1884-Texto Do Artigo-14835-1-10-20230606

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ISSN 2359-4799

Volume 9 / Número 2 / Ano 2023 – p. 01-19


DOI: 10.36524/ric.v9i2.1884

ESTUDO DAS PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DE GRANADA GRANITOS


ORNAMENTAIS TRATADOS COM ÁCIDO

STUDY OF THE TECHNOLOGICAL PROPERTIES OF GRANADA GRANITE ROCKS


TREATED WITH ACID
1
Marialice Gomes de Souza Freitas.
2
Ana Paula Meyer.

¹Instituto Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected]


²Instituto Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected]
*Autor de correspondência

Resumo: Com o intuito de atender a demanda comercial, o setor brasileiro de rochas ornamentais tem
empregado novas tecnologias para diminuir os problemas ocasionados pelas modificações naturais das
rochas. Dentre estes problemas, destaca-se a coloração amarelo avermelhada provocada pela oxidação
de minerais ferruginosos, descaracterizando o padrão estético da rocha e comprometendo sua
comercialização. Buscando contornar este problema de manchamento frequente, as empresas iniciaram
a aplicação de ácidos nas superfícies rochosas para remover e prevenir o aparecimento dessas manchas
ferruginosas. Entretanto, pouco se sabe sobre a influência desse tratamento nas propriedades
tecnológicas das rochas. Os materiais escolhidos para esse trabalho foram duas rochas graníticas com
nome comercial Branco Dallas e Branco Itaúnas, com o objetivo de analisar a resistência mecânica e
química das rochas em chapas submetidas à aplicação de ácidos e não submetidas ao ácido por meio dos
ensaios de desgaste abrasivo, flexão por carregamento em quatro pontos e ensaio de manchamento. Os
resultados foram analisados em relação ao mesmo litotipo, com efeito de comparar e avaliar se houve
alterações obtidas nos materiais do grupo sem aplicação do ácido e do grupo com ácido. Os resultados
apontam para uma redução da resistência à abrasão e flexão das rochas, a qual varia conforme a
composição mineralógica e o grau de microfissuras de cada material. Em relação a interação química
resultante do contato dessas superfícies tratadas com os produtos utilizados no ensaio de manchamento,
não houve comprometimento significativo causado devido à aplicação do ácido nas rochas estudadas.

Palavras-chave: rochas ornamentais; aplicação de ácido; comportamento tecnológico.

Abstract: In order to meet the commercial demand, the Brazilian sector of ornamental rocks has
employed new technologies to reduce the problems caused by natural modifications of the rocks. Among
these problems, the reddish yellow coloration caused by the oxidation of ferruginous minerals stands
out, uncharacterizing the aesthetic standard of the rock and compromising its commercialization.
Seeking to get around this frequent staining problem, companies have started to apply acids to the
surfaces to remove and prevent the appearance of these rusty stains. However, little is known about the
influence of this treatment on the technological properties of the stones. The materials chosen were two
granite rocks commercially called Branco Dallas and Branco Itaúnas, with the objective of analyzing
the mechanical and chemical resistance of the rocks in slabs submitted to acid application and not
submitted to acid by means of abrasive wear tests, bending by four-point loading, and staining test. The
results were analyzed in relation to the same lithotype, with the effect of comparing and evaluating if
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there were changes obtained in the materials of the group without acid application and the group with
acid. The results point to a reduction in the abrasion and flexural strength of the rocks, which varies
according to the mineralogical composition and the degree of micro-cracking of each material.
Regarding the chemical interaction resulting from the contact of these treated surfaces with the products
used in the staining test, there was no significant impairment caused due to the application of acid.

Keywords: ornamental rocks; acid application; technological behavior.

1 INTRODUÇÃO apresentarem resistência mecânica


Na década de 50 e início dos anos adequada ou uma estética apreciada, hoje
60, o Brasil começou a extrair rochas com a são comercializadas por meio técnicas que
finalidade de emprega-las como materiais a indústria de beneficiamento de rochas
ornamentais e de revestimento1. A partir ornamentais desenvolveu, como
dos anos 80 e 90, o setor de rochas envelopamento de blocos que permite a
ornamentais teve seu crescimento no país, serrada de rochas cada vez mais frágeis,
se tornando um dos maiores produtores e aplicações de resinas e telas para aumentar
exportadores de rochas ornamentais do a resistência mecânica das chapas e a
mundo, atingindo mais de 2,21 milhões de aplicação de ácidos em chapas para a
toneladas de rochas exportadas durante o remoção das manchas de oxidação
ano de 2021 (ABIROCHAS, 2021). O (CALVACANTI et al., 2019).
início do século XXI é marcado por Os materiais rochosos estão sujeitos
progressivo crescimento na produção e à modificações físicas e químicas por meio
diversificação de materiais rochosos das ações intempéricas que atuam nos
utilizados para fins ornamentais. A maciços aflorantes (dilatação térmica,
diversidade de rochas explotadas no Brasil oxidação, hidrólise / hidratação e
tornou o país conhecido pela sua vasta dissolução) (TEIXEIRA et al., 2007). Dessa
“geodiversidade”. forma, a partir do momento que as rochas
A crescente demanda pelo uso das entram em contato como as condições da
rochas ornamentais nas construções de alto superfície, desencadeiam-se modificações
padrão, desperta o setor para buscar de resultantes da interação com as intemperes.
materiais que atendam o padrão estético Essas modificações naturais podem
imposto pelo mercado (modismo). Dessa ocasionar mudanças na estética das rochas
forma, a cada ano aparecem novos materiais ornamentais. A mais notada é a coloração
no mercado, destacando os quartzitos, que amarelo avermelhada oriunda da oxidação
surgiram como uma nova categoria de de minerais ferruginosos (principalmente
material (ABIROCHAS, 2018; minerais metálicos e/ou granadas
ABIROCHAS 2021). Assim, diante da ferruginosas).
vasta variedade de rochas, o setor brasileiro As reações intempéricas
vem a cada ano empregando novas desencadeadas naturalmente nas rochas
tecnologias para atender a demanda aflorantes nos maciços rochosos, também
comercial. Muitas rochas que no passado podem ser aceleradas (reações
poderiam não ser empregadas no setor de desencadeadas de forma mais intensa) nas
rochas ornamentais, seja por não rochas ornamentais quando expostas em

1 submetido a diferentes graus ou tipos de


Rocha ornamental: material rochoso natural, que
beneficiamento, pode ser utilizado no acabamento de
submetido a diferentes graus ou tipos de
superfícies tais como pisos e fachadas, em obras de
beneficiamento, pode ser utilizado para exercer uma
construção civil (ABNT, 2003).
função estética (ABNT, 2003); Rocha de
revestimento: material rochoso natural que
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fachadas e submetidas ao contato como e não submetidas ao ácido por meio dos
produtos de limpeza (FRASCÁ, 2003). ensaios de desgaste abrasivo, flexão por
No caso dos granitos carregamento em quatro pontos e ensaio de
comercializados como Branco Dallas e manchamento.
Branco Itaúnas, o amarelamento
ocasionado pela oxidação, descaracteriza o
padrão estético solicitado pelo mercado 2 REFERENCIAL TEÓRICO
para essas rochas. Assim, a presença de Embora o setor de rochas
oxidação nesses granitos resulta na rejeição ornamentais contemple uma vasta
dessas rochas no mercado ornamental diversidade de litotipos, comercialmente as
(BARROS; RIBEIRO; SILVA, 2020). No rochas ornamentais são agrupadas em três
intuito de promover a inclusão desses grandes grupos: mármores, granitos e, nos
materiais no mercado das rochas últimos anos, um dos materiais mais
ornamentais, a indústria de beneficiamento comercializados, os quartzitos
desenvolveu a técnica de aplicação de ácido (ABIROCHAS, 2022).
em chapas que remove as manchas de Essas rochas podem sofrer
oxidação da rocha permitindo sua a alterações ao longo de dois principais
comercialização. mecanismos: (1) nos processos naturais,
A aplicação de ácido tem se relacionados ao intemperismo que atua
mostrado eficaz na remoção das manchas como um mecanismo modificador nas
ferruginosas, no entanto, pouco se sabe propriedades físicas e químicas dos
sobre o real impacto no comportamento minerais (TEIXEIRA et al., 2007); (2) nas
tecnológico das rochas submetidas a esta etapas de beneficiamento e aplicações como
aplicação, e como as rochas ornamentais rochas ornamentais.
são materiais naturais de composição A etapa de beneficiamento, onde
química bem diversa quando comparadas a ocorre o desdobramento de blocos por meio
outros materiais utilizados na construção dos teares, tem como objetivo agregar valor
civil, como as cerâmicas e porcelanatos, o e reduzir a deterioração do material
contato da rocha com substâncias ácidas (PEREIRA, 2020).
pode promover reações químicas diversas, A finalidade desses processos é
chegando até a dissolução completa, em evidenciar as características estéticas como
determinados minerais. cor, textura e estrutura, uma vez que, esses
Portanto, é de extrema relevância a atributos são direcionados pelas tendências
avaliação do comportamento mecânico da de mercado e influenciam no valor
rocha ornamental submetida a aplicação de comercial as rochas (FRASCÁ, 2001).
ácidos durante o seu beneficiamento. Pois Dentre as patologias comuns que
além da estética, a rocha ornamental deve ocorrem nas superfícies rochosas, destaca-
apresentar paramentos tecnológicos que se o manchamento, que geralmente está
viabilizem a sua aplicação segura na relacionado à porosidade, permeabilidade e
construção civil. mineralogia da rocha (SANTOS;
Sendo assim, o presente trabalho RIBEIRO, 2019).
tem como objetivo analisar o A oxidação é um tipo de
comportamento tecnológico dos granitos manchamento ocasionado pela mudança no
Banco Dallas e Banco Itaúnas, ambos comportamento do ferro em relação ao seu
submetidos à aplicação de ácido durante o a potencial de oxidação nos ambientes
produção de chapas. O trabalho irá exógenos ou sob influência da temperatura
comparar a resistência mecânica e química e umidade, o qual descaracteriza o padrão
das rochas Banco Dallas e Banco Itaúnas estético, colocando em risco a
em chapas submetidas à aplicação de ácidos comercialização do material (FRASCÁ;
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YAMAMOTO, 2003; SANTOS;


RIBEIRO, 2019). 2.1 Técnicas de aplicação de ácidos e
Esse processo nas rochas se dá pela rochas ornamentais:
variação do estado do mineral que está Buscando contornar o problema de
presente na rocha, por exemplo, o elemento manchamentos ocasionados pela oxidação
𝐹𝑒𝑟𝑟𝑜 !" , que é encontrado nos minerais de minerais ferruginosos, a indústria de
ferro magnesianos e pode rapidamente se beneficiamento de rochas ornamentais
oxidar, tornando-se o 𝐹𝑒𝑟𝑟𝑜 #" . Essa utiliza a aplicação de ácido na superfície de
modificação na estrutura química do ferro, chapas de rocha ornamental com o objetivo
provoca mudança de estado, a qual confere de remover e prevenir o aparecimento das
tons acastanhados, vermelho, laranja e manchas de oxidação (Figura 1).
amarelo à superfície das rochas As diferentes formas de aplicação de
(TEIXEIRA et al., 2007). ácidos em chapas que a Figura 1 ilustra
É importante destacar que as foram elencadas após consulta às empresas
manchas que alteram as características do polo de beneficiamento instalado no
estéticas naturais e causam a perda de valor município de Cachoeiro de Itapemirim- ES.
do material, podem ser ocasionadas pela As diferentes técnicas relatadas variam de
própria oxidação dos minerais ricos em acordo com as demandas comerciais e de
ferro presentes na rocha e até mesmo pelo logística de cada empresa e dos materiais
contato de materiais ferruginosos com a rochosos que trabalham.
superfície do revestimento
(CALVACANTI et al., 2019).

Figura 1: Fluxograma que ilustra a linha de beneficiamento das rochas ornamentais submetidas
à aplicação de ácido.

Fonte: Autor, 2022

Os diferentes tipos de técnicas de • Imersão total: consiste na inserção de


aplicação foram agrupados no trabalho de pacotes de chapas em um tanque
Barbosa e Silveira (2021), da seguinte contendo o respectivo ácido utilizado,
maneira: no qual a rocha ficará submersa por um
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período de 24 à 36 horas e, em seguida, intemperismo acelerado para verificar se as


será retirada e colocada para secar. manchas retornariam pela ação intempérica.
Como resultado, foi verificado que o ácido
• Aplicação do ácido por aspersão: se mostrou eficaz tanto na remoção de
consiste em posicionar as chapas em um manchas causadas pela oxidação do ferro
cavalete-pente central e aspergir o quanto ao reaparecimento das manchas no
produto de maneira uniforme com material.
auxílio de uma bomba ligada a um
irrigador. Após esse processo, as chapas Quadro 1: Características dos ácidos que
permanecerão por 24 à 36 horas para os tornam eficientes na remoção das
secar. manchas.
Características dos Ácidos
• Aplicação do ácido com rolo: consiste Valores altos do n° de mol
N° de mol
em posicionar a chapa deitada sob uma indicam ácidos mais
por grama
superfície e aplicar o ácido com um rolo eficientes.
de espuma poliéster. Após o término, a Quanto maior a quantidade de
N° de H
H ionizável, mais eficiente o
chapa é retirada do local com auxílio da ionizáveis
ácido é.
ventosa e posicionada em uma bancada Quanto maior o n° de OH não-
para secar por 24 à 36 horas (Figura 2). Nº de OH
ácido, melhor para remover as
não-ácido
manchas.
Figura 2 – Aplicação do ácido em chapas Quanto maior os valores de Ka
de rocha ornamental com rolo de pintura. Ka 1 (constante de acidez), maior a
força do ácido
Concentração
Nominal de Quanto maior, mais eficiente o
Hidrogênio ácido é.
(mol/L).
Menores valores de pH
pH indicam maiores ionizações
dos ácidos.
Fonte: Adaptado de Barros, Ribeiro e Silva, 2020.

Fonte: Autor, 2022.


Em outro estudo, Cavalcanti et al.
(2019), apresenta os resultados obtidos
Segundo Barros, Ribeiro e Silva sobre a viabilidade do ácido cítrico em
(2020), algumas características, remover manchas ferruginosas nas rochas
referenciadas no Quadro 1, são importantes ornamentais Branco Ceará, Rosa Iracema e
para se avaliar a eficiência dos ácidos em Verde Light expostas ao contato com a
remover manchas ferruginosas das palha de aço umedecida com detergente.
superfícies rochosas. Como resultado, apesar de ocorrer a total
remoção das manchas de ferrugem, em
Dentre alguns estudos sobre a alguns cristais de feldspato e plagioclásio
utilização do ácido em rochas destaca-se o houve o aparecimento de manchas
trabalho de Santos e Ribeiro (2019) que amareladas.
utilizaram diferentes concentrações de Com exceção do trabalho de
ácido oxálico em quartzitos com a Cavalcanti et al. (2019), trabalhos que
finalidade de remover as manchas relacionam o comportamento tecnológico
ferruginosas presentes. Além disso, de rochas ornamentais submetidas à
realizaram também ensaios em câmeras de
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aplicação com ácido são inexistentes na (40%), quartzo (30%), plagioclásio


literatura. (oligocrásio) (25-30%), granada (5%),
A escassez desses estudos pode estar traços acessórios: biotita, opaco, zircão.
relacionada à dificuldade de obtenção de
amostras para estudo; ao distanciamento Figura 4: Amostra de Branco Itaúnas.
entre empresas e instituições de pesquisa; e
ao sigilo de informações técnicas que as
empresas mantem, esta observada durante a
pesquisa realizada. Percebe-se que a técnica
de aplicação de ácidos nas chapas de rochas
ornamentais não é padronizada entre as 5cm
empresas que as realizam e que as
substâncias ácidas envolvidas no processo
não são divulgadas.
5cm
Fonte: Google Imagens, 2022.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Os materiais escolhidos para esse O trabalho foi desenvolvido por
trabalho estão descritos no Manual de meio de um estudo de dois litotipos de
Caracterização, Aplicação, Uso e rochas graníticas comparando o
Manutenção das Principais Rochas comportamento mecânico dentro de cada
Comerciais do Espírito Santo 2013. As litotipo.
informações de caracterização petrográfica As amostras de cada litotipo foram
estão descritas abaixo: subdivididas em: grupo de controle, que não
recebeu nenhuma aplicação de ácido e
Branco Dallas: Granito com
grupo de tratamento, no qual as rochas
granulação média a grossa composta por
foram expostas ao ácido industrialmente
microclima pertílica a mesopertílica (30%),
utilizado para remoção da oxidação. As
quartzo (15%); plagioclásio (5%); granada
empresas que forneceram as amostras
(5%); biotita (<5%) e traços de silimnatita,
solicitaram o anonimato e a fabricante do
titanita, zircão e sericita.
ácido não forneceu a composição química
do produto.
Figura 3: Amostra de Branco Dallas. A forma de aplicação do ácido pela
empresa que forneceu a amostra de Branco
Itaúnas consiste na aspersão do ácido com
bomba de forma uniforme por toda chapa e
o tempo de cura de 24 horas.
Já na empresa que forneceu a
5cm amostra de Branco Dallas, aplica-se o ácido
com o rolo de poliéster por toda a chapa de
forma uniforme e espera-se 24 horas para
secar totalmente.
Para o grupo de controle, nos
5cm
ensaios de manchamento e desgaste amsler,
Fonte: Google Imagens, 2022. foram utilizadas amostras brutas, que foram
apenas polidas e cortadas nas dimensões de
cada ensaio. Já para o ensaio de flexão por
Branco Itaúnas: Granito com carregamento em quatro pontos, as
granulação fina a média composta por amostras do grupo de controle do material
feldspato potássico cripto a micropeértítico
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Branco Itaúnas, foram retiradas de o ensaio de manchamento, foram escolhidos


casqueiro, com acabamento bruto e com dois agentes manchantes: Suco de limão e o
espessura levemente irregular, conforme Cloro Ativo. Os agentes propostos foram
demonstrado pela Figura 5B. Essa escolhidos com base na composição
particularidade das amostras de Branco química e frequência no uso cotidiano,
Itaúnas, se deve ao fato desse material ser sendo o suco de limão, um ácido fraco, e o
fortemente afetado pela oxidação, sendo cloro ativo, um sal de pH alcalino muito
assim, as empresas realizam a aplicação do utilizado como desinfetante.
ácido em todas as chapas antes de entrarem Junto ao ensaio de manchamento,
na linha de beneficiamento, mediu-se o brilho das amostras antes e
impossibilitando a obtenção de amostras depois do ataque com os agentes
polidas sem a aplicação do ácido. manchantes para verificar a variação de
Após a identificação e preparação brilho. Para essa medição utilizou-se o
das amostras, foram realizados os ensaios equipamento Gloss Meter. Este medidor de
propostos. brilho direciona um feixe de luz e quantifica
Os ensaios de caracterização a luz refletida pelas superfícies. O método
tecnológica realizados em ambos os grupos pelo qual a refletância é medida e o ângulo
foram: desgaste por abrasão (ABNT NBR da luz são determinados pela superfície
12042: 2012); resistência a flexão por analisada (RHOPOINT INSTRUMENTS).
carregamento em quatro pontos (ABNT Em ambos os grupos analisados, o ângulo
NBR 15845-7:2015); e ensaio de de referência utilizado foi de 60 GU.
manchamento (ABNT NBR 13818 – anexo A distribuição das amostras para
G – adaptada da norma para cerâmica. Para cada ensaio está descrita na Tabela 1.

Tabela 1: Quantidade de amostras utilizadas nos ensaios.


LITOTIPOS
Ensaios Branco Dallas Branco Itaúnas Total
C/ ácido S/ ácido C/ ácido S/ ácido

Flexão 4 pontos 10 10 10 10 40

Desgaste Abrasivo 2 2 2 2 8

Limão 1 1 1 1
Manchamento 8
Cloro 1 1 1 1
Fonte: Autor, 2022.

Como material de apoio, foi Em seguida, os resultados foram


utilizado também o Livro de Caracterização analisados em relação ao mesmo litotipo,
Tecnológica de Rochas – Práticas com efeito de comparar e avaliar se houve
Laboratoriais. Todos os ensaios de alterações obtidas nos materiais do grupo de
caracterização tecnológica realizados nas controle, sem aplicação do ácido e no grupo
amostras estudadas foram elaborados no com aplicação do ácido.
Laboratório de caracterização tecnológica
do Ifes – Campus Cachoeiro.
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Figura 5: Ensaio de desgaste por abrasão 4.1 RESISTÊNCIA AO DEGASTE


(A), ensaio de flexão quatro pontos (B) e ABRASIVO
ensaio de manchamento (C) realizados no O ensaio de resistência ao desgaste
laboratório do Ifes -Campus Cachoeiro. abrasivo foi realizado conforme a norma
ABNT NBR 12042/2012. Os resultados
obtidos no ensaio estão descritos na Tabela
A B 2.

Tabela 2: Resultados médios de desgaste


Abrasivo e desvio padrão para os materiais
estudados.
Índice do Desgaste Abrasivo
Total de
Desvio
Tipo de Desgaste
Material Padrão
Aplicação Abrasivo
(mm)
(mm)
BRANCO Com ácido 1,08 0,04
C DALLAS Sem ácido 1,03 0,15
BRANCO Com ácido 1,20 0,05
ITAÚNAS Sem ácido 0,96 0,02
Fonte: Autor, 2022.

Com relação ao desgaste abrasivo,


os dois conjuntos de amostras submetidas
ao ácido, tanto amostras da rocha
ornamental Banco Dallas como o Branco
Fonte: Autor, 2022.
Itaúnas apresentaram maiores valores de
desgaste abrasivo, quando comparados ao
conjunto de amostras não submetidas ao
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ácido (conforme ilustra o Gráfico 1).
Os resultados apresentados Contudo, o maior decréscimo de resistência
consistem nos valores de resistência ao foi notado nas amostras de Branco Itaúnas
desgaste abrasivo, flexão 4 pontos e (1,20 mm em amostras submetidas à
manchamento realizados em amostras de aplicação de ácido para 0,96 mm em
dois tipos de rochas ornamentais: Branco amostras sem aplicação de ácido).
Dallas e Branco Itaúnas. Para cada tipo de Embora os materiais possuam
rocha ornamental foram executados dois semelhanças em suas composições
conjuntos de corpos de prova, um conjunto mineralógicas, o material Branco Itáunas
de amostras sem aplicação com ácido e possui maior percentual de quartzo quando
outro conjunto de amostras submetidas à comparado ao material Branco Dallas. Essa
aplicação de ácido. Para a discussão dos diferença de percentual pode conferir ao
resultados foram elaborados gráficos de mesmo maior resistência a abrasão, uma
barras comparando os diferentes conjuntos vez que o quartzo possui dureza 7 na escala
de amostras para cada tipo de rocha
ornamental estudada.
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Mohs2. Ainda assim, os cristais são 4.2 FLEXÃO POR CARREGAMENTO


pequenos e distribuídos por toda a EM QUATRO PONTOS
superfície do material. Porém, no material Conforme descrito na ABNT NBR
Branco Dallas, os minerais são mais 15845-7/2015, o ensaio de flexão por
desenvolvidos, atribuindo à rocha uma carregamento em quatro pontos deve ser
textura grossa, permitindo que a área de realizado a seco e saturado. Sendo assim, as
contato do quartzo seja maior, conferindo a amostras avaliadas a seco foram submetidas
rocha uma textura grossa, favorecendo o a estufa por 48 horas a temperatura de 70°.
menor desgaste por abrasão (PAZETO; Já as saturadas foram submersas em água
ARTUR, 2015). por 48 horas conforme a metodologia da
Comparando os valores de desgaste ABNT.
abrasivo com os valores de referências da Os resultados das porcentagens da
ABNT NBR 15844/2010 (≤ 1 mm), resistência entre os grupos estudados serão
verificou-se que apenas o conjunto de apresentados utilizando o grupo com
amostras de Branco Itaúnas, sem aplicação aplicação do ácido como referência (100%).
do ácido, apresentou valores que o Isso porque as amostras que receberam a
qualificam para ser utilizado em locais de aplicação do ácido são as que representam
alto tráfego. Sendo assim, as demais as rochas que são comercializadas
amostras dos materiais estudados atualmente. Assim, o cálculo busca
apresentaram valores que os desqualificam quantificar qual é o aumento e/ou perda de
para serem empregados nesses locais. resistência que essas rochas sofrem após
esse tipo de procedimento e quais seriam os
Gráfico 1: Resultados do Ensaio de reais valores de resistência mecânica caso
Desgaste Abrasivo nos litotipos estudados. esse procedimento não alterasse o produto
final.
Valor Total do Desgaste
4.2.1 Resultados do Ensaio de Flexão por
Abrasivo
Carregamento em quatro pontos a seco.
1,4 Os resultados médios obtidos no
1,2
1,2 1,03 ensaio de flexão em quatro pontos a seco em
1,08 0,96
1 cada litotipo estudado estão apresentados na
0,8
Tabela 3.
As amostras de Branco Itaúnas com
0,6
aplicação do ácido ensaiadas a seco
0,4 apresentaram uma resistência a tensão
0,2 média de 7,60 MPa. No conjunto de
0 amostras não submetidas ao ácido, a
Branco Dallas Branco Itaúnas resistência a tensão média suportada foi de
Com Aplicação do ácido Sem Aplicação do ácido 5,70 MPa. As amostras de Branco Dallas
com ácido apresentaram uma resistência a
tensão média de 7,53 MPa e as amostras
Fonte: Autor, 2022.
sem aplicação do ácido suportaram uma
tensão média de 11,04 MPa, como
demonstrado no Gráfico 2.

2
Escala de Mohs quantifica a dureza dos minerais, oferece ao risco, classificados de 1 a 10 (SOLANS;
isto é, a resistência que um determinado mineral DOMENECH, 1978).
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Tabela 3: Resultados do ensaio de Flexão já que o material Branco Itaúnas sem ácido
em 4 pontos a seco. apresentou ser 25% menos resistente
quando comparado ao mesmo material com
Material
BRANCO BRANCO aplicação do ácido. Cabe destacar que os
DALLAS ITAÚNAS corpos de prova de granito Branco Itaúnas
sem aplicação de ácido utilizados para o
Tipo de Com Sem Com Sem estudo da resistência, foram obtidos por
Aplicação ácido ácido ácido ácido meio de amostras de casqueiro (sobra da
Tensão de serrada de blocos no tear), diferentemente
Ruptura 7,53 11,04 7,6 5,7 das amostras do Branco Itaúnas com
(Mpa) aplicação de ácido, as quais foram obtidas
% da de chapas possibilitando amostras com a
Resistência superfície plana. Essa diferença na
100% 146% 100% 75%
(entre os
uniformidade das amostras pode ser
grupos)
Fonte: Autor, 2022.
apontada como o principal fator de
influência na distribuição da tensão nas
amostras, o que pode ter provocado
Gráfico 2: Resultados do Ensaio de rompimento antecipado nas amostras de
Resistência a Flexão em quatro pontos a Branco Itaúnas sem aplicação do ácido.
seco. Segundo o Manual de
Caracterização, Aplicação, Uso e
Manutenção das Principais Rochas
Resistência a Flexão em 4 Comerciais Do Espírito Santo, o valor de
pontos - Seco referência para o ensaio de flexão a seco e
14 saturado do material Branco Itaúnas é de
9,38 MPa. Esse manual foi confeccionado
12 11,04
em um período que não era realizada a
10 aplicação de ácido nas rochas. Desse modo,
8
7,53 7,6 esse valor de referência confirma que o
5,7 resultado das amostras durante esse ensaio
6 foi inferior ao esperado para as amostras
4 sem ácido desse material.
2

0 4.2.2 Resultados do ensaio de flexão por


Branco Dallas Branco Itaúnas carregamento em quatro pontos
Com Tratamento ácido Sem Tratamento ácido saturado.
Os resultados obtidos no ensaio de
Fonte: Autor, 2022. flexão em quatro pontos saturado nas
amostras estudadas estão descritos na
Os valores obtidos no ensaio de Tabela 4.
flexão a seco, demonstraram queda de As amostras de Branco Itaúnas com
resistência a flexão nas rochas com ácido apresentaram uma resistência a tensão
aplicação do ácido apenas no granito média de 6,73 MPa. Já as amostras sem a
Branco Dallas. As amostras de Branco aplicação do ácido apresentaram uma média
Dallas sem aplicação de ácido se mostraram de resistência na ordem de 5,31 MPa de
46% mais resistente quando comparado tensão.
com a amostra da mesma rocha com
aplicação do ácido. O que não foi observado
nas amostras estudadas de Branco Itaúnas,
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Tabela 4: Resultados do ensaio de Flexão Segundo a ABNT NBR


em 4 pontos saturado. 15844/2010, os requisitos mínimos
específicos dos granitos para o ensaio de
Material
BRANCO BRANCO flexão em quatro pontos é de 8 MPa, tanto a
DALLAS ITAÚNAS seco, como também saturado. Dessa forma,
apenas as amostras de Branco Dallas sem
Tipo de Com Sem Com Sem aplicação do ácido obtiveram resultados
Aplicação ácido ácido ácido ácido aceitáveis para serem utilizadas como
Tensão de revestimento.
Ruptura 7,07 9,17 6,73 5,31
(Mpa) Gráfico 3: Resultados do Ensaio de
% da Resistência a Flexão em quatro pontos
Resistência saturado.
(entre os 100% 129,7% 100% 78,9%
tipos de
aplicação) Resistência a Flexão em 4
Fonte: Autor, 2022.
pontos - Saturado
As amostras de Branco Dallas com 12
9,17
ácido obtiveram uma resistência a tensão 10
média de 7,07 MPa. No grupo que não 8 7,07 6,73
recebeu aplicação do ácido, a resistência 5,31
6
média de tensão foi de 9,17 MPa.
Dessa forma, as amostras de Branco 4
Itaúnas saturadas que passaram pela etapa 2
de aplicação do ácido desempenham maior
0
resistência á flexão em 21,09%, quando Branco Dallas Branco Itaúnas
comparadas com as amostras do grupo sem
aplicação de ácido. Já nas amostras de Com Tratamento ácido
Branco Dallas saturadas, o grupo sem Sem Tratamento ácido
aplicação do ácido apresentou ser 29,7%
Fonte: Autor, 2022.
mais resistente a flexão quando comparado
ao grupo de aplicação do ácido.
Neste caso, como já mencionado, os
4.3 ENSAIO DE MANCHAMENTO
corpos de prova do granito Branco Itaúnas
O ensaio de manchamento realizado
para o ensaio de flexão saturado, também
nas amostras estudadas se fundamenta em
foram confeccionados a partir de amostras
uma adaptação da norma para cerâmica
de casqueiro, o que pode ter influenciado na
(ABNT NBR 13818 – anexo G). Dessa
distribuição das forças e provocado o
forma, foram utilizados os seguintes
rompimento antecipado da amostra.
agentes manchantes: suco de limão e Cloro
Ainda nesse contexto, o resultado
Ativo. O tempo de ataque na superfície dos
obtido no ensaio é bem abaixo do valor de
materiais foi de 24 horas.
referência do Manual de Caracterização,
O Quadro 2 relaciona a composição
Aplicação, Uso e Manutenção das
de cada um desses agentes.
Principais Rochas Comerciais do Espírito
Os resultados apresentados para as
Santo para esse material, que é de 9,38 MPa,
amostras estudadas foram avaliados
o que indica que os corpos de prova obtidos
comparando o comportamento de cada
de casqueiro podem ter influenciado nos
material em contato com os agentes
resultados.
propostos após as três etapas de limpeza
12
v.9 n.2 2023

conforme recomendação da norma (ABNT notou-se aumento de 17,27% do brilho após


NBR 13818 – anexo G) adaptada para o ataque com o suco de limão.
granitos ornamentais e o livro de Esse aumento de brilho pode estar
Caracterização tecnológica de rochas associado ao fato de que o agente
ornamentais: práticas laboratoriais manchante provoca uma profunda limpeza
(CASTILHO, 2018). Além da observação na superfície atacada, tornando-a mais
de mudanças visuais na superfície das reflexiva e fazendo com que o brilho
amostras submetidas ao ensaio de medido após o ensaio seja maior, no
manchamento, foram medidos o brilho da entanto, mais estudos são necessários para
superfície antes e após ao ataque das entender como se dá esse fato.
substâncias manchantes para as amostras A amostra de Branco Dallas não
polidas. submetida à aplicação de ácido (Figura 7 na
prancha 1) teve a superfície corroída pelo
Quadro 2: Composição dos Agentes limão, o que não pôde ser removido após as
Manchantes utilizados. três etapas de limpeza. Em relação ao
Agentes Manchantes brilho, o acabamento dessa amostra não
Suco de Limão 100% suco da fruta. possuía polimento da superfície, estando
Hipoclorito de sódio – teor ainda com acabamento bruto e, em razão
2,5%, coadjuvante, disso não foi possível medir o brilho. O fato
Cloro Ativo
alcalinizante, fragrância e da amostra não ser polida pode também ter
água. contribuído para o aspecto de corrosão dos
Fonte: Super Globo, 2022. minerais após o contato com o limão.
A seguir serão apresentados os - Ensaio de manchamento com Cloro
resultados de manchamento obtidos para os A amostra de Branco Dallas
granitos Branco Dallas e Branco Itaúnas, submetida ao ácido (Figura 8 na prancha 1)
comparando dois conjuntos de amostras um foi atacada com o cloro ativo e teve sua
submetido à aplicação de ácido no superfície desbotada, não sendo possível
beneficiamento das chapas e outro conjunto remover após todas as etapas de limpeza.
de amostras sem aplicação de ácido. Com relação ao brilho, essa amostra perdeu
14,69% de brilho após contato com cloro e
posterior a última etapa de limpeza a perda
4.3.1 Branco Dallas total de brilho foi de 26,26%. Com isso
nota-se que as etapas de limpeza proposta
-Ensaio de Manchamento com Suco de na norma contribuíram para a perda de
Limão brilho da amostra.
A amostra de Branco Dallas que A amostra de granito Branco Dallas
passou pela aplicação do ácido (Figura 6 na não submetida a aplicação de ácido (Figura
prancha 1) não teve a superfície manchada 9 na prancha 1) teve a mancha produzida
pelo suco de limão e por isso não precisou com o cloro removida após a 1° etapa de
passar pelas etapas de limpeza. Destaca-se limpeza com água quente. Não foi possível
que, nas amostras de Branco Dallas medir a variação do brilho nesta amostra
submetidas à aplicação de ácido que devido a superfície sem polimento na
tiveram contato com o suco de limão, mesma.
13
v.9 n.2 2023

Prancha 1: Imagens do material Branco Dallas antes e após o ensaio de Manchamento.

Figura 06: Ensaio de Manchamento com Suco de Limão no Material Branco Dallas com
aplicação do ácido
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.

Figura 07: Ensaio de Manchamento com Suco de Limão no Material Branco Dallas sem
aplicação do ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.

Figura 08: Ensaio de manchamento com Cloro no Material Branco Dallas com aplicação do
ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.


14
v.9 n.2 2023

Figura 09: Ensaio de manchamento com Cloro no Material Branco Dallas sem aplicação do
ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.

4.3.2 Branco Itaúnas forma, essas manchas não foram removidas


mesmo após as três etapas de limpeza em
- Ensaio de manchamento com Limão ambas amostras do Branco Itaúnas. A
No granito Branco Itaúnas, tanto a amostra que passou pela aplicação do ácido
amostra que recebeu aplicação do ácido teve aumento do brilho em 4,92% após
(Figura 10 na prancha 2), como na que não finalizar todas as etapas de limpeza. Já na
foi submetida à aplicação do ácido (Figura amostra não submetida ao ácido não foi
11 na prancha 2), ambas foram manchadas possível medir o brilho por se tratar de uma
quando em contato com o agente, sendo que amostra com acabamento bruto.
na amostra sem aplicação de ácido ocorreu Em geral tanto as amostras que
o amarelamento da superfície. A medição passaram pela aplicação do ácido quanto as
de brilho foi possível apenas na amostra amostras não receberam esse tipo de
com aplicação de ácido por apresentar tratamento durante o beneficiamento,
superfície polida. A perda de brilho para apresentaram desempenho semelhantes,
esta amostra foi de 10,33 % de brilho. totalizando 75% das amostras manchadas
permanentemente. Em contato com a
- Ensaio de manchamento com Cloro superfície rochosa, esses agentes
O uso do cloro ativo provocou o proporcionaram em alguns casos, o aspecto
desbotamento e amarelamento da superfície amarelado da área de contato, a corrosão
na amostra com aplicação do ácido (Figura dos minerais presentes e o desbotamento da
12 na prancha 2) e uma leve corrosão na superfície manchada.
superfície da amostra não submetida ao
ácido (Figura 13 na prancha 2). Dessa
15
v.9 n.2 2023

Prancha 2: Imagens do material Branco Itaúnas antes e após o ensaio de Manchamento.

Figura 10: Ensaio de Manchamento com Suco de Limão no Material Branco Itaúnas com
aplicação do ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.

Figura 11: Ensaio de Manchamento com Suco de Limão no Material Branco Itaúnas sem
aplicação do ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.

Figura 12: Ensaio de Manchamento com Cloro no Material Branco Itaúnas com aplicação do
ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022.


16
v.9 n.2 2023

Figura 13: Ensaio de Manchamento com Cloro no Material Branco Itaúnas sem aplicação do
ácido.
Antes Após todas as tentativas de limpeza

Fonte: Autor, 2022

5 CONCLUSÕES estrutura da rocha pela ação do tratamento


De acordo com os resultados obtidos com ácido.
no ensaio de resistência ao desgaste Por outro lado, no ensaio de
abrasivo, os maiores valores de desgaste resistência a flexão por carregamento em
foram observados nas amostras de granito quatro pontos do material Branco Itaúnas,
Banco Dallas e Branco Itaúnas submetidas tanto no ensaio a seco, quanto no saturado,
à aplicação de ácido. Dessa forma, os dados o grupo sem aplicação do ácido apresentou
mostram que quando aplicado o ácido, há menor resistência à flexão. Esse resultado
redução da resistência a abrasão. A pode ter sido fortemente influenciado pela
dificuldade de obter amostras para realizar irregularidade da espessura dos corpos de
ensaios é evidente no setor de rochas prova provenientes de casqueiro, que
ornamentais. Ao entrar na linha de influencia na distribuição uniforme da força
beneficiamento, o ácido é aplicado em todas aplicada e pode ter provocar o rompimento
as chapas, o que dificulta adquirir amostras antecipado da amostra.
que não tenham passado por esse processo. Quanto ao ensaio de manchamento,
Dessa forma, as amostras obtidas para o o comportamento das amostras de Branco
ensaio de flexão foram fornecidas por duas Dallas em ambos os grupos foram similares,
empresas diferentes. Para o Branco Dallas, resultando em duas amostras manchadas
as amostras sem aplicação do ácido foram permanentemente, a primeira sem aplicação
retiradas de uma chapa e as amostras do do ácido atacada pelo agente suco de limão
Branco Itaúnas sem aplicação do ácido e a segunda amostra com aplicação do ácido
foram retiradas de casqueiro. atacada com cloro ativo. No material
Nesse contexto, com relação ao Branco Itaúnas, tanto as amostras com
ensaio de resistência a flexão por aplicação do ácido quanto as amostras sem
carregamento em quatro pontos, tanto as ácido, permaneceram manchadas pelos
amostras ensaiadas a seco, quanto as agentes limão e cloro ativo.
saturadas do material Branco Dallas sem Em relação a interação química
aplicação do ácido, apresentaram ser mais resultante do contato dessas superfícies
resistentes à flexão, indicando que, nesses tratadas com os produtos utilizados no
litotipos, a aplicação do ácido reduziu a ensaio de manchamento, conforme
resistência a flexão das rochas. Essa visualizado através da análise
redução de resistência pode ter ocorrido macroscópica, não houve
devido a remoção do ferro oxidado da comprometimento significativo causado
17
v.9 n.2 2023

devido a aplicação do ácido nas rochas REFERÊNCIAS


estudadas. Em vista disso, recomenda-se a ABIROCHAS - ASSOCIAÇÃO
realização de estudos futuros que BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE
aprofundem sobre as interações ROCHAS ORNAMENTAIS - Balanço
microscópicas na mineralogia dos materiais das Exportações e Importações
tratados com ácido. Brasileiras de Rochas Ornamentais em
A inclusão da etapa de aplicação do 2020. Disponível em:
ácido na linha de beneficiamento para <https://abirochas.com.br/balancos-nova>
remoção das manchas ferruginosas das Acesso em 01 de março de 2022.
superfícies rochosas apresenta pouco
critério técnico, embora seja inegável sua ALENCAR, C. R. A. INSTITUTO
eficácia. Ainda assim, as consequências EUVALDO LODI. Manual de
desse recurso nas propriedades mecânicas e caracterização, aplicação, uso e
químicas das rochas dependerá dos manutenção das principais rochas
minerais presentes em cada material. comerciais no Espírito Santo: rochas
Portanto conclui-se que esse tipo de ornamentais / Instituto Euvaldo Lodi -
tratamento influência nas propriedades dos Regional do Espírito Santo. Cachoeiro de
materiais e pode provocar perda de Itapemirim/ES: IEL, 2013.
resistência mecânica em determinados
casos. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
Como apontado no estudo de Pazeto NORMAS TÉCNICAS – ABNT (2003).
e Artur (2015), há uma correlação direta ABNT NBR 15012. Rochas para
entre o grau de microfissuramento de cada Revestimentos de Edificações –
material, a porosidade e a capacidade de Terminologia,10p.
absorção. Os estudos de Meyer et al.,
(2014) e Meyer, Navarro e Artur (2003), ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
também apontam para um correlação NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Rochas
diretamente proporcional para a textura das para revestimento – Requisitos para
rochas graníticas e seu respectivo grau de granitos. NBR 15844. Rio de Janeiro,
absorção. Sendo assim, rochas com texturas 2010.
mais finas tendem a ter menores valores de
absorção e rochas com texturas mais ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
grossas a apresentar valores maiores de NORMAS TÉCNICAS – ABNT.
absorção. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
Assim, as características NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Rochas
mineralógicas das rochas graníticas foram para revestimento – Requisitos para
determinantes na quantidade de ácido que granitos. NBR 15844. Rio de Janeiro, 2010.
penetrou na superfície da rocha e, como NBR 12042. Rio de Janeiro, 2012.
resultado, a alteração da resistência
mecânica. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS – ABNT.
Resistencia a flexão por carregamento
AGRADECIMENTOS em quatro pontos. NBR 15845. Rio de
Agradeço ao IFES pela Janeiro, 2015.
infraestrutura, aos técnicos do laboratório
de Rochas Ornamentais pela BARBOSA, I. C; SILVEIRA, L.L.L.
disponibilidade em contribuir para este Análise crítica dos principais métodos de
artigo. tratamento superficial atualmente
utilizado no setor de Rochas
18
v.9 n.2 2023

Ornamentais. Revista Geociências, São CETEM/SBG, 2003. p.153-164.


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