Lógica Informal e Livre-Arbítrio
Lógica Informal e Livre-Arbítrio
Lógica Informal e Livre-Arbítrio
Um argumento não dedutivo é forte se a verdade das premissas nos dá uma elevada probabilidade de a conclusão
ser verdadeira. A sua força não é detetável pela sua forma lógica.
Cogência
- Um argumento forte com premissas verdadeiras é um argumento cogente.
1. Para que tipo de argumento seja forte é importante que não exista informação mais especializada
sobre o assunto que contradiga o tema em análise.
2. O número de casos observados deve ser Quando o número de casos observados é pequeno e
suficiente e relevante para a conclusão que se pouco relevante, ao tentar-se retirar uma conclusão
pretende retirar do argumento geral, incorre-se na falácia da generalização precipitada.
Analogia
Argumentos que partem de uma semelhança ou analogia entre 2 coisas ou categorias de coisas. Se uma delas
tem uma certa característica, conclui-se que a outra também tem.
- Para que seja um argumento forte, é importante que este cumpra 2 requisitos:
• o número de semelhanças tem de ser relevante e em número suficiente para a conclusão a retirar;
• não devem existir diferenças significativas que possam colocar em causa a conclusão a retirar.
Se um dos requisitos não é cumprido, a analogia torna-se fraca e incorre na falácia da falsa analogia.
Autoridade
Argumento que procura defender uma conclusão recorrendo a uma autoridade:
• pode ser uma pessoa - autoridade epistémica (alguém que é especialista sobre o assunto em questão)
Ex: «Platão, na sua obra O Fédon, defende a imortalidade da alma apresentando 4 argumentos.»
Para que seja um argumento forte, é importante que este cumpra 3 requisitos:
1. A autoridade invocada (seja uma pessoa ou obra especializada) tem de ser especialista ou fonte reconhecida
na área ou tema em discussão.
3. Tem de se apresentar prova do que se afirma: que autoridade disse, o que disse exatamente e onde disse
(fonte ou documento).
Sempre que um destes requisitos não for cumprido, incorre-se na falácia do apelo ilegítimo à autoridade.
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Falácias Informais
Petição de princípio: comete-se esta falácia quando se pressupõe nas premissas do argumento aquilo
Refutação
Ex: «Bebo. Se bebo, tenho vergonha. Se tenho vergonha, tenho
Mostrar que o argumento está a pressupor o de esquecer, se tenho de esquecer, bebo. Logo, bebo.»
que tenta provar.
Falso Dilema: incorre-se nesta falácia quando numa das premissas se consideram apenas duas alternativas, mas na
realidade existem outras que não estão a ser consideradas.
Refutação
Ex: «Ou estás comigo ou estás contra mim. Não estás
Mostrar que existe uma terceira alternativa, o comigo. Logo, estás contra mim.
que conduz à falsidade da disjunção.
Espantalho ou boneco de palha: esta falácia consiste em demonstrar que se está a refutar uma certa teoria
distorcendo ou ridicularizando a mesma.
Derrapagem ou bola de neve: incorre-se nesta falácia quando se tenta mostrar que uma certa proposição conduz a
uma cadeia de implicações com um desfecho inaceitável.
Refutação
Ex: «Einstein afirma que os átomos existem.
Mostrar que não foram apresentadas boas razões Mas Einstein era infiel à mulher. Logo, é falso
para se considerar que a tese em causa é falsa. que os átomos existam.»
Apelo à ignorância: incorre-se nesta falácia quando se tenta provar que uma proposição é verdadeira porque ainda
não se provou que é falsa.
Refutação
Ex: «Até hoje ninguém conseguiu provar os
Mostrar que a ausência de prova não é uma prova
fantasmas ou as bruxas existem.
em si mesma pois pode dever-se à nossa falta de
capacidade e não à sua falsidade. Logo, os fantasmas e as bruxas não existem.»
Apelo ao povo = ad populum: semelhante no apelo à autoridade, mas aqui recorre-se à opinião popular.
Refutação
Ex: «A maioria pensa que não temos a obrigação
Mostrar que uma maioria pode ser ignorante moral de combater a pobreza absoluta. Logo,
acerca do assunto em questão e que a verdade da não temos a obrigação de combater a pobreza
proposição não ser estabelecida com base numa absoluta.»
maioria.
Falsa relação causal: ocorre quando se tenta atribuir erradamente uma relação causal a 2 estados ou
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A ação humana e o problema do livre-arbítrio
Acontecimento: evento que ocorre num determinado lugar durante um determinado período.
Uma ação é:
- Um acontecimento
Mas nem todos os acontecimentos são ações
Ex: Um furacão ou um sismo.
- Envolve um agente
Mas nem tudo o que envolve um agente é uma ação
Ex: «A Sara foi ao cinema» (ação)
- Algo que um agente faz acontecer «A Sara sofreu um AVC» (acontecimento)
Mas nem tudo o que um agente faz é uma ação
Agente Decisão
Rede
conceptual
da Ação
Humana É um processo reflexivo que
antecede a decisão. Pondera-
se sobre qual a melhor opção
Motivo Deliberação a tomar entre as várias
alternativas possíveis.
A deliberação ponderada
É a justificação, o porquê ou a razão de implica escolhas entre
ser da ação. Intenção alternativas e é um processo
tendencialmente racional.
A relação entre o motivo e a intenção
reside no seguinte: saber qual é o motivo
da ação - o porquê, clarifica a intenção ou
o para quê da ação. É o propósito ou o objetivo da ação se realizar.
Relaciona-se com os desejos, as crenças e os estados
Ex: posso ter a intenção de fazer uma mentais do agente.
viagem até Madrid porque quero ir visitar A causa de uma ação reside na intenção do agente.
o Museu do Prado (motivo). 5
Problema do livre-arbítrio
Conceitos importantes:
p (q ∧ r)
Determinismo Libertismo
Esta resposta defende que a crença num Esta resposta defende que a existência de um mundo
mundo determinista é incompatível com a determinista não anula a existência da liberdade. É possível
crença na existência da liberdade humana. viver-se num mundo submetido à lei da causalidade e existir,
Uma crença anula necessariamente a outra. ao mesmo tempo, lugar para a liberdade humana.
Determinismo Libertismo
Determinismo Moderado
Determinismo Radical: defende que os acontecimentos, tal como as ações humanas, são o resultado inevitável de
acontecimentos anteriores por serem efeitos necessários dessas causas. Assim, se as ações não dependem do ser
humano, este não é livre.
Sustenta-se em 2 argumentos:
• Argumento científico: as descobertas científicas e o sucesso da ciência explicam a confiança na crença que
todos os acontecimentos possuem causas determinadas.
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Objeção: A evolução da física quântica veio demonstrar que existem acontecimentos no universo que não são
totalmente determinados.
• Argumento da ilusão da liberdade: a sensação de agirmos livremente não passa de uma ilusão criada pela
mente devido ao desconhecido ou incapacidade de as explicar de outra forma.
Objeção: Ser livre implica apenas controlar a nossas ações e esse controlo, não é ilusório, é real.
Libertismo: defende que alguns acontecimentos, como as ações humanas, não são explicadas pelo Determinismo e
as leis causais não têm poder sobre o ser humano. Logo, existe liberdade.
• Argumento da causalidade do agente: os agentes também podem ser causas, podem iniciar uma cadeia de
acontecimentos sem ser ele próprio causado.
Objeção:
1. Não existem evidências científicas que comprovem que o ser humano não possa ser determinado por causas de
natureza interna.
2. Admitir este argumento surge outro problema: que tipo de causalidade é a do agente? Quais são as suas leis?
Determinismo moderado: para um determinista moderado, uma ação não-livre evidencia a presença de coação
ou de um constrangimento que obriga ou limita a vontade do ser humano.
• Argumento de Frankfurt: possuir livre-arbítrio implica ter alternativas possíveis de agir e controlo sobre as
ações.
Objeção: Uma das críticas apresentadas a este argumento consiste no facto, mesmo não existindo alternativas
possíveis, o ser humano continua a ser responsável pelas suas ações. Assim, a existência de alternativas possíveis não
é um requisito para exigir a responsabilidade moral.
• Argumento das razões e orientações: ser livre implica ser responsável pelas ações, conhecer e saber explicar
as razões que justificam a sua realização.
Objeção: Alguns críticos defendem que o conhecimento das razões para a realização da ação não é suficiente para
caracterizar de forma clara uma ação como livre. Face a uma situação onde existe coação ou constrangimento, o ser
humano continua a decidir com base nos seus estados internos. Assim, o que seria considerado uma ação não-livre,
emerge como uma contradição se seguirmos a definição do que é uma ação livre - causada pelos estados internos do
agente.