCESSO

Clark et al (2011) Falta de clareza e alinhamento dos objetivos

Falta de um modelo adequado para comunicação e gerenciamento da


interdisciplinaridade existente no programa.
Cvitanovic et al
(2018)

Oferta de uma multiplicidade de metodologias e abordagens, sem o


devido acompanhamento para uma conciliação
e integração efetiva no sentido dos objetivos do programa.
Falta de clareza nos objetivos

Métricas utilizadas para aferição de impacto

Caráter inovador - inexistência de modelos prévios

Escopo muito amplo

Cultura universitária

Falta de conhecimento sobre políticas públicas


Fisher (2003)
Estrutura atual

Tornar a ciência compreensível

Diversidade de formação acadêmica dentro dos times

Diversidade de unidades autônomas

Dedeurwaerdere (2013) Competição por recursos e status entre diferentes disciplinas e métodos

Prado Fuentes & Envolvimento seletivo dos agentes em diferentes níveis decisórios (ex:
Pérez Campuzano estudantes não têm poder decisório)
(2011)

Fonte: Elaborado pelos autores

255
Universidade de São Paulo e sua Política Ambiental nas
cidades universitárias

A Universidade de São Paulo tem uma comunidade composta por aproximadamente


100 mil estudantes, 6 mil professores e 13 mil técnicos administrativos (USP, 2019),
distribuídos em 8 campi universitários nas cidades de Bauru, Lorena, Piracicaba,
Pirassununga, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos e São Paulo, além de unidades de
ensino, museus e centros de pesquisa em outras localidades. É mantida pelo Estado de
São Paulo e vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência,
Tecnologia e Inovação.

Figura 1 – Cenário representativo do campus universitário

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Cortese (2003)

As Instituições de Ensino Superior podem ser compreendidas sob a perspectiva de


quatro dimensões básicas: (I) Educação (cursos e currículo), (II) Pesquisa básica e
aplicada, (III) Operações no Campus, e (IV) Alcance comunitário (CORTESE, 2003), tal
divisão assenta-se adequadamente no tripé de ensino, pesquisa e cultura/extensão adotado
pela USP, bem como sob a organização da instituição em campus administrados por
prefeituras universitárias locais.
A existência de estruturas administrativas designadas por prefeituras denota a
complexidade existente no ambiente universitário, no qual os componentes
interdependentes refletem uma grande complexidade dentro do campus e necessitam ser
abordados de maneira integrada (KOESTER et al, 2006). É por essa estrutura que a
Política Ambiental da Universidade de São Paulo será traduzida no formato de um Plano
Diretor Ambiental, normativo e diretivo, capaz de consubstanciar as ações em práticas
cotidianas, unindo a prática acadêmica científica, com a política e a prática
(CVITANOVIC et al, 2018).

256
Figura 2 – Sobreposição de dimensões que caracterizam o Plano Diretor Ambiental no campus
Universitário

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Cvitanovic et al (2018)

A POLÍTICA AMBIENTAL DA USP E O CASO DO


CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO[29]
Em 2014 iniciou-se um movimento de estruturação de um documento normativo
amplo, que seria responsável por balizar as ações ambientais em todos os níveis da
Universidade de São Paulo.
A elaboração da Política Ambiental (PA) da USP contou com a participação de onze
Grupos de Trabalho (GTs) formados por docentes, servidores técnico-administrativos e
discentes de graduação e pós-graduação de inúmeros órgãos e Unidades da USP. Tais
Grupos foram responsáveis pela redação das primeiras minutas da PA/USP e suas
temáticas, homologadas pelos Conselhos Gestores dos campi, instância colegiada
máxima dentro da estrutura burocrática do campus. Dois anos depois a Superintendência
de Gestão Ambiental (SGA) da USP, deflagrou a criação das Comissões Técnicas de
Gestão Ambiental (CTGA) em cada Campus.
A estrutura da CTGA funciona de maneira análoga ao Conselho de Sustentabilidade,
referenciada no trabalho de Lukman & Glavič (2007), no qual os projetos organizam-se
de tal forma que, os departamentos e instâncias universitárias sejam representados nos
projetos e todas as partes interessadas são chamadas a contribuir.
Dentre os campi nos quais foram instituídas CTGA encontra-se o Campus da USP de
Ribeirão Preto. O local onde hoje funciona o campus universitário foi uma produtiva
fazenda de café durante a transição entre os séculos XIX e XX (MARCONDES, 2007;
MICHELASSI, 2014).

257
Figura 3 - Registro da Fazenda Monte Alegre, local onde hoje se encontra o campus da USP
de Ribeirão Preto

Fonte: USP (2009), Registro obtido no acervo histórico do Museu do Café,

Além da cultura do café, que teve impacto indelével na região, o local também teve
suas características alteradas pelo cultivo da cana de açúcar e pela gradativa ocupação das
faculdades que resultou em um adensamento das construções, impermeabilização do solo
e aumento do fluxo de veículos e pessoas, decorrente do crescimento da cidade no entorno
da área do campus (CLEMENTE, 2010). Atualmente o campus é ocupado por 8
faculdades, que oferecem um total de 43 cursos de graduação, para um total de 7000
graduandos e 108 cursos de pós-graduação, para um total de 4476 alunos de mestrado,
doutorado e especialização. Para desenvolver tais atividades o campus conta com 900
docentes e 1500 servidores de nível técnico (USP, 2018). Além disso, o campus ainda
compreende estruturas como museu histórico, hospital, barragem, lago e reserva florestal,
e uma vasta diversidade de espécies animais e vegetais.

258
Figura 4 - Registro fotográfico do campus em 1990.

Legenda: 1 - Rua de acesso ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão


Preto da Universidade de São Paulo (HCRP); 2 - Centro de Convivência Infantil / HCRP 3 -
Junção da Av Norte com a Rua Tenente Catão Roxo; 4 - Primeiras construções no Parque
Residencial Cidade Universitária; 5 - Ampliação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto;
6 - Casas da Rua das Paineiras; 7 - Av Luigi Rosiello; 8 - Loteamento Vila Monte Alegre; 9 -
Moradias estudantis (CREU) 10 - Mirante do Prédio Central da FMRP; 11 - Mirante do
Ginásio; 12 - Mirante do Lago; 13 - Quadras de esportes
Fonte: USP (2009), Registro fotográfico por Tony Miyasaka

No âmbito local do Campus USP de Ribeirão Preto, foram instituidos representantes


das onze áreas temáticas da Política Ambiental, além de representantes de órgãos
estruturantes na administração do campus, como Superintendência do Espaço Físico
(SEF/USP) e representantes discentes ds graduação e da pós-graduação.
É missão da CTGA, conforme definido na PA/USP:
I) - Elaborar e monitorar o Plano Diretor Ambiental do Campus;
II) - Revisar o Plano Diretor Ambiental, a cada oito anos, ou a intervalos menores, desde
que justificada sua necessidade;
III) - Manter atualizadas e disponíveis informações completas sobre a implementação e a
operacionalização do Plano;

259
IV) - Elaborar relatórios anuais de atividades a serem encaminhados à Superintendência da
Gestão Ambiental da USP para avaliação e divulgação;
V) - Auxiliar no enfrentamento de problemas ambientais locais.
Em acordo com a Política Ambiental da USP (USP, 2018) cada representante de
área temática, membro da CTGA, deve criar e coordenar Grupos de Trabalho (GTs)
para participação na elaboração e avaliação dos capítulos que comporão o PDA. Os
capítulos temáticos, presentes tanto na PA quanto no PDA são: I – administração; II –
água e efluentes; III – áreas verdes e reservas ecológicas; IV – edificações sustentáveis;
V – educação ambiental; VI – emissões de gases do efeito estufa e gases poluentes; VII
– energia; VIII – gestão de fauna; IX – mobilidade; X – resíduos; XI – uso e ocupação
territorial (USP, 2018).

1. Proposta de gestão integrativa do Plano Diretor Ambiental

A Política Ambiental da USP pode ser considerada transdisciplinar, enquanto


delineador macro das balizas da gestão ambiental da organização como um todo e, no
âmbito local dos campi, é traduzida pelas Comissões Técnicas de Gestão Ambiental
(CTGA) e pelos Planos Diretores locais, em um formato interdisciplinar.

Figura 3 – Representação da proposta de gestão colaborativa do PDA

Fonte: Elaborado pelos autores

Tal modelo representa um estágio de transição, um continuum transformacional,


adequado à realidade organizacional atual, composta por estruturas burocráticas rígidas
que, de maneira incremental, podem se inter-relacionar de maneira satisfatória para
implementação da Política Ambiental e estimular a flexibilização de algumas
estruturas para ações futuras.

260
As representações indicadas na Figura 3 são: (A) um modelo baseado nas principais
barreiras referenciadas na bibliografia e (B) o modelo de gestão proposto para o Plano
Diretor Ambiental do campus de Ribeirão Preto.
No modelo B, destaca-se a atuação da estrutura denominada como Grupo de
Trabalho Integrador (GTI); uma instância administrativa operada pelo escritório local
da SGA/USP em Ribeirão Preto, composta por uma equipe de servidores técnicos e
discentes bolsistas da graduação, sob a coordenação de um docente, assessor técnico
da SGA.
O GTI age por meio de uma abordagem de nivalmento na qual os Grupos de
Trabalho temáticos serão integrados com a participação do GTI nas reuniões. As
principais perspectivas do GTI são:

VI) enriquecer o debate com as situações comuns enfrentadas por todos os grupos;
VII) suprir a falta de competências necessárias em determinados GTs;
VIII) nivelar os trabalhos desenvolvidos de modo a gerar um documento integrado;
IX) garantir que o trabalho desenvolvido esteja alinhado a PA/USP.

Tal abordagem, reflete muitas das constatações relacionadas na bibliografia, em


especial os estudos de Cvitanovic et al (2018), nos quais é indicado que a presença de
analistas de políticas públicas nos times interdisciplinares é um dos principais fatores
de sucesso, e também nos estudos de Clark et al, (2011).
Além das perspectivas do GTI já elencadas acima, outra abordagem integrativa
procedimental, refere- se à elaboração dos indicadores que irão compor o PDA. Tais
indicadores são baseados na plataforma GreenMetric for Universities da qual a USP é
signatária. A representação, quando relacionada às 11 temáticas dos GTs, forma uma
matriz de interdisciplinaridade entre os GTS, conforme pode ser observado no Quadro
31.
As interconexões permitem que a PA seja adequada ao framework global dos
indicadores Greenmetric, por meio da inter-relação entre os GTs.

261
Quadro?? Título?? Alguns indicadores não têm correlação com os grupos de
trabalho ... é isto mesmo?Quadro 3 – Associações entre dimensões

DIMENSÕES DO RANKING GREENMETRIC FOR


UNIVERSITIES
Infraestrutu Energia e Resíduo Águ Trasnpor Educação(E
ra e mudança s (WS) a te (TR) D)
Instalações s (WR
(SI) Climátic )
as (EC)
Sustentabilida
de na
Administração
Águas e
ÁREAS TEMÁTICAS DA POLÍTICA AMBIENTAL DA USP

Efluentes
Áreas verdes e
reservas
ecológicas
Edificações
sustentáveis
Educação
ambiental
Emissão de
gases do
efeito estufa
Energia
Gestão de
Fauna
Mobilidade
Resíduos
Uso e
ocupação
territorial

Fonte: Elaborada pelos autores

Demais ferramentas auxiliares ao trabalho integrativo do GTI são: I - criação de um


ambiente virtual (moodle) para interação dos agentes dos GTs e repositório de arquivos;
II - criação de um boletim informativo, conectando os GTs, sob o nome de “Ambiental

262
em foco” (LEMOS; DA ROCHA BRANDO; GOMES, 2019). Tais ferramentas tem a
perspectiva de evoluírem no formato de reports de sustentabilidade para o campus, além
de veicularem o Plano Diretor Ambiental quando este estiver finalizado.

Figura 4 – Instrumentos de comunicação

Fonte: LEMOS; DA ROCHA BRANDO; GOMES, 2019.

Conclusões
As universidades, enquanto responsáveis pelo desenvolvimento do conhecimento
científico, têm um papel importantíssimo no cenário complexo de mitigação e reversão
da crise ambiental. A ação integrada entre governo, empresas e sociedade civil pode
em muito se beneficiar do arcabouço teórico- prático existente nas IES.
Embora atuem no limiar do conhecimento, o que lhes conferem características
inovadoras, as universidades também comportam aspectos peculiaridades culturais e
organizacionais que podem limitar a promoção do desenvolvimento sustentável. O
olhar externo evidencia tais barreiras na dificuldade de integração da universidade com
sociedade e, ao voltar-se para sua realidade interna, os mesmos aspectos criam conjecturas
organizacionais que impedem o relacionamento entre os diversos atores existentes.
Notadamente, os campi universitários são uma das expressões máximas da
complexidade das IES, na medida que congregam características administrativas de
uma cidade em conjunção com ambientes de pesquisa e ensino extremamente
heterogêneos e peculiares.
Nesse contexto, a implantação de normativas socioambientais internas parece
desafiadora; a integração dos agentes diversos, as inúmeras instâncias decisórias e a
cultura organizacional, figuram como alguns dos principais desafios para que o

263
desenvolvimento sustentável seja atingido no campus universitário.
.Não obstante, o ambiente complexo e heterogêneo fornece uma expertise única, não
existente em outras esferas da sociedade, e totalmente condizente com a
complexidade dos problemas socioambientais contemporâneos.
Os estudos realizados aqui, sugerem que, superados os desafios de gestão, o
desenvolvimento sustentável pode ser potencializado pelo aparato universitário. Tal
estágio pode ser atingido com base em modelos de gestão participativos, e que levem
em consideração, em especial as condições dos agentes participantes. Considerando
que as condições ambientais e a dignidade humana estão intimamente conectadas
(CLARK, et al, 2011; LAU; PASQUINI, 2004), a abordagem colaborativa e o
franqueamento do processo decisório a todos os agentes, de maneira clara, objetiva
e democrática, figura como baliza mestra para integração da sustentabilidade,
entendida sob a tripla perspectiva: ambiental, social e econômica, na vivência
acadêmica.

REFERÊNCIAS
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. RESOLUÇÃO Nº 7465, DE 11 DE


JANEIRO DE
2018. Institui a Política Ambiental da Universidade de São Paulo. São Paulo

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA USP.


Informações gerais da Universidade de São Paulo, 2018, São Paulo

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. Plano Diretor Físico do Campus de Ribeirão


Preto - 2009. Coordenadoria do Espaço Físico, 2009, São Paulo
TADDEI-BRINGAS, Jorge L.; ESQUER-PERALTA, Javier; PLATT-CARRILLO,
Alberto. ISO

265
14001 and sustainability at universities: a Mexican case study. Management of
Environmental Quality: An International Journal, v. 19, n. 5, p. 613-626, 2008
.UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. RESOLUÇÃO Nº 7465, DE 11 DE JANEIRO
DE
2018. Institui a Política Ambiental da Universidade de São Paulo. São Paulo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA USP.
Informações gerais da Universidade de São Paulo, 2018, São Paulo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. Plano Diretor Físico do Campus de Ribeirão
Preto - 2009. Coordenadoria do Espaço Físico, 2009, São Paulo

266
Capítulo 17

Educação Ambiental na
Universidade de São Paulo:
investigando concepções dos
estudantes e professores

Rosana Louro Ferreira Silva


Denise de La Corte Bacci
Lillian da Silva Cardoso
Andressa Sales Garcia
Karoline Santos de Lima Silva
Rafael da Silva D. Pereira

267
Rosana Louro Ferreira Silva
Possui graduação em Ciências Biológicas - Licenciatura e Bacharelado
(1992), mestrado em Ecologia (2000) e doutorado em Educação. É
docente da área de Ensino de Biologia do departamento de Zoologia do
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo - IBUSP. É
Presidente da Comissão de Graduação do Instituto de Biociências,
coordenadora do PIBID Biologia e da Comissão Ambiental da Biologia
do Instituto. É orientadora no programa de pós graduação "Interunidades
em Ensino de Ciências" da USP e no Programa de Mestrado Profissional
em Conservação da Fauna, da UFSCar/Fundação Parque Zoológico de
São Paulo. Coordena o Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e
Formação de Educadores, credenciado no CNPq. Foi Diretora da regional
I da Associação Brasileira de Ensino de Biologia-SBEnBio de 2014 a
2017. Atua em ensino e pesquisa principalmente nos seguintes temas:
educação ambiental, ensino de Zoologia, educação para a biodiversidade,
mídia e ensino de biologia e formação de professores de Ciências e
Biologia e ambientalização curricular no ensino superior.

Denise de La Corte Bacci


Professora associada do Instituto de Geociências da Universidade de São
Paulo. Possui graduação em Geologia (1990), mestrado em Geociências
e Meio Ambiente (1995) e doutorado em Geociências e Meio Ambiente.
Estágios na Università di Milano (1998) e University of Missouri_Rolla
(2004). Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP (2004).
Pós-Doutorado na Faculdade de Educação (2016) na área de Didática das
Geociências e Formação de Professores. Estágio Sênior no Science
Education Resource Center - Carleton College (2017-2018), como parte
do ES Programa de Estágio Sênior no Exterior (bolsa CAPES). Áreas de
pesquisa: Mineração e Meio Ambiente e conflitos socioambientais.
Formação de professores em Ciências da Terra, Ensino de Geociências e
Educação Ambiental, Pedagogia Universitária. Em 2016 também passou
a integrar o IGEO (Irternational Geosciences Education Organisation).
Orienta nos programas de Pós-Graduação em Ensino e História de
Ciências da Terra (PEHCT) do IG/UNICAMP e no Programa de
Mineralogia e Petrologia (linha de pesquisa em Patrimônio Natural e
Construído e Geoconservação) do IGc/USP.

268
Lillian da Silva Cardoso
Técnica em química e graduanda em Geociências e Educação Ambiental
pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo. Colaborou
em pesquisas em Educação Ambiental como "As Geociências como
facilitadoras da temática ambiental de acordo com as concepções dos
graduandos do curso de licenciatura em Geociências e Educação
Ambiental" e "Educação Ambiental nos cursos superiores da
Universidade de São Paulo: disciplinas, práticas interdisciplinares e
construção da cultura da sustentabilidade". Atualmente participa da
Partnership for International Research and Education (PIRE-CREATE /
FAPESP) "Climate Research Education in the Americas using Tree-ring
speleothem Examples" nos projetos "Capacitação em Estudos
Dendrocronológicos" e "Divulgação Científica no Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu".

Andressa Sales Garcia


Cursando Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura) pelo Instituto
de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Possui experiência
nas áreas de educação ambiental, patologia, comportamento e manejo de
animais silvestres. Colaborou em pesquisas sobre patologia de Chelonia
mydas, no Laboratório de Patologia Comparada de Animais Silvestres da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ - USP). Realizou
Iniciação Científica no Laboratório de Educação Ambiental e Formação de
professores do IB-USP, investigando a concepção socioambiental de
docentes e discentes da USP. Atualmente realiza estágio no Centro de
Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê, atuando
com manejo e enriquecimento ambiental. Participa também do
Observatório de Aves do Instituto Butantan, onde realiza pesquisa sobre
comportamento de forrageio de aves migratórias e residentes em área
urbana.

269
Rafael da Silva D. Pereira
Cursando bacharelado em Gestão Ambiental pela Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).
Possui experiência nas áreas de Educação Ambiental, Redução de Risco de
Desastres e Fundamentos da Ciência Ambiental. Atuou como Assessor
Pedagógico e Professor voluntário no Cursinho Popular EACH, nas
disciplinas de Educação Ambiental e Geografia Física (2017-2018). Foi
bolsista de iniciação científica no Laboratório de Educação Ambiental e
Formação de Educadores do Instituto de Biociências (2017-2018).
Colaborou como monitor de graduação na disciplina de Fundamentos da
Ciência Ambiental (2018-2019). Atualmente é bolsista do programa
"Aprender na Comunidade", realizando intervenções em escolas públicas
localizadas em áreas de risco hidrológico e/ou geológico-geotecnico na
Zona Leste de São Paulo.

Karoline Santos de Lima Silva


Cursando Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura) pelo Instituto
de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Realizou Iniciação
Científica no Laboratório de Educação Ambiental e Formação de
professores do IB-USP, investigando a concepção socioambiental de
docentes e discentes da USP.

270
INTRODUÇÃO
No processo de elaboração da Política Ambiental da USP a educação ambiental é um
campo temático, destacando-se a necessidade de promover a dimensão socioambiental
em todos os cursos de graduação de forma integrada, transversal e interdisciplinar, como
prática educativa permanente. No contexto internacional [2] é apontado que a
transformação para uma cultura da sustentabilidade na universidade deve ser gerenciada
em três frentes: 1) educação e treinamento, 2) engajamento e monitoramento e 3)
avaliação. As questões de cunho socioambiental se mostram emergentes na atual
conjuntura populacional e, como bem público, a universidade tem um papel central nas
possibilidades de mudanças através de seu eixo educação-pesquisa-extensão, ou seja,
através da formação, produção científica e programas que se estendam para toda a
comunidade universitária e, até mesmo, para além dos muros da universidade.
Pesquisadores[3] apontam que os processos formativos em instituições de ensino
superior podem exercer dois papéis: o primeiro o de educar a própria instituição, de forma
que esta incorpore a questão ambiental em seu cotidiano, perpassando os eixos de
educação-pesquisa e gestão, com a intenção de ambientalizar a instituição; e o segundo o
de contribuir para educar ambientalmente a sociedade, através de um projeto de gestão
que vise a ambientalização do país e ações educadoras sejam comprometidas.
No presente capítulo adotou-se o conceito de Educação Ambiental (EA) expresso na
Política Ambiental da USP, ou seja, “os processos educativos, dialógicos e reflexivos de
compartilhamento, apropriação e construção de conhecimentos, valores, atitudes,
habilidades e competências voltadas à busca de relações justas, respeitosas e responsáveis
das sociedades humanas entre si e com o meio ambiente, considerando toda a
biodiversidade envolvida e tendo como horizonte a constituição de sociedades
sustentáveis [4] .
Neste sentido, é indiscutível a relevância e necessidade da Educação Ambiental na
sensibilização, formação e fortalecimento de pessoas, comunidades e instituições
comprometidas com o enfrentamento responsável, solidário e justo da gravíssima crise
socioambiental planetária.
Os processos de ambientalização têm uma dimensão educativa importante que reside,
sobretudo, nas formações ética, estética e moral de sujeitos e instituições ambientalmente
orientados. Neste sentido, a universidade é uma das instituições que tende a responder às
demandas sociais. As universidades podem ser consideradas como espaços educadores
sustentáveis, isto é, com a intencionalidade pedagógica de se constituir como referências
concretas de sustentabilidade socioambiental [5], sendo a sustentabilidade uma orientação
a ser internalizada pelas ações de ensino, pesquisa, extensão e gestão do campus[6].
Tendo em vista as demandas de profissionais aptos a dialogar com temas envolvendo
sustentabilidade nas mais diferentes áreas do conhecimento, tais questões passaram a ser
incorporadas na formação universitária.

271
Internacionalmente há o UI GreenMetric World University Ranking, projeto que se
iniciou em 2010, no qual a educação voltada para a sustentabilidade nas universidades
vale 18% da nota final do ranking e leva em consideração o número de cursos, pesquisas
e publicações, eventos educativos e organizações estudantis relacionados com a
sustentabilidade. Tal projeto apresenta como objetivos:
● Fornecer resultados da pesquisa on-line sobre a condição atual e políticas
relacionadas ao Campus Verde e Sustentabilidade nas Universidades em todo o
mundo;
● Chamar a atenção dos líderes universitários e partes interessadas ao combate às
mudanças climáticas globais, à conservação da energia e da água, à reciclagem de
resíduos e ao transporte ecológico;
● Identificar as universidades que estão liderando o caminho a este respeito;
● Divulgar os esforços para implementar políticas ecológicas e gerenciar mudanças
comportamentais entre a comunidade acadêmica em suas respectivas instituições.
Dentre os critérios para classificação das universidades no ranking está o tamanho da
universidade, perfil de zoneamento, área verde, consumo de eletricidade, transporte, uso
de água, gestão de resíduos, instalações e infraestrutura, energia, mudanças climáticas,
políticas, ações, comunicação e educação. A educação é um critério que começou a ser
avaliado em 2012 devido ao “importante papel das universidades na criação de uma
geração preocupada com a sustentabilidade” [7].
A Universidade de São Paulo ocupou em 2017, no referido ranking, a posição de
número 28, com 6418 pontos no total. No entanto, embora com uma ótima classificação
no contexto mundial, salienta-se a necessidade de iniciativas que reconheçam a
transversalidade e coletividade da questão ambiental em todos os cursos e não apenas
naqueles dedicados à temática ambiental, bem como a busca de uma melhoria constante
nas relações socioambientais da universidade.
A educação ambiental na universidade deve ser pensada de forma a corroborar com a
Educação Ambiental Crítica, que entende que os processos educativos devem ir em
direção a uma postura reflexiva e participativa para a consolidação de uma sociedade
sustentável, partindo de pressupostos não apenas técnicos, mas também políticos, éticos
e ideológicos [8, 9, 10, 11]. Assim, leva-se em consideração as dimensões da práxis
educativa, com seus conceitos, valores, formas de participação (Figura 1), segundo [12].

272
Figura 1. As dimensões da práxis educativa, segundo Carvalho (2006).

O estudo apresentado neste capítulo teve por objetivo identificar como estudantes e
professores de diferentes áreas de conhecimento percebem sua formação em educação
ambiental, entendendo uma perspectiva ampla de formação que envolva ensino, pesquisa
e extensão. Desta forma, buscou-se analisar a percepção desses atores quanto às ações
promovidas pela Universidade, as disciplinas e práticas interdisciplinares, bem como o
quanto essa formação se reflete em atuação frente às questões socioambientais no campus
e na sociedade.
O estudo é resultado do projeto intitulado Educação Ambiental nos cursos superiores
da Universidade de São Paulo: disciplinas, práticas interdisciplinares e construção da
cultura da sustentabilidade, desenvolvida em parceria pelo Instituto de Biociências e
Instituto de Geociências. Iniciou-se em 20163 e uma grande quantidade de dados foi
gerada, como apresentados em 13, 14, 15].
A transformação de uma universidade para a sustentabilidade requer um realinhamento
de todas as atividades com o paradigma reflexivo e crítico, que possa dar suporte a
construção de um futuro sustentável[16]. A autora destaca a necessidade do envolvimento
de diferentes grupos, como funcionários e estudantes para que seja possível a mudança
de cultura das instituições universitárias. Para dar significado a essas mudanças, entende
ser necessário a busca pela interdisciplinaridade, participação, processos pedagógicos
aprofundados, bem como a abertura dos limites institucionais para a comunidade.

3
Nessa primeira fase obteve apoio financeiro do edital USP/Santander Grandes Temas

273
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Análise das ementas das disciplinas
O primeiro eixo definido foi o de obtenção da formação dos alunos da Universidade
de São Paulo em Educação Ambiental através do oferecimento de disciplinas à graduação.
Para tal, utilizou-se o Sistema Jupiterweb, que oferece suporte on-line aos alunos de
graduação disponibilizando informações acadêmicas e também permite o acesso a
ementas e programas de todas as disciplinas na universidade, a partir de um sistema de
buscas. A partir da lista de cursos presente no Manual FUVEST 2017, foram feitas
pesquisas nos currículos dos cursos usando os descritores “educação ambiental”,
“sustentabilidade”, “sustentável”, “ambiental”, “ambientalismo”, “conservação”, “meio
ambiente”. Em um segundo momento, para aquelas disciplinas que não continham esses
descritores em seu título, as ementas foram analisadas na busca dos mesmos termos. A
análise das ementas serviu como critério para considerar as disciplinas que abordam a
temática de EA, mas não apresentam EA no nome. Neste contexto, foi utilizado o conceito
de disciplina ambientalmente orientada [17, 18] . A partir disso, distinguiram-se
disciplinas da graduação com objetivos claros que as consideram como ambientalmente
orientadas daquelas disciplinas que possibilitam a formação de educadores ambientais,
ou seja, disciplinas com ênfase nos componentes curriculares que enfoquem os aspectos
conceituais e metodológicos da educação ambiental.

Questionário piloto, análise e construção do instrumento final


Os dados correspondentes aos estudantes foram coletados por meio de questionário
contendo 25 perguntas, das quais 19 eram de múltipla escolha e 6 dissertativas. As
questões estavam divididas em quatro tópicos: informações básicas, EA na graduação,
EA no cotidiano e EA no campus. A sua elaboração foi baseada em outros instrumentos
já existentes, como o documento “Sustentabilidade Aqui e Agora: Brasileiros de 11
capitais falam sobre o meio ambiente, hábitos de consumo e reciclagem” [19] e na
plataforma online do Projeto de Sustentabilidade da USP [20]. Também serviram de
referência os cinco eixos de identificação da cultura da sustentabilidade em universidades
sugeridos por [21], que são: conhecimento do caso (o motivo para se reciclar);
conhecimento do procedimento (como é possível reciclar no campus); incentivos sociais
(programas sociais de incentivo à reciclagem); incentivos materiais (ganho material direto
em retorno por ações sustentáveis positivas); “prompts” (materiais que lembrem
constantemente as pessoas das ações que elas devem tomar para promover a
sustentabilidade). O questionário piloto foi formulado e respondido através da plataforma
Google forms, disponibilizado por e-mail aos discentes durante o período de um mês
pelos alunos do Instituto de Biociências e do Instituto de Geociências da USP.
Os principais objetivos do questionário foram: identificar os principais elementos
considerados pelos estudantes como relevantes para a formação em Educação Ambiental;
identificar as dimensões da práxis educativa (conceitos, valores, formas de participação)

274
nos respectivos percursos de formação e sua relação com as formas de participação frente
às questões socioambientais; avaliar o questionário piloto (questionário 1) “Educação
ambiental, cultura da sustentabilidade e a Universidade de São Paulo”, para que fosse
possível identificar quaisquer erros ou lacunas antes da aplicação do instrumento de
pesquisa para todos os estudantes dos cursos da USP.
Os resultados da aplicação do questionário piloto foram analisados qualitativa e
quantitativamente. Tais dados foram considerados relevantes para iniciar a análise da
percepção dos cursos pelos alunos e também para a construção do instrumento final.
Considerando a necessidade de investigar, num segundo momento da coleta dos dados,
uma amostra de alunos de todos os cursos da universidade, a opção pela análise de dados
qualitativos se mostrou a mais adequada na primeira etapa. Concordou-se com [22] que
análises a partir de dados quantificados, contextualizadas por perspectivas teóricas (no
nosso caso a educação ambiental crítica) trazem subsídios concretos para a compreensão
de fenômenos educacionais, contribuindo para a produção/enfrentamento de políticas
educacionais, para planejamento, administração/gestão da educação, podendo ainda
orientar ações pedagógicas de cunho mais geral ou específico.
O instrumento final foi destinado a todos os alunos dos cursos de graduação de 6 campi
da USP (Escola de Artes Ciências e Humanidades, Cidade Universitária Armando de
Salles Oliveira, Quadrilátero Saúde, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,
Campi de Ribeirão Preto e de São Carlos). A divulgação foi realizada por meio da
plataforma Google Forms, cujo acesso seria possível a todos os estudantes.
Foram analisados os dados de 87 cursos de graduação dos 6 campi. As 1026 respostas
obtidas foram submetidas à análise quantitativa, levando-se em consideração as possíveis
semelhanças e diferenças de cursos das grandes áreas do conhecimento descritas pelo
CNPq. A divulgação do questionário foi feita via redes sociais, e-mails institucionais e
até mesmo presencialmente nos casos de Institutos com baixo número de respondentes, o
que estendeu o alcance da pesquisa. Ainda assim, houve discrepâncias entre o número de
respondentes por curso, o que tornou a representatividade das áreas do conhecimento
bastante desigual em termos quantitativos (embora o número de cursos entre as áreas
também seja desigual). As análises foram feitas por percentual de respostas frente ao total
da área.
As respostas dissertativas obtidas foram submetidas à análise de conteúdo [1] , e para
isso levou-se em consideração as possíveis semelhanças e diferenças entre estudantes em
momentos distintos da graduação.

Entrevista com coordenadores de curso e professores


Com o objetivo de investigar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade de
Educação Ambiental (EA) nos departamentos das disciplinas selecionadas na pesquisa,
desenvolveu-se um roteiro de entrevista com nove questões, tendo como sujeitos os
coordenadores e professores dos cursos. As questões foram divididas em três categorias:

275
indicações de disciplinas; professores e projetos de EA; ambientalização e o currículo e
concepções de EA e transdisciplinaridade. Deste modo, o instrumento pode avaliar tanto
os conhecimentos abordados como projetos de extensão e de pesquisa. Com a entrevista
foi possível identificar a presença da EA nos Institutos da USP e como os
coordenadores/professores entendem que deve ser feita a sua inserção. As entrevistas
foram transcritas e analisadas também a partir à análise de conteúdo (Figura 2).
Os coordenadores de curso foram ainda indagados sobre as perspectivas e o
compromisso da unidade ou departamento em oferecer conexões relacionadas à EA e a
sustentabilidade para formar profissionais cujo os princípios éticos e valores sociais
promovam melhores relações entre sociedade e natureza. Dos 38 selecionados para a
entrevista, 44,7% (16 contatos) retornaram o e-mail demonstrando interesse no projeto.
Foram realizadas entrevistas com 14 docentes e/ou coordenadores de 8 Institutos,
abrangendo três Campi da Universidade.

Figura 2. Metodologia da análise de conteúdo das entrevistas.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Os resultados são apresentados de acordo com quatro tópicos EA na graduação, EA no
cotidiano EA no campus e a percepção dos docentes sobre a formação socioambiental nos cursos
de graduação.

Educação Ambiental na formação universitária


O primeiro eixo definido foi o de obtenção da formação dos alunos de Licenciatura da
Universidade de São Paulo em Educação Ambiental através do oferecimento de
disciplinas à graduação.

276
Foram localizadas 123 ementas de disciplinas que atendiam aos critérios da pesquisa
presentes em 16 cursos de licenciatura em cinco Campi, São Paulo (Butantã e Zona
Leste), Piracicaba, Ribeirão Preto e São Carlos. Considerando o número total de cursos
de licenciatura oferecidos na USP, apenas 38% dos cursos oferecem disciplinas
relacionadas à Educação Ambiental.
Para análise de conteúdo utilizou-se o conceito de disciplina ambientalmente
orientada. As disciplinas são entendidas como ambientalmente orientadas quando estão
presentes discussões dos problemas socioambientais, das relações sociedade e ambiente,
das interfaces daquela área de estudos com políticas ambientais ou impactos
socioambientais, da sustentabilidade, entre outras temáticas [23] . Das 123 disciplinas
analisadas nos cursos de licenciatura, 56 foram consideradas como estando dentro da
perspectiva de disciplina ambientalmente orientada e 33 na perspectiva de formação de
educadores ambientais, ou seja, disciplinas com ênfase nos componentes curriculares que
enfoquem os aspectos conceituais e metodológicos da educação ambiental, as quais foram
consideradas na pesquisa como ambientalmente orientadas à educação. Estas disciplinas
estão focadas na formação de educadores capazes de trabalharem metodologicamente
com a educação ambiental. Os cursos foram divididos em 6 áreas do conhecimento que
tiveram diferentes percentuais em relação à presença das disciplinas. Ciências Biológicas
e da Natureza (45,5%); Ciências Exatas e da Terra (34%); Ciências Humanas (9,8%);
Ciências Agrárias e Florestais (9,8%) e Ciências da Saúde (0,8%).
Os dados apontam para uma concentração das disciplinas nas áreas das Ciências
Biológicas e da Natureza, devido à tradição dessas áreas em considerar aspectos de
preservação dos ambientes naturais. Destaque para as Ciências Exatas que aparecem com
um percentual considerado significativo e um baixo percentual para as demais áreas. Há
uma necessidade de se repensar a inserção da Educação Ambiental na formação de
professores, considerando que questões referentes à educação ambiental no ensino
superior começou a ser institucionalizada em 1986 no país e as Diretrizes Curriculares
Nacionais de Educação Ambiental, publicadas em 2012, reafirmam essa relação da
disciplina com foco no aspecto metodológico.
Ainda no eixo de formação, a partir da aplicação dos questionários, foram obtidas 1026
respostas sobre a percepção dos estudantes em relação à sua formação nos diferentes
espaços na universidade. Do total de cursos analisados, 72,9% representam alunos de
cursos de bacharelado, 16,3% de licenciaturas e 10,7% de bacharelado e licenciatura.
As respostas dos estudantes indicam que 45,7% reconhecem a Educação Ambiental
em sua formação, 42,9% não reconhecem e 11,4% não souberam dizer sobre a presença
ou ausência da EA no curso de graduação. Quando solicitados a indicar onde identificam
a sua formação socioambiental, os estudantes respondem de forma bastante diferenciada,
mas podemos identificar que a formação está relacionada ao ensino, à pesquisa e à
extensão, embora com percentuais bastante variados de um curso para o outro. A
identificação da própria formação é bem diversificada (Figura 3), destacando-se

277
principalmente nas disciplinas com 46,2% do total, na pesquisa com 15,9% e em projetos
de extensão com 13,9%.

Figura 3. Identificação da formação socioambiental dos estudantes na USP.

Outro aspecto importante avaliado refere-se às dimensões da práxis educativa, ainda


muito centrada no conhecimento (Figura 4) e menos nos valores e formas de participação.
Os dados são muito significativos ao demonstrar a transversalidade da educação
ambiental na tríade que embasa a universidade – ensino, pesquisa e extensão – embora
com representação desequilibrada. Tal resultado corrobora com o trabalho de [24] , que
indica que “as políticas que regulam e promovem a articulação da extensão com o ensino
representam um fator-chave da ambientalização da formação profissional, na medida em
que se apoia fortemente no diálogo com a comunidade com o propósito de compreender
suas linguagens, valores e necessidades”.
Embora a educação ambiental precise ser trabalhada de forma interdisciplinar,
envolvendo professores de diferentes áreas de conhecimento, observamos que não existe
um oferecimento de formação equilibrada entre os cursos, o que corrobora com os dados
da pesquisa de [25] , a partir de dados obtidos em análises documentais. A presença ou
não de disciplinas nos cursos e de projetos de extensão pode estar relacionada mais a
ações dos docentes, que elaboram projetos e criam disciplinas do que com os projetos
pedagógicos dos cursos.

278
Figura 4. Categorização das dimensões da práxis educativa conforme proposta de Carvalho
(2006).

Educação Ambiental no cotidiano


Em termos individuais, sobre a questão considerar-se ou não educado ambientalmente,
45,8% dos estudantes se consideram “muito bem educado” a “bem educado“, mas ainda
há um alto percentual de estudantes “mais ou menos educado” a “muito pouco educado“,
como mostra a Figura 5. Esta pergunta não está diretamente relacionada aos conteúdos
das disciplinas, mas a aspectos da formação em geral, o que pode nos levar a concluir que
mais da metade dos estudantes que responderam o questionário ainda não se consideram
em um nível educacional adequado em relação às questões ambientais. Em relação à
percepção dos estudantes sobre o quanto são informados sobre as questões ambientais,
37,5% consideram-se “muito bem informado“ a “bem informado“, enquanto 46,5%
consideram-se medianamente informado e 15,9% consideram-se pouco ou mal
informados (Figura 6). Em relação à promoção de ações socioambientais coletivas, 64%
dos estudantes afirma promovê-las em seu cotidiano e 36% afirmam que não promovem
nenhum tipo de ação.

279
Percepção dos estudantes sobre
considerarem-se educados
ambientalmente
3,00% 10,70%
12,10%
Muito bem educado

Bem educado
29,00%
45,10%

Mais ou menos
educado

Figura 5. Percepção dos estudantes em relação à própria educação.

Figura 6. Porcentagem das respostas em relação à percepção dos estudantes sobre o quanto
são informados sobre as questões ambientais.

Educação Ambiental no Campus


Em relação à promoção e participação em atividades, ações e programas relacionados
à sustentabilidade nos respectivos campi, formação e compromisso socioambiental, os
estudantes responderam 9 questões. Estas questões podem ser divididas em: 1)
comunicação (observação de avisos e divulgação de ações sustentáveis); 2) temas,
programas e espaços de tomada de decisões relacionados à sustentabilidade presentes; 3)

280
participação ou promoção em/de atividades socioambientais; 4) identificação da própria
formação e compromisso socioambiental e 5) avaliação dos campi em relação às ações
que são promovidas.
Sobre a comunicação a partir de avisos que remetem à ações sustentáveis, 38,9% dos
estudantes responderam não ver tais avisos, enquanto 60,2% afirmam ter visto em
diferentes locais, como nas unidades, nos restaurantes universitários, banheiros,
bibliotecas, salas de aula, Quadro de avisos, dentre outros, na forma de adesivos, avisos,
cartazes do USP Recicla e painéis indicando economia de água e de energia ou para não
utilizar copos plásticos ou excesso de papéis nos banheiros, além do descarte correto de
materiais, reciclagem e sobre o desperdício de alimentos. Observa-se que os avisos
seguem a linha pragmática da educação ambiental, voltadas à economia, coleta seletiva e
desperdício ou à logística reversa. Apenas um respondente apontou para a questão de
abandono de animais no campus.
A Comunicação na USP é essencialmente feita por meio de cartazes impressos e
painéis eletrônicos no campus como um todo. Nas unidades essa comunicação é muito
variada, mas observa-se que também o uso de cartazes é a mais comum. Poucas respostas
apontaram o recebimento de mensagens, campanhas e programas por meio de correio
eletrônico.
Em relação aos temas, programas e espaços de participação e tomada de decisões, as
Figuras 7, 8 e 9 ilustram os resultados obtidos.

Figura 7. Temas apontados pelos estudantes como presentes na gestão do campus.

281
Figura 8. Programas socioambientais da USP conhecidos pelos estudantes.

Figura 9. Espaços apontados pelos estudantes como possíveis de participação e tomada de


decisão.

Apesar dos estudantes indicarem os espaços de participação no Campus, a


porcentagem que participa efetivamente das ações de sustentabilidade é baixa, sendo que
52,9% afirmaram não se envolver. A participação dos estudantes que responderam sim à
esta questão apenas 4,3% indicaram os grêmios estudantis das unidades e 4,1% os
programas institucionais. As demais respostas relacionam-se a disciplinas, grupos de
estudo e pesquisa e eventos.
O compromisso socioambiental dos estudantes foi apontado por eles como “bom”
(41,9%), “regular” (37,2%) “ruim” (11%), “excelente” (7,1%) e “péssimo” (2,7%).

282
Em termos de avaliação dos espaços de tomada de decisão na universidade, 52,5% dos
estudantes não soube avaliar. Apenas 3,2% das respostas apontam como “ótimo”, 21,2%
“regular” e 11,1% “bom” e 9,4% dos estudantes apontam como “ruim”.
O mesmo ocorreu quando os estudantes foram solicitados a apontar se as ações
socioambientais são valorizadas ou incentivadas. Praticamente metade dos respondentes
não soube avaliar (48,8%). A outra metade das respostas está bem equilibrada, sendo que
25,7% dos estudantes responderam que as ações são incentivadas e valorizadas e 25,4%
responderam que não são. Podemos atribuir tais números a partir de duas situações: a
universidade não divulga os resultados das suas ações, portanto não comunica à sua
comunidade o que tem sido realizado nos campi; os estudantes não têm conhecimento de
como o processo ocorre na universidade, uma vez que praticamente a mesma
porcentagem de estudantes afirmou não participar das ações de sustentabilidade.

Transdisciplinaridade nos cursos de graduação – o discurso dos


docentes
A pesquisa com os docentes ou coordenadores dos cursos identificou tanto
potencialidades como dificuldades para a incorporação da transdisciplinaridade nos
cursos de graduação, conforme apresentado na Figura 10.

Figura 10. Dificuldades e Potencialidades da Incorporação da Transdisciplinaridade segundo


os Docentes da USP.

As potencialidades de incorporação da transdisciplinaridade identificadas pelos


docentes foram a presença de disciplinas ambientalmente orientadas e projetos de
pesquisa e extensão, dados estes que corroboram com as respostas dos estudantes em
relação à formação (Figura 3). Já as dificuldades foram a falta de proatividade das pessoas
em protagonizar ações tanto individuais quanto coletivas e a falta de incentivo
institucional para valorizar a temática ambiental. Esse quadro demonstra que, na

283
concepção dos coordenadores, a Educação Ambiental na USP é hoje em grande parte
institucionalizada em disciplinas e projetos de pesquisa e extensão, o que denota um
caráter mais propositivo dos docentes do que das unidades. Tais ações para promover a
cultura da sustentabilidade deve ir além do protagonismo individual de docentes e
discentes em projetos e nas disciplinas, mas possuir um apoio institucional mais amplo.
Nos discursos dos docentes, aparecem várias concepções sobre ambientalizar a
universidade, as quais são destacadas:

“Ambientar” a universidade, eu acho que significa humanizá-la e torná-la


um local que não é só para vir estudar, receber um diploma e sair, mas onde as
pessoas se identifiquem com ele, se sintam amparadas por ele, se sintam
fazendo parte da construção da própria universidade."

"Ambientalizar é tornar o aluno capaz de transmitir ao aluno dele, ao


cliente, o que for, a ideia e a proposta de proteger o meio ambiente; de
conhecer, proteger e saber usar, manejar."

"A ambientalização passa por uma nova forma de ver e nos entender como
ser humano numa sociedade que até hoje foi muito predatória no sentido de
usar os recursos, ver tudo como recurso, recurso infindável, eu posso né, depois
eu replanto, depois eu... conserto, né, vamos dizer assim.

Os resultados indicam que os docentes, mesmo que não tenham uma opinião formada
sobre o que seria "ambientalizar a Universidade", consideram o processo benéfico e
necessário ao desenvolvimento socioambiental individual e coletivo da comunidade
acadêmica.
No caso da questão sobre ambientalização curricular algo que demonstrou-se muito
presente na fala dos coordenadores/professores foi que os alunos, palavra que mais
apareceu em suas falas, são os responsáveis por permitir que se inicie a ambientalização
curricular, já que esta não está restrita ao currículo, mas deve se expandir para a pesquisa
e extensão da universidade. No caso da questão sobre as dificuldades de incorporar o
caráter transdisciplinar da EA, os professores deixaram claro que acham a
transdisciplinaridade algo difícil de se trabalhar, representado pela palavra “difícil” que
esteve muito presente nas falas.

284
Figura 11. Palavras mais utilizadas pelos docentes sobre o conceito de ambientalização
curricular e sobre a incorporação do caráter transdisciplinar da EA, respectivamente.

Em relação às dificuldades do caráter transdisciplinar da EA, os docentes afirmam que:

"Caráter transdisciplinar da EA você pode ver em qualquer disciplina pela


atitude do professor, pela ética dele e pelo entorno, pelo campus"

“Trabalho interdisciplinar vai se tornando trans à medida em que as trocas


têm acontecido”

"A gente sabe que ela é interdisciplinar ou multi ou pluri, a gente sabe,
mas… existe um projeto que una tudo isso? É… eu acho que isso é o que falta.
É difícil pensar num projeto que una tudo isso? É, é muito difícil, não é assim
uma fórmula de bolo que assim."

“É trabalhoso, não é fácil, porque tem que mudar paradigmas, ao invés de


fragmentar disciplinas, tem que trabalhar com elas”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou avaliar como os discentes dos cursos de licenciatura da USP
percebem sua formação socioambiental, a partir de um questionário destinado a todos os
campi, desenvolvido com base nas três dimensões da práxis educativa apresentadas por
[12] : conhecimentos, valores e formas de participação. Nesse sentido, os trabalhos que
se dedicam ao diagnóstico da formação socioambiental recebida por estudantes de
graduação em geral são numerosos [26, 27, 28, 29] e, com efeito, oferecem um repertório
significativo dos principais desafios e também dos potenciais de aperfeiçoamento deste
processo na Universidade.

285
Os resultados monstraram que a formação em EA na USP apoia-se tanto em iniciativas
institucionais, como as da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA), como em
algumas inserções curriculares, mas encontra suas maiores potencialidades
principalmente quando há engajamento específico de docentes e/ou estudantes do curso,
que acabam por protagonizar ações envolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão.
Considerando o tamanho da universidade, a quantidade de disciplinas ambientalmente
orientadas à educação ainda é pequena, mas o fato do regime de créditos, no qual os
alunos podem cursar disciplinas optativas em outras unidades, ajuda a ampliar o
oferecimento desses conteúdos para outros cursos.
Sobre os dados do questionário com os estudantes, os resultados da análise das
respostas dos diferentes cursos indicam, entre outros aspectos, que as dimensões de
conhecimento, valores e formas de participação não estiveram em equilíbrio na formação
na graduação. Além disso, embora haja poucas disciplinas no currículo, essas são
reconhecidas pelos estudantes como importantes para sua formação, embora também
mencionem que projetos de extensão são essenciais para a formação socioambiental.
Além disso, foi possível observar um distanciamento em relação à informação que
possuem sobre conteúdos socioambientais e a participação em ações socioambientais
dentro e fora do campus.
A Universidade como centro formador de profissionais atuantes na sociedade tem, por
responsabilidade, capacitar seus estudantes não somente na compreensão da temática
ambiental, mas para serem capazes de atuar na transformação do ambiente ao seu redor,
em especial por meio da educação, no que damos destaque aos cursos de licenciatura em
termos da presença das disciplinas de EA. Logo, uma formação adequada de indivíduos
como educadores ambientais torna-se uma necessidade inerente aos cursos de
licenciatura. Além disso, como pólo de produção científica e intelectual do país, as
Universidades também representam um modelo a ser seguido pelo restante da sociedade,
neste contexto, identificar a ambientalização curricular fornece dados para a criação de
políticas formativas dos profissionais das mais diversas áreas de formação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Bardin, L., 1977. Análise de Conteúdo. Edições 70. Lisboa, Portugal.
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sustainability: Recommendations for a large university. International journal of
sustainability in higher education, Volume. 13, n.4, p. 365-377, jan./aug.
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Educação Ambiental. Educ. foco, v. 14, n.2, p. 15-38. Juiz de Fora, MG.

286
[4] Política Ambiental da Universidade de São Paulo. Resolução nº7465 de 11 de janeiro
de 2018, capítulo II artigo 3º inciso IX, São Paulo, Brazil. Available online at
http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-7465-de-11-de-janeiro-de-2018
Accessed on 28/oct/2018.
[5] Trajber, R., SATO, M., 2010. Escolas Sustentáveis: Incubadoras de Transformações
nas Comunidades. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. v. especial, p. 17-1256.
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Curricular e Pesquisas Ambientalmente Orientadas na PUCRS: um levantamento
preliminar. Visões e Experiências Ibero-Americanas de Sustentabilidade nas
Universidades. Granada, ES: Gráficas Alhambra, p. 137-143.
[7] GreenMetric, 2012. Ui Greenmetric Ranking of World Universities. Available online
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[8] Carvalho, 2004. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. Cortez. São
Paulo, SP.
[9] Guimarães, M., 2004. A Formação de Educadores Ambientais. São Paulo: Ed.
Papirus.
[10] Loureiro, C.F.B., 2006. Educação ambiental e “teorias críticas”. In: Guimarães, M.
(Org.) Caminhos da educação ambiental: da forma à ação. Campinas, SP: Papirus, p.
51-86.
[11] Silva, R.L.F., Campina, N.N., 2011. Concepções de educação ambiental na mídia e
em práticas escolares: contribuições de uma tipologia. Pesquisa em Educação Ambiental,
vol. 6, n.1, p. 29-46.
[12] Carvalho, L.M., 2006. A Temática Ambiental e o Processo Educativo: Dimensões
e Abordagens. In: Cinquetti, H.C.S.; Logarezzi, A. (Org.). Consumo e Resíduo -
Fundamentos para o trabalho educativo. 1ed. São Carlos: EdUFSCar, v.1, p. 19-41.
[13] Silva, I.S., Campos, D.M., Silva, R.F.L., 2017. Percepção de graduandos sobre sua
formação em Educação Ambiental. In: XVI Encontro Paranaense de Educação
Ambiental. Anais do XVI Encontro Paranaense de Educação Ambiental. Londrina, PR.
[14] Bacci, D.L.C., Cardoso, L.S.C., Santiago, L.O., 2017. Educação Ambiental nos
Cursos de Graduação: Tendências à Ambientalização Curricular. In: XVI Encontro
Paranaense de Educação Ambiental. Anais do XVI Encontro Paranaense de Educação
Ambiental. Londrina, PR.
[15] Silva, R.L.F.,Bacci, D.C., Silva, I. S., Campos, D. M., Cardoso, L. S., Santiago, L.
O., Pinato, D. 2018. Teacher Training in Environmental Education and Its Relation with
the Sustainability Culture in Two Undergraduate Degrees at USP. In: W. Leal Filho et al.
(eds.), Towards Green Campus Operations - Energy, Climate and Sustainable
Development Initiatives at Universities - World Sustainability Series, Hamburgo,
Alemanha, p. 393-408.

287
[16] Tilbury, D., 2011. Higher Education for Sustainability: A Global Overview of
Commitment and Progress. In: Higher Education’s Commitment to Sustainability: From
Understanding to Action. 20p.
[17] Carvalho, I.C.M., Amaro, I., Frankenberg, C.L.C., 2012. Ambientalização Curricular
e Pesquisas Ambientalmente Orientadas na PUCRS: um levantamento preliminar. In:
Leme, P.C.; Pavesi, A., Alba, D., Gonzaléz, M.J.D. Visões e Experiências Ibero-
Americanas de Sustentabilidade nas Universidades. Gráficas Alhambra, p.137-143.
Granada, ES.
[18] Silva, I. S.; Campos, D. M. ; Silva, R. L. F. . Percepção de graduandos sobre sua
formação em educação ambiental. In: XVI Encontro Paranaense de Educação Ambiental,
2017, Curitiba. ANAIS DO XVI ENCONTRO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL. Curitiba: Setor de Educação da UFPR, 2017. p. 1-3
[19] MMA - Ministério do Meio Ambiente, 2010. Sustentabilidade aqui e agora:
brasileiros de 11 capitais falam sobre meio ambiente, hábitos de consumo e reciclagem,
pesquisa 2010. Brasília: MMA, p. 32.
[20] Silva, R.F.L., Bacci, D.L.C., Cardoso, L.S.C., Santiago, L.O., Silva, I.S., Campos,
D.M., 2016. Projeto de Sustentabilidade da USP. Educação Ambiental nos cursos de
licenciatura da Universidade de São Paulo: disciplinas, práticas interdisciplinares e
construção da cultura da sustentabilidade. Relatório final submetido à Pró Reitoria de
Graduação da USP para o Edital PRG/Santander Universidades/1: Grandes Temas. São
Paulo, SP.
[21] Levy, B.L.M., Marans, R.W., 2012. Towards a campus culture of environmental
sustainability Recommendations for a large university. International journal of
sustainability in higher education, v. 13, n. 4, p. 365-377, jan./aug.
[22] Gatti, B.A., 2004. Grupo Focal na Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Líber
Livro, Brasília, DF.
[23] Silva, A.N., Wachholz, C.B., Carvalho, I.C.M., 2016. Ambientalização curricular:
uma análise a partir das disciplinas ambientalmente orientadas na pontifícia universidade
católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Revista Eletrônica de Mestrado em Educação
Ambiental, v. 33, n. 2, p. 209-229, may./aug.
[24] Pavesi, A.A., 2007. A ambientalização da formação do arquiteto: o caso do Curso
de Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos (CAU, EESC-USP). Tese
(Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de São
Carlos, SP.
[25] Bacci, D.L.C., Silva, R.L.F., Sorrentino, M., 2015. Educação ambiental e
universidade: diagnóstico disciplinar para a construção de uma política ambiental. In:
Anais do VIII Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental. Rio de Janeiro, RJ.

288
[26] Brandli, L.L. et al., 2012. Avaliação da presença da sustentabilidade ambiental no
ensino dos cursos de graduação na Universidade de Passo Fundo. Avaliação, v.17, n.2, p.
433 - 454, jul. Campinas, SP.
[27] Amérigo, M., García, J.A., Côrtes, P.L., 2017. Análise das atitudes e
comportamentos pró-ambientais: um estudo exploratório com uma amostra de estudantes
universitários brasileiros. Ambiente & Sociedade, v. XX, n. 3, p. 1-20, jul.-sep. São Paulo,
SP.
[28] Pereira, J.B., Campos, M.L.A.M., Nunes, S.M.T., Abreu, D.G., 2009. Um panorama
sobre a abordagem ambiental no currículo de cursos de formação inicial de professores
de química da região sudeste. vol. 32, No. 2. Ribeirão Preto, SP.

[29] Morales, A. G. M., 2009. A formação dos profissionais educadores ambientais e a


universidade: trajetórias dos cursos de especialização no contexto brasileiro. Educar, n.
34, p. 185-199, Curitiba, PR.

289
Capítulo 18

Programa de Uso Racional de


Recursos Hídricos e Energéticos da
Universidade de São Paulo

José Aquiles Baesso Grimoni


Osvaldo Shigueru Nakao
Leonardo Brian Favato
Rogério Souza da Silva
Luis Marcio Arnaut de Toledo
Christiano Berrini Perez

290
José Aquiles Baesso Grimoni
Formação Acadêmica: Engenheiro Eletricista (1980); Mestre (1989) ,
Doutor em Engenharia Elétrica (1994) e Livre-Docente(2006) pela
Escola Politécnica da USP. Experiência Profissional: No período de
1981 a 1989 trabalhou nas seguintes empresas: ASEA Industrial Ltda;
CESP; BBC Brown Boveri S/A; ABB - Asea Brown Boveri e FDTE -
Fundação para o Desenvolvimento Tecnologia da Engenharia. Desde
1989 atua como professor de disciplinas de graduação do curso de
engenheiros eletricistas opção Energia da Escola Politécnica da USP no
Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas e de
disciplinas de pós-graduação do mesmo departamento a partir de 1994.
Entre abril de 2003 e abril de 2007 exerceu o cargo de vice-diretor do
Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, hoje denominado Instituto
de Energia e Ambiente da USP e no período de 2007 e 2011 exerceu o
cargo de diretor deste mesmo instituto. È coordenador de curso de
graduação de Engenharia Elétrica – ênfase em Energia e Automação
Elétricas da Epusp desde 2012. É coordenador do Programa Permanente
para o Uso Eficiente dos Recursos Hídricos e Energéticos na
Universidade de São Paulo (PUERHE-USP) desde 2015 e diretor
adjunto da Fundação e Apoio a Universidade de São Paulo(FUSP) a
partir de 2016.

Osvaldo Shigueru Nakao


Formação Acadêmica:Graduação em Engenharia Civil pela USP (1973),
graduação em Matemática pelo Centro Universitário de Brasília (1976),
mestrado (2000) e doutorado (2005) em Engenharia Civil (Estruturas)
pela USP. Experiência Profissional :Professor doutor da USP Membro
do Conselho Editorial da Revista de Ensino de Engenharia. Autor de
livros e textos didáticos para o ensino médio e superior. Foi prefeito do
Campus USP da Capital, Superintendente do Espaço Físico e chefe de
gabinete da Reitoria da USP. Atualmente leciona as disciplinas de
Resistência dos materiais e na pesquisa, a ênfase é em Teoria das
Estruturas e em processos de ensino e aprendizagem, atuando na
formação de professores de Matemática do ensino médio e de
Engenharia do ensino superior.

291
Leonardo Brian Favato
Mestre Profissional em Tecnologia Ambiental, 2005, pelo Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. MBA em Energia, pela
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 2008. Graduado em
Engenharia Elétrica em 2000, pela Faculdade de Engenharia São Paulo.
Engenheiro do PUREUSP – Programa Permanente Para o Uso Eficiente da
Energia na USP, na área de gestão e uso eficiente de energia, sendo seu
responsável técnico operacional entre os anos de 2006 a 2015. Engenheiro
da Prefeitura do Campus USP da Capital, na área de monitoramento e
manutenção de redes elétricas do Campus Butantã (CUASO), sendo o
responsável pela equipe de Alta Tensão desde o final de 2018.

Rogério Souza da Silva


Mestre em Engenharia Elétrica - Sistemas de Potência em 2014 pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, Graduado em Engenharia
Elétrica em 2002, pela Universidade de São Paulo. Técnico em Eletrônica
em 1996, pela ETE Lauro Gomes. Experiência Profissional (resumida):
2004 até o momento - Engenheiro do PURE (atual PUEHRE), na área de
gestão de faturas e contratos de energia elétrica.

Luis Marcio Arnaut de Toledo


Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia. Experiência Profissional
:Atuação no Programa Permanente para Uso Eficiente de Energia (PURE-
USP) de 2000 a 2014; e no PUERHE-USP a partir de 2015.

Christiano Bernini Peres


Graduado em 2016 em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP)
Experiência Profissional: 2010: Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - Recenseador no âmbito do Censo 2010. 2013 até o presente:
Superintendência do Espaço Físico da USP – Auxiliar Administrativo no
PUERHE-USP, onde forneço suporte às atividades técnicas a partir da
execução de rotinas administrativas, além de auxiliar na gestão de faturas
de energia e de contratos.

292
INTRODUÇÃO
A Universidade de São Paulo tem atividades de ensino, pesquisa e extensão em São
Paulo, Ribeirão Preto, Bauru, São Carlos, Piracicaba, Pirassununga, Lorena (Figura 1).
Com cerca de 5 mil professores, 13 mil funcionários administrativos e técnicos e
atendendo a mais de 100 mil alunos, é a maior universidade pública do Brasil e
considerada a melhor do Brasil e da América Latina em diversos rankings internacionais
(Tabela 1).
O Programa Permanente para o Uso Eficiente dos Recursos Hídricos e Energéticos na
Universidade de São Paulo – PUERHE-USP foi criado mediante a portaria GR-6.632, de
04 de março de 2015, "com a finalidade de estabelecer diretrizes, propor atuações, avaliar
e gerenciar a utilização dos recursos hídricos e energéticos nas Unidades e nos Órgãos da
USP, de modo a incrementar a eficiência do uso e reduzir o consumo dos mesmos por
meio de ações de caráter tecnológico e comportamental" (D.O.E., 05/03/2015).
O Programa une o Programa Permanente de Uso Racional de Energia (PURE) e o
Programa Permanente de Uso Racional de Água (PURA) mantendo a mesma esfera de
ação e estabelece diretrizes, propõe atuações, avalia e gerencia a utilização dos recursos
hídricos e energéticos nas Unidades e nos Órgãos da USP, de modo a incrementar a
eficiência do uso e reduzir o consumo por meio de ações de caráter tecnológico e
comportamental.

Tabela 1 – Números dos Campi da USP

Consumo Área Área População


Campus de energia Custo (R$) Construída Territorial
funcionário
professores Alunos
(kW) (m²) (m²) s

Bauru 4.617.012 2.153.504 62.022 156.850 112 973 1.318


Lorena I 1.192.190 552.839 22.184 256.205 77 23 3.984
Lorena II 583.092 264.992 9.763 117.243
Piracicaba 11.853.684 5.385.996 218.626 8.169.300 272 996 5.892
Pirassunung 4.511.856 2.243.839 90.775 23.333.204 110 996 3.304
a
Rib Preto 20.140.387 9.320.791 224.841 5.746.368 983 1.792 16.717
São Carlos I 12.226.342 5.523.105 137.352 321.457 521 1.044 13.604
São Carlos II 2.616.401 1.219.833 38.136 978.027
São Paulo 84.053.909 33.736.465 896.538 3.648.944 3.288 8.389 77.562
141.794.87 60.401.368 1.700.242 42.727.599 5.363 14.213 122.381
Total 3

293
AÇÕES E RESULTADOS
Uma das principais ações do PURE e do PURA, criados no final da década de 1990,
foi a avaliação, a readequação, o monitoramento e o controle das contas de energia e água
da USP. Alguns sistemas de medição remota e programas de gerenciamento de contas
foram desenvolvidos e permitiram reduções significativas nos gastos. Esse ganho
permitiu a compra de equipamentos mais modernos e mais eficientes. Outra importante
ação foi a utilização das tecnologias que estavam surgindo para conscientização da
importância do uso racional de energia e de água. Assim, foram realizadas campanhas
educativas para funcionários, professores e alunos com palestras, material gráfico
impresso, treinamentos, criação de sites e canais de comunicação por telefone e por redes
sociais. Para que o processo se mantivesse contínuo foram criadas Comissões Internas
de Conservação de Energia e Água - CICE e CICA nas Unidades.
Para as compras, definiram-se equipamentos e produtos com maior eficiência que
atendam aos padrões brasileiros e que possuam selo do Instituto Nacional de Metrologia
- INMETRO e do Selo Programa de Conservação de Energia Elétrica - PROCEL. Houve
um empenho muito grande para a especificação e padronização de equipamentos de
distribuição e controle da utilização de água. A preocupação sempre presente foi a
sustentabilidade.
Desenvolveram-se diversos estudos e projetos de requalificação da iluminação, do
condicionamento do ar, da refrigeração e de outros usos da energia elétrica, apoiados
pelos Programas de Eficiência Energética - PEE das concessionárias de energia elétrica.
Os estudos de reforço de subestações primárias elétricas de várias unidades e prédios da
USP foram realizados. O racionamento de energia elétrica em 2001 foi encarado com
tranquilidade, uma vez que já havia toda uma cultura implantada e ferramentas de gestão
implementadas pelo PURE que permitiram à USP atender a redução de demanda imposta
pelo governo federal.
O Programa de Uso Racional de Energia e Fontes Alternativas - PUREFA foi criado
em 2005, apoiado pela FINEP e CT-Infra. As fontes de energias térmicas solares foram
implementadas em edifícios onde havia necessidade de aquecimento de água ou produção
de vapor para consumo (restaurantes, hospitais e centros esportivos da USP). Neste
projeto, sistemas de energia solar fotovoltaica foram implementados no Instituto
Eletrotécnico e de Energia – IEE. Há também um sistema de demonstração para o uso de
gás gerado por esgoto no Conjunto Residencial Universitário da USP – CRUSP em São
Paulo.

294
Figura 1 - Localização do Mapa USP Campi no Estado de São Paulo e na América do Sul
As contas de água são verificadas mensalmente para apontar erros nos medidores e
para preparar e comunicar as não conformidades para a Companhia de Água e Esgoto da
Empresa do Estado de São Paulo - SABESP e para as outras concessionárias. Essa
verificação permite uma gestão mais eficiente na autorização dos pagamentos mensais. A
mesma sistemática de acompanhamento dos dados dos medidores é realizada para energia
elétrica. A evolução do consumo de energia elétrica (PURE, 2015) e os gastos associados
a esse consumo estão no gráfico da Figura 2.
As substituições de equipamentos de consumo de água são feitas por equipamentos
mais eficientes, que sigam as Normas Técnicas Brasileiras e o Programa Brasileiro da
Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-H. (bacias sanitárias, mictórios e torneiras
automáticas acionadas por temporizadores).
Um processo para localização de vazamentos foi desenvolvido e mantido a partir do
envolvimento dos usuários que detectam e acionam os responsáveis pela manutenção.
Esse alerta pode ser encaminhado ao PUERHE via WhatsApp. Todo vazamento da rede
externa dos prédios é rapidamente comunicado à SABESP, que detém e gerencia a rede
no caso do Campus da Capital em São Paulo, e às concessionárias responsáveis nos campi
do interior. A Figura 3 mostra os resultados da evolução do consumo de água entre 1998
e 2014 em duas fases de implementação (PURA, 2015).

295
Figura 2 - Evolução de 2010 a 2016 do consumo de energia elétrica em MWh por ano
e dos valores de custos associados na USP.

Algumas unidades também solicitam estudos de setorização da medição onde está


prevista a instalação e posterior monitoramento do consumo de água nesses setores
específicos. Os prestadores de serviços de alimentação como lanchonetes e restaurantes
e que se utilizam de água e energia elétrica têm o seu consumo medido e recolhem o valor
correspondente na tesouraria das Unidades.
Nos Campi de Bauru e Lorena, a quase totalidade da água vem do subsolo e, no caso
dos Campi de Piracicaba e de Pirassununga, parte da água é obtida junto às nascentes e
rios. Observa-se que há significativa redução no consumo da água das concessionárias.
Pode-se observar que o consumo é cerca de 50% do consumo de 1990 (Figura 3).

Figura 3 - Evolução do consumo de água na USP

296
No dia 01 de Dezembro de 2015, no prédio da Administração Geral da USP, realizou-
se uma reunião (Figura 4) ,com a presença do vice-reitor da época e atual reitor, Prof. Dr.
Vahan Agopyan e da Secretária-adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado
de São Paulo, Prof.ª. Dr.ª Monica Ferreira do Amaral Porto, para apresentar o PUERHE,
sua equipe, suas linhas de ação gerais, as ações específicas no campo dos recursos
energéticos e dos recursos hídricos, as parcerias construídas e alguns resultados na esfera
do uso eficiente desses recursos desde os Programas PURA e PURE aos assistentes
administrativos e responsáveis pela área de manutenção das unidades e órgãos centrais
da Universidade, que estiveram presentes no local, ou acompanharam o evento por
videoconferência. A concientização e o comprometimento com a causa tem sido
estimulada.

Figura 4: Reunião do PUERHE (Cecília Bastos, SCS-USP)

Em 2016, após muitas tratativas e adequação dos sistemas de informática das


concessionárias de energia elétrica CPFL, foram unificadas as contas das diversas
Unidades da USP que até então eram apresentadas por edificação.
Em 2015, também foi realizado um estudo para alterar o número de alimentadores de
energia elétrica de distribuição de redes primárias do Campus Butantã, para torná-las
menos vulneráveis. Constatou-se a necessidade da instalação de novos alimentadores e
chaves de transferência para operar em alguma situação que exigisse a transferência de
cargas. Foi também estudada a possibilidade da compra da subestação do campus da
Capital e sua atualização, incluindo sistemas de monitoramento e supervisão. Com isso,
a USP faria a operação e a manutenção, tornando-se um laboratório vivo para seus

297
estudantes e pesquisadores de engenharia além de poder adquirir a energia elétrica em
alta tensão por custos mais baixos.
Um novo sistema de iluminação pública baseado na tecnologia LED foi implantado
em vários campi da USP permitindo a monitorização e o controle de cada luminária. Desta
forma, a gestão se tornou mais eficiente em níveis de iluminação e consumo de energia
elétrica.
Com a implantação de medidores de energia elétrica em várias edificações do campus
de São Paulo e a integração de dados com um centro de monitoramento (FAVATO e
NERI, 2017), utilizando a rede de fibra ótica do campus (Cloud) e as redes de
comunicação de alguns edifícios pode-se avaliar a evolução do consumo de cada edifício.
Obtém-se desta forma, indicadores, como o consumo de energia elétrica pelo número de
pessoas que vão para o prédio (kWh per capita) e por área construída (kWh/m2). A Tabela
2 mostra os resultados das medições de fevereiro de 2017 das unidades do campus da
Capital que já são monitoradas (PUERHE, 2017).
No início de 2017, a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL divulgou uma
chamada de projetos sobre Minigeração de Energia Elétrica e Eficiência Energética no
Campus Universitário para Universidades Públicas Federais que mais tarde foi alterada,
incluindo universidades estaduais e municipais. A USP enviou três propostas para a AES
Eletropaulo no campus de São Paulo, incluindo três usinas fotovoltaicas de cerca de 100
kWh cada e projetos de retroajuste de iluminação em vários edifícios do campus,
incluindo o Hospital Universitário, e dois deles foram aprovados. A implementação
desses dois projetos já foi iniciado.
Para a questão da água, estudos de fontes alternativas como poços artesianos para
abastecimento de água para usos específicos foram feitos no passado e em 2015 foram
revisitados após a crise hídrica. Alguns poços estão em fase de reativação para garantir o
abastecimento de água em alguns edifícios do campus da Capital.
Atualmente avalia-se o desempenho de um Sistema Remoto de Medição de Água de
Consumo (WMNET), usando uma interface Web, fornecida pela SABESP no campus da
Capital em São Paulo. Após a validação e adoção desse sistema, cada técnico responsável
pela gestão do consumo da água de uma unidade ou edifício terá acesso aos dados,
permitindo monitorar e detectar aumentos do consumo de água, o que pode significar um
consumo programado e justificável ou um vazamento interno que exigirá ações da equipe
de manutenção.
As equipes da PUERHE também participaram ativamente dos grupos de estudos
temáticos de energia e água da Superintendência de Gestão Ambiental - SGA da USP
para desenvolver normas nessas áreas e criar indicadores e metas para definir ações de
curto, médio e longo prazo que visem à sustentabilidade das atividades.

298
Tabela 2. Resultados das medições de energia elétrica de fevereiro de 2017 de algumas unidades
da USP no campus da Capital

CONCLUSÃO
A USP, composta por campi e edificações construídas e em funcionamento há décadas,
é uma organização dinâmica, em expansão, aprimoramento tecnológico, transformação
e, no que se refere ao espaço físico e instalações, em deterioração contínua. Novas
urgências e emergências acrescidas às decisões estratégicas das Unidades exigem ações
maduras e bem planejadas nas quais o PUERHE têm atuado.
A sociedade também cobra resultados do seu investimento na USP e o que se
descreveu aqui mostra a preocupação e a prática de uma boa gestão em insumos como a
água e a energia elétrica. Os programas permanentes de uso eficiente e racional, com a
participação de toda a comunidade uspiana (professores, funcionários e estudantes)
demonstram a seriedade com que a Universidade de São Paulo sempre tratou a
sustentabilidade.

REFERÊNCIAS
PURE. Relatório de ações PURE 2013 e 2014. São Paulo: USP; 2015.
PURA. PURA-USP e seus resultados. São Paulo: USP; 2015.
Favato L. B. & Neri E. Sistema de Monitoramento de Energia Elétrica em Tempo
Real da USP. São Paulo: USP; 2017
PUERHE. Informe Mensal de Consumo de Energia Fevereiro de 2017. Disponível em
<http://www.sef.usp.br/puerhe/energia/puerhe-energia-sistema-de-monitoramento-line-
das- instalacoes/informe-mensal-de-energia-eletrica/>. Acesso em 4 de abr. de 2017.
SEF. Relatório da gestão 2014-2017. Disponível em <http://www.sef.usp.br/wp-
content/uploads/sites/52/2018/02/Relat%C3%B3rio-de-Gest%C3%A3o_2014-
2017_R05.pdf>. Acesso em 30 de jun. de 2019.

299
Capítulo 19

PRME da Faculdade de
Economia e Administração do
Campus de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo:
Educação executiva Responsável

Flavio Pinheiro Martins


Adriana Cristina Ferreira Caldana
Perla Calil Pongeluppe Wadhy Rebehy

300
Flavio Pinheiro Martins
Graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, FEA-RP/USP. Aluno de
mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Organizações
da FEA-RP/USP, área: Inovação e Sustentabilidade. Atualmente trabalha
Superintendência de Gestão Ambiental da USP (SGA-USP). É membro da
Comissão do PRME da FEA/RP-USP e do Grupo de Trabalho - Sustentabilidade
na Administração, do Campus USP Ribeirão Preto. Tem experiência na área de
licitações e contratos públicos. Pesquisa Políticas Públicas em Sustentabilidade,
Compras Públicas Sustentáveis e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Adriana Cristina Ferreira Caldana


Especialista em Gestão de Pessoas. Livre Docente no departamento de
Administração da FEA/USP- campus de Ribeirão Preto. Graduada em Psicologia
pela Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado em Psicologia pela
Universidade de São Paulo. Pesquisadora na linha de Inovação e Sustentabilidade,
com os seguintes temas: gestão sustentável de recursos humanos, educação para a
sustentabilidade, responsabilidade social corporativa e desenvolvimento
sustentável. Líder do grupo de pesquisa GOLDEN for Sustainability - Chapter
Brazil (goldenbrazil.org). Fundadora do Escritório de Sustentabilidade da FEA-
RP/USP, criado para a promoção dos Principles for Responsible Management
Education (PRME) da ONU.

Perla Calil Pongeluppe Wadhy Rebehy


Graduada em Administração de Empresas pela FEARP/USP Universidade de São
Paulo (1997), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSCAr - Universidade
Federal de São Carlos (2002) e doutorado em Administração pela FEA/USP -
Universidade de São Paulo (2007). Atualmente é professora doutora efetiva da
FEARP/USP. A linha de pesquisa está concentrada em: (i) Avaliação de impacto
(avaliação de desempenho e eficiência); (ii) Política pública de resíduos sólidos
urbanos e logística reversa; (iii) finanças sociais; (iv) empreendedorismo social e
inovação.

301
INTRODUÇÃO

A sustentabilidade cada vez mais faz parte da agenda corporativa internacional.


Empresas têm se tornado sensíveis às questões que vão desde a produção e consumo
ecológico até a justiça social (NIDUMOLU et al. 2009). Esse cenário leva a uma
crescente conscientização sobre a necessidade de integrar políticas de desenvolvimento
sustentável na cadeia produtiva das grandes empresas e, consequentemente, nas
instituições de ensino responsáveis pela formação dos profissionais atuantes no mercado
(M'GONIGLE; STARKE, 2006).
Na crença de que as empresas têm papel fundamental no alcance das metas por um
mundo melhor, surgem iniciativas como o Pacto Global das Nações Unidas, a maior rede
de sustentabilidade corporativa do mundo, cuja missão, partilhada por seus signatários, é

I) Fazer negócios de forma responsável, alinhando suas


estratégias e operações com os princípios sobre direitos humanos,
trabalho, meio ambiente e anticorrupção;
II) Tomar medidas estratégicas para avançar objetivos sociais
mais amplos, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
da ONU, com ênfase na colaboração e inovação (UN GLOBAL
COMPACT, 2018)

A percepção de que as empresas sustentáveis podem ajudar na redução do impacto


ambiental leva à questão de contar com líderes alinhados com tal objetivo. A Educação
Corporativa, que pode ser o veículo para essa formação, enfrenta um certo ceticismo sobre
sua capacidade de formar líderes conscientes; uma das principais críticas ao sistema é a
frequente ocorrência do desacoplamento, entendido nesse contexto, como o
distanciamento entre o discurso e a prática da sustentabilidade nas instituições de ensino
voltadas para a educação corporativa (RASCHE, 2015).
Isso faz com que as escolas de negócios encontrem-se no meio de um dilema no qual
são, de certa forma, responsáveis pelo crescente impacto ambiental e social (RASCHE,
2015) e por outro lado extremamente importantes para reverter tal situação em direção a
formação de líderes responsáveis (KELL; HAERTLE, 2013; BADEN; PARKES , 2013).
Nesse contexto, iniciativas como os Princípios para a Educação Executiva
Responsável (PRME), uma plataforma educacional do Pacto Global, também apoiada
pela ONU, mostram-se extremamente necessárias e úteis para atuar como modelos da
prática da sustentabilidade nas escolas de negócios.
O PRME foi fundado em 2007, atualmente conta com cerca de 650 signatários em
todo o mundo e uma estrutura administrativa composta por capítulos regionais, sendo um

302
deles representado pelo Brasil. Como trata-se de uma iniciativa muito próxima ao
contexto corporativo, o Capítulo Brasileiro é composto principalmente por faculdades de
negócios da iniciativa privada (UNPRME, 2018), conforme ilustrado no Quadro 1.

Quadro 1 – Signatários do Capítulo Brasileiro


Antonio Meneghetti Faculdade - AMF
Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP/FGV)
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
Estação Business School
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - FEA USP*
Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil)
Fagen/UFU - Faculty of Business and Management
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto *
FIA - Fundação Instituto de Administração
Fundação Dom Cabral (FDC)
IAG - Business School
INSPER
Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR
ISAE/FGV
OPET - Organização Paranaense de Ensino Técnico
SECAL
System Federation of Industries of the State of Parana (FIEP)
UniCESUMAR
Universidade COPEL - UniCOPEL
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR*
* Instituições fomentadas principalmente ou exclusivamente por recursos públicos;
Fonte: UNPRME (2018);

Apenas três universidades presentes na lista são públicas. A Faculdade de Economia,


Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP / USP) é uma das
universidades que se encontra na zona de sobreposição entre uma escola de negócios e
uma instituição pública de pesquisa, ensino e extensão.

303
Tal cenário é desafiador e rico pela diversidade de partes interessadas envolvidas na
governança e pela necessidade de habilidades de gerenciamento complexas. Em um
ambiente com uma multiplicidade de interesses potencialmente conflitantes, integrar o
desenvolvimento sustentável de forma eficaz ao currículo dos alunos é uma tarefa árdua
na qual a comunicação da sustentabilidade pode atuar como um vetor para o envolvimento
ou dissociação das partes interessadas.

REFERENCIAL TEÓRICO

Os ODS e o papel das métricas: evitando o efeito Sísifo

Na mitologia grega, Sísifo era um rei de Corinto que, ao ofender os deuses, recebia
como punição a tarefa de empurrar uma pedra montanha acima para depois vê-la rolar até
o pé da montanha. O mito é geralmente usado como uma analogia ao trabalho laborioso
e que sempre recomeça.
Políticas e programas orientados para a sustentabilidade podem sofrer com o efeito
Sísifo (MATT, 2006; SMITH et al, 2011; JOLLANDS, 2006), especialmente por causa
da falta de compromisso institucional e sua vulnerabilidade aos aspectos políticos. As
ações são colocadas em prática de maneira pontual e não estruturada, o que as torna
suscetíveis à descontinuidade.
No sistema acadêmico das universidades públicas brasileiras, a cada período de tempo,
os dirigentes da instituição são modificados por meio de eleições ou nomeações. Aspectos
que podem fomentar ainda mais a descontinuidade das políticas.
É um contexto no qual a gestão do conhecimento e o compromisso público fazem-se
extremamente necessárias para evitar o desmantelamento de políticas; ambas as ações
podem ser alcançadas com a adoção de um sistema de relatórios e de comunicação da
sustentabilidade.
Na plataforma do PRME, as escolas que aderem, estão comprometidas com a
implementação de seus princípios e têm como obrigação publicar a cada 24 meses um
relatório de Sharing Information in Progress (SIP) , que tem por objetivo o
compartilhamento, com os demais agentes da rede, das ações e progressos realizados na
entidade. O formato do relatório é bem flexível, exigindo somente a presença de quatro
elementos básicos:
I. Uma carta assinada pelo mais alto executivo da organização,
expressando a continuidade com os compromissos do PRME;

304
II. Descrição das ações práticas que a instituição realizou para
implementar um ou mais princípios durante os 24 meses;
III Avaliação dos resultados em relação aos objetivos
propostos para o período;
IV. Objetivos específicos para os próximos 24 meses
(UNPRME, 2018).
O compromisso incorporado no SIP deve refletir um esforço para integrar o
desenvolvimento sustentável na instituição. O PRME da ONU desenvolveu um
arcabouço orientativo, lastreado pelos Seis Princípios do PRME que são, ao mesmo
tempo, uma afirmação e um farol da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(ESD) sob a perspectiva específica da Educação em Gestão Responsável (RME),
conforme descrito no Quadro 2.

Quadro 2 - PRME Seis Princípios


PRINCÍPIO DESCRIÇÃO
Princípio 1 - Propósito Desenvolveremos as capacidades dos
estudantes para serem futuros geradores de
valor sustentável para os negócios e a
sociedade em geral e para trabalhar por
uma economia global inclusiva e
sustentável.
Princípio 2 - Valores Incorporaremos em nossas atividades
acadêmicas, currículos e práticas
organizacionais os valores da
responsabilidade social global, conforme
retratados em iniciativas internacionais,
como o Pacto Global das Nações Unidas.
Princípio 3 - Método Criaremos estruturas, materiais,
processos e ambientes educacionais que
possibilitem experiências efetivas de
aprendizado para uma liderança
responsável.
Princípio 4 - Pesquisa Nós nos envolveremos em pesquisas
conceituais e empíricas que avancem
nossa compreensão sobre o papel, a
dinâmica e o impacto das corporações na
criação de valor social, ambiental e
econômico sustentável.

305
Princípio 5 - Parceria Interagiremos com os gestores de
corporações de negócios para ampliar
nosso conhecimento sobre seus desafios
no cumprimento de responsabilidades
sociais e ambientais e para explorar
abordagens conjuntas eficazes para
enfrentar esses desafios.
Princípio 6 - Diálogo Facilitaremos e apoiaremos o diálogo e o
debate entre educadores, estudantes,
empresas, governo, consumidores, mídia,
organizações da sociedade civil e outros
grupos e interessados interessados em
questões críticas relacionadas à
responsabilidade social global e
sustentabilidade.
Fonte: UNPRME (2018)

Dentro do cenário proposto pelo PRME, as escolas de negócios declaram o


alinhamento com os princípios e procuram integrá-los no seu propósito organizacional,
valores e missão.
Uma ferramenta existente para nortear a integração são as métricas disponíveis na
declaração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os ODS foram definidos pelos chefes de estado e governo em 2015 na Cúpula das
Nações Unidas, com base em sua versão anterior, os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM), e constituem um conjunto de metas claras e bem definidas a serem
cumpridas até 2030. Se cumpridas, essas metas eliminarão a pobreza extrema e pouparão
as futuras gerações do efeito devastador da mudança climática.
A síntese da proposta dos ODS está presente na sua declaração de lançamento

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas


que estamos anunciando hoje demonstram a escala e a ambição
desta nova Agenda Universal. Eles constroem sobre o legado dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e concluem o que não
conseguiram alcançar. Eles buscam realizar os direitos humanos
de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de
mulheres e meninas. Eles são integrados, indivisíveis e
balanceados para equilibrar as três dimensões do

306
desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental
(AGENDA 2030, 2018).

As metas quantificáveis nos ODS detém um amplo espectro de atuação e permitem


que o desenvolvimento sustentável assuma diferentes formatos e seja adaptável às
diferentes abordagens metodológicas presentes na transmissão do conhecimento dentro
das Instituições de Ensino Superior (IES). Diversos estudos relatam problemas e barreiras
dentro da comunicação da sustentabilidade (DJORDJEVIC; COTTON, 2011), espera-se
que tais barreiras sejam potencializadas no contexto da escola de negócios situada no
âmbito da administração pública em uma instituição cujo foco é a pesquisa científica é
notável.
Neste contexto, identificar e comunicar os relacionamentos existentes entre as
atividades das partes interessadas e os ODS é fundamental para que a integração com o
desenvolvimento sustentável seja eficaz.

OBJETIVOS

O objetivo geral é apresentar o mapeamento realizado da relação dos ODS com as


atividades de produção e extensão bibliográfica no contexto da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - FEA-RP / USP. Para esse fim, foram
mapeadas publicações em revistas científicas e participação em eventos com ODS; e a
relação das ações de extensão universitária promovidas pelos alunos das entidades
estudantis com os ODS.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada baseou-se em duas frentes, na primeira utilizou-se a


representação da teoria de redes para elaborar um grafo da produção bibliográfica dos
pesquisadores; na segunda frente analisou-se qualitativamente as principais ações
desenvolvidas pelos universitários por meio entidades estudantis. Em ambas as
abordagens, o objetivo foi identificar os vínculos existentes entre as ações e os ODS, a
fim de apresentar um cenário visual da congruência das ações das partes interessadas em
relação aos ODS.

Abordagem de redes sociais

307
Uma rede social consiste em um conjunto finito de atores e suas relações que podem
ser estudadas pelas técnicas de Análise de Redes Sociais (Wasserman e Faust, 1994). As
redes sociais ganharam popularidade com o recente aumento das mídias sociais; no
entanto, elas são estudados há muito tempo pelas ciências, como sociologia e
antropologia, em perspectivas muito mais amplas, nas quais os pesquisadores
encontraram nas "metáforas têxteis" como "tecido" uma ótima representação para referir-
se às configurações sociais de "entrelaçamento" e "interconexão" (SCOTT, 2017).
A análise de redes, apoiada pela teoria dos grafos, possibilita a identificação de clusters
organizacionais como sistemas de nós, ou vértices, de atores agrupados permanentemente
ou transitoriamente; as ligações da rede de atores são elos relacionais que podem assumir
várias formas (SEDITA et al, 2015). Existe um enorme campo propício e ainda
inexplorado para a teoria das redes no contexto das políticas públicas (O'TOOLE, 2015).
Alguns trabalhos mostram seu uso para esclarecer cenários nos quais as elites
empresariais têm grande influência nas decisões de políticos e burocratas (JOHNSTON,
2005); oura pesquisa demonstra como aspectos relacionais entre agentes públicos e
empreendedores são prejudiciais ao combate à corrupção (SETH JONES, 2013).
Foram coletados dados referentes à participação de pesquisadores universitários em
congressos, feiras e eventos acadêmicos, no período 2016-2018. Os dados foram obtidos
por meio de uma plataforma acadêmica alimentada pelos pesquisadores. Na busca inicial
foi utilizado um filtro com as palavras-chave contidas na descrição de cada ODS. Após o
filtro inicial, as publicações foram analisadas qualitativamente e foram vinculadas aos
ODS com os quais continham maior alinhamento. O mesmo procedimento foi utilizado
para publicações em revistas científicas.

Análise de atividades de extensão universitária

A FEA-RP tem 1400 estudantes de graduação, com um histórico de entidades


estudantis fortes e com grande atuação na extensão universitária. São 13 organizações
estudantis que realizam uma série de trabalhos em parceria com organizações do terceiro
setor, sociedade civil, governo e empresas. As atividades realizadas alinham-se aos
valores das entidades, contemplando um amplo espectro de atuação. Conforme percebido
por BORGES et al. (2017) os alunos criam um próprio “currículo oculto”, ou informal,
que inclui atividades sobre ações de impacto social. O conteúdo prático e teórico presente
nas atividades relatadas pelas entidades estudantis foi analisado, e foram identificados
quais os ODS estão mais presentes. O vínculo entre o conteúdo das atividades e os ODSs
foi validado por um pesquisador, um funcionário e um aluno graduado, todos envolvidos
com as atividades das entidades estudantis.

308
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O layout da rede social acadêmica

Os dados foram ajustados para serem utilizados no software Gephi (Bastian et al.,
2009), uma das muitas ferramentas utilizadas para análise e visualização de grafos. Na
teoria de redes, os nós e bordas assumem nomes diferentes de acordo com o campo de
estudo (NEWMAN, 2010). Aqui definiu-se como "nós", os ODS, bem como artigos ou
trabalhos; a chamada "aresta", a ligação que conecta os nós, é representada pela presença
das palavras-chave do SDG no título dos artigos e pela análise qualitativa subsequente
dos autores.
Para cada categoria foram criadas as planilhas dos nós e de arestas. A ligação entre os
nós ocorreu através da relação do artigo/trabalho (fonte) e do SDG (alvo), de acordo com
a linguagem lida pelo software Gephi.
O modelo de rede obtido por meio desse procedimento é chamado de rede bipartida,
na qual os grupos de nós possuem características comuns e possuem apenas arestas
conectando-os ao outro grupo.
No presente trabalho é conveniente utilizar essa representação, pois o objetivo é
mostrar a vinculação da pesquisa com os ODS, em uma relação em que os artigos são
vinculados apenas aos ODS, e não há nós do mesmo tipo interligados. Ex: artigos com
artigos, ODS com ODS.
A análise da rede relacionada à participação em eventos acadêmicos resultou em 160
nós; os de maior grau detém a maior quantidade ligações e são os que representados pelos
ODS 16, 12 e 11, que contém, respectivamente, 76, 29 e 25 conexões. A métrica do Page
Rank também foi usada, embora seja uma métrica originalmente criada para identificar
páginas relevantes na Internet, mostra-se uma boa ferramenta para quantificar a
importância dos nós, em geral, na rede.
O algoritmo Page Rank também indicou os mesmos ODS como sendo os de maior
relevância, como mostrado na Tabela 1. Ambas as métricas são consideradas medidas de
centralidade que indicam os nós com maior influência em uma rede.

Tabela 1 - Estatísticas da rede: eventos acadêmicos por ODS


PAGE
ODS (SDG) GRAU MODULARIDADE
RANK
1. Erradicação da pobreza 0 0,000 5
2. Fome zero e agricultura sustentável 9 0,015 6
3. Saúde e bem-Estar 18 0,025 1

309
4. Educação de qualidade 18 0,031 0
5. Igualdade de gênero 2 0,004 8
6. Água potável e saneamento 5 0,008 10
7. Energia limpa e acessível 22 0,031 7
8. Trabalho decente e crescimento
7 0,013 6
econômico
9. Indústria, inovação e infraestrutura. 21 0,035 2
10. Redução das desigualdades 9 0,015 8
11. Cidades e comunidades sustentáveis 25 0,042 9
12. Consumo e produção responsáveis 29 0,044 10
13. Ação contra a mudança global do clima 0 0,000 11
14. Vida na água 0 0,000 12
15. Vida terrestre 0 0,000 13
16. Paz, justice e instituições eficazes 76 0,120 1
17. Parcerias e meios de implementação 13 0,018 2
Fonte: Elaborado pelos autores

A terceira medida trazida aqui é a classe de modularidade, a qual é baseada no algoritmo de


Blondel et al. (2008); tal medida é uma das muitas que existem para a identificação de
comunidades dentro de redes. Uma comunidade é um conjunto de nós que possuem conexões
entre si com densidade maior que o restante da rede.
Para a formação deste grafo, foi utilizada a distribuição Force Atlas 2, disponível no pacote
padrão do Gephi. O algoritmo dessa distribuição simula um sistema físico no qual os nós se
repelem como partículas magnetizadas, e as arestas puxam de volta os nós como se fossem molas.
O sistema evolui até convergir para uma configuração balanceada que favorece a visualização e
interpretação da rede (JACOMY et al, 2014).
Para uma melhor visualização, utulizou-se a divisão por comunidades definida pela classe de
modularidade para colorir os grupos de nós que possuem ligações relacionadas; isso gera um
excelente impacto informativo e estético na visualização do grafo.
A combinação da distribuição Force Atlas e colorização por modularidade mostra aspectos
interessantes do panorama de pesquisa da universidade. Pode-se identificar algumas comunidades
envolvendo os ODS 16 e 3, indicando que o núcleo mais produtivo relacionado aos ODS é aquele
que lida com questões relacionadas ao fortalecimento das instituições (ODS 16) e o maior foco
na saúde (ODS 3). Muitos dos trabalhos dentro deste cluster abordam questões do Sistema Único
de Saúde (SUS) e da gestão logística em hospitais públicos.
Observa-se também uma região com um número grande de conexões entre os ODS 9, 7, 12 e
17. São pesquisas que conectam temas como o da energia, especialmente elétrica e

310
biocombustíveis, com a indústria, inovação e gestão organizacional; este último, especialmente
representado por pesquisas com temas de governança corporativa e influência dos agentes na
promoção do desenvolvimento sustentável.
A pesquisa envolvendo educação (ODS 4) e redução de desigualdades (ODS 10) também
aparece relacionada em uma comunidade um pouco menor, também conecta as políticas públicas,
por meio do ODS 16.
Orbitando do lado oposto do grafo, encontram-se um número considerável de trabalhos ligados
ao ODS 11, como resultado do interesse em pesquisas sobre questões locais, da comunidade na
qual a universidade está localizada.

Figura 1 – Grafo da rede: representação dos eventos acadêmicos agrupados por ODS

Fonte: Elaborado pelos autores usando o software Gephi (Bastian et al., 2009)

311
Na análise dos artigos publicados em periódicos científicos, após a avaliação
qualitativa, obtive-se 69 artigos.
Os nós com maior grau são SDG 12, 16, 8 e 9, respectivamente, com 22, 14 e 11
conexões. As medidas de Page Rank acompanham proporcionalmente o grau. A repetição
do ODS 16 entre os mais conectados reforça a importância dada à temática na
universidade.

Tabela 2 - Estatísticas da rede: trabalhos publicados pela SDG


PAGE MODULARITY
ODS (SDG) DEGREE RANK CLASS
1. Erradicação da pobreza 2 0,011 4
2. Fome zero e agricultura sustentável 0 0,006 1
3. Saúde e bem-Estar 6 0,030 8
4. Educação de qualidade 10 0,041 9
5. Igualdade de gênero 1 0,009 4
6. Água potável e saneamento 6 0,029 2
7. Energia limpa e acessível 9 0,028 0
8. Trabalho decente e crescimento econômico 11 0,046 3
9. Indústria, inovação e infraestrutura. 11 0,037 0
10. Redução das desigualdades 8 0,030 4
11. Cidades e comunidades sustentáveis 6 0,026 4
12. Consumo e produção responsáveis 22 0,102 5
13. Ação contra a mudança global do clima 0 0,006 6
14. Vida na água 0 0,006 7
15. Vida terrestre 1 0,009 0
16. Paz, justice e instituições eficazes 14 0,062 8
17. Parcerias e meios de implementação 6 0,024 9
Fonte: Elaborado pelos autores

Comparativamente, observa-se que esta rede ODS 12 parece mais relevante, refletindo
o maior número de estudos relacionados à relação das organizações com a
sustentabilidade em geral. Os ODS 10 e 11 aparecem como um novo agrupamento,
relacionando o interesse em questões locais com o combate à desigualdade. Além disso,
o agrupamento entre inovação e energia também é repetido nessa rede.

312
A colorização foi novamente baseada na modularidade, ao invés do Force Atlas 2,
usamos outro algoritmo, também dirigido por força, disponível em Gephi: o Yifan Hu
(HU, 2005), que neste caso forneceu uma visão mais clara dos dados.

Figura 2 – Grafo da rede: representação dos artigos acadêmicos agrupados por ODS

Fonte: Elaborado pelos autores usando o software Gephi (Bastian et al., 2009)

A presença de um número regular de nós ligados ao SDG 9, tanto nas redes dos eventos
como na das publicações, reforça Ávila, et al. (2017) na sua percepção sobre os fortes
laços entre inovação e sustentabilidade no contexto de ensino superior.
Em ambas as representações, considerando os eventos e as publicações em periódicos
científicos, pode-se observar que alguns ODS não estão vinculados às pesquisas. Um
deles é o ODS 13, referente a ações contra as mudanças climáticas. Pode parecer
assustador que não exista uma pesquisa específica sobre as questões climáticas, que é
considerada o ponto central da sustentabilidade. No entanto, a justificativa lógica para
isso é a estruturação e complementaridade dos ODS, bem como a posição central ocupada
pelo ODS 13.

313
Muitos dos ODS relacionados à pesquisa têm metas que agem contra as mudanças
climáticas, então o fato de não citar explicitamente não significa que tais ODS não sejam
impactados por outro ODS como o SDG 9 e 7, que refletem inovações na indústria e
abordagens para energia limpa.
No que diz respeito ao ODS 14, sobre a preservação da vida nos oceanos e mares,
acredita-se que não esteja muito presente devido ao contexto cultural e geográfico da
instituição, localizada no interior do estado, a muitos quilômetros da praia mais próxima.

Ações de estudantes

As entidades estudantis da FEA / RP-USP são organizadas com base em um currículo


informal, não necessariamente vinculado à estrutura curricular da universidade. Embora
recebam assistência estrutural do corpo administrativo e orientação de professores, as
entidades possuem autonomia administrativa e financeira, bem como na definição de seu
escopo.
No Quadro 4 é apresentada uma breve síntese das organizações estudantis e seus
principais objetivos

Quadro 4 - Organizações estudantis e objetivos


ORGANIZAÇÕES ABORDAGEM
Júnior FEA-RP A consultoria Junior da FEA-RP, assim como outras empresas
juniores, conta com o apoio e acompanhamento de professores
renomados dentro da USP, além de prestar serviços a um preço
abaixo do mercado, por ser uma organização sem fins lucrativos
e com trabalho não remunerado.
ENACTUS Enactus FEA-RP é um escritório local da organização presente
em vários países,
reúne estudantes de diversos cursos do campus de Ribeirão
Preto, com a missão de identificar oportunidades e transformá-
las em realidade através de projetos empresariais que promovam
agentes de mudança social, econômica e ambiental em Ribeirão
Preto e região.
Núcleo A NE é a orientada para o desenvolvimento de planos de
Empreendedores negócios, análise de viabilidade dos projetos; assessoria para
buscar financiamento e consultoria para a implantação de novas
empresas. Promovem também eventos focados na discussão e

314
propagação da cultura empreendedora e na disseminação e
incentivo de Iniciativas Sociais de empreendedorismo.
Centro de O CVU tem como missão ser um centro de promoção do
Voluntariado voluntariado no ambiente universitário, criando oportunidade
Empresarial para que alunos, professores e funcionários atuem em projetos
sociais, proporcionando crescimento pessoal e desenvolvimento
de nossa comunidade. A visão do CVU é ser um modelo de
centro de voluntariado que possa ser aplicado em qualquer
faculdade do país, contribuindo com entidades sociais e
desenvolvendo projetos de natureza transformadora da
realidade.
Centro Acadêmico O Centro Acadêmico é o grupo de estudantes mais
Estudantil Flaviana representativo da faculdade. Foi fundado em 1993 e é composta
Condeixa Favaretto por estudantes e a missão é defender os acadêmicos como é a lei
e a justiça. É uma associação sem fins lucrativos, de modo que
os recursos resultantes de eventos e cursos são reinvestidos para
o bem-estar da FEA-RP
iTeam Sua missão é realizar a recepção, integração e adaptação dos
intercambistas. Além de oferecer assessoria aos interessados em
realizar intercâmbios e cursos de idiomas para brasileiros e
estrangeiros. Além de organizar eventos, palestras e festas como
atividades principais.
Nexos Gestão Uma organização que promove a inovação e melhoria da gestão
Pública pública. Atuando como elo entre a administração pública local
e a universidade.
Clube do Mercado O Clube do Mercado Financeiro iniciou suas atividades em 2009
Financeiro (CMF) com o objetivo de atender à falta de práticas da universidade
relacionadas ao mercado financeiro e às finanças em geral. Por
meio de cursos, eventos, discussões e projetos, em parceria com
profissionais do mercado, eles carregam conteúdos ao longo do
ano para os mais diversos públicos, universitários e jovens e
adultos no Brasil.
Fonte: Elaborado pelos autores com as informações coletadas nos relatórios SIP (FEARP,
2018)

As principais ações de extensão foram mapeadas com base nos registros das
submissões feitas ao “Prêmio Organização Sustentável” nos anos de 2016 e 2017. O
concurso é organizado pela equipe da FEA-RP e tem como objetivo premiar a entidade

315
com a ação ou projeto mais impactante do ano em curso. O Quadro 5 resume as atividades
de extensão, organizadas conforme os ODS.

Quadro 5 – Laços entre os ODS e as atividades de extensão

ODS ENTIDADES E AÇÕES DESCRIÇÃO

Uma das ações que a No Roda de Saia, as mulheres têm a oportunidade


ENACTUS promove é o de desenvolver suas habilidades com a costura e
Projeto Roda de Saia. conseguir um complemento à renda familiar. Além
disso, há reuniões semanais dos membros do projeto
com as mulheres para acompanhar o trabalho, para
acompanhá-las individualmente e receber feedback
sobre como a equipe trabalha e se estão satisfeitas
com o projeto.

As entidades substituem a Prática recorrente e incorporada na cultura das


o pagamento de ingressos entidades, tanto para eventos acadêmicos como para
por doação de alimentos festas universitárias. Eles coletam alimentos em
não perecíveis. seus eventos e doam para organizações sem fins
lucrativos

Júnior-FEA promove uma A FEA-VIVA é um evento que visa conscientizar


campanha de doação de estudantes, professores e funcionários da USP, bem
sangue, chamada FEA- como a população de Ribeirão Preto, sobre a
VIVA importância da doação de sangue. O evento é
realizado duas vezes por ano em parceria com o
Centro Acadêmico, e deu a entidade o
reconhecimento através do selo: Amigos do
Hemocentro.

O Centro Acadêmico O cursto tem preços populares para estudantes que


administra um Cursinho não podem pagar. Embora recebam pagamentos
preparatório pré- mensais, os alunos que demonstram baixa renda não
vestibular. pagam nada. O curso tem sido efetivo em relação a
número de aprovações.

A iniciativa “Chama as O projeto “Chama as mina” promove o


mina” foi idealizada pela empoderamento e combate a violência contra as
Associação Atlética mulheres, especialmente no meio universitário.
Acadêmica Flaviana
Condeixa Favaretto
(A.A.A.F.C.F)

316
A Núcleo Criado em 2004, o PICE é uma das mais antigas
Empreendedores é o iniciativas de Cultura e Extensão da FEA-RP. O
principal parceiro do projeto visa o treinamento de microempreendedores
Programa Integrado de locais em comunidades de baixa renda, com o
Capacitação Empresarial objetivo de fomentar o empreendedorismo.
(PICE) espírito, capacitando-o na busca de soluções para os
problemas
de geração de renda. Para isso, é utilizada uma
metodologia que inclui palestras, workshops,
treinamentos, aulas e discussões tabelas. O projeto
dura um ano e é esperado, como resultado, que os
seus beneficiários possam encontrar oportunidades
para o desenvolvimento contínuo de seus
empreendimentos, promovendo a bem-estar
coletivo.

O evento Hackribeirão foi O Hackribeirão foi uma hackathon cívica, cujo


organizado pela Nexos objetivo foi desenvolver soluções relacionadas aos
Gestão Pública. problemas da administração pública municipal.

Projeto “Pé-de-meia“ é O projeto Pé-de-meia tem por objetivo ajudar as


promovido e coordenado famílias a sair da dívida através de reuniões
pela entidade estudantil privadas semanais, é uma iniciativa consolidada que
Clube do Mercado tem ajudado muitas pessoas a recomeçar suas vidas.
Financeiro

O GIRA Conhecimento é Os GIRAs são ações planejadas em parceria com os


uma iniciativa promovida cursos de Fonoaudiologia e Nutrição, com o
pelo Centro de objetivo de realizar atividades pedagógicas e
Voluntariado recreativas em Organizações Não-Governamentais
Universitário (CVU) (ONGs) locais. As ações atendem crianças, jovens e
idosos, e promovem o interesse pela saúde básica,
educação e desenvolvimento pedagógico e cuidado
aos idosos,

Júnior FEA-RP As consultorias tem como objetivo realizar projetos,


consultorias externas sem custo, para entidades do terceiro setor que
apresentem alguma necessidade/dificuldade de
gestão organizacional.

O Earth FEA, é um O EarthFea é um evento anual do Centro


evento anual promovido Académico Flaviana Condeixa Favaretto que teve 3
pelo Centro Acadêmico. edições e é normalmente realizado no segundo
semestre do ano. O principal objetivo do evento é
abordar temas relacionados à sustentabilidade e ao
meio ambiente inter-relacionados à importância

317
cotidiana das práticas e também destacar a
importância em seus 3 pilares dos cursos de
graduação da FEA.

A Plataforma de O PALP é um aplicativo que visa aumentar o


Acompanhamento de controle das licitações públicas, acessando
Licitações (PALP) foi informações de forma rápida e não-burocratizada.
desenvolvida pela Ele tem sido usado em várias prefeituras locais, bem
NEXOS Gestão Pública. como nos próprios procedimentos de licitação da
universidade.

Todas as entidades As parcerias são representadas pela interação nos


projetos. Existem vários comitês de trabalho que
reúnem membros de todas as entidades em ações
conjuntas. Eles apoiam e se relacionam através de
eventos, finanças, conselhos e funcionários.

Fonte: Elaborado pelos autores

Os seguintes ODSs não foram diretamente contemplados por nenhuma das ações: ODS
6, ODS 7, ODS 15, ODS 14. Isso pode estar relacionado à forte conexão, real ou
percebida, entre esses ODS e os aspectos ambientais do tripé do desenvolvimento
sustentável, que podem ter uma integração mais complexa na educação gerencial, quando
comparado com os aspectos econômicos e sociais.
Em comparação com os dados obtidos através da análise da produção acadêmica, um
maior deslocamento pode ser percebido nas atividades de extensão universitária em
direção aos ODS mais ligados aos aspectos sociais do desenvolvimento sustentável. Essas
são características da extensão universitária no contexto das universidades públicas
brasileiras e que, aparentemente, na FEA-RP / USP encontra fluxo através das ações das
entidades.

CONCLUSÃO

As escolas de negócios desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das


habilidades e mentalidade dos gestores de amanhã, atuando assim como catalisadores de
responsabilidade social e ambiental nas organizações, é neste pressuposto que o PRME
visa sua missão, também apoiada por várias escolas de negócios no Brasil e o mundo.
A comunicação da sustentabilidade, alcançada através de relatórios e afins, tem
impacto na gestão do conhecimento e na continuidade das políticas de desenvolvimento
sustentável. Aliado a isso, a representação por meio de grafos da produção acadêmica e
atividades de extensão universitária permite que as partes interessadas compreendam

318
claramente seu papel na comunidade, bem como seu posicionamento na agenda global
dos ODS.
O mapeamento das ações estudantis demonstra que há uma busca por alternativas fora
do currículo formal da instituição, que em geral resulta em ações de extensão intimamente
ligadas aos ODS. Acredita-se também que muitos estudantes não reconhecem sua atuação
junto à agenda global dos ODS, agindo quase instintivamente na busca por gerar impacto
socioambiental. As limitações do estudo estão em parte na dificuldade de capturar as
interações secundárias dos ODS com a estrutura da rede bipartida de grafos. Sugere-se
que estudos futuros avaliem, por meio de redes, outras formas de interação acadêmica,
como a coautoria e a orientação de teses e dissertações.

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