Aulas de DPC I
Aulas de DPC I
Aulas de DPC I
16/09/2021
O direito processual civil é a referência, a matriz para todos os outros ramos de direito processual.
Bibliografia: Introdução ao Processo Civil de Lebre de Freitas; Processo Civil Declarativo de Paulo
Pimenta; Ação declarativa à luz do código revisto de Remedio Marques; Introdução ao processo Civil de
Teixeira de Sousa; Código de processo Civil (obrigatório para as aulas) e diplomas complementares ao
código; Código Civil; Constituição;
Frequências: 2 provas, 1º com a primeira parte da matéria e a 2º, a final, sai a matéria do semestre
todo. 1º teste dia 25 de Novembro (exame de 2h); Não há prova oral
17/09/2021
Na base do direito processual civil está a existência de um conflito de interesses que reclama uma
resolução, portanto, o direito processual civil só é chamado a intervir, só há campo de aplicação quando
exista um conflito de interesses, uma rutura da ordem jurídica. É este conflito de interesses que serve de
pressuposto à intervenção judicial e por maioria de razão do direito processual civil. Se as pessoas estão
de acordo por exemplo num contrato não há necessidade de intervir o direito processual civil, como é o
caso de um contrato de compra e venda onde o comprador está de acordo a pagar o preço e o vendedor
está disposto a entregar a coisa vendida ou então um divorcio em que os conjugues estão de acordo em
divorciarem-se, na partilha do património conjugal e nas responsabilidades parentais então não é
necessário o direito processual intervir. Por conflito de interesses temos em vista sobretudo os conflitos
de interesses entre os privados, é esse o campo natural de aplicação do direito processual civil. Isto é
uma característica que lhe é intrínseca e que o distingue de outros ramos do direito.
Direito privado- Regula relações jurídicas em que os respetivos sujeitos estão colocados numa posição
de paridade formal, o que não quer dizer que às vezes não possa haver discrepâncias de poder real,
efetivo. Portanto, o conteúdo das relações jurídicas resulta normalmente da vontade dessas partes ou
quando resulta da lei a lei reconhece uma paridade formal entre essas partes.
Direito publico- Visa regular relações jurídicas em que as partes estão colocadas numa posição de
supra- infra-ordenação, ou seja, há uma parte que está supra-ordenada em relação às outras partes
dessa relação jurídica e há outra parte que está infra-ordenada em relação às outras partes dessa
relação jurídica.
Neste contexto o direito processual civil surge especificamente dirigido à resolução, a dirimir os conflitos
de interesses privados e tem uma função de garantia de efetividade dos direitos subjetivos e dos
interesses legalmente protegidos das partes, dos sujeitos jurídicos. Quando um titular de um direito
subjetivo vê a realização desse direito subjetivo frustrada garante esse direito subjetivo através do
direito processual civil. O direito processual civil é o mecanismo de garantia de efetividade de outros
direitos subjetivos ou interesses legalmente protegidos das pessoas. Se entender que os meus direitos
subjetivos ou interesses legalmente protegidos estão a ser lesados é por intermedio do direito
processual civil que eu vou procurar a tutela desses direitos subjetivos ou desses interesses legalmente
protegidos. E isto porque vigora entre nós um princípio fundamental da nossa ordem jurídica, que está
consagrado no art.º 1 do código do processo civil que é o princípio da hétero tutela.
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O princípio da hétero tutela quer no fundo dizer que eu não posso tutelar os meus próprios direitos
tenho de me socorrer de uma terceira entidade, os tribunais, para tutelar os meus direitos. Quando se
fala na proibição da autotutela ou autodefesa está a dizer a mesma coisa que é, eu não posso
autotutelar o meu direito. Exemplo: Entendo que A me deve 5000€ devido a um contrato de mútuo,
tenho um direito de crédito sobre ele. Eu não posso entrar em casa dele, ir ao cofre e tirar-lhe o
dinheiro. Ou seja, pelos meus próprios meios, pela minha própria força não posso tutelar o meu direito
de crédito.
Este é um princípio fundamental da nossa ordem jurídica que é precisamente que a tutela dos direitos
das pessoas, de uma comunidade é feita por entidades especificas, apropriadas que têm uma função
própria para tutelar esses direitos.
O princípio da hétero tutela não é absoluto (“... salvo nos casos e dentro dos limites declarados na
lei.”), comporta exceções e o próprio art.º 1 refere-o. Há situações em que é lícito a uma pessoa
autotutelar os seus direitos, usar a sua própria força, os seus meios coercivos para tutelar os seus
próprios direitos, sem ter de recorrer aos terceiros que são os tribunais.
Se eu não posso, de modo geral, autotutelar os meus direitos (apesar das exceções) alguém tem de o
fazer. Quem é que tutela o direito das pessoas? É através da tutela jurisdicional. Antes desta tutela
jurisdicional podemos ter uma auto composição dos litígios, as partes têm um conflito, mas elas podem
a seguir entenderem-se, ou seja, fazerem a auto composição do seu conflito. A auto composição é uma
forma de resolver um litígio sem recorrer à autotutela. A tutela jurisdicional só é acionada quando a via
amigável falha, quando as partes não são capazes ou não querem auto compor esse litígio, não querem
resolvê-lo amigavelmente. A tutela jurisdicional é a forma de hétero tutelar os direitos subjetivos,
legalmente protegidos das pessoas e isso torna-se possível devido a duas circunstâncias:
Por um lado, o estado, numa sociedade moderna, contemporânea, é quem exerce, detém o
aparelho sancionatório. Ou seja, o aparelho sancionatória, coercitivo do estado permite obter
a reintegração da lesão de um direito, tem os meios para realizar o direito coercivamente, ou
mesmo para prevenir uma lesão iminente ou futura. Exemplo: Entendo que sou proprietário
de
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um quadro que está detido por outra pessoa e eu tenho medo que enquanto estamos a decidir
de quem é o quadro que ele fuja com o quadro. Posso através do mecanismo de procedimentos
cautelares pedir ao tribunal que faça uma apreensão (um arresto) daquele quadro, fica à
guarda do tribunal enquanto se decide quem é o proprietário.
Por outro lado, o estado tem o monopólio do exercício da autoridade e, portanto, o estado
está investido de poderes de autoridade publica que é o chamado poder de ius imperium e
entre nós é o único que pode exercer o direito de autoridade através de certos agentes.
23/09/2021
Na última aula vimos que a ideia da hétero tutela está inteiramente associada à ideia da hétero tutela
jurisdicional no sentido em que a proibição da autotutela, a proibição de que cada um com os seus
meios possa tutelar os seus direitos, se reflete na ideia de que a tutela desses direitos cabe ao aparelho
judiciário. A tutela jurisdicional está associada à ideia ou conceito de função jurisdicional, a chamada
teoria das funções das fontes. A função jurisdicional tem o seu conteúdo constitucionalmente
delimitado ou contrário das outras funções do estado que se discute qual é o seu conteúdo, na função
jurisdicional não há grandes dúvidas, o seu conteúdo está constitucionalmente delimitado no art.º 202,
nº2, da Constituição.
Há aqui uma tríplice dimensão para a função jurisdicional. Temos o reprimir a violação da legalidade
democrática, dirimir os conflitos de interesses públicos e privados (é a função que nos interessa a nos no
processo civil) e assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e esta é
uma dimensão residual. Tudo o que diga respeito a dirimir conflitos está integrado na função
jurisdicional. É uma atividade materialmente jurisdicional. Isto é particularmente relevante porque entre
nós vigora uma clausula constitucional, um princípio constitucional que é o da reserva do exercício da
função jurisdicional pelos tribunais. Ou seja, a ideia de que a função jurisdicional apenas pode ser
exercida pelos órgãos de soberania tribunais. Só um tribunal pode dirimir conflitos de interesses.
A doutrina tem entendido que deste nº1 está implícita uma reserva do exercício da função jurisdicional
pelos tribunais. Os tribunais são em si mesmo, o aparelho judiciário, a estrutura dos tribunais,
complexos. Existem diversas categorias de tribunais e dentro destas categorias podem ainda existir
tribunais de competências especializadas, ou de níveis hierárquicos diferentes. Isto está previsto no art.º
209 da Constituição. Quando a Constituição reserva o exercício da função jurisdicional aos tribunais
reserva a todos os tribunais no seu conjunto, sem prejuízo depois do legislador e a própria Constituição
criar um sistema de tribunais, um sistema judiciário ou um aparelho judiciário que depois se subdivide
em diferentes competências e especializações. Aquela categoria de tribunais que mais diretamente diz
respeito ao direito processual civil é a dos tribunais judiciais que está prevista na alínea a do nº1 do art.º
209 e que compreende o supremo tribunal de justiça, os tribunais judiciais de 1º estância e os tribunais
judiciais de 2º estância.
O acesso ao aparelho judiciário para obter a tutela do direito não é um privilégio, é um verdadeiro
direito fundamental. A constituição prevê no seu art.º 20, nº1, o chamado direito fundamental ou uma
tutela jurisdicional e acrescenta uma tutela jurisdicional efetiva.
Art.º 20 da Constituição
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1. “A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de
meios económicos.”
Este artigo consagra aquilo que na doutrina se denomina o direito fundamental a uma tutela
jurisdicional efetiva, portanto, o direito que todos têm de se dirigir ao estado através dos tribunais e de
solicitar, demandar a tutela jurisdicional. Dizer que tem um direito que está a ser lesado, que já foi
lesado ou que está na eminência de ser lesado e quero ver esse meu direito tutelado. Este é um direito
fundamental, todos têm o direito de se dirigir aos tribunais e de solicitar a tutela de um direito ou de
uma posição jurídica subjetiva. Esta norma resulta de outra norma de direito internacional público, de
um tratado que o estado português subscreveu e que tem entre nós uma grande influencia que é a
convenção europeia dos direitos humanos. Esta é anterior à nossa Constituição, embora o estado
português só tenha aderido à convenção europeia dos direitos humanos depois de ter entrado em vigor
a Constituição, mas a convenção também prevê no seu art.º 6, nº1 precisamente um direito
fundamental com esta mesma configuração que é a do direito a um tutela jurisdicional efetiva. Este art.º
20, nº1 inspirado no art.º 6, nº1 da Convenção alem de prever o direito fundamental à tutela
jurisdicional acrescenta a ideia de uma tutela efetiva, portanto, não só o acesso ao tribunal, mas sim o
acesso ao tribunal em condições que permitam assegurar efetivamente, com eficácia, a tutela dos
nossos direitos. Exemplo: Se eu me dirijo a um tribunal a pedir que alguém me restitua uma coisa que eu
alego que é minha propriedade há uma diferença muito grande se é resolvido em 6 meses e a coisa é me
restituída ou em 6 anos e, entretanto, a coisa perdeu o seu valor, como um carro.
Portanto, a tutela jurisdicional não se basta com o mero acesso ao tribunal é preciso que o tribunal seja
pronto na sua resposta e seja eficaz na sua resposta. A efetividade da tutela prendesse com vários
conceitos que tem que ver não só apenas com a celeridade da decisão, portanto, o prazo razoável da
decisão (previsto no nº4 do art.º 20 da Constituição), mas também com a efetividade em sentido estrito,
portanto, que o tribunal possa tomar medidas provisorias para acautelar a decisão final e isso
corresponde à tutela cautelar ou aos procedimentos cautelares, isto é enquanto estou à espera da
decisão para evitar que a coisa desapareça o tribunal pode tomar medidas provisorias no âmbito do
processo para preservar a decisão final que vai tomar. De nada serve que o tribunal daqui a 1 ano diga
que o carro tem de ser entregue se, entretanto, a pessoa já fez desaparecer o carro. Uma terceira
dimensão é a exequibilidade e a execução da decisão porque eu posso dirigir-me a um tribunal, pedir
que o tribunal condene alguém a entregar-me uma coisa, o tribunal dá-me razão e profere uma
sentença, mas depois o condenado na sentença não me entrega a coisa. Se a intervenção do tribunal se
reduzir a esta dimensão o minha tutela jurisdicional efetiva transforma-se num saco roto porque no
fundo tenho uma sentença a meu favor, mas não me foi entregue a coisa. Portanto, há uma terceira
dimensão que é a execução coerciva da decisão judicial. Assim, a tutela efetiva não se esgota em dirimir
o litígio, mas tem, portanto, três outras dimensões adicionais:
A celeridade
A necessidade de preservar a decisão final durante o processo com medidas provisorias
A necessidade de executar coercivamente e impor a decisão final àquele que foi condenado
O direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva está previsto no art.º 20, nº1 da Constituição
encontra depois a sua concretização, no plano do direito ordinário, no art.º 2 do Código do processo
civil.
Esta norma conjugada com o nº4 do art.º 20 da Constituição dá-nos uma definição do direito de ação ou
de direito do acesso aos tribunais que é o direito a reclamar uma providencia judiciaria (definitiva ou
provisoria) dirigida a reparar ou a prevenir a violação de um direito subjetivo, de um interesse
legalmente protegido ou outra posição jurídica subjetiva. Portanto, o direito de ação concretiza no plano
ordinário o direito fundamental ou a tutela jurisdicional efetiva e consiste então no direito de reclamar,
solicitar, demandar uma providencia judiciaria.
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Há uma diferença fundamental entre o direito de ação e o direito subjetivo ou a posição jurídica
subjetiva que nós queremos ver tutelada.
As posições jurídicas subjetivas é um conceito amplo que abarca um conjunto de realidades que vai para
alem dos direitos subjetivos e dos interesses legalmente protegidos também denominados por vezes
legitimas expectativas. Dentro das posições jurídicas subjetivas podemos incluir outras figuras menos
comuns, mas que ainda assim podem ser tuteladas por via do processo civil, por via do direito a uma
tutela jurisdicional, incluído necessariamente os direitos subjetivos, os interesses legalmente protegidos,
mas também os direitos e interesses coletivos. Os direitos e interesses coletivos são direitos ou
interesses que não estão subjetivizados numa pessoa e que correspondem no fundo a um agregado de
interesses individuais que podem ser exercidos coletivamente. É o caso, por exemplo, dos direitos
coletivos dos trabalhadores como o direito à greve. É um direito que se exerce individualmente, mas que
não pode ser exercido só individualmente. Um único trabalhador não pode dizer que naquele dia faz
greve, se a greve não tiver sido coletivamente decretada nos termos do direito do trabalho. Um outro
tipo de direito coletivo, muito invocado no direito privado, que é o chamado direito de propriedade
comunal, ou seja, os baldios. Os baldios são prédios que são propriedade de uma determinada
comunidade, não são propriedade de A nem de B, nem copropriedade dos residentes numa
determinada localidade, mas sim propriedade de uma comunidade e se alguém pertencer àquela
comunidade é também proprietário daquele baldio e se um dia deixar de integrar aquela comunidade
deixa de ser proprietário daquele baldio. E, portanto, os direitos e interesses subjetivos também são
posições jurídicas subjetivas suscetíveis de tutela jurisdicional. Também podemos fazer referência aos
chamados direitos e interesses difusos que são bens e interesses que não podem ser individualmente
divisíveis ou que não podem ser individualmente afetados a cada um dos seus titulares, ou seja, fatiados
e serem entregues numa parcela a cada um dos titulares. Incluímos aqui o direito ao ambiente, o direito
à cultura, educação, etc.
Os bens e interesses públicos são os bens que estão colocados no domínio do estado ou no domínio de
uma outra pessoa coletiva publica como um município ou uma freguesia. Correspondem àquilo que se
denomina como bens de domínio público, as ruas, os cemitérios, certos edifícios públicos, as pontes. São
bens que pertencem ao estado, mas não estão em regime de propriedade privada, estão em regime de
domínio publico. Os bens de domínio público são também tuteláveis jurisdicionalmente.
Uma definição de direito processual civil é que o direito processual civil é o ramo de direito público que
prevê e regula a formação e obtenção das providencias judiciais (decisões judiciais) destinadas à defesa
ou prevenção de posições jurídicas subjetivas dignas de tutela jurisdicional. Podemos encontrar no
direito processual civil duas grandes dimensões:
1. A dimensão estática que é a parcela do direito processual civil que regula que tipos de
providencia, de decisões ou medidas judiciais podem ser obtidas e os requisitos que devem ser
preenchidos para a obtenção de tais providencias. Portanto, é uma dimensão estática do
direito processual civil.
2. A dimensão dinâmica que é o processo propriamente dito, as etapas e as fases que têm de ser
seguidas, observadas para a obtenção dessas providencias judiciais. Portanto, a tramitação ou
ritualismo que tem de ser observado para se conseguir obter essas providencias.
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Aqui na relação jurídica processual o credor vai assumir a posição de autor e o devedor, porque é
demandado, assume a posição de réu. Portanto, temos o autor a dirigir uma pretensão contra o réu. Só
que a relação jurídica processual também denominada instância. Na relação jurídica processual há um
terceiro sujeito, alem das partes que estão em situação de paridade formal, que é o tribunal. O tribunal
é sujeito da relação jurídica processual, mas não está numa relação de paridade formal, o tribunal está
numa posição de supra ordenação, está investido de poderes de autoridade pública, de ius imperium, de
dirimir o litígio entre as partes e de impor coercivamente, vinculativamente, a sua decisão às partes.
Aquilo que o tribunal decidir é obrigatório para as partes. O tribunal pode exercer poderes coercivos no
âmbito da relação jurídica processual seja no decurso do próprio processo, aplicando multas e
condenando as partes a entregarem documentos, quer depois da decisão estar tomada executando essa
decisão. Na relação jurídica processual temos a característica muito peculiar que é a de que a relação
jurídica particular ou instância é sempre uma relação triangular em que na base tem as partes colocadas
numa posição de paridade formal, mas há um terceiro sujeito numa relação de supra ordenação, está
investido do poder de autoridade, dirimir o litígio entre as partes de forma vinculativa, com a força de
caso em julgado.
Tribunal
Credor Devedor
A Relação jurídica processual é sempre uma relação de direito público, então o direito processual é um
ramo de direito público em que está envolvido o exercício de poderes de autoridade pública. Uma coisa
é a relação jurídica processual, só que é puramente formal, não tem qualquer dimensão material ou
substantiva, outra coisa é o litígio que está a ser discutido entre as partes. Esse sim é uma relação
jurídica de direito privado, portanto, a relação material controvertida.
Uma segunda característica do direito processual civil é a sua natureza instrumental. O direito
processual civil não é um fim em si mesmo enquanto ramo do direito. É um instrumento de realização e
de efetivação de outros ramos de direito, serve para tornar efetivas, realizar posições jurídicas que são
tuteladas ou reconhecidas por outros ramos de direitos, ao direito das obrigações, da família, comercial,
etc. No existe para si próprio. A distinção entre o direito adjetivo, que é no plano processual e o direito
substantivo, que tem haver com a matéria dos litígios. Quando nós temos uma ação pendente no
tribunal temos sempre
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essas duas dimensões. Um exemplo de ramo de direito adjetivo temos o direito processual civil e um
exemplo de direito substantivo temos o código civil.
Uma terceira característica do direito processual civil é a de que o direito processual civil é a disciplina
mãe do direito processual em geral, é a referência de todos os outros ramos de direito processual.
Uma quarta característica é que o direito processual civil é também o direito comum, supletivo dos
demais ramos de direito processuais. Serve como disciplina residual, supletiva, de todos os outros ramos
de direito processual. Quando há lacunas dos outros ramos de direito processual aplica-se
subsidiariamente o direito processual civil.
O direito processual civil corresponde a uma disciplina jurídica propriamente dita e na sua regulação
podemos defini-la como a disciplina jurídica que procede ao estudo científico do processo civil.
Portanto, o direito processual civil é a disciplina jurídica que estuda cientificamente o processo civil. O
direito processual civil tem uma conjunto de disciplinas afins que vamos estudar.
É uma disciplina que estuda a estrutura, a organização e o funcionamento dos tribunais. Há até uma lei
estruturante da organização do sistema judiciário que nos indica quais são os tribunais que existem,
quais as suas competências, o seu modo de funcionamento, etc.
2. A tributação processual
Os processos não são gratuitos, os processos judiciais e sobretudo no processo civil não são gratuitos,
embora algumas normas protejam as pessoas com menos recursos da tributação processual, a verdade
é
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que a justiça não é gratuita, paga-se. Paga-se através de taxas que encontramos reguladas num diploma
que é o regulamento das custas processuais que regula a tributação dos processos, ou seja, o que é que
é preciso pagar, quem é que é preciso pagar por uma ação judicial. Isto é um ramo de direito tributário,
mas porque está intimamente ligado ao processo civil é habitual estudar-se a tributação processual no
processo civil.
A disciplina jurídica que regula o exercício do mandato forense, que regula o exercício do acesso à
profissão de advogados, toda essa matéria de direito profissional da advocacia é regulada
essencialmente por um diploma que é o estatuto da ordem dos advogados. No processo civil, para a
maioria esmagadora deles, é obrigatório constituir advogado, ou seja, não é possível uma pessoa ir
sozinha para um tribunal.
A Relação jurídica processual típica é a que temos duas partes em paridade formal e um processo tutelar
cível com uma relação triangular. Mas há uma determinada categoria de processos cíveis em que há um
outro elemento adicional que é preciso ter em consideração que são os processos que dizem respeito a
menores, como os processos de regulação parental. Estão em causa menores e alem da paridade formal
das partes é preciso atender a alguém que não é parte, mas cujo interesse deve prevalecer no processo
que é o menor. Temos de ter em conta sempre o superior interesse da criança. Algumas das regras
habituais do processo civil, as regras clássicas, não estão pensadas para litígios desta natureza em que as
partes são capazes de acautelar suficientemente os seus interesses. Se temos um pai e uma mãe que
não tomam conta daquela criança e é preciso revogar a ação parental daqueles pais, há um elemento
adicional que tem de ter em conta alem dos interesses das partes que é o interesse daquela criança que
não é parte do processo. Estes tipos de processos são processos civis com um diploma próprio que é o
regime tutelar cível que tem em consideração esta necessidade adicional, que é o processo ser
conduzido entre partes, mas tem de ter presente um interesse de um terceiro, que é o da criança.
O processo civil não é o único método de resolução de litígios. Desde logo a existência de um litígio é o
pressuposto de acionamento da via judiciaria. Se as partes estão de acordo, se as partes se entendem
em relação a uma determinada relação jurídica não tem de recorrer a um tribunal. Há exceções em que
mesmo na ausência de um litígio é necessário recorrer a tribunal chama-se a isso processos de jurisdição
voluntaria, mas a regra geral, como nós vimos, é que a existência de um litígio, de um conflito de
interesses é um prossuposto de acionamento da via judiciaria. Mas a via judiciário, do aparelho judicial
não é a única via para dirimir um litígio.
Desde logo podemos fazer referência à auto composição do litígio. Se há auto composição podemos
fazer logo a questão se o litígio existe. As partes chegam a um acordo, auto compõem-se e então o
litígio deixa de existir.
Entramos como meios alternativos da resolução de litígios a conciliação e a mediação, que tem por
característica as partes do litígio se socorrerem de um terceiro para dirimir o seu litígio. Este terceiro
não é parte do litígio, nem tem interesse na sua resolução, não tem nada a ganhar nem a perder, mas
que é convocado pelas partes para colaborar, para prestar o seu auxílio a dirimir aquele litígio. É o
conciliador e o mediador, conforme o caso.
No sentido tradicional português, a conciliação caracteriza-se por o tal terceiro, o conciliador, ter por
objetivo, missão, procurar colocar as partes de acordo, mas não ter iniciativa própria. No fundo tenta
que as partes cheguem a um acordo, procurando conciliá-las, sem o conciliador ter iniciativa própria,
puder propor soluções para o acordo.
Já o mediador disporia de poder de iniciativa. Alem de pôr as partes a conversar uma com a outra o
mediador teria iniciativa própria, ou seja, poderia ele mesmo propor soluções às partes para resolver
aquele litígio.
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Há ainda um segundo sentido em alguns diplomas de direito processual que é a mediação é aquela que
é desenvolvida fora do processo judicial e conciliação é aquela que é desenvolvida no processo judicial,
normalmente até pelo juiz. Encontramo-nos isso no código de processo civil que nos diz que na
audiência de julgamento o juiz deve procurar conciliar as partes, como tentativa de compor o litígio por
iniciativa do juiz.
Quer a conciliação quer a mediação caracterizam-se pelo papel deste terceiro não ser vinculativo. O
conciliador poe as partes a conversar uma com a outra, mas não dá ordens às partes, o mediador poe as
partes a conversar uma com a outra e pode fazer propostas, sugestões, pode tomar iniciativas, mas não
dá ordens. É sempre das partes do litígio a palavra final, se querem ou se não querem chegar a acordo
na sequência daquela conciliação ou daquela mediação.
Um outro meio de resolução de litígios que é alternativo à via judicial processual clássica é a arbitragem,
mas aqui não parece correto chamar um meio extrajudicial de resolução de litígios porque como vamos
ver a seguir na arbitragem há efetivamente o exercício de poderes jurisdicionais e, portanto, os árbitros
são um tribunal arbitral. Funciona como um meio alternativo, mas um meio judicial. A arbitragem
consiste em as partes submeterem a resolução do seu litígio também a uma entidade terceira,
independente, ou seja, não tem nada a ganhar ou a perder, que vai dirimir o litígio, vai decidir. Este
arbitro vai tem poder vinculativo na decisão do litigo. Ele vai ouvir as partes e decidir quem tem razão.
Profere uma decisão que é obrigatória e vinculativa para as partes e, portanto, aqui se distingue dos
mediadores e dos conciliadores que não têm poderes de decisão e que não são vinculativos. Os árbitros
ouvem as partes, tomam uma decisão e dirimam o litígio com a mesma força, com a mesma
vinculariedade que um tribunal do estado. Na base da arbitrariedade de litígios está o princípio do
dispositivo que é a ideia da disponibilidade que as partes têm sobre o objeto do litígio. As partes podem
auto compor o litígio e se as partes podem fazer isto também podem entende o legislador, a
Constituição, atribuir a um arbitro o poder de resolver esse litígio, é como estar a dar disponibilidade. A
disponibilidade das partes sobre um objeto de um litígio resulta de um preceito do código civil que é o
art.º 1248 que diz respeito ao contrato de transação. O contrato de transação é o contrato pelo qual as
partes previnem ou determinam um litígio mediante recíprocas conceções. O art.º 1249 vem-nos dizer
que as partes não podem transigir sobre direitos de que não lhes é permitido dispor, ou seja, não é
possível fazer transação sobre direitos indisponíveis. Salvo estas exceções as partes podem transigir
sobre qualquer litígio que tenham e, por maioria de razão, se podem transigir sobre um litígio podem
também decidir que a resolução desses litígios vai ser confiada a um terceiro por elas, com um poder
vinculativo, obrigatório.
Os nossos tribunais não se esgotam nos tribunais estaduais, a Constituição também admite tribunais não
estaduais, ou se quisermos chamar os tribunais privados que são os tribunais arbitrais. Se formos ver o
art.º 209, nº2 da Constituição diz que podem existir também tribunais julgados de paz e também
tribunais arbitrais. Esses tribunais arbitrais são tribunais como os outros, com a diferença que não
estaduais, não fazem parte da estrutura do estado. A função jurisdicional tem um conteúdo muito
amplo, está envolvida na função jurisdicional o exercício de poderes de autoridade pública, o tribunal
que faz uma penhora, etc. O núcleo essencial da função jurisdicional está reservado aos tribunais
estaduais, do estado, só estes o podem fazer.
A arbitragem assenta numa vontade das partes, são as partes que por força da sua vontade decidem
submeter um litígio entre elas à resolução por árbitros. Isto acontece muitas vezes por desconfiança dos
tribunais do estado, outras vezes é por questões de celeridade, ou uma questão de secretismo porque
os tribunais arbitrais como são privadas não são abertos publicamente, como são os tribunais estaduais.
Às vezes as partes não querem que esses assuntos venham ao conhecimento público. Segundo o
princípio da publicidade, por regra, uma pessoa pode consultar um processo, no caso de um particular,
tem de justificar o interesse. Os advogados podem consultar qualquer processo, exceto os que estão
sobre sigilo.
24/09/2021
A possibilidade de submeter os litígios da decisão por árbitros impedindo que esses mesmos litígios
sejam dirimidos pelos tribunais estaduais, pelos tribunais da estrutura estadual do estado. E isso vai
exigir a
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consulta da lei da arbitragem voluntaria que é uma lei recente, a lei 63º de 2011 que já teve uma revisão
e é conhecida pelo seu acrónimo LAV e que no seu art.º 1 regula a possibilidade de submissão de litígios
a decisão por árbitros.
Art.º 1
1. “Desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente aos tribunais do Estado ou a
arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial pode
ser cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, à decisão de árbitros.”
Esta norma permite que as partes, envolve necessariamente o consenso de todas as partes do litígio,
cometam um dado litígio à decisão por árbitros. Há, no entanto, uma serie de requisitos que têm de
estar respeitados nos termos desta norma. Em primeiro lugar só é possível desde que não exista lei
especial que atribua o poder de dirimir litígios dessa categoria em exclusivo aos tribunais do estado,
estaduais. Certo tipo de litígios a lei diz que só pode ser por um tribunal do estado. Exemplo: Ações
sobre licitude de despedimento, ou seja, quando alguém é despedido e quer impugnar o despedimento
para apreciar se o despedimento foi lícito ou ilícito a lei diz-nos que não pode ser submetido a um
tribunal arbitral. Também quando se trata de casos que a lei manda submeter a arbitragem necessária
que é diferente da arbitragem voluntaria que é a que estamos agora a tratar. A arbitragem voluntaria
depende da vontade das partes, são as partes através de uma manifestação de vontade que decidem
submeter um litígio a arbitragem. Essa manifestação de vontade das partes faz-se através do que se
denomina a convenção de arbitragem. Este art.º 1 aplica-se a todos os litígios de natureza patrimonial,
qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial. Alguma doutrina tem lido nesta norma
uma superação daquela visão tradicional que é a de que a arbitragem assenta no princípio do
dispositivo, na disponibilidade das partes sobre o objeto do litígio. A prepósito deste nº1 diz-nos que os
direitos patrimoniais mesmo que sejam indisponíveis puderam ser submetidos a arbitragem. O
fundamento teórico, dogmático, da arbitragem voluntaria é a vontade das partes que só pode ser valida
se ela disser respeito a direitos disponíveis. Portanto, aceitar-se que este nº1 abrange também litígios
relativos a direitos patrimoniais indisponíveis parece ser já exagerado, mas há doutrina que já o admite.
2. “É também válida uma convenção de arbitragem relativa a litígios que não envolvam interesses
de natureza patrimonial, desde que as partes possam celebrar transação sobre o direito
controvertido.”
Aqui poderá haver lugar à arbitragem de litígios de natureza não patrimonial desde que se trate de
direitos disponíveis. Direitos de natureza não patrimonial também podem ser objeto de uma convenção
de arbitragem, também podem ser dirimidos por árbitros desde que se trate de direitos disponíveis.
O nº5 deste art.º 1 admite ainda a arbitragem voluntaria em litígios de direito público e esta é a
abertura legislativa para a arbitragem do contencioso administrativo e para a arbitragem do contencioso
tributário. O nº4 permite também arbitragem não contenciosa, ou seja, “as partes podem acordar em
submeter a arbitragem, para além das questões de natureza contenciosa em sentido estrito, quaisquer
outras que requeiram a intervenção de um decisor imparcial, designadamente as relacionadas com a
necessidade de precisar, completar e adaptar contratos de prestações duradouras a novas
circunstâncias.”
As partes não têm nenhum litígio entre si, mas precisam por algum motivo que um terceiro
independente e imparcial venha disciplinar uma relação jurídica que elas estabeleceram. O caso da
compra e venda em que as partes estão de acordo em muitas coisas, mas não estão de acordo quanto
ao preço em concreto e entregam ao terceiro, ao árbitro, a fixação do preço com caracter vinculativo.
O elemento determinante, a fonte desta decisão das partes remeterem a decisão de um litígio para um
tribunal arbitral, para árbitros é a tal convenção de arbitragem.
A convenção de arbitragem, os seus requisitos, estão regulados no art.º 2 da mesma. A convenção de
arbitragem é a fonte jurídica que habilita os árbitros a dirimir um litígio e a sua natureza jurídica é de um
contrato. A lei não utilizada expressamente esta designação, mas a convenção de arbitragem é um
verdadeiro contrato, um acordo bilateral entre duas ou mais partes através da qual elas se vinculam a
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dirimir um litígio que se estabeleceu entre elas através de um arbitro. A lei distingue na convenção de
arbitragem, enquanto género, duas espécies e isso está previsto no nº3 do art.º 1. Diz-nos que a
convenção de arbitragem pode ter por objeto um litígio atual, ainda que afeto ao tribunal do estado
(compromisso arbitral) ou pode ter por objeto litígios eventuais emergentes de determinada relação
jurídica contratual ou extracontratual e nesse caso designa-se clausula promissória. A convenção
arbitraria pode assumir duas espécies distintas. Assume a espécie de compromisso arbitral quando ela é
celebrada já perante um litígio atual e existente. Isto resulta não só do nº3, art.º 1 da convenção, mas
também do art.º 280 do código de processo civil. Essa celebração do compromisso arbitral na pendencia
de um processo que está a correr no tribunal do estado tem por consequência extinguir o processo no
tribunal do estado. Isto é característico de um processo de direito civil, não acontece num processo de
direito penal.
A clausula compromissória diz respeito a litígios eventuais, futuros. As partes podem vincular-se desde
logo a todos os litígios que possam eventualmente surgir no futuro entre elas que sejam dirimidos por
árbitros e não por tribunais do estado. No entanto a lei impõe alguns requisitos, não é todo e qualquer
litígio, tem de ser litígios emergentes de uma determinada relação jurídica contratual ou
extracontratual. O mais frequente é isto ser num contrato.
O art.º 2 regula os requisitos da convenção de arbitragem dados os efeitos que ela produz. O primeiro
requisito é a exigência de forma escrita. A convenção de arbitragem deve adotar a forma escrita, não
pode ser celebrada verbalmente. Sendo preciso forma escrita pode ser feita através de documento
particular para ser válido, não é obrigatório que seja por documento autenticado. A exigência de forma
escrita tem- se por satisfeita quando a convenção conste de documento escrito assinado pelas partes,
troca de cartas, telegramas, telefaxes ou outros meios de telecomunicação de que fique prova escrita,
incluindo meios eletrónicos de comunicação. O nº 4 deste artigo permite ainda que a convenção de
arbitragem seja celebrada como uma clausula contratual geral. Uma clausula contratual geral, também
às vezes chamada contrato de adesão, é uma proposta contratual que é apresentada por uma parte e
que a outra ou aceita ou não aceita, não tem possibilidade de negociar ou ajustar o seu conteúdo.
Quando assim é aplica-se também o regime jurídico das clausulas contratuais gerais, ou seja, a
convenção de arbitragem tem de obedecer às disposições desta lei e também tem de obedecer às
disposições da lei sobre clausulas contratuais gerais. O nº 5 prevê uma situação peculiar que podemos
denominar de convenção de arbitragem ficta, fictícia. Considera-se cumprido o requisito da forma
escrita da convenção de arbitragem quando exista troca de uma petição e uma contestação em
processo arbitral, em que a existência de tal convenção seja alegada por uma parte e não seja negada
pela outra. Portanto, a lei manda tratar como se houvesse convenção de arbitragem, ficciona que existiu
uma convenção de arbitragem escrita, embora não tenha existido convenção alguma, desde que alguém
inicie um processo arbitral, apresentando uma petição, invocando a existência de convenção de
arbitragem e a outra parte conteste essa ação, mas não negue expressamente a existência de
convenção de arbitragem. Se isto suceder, mesmo que não tenha existido convenção de arbitragem, a
lei diz que se ficciona a sua existência e trata-a como uma convenção de arbitragem ficta. Se as partes
começarem o processo arbitral e não foi posta em causa a existência de convenção arbitragem, mais
vale deixa o processo arbitral continuar do que depois chegar à conclusão que tem de parar e remeter as
partes para um tribunal estadual. O nº 6 vêm-nos dizer que a convenção de arbitragem, se for um
compromisso arbitral, vem identificar o litígio a que se refere, não valem convenções de arbitragem em
branco. Se for na modalidade de clausula compromissória deve especificar a relação jurídica a que os
litígios eventuais e futuros se referem.
O art.º 6 permite ainda que o conteúdo da convenção de arbitragem possa ser remetido para
documentos externos à própria convenção, que as partes possam remeter o conteúdo da convenção de
arbitragem para documentos externos. Normalmente para regulamentos que já existem em institutos
ou outras entidades que em vez de estarem no sua própria convenção de arbitragem a detalharem
todas as regras de arbitragem podem dizer que concordam que aquilo seja dirimido por árbitros e os
árbitros seguiram as regras do instituto tal ou da associação tal.
alguns limites. A convenção de arbitragem pode ser modificada pelas partes até a aceitação do primeiro
arbitro, ou seja, enquanto não houver árbitros nomeados, ou não tiver aceite ser arbitro, as partes
podem modificar livremente a convenção de arbitragem. Depois de ter havido aceitação dos árbitros a
convenção de arbitragem só pode ser modificada com o acordo dos próprios árbitros. Eles não são
partes da convenção de arbitragem, mas a lei exige o acordo deles para a modificação da convenção de
arbitragem. Já a revogação da convenção pode ser feita pelas partes a todo o tempo, mesmo depois dos
árbitros estarem no exercício de funções até que seja proferida a sentença arbitral. Depois de ser
proferida a sentença arbitral o litígio já ficou dirimido e, portanto, as partes já não podem revogar a
convenção de arbitragem. No nº3 a lei exige a forma escrita quer para a modificação da convenção quer
para a sua revogação. O nº 4 vem acrescentar ainda que a convenção de arbitragem não caduca com a
morte ou a expulsão de uma das partes que a celebrou. Se a parte que outorgou a convenção morrer ou
se extinguir isso não faz caducar a convenção de arbitragem porque as obrigações e os vínculos dela
decorrentes transmitem-se aos sucessores da parte que morrer ou extinguiu, salvo que na própria
convenção diga o contrário, fique lá estipulado na própria convenção.
(Nota: Extinção diz respeito a pessoas coletivas e a morte diz respeito a pessoas singulares.)
7/10/2021
A celebração pelas partes de uma convenção de arbitragem produz um conjunto de efeitos jurídicos que
estão previstos no art.º 5 da LAV. A convenção de arbitragem nem tem apenas um efeito negativo, na
verdade, nós podemos
dentificar na convenção de arbitragem três tipos de efeitos:
Negativo
Positivo
Inibidor
O efeito negativo está previsto no nº1 desse preceito legal que nos diz que “o tribunal estadual no qual
seja proposta ação relativa a uma questão abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a
requerimento do réu deduzido até ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado sobre
o fundo da causa, absolvê-lo da instância, a menos que verifique que, manifestamente, a convenção de
arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou é inexequível.” O efeito negativo consiste em que a
celebração da convenção de arbitragem nega ao tribunal estadual a competência para conhecer de um
litígio abrangido por essa convenção de arbitragem. Pelo facto de as partes terem celebrado uma
convenção de arbitragem, a mera celebração da convenção nega ao tribunal estadual competência para
conhecer de um litígio abrangido pela convenção de arbitragem. Se alguma das partes que outorgou a
convenção for propor uma ação no tribunal estadual, ou seja, no tribunal do estado, da comarca, o
tribunal estadual tem obrigação de se recusar a conhecer daquele processo, nem sequer vai apreciar o
litígio. De grosso modo chama-se a absolvição da instância.
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Este dever do tribunal estadual se abster de conhecer a ação não é um dever oficioso, ou seja, o tribunal
não tem obrigação de andar a averiguar se nós fizemos convenção de arbitragem, etc., só o fará se a
parte demandada nessa ação invocar a existência de uma convenção de arbitragem. Se ninguém invocar
a existência da convenção de arbitragem o tribunal estadual pode prosseguir o julgamento da causa
como se não existisse convenção de arbitragem. Isto consiste numa limitação deste efeito negativo.
Uma outra limitação a este efeito negativo é quando se diz que o tribunal absolverá o réu da instância
salvo se a convenção for nula, inválida ou exequível. Portanto, o tribunal pode apreciar a validade da
convenção de arbitragem, mas só em relação a situações que sejam manifestas ou evidentes. Se é uma
nulidade ostensiva o tribunal pode conhecer do processo.
O efeito positivo está previsto no nº2 deste preceito legal que nos diz que “no caso previsto no número
anterior, o processo arbitral pode ser iniciado ou prosseguir, e pode ser nele proferida uma sentença,
enquanto a questão estiver pendente no tribunal estadual.” Portanto, a convenção de arbitragem
habilita o tribunal arbitral a conhecer e julgar o processo arbitral, mesmo que o mesmo litígio esteja
pendente numa ação num tribunal estadual. A lei proíbe que o mesmo litígio esteja a ser apreciado em
dois processos distintos, ou seja, não pode estar o mesmo litígio a ser dirimido em dois processos. Isto é
a litis pendencia quando isso acontece. Se isso acontecer há consequências a extrair num desses
processos. O nº2 vem-nos dizer que não há um problema de litis pendencia se o mesmo litígio for
proposto no tribunal estadual e no tribunal arbitral. Habilita o tribunal arbitral a dizer que mesmo que
esteja pendente um processo exatamente quanto às mesmas questões num tribunal estadual, o tribunal
arbitral pode continuar a julgar esta ação e proferir sentença num processo arbitral. Portanto, o tribunal
arbitral não fica impedido de julgar a causa pelo facto de o mesmo assunto estar pendente num
processo de tribunal estadual.
O efeito inibidor está previsto no nº4 deste preceito legal que nos diz que “as questões da nulidade,
ineficácia e inexequibilidade de uma convenção de arbitragem não podem ser discutidas
autonomamente em ação de simples apreciação proposta em tribunal estadual nem em procedimento
cautelar instaurado perante o mesmo tribunal, que tenha como finalidade impedir a constituição ou o
funcionamento de um tribunal arbitral.” O facto de ter sido celebrada uma convenção de arbitragem
inibe qualquer uma das partes nessa convenção de propor num tribunal estadual uma ação ou um
processo que tenha apenas por objetivo declarar nula, inválida, ineficaz ou inexequível aquela
convenção de arbitragem. Não se pode discutir a validade, a eficácia ou exequibilidade da convenção de
arbitragem no tribunal estadual. Tem de ser no âmbito do próprio processo arbitral que o tribunal
arbitral vai apreciar a validade da convenção de arbitragem. O tribunal está inibido de num processo que
tenha apenas por objeto apreciar a convenção de arbitragem de o fazer. Neste nº4 o mesmo vale para
um processo cautelar. Às vezes ao abrigo da LAV anterior acontecia que as partes chegavam a um litígio,
desentendiam-se por um contrato qualquer e havia uma parte que anunciava que ia propor uma ação
arbitral. A outra parte, antes sequer da ação ser proposta ia ao tribunal estadual e pedia uma
providencia cautelar para que o tribunal estadual impedisse a parte contraria de iniciar um processo
arbitral. Então o legislador quis impedir que isso possa suceder com este efeito inibidor. A validade, a
eficácia ou a exequibilidade da convenção de arbitragem não pode constituir objeto em si mesmo,
isoladamente de uma ação ou de um processo cautelar num tribunal estadual.
O tribunal arbitral resulta da vontade das partes, são as partes que querem que aquele litígio seja
dirimido por árbitros e a escolha, o critério para a escolha dos árbitros é colocada também na
disponibilidade das partes. O art.º 8 da LAV vem-nos dizer que o tribunal arbitral, diz o seu nº1, pode ser
constituído por um único arbitro ou por vários árbitros, mas sempre em número ímpar. Por um árbitro
denomina-se de tribunal arbitral singular e por vários árbitros denomina-se de tribunal arbitral colegial
(ou coletivo), mas quando composto por vários árbitros a lei exige que seja composto por um número
ímpar de árbitros. A lei tem esta exigência para não haver empates, sendo esse o objetivo do legislador.
Às vezes não é possível porque pode ser constituído por três membros e os três membros votarem três
decisões distintas.
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Os árbitros, segundo o art.º 9, têm de obedecer a determinados requisitos. O nº1 diz-nos que os árbitros
têm de ser pessoas singulares e plenamente capazes, no seu pleno gozo de exercício. Portanto, só pode
ser nomeado arbitro indivíduos, não podendo ser sociedades, uma associação ou uma entidade. Existe a
capacidade de exercício e a capacidade de gozo ou jurídica, sendo que aqui se refere à capacidade de
exercício, ou seja, têm de ser maiores de idade e não podem estar inibidos da sua capacidade de
exercício (maiores sujeitos a acompanhamento). Não é exigido que o individuo tenha de ser português
ou sequer tenha de falar português. Um segundo requisito encontramos no nº3 que nos diz que os
árbitros devem ser independentes e imparciais, ou seja, os árbitros em relação ao litígio e em relação às
partes têm de estar numa posição de independência e de imparcialidade, independência no sentido que
não estão sujeitos a ordens, instruções ou diretivas pelas partes. Esta ideia de independência e
imparcialidade por parte dos árbitros está também consagrada no art.º 13, nº1, que nos vem dizer que
quem for convidado para exercer as funções de arbitro deve revelar as circunstância que podem suscitar
fundadas duvidas sobre a sua imparcialidade e a sua independência, por exemplo, a pessoa ter
trabalhado para uma das partes anteriormente.
O art.º 8, nº2 e o art.º 10 da LAV responde-nos a como é que os árbitros são designados. O art.º 8 diz-
nos que se as partes não tiverem acordado, na convenção arbitral, no número de membros que compõe
o tribunal arbitral por defeito a lei manda que sejam três. Portanto, há uma liberdade de conformação
das partes quer quanto à concreta constituição do tribunal, art.º 8, nº1, quer quanto à forma de
designação dos árbitros, art.º 10, nº1. No art.º 10 diz-nos que as partes podem na convenção de
arbitragem ou em escrito posterior por elas assinado designar o arbitro ou árbitros que constituem o
tribunal arbitral ou fixam o órgão pelo qual estes são escolhidos, nomeadamente como tendo a
designação de todos ou de alguns dos árbitros. A liberdade das partes é total para colocarem o que
entenderem na convenção de arbitragem. No entanto a lei prevê um regime supletivo, se as partes nada
convencionarem o tribunal é composto por três árbitros (art.º 8, nº2) e no caso de o tribunal ser colegial
cada parte deve designar o mesmo número de árbitros (art.º 10, nº3), sendo que os árbitros designados
devem escolher outro arbitro que atua como presidente do tribunal. No caso dos tribunais colegiais o
regime supletivo da lei quanto à designação dos árbitros é cada parte designa o mesmo número de
árbitros, portanto o demandante designa um arbitro, o demandado designa outro arbitro e os árbitros
assim designados juntam-se e escolham um terceiro que será o presidente do tribunal arbitral. Se o
tribunal for composto por 5 o demandante designa dois árbitros, o demandado designa dois árbitros e
estes quatro reúnem-se e escolham um quinto arbitro para ser o presidente. Este regime é supletivo, ou
seja, só se aplica se as partes não tenham regulado esta matéria na sua convenção de arbitragem. Um
problema que pode surgir é que a parte que prepõe a ação pode estar com pressa de a resolver e
escolhe logo o seu arbitro, mas se a outra parte não tiver esse interesse pode arrastar essa escolha,
como forma de empatar a andamento de arbitragem. Então aqui a lei estabelece um mecanismo para
superar uma decisão dessas. O art.º 10, nº4 vem dizer que se no prazo de 30 dias a contar do pedido
que a outra parte lhe faça nesse sentido, a parte não designar o arbitro ou árbitros que lhe cabe
designar ou então os árbitros não chegarem a acordo à cerca do presidente, então a designação do
árbitro ou árbitros em falta é feita a pedido de qualquer das partes pelo tribunal estadual competente.
Quem é este tribunal estadual competente? Art.º 59, nº3 da LAV. O art.º 59, nº1, alínea a diz-nos que os
tribunais estaduais são competentes para a nomeação de árbitros que não tenham sido nomeados pelas
partes ou por terceiros a que aquelas hajam cometido esse encargo, de acordo com o previsto nos
números 3, 4 e 5 do artigo 10.º e no n.º 1 do artigo 11.º. E o art.º 59, nº3 completa dizendo que a
nomeação de árbitros referida na alínea a do n.º 1 do presente artigo cabe, consoante a natureza do
litígio, ao presidente do Tribunal da Relação ou ao presidente do tribunal central administrativo que for
territorialmente competente. Não basta nomear um arbitro, é preciso que o arbitro aceite o encargo da
nomeação. O art.º 12, nº1 da LAV diz que ninguém pode ser obrigado a atuar como árbitro; mas se o
encargo tiver sido aceite, só é legítima a escusa fundada em causa superveniente que impossibilite o
designado de exercer tal função ou na não conclusão do acordo a que se refere o n.º 1 do art.º 17.
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Pode suceder, segundo o art.º 15, a incapacidade de um arbitro que pode leva à sua suspensão. O art.º
15, nº1 diz-nos que cessam as funções do árbitro que fique incapacitado, de direito ou de facto, para
exercê-las, se o mesmo a elas renunciar ou as partes de comum acordo lhes puserem termo com esse
fundamento. Exemplo: Está em coma por um acidente de automóvel ou então está no hospital vítima de
um ataque cardíaco.
Quando o arbitro que recusar ou o arbitro que fica incapacitado tem de ser substituído diz o art.º 16 da
LAV que segue as mesmas regras que estavam previstas para a nomeação do arbitro substituído.
Uma segunda característica da tramitação dos processos arbitrais tem a ver com um princípio do
competence competence. Isto é uma expressão muito utilizada no direito europeu, mas com motivos
completamente diferente. No contexto do direito à arbitragem isto quer dizer que o tribunal arbitral
tem a competência das competências, ou seja, tem a competência para decidir se ele é competente
para conhecer o litígio. A 1º etapa de uma arbitragem é o tribunal decidir se este litígio está abrangido
pela convenção de arbitragem porque o tribunal só pode dirimir, só pode julgar aquele processo se o
litígio estiver abrangido pela convenção de arbitragem. Este princípio encontra-se consagrado entre nós
no art.º 18, nº1 da LAV quando diz que o tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência
mesmo que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a ineficácia e a validade da convenção
arbitraria. Quanto à tramitação do processo arbitral vigora também entre nós a regra da liberdade da
conformação das partes, as partes têm a liberdade para conformar as regras relativas à conformação do
processo arbitral. No art.º 30, nº2 diz-nos que as partes podem, até à aceitação do primeiro árbitro,
acordar sobre as regras do processo a observar na arbitragem, com respeito pelos princípios
fundamentais consignados no número anterior do presente artigo e pelas demais normas imperativas
constantes desta lei. Se as partes nada tiverem convencionado, diz o nº3 que o tribunal arbitral pode
conduzir a arbitragem do modo que considerar apropriado, definindo as regras processuais que entender
adequadas, devendo, se for esse
o caso, explicitar que considera subsidiariamente aplicável o disposto na lei que rege o processo perante
o tribunal estadual competente. Há uma ressalva importante, quer ao poder das partes para regularem
ou fixarem as regras da arbitragem quer para o próprio poder das partes que é a observância dos
princípios fundamentais que estão previstos no nº1 desse artigo 30.º. Esses princípios são três:
O princípio da proibição da indefesa está consagrado na alínea a quando diz que o demandado é sempre
citado para se defender. Não pode um processo arbitral prosseguir sem ter sido dada a oportunidade da
pessoa contra quem o processo foi proposto se vir defender, dar a sua própria posição. O processo não
tem de estar parado a aguardar que ela se venha defender.
O princípio da igualdade está consagrado na alínea b quando diz que as partes são tratadas com
igualdade. As partes devem ter todas os mesmos direitos, os mesmos deveres, as mesmas obrigações
processuais e os mesmos órgãos processuais na arbitragem. Tem de haver um tratamento igualitário,
não pode uma parte ser tratada diferente da outra.
O princípio do contraditório está previsto na segunda metade da alínea b e na alínea c quando diz que
em todas as fases do processo é garantida a observância do princípio do contraditório, salvas as
exceções previstas na presente lei. O tribunal não pode decidir o que lhe apetecer sem ouvir as partes, é
sempre assegurada a oportunidade de se prenunciar, do contraditório, embora se admita que pode
haver exceções. Na segunda metade da alínea b reconhece-se uma reserva mínima para o princípio do
contraditório que tem sempre que existir que é deve ser dada às partes uma oportunidade razoável de
fazerem valer os seus direitos escrito ou oralmente antes de ser proferida a decisão final.
O art.º 31 da LAV vem dizer que tem de existir um lugar da arbitragem, sendo que as partes o podem
fixar livremente. Na falta de acordo das partes este lugar é fixado pelo tribunal arbitral. Uma das razoes
pelas
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quais a arbitragem tem de ter um lugar é para saber qual tribunal estadual competente para intervir nas
questões que possam suscitar na arbitragem.
Uma outra característica que torna a arbitragem muito apetecível aos litígios internacionais é a do
idioma utilizado na arbitragem, ou seja, a língua do processo. O art.º 32 da LAV diz-nos que as partes
podem por acordo escolher livremente a língua ou línguas a utilizar no processo arbitral. Na falta desse
acordo, o tribunal arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo. As partes escolhem, têm
essa liberdade. O art.º 34 da LAV diz-nos que salvo convenção das partes em contrário, o tribunal decide
se serão realizadas audiências para a produção de prova ou se o processo é apenas conduzido com base
em documentos e outros elementos de prova. O tribunal deve, porém, realizar uma ou mais audiências
para a produção de prova sempre que uma das partes o requeira, a menos que as partes hajam
previamente prescindido delas. Pode ser necessário ouvir uma testemunha, cujo depoimento não é
fundamental e a testemunha não apareça voluntariamente. O tribunal fica manietado de dirimir o litígio.
Para colmatar estas situações o art.º 38 prevê um mecanismo de colaboração entre o tribunal estadual e
o tribunal arbitral no que diz respeito à produção da prova. O art.º 38 diz-nos que quando a prova a
produzir dependa da vontade de uma das partes ou de terceiros e estes recusem a sua colaboração,
uma parte, com a prévia autorização do tribunal arbitral, pode solicitar ao tribunal estadual competente
que a prova seja produzida perante ele, sendo os seus resultados remetidos ao tribunal arbitral.
Portanto, uma das partes no processo arbitral pode pedir ao tribunal arbitral para autorizar ir ao tribunal
estadual solicitar a sua colaboração para obter os meios de prova usando-se do ius imperium que o
tribunal estadual está autorizado a usar sendo o resultado transmitido ao tribunal estadual. O art.º 38
vem regular a necessidade da colaboração da parte de tribunais estaduais para a produção de prova.
Pode-se colmatar a deficiência que resulta da falta de poderes de autoridade pública que afeta o
tribunal arbitral solicitando a colaboração de um tribunal estadual investido de poderes de autoridade
pública.
Decorrida a tramitação pelas regras que nós já vimos o processo arbitral concluiu pela sentença arbitral
e a esse respeito temos de ter presente o disposto no art.º 43 que nos diz que salvo se as partes até à
aceitação do primeiro arbitro, tiverem acordado prazo diferente, os árbitros devem notificar às partes a
sentença final proferida sobre o litígio que por elas lhes foi submetido dentro do prazo de 12 meses a
contar da data de aceitação do último árbitro. Ou seja, as partes têm a liberdade para estipular o prazo
de duração de arbitragem, o prazo dentro do qual os árbitros devem decidir o litígio. Uma das vantagens
tradicionalmente à arbitragem é a sua celeridade, é mais célere na decisão dos litígios do que um
tribunal estadual. A lei, no entanto, diz-nos que se não o fizerem supletivamente o prazo é de 12 meses
a contar da aceitação do último arbitro. O nº2 acrescenta que é livremente prorrogado, ou seja, o
tribunal arbitral pode prorrogar este prazo, as partes também o podem fazer uma ou mais vezes se for
devidamente fundamentado, porem, as partes podem por acordo opor-se à prorrogação.
O art.º 39, nº1 vem-nos dizer qual é o critério que os árbitros do tribunal arbitral podem seguir para
dirimir um litígio. Os árbitros julgam segundo o direito constituído, a menos que as partes determinem,
por acordo, que julguem segundo a equidade. A particularidade da arbitragem é a última parte deste
artigo. Isto não é possível no tribunal estadual, o tribunal estadual não pode decidir por critérios de
equidade.
Se o tribunal for colegial, coletivo, coloca-se a questão de saber como é que o tribunal delibera. A logica
será a regra da maioria, que está consagrada no art.º 40, nº1, que nos diz que num processo arbitral
com mais de um árbitro, qualquer decisão do tribunal arbitral é tomada pela maioria dos seus membros.
Se não puder formar-se maioria, a sentença é proferida pelo presidente do tribunal. A maioria absoluta
é mais de metade, ou seja, se o tribunal arbitral for constituído por três membros é necessário que dois
votem a favor da decisão. Se não se formar maior a decisão é tomada singularmente pelo presidente do
tribunal arbitral, tem a plenitude dos poderes jurisdicionais do tribunal. Num tribunal arbitral de
composição ímpar continua a ser possível não se formar maioria porque pode haver a situação rara de
um arbitro não comparecer e o que era ímpar transforma-se em par ou então quando há sentidos de
votos distintos, como por exemplo, uns dar total razão ao demandado, outros total razão ao
demandante e outros estar numa posição intermedia dando um pouco de razão aos dois. Nestes casos é
o presidente
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sozinho, individualmente, a decidir, ainda que a posição dele tenha sido a menos votada. No entanto, a
sentença arbitral seja o modo desejável de se por termo ao processo, onde o tribunal dirime o litígio
dando razão a uma ou a outra parte, nem sempre os processos arbitrais terminam com uma sentença
arbitral, às vezes os processos arbitrais terminam sem que o tribunal arbitral tenha dirimido o litígio.
Isso está previsto no art.º 44, nº2 que nos diz que o tribunal arbitral ordena o encerramento do processo
arbitral quando:
a) O demandante desista do seu pedido, a menos que o demandado a tal se oponha e o tribunal arbitral
reconheça que este tem um interesse legítimo em que o litígio seja definitivamente resolvido
b) As partes concordem em encerrar o processo
c) O tribunal arbitral verifique que a prossecução do processo se tornou, por qualquer outra razão, inútil
ou impossível- chama-se a isto a inutilidade superveniente ou a impossibilidade superveniente.
Proferida a decisão arbitral coloca-se a questão de saber se há meios de reação a essa decisão. Isto é
outra vantagem da arbitragem porque os meios de reação às decisões arbitrais são muito limitados. Isto
são chamados os meios de impugnação de uma decisão. O ordenamento jurídico reconhece dois meios
de impugnação de decisões arbitrais:
Os recursos
Os pedidos de anulação
O recurso tem um âmbito mais basto, através do recurso eu coloco em causa a decisão e pretendo que o
tribunal do recurso, o tribunal a quem dirijo a impugnação, reaprecie a questão que foi decidida pelo
tribunal recorrido. Isto permite ao tribunal de recurso reapreciar a decisão do tribunal recorrido. O
recurso de sentenças arbitrais é só em determinadas circunstâncias. A recorribilidade está consagrada
no art.º 39, nº4 que nos diz que a sentença que se pronuncie sobre o fundo da causa ou que, sem
conhecer deste, ponha termo ao processo arbitral, só é suscetível de recurso para o tribunal estadual
competente no caso de as partes terem expressamente previsto tal possibilidade na convenção de
arbitragem e desde que a causa não haja sido decidida segundo a equidade ou mediante composição
amigável.
Regra geral, as sentenças dos tribunais arbitrais são irrecorríveis, ou seja, não se pode interpor recurso
de uma sentença arbitral, mas esta regra comporta uma exceção. A recorribilidade pode existir se as
partes tiverem expressamente convencionado na convenção de arbitragem. Porém, mesmo que as
partes tenham convencionado a recorribilidade da sentença arbitral, a lei proíbe um recurso se a
decisão tiver sido proferida por critérios de equidade ou se tiver resultado de composição amigável, ou
seja, ser resultado de um acordo celebrado entre as partes.
Nos casos em que haja recurso o recurso interpõem-se para o tribunal estadual competente, ou seja,
aquele que cujo distrito se situe o lugar de arbitragem.
O pedido de anulação tem um alcance muito mais estrito. Consiste em dirigir a um tribunal superior um
pedido de anulação da decisão arbitral. O tribunal limita-se a anular a decisão, mas não se substituiu ao
tribunal arbitral, a questão volta ao tribunal arbitral para este reapreciar o que tem de ser reapreciado.
Pedir a anulação de uma decisão é sempre possível. O pedido de anulação de uma decisão está previsto
no art.º 46. O art.º 46, nº1 diz-nos que salvo se as partes tiverem acordado em sentido diferente, ao
abrigo do n.º 4 do artigo 39.º, a impugnação de uma sentença arbitral perante um tribunal estadual só
pode revestir a forma de pedido de anulação, nos termos do disposto no presente artigo, ou seja, a
impugnação da decisão, a menos que seja a título de recurso, por convenção das partes, a sentença
arbitral tem de ser por anulação. O pedido de a anulação consiste então numa pretensão de que a
sentença arbitral seja anulada com fundamento de vícios dessa sentença ou da própria tramitação do
processo arbitral, vícios formais que não tem nada a ver com o conteúdo da decisão, nem com o modo
como o tribunal dirimiu o litígio. Tem a ver com irregularidades formais que acorreram no decurso da
tramitação do processo arbitral ou da própria sentença arbitral. Se a decisão admitir recurso essas
questões que poderiam levar ao pedido de anulação são tratadas no recurso, ou seja, não pode haver ao
mesmo tempo um pedido de anulação e um recurso. Havendo a admissibilidade do recuso todas as
questões relativas à decisão arbitral são apreciadas no âmbito do recurso. Se não tiver sido
convencionada a possibilidade de recurso então
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Proferida a sentença arbitral coloca-se o problema do que nela se tiver determinado ser cumprido. O
tribunal arbitral não tem poderes de autoridade pública, não pode executar as suas próprias decisões. É
um tribunal ad hoc que se extingue quando a decisão foi proferida, o tribunal acaba, foi constituído para
dirimir aquele litígio apenas. No domínio da arbitragem, o art.º 47, nº 1 diz que existe uma reserva
absoluta de competência dos tribunais estaduais para executarem as sentenças arbitrais. As sentenças
arbitrais apenas podem ser executadas coercivamente contra a parte que a incumpre através de um
tribunal estadual, uma ação executiva proposta num tribunal estadual. Para sabermos qual é o tribunal
estadual competente temos de ir ver o art.º 59, nº 9 que nos diz que a execução da sentença arbitral
proferida em Portugal corre no tribunal estadual de 1.ª instância competente, nos termos da lei de
processo aplicável. Portanto, a sentença arbitral é executada mediante ação executiva proposta num
tribunal estadual de 1º instância, da comarca. O código do processo civil diz-nos no art.º 705, nº2 que as
decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos mesmos termos em que o são as decisões
dos tribunais comuns, que são os tribunais estaduais. A decisão de um tribunal arbitral tem a mesma
força jurídica, executiva, que uma decisão de um tribunal estadual.
A arbitragem internacional
A LAV está essencialmente pensada para arbitragens no contexto nacional, portanto, litígios que tem a
ver com o ordenamento jurídico português e, portanto, que estão sediadas em Portugal. Mas a
arbitragem resolve litígios de natureza transfronteiriça e a LAV reconhece também valor jurídico a
arbitragens que se realizem fora do território nacional, chamadas arbitragens internacionais. O nosso
ordenamento jurídico é muito recetivo à arbitragem internacional. As sentenças arbitrais estrangeiras
são reconhecidas entre nós nos termos do art.º 55 que nos diz que sem prejuízo do que é
imperativamente preceituado pela Convenção de Nova Iorque de 1958, sobre o reconhecimento e a
execução de sentenças arbitrais estrangeiras, bem como por outros tratados ou convenções que
vinculem o Estado português, as sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro só têm
eficácia em Portugal, seja qual for a nacionalidade das partes, se forem reconhecidas pelo tribunal
estadual português competente, nos termos do disposto no presente capítulo desta lei. Portanto, uma
sentença arbitral proferida no estrangeiro é valida e exequível em Portugal desde que seja reconhecida
por um tribunal estadual português. Chama-se a isso exequátur, o processo através do qual nós vamos
obter a revisão e a confirmação de uma sentença arbitral estrangeira para que ela possa valer cá em
Portugal como uma sentença arbitral proferida por um tribunal arbitral localizado em Portugal. O
tribunal estadual não vai reapreciar o litígio, vai apreciar apenas requisitos formais, se respeitou os
nossos princípios fundamentais, as regras do ordenamento jurídico português, etc. A sentença arbitral
proferida num país estrangeiro tem o mesmo valor em Portugal que uma sentença proferida por um
tribunal arbitral sediado em Portugal. O tribunal competente para fazer este reconhecimento diz-nos no
art.º 59, nº1, alínea h, ou seja, o tribunal da relação. Mas qual dos tribunais da relação? O tribunal da
relação correspondente ao domicílio da pessoa contra quem se pretende fazer valer a sentença arbitral.
Porém há uma exceção no art.º 55 que nos diz que sem prejuízo do que é imperativamente preceituado
pela Convenção de Nova Iorque de 1958. Ou seja, há aqui uma convenção celebrada pelo estado
português e outros estados que impõe o reconhecimento automático de sentenças arbitrais entre os
estados que aderiram a essa convenção. Aderiram a essa convenção Portugal, a maior parte dos países
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pertencentes à União Europeia e estados como por exemplo os Estados Unidos da América. Estes
estados não precisam de exequátur, de revisão nem confirmação.
A arbitragem institucionalizada
A lei permite no art.º 62 da LAV a existência dos chamados centros de arbitragem institucionalizada que
no fundo correspondem a tribunais arbitrais de existência permanente. O art.º 62 diz-nos que a criação
em Portugal de centros de arbitragem institucionalizada está sujeita a autorização do Ministro da
Justiça, nos termos do disposto em legislação especial. Estes tribunais existem em permanência para
dirimir os litígios das pessoas que aderiram a esses tribunais arbitrais. Ou seja, tem a vantagem de já ter
tudo nomeado, tudo a funcionar e, portanto, propor lá o litígio e ser muito mais rápido esse processo. É
preciso que as partes ambas adiram e concordem com este tribunal. Isto hoje é muito frequente em
pequenos litígios de consumo porque não se justifica estar a nomear os árbitros, têm de ser pagos, etc.
Até agora estivemos a falar na arbitragem voluntaria (LAV- lei da arbitragem voluntaria), ou seja, é a
vontade das partes que determina que aquele litígio vai ser dirimido por árbitros. A lei, no entanto,
prevê uma outra modalidade de arbitragem que é a arbitragem necessária. A arbitragem necessária não
decorre da vontade das partes, é imposta pelo legislador. As partes não manifestaram vontade e muitas
vezes nem querem que o seu litígio seja dirimido por árbitros, mas o legislador impõe que aquele tipo de
litígios seja dirimido por árbitros. É necessariamente imposta pelo legislador. Têm-se discutido muito na
doutrina se em termos constitucionais é admissível a arbitragem necessária. Se o legislador pode
impedir contra a própria vontade das partes de se dirigir a um tribunal estadual para dirimirem os seus
litígios e obrigá-las a socorrerem-se do tribunal arbitral. O professor Pedro Pinto diz que isto é
inconstitucional, mas a jurisprudência do tribunal constitucional admite a arbitragem necessária, no
entanto, com uma ressalva que é que dessa decisão há sempre recurso para um tribunal estadual e que
esse recurso permite ao tribunal do estado reapreciar o litígio. É hoje aceite que exista a arbitragem
necessária, mas não pode proibir as partes de depois irem ao tribunal estadual, só que não podem ir lá
diretamente. A arbitragem necessária não está regulada na LAV, está regulado no art.º 1136 e seguintes
do código do processo civil. O art.º 1136 diz-nos que se o julgamento arbitral for prescrito por lei
especial, atende-se ao que nesta estiver determinado, na falta de determinação, observa-se o disposto
nos artigos seguintes. O art.º 1139 acaba por ser mais importante que nos diz que em tudo o que não
vai especialmente regulado observa- se, na parte aplicável, o disposto na Lei da Arbitragem Voluntária.
Ou seja, a arbitragem necessária acaba também por ser regulada pela LAV não diretamente, mas por via
indireta, por remissão deste artigo, que manda aplicar às arbitragens necessárias as disposições da lei da
arbitragem voluntaria.
8/10/2021
Podemos dividir a história do direito processual civil português em três grandes períodos:
Este é o 1º período da evolução histórica do direito processual civil, não há verdadeiramente uma data
inicial, mas podemos dizer que é o período que se inicia com a independência nacional, quando o país
começa a ter as suas próprias instituições políticas e judiciarias. Portanto, este período das ordenações
refere-se àqueles compêndios legislativos que estudamos em história do direito e que corresponde
àqueles três grandes textos que são as ordenações afonsinas de 1436, as ordenações manuelinas de
1514
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e as ordenações filipinas. Estas ordenações eram compêndios de artigos que tratavam todas as
matérias, mas que não eram códigos no sentido moderno, atual. Lá no meio também tratam o que
chamamos hoje de processo civil, mas sem grande rigor científico. Este período das ordenações
caracteriza-se desde logo e em primeiro lugar uma forte influência do direito canónico. O direito
canónico é o direito da igreja, católico e antes mesmo de haver estado português já a igreja católica
tinha os seus próprios tribunais eclesiásticos. Essa bagagem histórica que a igreja trazia, que o direito
canónico já tinha influenciou muito a formação do direito processual civil português, ou seja, o direito
processual português inspirou-se bastante no direito canónico.
Uma característica deste período histórico é a grande influencia do direito canónico.
Uma outra característica desde período é a extrema rigidez processual, as normas processuais eram
rígidas, eram pouco flexíveis. Era o que estava na norma e não havia espaço de manobra para o mudar.
E isto traduzia-se num excesso de formalismo no processo civil. Era preciso cumprir todos os
formalismos previstos na lei sob pena de se não se fizesse a ação puder fracassar só por questões
formais.
Isto refletia noutra característica que é a chamada regra da prova tarifada, ou seja, para provar
determinados factos era necessário que fossem produzidos meios de prova previstos, exigidos pela lei.
O nosso ordenamento atual tem a regra da prova livre, ou seja, o tribunal aprecia livremente a prova.
Neste período histórico era o oposto, a força probatória era a que estava prevista na lei. Se nos
queríamos de provar um facto em tribunal tínhamos de produzir os meios de prova que a lei exigia.
Uma outra característica deste período é a dispersão da legislação, que não é especifica deste ramo do
direito. As modificações aos compêndios, que não podiam vigorar 100 anos, faziam-se por diplomas
avulso e o que acontecia é que havia uma acumulação de diplomas avulsos que tratavam de matéria de
direito processual que obrigava as pessoas a estar inteirados de um conjunto muito diversificado de
legislação e muitas vezes que eram contraditórios entre si, criando muita incerteza, duvidas sobre a
aplicação da lei processual civil portuguesa.
Alem da dispersão da legislação havia também um excesso de ações especiais. Hoje em dia entre nós
vigora a regra do processo comum, ou seja, há uma única forma processual para tratar de todas ou
quase todas as pretensões que alguém deduza em juízo. Neste período histórico não existia uma forma
de processo comum e, portanto, para cada tipo de pretensão existia uma forma processual especial.
Cada ação tinha as suas próprias regras, a sua própria tramitação. Se não existisse na lei uma forma
processual especifica para a tutela desse direito eu não podia dirigir-me ao tribunal. Não havia uma rede
de tribunais iguais para todos, havia aquilo que se chama os fóruns especiais, ou seja, para certas
categorias de pessoas havia tribunais específicos dependendo da sua classe social e estatuto. Alem disso
a própria estrutura hierárquica dos tribunais não era muito clara, não havia uma hierarquia facilmente
identificável, não havia um tribunal superior único para todo o país. Na região norte o último tribunal de
recurso era a casa da relação no Porto (na cordoaria), mas se fosse no Sul era a casa da suplicação em
Lisboa.
Havia uma outra característica que era que neste período histórico era muito frequente a privatização
da justiça. Portanto, o estado conceder poderes jurisdicionais a privados numa espécie de feudalismo
híbrido. Muito frequentemente, a coroa, o rei concedia a determinados indivíduos o direito de numa
localidade exercerem eles a justiça ou então nomearem alguém para o fazer. Esta privatização da justiça
durou até ao final do séc. XVIII
Finalmente uma última característica deste período histórico é o papel preponderante da coroa como
vértice do sistema judicial. Havia sempre uma via de acesso ao rei por mais não seja por petição da
sentença judiciaria e o rei muitas vezes decidia os recursos não por critérios jurídicos, mas por critérios
de equidade. O rei tinha sempre a última palavra. Não havia a separação dos poderes, portanto, o rei
tanto era governante como era legislador, como exercia o poder jurisdicionario. O rei ainda era quem
escolhia os magistrados do país.
Este período surge com um elemento, uma circunstância da nossa história jurídica, que marca uma
rutura no início do séc. XIX, que é a introdução do constitucionalismo e tudo o que ele trouxe, desde
logo a ideia da separação dos poderes. Com a introdução do constitucionalismo houve a necessidade de
adaptar o direito processual civil e a organização judiciaria às regras constitucionais. Isso foi feito através
de um conjunto de diplomas chamados reformas judiciarias de 1838, depois 4 anos mais tarde reviu a
reforma e chamou-lhe a nova reforma judiciaria e 5 anos a seguir voltou a rever e chamou a novíssima
reforma judiciaria. Portanto, estes diplomas vieram tentar reformar o direito processual e isso não
foram bem- sucedidos, mas reformaram também a organização judiciaria, onde já foram bem-
sucedidos porque a
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organização judiciaria que foi estabelecida em 1832 é sensivelmente a mesma que vigora atualmente.
Isso fez-se através de três grandes medidas:
14/10/2021
Período da codificação
Surge quando é adotado pela primeira vez entre nós um código de processo civil. Uma das inovações
que o liberalismo trouxe foi a importação francesa de códigos do modelo francês, mas isso não ocorreu
logo no processo civil. O liberalismo introduziu logo um código civil, um código administrativo, um
código penal, mas não um código de processo civil, aí o processo civil continuou a reger-se por legislação
avulsa e sem ter um diploma próprio – esta situação veio a inverter-se com a aprovação do primeiro
código de processo civil, o primeiro diploma pensado de forma sistemática e coerente com linha
dogmática própria para o processo civil – código que se caracteriza pelo exagero do domínio do
processo pela partes – o tribunal tinha uma postura praticamente passiva neste código. Havia também
um excessivo formalismo na tramitação processual, uma tramitação pouco adaptada as situações do
caso concreto. Houve a consagração de um processo iminentemente escrito, por contrate com o atual
processo oral e a mediação – o processo era conduzido por escrito. A própria produção de prova
testemunhal podia-se fazer dispersa no tempo, isto é, não havia um só momento em que se concentrava
a produção da prova – a produção da prova podia ser e era muitas das vezes produzida em escrito.
Fazia-se a distinção na lei entre o processo civil e o processo comercial, porque havia um código de
processo civil e um código de processo comercial – no plano substantivo há, ainda hoje em dia uma
diferença muito grande entre aquilo que eram as relações civis e as relações comerciais: quando se
tratava de litígios de natureza comercial aplicava-se o código de processo comercial e os litígios
puramente civis aplicava-se o código de processos civil.
Este código de 1916 veio a ser substituído por um novo código em 1939 por causa do Estado Novo – o
estado novo começa em 1926, mas adota a sua constituição em 1933, com um modelo de sociedade
diferente daquele que vigora antes. O estado novo inverte a tendência liberal criando um estado que é
mais autoritário e que é antiliberal, isto reflete-se em vários diplomas e vária legislação, nomeadamente,
na criação de um novo código de processo civil.
Na adoção do novo código tem um papel determinante o professor José Alberto dos Reis, que ainda
hoje é considerado o pai do processo civil em Portugal. O Novo Código introduz uma rotura radical com
o anterior modelo:
imediação (não havia atas (escritos) do que as testemunhas diziam) introduziu-se o tribunal
coletivo (tribunal composto por 3 pessoas), mas a pratica depois veio dizer que não serviu de
muito porque o único juiz que estava atento era o juiz presidente, ou seja, aquele que tinha de
proferir a sentença
introduziu 2 figuras que ainda hoje existem: saneamento e condensação que servem um
propósito de organizar o processo. O saneamento permitia ao tribunal expulsar do processo
aquilo que não interessava ou encerrar logo o processo se houvesse uma irregularidade
processual que não pudesse ser sanada. A condensação permitia ao tribunal definir aquilo que
interessa para o processo. O Código de 1939 introduziu ainda o princípio da livre apreciação da
prova como princípio regra do direito civil – substituiu a prova tarifada por uma prova livre, ou
seja, o tribunal não está vinculado a normas, aprecia livremente as provas.
O Código de processo civil de 1939 foi substituído pelo Código de processo civil de 1961, que é uma
mera reprodução do código de 1939 com algumas adaptações, mas sem grandes roturas. Este código foi
revisto várias vezes, sendo que a primeira grande revisão foi em 1967 pela entrada em vigor do atual
código civil. Foi novamente objeto de uma grande reforma em 1977 e em 1978, motivado pela
necessidade de adaptar o processo civil a uma nova realidade – a Constituição de 1976. Houve uma nova
reforma em 1985 e seguiu-se a esta a grande reforma do CPC em 1995 e em 1996. Depois houve um
grande conjunto de reformas mais parcelares. Depois temos em 2013 a revogação do CPC anterior e a
aprovação de um novo Código, que aconteceu devido ao facto de as pessoas que estavam a fazer uma
nova grande reforma acabaram por ser levadas pela vaidade e fizeram um código novo, havendo até
reproduções desatualizadas – por isso muitas vezes se discute se na substância estamos
verdadeiramente perante um novo código. Algumas alterações foram:
Além disso, há alguns outros diplomas que temos de ter presentes nesta evolução mais recente como o
Regime de Ação Declarativa Especial e Procedimento de injunção, Lei dos julgados de paz (lei 78/2001).
A evolução mais recente do processo civil tem sido orientada por uma tendência cada vez maior de
flexibilização.
Princípio do non liqued (artigo 8º, nº1 CC): o tribunal não pode dizer que a norma é muito difícil
de aplicar por isso não decide – o tribunal não pode abster-se de julgar uma causa devido á
difícil aplicação das normas ou devido á difícil interpretação do caso.
No processo civil há duas grandes dimensões de julgamento: matéria de direito e matéria de facto – dos
da matéria de facto o tribunal vai aplicar os factos. Se o tribunal está em dúvida em relação à matéria de
direito, o tribunal tem de aplicar as normas de interpretação normativa dos artigos 8º e 9º CC.
Se a dúvida que assiste ao tribunal é quanto á matéria de facto aplica-se o artigo 414º CPC – na dúvida
resolve-se contra a parte a quem o facto aproveitaria.
Uma outra norma importante nesta questão está no artigo 8º, nº3 CC – o tribunal, ao interpretar
normas jurídicas deve guiar-se pelo objetivo de aplicar normas jurídicas ao direito. Este princípio está
consagrado como uma orientação, pois não há entre nós uma obrigação de os tribunais seguirem uma
interpretação dade por outros tribunais mesmo quando seja de um tribunal superior, a única vinculação
do tribunal é no âmbito de um recurso, mas só e apenas no processo que foi alvo de recurso –
precedente judiciário do regime stare decisis, que não existe entre nós.
O instituto dos assentos desapareceu porque foram julgados inconstitucionais e foram substituídos
pelos acórdãos de uniformização de jurisprudência tirados pelo supremo tribunal de justiça.
Mesmo os
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acórdãos de uniformização de jurisprudência não são obrigatórios, pois os juízes dos tribunais inferiores
podem fazer outra interpretação diferente daquela que foi fixada.
Na interpretação do processo civil coloca-se em causa a aplicação do princípio pro actione (artigo 7º do
CPTA) – em caso de dúvida na interpretação de uma norma processual, deve-se interpretar essa norma
processual com o sentido que favoreça uma decisão de mérito, por isso deve-se evitar interpretar as
normas processuais com um sentido formalista que impeça o tribunal de dirimir o litígio. Na dúvida,
perante uma interpretação que tempo resultado não se dirimir a causa, deve prevalecer sempre a
interpretação que conduza a uma decisão de mérito. A doutrina tem vindo a considerar que esta se trata
de uma norma que tem valor de princípio de direito processual.
Primeiro aplicam-se as normas de sucessão de leis que estão no artigo 12º CC:
1. Aplicação de normas de direito transitório (ex.: artigo 5º, 6º e 7º da lei que aprovou o CPC)
2. Regras do artigo 12º CC (a lei nova aplica-se aos processos pendentes na data da sua entrada em
vigor) e a regra do artigo 297ºCC (prevê a situação em que a lei nova estende um prazo -nº2, e a
situação em que a lei nova encurta um prazo - nº1).
3. Princípio do tempus actum regit (artigo 136º, nº1 CPC) – a forma que o ato deve obedecer é sempre
regulada pela lei em vigor na prática do ato, sendo irrelevante a lei futura.
4. Princípio da estabilidade da forma do processo (artigo 136º, nº2 CPC) – a forma do processo é a
forma da ação. A forma de processo que se aplica a uma determinada causa regula-se pela lei
processual em vigor na data em que esse processo foi instaurado.
5. Princípio prepetuatio jurisdictiones (artigo 38º da Lei de Organização do sistema judiciário - LOSJ). É
a lei que está vigente no momento da propositura da ação que determina o tribunal competente
para o julgar, sendo irrelevantes as modificações de direito. Há, porém, 2 exceções, que estão
previstos na parte final do nº2 do artigo 38º da LOSJ. Se a lei nova vier a suprimir um tribunal, então
a competência tem de ser regulada pela lei nova e quando o tribunal que não era competente no
momento em que a causa lhe foi proposta passar a ser competente para o conhecimento da causa –
é possível que uma ação seja desencadeada num tribunal que não tem competência para conhecer
da causa.
O primeiro requisito da admissibilidade de recurso é o valor das Alçadas - Artigo 44º, nº3 LOSJ – as
alçadas são um valor que está fixado na lei que tem que ver com um dos critérios para a admissibilidade
dos recursos. Estabelece uma bitola abaixo da qual a ação não é admitida recurso (artigo 44º, nº1 LOSJ).
Ainda que o valor das alçadas seja alterado no decorrer do processo, a admissibilidade do recurso das
ações rege-se pela lei que estava em vigor no momento da entrada em vigor do processo. (ex.: artigo
629º, nº1 CPC – só se pode interpor recurso de uma decisão se o valor do processo exceder o valor da
alçada do tribunal em que se quer pôr o processo – todas ações tem um valor certo em euros
independentemente daquilo que se está a discutir no processo).
Distinção entre a Lex fori (lei do tribunal) e a lei da causa (normas que temos de aplicar para dirimir o
litígio). A lei da causa pode aplicar ao litígio uma lei estrangeira, já a lex fori é a lei que regula o processo
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da causa e, essa é sempre a lei do Estado do tribunal. A lei processual aplicada é a lei do estado do
tribunal do processo da causa. Esta é a regra, mas há exceções:
Há muito tempo os direitos fundamentais tinham a ver com a relevância das relações jurídicas e não
com questões processuais, mas hoje já não é assim, porque isso é reconhecido, desde logo pela nossa
Constituição (artigo 20º, nº 1 e 4, artigo 6º Convenção Europeia dos Direitos Humanos, e o artigo 47º da
CDFUE).
Artigo 20º CRP, nº1 e 4- temos consagrados o direito a uma tutela jurisdicional efetiva, direito
fundamental a um processo equitativo/justo, direito fundamental a um processo publico
(resulta do artigo 6º CDH), direito fundamental a um tribunal independente e imparcial
(implícito no direito fundamental a um processo equitativo, esta expresso no artigo 6º CDH e
parcialmente refletido no artigo 203º CRP), direito fundamental a uma decisão judicial em
prazo razoável, direito fundamental ao patrocínio forense, ou seja, a ser assistido por advogado
(implícito no direito fundamental a processo equitativo e está reconhecido pelo artigo 208º
CRP) e o direito fundamental á assistência judiciária.
Os dois grandes grupos são concretizados no direito ordinários pelos princípios gerais do processo civil:
Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva: princípio da acessão á justiça, não denegação
da justiça por motivos económicos e princípio do dispositivo
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Podemos ainda invocar princípios de direito processual civil que não concretizam normas
constitucionais, são princípios de direito originário que, porque não são direito constitucionais o
legislador pode revogar (ex.: princípio da livre apreciação da prova, artigo 9º- alínea a).
21/10/2021
Este princípio concretiza diretamente, no plano do direito ordinário, a ideia do direito a uma tutela
jurisdicional efetiva (art.º 20, n.º 1 da Constituição). Todos podem tutelar jurisdicionalmente as suas
posições jurídicas subjetivas – princípio do acesso à justiça + direito de ação (art.º 1 do Código de
processo penal + art.º 20 da Constituição).
O direito de ação é o direito de aceder aos tribunais e compreende também a pretensão da obtenção de
uma decisão de mérito, ou seja, o direito de aceder aos tribunais para obter a tutela dos seus direitos
subjetivos e obter, em relação a esse litígio, uma decisão que dirime o litígio. Este direito de ação não
protege, nem compreende a expectativa de se obter um ganho na ação que se propõe. Por outras
palavras, sendo a todos garantido o acesso aos tribunais, qualquer cidadão pode utilizar o meio que, no
campo do processo civil, para tanto é disponibilizado: o de, em tribunal, propor ações para fazer valer os
seus direitos, ou os seus interesses que, embora não organizados em direito subjetivo, sejam tutelados
pelo direito material.
No plano do direito ordinário, o direito de ação concretiza o direito fundamental a uma tutela
jurisdicional efetiva (art.º 2, n.º 1 do Código de processo civil). É possível exercer o direito de ação para a
tutela dos interesses difusos ou interesses coletivos, que resulta do art.º 52, nº3 da Constituição –
direito de ação popular (exemplo: defesa do direito ao ambiente; direito coletivo à saúde, etc.). Este
direito encontra-se plasmado na Lei nº 83/95, que regula o exercício do direito de ação popular (dirigir-
se aos tribunais para tutela de interesses e posições jurídicas coletivas ou difusas). Ao abrigo do art.º 1,
n.º 1 e n.º 2 da Lei n.º 83/95, para efeitos do direito de ação popular, não é necessário que a pessoa
esteja a tutelar um interesse que exista na sua esfera jurídica, isto é, que tenha algo a ganhar na sua
esfera jurídica – dimensão especifica do direito de ação popular (art.º 52, n.º 3 da Constituição).
Quer o art.º 20, n.º 1 da Constituição, quer o art.º 2 da Código processo penal, referem-se ao direito de
ação sempre na perspetiva da titularidade ativa deste mesmo direito. No entanto, o direito de ação
também tem o reverso da medalha, que é o direito de defesa. Por um lado, compreende-se que está
expresso no Código que a todos é assegurado o direito de ação, mas também não se pode esquecer ou
ignorar que as ações se propõem contra determinadas pessoas. Como reverso da medalha, o direito de
ação compreende o direito de defesa, que é o direito daquele contra quem a ação é proposta das
pretensões que são dirigidas contra si. Por outras palavras, o direito de defesa do demandado é o
contraposto do direito de ação do demandante. O direito de defesa, ao contrário do direito de ação, não
está expressamente consagrado na Constituição, mas é fundamental para a praeter constitutionem.
Apesar de não estar expressamente enquanto tal, este direito de defesa também tem natureza jus
fundamental. A tutela jurisdicional efetiva não pode ser só entendida na sua dimensão ativa (direito de
ação), mas também na perspetiva passiva (direito de defesa – contra quem a ação foi proposta).
O direito de defesa é assegurado através da necessidade da pessoa contra quem se contrapõe a ação
ser chamado ao processo (a tribunal) para exercer no processo o seu direito de defesa. Esta necessidade
de chamamento está, desde logo, expressa no art.º 3 do Código de processo penal, especialmente no
art.º 3
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n.º 1 da Código de processo penal – necessidade de chamar o demandado (aquele contra quem a ação
foi proposta) para vir ao processo oferecer os seus fundamentos. Este chamamento do demandado faz-
se através de um ato processual típico e nominado, designado “citação” (art.º 219, n.º 1 do Código de
processo civil). Através da citação, cumpre-se uma dupla função:
A citação assegura esta dimensão do exercício do direito à defesa. A lei prefere que este chamamento
seja feito pessoalmente, ou seja, realizado na própria pessoa do demandado (réu), rejeitando soluções
que não assegurem o conhecimento efetivo pelo demandado da citação, isto é, da tal informação que
foi contraposta contra ele uma ação, sendo que há um determinado prazo para proceder a essa mesma
defesa.
O direito à defesa não se confunde com o princípio do contraditório. O direito à defesa corresponde à
existência de uma possibilidade processual de o demandado poder apresentar a sua versão dos factos e
os seus argumentos jurídicos ao tribunal. O princípio do contraditório corresponde à possibilidade de
apresentar esses argumentos, antes do tribunal tomar uma decisão. Embora a regra seja que a defesa
deve ser exercida no momento anterior à decisão do tribunal, o legislador aceita, excecionalmente, que
a defesa possa ocorrer sem contraditório, ou seja, depois de a decisão ter sido tomada – exemplo:
quando a efetividade da decisão não se compadeça com a decisão do contraditório (o tribunal pode
tomar a decisão sem ouvir anteriormente o demandado). Excecionalmente, o legislador consente que o
direito de defesa seja exercido depois de a decisão ser tomada, tomando as decisões sem ouvir a parte
demandada. Depois de tomada a decisão, permite o direito de defesa e, depois, revê a decisão tomada –
exemplo: arresto (art.º 391 do Código de processo civil). No fundo, em casos excecionais, o direito à
defesa pode ser posterior à decisão.
No entanto, o direito à defesa não é um direito imprescindível, na medida em que não coloca o processo
na posição de ficar à espera de que o demandado se venha defender. Se assim fosse, o demandado
conseguia parar um processo que não lhe interessasse ver decidido. O direito à defesa corresponde a
assegurar uma oportunidade processual efetiva para o demandado vir apresentar a sua defesa no
processo. Esta oportunidade processual corresponde à fixação de um prazo razoável, dentro do qual o
demandado pode apresentar a sua defesa. Caso o demandado decida não apresentar a sua defesa, o
processo prossegue, porque não é obrigatória a apresentação da defesa, sendo que se trata apenas de
uma oportunidade processual. Ou seja, se o demandado não exercer a sua defesa no processo, este não
para. No entanto, daí podem resultar consequências processuais para o próprio demandado. Os
diferentes ordenamentos jurídicos conferem várias consequências para estas situações:
Sistema da ficta confessio: Se o demandado não se defender, considera-se que ele aceitou a
pretensão que lhe atribuíram. Ou seja, a ausência do exercício do direito de defesa do
demandado corresponde à aceitação deste da pretensão por parte do demandante.
Entre nós, adotamos o modelo previsto no art.º 567, nº 1 do CPC, que corresponde ao “efeito
cominatório semipleno”. Neste sistema, a regra é a seguinte: o réu citado não contestou, logo
consideram-se confessados os factos que o autor invocou, quando propôs a ação. Trata-se
apenas dos factos, já não da aplicação do direito a esses factos, na medida em que isso
continua a ser livremente apreciado pelo tribunal. Ou seja, os factos que o autor alegou
consideram-se provados. A aplicação do direito aos factos não é considerada precedente.
Perante os factos considerados provados, o tribunal pode extrair uma consequência diferente
daquela que o autor
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pretende. Na aplicação da matéria de direito, essa não é afetada pelo não exercício do direito
de defesa. Depois de citado e informado, quando o réu não exerce o seu direito de defesa, isso
significa que o réu está em revelia, ou seja, o réu é revel, na medida em que não apresentou a
sua defesa no momento em que tinha oportunidade processual para o fazer. Regra geral,
quando há revelia do réu, o nosso sistema manda responder através do efeito cominatório
semipleno. A consequência da revelia é o efeito cominatório semipleno. Regra geral,
consideram-se provados os factos que o autor alegou na petição inicial, mas já não os
argumentos jurídicos, que serão livremente apreciados pelo tribunal.
Art.º 2 da RADEPI – efeito cominatório pleno – “Se o réu, citado pessoalmente, não contestar, o juiz,
com valor de decisão condenatória, limitar-se-á a conferir força executiva à petição, a não ser que
ocorram, de forma evidente, exceções dilatórias ou que o pedido seja manifestamente improcedente”.
Prevê-se, aqui, um sistema de efeito cominatório pleno, que corresponde à ideia da ficta contestio. O
réu é revel, não se defendeu, logo o tribunal limita-se a condenar naquilo que o autor pediu. Mesmo
nestas situações, o tribunal tem, ainda, um controlo sobre a pretensão do autor, ou seja, o tribunal pode
recusar condenar o réu na pretensão que o autor requereu.
Há um conjunto de situações em que adotamos um regime da ficto contestatio e não existe um efeito
cominatório. Exceções aos efeitos da revelia (art.º 568 do Código do processo civil):
a. “Quando, havendo vários réus, algum deles contestar, relativamente aos factos que o
contestante impugnar;
b. Quando o réu ou algum dos réus for incapaz, situando-se a causa no âmbito da incapacidade,
ou houver sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta;
c. Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela ação se
pretende obter;
d. Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito.”
Por exemplo, se o réu foi citado através de um edital fixado num site da Internet, é pouco provável que
o réu vá todos os dias consultá-lo. Muitas vezes, o réu passa despercebido. → O autor não fica
dispensado de provar os factos que alegou, apesar de o réu não ter contestado.
1. Apoio judiciário: Corresponde à dispensa do pagamento das taxas de justiça e das demais
custas processuais por parte das pessoas que tem carências económicas. Mesmo que as
pessoas carenciadas percam a ação, não pagam nada. Pode, ainda, permitir o pagamento
faseado para o mesmo efeito.
2. Assistência judiciária: Designação de um patrono forense para as partes que não podem
suportar os custos da contratação de um advogado. Na maior parte dos processos, é
obrigatório constituir um advogado. Nessa circunstância, este instrumento legislativo, através
da assistência
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judiciária, permite que seja nomeado um advogado à parte que carece de meios económicos e
que os honorários do mesmo sejam pagos pela Segurança Social. A escolha do advogado para
proceder à satisfação da assistência judiciária cabe à Ordem.
O nosso sistema judiciário público não é gratuito, depende do pagamento de encargos tributários, ou
seja, está sujeito a custas – art.º 529, n.º 1 do Código processo civil.
1. Taxa de justiça (art.º 530 do Código do processo civil). A taxa de justiça é um tributo devido
pelo impulso processual. Tem de ser paga pelo demandante (lado ativo) quando propõe a ação
e, por outro lado, paga pelo demandado (lado passivo) quando intervém, normalmente
apresentado a sua defesa.
Pode, ainda, haver lugar a um pagamento de uma taxa de justiça adicional, no final do processo, ou seja,
depois de a decisão final ter sido proferida e transitada em julgado.
3. Custas de parte. Têm a ver com o direito que as partes têm a se reembolsadas das despesas
que tiverem com o processo, incluindo a taxa de justiça e até os honorários que pagaram aos
seus próprios advogados. No fundo, são contas que as partes acertam diretamente entre si.
A responsabilidade pelas custas processuais (art.º 527 do Código do processo civil) cabe à parte que
tiver dado causa às custas, ou seja, a parte vencida na ação é responsável pelo pagamento das custas
processuais. O vencimento pode não ser total, na medida em que, se ambas as partes tiverem tido
vencimento na ação (vencimento parcial), as custas serão distribuídas de forma proporcional.
O atual regime das custas processuais prevê que exista uma taxa de justiça, ou seja, o autor e o réu
pagam uma taxa de justiça. O regulamento das custas processuais prevê em anexo uma tabela das taxas
de justiça (tabela 1 do art.º 40 do Regulamento das custas processuais) que fixa o montante da taxa de
justiça variável de acordo com o valor da ação. “UC” – unidade de conta processual. Atualmente, uma
UC corresponde a 102 euros. Por exemplo, se formos propor uma ação cujo valor da causa é 30.000,01
euros, o autor tem de pagar 612 euros para propor a ação (ver tabela). A taxa de justiça tem de ser paga
pelas partes, a menos que haja apoio judiciário, sob pena (art.º 145 do Código processual civil) da
petição inicial no autor ou a contestação do réu não serem admitidas pelo tribunal.
Art.º 531 do Código de processo civil – taxa sancionatória excecional. É uma figura que tem natureza
sancionatória. A lei permite que se possa aplicar uma taxa sancionatória, além das custas processuais
devidas, com uma natureza penalizadora de uma conduta negligente da parte. Qual é o montante da
taxa sancionatória excecional? Art.º 10 do Regulamento das Custas Processuais. Fixa a taxa no mínimo
de 2 UC e máximo de 15 UC.
Qual é a natureza jurídico-tributária destas custas judiciais, em especial da taxa de justiça? Na doutrina,
discutiu-se bastante se a taxa de justiça era um imposto ou uma taxa. O montante que as partes são
chamadas a pagar a título de taxa de justiça não tem nenhuma relação com a contraprestação que
recebem. A taxa de justiça foi considerada uma verdadeira taxa em sentido rigoroso. O critério atendido,
para efeito de custas, é um conceito processual já referido anteriormente: valor da ação ou valor da
causa.
Art.º 11 do Regulamento de custas processuais– o valor da causa serve de base tributável para
determinar a taxa de justiça. O valor da taxa de justiça tem como base tributável o valor da causa, mas
este conceito
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“valor da causa” não funciona só para fins tributários, pode ser usado para outras finalidades: o valor da
causa serve para saber se são admissíveis certos processos especiais. Art.º 629, n.º 1 do Código de
processo civil – valor da causa também é tido em conta para aferir a admissibilidade do recurso
ordinário. Toda a causa tem de ter um valor atribuído certo expresso em moeda legal - art.º 296 do
Código de processo civil. Este valor exprime a utilidade económica dessa causa. O valor de ação tem de
ser indicado pelas partes art.º 252, n.º 1, alínea f do Código de processo civil – o autor, na petição inicial,
indica o valor que atribui à causa e o réu tem a oportunidade, quando contesta, de se pronunciar sobre
o valor atribuído pelo autor, pode colocá-lo em causa – art.º 305, n.º 1 do Código de processo civil. O
autor tem de indicar o valor da causa, o réu tem a oportunidade de contestar sobre o mesmo valor, mas
quem fixa o valor da causa num momento intermédio do processo (despacho saneador) é o juiz – art.º
306, n.º 1 do Código de processo civil.
O critério geral para fixar o valor da causa está no art.º 296, n.º 1 do Código de processo civil – o valor da
causa exprime o valor económico do pedido. Tem de revelar a utilidade económica que o que é pedido
tem para as partes. O art.º 297, n.º 1 do Código de processo civil acrescenta que: o autor quer condenar
o réu a pagar 50.000 euros, esse é o valor da causa – o correspondente ao pedido. Quando não se pede
dinheiro, mas sim outro tipo de prestações, o valor da causa é a quantia em dinheiro equivalente esse
benefício.
O legislador resolveu particularizar este critério geral em determinadas situações especiais.
Ações de despejo (art.º 298, n.º 1 do Código de processo civil). São ações em que se pretende a
cessação do contrato de arrendamento, seja por caducidade, anulação, declaração de nulidade,
etc., e, por outro lado, a condenação do locatário a restituir o objeto locado ao senhorio. A
ação de despejo tem esta dupla dimensão. Pode, ainda, pedir-se o pagamento de
indeminização por danos causados ao senhorio. Para este tipo de pretensões, o legislador
estabelece uma regra própria para a determinação do valor da causa: art.º 298, n.º 1 do Código
de processo civil.
Nas ações de causa, o valor da causa apura-se pela renda de dois anos e meio acrescida: do valor das
indemnizações pedidas ou, se superior, o valor das rendas em divida. Escolhemos o que for mais
elevado.
Contratos de locação financeira (art.º 298, n.º 2 do Código de processo civil). O legislador
prossegue com uma previsão relativa aos contratos de locação financeira (contratos de lising),
que são contratos em que o adquirente de um bem para um intermediário financeiro que
adquira o bem e esse bem fica locado ao utilizador do bem que paga uma renda mensal à
instituição financeira e, no final, tem a possibilidade de adquirir a propriedade desse bem. O
valor da causa é determinado pelo equivalente da soma das prestações ainda em divida até ao
fim e acrescido os valores do juro moratórios vencidos
Ações de alimentos (art.º 298, n.º 3 do Código de processo civil) – pretensões que sejam
deduzidas de obrigações alimentares (mais conhecida por “pensão de alimentos”). O valor da
causa é o quíntuplo da anuidade correspondente ao pedido.
Ações especiais de prestação de contas (art.º 298, n.º 4 do Código de processo civil)
Ações relativas a prestações periódicas (art.º 300, n.º 2 do código de processo civil) – o valor
das prestações relativas a 1 ano multiplicado por 20 ou pelo números de anos que a decisão
abranger se for inferior. No entanto, o legislador acrescenta uma parte final – art.º 44, n.º 1 da
LOSJ.
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Simulação – quando a ação tiver por objeto a anulação de um contrato fundado na simulação
do preço (existem dois valores em discussão), a lei diz que se atende ao mais elevado dos dois
valores em discussão.
Ações reais (art.º 302 do Código de processo civil). Pretende-se obter o reconhecido da
propriedade ou de um direito real sobre uma coisa. O valor da causa é determinado pelo valor
da coisa. O valor da coisa é o valor patrimonial tributário (pelo qual ele está inscrito na matriz
das finanças) ou, então, se for uma coisa móvel não sujeita a registo, o juiz irá apreciar qual é o
valor daquela coisa nos termos de critérios razoáveis.
Processos de inventário (partilhas litigiosas – art.º 302, n.º 3 do Código de processo civil) – “(…)
atende-se à soma do valor dos bens a partilhar; quando não seja determinado o valor dos bens,
atende-se ao valor constante da relação apresentada no serviço de finanças.”
Ações de estado e ações relativas a interesses materiais ou a interesses difusos (art.º 303 do
Código de processo civil). O legislador manda aplicar uma regra: “As ações sobre o estado das
pessoas ou sobre interesses imateriais consideram-se sempre de valor equivalente à alçada da
Relação e mais 0,01 euros.”
Ações populares (art.º 303, n.º 3) – o valor da ação corresponde ao do dano invocado com o
limite máximo do dobro da alçada da relação, de forma a garantir que as taxas de justiça sejam
acessíveis; no fundo, é por uma questão de segurança e até um incentivo para pôr este tipo de
ações.
O valor da ação em caso de cumulação de pedidos (art.º 297, n.º 2 do Código de processo
civil). É possível cumular pedidos numa mesma ação. Nesse caso, ao abrigo do art.º 297, n.º 2
do Código de processo civil, se eu cumular vários pedidos na mesma cessão, o valor é a quantia
corresponde à soma dos valores de todos eles.
O caso particular do pedido de juros e interesses vincendos (art.º 297, n.º 2, parte final do
Código de processo civil). “(…) mas quando, como acessório do pedido principal, se pedirem
juros, rendas e rendimentos já vencidos e os que se venceram durante a pendência da causa,
na fixação do valor atende-se somente aos interesses já vencidos.”
O valor da causa no caso de pedidos alternativos e de pedidos subsidiários (art.º 297, n.º 3 do
Código de processo civil): “No caso de pedidos alternativos, atende-se unicamente ao pedido
de maior valor e, no caso de pedidos subsidiários, ao pedido formulando em primeiro lugar.”
Regra geral, nos termos do art.º 299, n.º 1 do Código de processo civil, “na determinação do valor da
causa, deve atender-se ao momento em que a ação é proposta, exceto quando haja reconvenção ou
intervenção principal”.
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Momento da fixação do valor da causa (art.º 306, n.º 2 do Código de processo civil): “O valor
da causa é fixado no despacho saneador, salvo nos processos a que se refere o n.º 4 do art.º
299 do Código de processo civil e naqueles em que não haja lugar a despacho saneador, sendo
então fixado na sentença”.
Consequências da fixação do valor em causa – quando se fixa o valor da causa, pode fixar-se
um valor que seja diferente daquele que foi estipulado pelas partes, especialmente pelo autor.
Em relação à competência do tribunal (art.º 310, n.º 1 + art.º 93, n.º 2 do Código de processo
civil) – exceção (art.º 310, n.º 3 do Código de processo civil).
28/10/2021
Normalmente quando as partes se dirigem a tribunal dirigem-se a invocar factos que estão sujeitos a
tributação (vendas e prestações de serviços, vendas de imoveis, etc.) e muitas vezes se procede que as
partes não cumpriram essas obrigações tributarias. Durante muito tempo o nosso código de processo
civil dizia que não se podia invocar em tribunal factos que tivessem sujeitos a tributação sem que fosse
demostrada o cumprimento das normas fiscais. Na reforma do código de 95/96 foi alterado o paradigma
e foi entendido então pelo legislador que os direitos das partes não podiam ser saciados por causa do
incumprimento de normas fiscais. Foi então introduzido uma norma a este respeito. No regime anterior
era obrigatória a demostração de terem sido cumpridas as obrigações fiscais e, portanto, se não
tivessem cumpridas suspendia-se a instância até que as obrigações em falta fossem cumpridas, o
processo não andava. Na reforma mudou-se o paradigma e até agora foi mantido um regime da
irrelevância do incumprimento das obrigações tributarias que se encontra no art.º 274 do código de
processo civil. Este prevê então dois tipos de situações:
Se essa obrigação não tiver cumprida, não impede o tribunal de tomar uma decisão, ou seja, de
prosseguir o processo cível. Apresenta-se uma exceção: às vezes, no próprio processo, as partes podem
transmitir um bens e certas transmissões de bens estão sujeitas a imposto (imóveis que devem pagar o
IMT), isto é, como a transmissão é feita no próprio processo, esta não pode prosseguir sem ser pago a
obrigação fiscal.
administração fiscal, preferencialmente por via eletrónica, sem que o andamento regular do processo
seja suspenso”.
Quando se junta como meio de prova um documento que esteja sujeito a imposto e esse imposto não
tenha disso pago na versão do código anterior a 95/96 esse documento não podia ser utilizado como
prova. Por exemplo: Na altura os recibos de arrendamento estavam sujeitos a estampilha fiscal, mas se
não tinha o imposto de selo pago (estampilha fiscal) nesse período o tribunal não tinha em conta aquele
documento, era como se ele não existisse enquanto este não fosse pago. Neste código o documento é
admitido como meio de prova, apesar de não ter sido cumprido a obrigação fiscal e o tribunal participa à
autoridade tributaria essa infração para que esta retire as consequências que o caso justifique
nomeadamente em matéria de coimas.
Se o Tribunal verificar que determinada parte não cumpriu com determinada obrigação, segundo o
Artigo 274º/3 do CPC, o processo prossegue, não há relevância das obrigações, mas a administração
participa os incumprimentos que esta detetou. A mesma lógica prevalece para os documentos
utilizados como meio de prova, este que esteja sujeito a imposto e este não tenha sido pago, esse
documento não poderia ser utilizado como prova, com base no código anterior à reforma de 1995;
contudo, após a reforma, segundo o Artigo 274º/2 do CPC, o documento é admitido como meio de
prova, apesar de não ter sido cumprido o dever fiscal e o tribunal participa à autoridade tributária, para
que depois esta retire as consequências do caso concreto.
Princípio do dispositivo
O princípio do dispositivo está intimamente ligado à ideia da disponibilidade e esses litígios que são
discutidos em processo cível de se tratar de direitos disponíveis e essa ideia de disponibilidade projeta-
se também na própria ideia de disponibilidade sobre o processo civil como um todo porque o processo
civil tem por objeto na esmagadora maioria dos casos tem por objeto direitos disponíveis, acerca dos
quais as partes possam dispor, ou seja, as partes podem elas mesmo chegar a entender-se sobre o litígio
em que se encontram. Esta ideia de disponibilidade dos direitos que é inerente ao Direito Privado, mas
que não é absoluta, projeta-se na ideia da disponibilidade do processo. Este princípio revela esta
projeção de que as partes têm disponibilidade do processo civil. Este divide-se em:
A Instância tem por sujeitos: as partes (autor e réu) ou partes acessórias e o Tribunal, não sendo este
último parte do litígio pois não tem interesse no desfecho da causa. A relação jurídico-processual não se
esgota neste elemento subjetivo, visto que esta caracteriza-se também pelo seu Objeto ou Elemento
Objetivo, que se divide em Pedido (concretas pretensões que são deduzidas perante o Tribunal,
podendo existir uma acumulação dos pedidos) e Causa de Pedido (é a fundamentação fáctico jurídica
do(s) pedido(s), ou seja, temos de avançar com um conjunto de factos que se provados estabelecem o
nosso direito a obter a pretensão que deduzimos – por exemplo, o caso de uma ação decorrente de
responsabilidade civil extracontratual, sendo necessária a ilicitude, culpa, dano e nexo de causalidade
dos factos em relação ao autor). As partes, numa relação de igualdade e paridade, têm interesse na
causa e um terceiro imparcial sem interesse na causa, que se encontra revestido de um poder de
autoridade pública, tendo um poder de supraordenação sobre as partes. Se em Tribunal não se
apresentar ambos os elementos, a relação jurídico-processual termina no momento do pedido. Ou seja,
resulta-se que a relação jurídico-processual está na disponibilidade das partes, ou seja, estas têm
domínio sobre a instância, apesar de não absoluto, visto que as partes tomam iniciativa de proceder a
um tribunal, na sua subsistência e na cessação ou extinção da instância. As partes têm iniciativa quanto
à constituição da instância, visto que o demandante propõe no tribunal uma ação contra o demandado
ou réu, ou seja, a configuração da instância não é uma obra do acaso, mas sim o resultado de uma
opção [Artigo 259º/1 do CPC]. Ou seja, esta inicia-se com a propositura da ação é recebida pelo tribunal.
Porém, de seguida, o réu não tem nenhuma intervenção e nem sequer consegue saber que foi
proposta contra si uma ação,
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devendo assim ocorrer a Citação do Réu [Artigo 219º/1 e 259º/2 do CPC]. Ou seja, só temos a perfeição
da instância quando o réu é citado ou notificado pela ação que foi proposta contra si. Em relação à
subsistência da instância, pois as partes podem, pelo mero efeito da sua vontade, cessar e suspender
(temporariamente, visto que não podem exceder os três meses) a instância [Artigo 272º/4 do CPC] por
acordo, como é certo. A instância também se pode suspender por causas alheias à vontade das partes, o
que estudaremos mais à frente, como por exemplo resultando de uma decisão do tribunal. Quanto á
extinção da instância, pode resultar da vontade das partes, colocando termo a relação jurídica-
processual, podendo ocorrer através de: os negócios processuais, podem dizer respeito ao próprio
objeto do litígio ou podem ser alheios ao mesmo, que é a desistência da instância [Artigo 285º/2 do
CPC], só apresentando consequências em relação ao litígio que as partes discutiam, sendo o próprio
autor a desistir. Esta desistência é totalmente livre, sem prestar justificação, até ao momento em que o
réu apresente a contestação ou da vontade do autor e do réu, caso seja após o oferecimento da
contestação, necessitando-se do consentimento do réu. Ou seja, ou provém unilateralmente ou
bilateralmente [Artigo 286º/1 do CPC], sendo que esta só ocorre perante o processo; os Negócios de
Auto composição do Litígio, sendo que as partes podem auto compor o litígio, estes que podem ser
bilaterais(tendo natureza contratual, que é o Contrato de Transação – é o contrato regulado no Artigo
1248º do CC, a partir do qual as partes põem termo a um litígio, mediante recíprocas concessões, sendo
admissível por expresso reconhecimento do CPC, presente no Artigo 283º/2) ou unilaterais(como é o
caso da desistência do pedido – provém do Autor, estando previsto no Artigo 285º/1 e 283º/1 do CPC,
ou seja, o autor pode, a qualquer momento, desistir da pretensão, mas esta não é um mero negócio
processual, mas sim quanto à própria relação, ou seja, é desistir do próprio direito, não se podendo,
mais tarde, interpor uma ação ao mesmo réu pelos mesmos factos - ou a confissão do pedido – provém
do Réu, que é o negócio jurídico proveniente do réu, sendo este a reconhecer a pretensão que foi
interposta contra si - , resultando da vontade de uma das partes). Estes negócios têm limites, pois só
podem dispor se estivermos, segundo o Artigo 289º/1 do CPC, perante direitos disponíveis. Existe uma
exceção no Artigo 289º/2 do CPC, sem consentimento do outro cônjuge, se se verificar o princípio de
Favorecer o Casamento, ou seja, o cônjuge decidiu restabelecer a sua vida matrimonial, isto é, se estes
se reconciliarem, concede-se a desistência do pedido. Esta disponibilidade quanto à extinção manifesta-
se ainda sobre uma figura chamada a Submissão de Litígio ao Tribunal Arbitral, as partes podem
celebrar um compromisso arbitral, extinguindo um processo no Tribunal Estadual [Artigo 280º/1 do
CPC], levando as partes a discutir o processo em tribunal arbitral. Esta revela-se quanto à conformação
dos elementos da instância (objetivo e subjetivo) e é o autor, ao propor a instância, que seleciona o
sujeito e o objeto da instância e quando ocorre a citação do réu, permite-se a estabilização da instância
[Artigo 260º/1 do CPC], não podendo mais ser modificada, não sendo esta absoluta. Estas modificações
podem ser subjetivas (quando se modificam os sujeitos da instância, podendo ocorrer perante o
Tribunal – este pode ser incompetente para receber e apreciar uma ação – ou às partes – esta ocorre
pelo aditamento de novas partes, ou seja, intervenção de terceiros, sendo que um terceiro soma-se ao
processo, ou substituindo a parte num determinado processo, quando esta falece em pendência do
processo - Habilitação) e objetivas (quando se modifica o objeto da instância, podendo resultar do
acordo das partes – bilateral –, ou de uma só vontade – unilateral –, ou ainda pode resultar da
Reconvenção, isto é, é o instrumento processual que permite ao réu deduzir um pedido contra o autor,
ou seja, o Pedido Reconvencional, que assenta numa causa de pedir reconvencional, que apresenta
determinadas exceções. Ou seja, transforma o processo numa via de dois sentidos, ou seja, aquele
objeto que consistia numa causa de pedir, passando a incluir também o pedido reconvencional. O Réu é
o Réu Reconvinte e o Autor é o Reconvindo).
Disponibilidade sobre os Factos: os factos que são trazidos ao processo para o tribunal
conhecer, ou seja, cabe apenas às partes os factos essenciais que fazem a parte da causa de
pedir ou da causa de pedir reconvencional e aqueles que integram as exceções. São as partes
que devem alegar os factos essenciais e se estes não tiverem sido alegados, o tribunal não
pode conhecer sobre esses factos [Artigo 5º/1 do CPC].
Por exemplo, para se obter uma indemnização por responsabilidade civil extracontratual deve-se alegar
factos que preencham os requisitos de direito substantivo, pois se não se fizer, o tribunal não pode
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conhecer de factos essenciais que não tenham sido alegados pelas partes. Há exceções a esta regra,
previstas no Artigo 5º/2 do CPC: desde logo, os factos não essenciais, não carecem de ser alegados pelas
partes, podendo o tribunal conhecer os mesmos(como é o caso dos Factos Notórios[Artigo 412º/1 do
CPC] – são aqueles que são conhecidos pela generalidade de pessoas; o caso dos Factos de
Conhecimento Funcional[Artigo 412º/2 do CPC] – são aqueles factos que o tribunal conheceu no
exercício das suas funções, como é o caso do conhecimento da insolvência de uma determinada
sociedade, visto que tratou desse assunto em processo anterior; o caso dos Factos de Simulação ou
Fraude Processual[Artigo 612º do CPC] – em que o autor e o réu simularam o litígio para obter um
objetivo ilegal, ou seja, as partes não vão divulgar que estão conluiadas para obter um determinado fim,
como também esta norma impõe ao tribunal que não permita que o objetivo das partes seja
concretizado; o caso dos Factos Instrumentais[Artigo 5º/2 alínea a do CPC] – são factos que conduzem
e revelam outros factos, ou seja, servem de instrumento, desde que resulta da produção de prova, por
exemplo alega-se que um homem esteve totalmente depressivo antes do acidente da bicicleta, sendo
que uma testemunha diz que o homem não aparecia no escritório da empresa; o caso dos Factos
Complementares dos Factos Essenciais[Artigo 5º/2 alínea b do CPC] – são factos que complementam
os factos essenciais, devendo resultar da produção da prova, por exemplo alega-se que se gastou
imenso dinheiro em medicamentos e antibióticos, sendo este um elemento complementar). As partes
podem estabelecer um acordo sobre os factos da causa [Artigo 574º/2 do CPC], sendo que nos fala do
Ónus de Impugnação, ou seja, se o réu não colocar em causa os factos que o autor alegou, esses factos
ficam provados por acordo, devendo o tribunal tê-los em consideração [Artigo 607º/4 do CPC]. Existe
uma diferença entre factos (são parcelas da realidade que se demonstradas produzem efeitos jurídicas)
e os meios de prova (são os meios que, se alegados, comprovam esses mesmos factos, demonstrando a
realidade de um facto). Se em relação aos factos vigora o Princípio do Dispositivo, devem ser as partes a
alegar os factos e em relação aos meios de prova vigora o Princípio do Inquisitório [Artigo 411º do CPC],
podendo o tribunal ordenar todas as diligências necessárias quanto aos factos que lhe é lícito conhecer,
desde que este entenda necessários, sendo estes os factos essenciais alegados pelas partes e as
exceções referidas acima, não estando o juíz vinculado aos meios de prova indicados pelas partes(ver
exemplos nos sumários do moodle). O Princípio da Direção do Processo Pelo Juiz que, segundo o
Artigo 6º/1 do CPC, o tribunal deve ser proativo na condução da matéria.
Esta disposição não se aplica à matéria de direito, como prevê o Princípio Jura Novit Curia, os tribunais,
depois de conhecer dos factos essenciais alegados pelas partes, este não está vinculado ao
enquadramento jurídico estabelecido ou invocado pelas partes. Assim sendo, o tribunal é livre, isto
segundo o Artigo 5º/3 do CPC, de aplicar, interpretar e indagar as regras de direito, ou seja, o juíz
aprecia livremente, segundo as regras de interpretação jurídica, as normas jurídicas à situação factual
que as partes invocaram.
cadeiras dos juízes e magistrados judicias (na sua composição, ele inclui membros eleitos pela AR,
nomeados pelo PR e alguns eleitos pelos restantes juízes, estes últimos que são seis ou sete); as
imunidades dos juízes que são instrumentais, dando alguma estabilidade às pessoas que exerçam
cargos de magistratura (como é o caso da Inamobilidade dos Juízes [Artigo 216º da CRP], quando o juíz
é nomeado pelo Tribunal, esta nomeação é permanente; a Irresponsabilidade dos Juízes [Artigo 216º/2
da CRP], não sendo estes responsabilizados pelas decisões que tomam, não podendo ser pedidas
indemnizações contra o juíz que proferiu a sentença, tendo como exceção as condutas dolosas; a
Exclusividade dos Juízes [Artigo 216º/3 da CRP], não podendo estes exercer qualquer outro tipo de
cargo ou profissão, mesmo que não remunerado, menos os casos de docente do ensino superior; as
Limitações de Exercer Profissões Estranhas ao seu Cargo [Artigo 216º/4 da CRP], sendo que estas só
podem ocorrer se o Conselho Superior da Magistratura assim o autorizar). Quanto ao Princípio da
Imparcialidade dos Tribunais, esta tem que ver com o indivíduo que compõe o órgão, sendo aferida em
concreto em relação às partes e ao objeto que compõe o processo. A Imparcialidade corresponde a uma
ideia de equidistância do juíz em relação às partes do processo e de desinteresse no resultado da lide
ou desfecho do processo. O legislador criou três instrumentos para garantia da imparcialidade: os
Impedimentos (são instrumentos mais solenes e inflexíveis, que se dirigem a acautelar decisões mais
evidentes), as Escusas e as Suspeições (são instrumentos menos solenes e dirigem-se a acautelar
situações menos evidentes). Não são cumulativos, não se podendo aplicar os três. Ou é situação de
Impedimento ou é situação de escusas e suspeições.
Os Impedimentos ocorrem quando existem causas objetivas tipificadas na lei como motivos de
impedimento [Artigo 115º, 117º e 84º - propõe-se uma ação contra o juíz no tribunal onde ele exerce
as suas funções do CPC]. É só nestes casos em que verificam os impedimentos. Todavia, é necessário
tomarmos algumas anotações sobre os vínculos jurídico familiares: os Tribunais não pode ser composto
por juízes que apresentem uma relação entre eles.
As relações de familía estão previstas no Artigo 1576º do CC: o casamento, o parentesco, a afinidade e
adoção. O Parentesco, previsto no Artigo 1578º do CC, é o vínculo que une duas pessoas, em
consequências de uma deles descender da outra ou de ambas procederam de um progenitor comum.
pois não descendem um do outro, no 5º grau. Uma outra relação de vínculo jurídico-familiar é a
Afinidade [Artigo 1584º do CC], que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro. Sendo que os
graus contam- se da mesma forma que o Parentesco, apresentando as mesmas linhas.
Exemplos: Os parentes de C são afins de F. C é parente de D pela linha colateral no 2º grau. F é cônjuge
de C, sendo este a fim de D pelo 2º grau da linha colateral(cunhados). F e B são afins pela linha reta, no
1º grau (sogro e genro ou sogra e nora). B e I são afins, visto que H descende de B, pela linha reta no 2º
grau, visto que H descende de B em 2 grau pela linha reta. F e K (co-cunhados) não descendem um do
outro nem têm progenitor um do outro, sendo que K não é a fim de F, pois os afins são os parentes do
cônjuge e não podem ser considerados dessa forma os afins dos afins (C é afim de K. E é a fim de K, mas
F e K não têm um vínculo familiar entre eles). Todavia, apresentam-se determinadas Causas Objetivas
de Impedimento [Artigo 115º/1 do CPC]:
Alínea a): se o juíz for parte ele não pode ser juíz desse mesmo processo, ou seja, se este for autor ou
réu; ou se o juíz for representante de outra pessoa, como é o caso de acompanhar um maior ou por
representar um filho; ou ainda quando ele tenha um interesse que lhe permitisse ser parte principal, ou
seja, como é caso das Obrigações Solidárias, em que determinado credor pode exigir a um de vários
devedores a totalidade da prestação ou pode exigir aos vários devedores a sua parte. Pode acontecer
em que o juíz é devedor solidário, mas a ação foi só proposta contra o outro devedor solidário, mas ele
tinha uma qualidade que lhe permitira ter um interesse que lhe permitisse ser parte principal.
Alínea b): quando seja parte da causa, por si ou por representante de outra pessoa(abrange a
representação judiciária de pessoas coletivas, por exemplo), o seu cônjuge(pessoas casadas e não de
pessoas em união de facto – não há afinidade entre os familiares do unido de facto e esse mesmo – por
exemplo, A propôs uma ação em tribunal distribuída ao juíz B, contudo este B não pode julgar ou
conhecer a ação visto que tem um vínculo matrimonial com A) ou algum seu parente ou afim em linha
reta(em qualquer grau – por exemplo, é parte na ação o I e B é juíz, sendo que B se encontra impedido
devido ao vínculo matrimonial entre H e I, sendo I e B afins no 2º grau na linha reta) ou até ao 2º grau da
linha colateral(Quanto ao F – réu - e juíz M são afins no 3º grau da linha colateral, portanto não se
encontra abrangida nesta alínea, não existindo impedimento). Abrange-se também a situação em que
qualquer destas pessoas, não é parte no processo, mas poderia figurar uma qualidade ou interesse, que
o poderia colocar como parte principal.
Alínea d): deve ser lida em conjugação com o nº2, ou seja, só há este impedimento quando mandatário
já é mandatário no processo e o juíz veio a entrar posteriormente.
Alínea e): quando um juíz é chamado a decidir um recurso sobre uma decisão que este proferiu. Por
exemplo, o juíz proferiu sentença, mas nas ferias judiciais este foi promovido à comarca do porto para
apreciar uma decisão de recurso, que este proferiu no tribunal de primeira instância.
Alínea f): é uma decisão proferida por alguns dos familiares mencionados.
Alínea g): abrange-se a situação em que um juíz julga um processo em que é parte alguém em que
noutro processo está a demandar o juíz, então existe uma espécie de cruzamento de processos, estando
a imparcialidade em causa.
Alínea h): o juíz não pode ser testemunha e juíz no mesmo processo. Podemos analisar o regime do
Artigo 499º do CPC, se o juíz for indicado pela testemunha, este deve enunciar os factos essenciais que
conhece; se não apresentar factos essenciais, este deve recusar ser considerado como testemunha.
Alínea i): o juíz está impedido quando este se encontre em união de facto com essa pessoa, portanto em
casos práticos deve-se colmatar a situação mencionada abaixo com esta alínea. Deve-se aplicar a alínea
b), contestando-a pela alínea i).
sanado, pois o legislador prefere que o processo termine com uma sentença proferida por alguém com
impedimento, do que existir uma retroação de uma sentença. Se o juíz não e declarar e devendo fazê-
lo, este é um vício processual – Nulidade Processual Secundária.
Além dos Impedimentos como medidas da tutela da imparcialidade, temos ainda as Escusas (juíz pede o
afastamento de um determinado processo) e Suspeições (as partes pedem o afastamento do juíz), estas
que abrangem o mesmo tipo de causas, distinguindo-se apenas consoante quem toma a iniciativa, mas o
âmbito material é igual. Não é impossível uma situação ser simultaneamente causa de impedimento e
causa de suspeição e escusa.
A Escusa é da iniciativa do juíz, sendo que este se quer afastar do processo. Segundo o Artigo 119º do
CPC, evidencia que há dois tipos de causas que podem determinar o pedido de escusa: típicas (que
estão expressamente previstas na lei, por remissão para o Artigo 120º) e a residual (quando existem
circunstâncias ponderosas, não tipificadas na lei, que levem o juíz a entender que se pode suspeitar da
sua imparcialidade). Ou seja, o juíz não se pode declarar suspeito, não se podendo autoafastar do
processo, mas pode pedir para ser dispensado de intervir na causa. O Pedido de Afastamento [Artigo
119º/2 do CPC] apresenta um prazo para pedir escusa, sendo que se este for ultrapassado, nunca mais
pode pedir escusa, sendo este dirigido ao Presidente da Relação respetiva ou ao Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça, se o juíz pertencer a qualquer um desses tribunais [Artigo 119º/3 do CPC]. O juíz
deve fundamentar todos os factos que o levam a pedir escusa, devendo o presidente ouvir as partes,
sendo que concluídas as diligências anteriormente referidas, o presidente pode decidir sem recurso
[Artigo 119º/4 e 5 do CPC].
As Suspeições é o de iniciativa das partes que suscitam o afastamento do juíz. Segundo o Artigo 120º/1
do CPC], apresenta uma cláusula aberta, em que qualquer motivo que leve a gerar desconfiança sobre a
sua imparcialidade, as partes podem opor suspeição ao juíz, apresentando certas cláusulas típicas, mas
não são taxativas.
4/11/2021
Ao abrigo do art.º 119 e 120 CPC, as suspeições e as escusas abrangem as mesmas causas, isto é, as
mesmas situações. As circunstâncias que sejam motivo de suspeição também podem ser motivo de
escusa, e vice-versa. O que as distingue é o facto de:
ou o seu cônjuge ou algum parente ou afim em linha reta for credor ou devedor de alguma das partes,
há, aqui, um interesse do mesmo, que se reflete numa suspeita de imparcialidade do juiz; em segundo,
se houver um interesse jurídico em que a decisão seja favorável a uma dessas partes, isto é, o juiz pode
ter um interesse jurídico em que a ação seja favorável a uma das partes, como, por exemplo, o juiz ser
sócio de um clube de futebol, que é parte na causa.
Alínea e “Se o juiz for produtor, herdeiro presumido, donatário ou patrão de alguma das partes, ou
membro da direção ou administração de qualquer pessoa coletiva parte na causa”. No fundo, é parte no
processo um trabalhador do juiz, como, por exemplo, um jardineiro. Da mesma forma, se o juiz tiver
recebido uma doação também não pode julgar o caso. O produtor é uma espécie de um assessor do
tutor. (NOTA: O tutor não está presente nesta alínea, porque está previsto nos impedimentos).
Alínea f “Se o juiz tiver recebido dádivas antes ou depois de instaurado o processo e por causa dele,
ou se tiver fornecido meios para as despesas do processo”. Esta alínea abarca os subornos ou, então, o
facto de o juiz fornecer donativos para ajudar uma das partes, que é parte no processo.
Alínea g “Se houver inimizada grave ou grande intimidade entre o juiz e alguma das partes ou seus
mandatários”. Ou seja, se houver uma inimizade grave ou uma intimidade entre o juiz e uma das partes
ou com o advogado da mesma, o juiz não pode julgar o caso.
Regime processual
“O recusante indica com precisão os fundamentos da suspeição e, autuado o requerimento por apenso,
é este concluso ao juiz recusado para responder; a falta de resposta ou de impugnação dos factos
alegados importa confissão destes.”
“Recebido o processo, o presidente da Relação pode requisitar das partes ou do juiz recusado os
esclarecimentos que julgue necessários; a requisição é feita por ofício dirigido ao juiz recusado, ou ao
substituto quando os esclarecimentos devam ser fornecidos pelas partes.” O Presidente da Relação julga
a suspeição procedente ou improcedente.
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“Concluídas as diligências que se mostrem necessárias, o presidente decide sem recurso; quando julgar
improcedente a suspeição, apreciará se o recusante procedeu de má-fé.”
“1 - A causa principal segue os seus termos, intervindo nela o juiz substituto; mas nem o despacho
saneador nem a decisão final são proferidos enquanto não estiver julgada a suspeição.
2 - Nas Relações e no Supremo Tribunal de Justiça, quando a suspeição for oposta ao relator, serve de
relator o primeiro adjunto e o processo vai com vista ao juiz imediato ao último adjunto; mas não se
conhece do objeto do feito nem se profere decisão que possa prejudicar o conhecimento da causa
enquanto não for julgada a suspeição.”
A causa não pode parar, mas o juiz contra quem foi deduzida a suspeição não pode intervir.
“1 - Julgada procedente a escusa ou a suspeição, continua a intervir no processo o juiz que fora
chamado em substituição, nos termos do artigo anterior.
2 - Se a escusa ou a suspeição for desatendida, intervém na decisão da causa o juiz que se escusou ou
que foi averbado de suspeito, ainda que o processo tenha já os vistos necessários para o julgamento.”
“Aos representantes do Ministério Público é aplicável o disposto nas alíneas a, b, g e i do n.º 1 do art.º
115; estão também impedidos de intervir quando tenham intervindo na causa como mandatários ou
peritos, constituídos ou designados pela parte contrária àquela que teriam de representar ou a quem
teriam de prestar assistência.”
“O prazo para o autor deduzir a suspeição conta-se do recebimento da petição inicial na secretaria ou da
distribuição, se desta depender a intervenção do funcionário.”
Princípio do contraditório
Esta conceção garante a participação efetiva das partes no desenvolvimento de todo o litígio, mediante
a possibilidade de, em plena igualdade, influírem em todos os elementos (factos, provas, questões de
direito) que se encontrem em ligação com o objeto da causa e que em qualquer fase do processo
apareçam como potencialmente relevantes para a decisão. Este princípio é visto, face a esta conceção
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restrita, como uma influência, no sentido positivo de direito de incidir ativamente no desenvolvimento e
no êxito do processo.
Pelo contrário, a noção ampla é mais abrangente e corresponde a um verdadeiro direito que as
partes têm de influenciar (no sentido de terem uma participação pró-ativa no processo,
fazendo chegar a sua visão sobre o objeto do litígio) a decisão do tribunal (incidirem ativamente
no desenvolvimento da causa e no desfecho do processo). No fundo, trata-se do direito de
incidir ativamente no desenvolvimento e no êxito do processo.
o O dever oficioso de suscitar a pronúncia das partes (art.º 3, n.º 3 do CPC): impõe-se ao tribunal
o dever de suscitar a pronúncia das partes, mesmo em relação a questões que elas próprias não
invocaram. Por vezes, o tribunal decide aplicar uma regra jurídica ou uma interpretação
normativa que as partes nem sequer afloraram. Em matéria de direito, o juiz dá um
enquadramento jurídico distinto daquele que as partes estavam a discutir entre elas. No fundo,
está em causa o princípio da proibição das decisões surpresa, na medida em que as partes não
podem ser surpreendidas com decisões do juiz.
Art.º 415 do CPC “1 - Salvo disposição em contrário, não são admitidas nem produzidas provas sem
audiência contraditória da parte a quem hajam de ser opostas.
2 - Quanto às provas constituendas, a parte é notificada, quando não for revel, para todos os atos de
preparação e produção da prova, e é admitida a intervir nesses atos nos termos da lei; relativamente
às provas pré-constituídas, deve facultar-se à parte a impugnação, tanto da respetiva admissão como
da sua força probatória.”
NOTA: “Provas constituendas” – a parte é notificada para todos os atos. São provas constituídas no
processo. “Provas pré-constituídas” – validade probatória desse meio.
No plano da prova, o princípio do contraditório exige:
a. Que às partes seja, em igualdade, facultada a proposição de todos os meios probatórios
potencialmente relevantes para o apuramento da realidade dos factos da causa
b. Que lhes seja consentido fazê-lo até ao momento em que melhor possam decidir da sua
conveniência, tidas em conta, porém, as necessidades de andamento do processo
c. Que a produção ou admissão da prova tenham lugar com audiência contraditória de ambas as
partes
d. Que estas possam pronunciar-se sobre a apreciação das provas produzidas por si, pelo
adversário ou pelo tribunal
i. As alegações orais das partes (art.º 604, n.º 3, alínea e do CPC). O caso especial das alegações
escritas sobre questões de direito (art.º 567, n.º 2 do CPC).
Art.º 604, n.º 3 do CPC “Em seguida, realizam-se os seguintes atos, se a eles houver lugar:
a) Prestação dos depoimentos de parte
b) Exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos, podendo o juiz determinar que
ela se faça apenas com assistência das partes, dos seus advogados e das pessoas cuja presença se
mostre conveniente
c) Esclarecimentos verbais dos peritos cuja comparência tenha sido determinada oficiosamente ou a
requerimento das partes
d) Inquirição das testemunhas
e) Alegações orais, nas quais os advogados exponham as conclusões, de facto e de direito, que hajam
extraído da prova produzida, podendo cada advogado replicar uma vez.”
Art.º 567, n.º 2 do CPC “É concedido o prazo de 10 dias, primeiro ao mandatário do autor e depois ao
mandatário do réu, para alegarem por escrito, com exame do suporte físico do processo, se necessário,
e em seguida é proferida sentença, julgando-se a causa conforme for de direito.”
Art.º 5, n.º 3 do CPC “O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação,
interpretação e aplicação das regras de direito.”
Art.º 3, n.º 3 do CPC “O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio
do contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de manifesta desnecessidade, decidir questões de
direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a
possibilidade de sobre elas se pronunciarem.”
Exceção ao princípio do contraditório: a “manifesta desnecessidade” (art.º 3, n.º 3 + art.º 201 do CPC).
Este princípio não é absoluto, na medida em que o seu exercício pode ser dispensado, se for
manifestamente desnecessário.
Art.º 201 do CPC “A arguição de qualquer nulidade pode ser indeferida, mas não pode ser deferida
sem prévia audiência da parte contrária, salvo caso de manifesta desnecessidade.”
Consequências da falta do contraditório: Na doutrina, discute-se qual é a consequência de o tribunal
preterir o exercício do contraditório nos casos em que não o poderia fazer. Isso constitui uma nulidade
processual ou uma nulidade da sentença ou despacho que tiver proferido essa decisão? Ao juiz
compete, quando repute a indicação insuficiente, introduzir no processo, antes ou depois da discussão
jurídica da causa, as questões novas que poderão constituir fundamentação da sentença.
Princípio da igualdade
Nos termos do art.º 13 do CRP, o princípio constitucional da igualdade atribui a atuação, no plano do
direito ordinário, a um direito fundamental a um processo equitativo.
A igualdade substancial das partes está vertida no art.º 4 do CPC, e diz-nos que não se deve resumir a
um tratamento formal da igualdade. Não podemos tratar desigualmente ambas as partes. No fundo, ao
abrigo deste princípio na sua dimensão programática, o tribunal tem de tratar de forma
substancialmente igual todas as partes no processo.
O princípio da igualdade traduz-se, ainda, na doutrina da “igualdade de armas”. Impõe o equilíbrio
entre as partes ao longo de todo o processo, na perspetiva dos meios processuais de que dispõem para
apresentar e fazer vingar as respetivas teses: exige a identidade das faculdades e meios de defesa
processuais das partes e a sua sujeição a ónus e cominações idênticos, sempre que a sua posição
perante o processo é equiparável, e um jogo de compensações, gerador do equilíbrio global do
processo, quando
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a desigualdade objetiva intrínseca de certas posições processuais leva a atribuir a uma parte meios
processuais não atribuíveis à outra. Próximo do princípio constitucional da igualdade e não
discriminação (art.º 13 do CRP), o princípio da igualdade de armas impõe um estatuto de igualdade
substancial das partes (art.º 4 do CPC) e deve jogar igualmente, no caso de pluralidade de autores ou de
réus.
O problema da posição processual do Ministério Público. O MP intervém no processo civil e, ainda
hoje, existem algumas normas no Código que lhe atribuem um tratamento privilegiado (art.º 569, n.º 4 +
art.º 632, n.º 4 do CPC), mas chocam com o princípio da igualdade.
Art.º 569, n.º 4 do CPC “Ao Ministério Público é concedida prorrogação do prazo quando careça de
informações que não possa obter dentro dele ou quando tenha de aguardar resposta a consulta feita
a instância superior; o pedido deve ser fundamentado e a prorrogação não pode, em caso algum, ir
além de 30 dias.”
Princípio da publicidade
No plano do direito ordinário, o princípio da publicidade concretiza o direito fundamental a um processo
equitativo. Este princípio desdobra-se em duas partes:
Publicidade do processo (enquanto um todo). Não tem base constitucional direta, embora decorra do
art.º 163 do CPC. Ao abrigo do n.º 1 deste artigo, todo o processo civil é público, à exceção das situações
previstas em lei. Nos termos do n.º 2, “a publicidade do processo implica o direito de exame e consulta
do processo por via eletrónica, nos termos definidos na portaria prevista no n.º 2 do art.º 132, e na
secretaria, bem como o de obtenção de cópias ou certidões de quaisquer peças nele incorporadas, pelas
partes, por qualquer pessoa capaz de exercer o mandato judicial ou por quem nisso revele interesse
atendível.” Ou seja, o princípio da publicidade do processo implica o direito, exame e consulta do
processo; a obtenção de certidões ou cópias de qualquer peça incorporada no processo, etc.
A passagem de certidões (art.º 170 e art.º 171 do CPC). Em processo civil, não há segredo de justiça, na
medida em que qualquer parte pode obter cópias e certidões do seu processo. Qualquer advogado pode
dirigir-se ao tribunal e obter cópias do processo. Um cidadão também pode obter cópias do processo,
desde que exista um motivo atendível que justifique o respetivo acesso ao processo.
Publicidade das audiências judiciais. Este princípio encontra fundamento constitucional no artigoº206
da Constituição. Qualquer pessoa pode ter acesso às audiências, tanto às audiências finais, como às
prévias, na medida em que são públicas.
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Publicidade da audiência final (art.º 606, n.º 1 do CPC): “A audiência é pública, salvo quando o juiz
decidir o contrário, em despacho fundamentado, para salvaguarda da dignidade das pessoas e da
moral pública, ou para garantir o seu normal funcionamento.”
Princípio da cooperação
Ao abrigo do art.º 7, n.º 1 do CPC (“Na condução e intervenção no processo, devem os magistrados, os
mandatários judiciais e as próprias partes cooperar entre si, concorrendo para se obter, com
brevidade e eficácia, a justa composição do litígio”), este princípio assenta na ideia de cooperação para
que o processo corra bem e possa ser decidida a causa.
Cooperação formal: atende mais diretamente ao respeito e observância dos deveres de urbanidade e
de recíproca correção (art.º 9 do CPC). Em especial, os atrasos no início das diligências (art.º 151 do
CPC).
Cooperação material:
A cooperação do tribunal com as partes.
d. Dever de cooperação com as partes na obtenção de meios de prova (art.º 7, n.º 4 do CPC –
“Sempre que alguma das partes alegue justificadamente dificuldade séria em obter documento
ou informação que condicione o eficaz exercício de faculdade ou o cumprimento de ónus ou
dever processual, deve o juiz, sempre que possível, providenciar pela remoção do obstáculo.”).
a. O dever de cooperação para a descoberta da verdade (art.º 417, n.º 1 do CPC – “Todas as
pessoas, sejam ou não partes na causa, têm o dever de prestar a sua colaboração para a
descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se às inspeções
necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que forem determinados.”).
b. O dever de boa-fé processual (art.º 8 do CPC – “As partes devem agir de boa-fé e observar os
deveres de cooperação resultantes do preceituado no artigo anterior.”):
A litigância de má-fé.
Art.º 542, n.º 2 do CPC: “Diz-se litigante de má-fé quem, com dolo ou negligência grave:
a) Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar
b) Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa
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A multa processual (sanção civil – art.º 27, n.º 3 do RCP): “Nos casos de condenação por
litigância de má-fé a multa é fixada entre 2 UC e 100 UC.”;
Indemnização à parte contrária, se esta pedir (art.º 543 do CPC).
“1 - A indemnização pode consistir:
a) No reembolso das despesas a que a má-fé do litigante tenha obrigado a parte contrária, incluindo
os honorários dos mandatários ou técnicos;
b) No reembolso dessas despesas e na satisfação dos restantes prejuízos sofridos pela parte contrária
como consequência direta ou indireta da má-fé.
2 - O juiz opta pela indemnização que julgue mais adequada à conduta do litigante de má-fé, fixando-a
sempre em quantia certa.
3 - Se não houver elementos para se fixar logo na sentença a importância da indemnização, são
ouvidas as partes e fixa-se depois, com prudente arbítrio, o que parecer razoável, podendo reduzir-se
aos justos limites as verbas de despesas e de honorários apresentadas pela
parte. 4 - Os honorários são pagos diretamente ao mandatário, salvo se a parte mostrar que o seu
patrono já está embolsado.”
Responsabilidade do mandatário pela má-fé da parte. Ao abrigo do art.º 545 do CPC, o tribunal não
pode condenar em multa os advogados, na medida em que não tem poder sancionatório sobre eles. Se
verificar que a parte não foi a principal (ou não foi de todo) responsável pela atuação de má-fé (ou seja,
que quem tem responsabilidade é o advogado), o tribunal pode participar à associação pública.
Ao abrigo do regime do art.º 531 do CPC, “Por decisão fundamentada do juiz, pode ser
excecionalmente aplicada uma taxa sancionatória quando a ação, oposição, requerimento, recurso,
reclamação ou incidente seja manifestamente improcedente e a parte não tenha agido com a
prudência ou diligência devida.” Visa-se abranger as situações que são meramente negligentes, isto é,
quando a parte com simples negligência deduz uma ação, um requerimento, uma reclamação, etc., que
seja manifestamente improcedente.
Ao abrigo do art.º 10 do RCP, “a taxa sancionatória é fixada pelo juiz entre 2 UC e 15 UC.” A natureza
jurídica atribuída a esta taxa sancionatória excecional é uma multa.
Distinção e âmbitos de aplicação. A litigância de má-fé aplica-se a situações tipificadas na lei, nas quais
a atuação seja dolosa ou altamente negligente.
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Ao abrigo do art.º 417, n.º 1 do CPC, “Todas as pessoas, sejam ou não partes na causa, têm o dever de
prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado,
submetendo-se às inspeções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que
forem determinados”.
Escusa do dever de cooperação (art.º 417, n.º 3 do CPC): todos estão obrigados a cooperar para a
descoberta da verdade, contudo, este não é um dever absoluto, na medida em que se podem escusar
do seu dever de cooperação.
Art.º 417, n.º 3 do CPC – “A recusa é, porém, legítima se a obediência importar:
a) Violação da integridade física ou moral das pessoas;
b) Intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações;
c) Violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos, ou do segredo de Estado, sem prejuízo do
disposto no n.º 4.”).
Responsabilidade pela violação do dever de cooperação (art.º 417, n.º 2 do CPC – “Aqueles que
recusem a colaboração devida são condenados em multa, sem prejuízo dos meios coercitivos que forem
possíveis; se o recusante for parte, o tribunal aprecia livremente o valor da recusa para efeitos
probatórios, sem prejuízo da inversão do ónus da prova decorrente do preceituado no n.º 2 do art.º 344
do Código Civil.”)
Os deveres funcionais das testemunhas (art.º 508, n.º 4 do CPC) e dos peritos (art.º 469 do CPC).
Art.º 508, n.º 4 do CPC “O juiz ordena que a testemunha que sem justificação tenha faltado
compareça sob custódia, sem prejuízo da multa aplicável, que é logo fixada em ata”.
Art.º 469 do CPC “1 - O perito é obrigado a desempenhar com diligência a função para que tiver sido
nomeado, podendo o juiz condená-lo em multa quando infrinja os deveres de colaboração com o
tribunal. 2 - O perito pode ser destituído pelo juiz se desempenhar de forma negligente o encargo que
lhe foi cometido, designadamente quando não apresente ou impossibilite, pela sua inércia, a
apresentação do relatório pericial no prazo fixado.”
O princípio da duração razoável do processo concretiza-se no plano do direito ordinário no art.º 2, n.º 1
CPC, “a proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo razoável, uma
decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão regularmente deduzida em juízo,
bem como a possibilidade de a fazer executar”, o que significa que os processos não se devem eternizar
nos tribunais. Este princípio encontra-se plasmado no art.º 20, n.º 4 da CRP (“todos têm direito a que
uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em prazo razoável e mediante processo
equitativo”) e no art.º 6 n.º 1 da CEDH (“Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada,
equitativa e publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e imparcial, estabelecido
pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação dos seus direitos e obrigações de carácter civil, quer
sobre o fundamento de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra ela. O julgamento deve ser
público, mas o acesso à sala de audiências pode ser proibido à imprensa ou ao público durante a
totalidade ou parte do processo, quando a bem da moralidade, da ordem pública ou da segurança
nacional numa sociedade democrática, quando os interesses de menores ou a proteção da vida privada
das partes no
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processo o exigirem, ou, na medida julgada estritamente necessária pelo tribunal, quando, em
circunstâncias especiais, a publicidade pudesse ser prejudicial para os interesses da justiça.”).
O resultado processual deve ser atingido com a maior economia de meios. Esta economia de meios
exige que cada processo, por um lado, resolva o maior número possível de litígios (economia de
processos) e, por outro, comporte só os atos e formalidades indispensáveis ou úteis (economia de atos e
formalidades).
1. Economia de processos
A justiça deve procurar decidir o maior número possível de litígios no menor número possível de
processos. No fundo, trata-se de poupar recursos humanos, diligências, tempo, etc.
A reconvenção permite ao réu deduzir uma contra pretensão (contração), deduzindo um pedido
convencional assente numa causa de pedido reconvencional e, então, o réu passa a chamar-se “réu
reconvinte” e o autor passa a chamar-se “autor reconvindo”. No mesmo processo, temos a discussão de
duas facetas do litígio – é uma forma de economia de processos.
A apensação de ações significa que, desde que haja uma conexão entre eles, os processos são
unificados e decididos em conjunto. No fundo, mantem a sua autonomia enquanto relações jurídicas
processuais.
A ideia é a seguinte: economizar os atos processuais que vão sendo praticados ao longo do processo. A
lei prevê uma série de normas que asseguram esta ideia, nomeadamente no art.º 547 e no art.º 131, n.º
1 do CPC.
O princípio da adequação formal está previsto no art.º 547 do CPC: “O juiz deve adotar a tramitação
processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos atos processuais
ao fim que visam atingir, assegurando um processo equitativo.” Relativamente às especificidades nas
ações de reduzido valor, temos o art.º 597 do CPC: “Nas ações de valor não superior a metade da alçada
da Relação, findos os articulados, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do art.º 590, o juiz, consoante a
necessidade e a adequação do ato ao fim do processo:
a) Assegura o exercício do contraditório quanto a exceções não debatidas nos articulados
b) Convoca audiência prévia
c) Profere despacho saneador, nos termos do no n.º 1 do art.º 595
d) Determina, após audição das partes, a adequação formal, a simplificação ou a agilização processual,
nos termos previstos no n.º 1 do art.º 6 e no art.º 547
e) Profere o despacho previsto no n.º 1 do art.º 596
f) Profere despacho destinado a programar os atos a realizar na audiência final, a estabelecer o número
de sessões e a sua provável duração e a designar as respetivas datas
g) Designa logo dia para a audiência final, observando o disposto no art.º 151.”
Simplificação formal dos atos processuais (art.º 131, n.º 1 do CPC): “Os atos processuais têm a forma
que, nos termos mais simples, melhor corresponda ao fim que visam atingir.”
Proibição da prática de atos inúteis (art.º 130 do CPC – princípio da limitação dos atos): “Não é lícito
realizar no processo atos inúteis.”
Nos termos do art.º 6, n.º 2 do CPC, “o juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de
pressupostos processuais suscetíveis de sanação, determinando a realização dos atos necessários à
regularização da instância ou, quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas partes,
convidando estas a praticá-lo.”
O princípio pro actione (direito de ação – art.º 7 do CPTA), “para efetivação do direito de acesso à
justiça, as normas processuais devem ser interpretadas no sentido de promover a emissão de
pronúncias sobre o mérito das pretensões formuladas.”
Ao abrigo do art.º 6, n.º 2 do CPC, o juiz deve oficiosamente procurar sanar os vícios processuais que
possam ser sanados.
Este princípio possui fundamento constitucional no art.º 208 da CRP: “A lei assegura aos advogados as
imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial
à administração da justiça.”
O patrocínio forense é um elemento essencial à administração da justiça. Isso reflete-se, desde logo, na
liberdade de constituição de mandatário forense – art.º 40, n.º 3 da CPC: “Nas causas em que, não
sendo obrigatória a constituição de advogado, as partes não tenham constituído mandatário judicial, a
inquirição das testemunhas é efetuada pelo juiz, cabendo ainda a este adequar a tramitação processual
às especificidades da situação.”
Ao abrigo do art.º 42 do CPC, “nas causas em que não seja obrigatória as constituições de advogado
podem as próprias partes pleitear por si ou ser representadas por advogados estagiários ou por
solicitadores.”
De forma a assegurar este princípio, a lei estabelece um conjunto de garantias do exercício da atividade
forense, entre elas a que de os mandatários não estão sujeitos ao poder disciplinar do tribunal.
Princípio da preclusão
As partes têm autorresponsabilidade, ou seja, têm de praticar os atos processuais em momentos que
sejam próprios e adequados.
Os prazos processuais: esgotado um prazo processual, extingue-se o direito à prática do ato a que o
prazo tendia – art.º 139, n.º 3 do CPC: “O decurso do prazo perentório extingue o direito de praticar o
ato.” Decorrido este prazo, extingue-se o direito à prática do ato.
A prática de ato fora do prazo. Consequência: art.º 162, n.º 2 do CPC. “No próprio dia, sendo possível,
deve a secretaria submeter a despacho, avulsamente, os requerimentos que não respeitem ao
andamento de processos pendentes, juntar a estes os requerimentos, respostas, articulados e alegações
que lhes digam respeito ou, se forem apresentados fora do prazo ou houver dúvidas sobre a legalidade
da junção, submetê-los a despacho do juiz, para este a ordenar ou recusar.”
Obrigatoriedade de alegação nos articulados dos factos essenciais que fundamentam a ação e a defesa:
Na petição inicial (art.º 552, n.º 1, alínea d do CPC): “Na petição, com que propõe a ação, deve o
autor expor os factos essenciais que constituem a causa de pedir e as razões de direito que servem de
fundamento à ação.”
“Se o réu, além de não deduzir qualquer oposição, não constituir mandatário nem intervier de qualquer
forma no processo, o tribunal verifica se a citação foi feita com as formalidades legais e ordena a sua
repetição quando encontre irregularidades.”
No que toca à revelia relativa, o réu, não tendo apresentado contestação, teve algum tipo de
intervenção no processo, ou seja, apresentou um advogado, etc.
Quanto à revelia absoluta, não nos dá garantia nenhuma de que o réu tomou conhecimento de que
pendia uma ação contra ele.
“Se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se citado regularmente na sua própria
pessoa ou tendo juntado procuração a mandatário judicial no prazo da contestação, consideram-se
confessados os factos articulados pelo autor.”
Temos a revelia operante, se se aplicar o efeito culminatório semipleno. Na revelia inoperante, não há
consequência.
A revelia operante tem por efeito a confissão dos factos articulados pelo autor, tal como estabelece o
art.º 567, n.º 1 do CPC. Tratando-se de um facto, a primeira caraterística ontológica que lhe assiste é
evidente: o facto é. Ou se verifica, ou não. O “dever existir” está afastado do campo dos factos, por ser
pertinente à valoração que se faz do facto.
A falta de impugnação especificada: admissão por acordo (art.º 574, n.º 2 do CPC). “Consideram-se
admitidos por acordo os factos que não forem impugnados, salvo se estiverem em oposição com a
defesa considerada no seu conjunto, se não for admissível confissão sobre eles ou se só puderem ser
provados por documento escrito; a admissão de factos instrumentais pode ser afastada por prova
posterior.”
Ao abrigo do art.º 9-A do CPC, o princípio da utilização de linguagem simples e clara impõe ao tribunal e
à secretaria também o cuidado de nas comunicações dirigidas diretamente às partes ou outras pessoas
chamadas a intervir acidentalmente usar linguagem simples e clara. “O tribunal deve, em todos os seus
atos, e em particular nas citações, notificações e outras comunicações dirigidas diretamente às partes e
a outras pessoas singulares e coletivas, utilizar preferencialmente linguagem simples e clara.” É
necessário que haja um equilíbrio. É preciso haver rigor relativamente ao aspeto jurídico, de maneira
que não fique algo importante por dizer, mas de forma simples e clara. Estamos perante uma
preocupação entre as partes e terceiros chamados a intervir no processo.
11/11/2021
Caso prático
Em 15 de Janeiro de 2020, António, senhorio, celebrou com Carlos um contrato de arrendamento, pela
renda mensal de 250 euros, referente uma fração habitacional de um edifício de sítio no Porto, com o
valor patrimonial de 70.000 euros e que António tinha comprado pelo preço de 180.000 euros. Carlos
pretendia destinar a fração para sua futura residência conjugal uma vez que se iria casar no final de
março com Eduarda. Sucede que, logo em fevereiro de 2020, se deu conta de que a sala da fração era
pouco espaçosa e, sem autorização do senhorio, iniciou a demolição de várias paredes interiores de
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maneira a aumentar a respetiva área, tendo deixado de efetuar o pagamento de duas rendas em
virtude das elevadas despesas que teve com a realização das obras.
Assim que tomou conhecimento das obras, em maio de 2020, António confrontou Carlos na escadaria
do edifício. Carlos, surpreendido, ripostou que António era um “senhorio da bosta” e que “se
aproveitava de pessoas indefesas para as aldrabar alugando-lhes casas sem condições mínimas de
habitabilidade”.
Na sequência destes factos, em junho de 2020, António propôs contra Carlos uma ação judicial
peticionando a resolução do contrato de arrendamento com fundamento na realização de obras
ilícitas pelo arrendatário, a condenação deste no pagamento das rendas já vencidas e não pagas no
valor de 750 euros, no pagamento das rendas que se venceram durante a pendência da ação, no
pagamento de uma indemnização no valor de 1200 euros correspondente aos danos que as obras
ilícitas de Carlos causaram na fração e no pagamento de uma indemnização no valor de 15.000 euros a
titulo de responsabilidade civil extracontratual decorrente afirmações injuriosas e difamatórias
proferidas por Carlos em maio de 2020.
Ao abrigo do art.º 296 do CPC, a qualquer causa deve ser atribuída um valor certo, expresso em moeda
legal, o qual representa a utilidade económica do pedido. Ao abrigo do n.º 3 deste artigo, “para efeito
de custas judiciais, o valor da causa é fixado segundo as regras previstas no presente diploma e no
Regulamento das Custas Processuais.” Nos termos do art.º 297 do CPC:
1- “Se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, é esse o valor da causa,
não sendo atendível impugnação nem acordo em contrário; se pela ação se pretende obter
um benefício diverso, o valor da causa é a quantia em dinheiro equivalente a esse benefício.
Relativamente à pretensão da ação de despejo, o legislador estabelece uma regra própria para a
determinação do valor da causa. Nos termos do art.º 298, n.º 1 do CPC, “nas ações de despejo, o valor é
o da renda de dois anos e meio, acrescido do valor das rendas em dívida ou do valor da indemnização
requerida, consoante o que for superior.” Nas ações de causa, o valor da causa apura-se pela renda de 2
anos e meio acrescida do valor das indemnizações pedidas ou, se for superior, o valor das rendas em
dívida. No fundo, optamos pelo valor mais elevado.
Neste caso concreto, ao abrigo do art.º 297, n.º 1 do CPC, o pedido de indemnização é no valor de
15.000 euros. A ação de despejo é a seguinte: 7.500 euros (valor da renda de 2 anos e meio) + 1.200
euros (art.º 297, n.º 2 – 2º parte do CPC) = 8.700 euros.
Posto isto, o valor final da causa é 23.700 euros.
b) Admita que a ação proposta por António foi distribuída a Bernardo, juiz no tribunal, o qual
habita em condições análogas às dos cônjuges com Francisca, sobrinha de António. Que
instrumentos processuais, se é que há algum, podem ser invocados neste caso para garantir a
imparcialidade do juiz da causa?
Está em causa a observância do princípio da imparcialidade, que consiste num desinteresse do juiz no
desfecho da causa e, também, numa ideia de equidistância em relação às partes e é avaliado em
concreto. Este princípio não está expressamente previsto na Constituição, mas decorre do direito
fundamental a um processo equitativo (art.º 20, n.º 4 da CRP). O processo equitativo exige, também, um
tribunal imparcial e resulta, ainda, de um outro preceito de direitos fundamentais: art.º 6, n.º 1 da
CEDH.
Em abstrato, a lei processual civil prevê três instrumentos de garantia da imparcialidade do tribunal: os
impedimentos, as escusas e as suspeições. A relação de António com Francisca é de parentesco por linha
colateral em 3º grau. Neste caso, Bernardo não é afim, uma vez que se encontra em união de facto, logo
não há casamento, não há afinidade.
Por força do art.º 115, n.º 1, alínea i do CPC, esta relação não estaria coberta pela alínea b, portanto não
há impedimento. Não há parentesco entre Bernardo e António, logo, não havendo nenhuma afinidade
entre estes, nem Francisco e Bernardo são casados, não há nenhuma norma que nos permita equiparar
a união de facto ao casamento. Ao abrigo do art.º 120, n.º 1, alínea d do CPC, perante este caso
concreto, pode existir uma suspeita de imparcialidade do juiz, na medida em que a Francisca é
simultaneamente casada com o juiz e sobrinha do António, que é parte no processo. temos, ainda, o
art.º 120, n.º 1 da CPC, nos termos do qual o juiz vive com a sobrinha do autor e o próprio juiz pode
pedir para ser dispensado de intervir na causa (art.º 119 do CPC). Neste caso, podemos usar o
mecanismo das suspeições e das escusas com fundamento da clausula aberta para suspeições (art.º 120,
n.º 1 do CPC) e para as escusas, nos termos do art.º 119, n.º 1, (parte final) do CPC.
É necessário explicar como se procede o pedido de escusa e de suspeição. Ao abrigo do art.º 123, n.º 3
do CPC, enquanto não tiver decidido, o processo pode prosseguir, intervindo o juiz substituto (art.º 125,
n.º 1 do CPC).
O prazo para invocar a suspeição ou escusa são de 10 dias, ao abrigo do art.º 149 do CPC.
NOTA: (art.º 115, alínea b relaciona-se com a alínea i do CPC)» se for impedimento, não pode ser escusa
ou suspeição.
Ao abrigo do art.º 38, n.º 2 (1º parte) da LOSJ, a competência de um tribunal afere-se pela lei em vigor
no momento em que a ação foi proposta.
Pressupostos processuais
O poder-dever de decisão do tribunal, quanto à questão de fundo. Se não estiverem preenchidos estes
requisitos, o tribunal não pode proferir a decisão sobre o mérito da causa, isto é, não pode dirimir o
litígio, logo extinguir-se-á aquela instância por falta de um determinado pressuposto processual. Esta
extinção faz-se sob forma de absolvição do réu da instância. No fundo, a falta de um pressuposto
processual conduz a absolvição do réu da instância e a instância extingue-se, sem qualquer decisão
quanto à questão de fundo.
Correspondem a condições que têm de estar preenchidas para que uma instância possa existir
juridicamente. Uma ação só terá existência jurídica, se houver iniciativa de um autor que a propõe
contra um determinado réu perante um determinado tribunal, ou seja, depende da iniciativa das partes
– princípio da instância. A propositura das partes não basta. A ação só existe com a plena eficácia a
partir da citação do réu, e não apenas do mero ato da propositura, ao abrigo do art.º 259, n.º 1 e n.º 2
CPC (“1
- A instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se proposta, intentada ou pendente logo
que a respetiva petição se considere apresentada nos termos dos nº 1 e 6 do art.º 144; 2 - Porém, o ato
da proposição não produz efeitos em relação ao réu senão a partir do momento da citação, salvo
disposição legal em contrário.”)
São as condições que têm de estar preenchidas para que a instância seja juridicamente válida. A única
causa de invalidade da relação jurídica processual é a nulidade de todo o processo, nos termos da qual
todo o processo é nulo, ao abrigo do art.º 186, n.º 1 do CPC (“É nulo todo o processo quando for inepta
a petição inicial”). A inaptidão da petição inicial determinada a nulidade de todo o processo. Ao abrigo
do art.º 186, n.º 2 do CPC, “Diz-se inepta a petição:
a) Quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de pedir;
b) Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir;
c) Quando se cumulem causas de pedir ou pedidos substancialmente incompatíveis.”
Dizem respeito aos requisitos materiais ou substanciais que têm de estar preenchidos para que uma
ação possa ser julgada procedente, ou seja, para que seja reconhecida a razão do autor e decretadas as
providências judiciárias que ele peticiona. Tem que ver com o litígio propriamente dito.
Concernem a certos atos processuais que podem ser praticados ao longo do processo e exigem a
verificação de certas condições, sem as quais o ato não pode ser praticado.
Por exemplo, o art.º 584 do CPC: “Só é admissível réplica para o autor deduzir toda a defesa quanto à
matéria da reconvenção, não podendo a esta opor nova reconvenção.
2 - Nas ações de simples apreciação negativa, a réplica serve para o autor impugnar os factos
constitutivos que o réu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito
invocado pelo réu”. A existência de reconvenção é um pressuposto para a prática do ato processual
“réplica”.
E. Questões prejudiciais
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Trata-se de questões que devem ser conhecidas antes de o tribunal apreciar a questão de fundo ou o
mérito de uma determinada relação jurídica processual. O seu conhecimento prejudica a solução que
terá de ser dada à questão de fundo do litígio.
Por exemplo: art.º 272, n.º 1 do CPC → “O tribunal pode ordenar a suspensão quando a decisão da
causa estiver dependente do julgamento de outra já proposta ou quando ocorrer outro motivo
justificado”. Se a decisão a dar ao processo tiver dependente da decisão de um outro processo, isso
designa-se “questão prejudicial”. Outro exemplo, em especial, é o reenvio prejudicial para o Tribunal de
Justiça da União Europeia.
As questões incidentais estão definidas no Regulamento das Custas Processuais no art.º 7 e 8. Todas as
ocorrências que sejam estranhas ao ritualismo processual são questões incidentais. O responsável por
esse incidente é condenado em custas. Tudo o que fuja ao ritualismo processual que o legislador traçou
para cada forma de processo é considerada uma questão incidental. Não é central (nuclear) ao objeto da
causa.
Pressupostos processuais relativos ao objeto: São os requisitos formais que têm de existir em relação
ao objeto da instância.
Pressupostos processuais positivos: O requisito atende-se pela positiva, quando é necessário que a
realidade que está subjacente àquele pressuposto processual tem de existir no processo.
Pressupostos processuais negativos: O requisito atende-se pela negativa, quando o requisito que está
preenchido, mas a realidade que lhe está subjacente está ausente daquela relação jurídica processual.
Pressupostos processuais atípicos: A lei não os prevê expressamente, mas eles decorrem de uma
construção jurisprudencial ou doutrinária. O seu regime jurídico não está ditado pelo legislador.
Pressupostos processuais do conhecimento oficioso: O tribunal pode e deve apreciar a sua verificação,
mesmo que nenhuma das partes tenha invocado essa questão.
Personalidade judiciária
A personalidade judiciária é um pressuposto processual relativo às partes do conhecimento oficioso do
tribunal, típico e nominado.
Ao abrigo do art.º 67 do CC, relativamente à capacidade jurídica (personalidade jurídica), “as pessoas
podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste a
sua capacidade jurídica”.
Personalidade jurídica das pessoas singulares → art.º 66, nº 1 do CC: “A personalidade adquire-se no
momento do nascimento completo e com vida”.
Personalidade jurídica das pessoas coletivas: As pessoas coletivas também possuem personalidade
jurídica.
• Associações e fundações (art.º 158 do CC): “As associações constituídas por escritura pública
ou por outro meio legalmente admitido, que contenham as especificações referidas no n.º 1 do
art.º 167, gozam de personalidade jurídica; 2 - As fundações referidas no artigo anterior
adquirem personalidade jurídica pelo reconhecimento, o qual é individual e da competência da
autoridade administrativa”.
• Sociedades comerciais (art.º 5 do CSC): “As sociedades gozam de personalidade jurídica e
existem como tais a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem,
sem prejuízo do disposto quanto à constituição de sociedades por fusão, cisão ou
transformação de outras”.
• Cooperativas (art.º 16 do CCoop): “A cooperativa adquire personalidade jurídica com o registo
da sua constituição”. As cooperativas ganham personalidade jurídica com o registo definitivo do
pacto constitutivo.
• Pessoas coletivas eclesiásticas (art.º 1, n.º 2 + 8 + 9 n.º 2 da Concordata de 2004). As
pessoas jurídicas canonicamente cretas ou reconhecidas (art.º 10 da Concordata de 2004). “A
República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica da Igreja Católica” – art.º 1, n.º 2.
“A República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica da Conferência Episcopal
Portuguesa, nos termos definidos pelos estatutos aprovados pela Santa Sé” – art.º 8. “A
República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica das dioceses, paróquias e outras
jurisdições eclesiásticas, desde que o ato constitutivo da sua personalidade jurídica canónica
seja notificado ao órgão competente do Estado” – art.º 9, n.º 2. “1. A Igreja Católica em
Portugal pode organizar-se livremente de harmonia com as normas do direito canónico e
constituir, modificar e extinguir pessoas jurídicas canónicas a que o Estado reconhece
personalidade jurídica civil. 2. O Estado reconhece a personalidade das pessoas jurídicas
referidas nos artigos 1, 8 e 9 nos respetivos termos, bem como a das restantes pessoas
jurídicas canónicas, incluindo os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida
apostólica canonicamente eretos, que hajam sido constituídas e participadas à autoridade
competente pelo bispo da diocese onde tenham a sua sede, ou pelo seu legítimo
representante, até à data da entrada em vigor da
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presente Concordata. 3. A personalidade jurídica civil das pessoas jurídicas canónicas, com
exceção das referidas nos artigos 1, 8 e 9, quando se constituírem ou forem comunicadas
após a entrada em vigor da presente Concordata, é reconhecida através da inscrição em
registo próprio do Estado em virtude de documento autêntico emitido pela autoridade
eclesiástica competente de onde conste a sua ereção, fins, identificação, órgãos
representativos e respetivas competências” – art.º 10.
• Igrejas, comunidades religiosas e outras pessoas coletivas religiosas (art.º 33 da Lei, n.º
16/2001): “Podem adquirir personalidade jurídica pela inscrição no registo das pessoas
coletivas religiosas, que é criado no departamento governamental competente: a) As igrejas e
demais comunidades religiosas de âmbito nacional ou, em sua vez, as organizações
representativas dos crentes residentes em território nacional; b) As igrejas e demais
comunidades religiosas de âmbito regional ou local; c) Os institutos de vida consagrada e outros
institutos, com a natureza de associações ou de fundações, fundados ou reconhecidos pelas
pessoas coletivas referidas nas alíneas a) e b) para a prossecução dos seus fins religiosos; d) As
federações ou as associações de pessoas coletivas referidas nas alíneas anteriores.”
• Outras pessoas coletivas de direito privado.
i. A personalidade jurídica das pessoas coletivas territoriais (art.º 227, n.º 1 (Regiões Autónomas)
+ art.º 253 da CRP).
ii. A personalidade jurídica dos institutos públicos (art.º 4, n.º 1 da Lei n.º 3/2004): “Os institutos
públicos são pessoas coletivas de direito público, dotadas de órgãos e património próprio”.
iii. A personalidade jurídica das entidades públicas empresais (art.º 56 do Decreto-Lei, n.º
133/2013). O caso das empresas públicas (art.º 5, n.º 1 do mesmo DL).
Art.º5 n.º 1: “São empresas públicas as organizações empresariais constituídas sob a forma de
sociedade de responsabilidade limitada nos termos da lei comercial, nas quais o Estado ou
outras entidades públicas possam exercer, isolada ou conjuntamente, de forma direta ou
indireta, influência dominante, nos termos do presente decreto-lei.” Art.º 56: “São entidades
públicas empresariais as pessoas coletivas de direito público, com natureza empresarial, criadas
pelo Estado para prossecução dos seus fins, as quais se regem pelas disposições do presente
capítulo e, subsidiariamente, pelas restantes normas do presente decreto-lei.”
iv. A personalidade jurídica das entidades reguladoras (art.º 3, n.º 1 da Lei n.º 67/2013): “As
entidades reguladoras são pessoas coletivas de direito público, com a natureza de entidades
administrativas independentes, com atribuições em matéria de regulação da atividade
económica, de defesa dos serviços de interesse geral, de proteção dos direitos e interesses dos
consumidores e de promoção e defesa da concorrência dos setores privado, público,
cooperativo e social.”
v. A personalidade jurídica das demais entidades e organismos públicos personalizados.
vi. O caso do Estado (personalidade jurídica por natureza)
c) As sociedades civis;
d) As sociedades comerciais, até à data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem, nos
termos do art.º 5 do Código das Sociedades Comerciais;
e) O condomínio resultante da propriedade horizontal, relativamente às ações que se inserem no
âmbito dos poderes do administrador;
f) Os navios, nos casos previstos em legislação especial.”
Ao abrigo do art.º 2046 do CC, a herança jacente é uma herança que ainda não foi aceite pelos
herdeiros e, por isso, ainda não possui titular. A herança jacente não tem personalidade jurídica, mas
possui personalidade judiciária, ou seja, pode propor ações e podem ser propostas ações contra ela
(herança jacente). “Diz-se jacente a herança aberta, mas ainda não aceita nem declarada vaga para o
Estado; 2 - Existindo consentimento para a possibilidade de inseminação post mortem, nos termos da
lei, a herança do progenitor falecido mantém-se jacente durante o prazo de três anos após a sua morte,
o qual é prorrogado até ao nascimento completo e com vida do nascituro caso esteja pendente a
realização dos procedimentos de inseminação permitidos nos termos da lei.”
Os fundos de investimento (art.º 2, n.º 1, alínea u do RGOIC – Lei n.º 16/2015). “«Fundo
de investimento», os patrimónios autónomos, sem personalidade jurídica, pertencentes
aos participantes no regime geral de comunhão regulado no presente Regime Geral.”
Os fundos de capital de risco (art.º 15, n.º 1 do RJCR – Lei n.º 18/2015). “Os fundos de
capital de risco são patrimónios autónomos, sem personalidade jurídica, mas dotados de
personalidade judiciária, pertencentes ao conjunto dos titulares das respetivas unidades
de participação.”
c) As comissões especiais (art.º 159 e art.º 199 do CC + art.º 12, alínea b, parte final)
Exemplo: comissões criadas para organizar um congresso científico; comissões de festas nas aldeias, etc.
Art.º 159 do CC → “A sede da pessoa coletiva é a que os respetivos estatutos fixarem ou, na falta de
designação estatutária, o lugar em que funciona normalmente a administração principal”. Art.º 199 do
CC
→ “As comissões constituídas para realizar qualquer plano de socorro ou beneficência, ou promover a
execução de obras públicas, monumentos, festivais, exposições, festejos e atos semelhantes, se não
pedirem o reconhecimento da personalidade da associação ou não a obtiverem, ficam sujeitas, na falta
de lei em contrário, às disposições subsequentes.” Art.º 12, alínea b do CC → “Têm ainda personalidade
judiciária as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais.”
d) As sociedades civis sob forma civil (art.º 980 do CC). Possibilidade de atribuição de
personalidade jurídica às sociedades civis? (art.º 157 do CC).
São sociedades criadas nos termos do art.º 980 do CC (“Contrato de sociedade é aquele em que duas ou
mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa
atividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa
atividade”) e não possuem personalidade jurídica. Apesar disto, têm personalidade judiciária.
Ao abrigo do art.º 157 do CC, “as disposições do presente capítulo são aplicáveis às associações que não
tenham por fim o lucro económico dos associados, às fundações de interesse social, e ainda às
sociedades, quando a analogia das situações o justifique”.
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Nos termos do art.º 12 do CC, temos presente a personalidade judiciária das sociedades comerciais
anteriormente ao registo definitivo do contrato sociedade.
Art.º 37 do CSC → “No período compreendido entre a celebração do contrato de sociedade e o seu
registo definitivo são aplicáveis às relações entre os sócios, com as necessárias adaptações, as regras
estabelecidas no contrato e na presente lei, salvo aquelas que pressuponham o contrato
definitivamente registado; 2 - Seja qual for o tipo de sociedade visado pelos contraentes, a transmissão
por ato entre vivos das participações sociais e as modificações do contrato social requerem sempre o
consentimento unânime dos sócios”.
Art.º 40 do CSC → “Pelos negócios realizados em nome de uma sociedade por quotas, anónima ou em
comandita por ações, no período compreendido entre a celebração do contrato de sociedade e o seu
registo definitivo, respondem ilimitada e solidariamente todos os que no negócio agirem em
representação dela, bem como os sócios que tais negócios autorizarem, sendo que os restantes sócios
respondem até às importâncias das entradas a que se obrigaram, acrescidas das importâncias que
tenham recebido a título de lucros ou de distribuição de reservas. 2 - Cessa o disposto no número
precedente se os negócios forem expressamente condicionados ao registo da sociedade e à assunção
por esta dos respetivos efeitos.”
3. O condomínio
Ao abrigo do art.º 1436 do CC, “são funções do administrador, além de outras que lhe sejam atribuídas
pela assembleia:
a) Convocar a assembleia dos condóminos
b) Elaborar o orçamento das receitas e despesas relativas a cada ano
c) Verificar a existência do seguro contra o risco de incêndio, propondo à assembleia o montante do
capital seguro
d) Cobrar as receitas e efetuar as despesas comuns
e) Exigir dos condóminos a sua quota-parte nas despesas aprovadas
f) Realizar os atos conservatórios dos direitos relativos aos bens comuns
g) Regular o uso das coisas comuns e a prestação dos serviços de interesse comum
h) Executar as deliberações da assembleia
i) Representar o conjunto dos condóminos perante as autoridades administrativas
j) Prestar contas à assembleia
l) Assegurar a execução do regulamento e das disposições legais e administrativas relativas ao
condomínio
m) Guardar e manter todos os documentos que digam respeito ao condomínio.”
4. Navios
Ao abrigo do art.º 28 do DL n.º 352/86, “1 - Se ocorrer a nulidade prevista no n.º 1 do artigo 10.º ou se o
transportador marítimo não for identificável com base nas menções constantes do conhecimento de
carga, o navio que efetua o transporte responde perante os interessados na carga nos mesmos termos
em que responderia o transportador. 2- Para efeito do disposto no número anterior, é atribuída ao navio
personalidade judiciária, cabendo a sua representação em juízo ao proprietário, ao capitão ou seu
substituto, ou ao agente de navegação que requereu o despacho do navio. 3- A responsabilidade
prevista no n.º 1 não prejudica a efetivação da estabelecida no n.º 2 do art.º 10, nos termos gerais de
direito.”
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O critério da imputação do facto fundamento da ação à própria sucursal (art.º 13, n.º 1 do CPC): “As
sucursais, agências, filiais, delegações ou representações podem demandar ou ser demandadas
quando a ação proceda de facto por elas praticado”.
A personalidade judiciária das sucursais relativa a factos praticados por pessoa coletiva estrangeira.
Requisitos (art.º 13, n.º 2 do CPC). “Se a administração principal tiver a sede ou o domicílio em país
estrangeiro, as sucursais, agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal
podem demandar e ser demandadas, ainda que a ação derive de facto praticado por aquela, quando a
obrigação tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.”
A falta de personalidade judiciária é insanável. Regra geral, não há forma de sanar/suprir) a forma de
personalidade judiciária.
12/11/2021
Uma criança de 5 anos pode ser parte num processo? Qualquer pessoa que tenha possibilidade
judiciária pode ser parte de um processo, pode demandar e ser demandado e esta possibilidade
judiciária é inerente à jurídica. No caso das pessoas singulares verifica-se que partindo do nascimento
completo e com vida e até à norma tem-se possibilidade jurídica e por isso tem-se possibilidade
judiciária. Tendo possibilidade judiciaria pode-se ser parte de um processo. Diferente disso é se pode ser
parte por si só e isso tem haver com o pressuposto seguinte que é o prossuposto da capacidade
judiciaria. A criança de 5 anos pode demandar e ser demandada, pode ser parte num processo, mas não
vai puder uma vez que não tem capacidade judiciaria é estar por si só no processo.
Capacidade judiciaria
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A capacidade judiciária está prevista no código no art.º 15, nº 1 que nos diz que a capacidade judiciaria é
a aptidão para alguém estar no processo por si só, ou seja, auto conduzir a sua participação enquanto
parte do processo. Pode-se ser parte por efeito de personalidade judiciaria, mas a capacidade judiciaria
é que dá a aptidão para se ser parte de um processo, mas a capacidade judiciaria é que dá a aptidão
para se estar por si só no processo. A capacidade judiciaria está também para a capacidade de exercício
de direitos de acordo com o art.º 15, nº 2. Este artigo diz-nos que a capacidade judiciaria tem por base e
por medida a capacidade de exercício de direitos, ou seja, quem tiver capacidade de exercício de direitos
tem capacidade judiciaria e, portanto, pode estar por si só em juízo, não precisa de estar acompanhado
por ninguém. Os incapazes não gozam de capacidade judiciaria. As incapacidades de direito civil que
conhecemos são:
Há ainda uma situação tradicional de incapacidade acidental que está prevista no art.º 20 do código de
processo penal que nos diz que as pessoas que por anomalia psíquica ou outro motivo grave estejam
impossibilitadas de receber a citação para a causa são representadas por um curador especial, mesmo
que não seja reconhecido como um maior acompanhado.
Incapacidade de menores
O art.º 123 do código civil diz-nos que os menores carecem de capacidade de exercício de direitos. O
art.º 122 diz-nos que é menor quem ainda não tiver completado 18 anos e o art.º 130 prevê o termo da
menor idade. Este último diz-nos que aquele que fizer 18 anos de idade adquire plena capacidade de
exercício de direitos ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens. Portanto, é aqui
que se cessa a menor idade. Há ainda uma outra situação em que é possível cessar a menor idade que é
o caso da emancipação que está previsto no art.º 132 e no art.º 133 do código civil. Um menor de 16
anos que contrair casamento com autorização dos pais ou com o suprimento da falta de autorização dos
pais fica emancipado pelas circunstâncias de ter contraído casamento e passa a conseguir reger a sua
pessoa e os seus bens. Isto não se verifica no caso de casamento de menores que contraia o casamento
sem autorização dos pais e sem o suprimento da falta dessa autorização. A falta de autorização pode ser
suprida pelo conservador do registo civil, mas se por acaso ele celebrar o casamento sem se dar conta
dessa irregularidade, desse impedimento, não obstante de contrair casamento mantém-se incapaz da
capacidade de exercício dos seus direitos. No caso dos menores a sua incapacidade é suprida pelos
poderes de representação parental nos termos do art.º 1881 do código civil. Quando não são os
menores representados pelos seus progenitores então há lugar à tutela. Os menores que por decisão
judicial tenha sido suprimida a representação parental são representados por um tutor e que resulta do
art.º 1921, nº1 e do art.º 1935 do código civil. Em certos casos alem do tutor pode ainda haver lugar a
um administrador de bens, portanto, nessas circunstâncias o tutor é responsável pela representação e
gestão da vida pessoal do menor e o administrador pela representação e gestão do património do
menor. Alem disso a incapacidade dos menores não é total porque ela compreende algumas exceções
que são também importantes, relevam para a lei processual civil que são as exceções do art.º 127 do
código civil que reconhece capacidade de exercício aos menores verificadas certas circunstâncias:
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Alínea a- para a prática do menor de atos de administração ou disposição dos bens que o
menor de 16 anos tenha adquirido pelo seu trabalho. Por exemplo: jogador de futebol,
empregado num bar, modelo, etc.
Alínea b- os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que estando ao alcance da
sua capacidade natural só impliquem despesas ou disposições de bens de pequena
importância. Por exemplo: o menor que recebe dos pais 10€ para comprar o almoço na escola.
Alínea c- os negócios jurídicos relativos à profissão, ato ou ofício que o menor tenha sido
autorizado a exercer ou os praticados no exercício dessa profissão, ato ou ofício. Aqui abrange-
se aquele tipo de situações em que o menor exerce uma profissão por conta própria. Por
exemplo: Um menor a mando dos pais ir sozinho para a feira com um bancas vender coisas. Ou
um menor que pinta quadros e vende os seus quadros.
Está previsto no art.º 138 e prevê, então, que em certas circunstâncias os maiores de idade possam ser
sujeitos a um acompanhamento, que tenham designado um acompanhante. Alguém que é escolhido
pelo tribunal para acompanhar aquele maior por algum tipo de deficiência cognitiva ou dificuldade de
gestão de matrimonio por razões que a própria lei indica, para acompanhar, supervisionar aquele maior
de idade. Mas esse acompanhamento pode ir tão longe ao ponto de estar investido de poderes de
representação legal. Nestes casos, do art.º 143, o acompanhante de menores é também o legal
representante do seu acompanhado.
18/11/2021
“Em função de cada caso e independentemente do que haja sido pedido, o tribunal pode cometer ao
acompanhante algum ou alguns dos regimes seguintes:
b) Representação geral ou representação especial com indicação expressa, neste caso, das categorias de
atos para que seja necessária.”
Esta representação pode ser geral ou especial. A representação geral dá-se quando o acompanhante
assume a legal representação do seu acompanhado em relação a todas as matérias da sua esfera
jurídica. Por sua vez, a representação especial está prevista quando o tribunal indica o conjunto de atos
ou matérias para os quais o acompanhado precisa do legal representante e, para os demais casos, não
terá legal representante.
Relativamente à aplicabilidade do regime de tutela, ao abrigo do art.º 145, n.º 4 do CC, “a representação
legal segue o regime da tutela, com as adaptações necessárias, podendo o tribunal dispensar a
constituição do conselho de família.” Este n.º 4 diz-nos que, quando um maior acompanhado está
sujeito a legal representação por parte do seu acompanhante, aplica-se o regime da tutela.
Ao abrigo do art.º 145, n.º 2, alínea c do CC, “em função de cada caso e independentemente do que haja
sido pedido, o tribunal pode cometer ao acompanhante algum ou alguns dos regimes seguintes: c)
Administração total ou parcial de bens.”.
Nos termos do art.º 145, n.º 5 do CC, “à administração total ou parcial de bens aplica-se, com as
adaptações necessárias, o disposto nos artigos 1967.º e seguintes.”
a. Os incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes (menores ou
maiores acompanhados sujeitos a representação), exceto quanto aos atos que possam exercer
pessoal e livremente (art.º 16, n.º 1 do CPC).
Art.º 16, n.º 1 CPC → “Os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só pode estar
em juízo por intermédio dos seus representantes, exceto quanto aos atos que possam exercer pessoal e
livremente.” – ex. os menores têm capacidade de exercício relativamente a alguns atos e negócios
jurídicos e, também, capacidade judiciária e podem estar por si só, mas apenas nessa esfera (art.º 16 do
CPC).
A incapacidade judiciária consiste em não se poder estar por si só em juízo. Quando estamos perante
uma incapacidade judiciária, a mesma tem de ser suprida. Posto isto, a falta deste pressuposto
processual tem de ser suprida daquela incapacidade judiciária.
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Ao abrigo do art.º 16, n.º 2 e n.º 3 do CPC, quanto aos menores cuja responsabilidade parental esteja
assegurada por ambos os pais, a sua representação cabe sempre a ambos os progenitores, desde que
ambos exerçam as responsabilidades parentais. Isto vale quer na propositura da ação, quer na
capacidade judiciária passiva. É necessário o acordo de ambos os pais para a propositura da ação (se os
progenitores quiserem propor uma ação em nome do filho, têm de estar ambos de acordo) e, quando é
proposta uma ação contra o menor, têm de ser citados ambos os progenitores (o menor é citado na
pessoa dos dois progenitores).
Se houver desacordo dos pais na representação do menor, nos termos do art.º 18 do CPC, qualquer um
deles pode requerer ao competente tribunal para a causa que resolva o conflito. O tribunal terá de
dirimir se a ação prossegue ou não.
Se o desacordo surgir no decurso do processo, quanto à forma como conduta do menor, deve ser
conduzida no processo, independentemente de ser um processo iniciado pelo menor ou contra o
menor. Qualquer um dos progenitores pode requerer ao juiz da causa que providencie sobre a forma de
o incapaz ser representado, suspendendo-se, entretanto, a instância. Em primeiro lugar, o tribunal ouve
o progenitor que não requereu, depois, ouve também o Ministério Público. Depois, decide em prol do
interesse do menor, avaliando o que é mais conveniente para ele. Ou seja, o tribunal decide qual é a
solução melhor para a divergência entre os pais na condução do litígio, podendo optar por uma das três
alternativas:
A capacidade judiciária dos maiores acompanhados não sujeitos a representação (art.º 19 do CPC).
Art.º 19 do CPC → “Os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação podem intervir
em todas as ações em que sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus, sob
pena de se verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido citado o
acompanhante. 2 - A intervenção do maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização fica
subordinada à orientação do acompanhante, que prevalece em caso de divergência.”
No caso dos maiores acompanhados que não estão sujeitos a representação, estes possuem um
acompanhante que não os representa ou, então, é necessária a autorização do mesmo para
determinados atos. O art.º 19 do CPC diz-nos que o acompanhante não se substitui ao maior
acompanhado, desde que não esteja sujeito a representação. O maior acompanhado tem de estar no
processo sob orientação do acompanhante e, caso haja divergências entre a posição de ambos,
prevalece a posição do acompanhante.
Representação passiva dos incapazes pelo MP: Art.º 21 do CPC → “Se o ausente ou o incapaz, ou os
seus representantes, não deduzirem oposição, ou se o ausente não comparecer a tempo de a deduzir,
incumbe ao Ministério Público a defesa deles, para o que é citado, através do sistema de informação de
suporte à atividade dos tribunais, nos termos definidos na portaria prevista no n.º 2 do artigo 132.º,
presumindo-se a citação efetuada no terceiro dia posterior ao do seu envio, correndo novamente o
prazo para a contestação.
A lei prevê, ainda, um papel especial para o Ministério Público no processo cível, nos termos do art.º 21
CPC: tutela dos incapazes. Suponhamos que, por intermédio de quem o representa (do seu
representante legal), foi proposta uma ação contra o menor; os pais foram citados; e o menor não
contestou (réu revel). Como existe, aqui, um interesse público, a consequência da revelia será o efeito
culminatório semipleno, considerando-se provados os factos que o autor alegou na petição inicial. É
desta forma que o legislador trata a inércia do réu. Se o réu não contestar no prazo estipulado,
“problema dele”. Isto apenas vale quando o réu é uma pessoa capaz de zelar pelos seus próprios
interesses. Se o réu for um menor de idade, não pode estar por si só no processo, estando representado
legalmente. Por outro lado, se o réu for um adulto portador de uma deficiência cognitiva profunda e
tiver um representante e não contestar, isso significa que quem estava encarregue de zelar pelos seus
interesses não o cumpriu. Nos termos do art.º 21 n.º1 CPC, nesse caso, cita-se o menor novamente na
pessoa do Ministério Público, de forma a que este assuma a defesa desse menor. Pode, ainda, acontecer
que o Ministério Público já represente o autor daquela ação e, nesse caso, estaríamos perante um
conflito de interesses: no mesmo processo, o MP era representante do seu réu incapaz e autor. Neste
caso, há a nomeação de um defensor oficioso, que se irá manter no processo a representar o incapaz até
que seja constituído o mandatário judicial do incapaz, ou seja, até que os legais representantes
constituam um mandatário e, nessa altura, cessa a intervenção do Ministério Público ou do defensor
oficioso.
Representação ativa dos incapazes pelo MP: Art.º 23 do CPC → “Incumbe ao Ministério Público, em
representação de incapazes e ausentes, intentar em juízo quaisquer ações que se mostrem necessárias à
tutela dos seus direitos e interesses.
2 - A representação cessa logo que seja constituído mandatário judicial do incapaz ou ausente, ou
quando, deduzindo o respetivo representante legal oposição à intervenção principal do Ministério
Público, o juiz, ponderado o interesse do representado, a considere procedente.”
Ao abrigo do art.º 23 do CPC, o MP pode propor ações em representação de incapazes,
independentemente da vontade dos representantes legais dos mesmos, se entender que essas ações
são necessárias à tutela dos direitos e interesses dos incapazes. O n.º 2 deste artigo refere que, logo que
os seus representantes judiciários intervenham na ação, mediante a constituição de mandatário, essa
representação do MP termina.
Extensão do regime da tutela dos incapazes aos ausentes (art.º 21 e 23 CPC)
Os ausentes são pessoas cujo paradeiro é desconhecido (não se sabe onde se encontram). O que é
aplicado em relação aos incapazes, ao abrigo do art.º 21 e 23 CPC, aplica-se igualmente aos ausentes.
comercial; etc) e a sua representação judiciária. A pessoa jurídica é representada no processo pelos seus
representantes de direito substantivo, que são aqueles que a lei ou os estatutos indicarem, dependendo
do tipo de pessoa jurídica que esteja em causa. O n.º 2 do art.º 25 do CPC acautela uma situação que
pode existir quando há um conflito de interesses entre a pessoa jurídica e o seu representante judiciário:
o juiz a quo atribui um curador ad litem que vai representar essa pessoa, de modo que essa não seja
representada por alguém que está em conflito de interesses com ela. Este n.º 2 aplica-se também nos
casos em que a pessoa coletiva ou a sociedade que é demandada não tem quem as represente. Nessas
situações, o tribunal nomeia um curador ad litem.
A representação judiciária dos patrimónios autónomos e demais entidades desprovidas de
personalidade jurídica (art.º 26 do CPC) – ex. comissões de festas. Art.º 26 do CPC → Representação das
entidades que careçam de personalidade jurídica: “Salvo disposição especial em contrário, os
patrimónios autónomos são representados pelos seus administradores e as sociedades e associações
que careçam de personalidade judicia, bem como as sucursais, agências, filiais ou delegações, são
representadas pelas pessoas que ajam como diretores, gerentes ou administradores.”
A representação judiciária do Estado pelo Ministério Público (art.º 24 do CPC). Art.º 24 do CPC → “O
Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que a lei especialmente
permita o patrocínio por mandatário judicial próprio, cessando a intervenção principal do Ministério
Público logo que este esteja constituído.
2 - Se a causa tiver por objeto bens ou direitos do Estado, mas que estejam na administração ou fruição
de entidades autónomas, podem estas constituir advogado que intervenha no processo juntamente com
o Ministério Público, para o que são citadas quando o Estado seja réu; havendo divergência entre o
Ministério Público e o advogado, prevalece a orientação daquele.” O Estado tem personalidade jurídica,
pela própria natureza, sem necessidade que lhe seja reconhecida pelo ordenamento jurídico. Perante as
ações propostas pelo Estado ou contra o Estado, este é representado pelo Ministério Público ou, em
casos especiais, por mandatário judicial.
Se estivermos perante uma situação de incapacidade judiciária que não foi suprida, a lei prevê
mecanismos para regularizar esta situação. No caso de incapazes, o art.º 27 CPC regula esta matéria,
dizendo: “A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a
intervenção ou a citação do representante legítimo do incapaz.
2- Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício não existisse;
no caso contrário, fica sem efeito todo o processado posterior ao momento em que a falta se deu ou a
irregularidade foi cometida, correndo novamente os prazos para a prática dos atos não ratificados, que
podem ser renovados.
3- Se a irregularidade verificada consistir na preterição de algum dos pais, tem-se como ratificado o
processado anterior, quando o preterido, devidamente notificado, nada disser dentro do prazo fixado;
havendo desacordo dos pais acerca da repetição da ação ou da renovação dos atos, é aplicável o
disposto no artigo 18.º.
4- Sendo o incapaz autor e tendo o processo sido anulado desde o início, se o prazo de prescrição ou
caducidade tiver, entretanto terminado ou terminar nos dois meses imediatos à anulação, não se
considera completada a prescrição ou caducidade antes de findarem estes dois meses.” A incapacidade
judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a intervenção ou citação do
representante legitimo do incapaz. Se se tratar de um menor, chamam-se a intervir os pais. Caso se trate
de um maior acompanhado, cita-se o seu acompanhante. Neste tipo de situações, o menor ou o incapaz
já desenvolveu atividade processual sem estar devidamente representado por quem fosse o seu legal
representante, ou seja, o incapaz ou o menor desenvolveram atividade no processo, quando não estava
devidamente representado, logo é irregular. Por razões de economia processual, a lei dá oportunidade
ao representante de se notificado ou citado para intervir, para ratificar os atos que forem anteriormente
praticados pelo incapaz ou menor. Se o representante ratificar, o processo prossegue como se o vício
não existisse. Se o representante chamado ao processo não ratificar o que o seu representado fez (n.º
2), “fica sem efeito todo o processado posterior ao momento em que a falta se deu ou a
irregularidade foi
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cometida, correndo novamente os prazos para a prática dos atos não ratificados, que podem ser
renovados”, isto é, o processo volta atrás e tudo o que o menor ou o incapaz fez é renovado, depois, na
presença do representante.
No caso de os menores e o vício da representação resultar de apenas ter tido representação de um dos
progenitores e não de ambos, aplica-se uma regra do valor positivo do silêncio, nos termos do art.º 29
n.º 3 do CPC. O menor teve representado no processo por apenas um dos seus progenitores e o tribunal
notifica o outro progenitor para ratificar ou dizer que não ratifica aquilo que o filho fez representado
apenas pelo pai. Se nada disser no prazo que lhe foi atribuído, considera-se uma ratificação tácita por
parte do progenitor. Na ratificação dos atos praticados no processo pelo menor, se os pais tiverem em
desacordo, nesse caso, aplicam-se as regras do art.º 18 do CPC.
A falta de autorização ou deliberação exigida por lei (art.º 29 do CPC). “Se a parte estiver devidamente
representada, mas faltar alguma autorização ou deliberação exigida por lei, é designado o prazo dentro
do qual o representante deve obter a respetiva autorização ou deliberação, suspendendo-se,
entretanto, os termos da causa.
2 - Não sendo a falta sanada dentro do prazo, o réu é absolvido da instância, quando a autorização ou
deliberação devesse ser obtida pelo representante do autor; se era ao representante do réu que
incumbia prover, o processo segue como se o réu não deduzisse oposição.” O art.º 29 do CPC trata o
caso de pessoas jurídicas em que a representação judiciária está dependente de alguma autorização
especial.
Oficiosidade do juiz na regularização da incapacidade judiciária não suprida e da regularização da
representação judiciária (art.º 28, n.º 1 do CPC: “Logo que se aperceba de algum dos vícios a que se
refere o artigo anterior, deve o juiz, oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pela regularização da
instância.” Ou seja, a incapacidade judiciária e a irregularidade da representação judiciária são de
conhecimento oficioso do tribunal. O juiz deve oficiosamente averiguar pelo preenchimento deste
pressuposto processual. Sempre que se dê conta de que há um incapaz que está indevidamente
representado, isto é, que há uma irregularidade, o tribunal toma conhecimento disso e acarreta as
iniciativas que estejam ao seu alcance para suprir a falta deste pressuposto processual.
As imunidades jurisdicionais
Esta competência prende-se com a circunstância de algumas categorias de pessoas gozarem de
imunidades de jurisdição, isto é, não podem ser julgadas por tribunais portugueses. Ainda que tenham
imunidade jurisdicional, os tribunais portugueses não as podem julgar, logo o processo não prossegue.
Estas imunidades provêm do Direito Internacional Público, na medida em que têm a sua fonte no plano
das relações jurídicas internacionais.
Estas imunidades são de direito interno e não subtraem as pessoas à jurisdição dos tribunais. Aqui,
tratamos de imunidades de jurisdição, no sentido em que certas pessoas não podem ser julgadas nos
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tribunais de determinados estados. Estas imunidades jurisdicionais podem dizer respeito a: Estados ou
pessoas jurídicas internacionais e pessoas singulares (individuais).
Durante muito tempo, as imunidades dos estados estrangeiros foram uma regra de ius cogens. A
Convenção das Nações Unidas sobre as imunidades jurisdicionais dos estados foi aprovada e ratificada
em Portugal. A Convenção das Nações Unidas sobre as imunidades jurisdicionais dos estados foi
aprovada e negociada sob a égide das Nações Unidas e ratificada pelo Estado português, já estando em
vigor entre nós e na comunidade internacional. Desta Convenção, resulta uma regra geral que está
prevista no seu art.º 5: imunidade dos estados perante os tribunais de outros estados. Esta regra é uma
regra recíproca, no sentido em que o Estado português goza de imunidade nos tribunais brasileiros,
americanos, etc., e, por isso, não pode ser julgado nos tribunais de outro estado, e vice-versa, que
decorre do princípio da igualdade dos estados. No fundo, nenhum estado pode arvorar-se no poder de
julgar do outro estado. Regra geral, um estado não pode ser julgado nos tribunais de outro estado. Os
tribunais portugueses não podem julgar estados estrangeiros. Contudo, esta regra geral comporta várias
exceções, nomeadamente:
• Renúncia expressa: Um estado pode renunciar à sua imunidade (art.º 7 da CNUIEB). Se o estado
renunciar à sua imunidade, depois não a pode invocar. Esta renúncia pode resultar num acordo
internacional, num contrato que esse estado celebrou ou, então, numa declaração unilateral
que o tribunal apresenta já depois de proposta a ação. Esta é uma das exceções à regra geral de
imunidade dos estados.
Quanto aos litígios excluídos do âmbito da imunidade dos Estados, estes estão previstos nos art.º 10 e
17 da CNUIEB. O art.º 10 trata as transações comerciais. Ao abrigo do n.º 1 deste artigo, se o Estado
celebrar uma transação comercial (por exemplo, o Estado espanhol vende mercadorias a uma empresa
portuguesa), não pode invocar imunidade. Porém, esta exceção não se aplica, se se tratar de uma
transação comercial entre Estados ou se ficar expressamente acordado no contrato que está na base
dessa transação comercial que o estado gozará de imunidade de jurisdição. Por sua vez, o artigoº11
abarca os contratos de trabalho, nos termos do qual um estado que contrata no estrangeiro um
funcionário local não pode invocar imunidade de jurisdição em relação a esses contratos de trabalho. O
artigoº12 prevê a responsabilidade civil extracontratual por dano (à morte ou integridade à vida) e
cometidas por um Estado no território de outro Estado. O art.º 13 consiste em ações reais, na medida
em que, se se estiver a discutir a propriedade de um imóvel situado em Portugal que o Estado espanhol
diz ser propriedade sua, e esse imóvel está situado em Portugal, os tribunais portugueses podem julgar
o Estado espanhol, no âmbito
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desta questão. Nos termos do art.º 15, se algum acionista pedir a dissolução da sociedade, por exemplo,
o Estado espanhol não pode invocar imunidade de jurisdição.
Ao abrigo do art.º 17, um Estado não pode invocar imunidade de jurisdição, quando os tribunais de
outro Estado vão apreciar a validade de uma convenção de arbitragem que esse estado celebrou.
As exceções à imunidade previstas nos art.º 7, 8, 9, 10 e 17 não se aplicam automaticamente aos
procedimentos cautelares no âmbito de uma ação (art.º 18). O facto de não existir imunidade de
jurisdição, quanto a uma determinada ação judicial, não implica que também não haja imunidade
jurídica contra as medidas cautelares, no âmbito dessa ação judicial. Um estado pode não ter imunidade
de jurisdição face a um processo, mas pode ter face a procedimentos cautelares pertencentes a esse
mesmo processo.
O art.º 19 prevê a execução das decisões judicias. Um estado pode não gozar de imunidade de jurisdição
relativamente a um processo, e isso não implica que a sentença proferida possa ser coercivamente
executada contra esse estado.
Quanto à imunidade das organizações internacionais, não há nenhuma norma geral que preveja a sua
imunidade. Como são criadas por tratados internacionais, é natural que estes prevejam especificamente
uma norma de imunidade de jurisdição.
Imunidades individuais
d) «Membros do pessoal diplomático» são os membros do pessoal da missão que tiverem a qualidade
de diplomata;
e) «Agente diplomático» é tanto o chefe da missão como qualquer membro do pessoal diplomático da
missão;
h) «Criado particular» é a pessoa do serviço doméstico de um membro da missão que não seja
empregado do Estado acreditante;
i) «Locais da missão» são os edifícios, ou parte dos edifícios e terrenos anexos, seja quem for o seu
proprietário, utilizados para as finalidades da missão, inclusive a residência do chefe da missão.”
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Regra geral, o agente diplomático goza de imunidade jurisdicional penal do estado acreditador.
(Estado acreditante – envia o pessoal diplomático; Estado acreditador – recebe o pessoal diplomático).
O diplomata acreditado, em Portugal, goza de imunidade jurisdicional nos tribunais portugueses. Porém,
existem exceções que estão previstas nas três alíneas do art.º 30:
a) “Uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditador, salvo se o
agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da missão”;
b) “Uma ação sucessória na qual o agente diplomático figura, a título privado e não em nome do
Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário” - ex. processo de
partilhas, em que intervém como herdeiro;
c) “Uma ação referente a qualquer atividade profissional ou comercial exercida pelo agente
diplomático no Estado acreditador fora das suas funções oficiais” – o agente diplomático, além
de trabalhar na embaixada, também faz traduções jurídicas para, por exemplo, ganhar mais
dinheiro.
O n.º 2 do art.º 30 diz-nos que o agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como
testemunha. Existe, ainda, uma outra exceção que está prevista no art.º 32, n.º 3: se o agente
diplomático tomar a iniciativa de desencadear uma ação num tribunal português, não pode, depois,
invocar a imunidade jurisdicional, se nessa ação lhe for pedido um pedido reconvencional contra si – “Se
um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do art.º 37 inicia
uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma
reconvenção diretamente ligada à ação principal.”
Ao abrigo do art.º 32, n.º 1, “o Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus
agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do art.º 37”.
O art.º 37 estende estas imunidades aos familiares dos agentes diplomáticos, desde que estas
preencham duas condições: vivam com o agente diplomático e não sejam nacionais do Estado
acreditador (no nosso caso, não podem ter a nacionalidade portuguesa). O art.º 37, n.º 2 trata aqueles
funcionários menores (ex. assessores, contabilistas, economistas, etc.) – esses e os familiares que os
acompanhem gozarão da imunidade prevista no art.º 31 com a ressalva de que a imunidade de
jurisdição civil não se estenderá aos atos por eles praticados fora do exercício das suas funções. No
fundo, não possuem imunidade de jurisdição civil face a atos que digam respeito à sua vida privada.
O n.º 3 do art.º 37 refere que: “os membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do
Estado acreditador nem nele tenham residência permanente gozarão de imunidades quanto aos atos
praticados no exercício de suas funções, de isenção de impostos e taxas pobre os salários que
perceberem pelos seus serviços e da isenção prevista no artigo 33.º.”
O n.º 4 do art.º 37 refere que: “os criados particulares dos membros da missão que não sejam nacionais
do Estado acreditador nem nele tenham residência permanente estarão isentos de impostos e taxas
sobre os salários que perceberem pelos seus serviços. Nos demais casos, só gozarão de privilégios e
imunidades na medida reconhecida pelo referido Estado. Todavia, o Estado acreditado deverá exercer a
sua jurisdição sobre tais pessoas de modo a não interferir demasiadamente com o desempenho das
funções da missão.” A única imunidade que os criados particulares dos membros da missão possuem é
fiscal, sendo que não possuem imunidade civil.
Quanto à imunidade do pessoal consular, a Convenção de Viena sobre as relações consulares regula as
relações entre o estado e os seus cidadãos residentes no território de outro estado.
O objeto do consulado é assegurar a representação de um estado com os seus cidadãos. A Convenção
de Viena sobre as relações consulares regula, ainda, as imunidades dos funcionários consulares. O art.º
43 desta Convenção refere que a imunidade está restringida apenas aos atos praticados no exercício das
funções consulares, excluindo as circunstâncias relativas à vida privada dos funcionários consulares.
Art.º 43, n.º 1 → “Os funcionários consulares e os empregados consulares não estão sujeitos à
jurisdição das
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autoridades judiciárias e administrativas do Estado recetor pelos atos realizados no exercício das
funções consulares.”
Ao abrigo do art.º 57, n.º 2, “os privilégios e imunidades previstos no presente capítulo não serão
concedidos:
a) Aos empregados consulares ou membros do pessoal de serviço que exerçam no Estado recetor
atividade privada de carácter lucrativo;
b) Aos membros da família das pessoas mencionadas na alínea a) do presente parágrafo e aos
membros do seu pessoal privativo;
c) Aos membros da família de um membro do posto consular que exerçam no Estado recetor
atividade privada de carácter lucrativo.”
No fundo, este n.º 2 diz-nos que: quem exercer uma atividade profissional remunerada ou lucrativa no
estado recetor, não pode beneficiar da imunidade de jurisdição.
Nos termos do art.º 45, “1. O Estado que envia poderá renunciar, com relação a um membro do posto
consular, aos privilégios e imunidades previstos nos art.º 41, 43 e 44.
2. A renúncia será sempre expressa, exceto no caso do disposto no parágrafo 3 do presente artigo, e
deve ser comunicada por escrito ao Estado recetor.
3. Se um funcionário consular ou um empregado consular propuser uma ação judicial sobre matéria de
que goze de imunidade de jurisdição de acordo com o disposto no art.º 43, não poderá alegar esta
imunidade quanto a qualquer pedido de reconvenção diretamente ligado à demanda principal.
4. A renúncia à imunidade de jurisdição quanto a ações civis ou administrativas não implicará a renúncia
à imunidade quanto a medidas de execução de sentença, para as quais uma renúncia distinta se torna
necessária.” O Estado que envia o pessoal consular pode renunciar. O n.º 3 prevê a renúncia tácita, nos
termos da qual se o funcionário consular iniciar uma ação cível, não pode invocar, depois, a imunidade
de jurisdição, se nessa mesma ação vier a ser deduzida contra si uma reconvenção.
No entanto, não estão previstas neste tratado quaisquer imunidades de jurisdição cível para os
familiares dos funcionários consulares. Ou seja, não está prevista uma imunidade equivalente aos
familiares, sendo que estes não gozam de qualquer tipo de imunidade no estado onde residam, ainda
que na companhia do funcionário consular.
No plano do direito internacional, também é reconhecida uma imunidade jurisdicional aos Chefes de
Estado estrangeiros. Isto resulta do princípio de ius cogens, nos termos do qual os Chefes de Estado
gozam de imunidade jurisdição nos demais estados (por ex., um tribunal português não pode julgar o
Chefe de Estado espanhol). Isto abrange quer litígios penais, quer litígios cíveis.
No âmbito das imunidades individuais, há, ainda, lugar a imunidades individuais relativamente ao
funcionários e agentes das organizações internacionais. Estes habitualmente gozam também de
imunidade de jurisdição penal e cível, mas essa não resulta de uma norma geral, de nenhum tratado
internacional, sendo que, normalmente, é o próprio tratado que prevê numa norma avulsa essas
imunidades de jurisdição.
19/11/2021
Caso prático
meses correspondente à duração de uma formação escolar que vieram realizar na Instituto Português
do Vinho em Gaia. Em fevereiro desse ano Carlos contraiu casamento, no regime da comunhão de
adquiridos, com Helena. Em 20 de março, Bernardo resolveu instalar um laboratório de microbiologia no
seu quarto na fração arrendada a Carlos e sem autorização deste, para o efeito demolindo várias
paredes internas e removendo reboco de revestimento da parede e as alcatifas. Tendo tomado
conhecimento dessa circunstância, Carlos propôs contra Bernardo uma ação peticionado a resolução do
contrato de arrendamento e a condenação de Bernardo a pagar uma indeminização no valor de 1.990
euros.
Diogo e Eduarda, pais de Bernardo e seus representantes legais, não se entendem quanto à posição que
o filho deve adotar no processo: para o pai, a conduta do filho é irrepreensível porque foi um ato
adotado em benefício da sua formação e nada tem de pagar ao senhorio, enquanto a mãe é do
entendimento que o filho deve confessar o pedido e pagar a indeminização pedida.
Entretanto, estando Álvaro a tomar um shot no bar “Vai prós copos” na Rua das Galerias de Paris, no
Porto, conheceu Ugo, de 19 anos, filho do Cônsul da república italiana nesta cidade e com ele residente.
Ao fim de alguns shots, desentendem-se e iniciam uma zaragata e Ugo desfere um murro em Álvaro,
provocando-lhe a cegueira num olho e causando-lhe a necessidade de se socorrer de tratamentos
medico cirúrgicos no valor de 30.000 euros.
Inconformado com essas despesas Álvaro intenta no tribunal da Comarca do Porto uma ação contra Ugo
peticionando a condenação deste a pagar-lhe uma indeminização de 30.000 euros. Devidamente citado,
Ugo vem invocar a sua imunidade por ser filho de um agente consular acreditado em Portugal e com
este residir.
Temos sempre de ver a pretensão que ele pede. Ele pede 30 mil euros, então o valor da causa é 30 mil
euros. Temos de fazer uma introdução, explicar o que é o valor da causa, para que é que serve, quais
são as regras. Quando se pede um valor em dinheiro é esse o valor da causa. Já na ação por Carlos é de
1.990 euros mais os três mil euros que pagou em dois anos e meio de renda, ou seja, 4.990 euros. O
valor da causa é determinado não pela realidade da situação, mas pelo pedido que é deduzido em
tribunal e o pedido é uma ação de resolução de contrato e a indeminização no valor de 1.990 euros.
b) Qual a solução para a divergência entre Diogo e Eduarda acerca da conduta processual do seu
filho Bernardo?
Antes de respondermos temos de fazer uma introdução. O Bernardo tem personalidade judiciaria, desde
o momento que adquire personalidade jurídica tem personalidade judiciaria que é desde o nascimento
concreto e com vida, ou seja, pode ser parte numa ação. Outra coisa distinta é saber se ele está por si só
em juízo, se pode auto conduzir ou determinar a sua conduta enquanto parte. A isto corresponde há
capacidade judiciaria. O Bernardo tem capacidade judiciaria na medida que tem capacidade de exercício
de direitos, sendo que ele é menor de idade não tem capacidade de exercício e se não tem capacidade
de exercício não tem capacidade judiciaria. No entanto existe três exceções a esta regra e aqui neste
caso prático essas exceções não estão presentes. Portanto, não tem capacidade de exercício o que
significa que não tem capacidade judiciaria. Como é que é suprida a incapacidade judiciaria dos
menores? Pela intervenção jurídica em nome dele, em sua representação, ele é a parte, mas não pode
estar sozinho, está em tribunal por intermedio dos seus legais representantes. No art.º 16, nº 2 diz que
no caso dos menores representados por ambos os pais, que é o caso, estes têm de estar de acordo. Eles
não estão de acordo, então esta divergência entre o pai e a mãe é resolvido através do art.º 18. Este
art.º 18 prevê a situação da divergência dos pais quanto à propositura da ação e prevê a situação da
divergência dos pais na condução do processo. O nº 1 é para a primeira situação e o nº 2 é para a
segunda. Aqui vamos aplicar o nº 2. (temos de aplicar vem a alínea deste artigo). Então neste caso os
pais têm de pedir ao juiz daquele processo que resolva, que decida, esta divergência. Esta é resolvida
através do art.º 18, nº 3, ou seja, o juiz da causa vai resolver a divergência ou atribuindo naquele
processo a representação do Bernardo ou ao pai ou à mãe conforme o interesse do menor ou nomear
um curador ad litem para representar o menor só naquele processo ou então entregar a representação
do menor naquele processo ao ministério público.
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Estamos no âmbito da submissão à jurisdição dos tribunais portugueses, sabendo nós que há
determinadas categorias de pessoas que não estão submetidas, que estão isentas da jurisdição dos
tribunais portugueses. Essas categorias podem ser pessoas jurídicas no caso dos estados ou
organizações internacionais ou pessoas singulares. No caso das pessoas singulares temos o pessoal
diplomático e o consular e das organizações internacionais, mas aqui o que nos interessa é as
imunidades de jurisdição favorecidas ao pessoal consular e aos seus familiares. No caso destas pessoas
as suas imunidades de jurisdição estão reguladas na convenção de Viena sobre as convenções
consulares que no seu art.º 47 prevê imunidade de jurisdição civil apenas para os funcionários
consulares e mesmo assim com várias exceções, não prevendo imunidades civis para os familiares.
26/11/2021
(Nota: O início da aula foi a corrigir o teste e numa aula de 1h demos pouca matéria depois).
Capacidade postulatória
Também conhecida por “patrocínio judiciário/forense” (não é precisamente a mesma). A capacidade
postulatória define-se como a suscetibilidade de por si só pleitear (intervir no processo praticando atos
processuais) o juízo praticando atos processuais.
- Personalidade judiciária;
- Capacidade judiciária;
- Capacidade postulatória.
Relativamente à capacidade postulatória, por exemplo, uma criança menor de idade com 5 anos não
tem capacidade judiciária, mas ambos os pais gozam de capacidade postulatória, enquanto
representantes do menor, e têm de constituir um mandatário. Uma criança de 5 anos goza da
suscetibilidade de não estar por si só em juízo, ou seja, não pode autodeterminar a sua conduta, mas
também não pode por si só praticar no processo os atos processuais que o processo implica.
O regime regra é o que está previsto no art.º 42 do CPC. As partes dispõem de capacidade postulatória
nas causas em que não seja obrigatória a constituição de advogado. Quando a lei não exige a
constituição obrigatória de advogado, as partes gozam de capacidade postulatória, logo podem pleitear
por si próprias, isto é, podem estar por si só no processo e praticarem os atos processuais que
entenderem pertinentes. Contudo, neste caso, temos, ainda, a limitação do art.º 40, n.º 3 do CPC,
segundo a qual as partes, quando pleiteiem por si próprias sem constituírem advogado, não podem
inquirir as testemunhas (a inquirição é feita pelo juiz).
Do art.º 42 do CPC decorre o inverso. Sempre que a lei processual imponha como obrigatória a
constituição de advogado, as partes não gozam de capacidade postulatória. Neste caso, estamos
perante incapacidade postulatória que terá de ser suprida através da intervenção de um mandatário.
Sendo este o regime-regra, existem algumas situações particulares:
• Nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, a lei atribuiu às partes capacidade
postulatória residual. Esta capacidade consiste na capacidade de as partes pleitearem por si
próprias, mas limitadas a certos tipos de atos processuais (art.º 40, n.º 2 do CPC), relativamente
à matéria de facto. Neste caso, as partes não podem fazer requerimentos, nem ter qualquer
tipo de intervenção processual em que se suscite matéria jurídica.
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• Ao abrigo do art.º 19 da EMJ + art.º 93 da EMP, atribui-se capacidade postulatória, quando eles
próprios são partes no processo ou os seus conjugues ou descendentes, podendo praticar atos
processuais. Ex. O filho de um procurador tem um processo de natureza cível da vida particular
dele. O procurador pode ser mandatário do filho, assegurando esse patrocínio.
2/12/2021
O patrocínio judiciário é uma forma de representação técnica da parte do no processo. A lei quer
alguém que habilite o representado a agir no processo de forma tecnicamente sólida e bem preparada
(e não alguém que firma a vontade do mesmo).
A fonte do patrocínio judiciário é uma procuração forense, através da qual a parte (ou, se a parte não
tiver capacidade judiciária, o representante da mesma) constitui um patrono ou mandatário, que irá
pleitear em seu nome (que a vai representar tecnicamente no processo). Ao abrigo do art.º 43 do CPC, a
procuração forense pode ser conferida por escritura pública ou documento particular. O mandato é
conferido fora do processo, ou seja, extra processualmente. O tribunal não consegue adivinhar que as
partes outorgaram extra processualmente uma procuração e, portanto, quando assim se sucede, a
procuração tem de ser levada ao reconhecimento do processo. Por outras palavras, a procuração tem
de ser junta ao processo, sendo que, normalmente, é o advogado que faz isso. A procuração também
pode ser outorgada por declaração verbal, no próprio processo. Neste caso, em que a procuração é
verbal, o arguido diz que constitui como advogado o senhor X, e fica estipulado no processo.
Nos termos do art.º 44, n.º 4 do CPC, a procuração carece de conhecimento e de aceitação do
mandatário. Não basta que o cliente escolha quem quer como mandatário. Esta aceitação pode ser
expressa (quando é manifestada no próprio instrumento ou no documento particular) ou tácita (quando
resulta de um comportamento concludente do mandatário).
O patrocínio judiciário pode, ainda, resultar de nomeação pela Ordem dos Advogados, que irá nomear X
advogado como patrono daquela parte. Isto acontece em duas circunstâncias:
• Art.º 51 do CPC → Nesta situação, já a parte procurou vários advogados e nenhum aceitou ser
seu patrono. Então, a parte dirige-se à Ordem dos Advogados, dizendo que é parte num
processo cível e precisa de um advogado, porque não foi aceite por nenhum advogado daquela
comarca. Posto isto, a Ordem concede-lhe um patrono. Neste caso, a fonte do patrocínio
judiciário é a nomeação pela própria Ordem (em processo cível é bastante raro acontecer).
• Casos de apoio judiciário (art.º 30 da Lei 34/2004 – Lei de acesso ao direito). Nesta situação, a
parte não tem condições para suportar os custos de contratação de um advogado e, então,
dirige-se à Segurança Social, justificando as suas necessidades económicas. A Segurança Social,
se aprovar, transmite à Ordem dos Advogados, que, por sua vez, irá nomear um advogado para
aquela pessoa, que será o seu patrono no processo. Os honorários daquele mandatário serão
pagos pelo Estado, de acordo com uma tabela fixada. A parte não pode escolher o seu
advogado, cabendo à própria Ordem a nomeação do mesmo. Esta situação já é mais comum no
processo cível, sendo que, também aqui, o mandatário (patrono) é nomeado pela Ordem dos
Advogados.
O art.º 49 do CPC permite, ainda, que o patrocínio forense (patrocínio judiciário) possa ser exercido a
título de gestão de negócios (art.º 464 do CC). Aqui, “negócio” é no sentido de qualquer negócio
jurídico. Quando alguém assume a direção de um negócio jurídico alheio no interesse e por conta
dessa pessoa sem estar autorizado por essa mesma pessoa. A figura do patrocínio forense também
pode existir no domínio do patrocínio judiciário previsto no art.º 49 do CPC. O advogado pode assumir o
patrocínio de outra pessoa sem estar autorizado pela mesma, desde que se trate de uma situação de
urgência. Este patrocínio a título de gestão de negócios tem de ser ratificado pela própria parte. O juiz
fixará um prazo para a parte ratificar a gestão e, se dentro desse prazo, a parte não ratificar o que o
advogado fez em sua
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representação não estando autorizado, esses atos são anulados e o advogado é condenado nas custas
do processo.
O mandato forense (ou patrocínio forense) tem a natureza jurídica de um contrato de mandato com
representação (também designado “contrato de mandato representativo”). O Código Civil prevê o
contrato de mandato nos seu art.º 1157 e seguintes. O mandato é um contrato entre duas partes (o
mandante e o mandatário), através do qual o mandatário se obriga perante o mandante a praticar atos
jurídicos por conta do mandante. O mandato assume duas espécies:
Nos poderes forenses gerais está incluído, também, o poder de subestabelecer o mandato. O
advogado pode transmitir os poderes que recebeu do seu constituinte a outro mandatário, sendo que
pode fazê-lo sem necessidade de autorização do constituinte. O substabelecimento pode ser feito:
O art.º 50 do CPC permite que os advogados possam dispor de assistência técnica, isto é, possam fazer-
se acompanhar de técnicos que não são juristas, nomeadamente face a questões de medicina,
arquitetura, etc. A nomeação de assistente técnico não necessita de aprovação pelo tribunal. O advogado
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apenas comunica ao tribunal o assistente técnico que escolheu. Depois, o tribunal pode recusar, se
considerar desnecessária a constituição de assistente técnico, naquele processo em questão. Os
advogados poderem dispor de assistência técnica não é um direito potestativo. O técnico (art.º 50, n.º 4
do CPC) tem os mesmos direitos e deveres processuais que o advogado, para o efeito a que foi designado.
A capacidade postulatória das partes ocorre quando a lei não exija a constituição de advogado. O art.º
40, n.º 1 do CPP prevê as três situações em que é obrigatória a constituição de advogado:
• Alínea c) do art.º 40, n.º 1 do CPC → Sempre que se interponha recurso é obrigatório estar
constituído advogado em todas as ações que se propõe em primeiro grau de decisão no
Tribunal Superior (exemplo: revisão e conformação da sentença arbitral estrangeira). Ou seja,
se a ação vai ser proposta em 1ª grau de decisão num Tribunal Superior é obrigatório constituir
advogado.
• Alínea a) do art.º 40, n.º 1 do CPC → A constituição de mandatário é obrigatória nas causas em
que é admissível recurso ordinário.
Exemplo: Art.º 269, n.º 1 do CPC – admite-se o recurso ordinário, quando o valor da causa excede o
valor da alçada do tribunal onde se propõe a ação (art.º 44 da LOSJ). Se o valor da ação proposta ao
Tribunal de Primeira Instância exceder o valor da alçada dos Tribunais de Primeira Instância, a sentença
que vier a ser proferida nessa ação admite recurso ordinário. Se a sentença não admitir recurso, nos
termos do art.º 40, n.º 1, alínea b do CPC, é obrigatória a constituição de advogado, na medida em que
as partes não possuem capacidade postulatória nessa mesma ação.
• Alínea b) do art.º 40, n.º 1 do CPC → Ações em que seja sempre admissível recurso,
independentemente do valor da causa. Hoje em dia, é apenas a matéria do art.º 629, n.º 3,
alínea a do CPC. Qualquer ação em que esteja em causa apreciar a validade do contrato de
arrendamento, a subsistência ou a cessão do mesmo, é sempre admissível recurso ordinário,
independentemente do valor da causa. Se é sempre admissível recurso, nos termos do art.º 40,
n.º 1, alínea b do CPC, é sempre obrigatória a constituição de mandatário. Esta alínea a do n.º
3 tem uma exceção: não há lugar à aplicação desta alínea, se tiverem em causa contratos de
arrendamento para habitação não permanente e, também, nos contratos de arrendamento
para fins especiais transitórios (independentemente se é para comércio, habitação, etc.).
Quando a lei exige a constituição obrigatória de mandatário, está a prosseguir três grandes funções:
• Função de auxílio técnico às partes. Ao exigir o patrocínio obrigatório, a lei está preocupada
com os aspetos técnicos na condução do processo. Geralmente, as partes não dominam as
tecnicalidades do processo, isto é, não compreendem o ritualismo processual, as exigências
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formais, o que causa um transtorno não só às próprias partes, mas também ao próprio tribunal.
O legislador assegura-se que as partes, na defesa das suas posições e interesses, estão
tecnicamente bem habilitadas, através da assistência do profissional. No fundo, é uma tutela
das próprias partes, mas também para o interesse do próprio funcionamento da justiça.
• Função de realização do direito e de prossecução da justiça. Ao exigir a constituição
obrigatória de mandatário, o legislador preocupa-se com a condução leal e verdadeira do
processo. O legislador quer que os processos sejam conduzidos pelas partes, de forma correta a
evitar que estas sucumbam à tentação de utilizarem expedientes menos leais na defesa e na
sustentação das suas posições. A intermediação de um advogado entre a parte e um advogado
e na relação entre as partes permite tentar evitar uma conduta processual menor correta,
porque os advogados estão vinculados a deveres deontológicos que os proíbem de utilizar
expedientes menos sérios na condução do processo. Além disso, o advogado tem, ainda, um
interesse em manter a sua dignidade profissional e o seu bom nome. A exigência de um
advogado acautela que a condição das partes no processo seja pautada de acordo com critérios
de lealdade e verdade processual. Nos deveres que vinculam os advogados está o dever de
cooperar e auxiliar na realização da justiça de forma pró-ativa.
• Função psicológica. As partes vivem de uma forma intensa os seus processos, na medida em
que é algo que lhes diz bastante respeito e, muitas vezes, perdem a noção, não sendo capazes
de racionalizar os seus argumentos. Ao exigir a constituição obrigatória de mandatário, o
legislador pretende refrear os ímpetos emocionais e apaixonados das partes face aos seus
processos. O papel do advogado é introduzir um elemento racional na condução de um
processo, isto é, servir de intermediário entre a parte, que vive intensamente aquele litígio e
tem opiniões muito fortes, não conseguindo aceitar argumentos racionais, e o tribunal. Muitas
vezes, antes do litígio chegar a um processo judicial, o advogado já filtra informação para evitar
que assuntos que não deveriam ir para tribunal não sejam levados a um.
O patrocínio forense é um contrato bilateral e, como tal, poderia estar sujeito ao princípio de que os
contratos são para se cumprir – regra geral. Contudo, certos contratos são celebrados dependendo de
uma certa de relação de confiança entre as partes e a legislador aceita que, se essa relação de confiança
deixar de existir, essa relação se extinga por uma das partes sem a autorização da outra. Isto acontece
no contrato de mandato, em geral, onde se permite ao mandatário e ao mandante unilateralmente pôr
termo ao contrato.
Pode acontecer, ainda, uma renúncia ao mandato, em que o mandatário tentou notificar pessoalmente
o réu e não conseguiu. O legislador acautela esta situação no n.º 4 do art.º 47 do CPC. Chegando à
conclusão de que o mandatário tentou notificar o réu da sua renúncia sem efeito, o tribunal nomeia um
mandatário oficioso para assegurar o patrocínio daquele réu, nos termos do art.º 51, n.º 3 do CPC.
Falta de constituição de advogado – art.º 41 do CPC. No início do processo, “se a parte não constituir
advogado, sendo obrigatória a constituição, o juiz, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária,
determina a sua notificação para o constituir dentro de prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da
instância, de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa”. No fundo, o juiz notifica a
parte, dizendo que é obrigatória a constituição de advogado e atribui-lhe um prazo. Se o réu não
apresentar contestação, estamos perante o regime da revelia (efeito cominatório semipleno).
Além da falta de constituição de mandatário, pode, também, não ter sido junta a procuração ou, então,
a procuração que foi junta está irregular. Trata-se de não estar demonstrado no processo que o
mandatário tem poderes para agir em nome do seu constituinte. Aplica-se o regime do art.º 48, n.º 1 e
n.º 2 do CPC. Se, findo o prazo, não for regularizada a situação, fica sem efeito tudo o que tiver sido
praticado pelo mandatário, ou seja, os atos do mandatário são anuláveis. Além disto, o mandatário é,
ainda, condenado nas custas do processo.
Art.º 48
2 - O juiz fixa o prazo dentro do qual deve ser suprida a falta ou corrigido o vício e ratificado o
processado, findo o qual, sem que esteja regularizada a situação, fica sem efeito tudo o que tiver sido
praticado pelo mandatário, devendo este ser condenado nas custas respetivas e, se tiver agido
culposamente, na indemnização dos prejuízos a que tenha dado causa.”
03/12/2021
1- O autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar; o réu é parte legítima quando tem
interesse direto em contradizer.
2 - O interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da procedência da ação e o interesse em
contradizer pelo prejuízo que dessa procedência advenha.
3- Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do interesse relevante para o
efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo autor.
A legitimidade processual enquanto pressuposto processual prima de uma relação concreta, especifica
entre cada uma das partes e uma determinada causa mais especificamente o objeto dessa causa.
Exprime uma relação direta e especifica de cada uma das partes com uma determinada causa, ação, ou
seja, com o objeto dessa ação. As partes não podem intervir em processos, designadamente, o autor
não pode propor uma ação ou não pode demandar um réu que não tenha um interesse direto com o
objeto dessa ação, dessa causa. Só tem legitimidade o autor se ele tiver um interesse direto na
demanda. Só tem legitimidade o réu se, como diz o nº 1 do art.º 30, ele tiver um interesse direto em
contradizer aquela demanda. Que interesse é esse? A resposta é-nos dada no nº 2. O autor terá
interesse direto em
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demandar se ele retirar da procedência da ação uma utilidade, uma vantagem direta e pessoal na sua
esfera jurídica. Eu só tenho legitimidade processual para propor uma ação, e quando estamos a falar da
legitimidade processual na perspetiva do autor chamamos legitimidade ativa, se metade dessa ação ser
vinda a julgar procedente e eu retirar uma vantagem direta e pessoal na minha esfera jurídica.
Exemplo: O vizinho de cima tem um problema de infiltrações, o meu teto está todo estragado por causa
disso. Proponho uma ação contra o meu vizinho de cima a pedir uma indeminização para reparar os
estragos que as infiltrações de água causadas por ele provocaram no meu apartamento. Desta ação eu
retiro uma vantagem, uma utilidade direta, pessoal da minha esfera jurídica. O meu património vai ser
enriquecido com aquela indeminização ou, pelo menos, o meu prejuízo vai ser reparado. Agora noutro
exemplo, o vizinho de cima tem as infiltrações, mas eu não moro lá e proponho uma ação para que ele
indemnize o vizinho de baixo que não sou eu. Daqui eu não retiro nenhuma vantagem, nenhuma
utilidade, direta e pessoal na minha esfera jurídica. Não tenho nada a ganhar com esta ação e, portanto,
eu não tenho legitimidade processual para propor esta ação, de acordo com a lei. Se eu prepor uma
ação nestes termos vai faltar este pressuposto processual, sendo a consequência a absolvição da
estância.
Réu é toda a pessoa a quem eu proponho a ação, a pessoa é réu porque foi demandado, foi citado,
pode é depois não ter a legitimidade processual e essa falta desse pressuposto processual será resolvida
através do carimbo da absolvição da instância, no entanto, não deixa de ser réu- aquele contra quem
foi proposta a ação mesmo que não devesse ter sido posta contra ele.
A legitimidade de que estamos aqui a falar, legitimidade processual que também podemos denominar
de legitimidade adjetiva, que não tem nada que ver com a relação material controvertida, com a relação
jurídica substantiva que se discute no processo. Não tem nada a ver com a legitimidade substantiva. A
legitimidade adjetiva é uma figura puramente processual, exclusivamente de direito processual civil e,
portanto, exprime apenas uma relação entre as partes e o objeto de uma causa.
O adjetivo é o direito processual em geral, pode ser penal, administrativo, etc. e o direito substantivo é
o direito que regula as relações jurídicas propriamente ditas. O direito adjetivo só regula a própria
tramitação das ações.
Ocasionalmente o legislador dá-nos indicações precisas sobre a legitimidade, diz-nos quem é que tem
legitimidade ativa e legitimidade passiva para propor uma ação. Pontualmente através de normas que
não estão no código de processo civil, mas estão em legislação substantiva avulsa- art.º 286 do código
civil- legitimidade ativa, quem tem interesse na nulidade, art.º 1785- legitimidade ativa, só o conjugue é
que pode pedir para propor uma ação de divórcio, art.º 2078- legitimidade ativa, qualquer um dos
herdeiros de uma herança pode propor uma ação para revindicar bens da herança, diploma do seguro
automóvel- legitimidade passiva.
09/12/2021
Legitimidade processual
Os critérios do nº 1 e nº 2 não são suficientes e por isso o legislador como diz o nº 3 na falta de indicação
da lei em contrário, existem situações em normas avulsas que nos dão logo a indicação da legitimidade
quer ativa quer passiva, vimos exemplos na aula passada.
Responsabilidade civil extracontratual pelo dano morte. Estamos a falar dos Danos não patrimoniais,
não dos patrimoniais decorrentes da morte. Discutiu-se na doutrina como seria indemnizado pelo dano
morte.
Esta questão foi esclarecida no código civil que vai reconhecer que a uma indemnização por danos não
patrimoniais emergentes pela morte. A morte em si é um dano não patrimonial suscetível de
indemnização. Cabe em conjunto ao cônjuge não separado de pessoas e bens aos filhos e outros
descendentes na falta destes aos pais e outros ascendentes ou por irmãos ou sobrinhos que os
representem. É uma norma atributiva de legitimidade ativa. Também prevê uma forma especial de
legitimidade que vamos falar mais à frente.
Exemplo de norma atributiva de legitimidade passiva que encontrámos no regime jurídico é do seguro
automóvel.
As ações destinadas à efetivação da responsabilidade civil decorrente de acidente de viação quer sejam
exercidas em processo civil ou processo penal em caso de existência de seguro devem ser deduzidas
obrigatoriamente só contra empresa de seguros quando o pedido do formulado estiver dentro do
capital mínimo de seguro obrigatório.
Até esse montante de danos só se pode demandar as empresas seguradoras. Depois se ultrapassar esse
limiar do capital mínimo obrigatório do seguro obrigatório, como vos disse anda na casa dos 6 milhões
de euros, então deve-se demandar a empresa de seguros e o possivelmente responsável pode ser um
condutor ou proprietário do veículo ou tomador do seguro.
Portanto há aqui uma norma atributiva de legitimidade de passiva para a generalidade das situações,
aplicar-se a alínea a. Quando não chega aos 6 milhões de euros a legitimidade passiva é apenas dá um
empresa de seguros. Se mandarmos o proprietário do veículo ele é parte ilegítima da causa.
Terá que ser absolvido da instância. Isto não é suficiente porque nem sempre a lei nos indica uma norma
atributiva de legitimidade.
E, portanto, o código vai então acrescentar um critério subsidiário para aferir a legitimidade
concretizando no nº 1, nº 2 e agora no nº 3 é um critério subsidiário na falta de norma expressa
atributiva de legitimidade. O nº 3 dá-nos essa resposta.
Mas antes de vermos a solução do nº 3 é explicar um pouco como é que ela surge.
Durante muito tempo entre nós a doutrina e a jurisprudência tiveram muito divididas entre 2 grandes
posições aos grandes teorias.
Uma teoria dizia que a legitimidade se tinha que aferir na relação material controvertida. Se aferia tal
como ele está na realidade. Não interessa aquilo que o autor diz, a forma como o autor escreve a sua
causa de pedido, releva é a realidade dos factos relativos àquela litígio.
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Exemplo: autor proponha ação contra réu A e B por causa de um dano e pede uma indemnização, mas
afinal foi só um não foi os 2. Para a legitimidade não releva nesta teoria a versão que que o autor
apresentou quando propôs a ação, mas releva a realidade das coisas. O reu B que afinal não tinha nada a
ver com aquela relação material controvertida não seria parte legítima porque na realidade não tinha
nenhum prejuízo a retirar da procedência da ação.
Uma segunda doutrina defendia que era um requisito puramente formal e que tem que ser avaliado
numa fase inicial do processo já é não nos interessa estar a ver qual a realidade das coisas relativas
àquela relação do material controvertida. O que interessa é de acordo com a versão do autor saber se as
partes são ou não legítimas. depois se a versão do autor corresponde à realidade das coisas ou não isso
já não é um problema da legitimidade processual, isso é um problema depois para saber se a ação é
procedente ou não. Para a avaliação puramente processual o que releva é verificar a versão de acordo
conversão do autor.
Na reforma de 95 e 96 o legislador veio pôr fim ao debate tomando partido de uma das posições. Pela
segunda das posições e esta opção legislativa foi mantida no novo código.
Nº 3, art.º 30. Ou seja, o que interessa para saber se o autor, para aferir este pressuposto processual, é
parte legítima por que retira da procedência da causa uma vantagem, para saber se o réu é parte
legítima porque retiram prejuízo da procedência da causa, nós vamos ter em conta não a realidade das
coisas como se ela vier a apurar no processo, mas sim a versão fáctico jurídica que o autor apresenta
na petição inicial.
Vamos aferir que se de acordo com a versão do autor apresentou na petição inicial, resultar que da
procedência da causa gera uma vantagem direita imediata na esfera do autor então ele é parte legítima.
Se resultar que o réu de acordo com a versão do autor com a procedência da ação gera um prejuízo
direto imediato na esfera jurídica do réu então ele também é parte legítima. O que interessa é a versão
do autor ainda que não corresponda à realidade. Se depois no julgamento da causa chegámos à
conclusão de que aquela versão não representa a realidade e a relação material controvertida tem uma
outra configuração, a solução vai ser julgada a ação improcedente.
Nesta conceção é difícil este pressuposto processual não estar preenchido. Se vamos atender apenas a
configuração da relação material controvertida que o autor dá na petição inicial dificilmente o autor vai
cometer o erro de configurar uma relação material controvertida de uma forma e depois não demandar
as pessoas corretas. Mas pode acontecer.
De acordo com esta configuração da relação material controvertida que ele dá na petição inicial ele é
parte legítima porque ele está a alegar que está a sofrer e indemnizações no seu apartamento, portanto
de acordo com a sua versão ele tem legitimidade. Se se chegar à conclusão e vai lá um perito o
apartamento não sofre nenhuma é infiltração aí já não é um problema formal processual de
legitimidade é um problema de procedência ou improcedência da ação.
Portanto a é o critério que o legislador adotou atualmente e portanto este critério mais formalístico de
que para aferir a legitimidade das partes para aferir os interesses relevantes para efeitos de saber se o
autor retira da procedência da causa uma vantagem direta imediata na sua esfera jurídica ou se o réu
retira da preferência da causa um prejuízo direto imediato da sua esfera jurídica para aferir isso, não
interessa a realidade das coisas, não interessa a verdadeira configuração da relação de material
controvertida. Interessa isso sim é a versão fático jurídica com que o autor configura a relação material
controvertida na sua petição inicia.
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Independentemente dessa versão não ter qualquer correspondência ou qualquer aderência com a
realidade se não tiver qualquer correspondência com a realidade esse já não é um problema processual
ou formal é um problema de fundo ou de mérito da causa e será resolvido no julgamento e não nesta
fase formal.
A legitimidade plural
Até aqui temos estado a falar sobre a perspetiva da legitimidade singular. O problema da legitimidade
não se esgota nessa perspetiva, tem um problema adicional vamos já falar dele é que a legitimidade
plural. O paradigma de uma ação clássico é um autor e um réu. Nestas situações a legitimidade afere-se
naturalmente sabendo o autor tem interesse em demandar e se o reu tem interesse em contradizer.
Só que uma ação pode ter uma pluralidade de partes. Podemos ter vários autores e/ou vários réus. Isto
coloca então um problema adicional.
Quando temos várias partes temos uma pluralidade de partes e colocamos um problema adicional
porque não só temos de aferir a legitimidade singular de cada uma das partes, de cada um dos autores
como de cada um dos réus de acordo com os critérios que já estudamos art.º 30, como temos de aferir a
legitimidade plural. Ou seja, a possibilidade de aquelas partes estarem na ação em litisconsórcio,
litisconsorciadas e, portanto, litisconsórcio e exprime esta ideia dos sujeitos processuais estarem em
litosconsorciadas na ação.
Litisconsórcio é uma figura de direito empresarial e podemos utilizar aqui emprestado o termo relativo
ao processo civil.
Originária- resulta logo na propositura da ação, quando a ação é proposta já se verifica uma
situação de pluralidade de partes.
Superveniente- Ocorre na pendência do processo. Começou o processo com um autor e um
réu, mas depois passou a ter vários autores e/ou vários réus. O incidente de terceiros e o
incidente de habilitação é Instrumento através do qual se chamam terceiros a ação. O mais
incidente é a habilitação por morte.
Litisconsórcio voluntário
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Ocorre quando a pluralidade de partes não é imposta nem exigida pelo legislador, pela lei, mas resulta
da vontade do autor quando propõe a ação, configura logo a ação como uma situação de probabilidade
de partes, ou da vontade do réu quando o réu deduz um desses incidentes normalmente produzirá um
incidente de intervenção de terceiros para chamar outros assumirem a posição de parte na causa.
E, portanto, a lei não impõe litisconsórcio, a lei não exige que a ação tenha aquelas pessoas como
partes, mas o facto dessas pessoas serem partes na ação resulta da vontade ou do autor ou do réu.
Como o próprio nome indica é voluntario não é obrigatório não é imposto, é uma faculdade que as
partes têm, é admitido pelo legislador precisamente porque há conveniência em que um litígio seja
tratado num menor número de processos, de uma forma mais é concentrada possível. Esta ideia
corresponde a um princípio da economia processual na vertente de economia de processos.
Obrigações solidárias e eu que sou credor posso exigir a totalidade da dívida a qualquer um deles não
precisamos de demandar os 3 e, portanto, imaginem este cenário em que eu demando o devedor A e
ganho a ação, mas não tem património para pagar, portanto eu vou ter de propor uma nova ação agora
contra C, mas mais uma vez não tem património. Portanto ando nisto a perder anos e 3 processos a
ocupar espaço no tribunal; portanto o legislador diz que é muito mais prático demandar logo os 3 na
mesma ação. não é obrigatório, mas tenho essa faculdade.
Regulado no art.º 32. Abrange, por exemplo, as situações das obrigações divisíveis, uma obrigação que
é divisível, em que há vários obrigado, mas cada um está obrigada a prestar uma parcela da obrigação.
Uma obrigação pecuniária divisível é por exemplo 3 pessoas devem 1500€ e cada pessoa tem que pagar
500€ cada um paga a sua quota.
O art.º 32, nº 2 diz se a relação material controvertida respeitar a várias pessoas pode ser proposta por
um só ou contra só um dos interessados. Ou então pode ser proposta por todos os interessados ou
contra todos os interessados abrangendo a totalidade da relação material controvertida.
Eu posso propor uma ação contra cada um dos devedores, 3 ações a correr ou posso propor uma só
ação, cada uma contra cada um dos devedores restrita à respetiva quota-parte dessa obrigação ou
posso propor uma única ação contra a totalidades dos devedores, mantendo a responsabilidade de cada
um a sua quota-parte. Esta é a possibilidade do art.º 32, nº 1. O art.º 32, nº 2 é das obrigações solidárias.
Uma obrigação plural obrigação com vários obrigados, mas aqui eu posso exigir e a obrigação apenas de
um deles e eu não preciso propor a ação contra todos eles, tenho a opção de propor a ação contra
todos, mas às vezes pode ser mais difícil imagina não há uns que vivem no estrangeiro isso vai demorar
com as traduções etc.
Litisconsórcio necessário
Aqui é o legislador a impor a pluralidade de partes. Esta ação tem que ter todos os sujeitos da relação
material controvertida como partes no processo.
Distinção do plano substantivo da relação material controvertida ou relação jurídica substantiva, relação
litigioso, onde surgiu o litigo, o contrato, por exemplo.
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Outra coisa é a relação jurídica processual, a instância que assenta neste litígio, mas não tem
necessariamente os mesmos sujeitos. Exemplo clássico: Credor de obrigação solidário, há 3 devedores
solidários. Na relação jurídica processual podemos ter apenas um credor a demandar um devedor.
Porém quando há situação de litisconsórcios necessário, a lei impõe que os sujeitos da relação material
controvertida têm que ser as partes na relação processual, no processo sob pena de haver ilegitimidade.
Previsto no art.º 33.
Quando se diz se a lei exigir a intervenção de todos os interessados na relação controvertida ela é a
própria lei que diz que todos os interessados relação de material contrapartida têm de ser parte na
ação, a falta de qualquer um desses interessados gera ilegitimidade. Ou se o negócio, por que as partes
podem convencionar elas próprios nos seus negócios jurídicos, normalmente está nos seus contratos,
que os litígios emergentes dessas relações jurídicas têm de ter a intervenção de todos os sujeitos
daquelas relações, chamamos o litisconsórcio necessário convencional ou por vezes também a quem
chame negocial.
Exemplos de litisconsórcio necessário legal, de normas que impõe a pluralidade de partes: art.º 496, nº
2.
Impor um litisconsórcios necessário ativo. A ação para indemnização para reparação do dano não
patrimonial morte o direito à indemnização cabe em conjunto ao cônjuge e aos filhos. A seguradora do
carro que o atropelou tem que pagar indemnização, deixou o uma mulher e 4 filhos e há um filho que
propõe uma ação indemnização de 500000€. O tribunal vai dizer que não pode porque a lei exige que a
ação indemnização para reparação do dando patrimonial morte tem de ser proposta em conjunto pelo
cônjuge sobrevivo que não esteja separado de pessoas e bens, e, portanto, tem que ser proposta em
conjunto pelo cônjuge e os filhos todos. Há litisconsórcio necessário legal neste caso dos litisconsórcio
necessário ativo. Do lado da demanda dos demandantes têm que surgir lá todos estes sujeitos da
relação material controvertida.
A norma prevê uma situação de legitimidade necessária ativa. Art.º 535, nº 1 do CC.
Eu só posso exigir o cumprimento da prestação a todos os obrigados, a todos os devedores; não posso
exigir o cumprimento apenas um deles, se exigir apenas a um deles e se for uma obrigação indivisível
verificar-se-á uma situação de ilegitimidade.
Se eu comprei um quadro que pertencia a 3 pessoas em regime de compropriedade eu não posso exigir
apenas a um deles a entrega do quadro. A ação não vai poder prosseguir porque A não tem legitimidade
passiva por preterição do litisconsórcio necessário legal. Exige se que se demande todos os codevedores
quando a prestação for indivisível.
O nº 2 também faz aplicar uma norma equivalente que é no caso de uma prestação indivisível que era
devida por um só devedor e depois foi sucedido por vários herdeiros, tenho de demandar todos os
herdeiros.
Art.º 33, nº 2
Portanto será necessária a intervenção de todos os interessados, ou seja, todos os sujeitos da relação
material controvertida sejam também partes na correspondente ação na relação jurídico processual se
essa intervenção pela própria natureza da relação jurídica que está em causa for necessária para que a
decisão do tribunal vier a produzir, vier a proferir possa produzir o seu efeito útil normal.
Vamos ver isto em exemplo concreto. O contrato de arrendamento pode ser celebrado por vários
inquilinos não é obrigatório por um só, portanto podem 3 amigos juntar celebram contrato de
arrendamento.
Se nós tivermos um contrato de arrendamento em que há vários inquilinos de nada serve a um senhorio
propor a ação de despejo só contra um dos inquilinos. O que ele vai fazer se ganhar aquela ação,
despejar só um? Ou outros 2 não são partes na causa eles não estão vinculados pela sentença e,
portanto, ele não vai conseguir o efeito que quer que é resolver rescindir o contrato de arrendamento e
obter a restituição do locado, ele não vai conseguir produzir esses efeitos só de mandar uns inquilinos.
Portanto a ação de despejo é um exemplo paradigmático de uma ação em que existe litisconsórcio
necessário natural porque ela só a decisão a proferir na ação de despejo só vai poder produzir o seu
como diz a lei só vai poder produzir o seu efeito útil normal se todos os inquilinos, no caso de serem
vários, todos os inquilinos forem também partes na ação.
Se eu quero declarar nulo todo um contrato e não apenas um segmento ou uma parte dele, mas todo o
contrato eu tenho que propor a ação contra todos os contraentes porque o contrato não pode ser nulo
na sua totalidade em relação ao uns e não em relação a outros.
Se 5 pessoas celebraram contrato de prestação de serviços e eu que venho pedir contra um dos
contraentes que o contrato que o contrato seja declarado nulo. Ora esta sentença de declaração de
nulidade não pode produzir o efeito útil normal porque o contrato não pode ser nulo na sua
globalidade em relação a um contraente e não ser no relação aos outros, e, portanto, tem que ser
proposta a ação
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contra todos os contraentes sob pena de a sentença que vier a ser proferida não poder produzir o seu
efeito útil normal.
Portanto o litisconsórcio necessário natural não resulta de norma expressa da lei não é uma norma
expressa na lei que preveja, exija a pluralidade de partes não resulta de convenção negocial, não há
nenhuma convenção negocial, mas resulta da própria natureza das coisas, da própria natureza daquele
litígio.
O legislador acrescenta no nº 3 quando uma decisão produz o seu efeito útil normal. Produz o eu efeito
útil normal quando se possa regular definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao
pedido formulado, portanto seja possível regular a situação concreta daquele litígio.
Art.º 34. Litisconsórcios conjugal ativo, ações que têm de ser propostas por ambos os cônjuges. E
litisconsórcio conjugal passivo, ações que tem que ser propostas contra o casal, não se pode demandar
só o marido ou só a mulher.
O nº 1, art.º 34 regula o litisconsórcio conjugal ativo prevendo 3 tipos de situações em que é exigível a
intervenção ativa de ambos os cônjuges.
Ações relativas a bens e direitos cuja disponibilidade implica a intervenção de ambos os cônjuges. Isto
remete-nos ao regime de bens do casamento, temos que fazer algumas referências.
O Código civil, prevê 3 regimes de bens. o casamento pode ser contraído através do regime de
comunhão de adquiridos art.º 1721 a art.º 1724. Mantenho a propriedade dos bens que trazem para o
casamento e daqueles que adquirem gratuitamente na pendência do casamento, mas os bens que na
constância do património sejam adquiridos a título oneroso são propriedade comum.
Art.º 1722- Mantem os bens próprios. Diz que são bens próprios de cada um mantém os bens que
levaram para o casamento, bens que vierem por sessão a doação e são comuns pertencem a uma
universalidade de bens que são comuns do casal que pertencem a ambos conjugues não em regime de
copropriedade, mas em regime de património e universalidade autónomo.
O regime da comunhão geral está previsto no art.º 1732. No regime da comunhão geral todos os bens
com algumas exceções todos os bens são comuns. Há algumas exceções.
O regime da comunhão de bens art.º 1735. O casal não tem património comum. Cada conjugue tem os
seus bens próprios. Se os conjugues comprarem uma casa é como se 2 amigos comprarem uma casa,
aquilo não é um bem comum do casal. Não há bens comuns, só há bens próprios. Podem ter bens em
compropriedade como qualquer pessoa pode ter com outra pessoa sem ser casada. Se os noventes não
estipularem nada o regime regra é o da comunhão de adquiridos.
Art.º 1678
Art.º 1682- A “salvo se entre eles vigorar o regime da separação de bens”, portanto se estiverem
casados em comunhão geral ou em comunhão de adquiridos
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Se o bem é comum para ser vendido tem que intervir os dois. Mas se o bem for próprio se eles
estiverem casados na comunhão geral ou na comunhão de adquiridos é necessária a intervenção de
ambos os cônjuges para alienar um bem imóvel próprio, o outro cônjuge não é proprietário não é um
bem comum do casal, mas para o alienar para constituir uma hipoteca para usar em arrendamento ou
para constituir outros direitos pessoais de gozo por exemplo constituir direito superfície usufruto é
necessário o consentimento de ambos os cônjuges. O mesmo para um estabelecimento comercial
centro comercial aqui entenda-se quando algum dos cônjuges exerce uma atividade é empresarial. São
comerciantes individuais ou agricultores e para alienar estabelecimento comercial exige-se a
intervenção de ambos os cônjuges salvo se vigorar o regime da separação de bens.
Portanto, se a casa de morada de família for alienada for hipotecada for dada de arrendamento
portanto vai deixar de ser casa de morada de família mas naquele momento ainda é ou se constituir
sobre ela um qualquer outro direito pessoal de gozo e isso exige a intervenção de ambos os cônjuges
mesmo que se trata de um bem próprio e mesmo que estejam casados no regime da separação de bens,
por que a lei por força de uma imposição constitucional protege a casa de morada de família como
elemento onde o agregado familiar se tem sediada os seus interesses, o seu centro de interesses
jurídicos.
Tem uma proteção especial e é exigida consentimentos de ambos os cônjuges mesmo que estejam
casados no regime de separação de bens mesmo que a casa de morada de família seja bem própria
apenas de um deles para disponibilidade ou para a disposição sobre a casa de morada de família.
O art.º 1682 regula os poderes de posição sobre móveis, portanto art.º 1682-A sobre imóveis e sobre o
estabelecimento comercial não é bem imóvel, mas tem um regime equiparado.
O art.º 1682 regula a disposição sobre bens móveis e, portanto, a alienação de bens móveis comuns
carece do consentimento de ambos os cônjuges o casal tem que ser feito por ambos os cônjuges.
O nº 3 vai nos dizer que carece do consentimento de ambos os cônjuges a alienação oneração
independentemente de serem casados no regime da separação de bens ou noutro regime de bens ou de
os bens serem próprios ou comuns os móveis utilizados conjuntamente por ambos os cônjuges na vida
do lar ou por instrumento comum de trabalho. Portanto a alienação do sofá lá de casa ou do frigorífico
ou da mesa da sala de jantar carece do consentimento de ambos os cônjuges porque é o móvel utilizado
na vida do lar. Ainda que sejam bem próprio de ambos os cônjuges e ainda que eles estejam casados no
regime da separação de bens tem que ser feito por ambos.
Alínea c
Articular Art.º 34, CPC, 1º parte com o art.º 1682-A do código civil porque se tratar de bens que a lei
substantiva exige para cuja alienação ou para cuja oneração a lei substantiva civil exige o consentimento
de ambos os cônjuges as ações que tenham por objeto, que digam respeito a esses bens, têm também
que ser propostas por ambos os cônjuges ou por um dos cônjuges com o consentimento expresso do
outro.
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Por exemplo se está em causa uma ação da qual possa resultar a perda de um imóvel que por força do
art.º 1682-A apenas pode ser alienado por ambos os cônjuges ou apenas pode ser onerado por ambos a
ação que diga respeito a esse imóvel tem de ser proposta por ambos os cônjuges.
Litisconsórcio necessário ativo, é para ações que os cônjuges que é proposta por um cônjuge, mas que a
lei exige que tem que ser proposta por ambos.
E também as ações que têm por objeto direto ou indiretamente a casa morada de família. Tudo tem
que ver a casa de família todas as ações que os cônjuges propõem o que algum dos cônjuges proponho
quanto à casa à família tem que ser propostas por ambos os conjugues.
O exemplo das infiltrações no apartamento, se aquele apartamento for casa de morada de família
independentemente de ser propriedade de um conjugue, a propriedade do outro a propriedade comum
de ambos ou ser arrendada só por um conjugue, arrendada por ambos os cônjuges a ação que visa a
obter indemnização para reparar os danos causados pelas infiltrações porque diz respeito direta ou
indiretamente à casa de morada tem que ser propostas por ambos os cônjuges.
Mas há um mecanismo para resolver o litígio. O conjugue que quer propor a ação dirige-se ao tribunal,
eu quero propor a ação a minha mulher não quer, o tribunal decide se vai suprir o consentimento, se vai
dispensar o consentimento que falta e vai fazê-lo tendo em conta o interesse da família, portanto, não é
um interesse de um conjugue, é o interesse da família enquanto unidade. Aplica se aqui supletivamente
o regime art.º 29.
Isto é um litisconsórcio necessário conjugal ativo, mas o art.º 34 prevê ainda o litisconsórcio necessário
conjugal passivo. Ações que tem de ser propostas contra ambos os conjugues.
Não pode demandar só aquela pessoa, tem que ser a pessoa e o seu conjugue sob pena de haver
preterição do litisconsórcio necessário e redundar em ilegitimidade. Art.º 34, nº 3, prevê 3 situações.
Vamos começar pelo fim da norma. Estão sujeitas a litisconsórcio necessário conjugal passivo as ações
compreendidas no número, portanto as ações que estão abrangidas pelo litisconsórcio necessário
conjugal ativo estão também abrangidas um pelos litisconsórcios necessário conjugal passivo.
Portanto, há ações que digam respeito a direitos ou em bens só possam ser alienados dispostos por
ambos e as ações que tenham por objeto direto ou indiretamente a casa de morada de família, tem que
ter propostas contra ambos os conjugues.
Por exemplo, a casa de morada de família é arrendada e o inquilino é o cônjuge marido e o senhorio
propõe uma ação de despejo contra o conjugue marido e não demandou a mulher. Há aqui preterição
do litisconsórcio conjugal passivo. Como é uma ação que tem que ver com a casa de morada de família,
por força da parte final do nº3 que remete para o nº1 as ações que têm tem que ser propostas contra
ambos os cônjuges independentemente do regime de bens independentemente de se tratar de bens
próprios ou comuns ou do inquilino mesmo que o inclino seja só um dos cônjuges.
Devem ser propostas contra ambos os conjugues as ações emergentes de facto praticado por
ambos, portanto aqui que os factos foram praticados por ambos os cônjuges, coisas da vida própria do
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casal ou vida profissional, factos praticados por ambos os casos têm de ser propostos as ações contra
ambos os conjugues.
Parece aqui que o legislador quis, embora não seja muito claro nem consensual na doutrina, afastar as
regras do litisconsórcio voluntário quando se trata de um casal.
Exemplo: Se os cônjuges são devedores solidários parece resultar que tenho de demandar ambos os
conjugues mesmo que haja solidariedade. Mesmo que se trate de facto que foi praticado por ambos os
cônjuges, a ação relativa a esse facto tem de ser proposta contra ambos os conjugues.
As ações emergem de facto praticado apenas por um dos cônjuges, mas em que se pretende obter
decisão suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro conjugue. Ou seja, em certas
situações um conjugue pode ser chamado a satisfazer com os seus bens próprios a satisfazer
responsabilidades do outro cônjuge. Não é com os bens comuns do casal, é com os seus bens próprios,
isso está previsto no regime das dividas do casal que são responsabilidades de ambos os conjugues art.º
1691 do código civil.
Art.º 1691, alínea a- vão a uma loja e compram uma arca frigorífico foram 2 a intervir, a divida
é de ambos, quer seja anterior ou posterior à celebração do casamento. Ou foi um comprar
com o consentimento do outro, ambos respondem pela dívida, ambos são responsáveis por
aquela divida, ambos respondem pelo seu património não só com o património comum como o
património próprio de cada um deles.
Alínea b- a divida no talho por ex. comprou carne para a habitação da família ficou na conta
nunca mais pagou, aquela dívida responde ambos os cônjuges ainda que só tenha ido a um
conjugue assumir o negócio celebrado, porque foi para um encargo normal da vida familiar é a
responsabilidade de ambos os cônjuges. O património de ambos quere património comum,
quer património próprio de cada um responde por esta divida. O talhante se vai propor a ação
em tribunal vai pôr contra o cônjuge que lá foi, mas se quiser depois de executar o património
do outro conjugue tem que propor ação também contra ele.
Alínea c- Em termos gerais o cônjuge que contraiu dividas em proveito comum do casal dentro
de certos limites essas dívidas são da responsabilidade de ambos os cônjuges.
Alínea d- “no exercício do comércio” aqui entenda se no exercício de uma atividade
empresarial. Portanto o cônjuge que é empresário que tem negócios, compra carros para
vender, tem a sua empresa e presta a abalos se não for casado na separação de bens estas
dívidas são responsáveis de outro conjugue. Muitas vezes o outro conjugue nem sabe. Esta
sempre a pedir créditos e de repente a mulher recebe penhora no salário, salvo se forem
casados na separação de bens. O ónus da prova é do devedor, o devedor é que tem que provar
que aquelas dividas não forma para proveito comum do casal.
E, portanto, quando assim é quando o autor quer responsabilizar ambos os cônjuges quer uma decisão
que possa ser executada no património de ambos os cônjuges tem que propor a ação contra ambos.
Litisconsórcio é necessário há única a ação com pluralidade de sujeitos, portanto temos uma relação
material controvertida e com base nela há uma única relação jurídica processual com vários sujeitos,
com vários autores e vários réus ou vários autores e o réu. Temos uma relação material controvertida
temos uma relação jurídica processual em que os sujeitos devem corresponder, portanto os sujeitos da
relação material controvertida devem ser as partes da relação jurídica processual. Temos uma única
relação jurídica processual.
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No litisconsórcio voluntário temos uma única relação material controvertida, mas várias relações
jurídicas processuais, há várias relações jurídicas processuais, há uma acumulação de ações conservando
cada litigante numa posição de Independência em relação aos eus compactos.
Portanto temos uma única relação de material controvertida, mas temos várias relações jurídicas
processuais que estão reunidas num só processo. Temos um processo que na realidade corresponde a
várias instâncias, a várias relações jurídicas processuais.
Por exemplo: C1, C2 concederam empréstimo a b1, b2 e b3. A relação é solidária quer do lado ativo e
passivo.
Num cenário destes eu posso ter C1 a demandar o b1, C2 a demandar o b3, ou C1 a demandar
simultaneamente o b1 e b2 e assim sucessivamente.
Eu posso ter uma multiplicidade de configurações possíveis porque estamos sempre no quadro do
litisconsórcio voluntário, portanto eu tenho neste cenário eu tenho uma só relação material
controvertida que é aquele contrato de mútuo, e tenho uma pluralidade de relações jurídicas
processuais porque eu posso ter todas estes sujeitos na mesma ação como partes de uma só ação,
como posso ter várias ações.
No litisconsórcios voluntário apesar de estarem todas num só processo estas ações conservam uma
autonomia estrutural entre si, portanto são várias relações jurídicas processuais tramitadas num só
processo numa só ação que correspondem a uma única relação material controvertida.
Já no litisconsórcio necessário eu tenho uma relação material controvertida e tenho uma relação jurídica
processual com uma pluralidade de partes.
Exemplo: o senhorio celebrou contrato de arrendamento com 3 inquilinos e ele vai ter que mandar
nesta ação os 3 inquilinos. Portanto, temos uma só relação jurídica processual com 4 partes e uma
relação material controvertida com 4 sujeitos.
No litisconsórcio voluntário há uma única relação material controvertida do ponto de vista do direito
substantivo, há uma só relação jurídica com aqueles sujeitos, mas há uma pluralidade de relações
jurídicas processuais.
O código prevê ainda o litisconsórcio subsidiário chamando lhe pluralidade subjetiva subsidiaria, ou seja,
é uma inovação foi introduzido na reforma de 95, 96 do código anterior e permite que o mesmo pedido
possa ser deduzido contra vários réus segundo uma ordem de subsidiariedade, uma ordem de
preferência.
Portanto quando não se sabe bem qual é a configuração da relação material controvertida, eu posso
demandar o mesmo pedido contra para vários réus por ordem de prioridade, digamos assim eu mando
contra o réu A, mas se por acaso entendesse que não é reu a que tem que pagar a indeminização,
deduzo a ação subsidiariamente contra o reu B o mesmo pedido.
Um sujeito que veio de bicicleta e veio parar contra montra da minha loja e eu não sei se foi António
Bernardo ou o Carlos, então eu deduzo pedido contra o António porque acho que é aí ele a guiar, mas
subsidiariamente contra Bernardo e subsidiariamente contra o Carlos acautelam do que depois da ação
se dê como provado, evitando que tenha que propor uma ação e depois perdendo propor outra ação.
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Isto é dedução subsidiaria do mesmo pedido contra vários réus ou a dedução de pedidos subsidiários e
aqui até pode haver uma situação mais complexa. Que é vários autores subsidiariamente a deduzirem o
mesmo pedido ou pedidos distintos contra vários réus subsidariamente.
A lei permite a pluralidade subjetiva subsidiaria. O único requisito é que a dúvida do fundamentada
sobre quem sejam os sujeitos da relação material controvertida. Não é fácil descortinar quem é sujeito
da relação material controvertida.
O litisconsórcio inicial- quando surge logo na propositura da causa, quando é proposta já é proposta
numa situação de litisconsórcio numa pluralidade de partes.
Litisconsórcio sucessivo- pode ser superveniente, surgir na pendência da ação como resultado duma
intervenção superveniente de um terceiro. alguém que não era parte na causa é chamado e assumir a
posição de parte nessa ação e, portanto, criando assim uma situação de pluralidade de partes.
Isso faz se através dos incidentes de intervenção de terceiros mecanismo processual o instrumento
processual através do qual se chama a assumir a posição de parte da ação quem não era
originariamente parte da ação, juntando-se aos já eram parte na ação.
Efeito negativo da legitimidade, a falta de legitimidade. Quando alguma das partes não e legitima
dizemos que há uma situação de ilegitimidade. Como se afere a falta de legitimidade. Há vários
momentos.
Controlo sobre cada parte cada um dos autores ou de cada um dos réus, controlar a sua legitimidade
singular nos termos do art.º 30.
Se é parte legítima na ação, se tenho interesse direto em demandar se tem interesse direto em
contradizer aplicando as regras do art.º 30, nº 3 ou as normas especiais avulsas que existem no código.
A legitimidade singular de cada uma das partes, de quem é que parte do processo é das partes. 1º
momento
No caso de haver uma pluralidade de partes vamos controlar se aquelas partes podem estar
litisconsorciadas de acordo com as regras litisconsórcio voluntário ou litisconsórcio necessário, porque
as partes não podem surgir litisconsorciadas só porque apetece é preciso que se preencham os
requisitos do art.º 32 e art.º 33 seja voluntario seja necessário. Esta 2º etapa, só a vamos desenvolver
se houver uma pluralidade de partes.
A terceira etapa que é necessário fazer é se foi preterido o litisconsórcio necessário. Ou seja, se
existem terceiros que deveriam figurar como partes e não figuram ao abrigo das regras do litisconsórcio
necessário que nós estudamos no art.º 33 e no at.º 34 do litisconsórcio legal, necessário, natural e
conjugal.
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Se foi demandado alguém mas deveria também ter sido mandado outra pessoa além daquele reu. Se
esta um autor ou se deveria estar ainda 2 ou 3, mas devia ainda figurar como autor ou outra pessoa que
não figura.
Vamos ver quem é parte na causa e quem não é parte, mas deveria ser. Quem são as partes e deveria
figurar como partes deveriam figurar como partes na ação outras pessoas que não figuram? Vamos
controlar se foi preterido o litisconsórcio necessário, se a lei impunha que figurassem como parte de
determinadas pessoas e elas não figuram como partes.
Depois de efetuadas estas operações nós vamos chegar à conclusão se há ou não ilegitimidade:
Num caso em que temos uma pluralidade de partes e há uma delas que é parte e que têm legitimidade
singular, portanto não tem interesse direto em demandar ou não tenho interesse direto em contradizer
a absolvição da instância pode ser parcial.
Exemplo 1- Uma ação de 2 autores e 3 réus. Se cheguei à conclusão de que este não tem interesse
direto em contradizer é não retiram prejuízo direto imediato nas suas esfera jurídica, de acordo com a
versão de fáctico jurídicos da relação material controvertida que o autor dá petição inicial, vamos
absolver este réu da instância só e, portanto, a instância prossegue com esses 2 autores 2 réus.
Exemplo 2- quem é parte Ilegítima é este autor que não tem interesse direto em demandar, ou seja, de
acordo com a versão fáctico jurídica da relação material controvertida, este autor não retira na sua
esfera jurídica uma vantagem direta imediata. Portanto, é parte ilegítima na causa, os restantes não.
vamos absolver os réus da instância em relação a este autor. portanto fazemos uma absolvição parcial
da instância, a instância vai prosseguir com estes autores e estes réus.
A esmagadora maioria da doutrina diz que a ilegitimidade singular é insanável. Não pode ser sanada.
Alguns autores encontram a possibilidade remota de ser sanada pelo art.º 6, nº 2 do código.
O artigo não diz nada que diga diretamente respeito a esta matéria, mas alguns autores dizem
eventualmente poderá ser possível em situações muito extremas. A posição maioritária na doutrina diz
que a ilegitimidade singular não há forma de sanar.
A era casado com o Z, era uma ação sobre casa de morada de família ou sobre um bem imóvel eles são
casados em regime de comunhão de adquiridos e só o A1 é que propôs a ação, Z não propôs, o Z não é
parte.
Consequência, foi preterido o litisconsórcio necessário conjugal ativo, o autor é parte ilegítima da ação
porque ele deveria estar na ação consorciado com o seu conjugue.
O réu é casado e a ação diz respeito a um bem para o qual necessita do consentimento do seu conjugue
e ação só foi proposta contra o réu 3 teríamos aqui ilegitimidade passiva porque houve preterição do
litisconsórcio necessário conjugal passivo.
Esta ilegitimidade é sanável. O juiz tem o dever de impulsionar a sanação desta ilegitimidade.
Sanação mediante a intervenção das partes em falta. A intervenção principal provocada (CFR
art.º 261, nº 1).
É chamando a intervir, aqui diz as partes em falta, mas devemos dizer dos sujeitos, pessoas em falta,
eles não são partes, as pessoas que deveriam figurar e não figuram neles como partes.
Faz se através da intervenção dessas partes, através de um incidente regulado do art.º 261 que é o
incidente de intervenção de terceiros. Deduzindo um incidente de intervenção de terceiros permite
chamar ao processo para assumir a posição os terceiros que deveriam figurar como partes e não
figuram, e assim sanar se aquela situação de ilegitimidade, decorrente de preterição do litisconsórcio
necessário. o litisconsorte necessário deixa de ser preterido e as partes passam a ser legítimas.
Se não for utilizado esta oportunidade para sanar a preterição do litisconsórcio necessário o juiz deve
oficiosamente convidar as partes para sanarem fixando lhes um prazo, se isso não for sanado a
consequência é a absolvição da instância.
Porem, o legislador quis cabear no 261, o legislador não quer que uma ação determine por preterição do
litisconsórcio necessário, é pouco produtivo digamos assim não é bom para a justiça e, portanto, o
legislador criou 2 mecanismos adicionais para sanar uma situação de absolvição da instância por
ilegitimidade decorrentes da preterição do litisconsórcio necessário.
Permitindo no art.º 261 que mesmo depois de proferida a decisão de absolvição da instância
portanto o juiz: convido a sanarem esta situação diante do chamamento de um terceiro a sua
posição de partes as partes não dizem em nada e o juiz absolve da instância e depois proferido
esta decisão ela tem um prazo para transitar em julgado da ação 15 dias enquanto esta
decisão não transitada em julgado, normalmente 15 dias, enquanto não transitar em julgado
apesar de já ter sido determinada a absolvição da instância o autor pode deduzir um
incidente de
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Dá-se uma renovação da instância, ela renasce tinha morrido digamos assim extinguiu-se e renasce,
ganha uma segunda vida e, portanto, é permitido ainda chamar um terceiro em falta já depois de
transitada em julgado a decisão da absolvição da instância e deve fazer nos 30 dias seguintes e ao fazê-
lo o a instância que já estava extinta vai renascer e vai recomeçar o seu andamento.
16/12/2021
Coligação
A coligação está regulada no art.º 36, n.º 1 do CPC, que evidencia a possibilidade de coligação de
autores para demandar um réu ou vários réus ou um autor demandar vários réus por pedidos
diferentes a cada um deles. → “É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é
permitido a um autor demandar conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes, quando a causa de
pedir seja a mesma e única ou quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou
de dependência.”
Requisitos Positivos:
a) A causa de pedir seja única e mesma [art.º 36, n.º 1 do CPC]: Os autores que se coligam têm a
mesma causa de pedir em relação àquele réu, então, o legislador incentiva a que os autores se
coliguem e proponham uma só ação, ao invés de demandarem cada um deles, apesar de cada
um poder demandar a seguradora. Para cada uma das vítimas temos uma responsabilidade civil
para cada um dos réus, mesmo que se trate de relações distintas.
b) Os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou dependência [art.º 36, n.º 1
do CPC]: Quero deduzir pedidos distintos contra réus distintos, mas um destes pedidos está
numa relação de dependência ou prejudicialidade quanto ao outro, existindo maior vantagem,
deduzindo logo os dois pedidos numa só ação. Por exemplo, quer-se pedir a declaração de
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nulidade de um contrato, através do qual vendi um objeto a alguém e, entretanto, essa coisa
foi emprestada a terceiro, pediu-se a nulidade do negócio ao A e pedir-se a entrega de entrega
do bem ao B, só podendo ser julgado procedente se o primeiro negócio for julgado procedente,
sendo apreciados conjuntamente, pois estão numa relação de dependência.
c) Esteja em causa a apreciação dos mesmos factos ou das mesmas regras de direito [art.º 36,
n.º 2 do CPC]: A causa de pedir não é a mesma, mas a procedência dos pedidos principais
depende essencialmente da apreciação dos mesmos factos. Ou seja, em vez de cada um dos
clientes lesados propor a sua ação em tribunal, podem coligar-se, porque está em causa a
apreciação dos mesmos factos ou regras do direito ou até cláusulas contratuais análogas.
d) Relações cartulares [art.º 36, n.º 3 do CPC]: Os títulos de crédito estabelecem as relações
jurídicas cambiárias e abstratas, que se abstraem da realidade que lhe deram causa, pois estes
são suficientes para obter uma decisão de condenação (apresentando-se logo a uma execução),
pois elas valem em si mesmo como títulos de crédito, sendo estes negociados depois. Pode
acontecer que alguém preste uma garantia, a dar um aval, respondendo por esta dívida em vez
do devedor originário. Ou seja, nestas relações cartulares, existem duas relações jurídicas: a
relação jurídica cambiária (aquele papel sozinho é fonte de obrigação de pagamento) e uma
relação jurídica subjacente (que esteve na origem daquele cheque), portanto, pode-se propor
uma ação fundada apenas na letra ou fundada na dívida enquanto operação económica real.
Nos termos do art.º 38 do CPC, se houve uma cumulação de pedidos, onde não se evidencia os
requisitos, o tribunal notificará o autor de que não consegue proceder com a coligação, devendo o autor
escolher um dos pedidos, e, se este nada disser, o réu é absolvido da instância sobre todos os pedidos.
Se existirem vários autores, todos são notificados para, por acordo, escolherem qual o pedido será
necessário obter uma decisão definitiva. Se não procederem em acordo, o réu é absolvido da instância
relativamente aos outros pedidos [art.º 38, n.º 2 do CPC].
Interesse Processual
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O interesse processual consiste num pressuposto atípico (o seu regime jurídico não está delineado pelo
legislador) e inominado (não está expressamente previsto na lei). A jurisprudência e a doutrina vêm
reconhecendo este pressuposto, apesar de o legislador não ter suprido esta lacuna.
Noção de Competência
Função Jurisdicional
A função jurisdicional tem o seu conteúdo na constituição [art.º 202 e art.º 2 da LOSJ], consistindo
naquela que é confiada a todos os tribunais enquanto um todo. O legislador, como existem muitos
tribunais, estabelece a repartição dos tribunais, fazendo-se por escalas: a constituição de diferentes
ordens jurisdicionais [art.º 209 da CRP]:
• A primeira é a dos Tribunais Comuns ou Judiciais (composta pelo STJ e Tribunais de Primeira e
Segunda Instância).
• A segunda ordem é a chamada Jurisdição Administrativa e Fiscal [STA e demais Tribunais
Administrativos e Fiscais).
• A Jurisdição económica e financeira (Tribunal de Contas) e Constitucional (Tribunal
Constitucional), sendo que a cada uma desta jurisdição cabe exercer uma parcela jurisdicional,
tendo uma espécie de especialização da mesma.
Nos termos do art.º 211, n.º 1 da CRP, os Tribunais Judiciais são os tribunais comuns em matéria cível e
penal. Aqui está prevista um Âmbito Natural (a constituição indica-lhe, sendo todas as matérias cíveis e
criminais que devem ser julgadas naturalmente por estes tribunais judiciais) e um Âmbito Residual
(cabe à jurisdição comum exercer jurisdição em todas as áreas não atribuídas às outras jurisdições do
art.º 209 da CRP).
Pode existir determinadas dúvidas sobre qual jurisdição aplicar, que são os conflitos de jurisdição,
podendo ser positivos (quando dois tribunais de diferentes jurisdições que se lhe arrogam ter o mesmo
poder sobre o mesmo litígio) e negativo (quando tribunais de diferentes ordens jurisdicionais negam ter
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jurisdição para exercer o seu poder/conhecer sobre o mesmo litígio). Existe o Tribunal dos Conflitos, que
é composto por um número igual de juízos do STJ e STA, sendo este um tribunal ad hoc.
A Jurisdição Comum definida constitucionalmente não pode ser exercida por qualquer tribunal judicial.
Competência
A competência designa-se pela repartição da jurisdição pelos tribunais que integram a correspondente
ordem judicial. Esta necessidade resulta, desde logo, pela imposição constitucional de existência de
vários tribunais e de tribunais diferentes instâncias (hierarquias de tribunais), devendo alguma
especialização destes tribunais. Sendo esta competência o corolário da existência de uma pluralidade de
tribunais dentro da mesma ordem jurisdicional.
a. Competência em razão da matéria: sobre o assunto sobre qual o litígio diz respeito.
b. Competência em razão da hierarquia.
c. Competência em razão da forma de processo e valor da ação.
d. Competência em razão do território.
Nos termos do art.º 39 da LOSJ, o princípio de desaforamento consiste naquele que evidencia que
nenhuma causa pode ser removida de um tribunal para outro, devendo ser julgadas pelo tribunal que
cabe a ele conhecer, isto que resulta da própria lei. Este tem como base constitucional o princípio do
juiz natural [art.º 32, n.º 9 da CRP] que evidencia que nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal
cuja competência esteja fixada em lei anterior, para não se criar tribunais de conveniência. Quando o
princípio do desaforamento é aplicado ao processo civil não tem base constitucional, pois está
consagrado na LOSJ.
Distribuição
A distribuição é uma repartição equitativa dos processos pelos juízes que compõem o mesmo tribunal.
Se tiver dois ou cinco processos, deve-se identificar qual o juiz que vai averiguar e julgar cada causa
apresentada a um determinado tribunal, fazendo-se esta repartição por via de sorteio. Esta é uma
operação final, que não tem a ver com a repartição jurisdicional, mas sim a repartição de serviço.
17/12/2021
Caso prático
Em 15 janeiro de 2014, António, casado no regime da comunhão de adquiridos com Benedita, celebrou
com Carlos um contrato de compra e venda referente a um prédio rústico sito em Campanhã, no Porto,
ficando ajustado que o preço da venda, no valor de 4.000,00€, seria pago em duas prestações
semestrais de igual valor cada uma Carlos, adquiriu o prédio com intenção de o oferecer aos seus
futuros sogros uma vez que se iria casar no final de janeiro com Diana no regime da separação de bens.
Pagou a primeira prestação aquando da outorga do contrato. Sucede que, logo em fevereiro de 2014, já
depois de celebrado o seu casamento, se deu conta que estava prevista a construção junto ao prédio de
uma linha férrea que lhe iria retirar qualquer utilidade construtiva ou agrícola, circunstância que era do
conhecimento de António e que a ocultou de Carlos. Inconformado com tal situação, Carlos propôs
contra
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António uma ação peticionando a resolução do contrato de compra e venda e a devolução da primeira
prestação do preço paga por Carlos.
a) Tendo apenas em consideração o critério do valor da ação, a sentença que vier a ser proferida nesta
ação será passível de recurso ordinário? (3 valores)
C) Suponha agora que o processo foi distribuído no tribunal ao juiz Eduardo, sobrinho de Carlos. Poderia
Eduardo proceder ao julgamento da ação? (3 valores)
Resolução:
Conceito legitimidade. As partes são o Carlos e António. Poderíamos ver se alguém deveria figurar como
parte e não figura, mas já é outra questão.
Apreciar legitimidade singular, se houvesse vários autores teríamos que analisar um a um. É o
interesse direito em demandar ao qual se afere pela obtenção de vantagem direta e imediata
na esfera jurídica de acordo com a relação material controvertida tal e qual configurada pelo
autor. Na ausência de norma legal a legitimidade ativa singular afere se pela utilidade derivada
da procedência da causa. De acordo com este enquadramento tem legitimidade singular. Se a
ação for procedente receberia algum dinheiro e veria o contrato em que foi parte anulado ou
declarado nulo.
Saber se a disposição deste bem carecia da intervenção de ambos os conjugues ou não art.º 1682-A,
alínea a. Diz que é necessário consentimento de ambos os conjugues quando estejam uma ação em que
possa resultar uma alineação de bens próprios ou comuns, salvo se vigorar regime de separação de
bens. Ora entre eles vigora este regime de separação de bens e o imóvel foi comprado antes do
casamento, é um bem próprio do conjugue marido. Na separação de bens não há bens comuns, o que se
poderia colocar era o regime da compropriedade. Não carecia de estar acompanhado da sua mulher
nesta ação.
Legitimidade passiva
António
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Legitimidade singular do réu: ele retira na sua esfera jurídica um prejuízo direto e imediato na
procedência da causa tal e qual a relação material controvertida configurada pelo autor na
configuração inicial na medida em que terá que restituir prestações que recebeu.
Não há pluralidade de partes, não temos de averiguar se é admissível a pluralidade subjetiva
passiva
3º etapa: saber se houve preterição litisconsórcio necessário. O António é casado em
comunhão de adquiridos. Temos que ir ao art.º 34, nº 3, remete para nº 1.
Independentemente de ser bem próprio ou comum a disposição daquele bem exige sempre a
internação de ambos os conjugues. A ação devia ter sido proposta contra ambos os conjugues.
Ele devia ter sido demandado com o seu conjugue. Temos preterição do litisconsórcio
necessário passivo conjugal. António não tem legitimidade passiva, deveria estar acompanhado
na ação.
Em 3 momentos:
art.º 6, nº 2 o juiz tem o poder dever de convidar as partes a sanar a falta deste pressuposto
processual requerendo, qualquer uma das partes pode requerer, o reu não deve ter interesse
claramente, mas pode fazer, deduzindo o incidente de intervenção de 3º chamando benedita a
ocupar a posição de parte, tonar se supervenientemente ré nesta ação. A benedita não é ré
porque não foi demandada. Mas pode vir a assumir a posição de ré. Tem que ser as partes a
requerer. O tribunal não pode ao abrigo do princípio do dispositivo na dimensão de
disponibilidade sobre a instância.
O valor da causa:
1. 4.000€
2. 2.000€
6/01/2022
Competência internacional
A competência internacional coloca-se quando estamos perante litígios transfronteiriços, que têm
conexão com mais do que uma ordem jurídica – a ordem jurídica portuguesa e outra ordem jurídica a
nível internacional. Os litígios transfronteiriços têm contornos internacionais.
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A questão que se coloca é: os tribunais portugueses, como um todo, têm competência internacional
para julgar uma determinada causa?
• Litígios transfronteiriços puros: Quando há uma conexão com, pelo menos, um ordenamento
jurídico fora da União Europeia.
• Litígios transfronteiriços intracomunitários: Quando há conexão apenas com ordenamentos
jurídicos (com estados) da União Europeia.
A competência internacional é aferida aos tribunais portugueses como um todo, não existindo
diferença de competência internacional entre os diferentes tribunais portugueses, que são capazes de
conhecer um determinado litígio.
A competência internacional está regulada nos artigosº59, 62, 63 e 94 do CPC.
As regras da competência internacional dependem da verificação de um dos quatro possíveis requisitos:
Trata-se de matérias que só podem ser julgadas por tribunais portugueses, inclusive se forem julgadas
por tribunais estrangeiros, essas sentenças não podem ser reconhecidas e julgadas pelos tribunais
portugueses.
Quando as partes celebram validamente um pacto tributivo de jurisdição, o mesmo é reconhecido pelo
ordenamento jurídico português. Isto vale pela positiva, uma vez que, se as partes tiverem escolhido o
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foro dos tribunais portugueses, o ordenamento jurídico português aceita essa escolha, desde que
verificados os requisitos do art.º 94 CPC. Pela negativa, caso as partes tenham convencionado escolher
os tribunais de outro estado e essa convenção seja válida, então, à luz do art.º 94 CPC, essa escolha das
partes vincula os tribunais portugueses pela negativa.
No entanto, há um conjunto de situações em que a lei reconhece a competência internacional exclusiva
dos tribunais portugueses – art.º 63 CPC. Em relação a estes litígios, o ordenamento jurídico português
entende que eles só podem ser julgados em tribunais portugueses, sob pena de se forem julgados no
estrangeiro, essas sentenças não sejam conhecidas em Portugal.
• Ações reais (art.º 63 a) CPC): Todas as ações que digam respeito a propriedade de imóveis ou
outros direitos situados em território português só podem ser julgadas em tribunais
portugueses (o mesmo se considera em contratos de arrendamento). Quando se trata de
arrendamento de imoveis, em Portugal, caso diga respeito a um imóvel situado no país, apenas
podem ser julgados em tribunais portugueses.
Contudo, há uma exceção – o arrendamento é para uso temporário (máx. de 6 meses) e o
senhorio e o arrendatário residem ambos no mesmo estado-membro da União Europeia, que
não seja aquele estado-membro em que o imóvel esteja localizado.
• Ações pessoais relativas a pessoas coletivas e Ações de anulação de deliberações sociais (art.º
63 b) CPC): Quanto às primeiras, evidencia-se que qualquer litigio que envolva apreciar-se uma
sociedade sediada em Portugal foi validamente constituído, os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes e, ainda, uma ação de dissolução de uma sociedade comercial
• Ações registais (art.º 63 c) CPC): Dizem respeito a impugnação de registo público que esteja
sediado em Portugal, a competência é dos tribunais portugueses.
• Matéria contratual (art. º 7 n.º 1 a) Reg.): A competência internacional pertence, também, aos
tribunais do cumprimento das obrigações. Ex. Um português celebra um contrato com uma empresa
italiana, sendo que os serviços tinham de ser prestados em França. Ora, neste caso, a competência
internacional pertence aos tribunais italianos e acrescenta-se, ainda, a possibilidade de ser julgado
também nos tribunais do estado do cumprimento da obrigação – os tribunais franceses – art.º 4 n.º 1 +
art.º7 Reg. As pessoas domiciliadas num estado-membro podem ser demandadas nos tribunais do estado
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onde deveria ter sido cumprida a obrigação contratual em causa. A alínea b) acrescenta que se
considera lugar onde os bens foram ou deveriam ser entregues.
• Matéria delitual (art.º 7 n.º 3 Reg.): Relaciona-se com o princípio da adesão do processo penal,
sendo uma ação de indemnização formada em ações penais. A competência internacional pertencerá ao
tribunal onde foi demandada a ação penal, sendo demandada uma ação cível.
Além disto, existe um conjunto de diplomas que regulam a competência internacional dos tribunais
portugueses, desde logo a Convenção de Bruxelas de 1868, que foi celebrada sobre a égide do Conselho
da Europa e Antigas Comunidades Europeias, aplicando-se porque alguns estados-membros têm uma
exceção ao regulamento anterior, isto é, não o assinaram.
Competência interna
De um modo geral, para cada ação, há um único tribunal para a julgar. As normas da competência
interna delimitam um único tribunal para julgar aquela ação. Ou seja, um único tribunal será
competente para julgar determinado litígio, devendo-se articular as normas de direito processual e de
organização judiciária. Existe uma divisão judicial do território nacional:
o Comarcas (art. º33 n.º2 CPC): É a circunscrição judicial base composta por 23 comarcas. Cada um
dos distritos corresponde a uma das comarcas, exceto as Regiões Autónomas. o Distritos judiciais:
Consistem em circunscrições do Tribunal da Relação (anexo 1 LOSJ – 5 Tribunais da Relação).
Organização judiciária
Ao nível superior com jurisdição face a todo o território nacional, temos um Supremo Tribunal de Justiça
(art. º45 LOSJ), que tem sede em Lisboa.
As Relações são os tribunais intermédios ou de segunda instância (art.º67 n.º1 LOSJ).
Por fim, temos uma organização judiciária dos tribunais de primeira instância: os Tribunais da Comarca
(art. º79 LOSJ), apresentando uma competência genérica, ou seja, sendo esta residual, corresponde a
todas as matérias que não estejam expressamente atribuídas a outros tribunais (art.º80 LOSJ). Os
tribunais de comarca desdobram-se em: juízos de competência e especialização (art.º81 LOSJ), sendo
este desdobramento feito para cada tribunal de comarca e encontra-se previsto no DL 49/2014 de 26 de
Junho, nos termos do art.º93 LOSJ.
Existem outros tribunais judiciais de primeira instância que não são de Comarca e estão previstos no art.
º83 LOSJ – os Tribunais de Competência Territorial Alargada. São tribunais que estão situados numa
localidade, mas atuam sobre todo o país: Tribunal central da propriedade intelectual; Tribunal marítimo;
Tribunal da concorrência, regulação e supervisão.
Competência funcional
Certos litígios de primeira instância tinham de ser decididos por tribunais coletivos
(exceção muito residual). O art.º599 CPC aboliu o Tribunal Coletivo. Hoje, no processo cível, na primeira
instância, não há lugar a tribunais coletivos. Existem determinadas exceções noutros ramos de direito
processual, como é o caso do Direito da Família ou do Trabalho. Hoje, decorrem perante juiz singular.
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Mantém-se, ainda, a colegialidade nos tribunais superiores (art.º56 n.º1 LOSJ + art.º74 n.º1 LOSJ). Por
regra, na primeira instância, é o juiz singular.
A competência em razão da matéria consiste no assunto sobre o qual o litígio incide. Temos de atender
ao pedido e, eventualmente, à causa de pedido. Em função da concreta pretensão que o autor deduz,
determina-se as regras da competência em razão da matéria, ainda que a pretensão deduzida não seja
procedente. O que importa, ao aferir a competência material, é apreciar, em razão do pedido deduzido,
aplicar as regras da competência em razão da matéria.
Na mesma ação, o autor pode cumular vários pedidos. O tribunal pode ser competente para conhecer
alguns dos pedidos deduzidos e não ser competente para os outros pedidos – art.º555 n.º1 CPC +
art.º38 n.º1 CPC – ou seja, uma incompetência em razão da matéria, sendo isto regulado no artigo 555º
n.º1 CPC (que impede a coligação, remetendo-se para o artigo 37º n.º1 e 38º n.º1 do CPC).
• Tribunal Central da Propriedade Intelectual (art.º111 LOSJ). Abarca tudo o que tenha a ver
com a aplicação do regime dos direitos do autor; casos de propriedade industrial, que é matéria
regulada para marcas, patentes e logotipos; cumprimento e validade de contratos e atos
jurídicos com objeto de direitos de autor (ou seja, quaisquer contratos, em geral, ligados com
direitos de autor e direitos conexos e propriedade industrial).
• Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (art.º112 n.º3 e n.º4 LOSJ). Estão ligados a
causas de natureza administrativa, como é o caso de recursos ou impugnação de coimas. No
entanto, têm determinadas matérias cíveis, sendo esta residual.
• Tribunal Marítimo (art.º113 n.º1 LOSJ). Compete-lhe conhecer questões de indemnizações
resultantes de danos resultantes por navios ou embarcações; contratos de transporte por via
marítima, incluindo transportes de passageiros; contratos de seguro de navios e embarcações,
entre outros.
• Outros tribunais de competência territorial alargada.
• Juízos de comércio (art.º128 n.º1 LOSJ). Compete a estes juízos ações em que se pensa a
declaração de nulidade de um contrato de sociedade; ações relativas a direitos sociais, que
indica direitos dos sócios das sociedades perante essas mesmas sociedades (direito à
informação), entre outras matérias.
• Juízos de família e menores (art.º122 LOSJ). Compete a estes juízes as ações de separação de
pessoas e divórcio e outras ações relativas ao estado civil da família.
• Juízos de trabalho (art.º126 n.º1 LOSJ). Compete a estes juízes conhecer às questões relativos à
anulação dos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho, emergentes de contratos
de aprendizagem e de tirocínio ou de trabalho subordinado.
Juízos centrais e locais cíveis. Do ponto de vista material, a competência de ambos é a mesma. Eles são
competentes para conhecer todos os litígios cíveis que não estejam expressamente atribuídos a outros
tribunais. O que distingue ambos é o valor da ação. Art.º117 e 130 LOSJ. Se a ação tiver um valor
superior a 50.000 euros, a competência pertencerá aos juízos centrais cíveis (artigo 117º n.º1 LOSJ). Se
for uma ação igual ou inferior a 50 000€, a competência pertencerá aos juízos locais cíveis (artigos 130º
n.º1 LOSJ), cabendo-lhes os litígios que não caibam na competência dos juízos de competência alargada.
A competência em razão da hierarquia
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Não há hierarquia em sentido próprio nos tribunais. A competência regra é a que cabe aos tribunais de
primeira instância em primeiro grau de decisão, ou seja, em primeira mão, as ações são propostas nos
tribunais de primeira instância, mas existem determinadas exceções: em tribunais de relação, como é o
caso da sentença de estrangeiros e os incidentes em torno da arbitragem voluntária, como é o caso da
nomeação dos árbitros, entre outros.
Os Tribunais de Segunda Instância ou Relações conhecem os recursos de apelação e o Supremo
Tribunal de Justiça tem competência para conhecer recursos de revista que se interpõem em segunda
instância ou em segundo grau de decisão.
7/01/2022
Caso prático
Na data aprazada, as alheiras foram entregues em Hong Kong em condições impróprias para consumo
humano, em virtude de avaria na refrigeração do contentor frigorífico ocorrida durante a viagem.
Inconformado, Ssang Yoo pretende intentar em Portugal uma ação contra Armindo pedindo a sua
condenação a reembolsar o preço já recebido acrescido de uma indenização por incumprimento
contratual.
Aprecie fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais pertinentes, se Ssang Yoo
poderá propor em Portugal a ação que pretende intentar.
A questão é de competência Internacional, portanto é o problema que este caso pratico coloca e
apenas, portanto quando tiverem um caso deste género em que pergunta simplesmente se aquela ação
pode ser proposta em tribunal não é para depois irem dizer qual o tribunal em Portugal onde a ação
deve ser proposta, portanto é para apreciar a competência Internacional dos tribunais portugueses
como um todo. Se ação poder ser proposta em Portugal a mesma coisa que dizer se os tribunais
portugueses como um todo dispõe de competência Internacional para conhecer desta ação.
Qual é a ação que está aqui em casa?
Temos que nos centrar exatamente no que o caso pratico nos diz. Ação que o Ssang Yoo pretende
propor contra o Armindo pedindo a condenação no pagamento do reembolso do preço já receber já
recebido uma indeminização por incumprimento contratual é essa ação não é a qualquer outra que
pudessem imaginar que seria mais indicado, pretensão pudesse ser mais correta é aquela que esta
indicada no caso como sendo aquela que se pretende propor (ainda não é uma competência
Internacional)
Portanto o art.º 59 diz-nos então que sem prejuízo do que se encontra estabelecido em lei os europeus
e outros instrumentos internacionais que aqui não é o caso que não se aplicam a fim há muitos tratados
internacionais acerca desta matéria que nós não estudamos porque são muito específicos tem haver um
Tratado de Portugal feito com outro países ou Tratado de feito com os países de língua portuguesa nós
não estudamos naturalmente não têm que saber aquilo que nós fizemos referência por ser o mais
importante é o regulamento de 1215, esse não se aplica portanto os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes se se verificar alguns elementos de conexão do art.º 62 ou do art.º 94
ou ainda se for uma daquelas situações que está elencada no aqui de 63 como sendo casos de
competência Internacional exclusiva dos tribunais portugueses.
Quanto ao principio da consensualidade podemos já adiantar porque o caso prático não faz referência
à existência de um qualquer pacto atributivo de jurisdição portanto não há nenhum elemento que nos
diga que no texto caso pratico que nos dê as partes nesta relação contratual elegeram um foro portanto
sejam os tribunais portugueses sejam tribunais de qualquer outro Estado e portanto se isso não é
indicado no caso não ocorreu e portanto podemos já excluir o princípio da consensualidade e portanto
centramo-nos nestes 3 princípios que estão regulados no artigo 62 podemos ir também já o 63 não é
nenhuma das situações do 63, não se trata de ações sobre direitos reais relativos a imóveis situados no
território português não se trata de ações relativas a pessoas coletivas ou a impugnação deliberações
sociais de pessoas coletivas sediadas no território português, não se trata de ações registais relativas a
registros públicos conservados em Portugal e nem de insolvência ou revitalização de pessoas
domiciliadas em Portugal e muito menos de uma execução portanto 63 também podemos excluir.
Portanto estamos aqui situados nestes 3 princípios do artigo art.62 nas 3 alíneas do artigo 62 sendo
certo que há uma alínea que nos deixamos semiaberta mas que eu na altura disse tem que ser
complementada com as regras da competência territorial de direito interno e nós já estudamos as
regras de comportamento interno ontem portanto esta alínea a) já pode ser articulada com essas regras
da competência de direito interno e portanto temos aqui 3 princípios e temos que ver se algum deles ou
até mais do que um é aplicado no caso presente para justificar a competência Internacional dos
tribunais portugueses se nenhum deles for aplicável então vamos ter de concluir que os tribunais
portugueses não são internacionalmente competentes para conhecer desta ação e portanto depois
veremos melhor no segundo semestre qual é a consequência se ação vier a ser proposta num tribunal
português qual é a consequência de não haver competência Internacional para dela conhecer para já
não temos ainda esse momento final que é o da consequência porque não chegamos lá.
Então é algum destes princípio será aplicável no caso haverá competência Internacional? Acho que não
embora aqui o caso permitisse enfim com alguma justificação com alguma fundamentação
eventualmente também uma resposta no sentido positivo.
Vamos por partes. Quanto ao princípio da necessidade nós sabemos que o princípio da necessidade tem
2 dimensões. Por um lado, é o direito invocado neste caso o direito invocado é um direito de crédito,
portanto um direito de crédito do adquirente das mercadorias que entende que tem direito a receber o
reembolso do preço e um indeminização pelos danos que sofreu, portanto, o direito invocado não poder
tornar-se efetivo senão por via de uma ação proposta em território português para nada no caso sugere
isso, nada no caso pratico tem lugar em Portugal.
Caro que se o caso, por exemplo disse-se que o Armindo só tinha património em Portugal, portanto
apesar de residir em França só tinha umas contas bancárias e terrenos eventualmente poder se ia dizer
que seria mais fácil depois para execução da decisão ter já uma decisão em tribunal português.
Mas mesmo esse argumento, a meu ver, seria um argumento fraco. Portanto quanto esta dimensão não
me parece se verificar uma segunda dimensão que é existir para o autor uma dificuldade apreciável da
propositura da ação no estrangeiro o autor tem uma grande dificuldade em propor aquela ação no
tribunal estrangeiro, mas ainda assim tem que existir entre o objeto do litígio e a ordem jurídica
portuguesa um elemento ponderoso de conexão. Ora aqui parece que nenhum destes 2 requisitos se
verifica. Por um lado nada aqui sugere que o autor Ssang Yoo tem uma dificuldade como a lei diz
apreciável da propositura de uma ação em tribunais fora de Portugal, ele não reside em Portugal a
contraparte não residem em Portugal os factos que estão na origem do negócio não tiveram lugar em
Portugal e portanto logo isso parece não está preenchido e por outro lado o objeto do litígio e entre o
objeto litígio e a ordem jurídica portuguesa não há nenhum não parece existir nenhum elemento
ponderoso de conexão pessoal desde logo pessoal porque apesar de o demandado ser cidadão
português residente em França e esta domiciliado em França nenhum elemento real não está em causa
nenhum bem coisa que esteja situada em Portugal e portanto não há este elemento de conexão
ponderoso de conexão entre o objeto do litigio e a ordem jurídica. Portanto pelo princípio da
necessidade não parece
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aplicar-se aqui ao caso. Pelo princípio da coincidência temos que articular esta alinha com as normas da
competência territorial.
(Nota: a competência interna não sai para o teste, mas vai sair nos já falamos da competência territorial
e nos vamos ter que saber articulá-la com esta alínea a).
Ora por aplicação das regras da competência territorial qual é que seria o fator de conexão territorial
para conhecer deste litígio ao abrigo das regras de competência territorial? Por aplicação do artigo 71
nº1 é o réu for obrigacional e da ação destinada a exigir o cumprimento de obrigações a indemnização
do não cumprimento, pelo cumprimento defeituoso, ele resolve o contrato por falta de cumprimento é
proposta no tribunal do domicílio do réu. Admitindo-se que o credor possa optar pelo tribunal em que a
obrigação deveria ser cumprida quando o réu for uma pessoa coletiva que não parece ser o caso.
Portanto é o Armindo empresário individual, portanto, mas ainda que fosse o caso o facto de conexão
territorial por aplicação das regras de competência territorial seria ou o domicílio do reu, nós sabemos
que é assim que é a França, ou o lugar do cumprimento da obrigação que nós sabemos que é obrigação
que aqui esta em causa é a entrega das alheiras, portanto é a Malásia. Portanto num caso ou noutro as
aplicações das regras de competência territorial ditariam sempre um tribunal estrangeiro, portanto não
se aplica aqui o princípio da coincidência porque não há coincidência entre as regras de competência
territorial e a competência Internacional. Por aplicação do art.º 62, alínea a) não há então não é
aplicável no caso o princípio da coincidência.
Falta-nos então o princípio da causalidade e, portanto, é ter sido praticado em território português o
facto que serve de causa de pedir na ação ou algum dos factos que integram a causa de pedir da ação.
Aqui eu admito enfim embora eu acho que a resposta é negativa admito que bem fundamentada seria
admissível também uma resposta positiva.
Qual é o facto que está na causa do direito de pedir? É que as alheiras foram entregues em Hong Kong
em condições impróprias para consumo humano. Portanto o facto digamos assim está invocado como a
causa de pedir é naquele momento em Hong Kong as mercadorias não estavam em condições. Portanto
o facto ocorreu fora de Portugal. Claro que os senhores podiam dizer e este já saiu esta pergunta já saiu
num teste e houve alguns senhores disseram bom mas elas são produzidas em Portugal foram
produzidos em Mirandela e portanto se calhar foi la que se estragaram, não sabemos onde é que se
estragarem e portanto podemos ter em conta que pelo menos parcialmente como a lei exige aqui no
final da alinha algum dos factos que integram a causa de pedir ocorreu em Portugal quanto mais não
seja a própria produção das mercadorias foram produzidas em Portugal foram embaladas em Portugal e
depois remetidas digamos assim para Hong Kong.
(Por acaso aqui à umas gralhas foram entregues na Malásia, não muda o caso).
Com esta fundamentação eu aceitaria porque de facto o caso prático permite esta interpretação. Eu
aceitaria uma resposta que dissesse que os tribunais portugueses são competentes em razão, são
internacionalmente competentes para conhecer deste litígio ao abrigo do princípio da causalidade nos
termos da alínea b) do artigo 62 embora me pareça que a resposta correta é de facto que os tribunais
portugueses não disporiam de competência Internacional para conhecer deste litígio porque nenhum
dos 4 princípios referidos tem aplicação ao caso presente.