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PROJETO DE PESQUISA - BULLYING ESCOLAR:

PRÁTICAS DE REFLEXÃO E COMBATE

Ingrid Vitoria Dias Freire1


Agência Financiadora CAPES

Resumo
A proposta “Bullying escolar: Práticas de reflexão e combate”, é um projeto de extensão
que propõe um evento, com a finalidade de abordar o assunto e trazer práticas úteis para o
combate do bullying no âmbito escolar. O projeto será colocado em prática por meio de
uma transmissão ao vivo, pela plataforma do YouTube, e será direcionada para o público
escolar, principalmente aos professores da rede pública de educação básica, com o objetivo
de auxiliar na formação continuada desses profissionais, ofertando certificação.
Primeiramente, será promovida uma pesquisa nas escolas sobre o bullying, buscando
conhecer quais são as práticas mais comuns e corriqueiras presentes na escola, e como os
professores e demais profissionais da escola debatem e resolvem essas questões. Com base
em pesquisa realizada com artigos científicos e periódicos, será desenvolvido um evento
com base nesses trabalhos, tendo a cooperação de profissionais especializados que já estão
envolvidos com o tema. Após a apresentação dos especialistas, será aberto um espaço para
que os trabalhadores da educação façam suas perguntas e debatam sobre o tema. Na
finalização será disponibilizado uma cartilha com instrucional sobre o tema, que poderá ser
utilizada como material de apoio aos professores.

Palavras-chave: Bullying. Prevenção. Formação.

Eixo Temático: Eixo 01 - Formação Docente, Educação Escolar e Democracia.

INTRODUÇÃO

Por mais que o assunto “bullying” seja pouco tratado em pesquisas e na


sociedade, não sendo foco de atenção, está presente em diversos meios, tanto na escola,
quanto fora dela. Apesar deste tipo de violência ser muito comum, o tema vem sendo
1
Ingrid Vitoria Dias Freire. Acadêmica em Letras, Português e Espanhol. Universidade Federal da Fronteira
Sul, [email protected].
tratado no Brasil há pouco tempo. Diante de assustadores casos de ataques, massacres e
suicídios ligados às escolas, sendo, na maioria, situações que envolviam o bullying escolar,
notou-se a importância de tratar sobre o assunto na sociedade e na família. Se faz de suma
importância que professores e profissionais da educação conheçam a fundo sobre o
bullying, estando preparados para intervir e combater essa violência que se mostra comum
na juventude. Profissionais da educação com preparação e treinamento impactariam
diretamente no combate ao preconceito e à retaliação.
O projeto de pesquisa e extensão “Bullying escolar: Práticas de reflexão e
combate”, foi desenvolvido a partir de pesquisa sobre a violência física e emocional
presente nas escolas, visa buscar o desenvolvimento e a capacitação dos profissionais da
educação a fim de que haja desenvolvimento de alunos e o preparo dos professores para
tratar do assunto e combater possíveis casos de bullying no ambiente educacional. Para
obter informações sobre o tema foi disponibilizado um questionário, que buscava saber o
que o corpo docente e os funcionários entendiam como bullying e como esse é tratado nas
escolas.
A violência vai além do dano físico, apelidos ofensivos, brincadeiras
desagradáveis e humilhações também são graves atos de violência psicológica, podendo
causar danos graves à saúde mental das vítimas. Tais acontecimentos resultam em traumas
psicológicos e emocionais, que também acabam por prejudicar o aprendizado do aluno,
resultando em baixo desempenho e evasão escolar, em casos mais graves pode contribuir
em um ato suicida no qual o estudante tenta fugir da dor.
Diante da gravidade do assunto e os resultados que essa violência gera nas vítimas
e em toda a sociedade, é de suma importância que o corpo docente esteja bem preparado
para abordar, juntamente com os alunos e sua família, os assuntos e suas consequências,
fazendo esse trabalho de maneira humanizada, considerando que muitas vezes os
agressores também já foram vítimas e só estão reproduzindo as atitudes a que foram
expostos.

DESENVOLVIMENTO

Como identificar o bullying


O termo bullying vem do inglês, sendo usado em vários países para se referir a
atitudes recorrentes de intimidação verbal ou física contra seus colegas. O assunto
começou a receber mais atenção na Suécia, ganhando força como tema de estudo durante a
década de 1970 na Noruega, quando foram pesquisadas as tendências suicidas entre
adolescentes, que tinham de 10 a 14 anos de idade, entre os motivos encontrados estavam
os mal tratos por colegas de estudo.
Apesar do bullying escolar ser presente há muitos anos, era um tema pouco
tratado nas escolas e em pesquisas. O assunto tem ganho maior visibilidade a partir das
mídias sociais, nas quais tem havido divulgação de casos traumáticos e tragédias em
escolas, acontecimentos diretamente ligados a casos de violência física e psicológica, com
isso, o assunto tem angariado mais espaço em estudos e pesquisas científicas.
A questão ganhou notoriedade com o professor de psicologia Dan Olweus, que
desenvolveu pesquisas para estabelecer as diferenças entre bullying e as brincadeiras
consideradas normais durante a infância. Tais pesquisas mostram que para se caracterizar
como bullying, a ação de agressão deve ser repetitiva contra a mesma vítima por um tempo
prolongado, e deve ter desequilíbrio de poder entre vítima e agressor, podendo ser esse
desequilíbrio físico, por ser mais frágil, ou serem vários agressores que hostilizam essa
criança. Outro critério é o que a violência não tem uma motivação evidente, surge de uma
recusa a uma diferença, o agressor se junta a mais colegas, juntando-se a um grupo para
cometer violência, humilhações e chantagens. Como menciona Fante (2021) em seus
estudos:

São comportamentos produzidos de forma repetitiva em um período prolongado


de tempo contra uma mesma vítima; apresentam uma relação de desequilíbrio de
poder, o que dificulta a defesa da vítima; ocorrem sem motivações evidentes; são
comportamentos deliberados e danosos (OLWEUS apud FANTE, 2021, p. 10).

Segundo Fante (2021), o fenômeno bullying é definido como um “comportamento


cruel e intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais
frágeis em objetos de diversão e prazer, através de 'brincadeiras' que disfarçam o propósito
de maltratar e intimidar”. Ainda de acordo com Fante, a violência no âmbito escolar refere-
se a comportamentos agressivos ou que prejudicam o relacionamento interpessoal entre os
colegas, variando de palavras e brincadeiras desagradáveis até agressões que causam danos
físicos.
A partir de pesquisa realizada por Cleo Fante na região de São José do Rio Preto,
com quase 2 mil alunos, foi identificado que 49% desses alunos estavam envolvidos no
fenômeno bullying. Em outra pesquisa realizada no Rio de Janeiro, pela ONG Abrapia
(Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), com
quase 6 mil alunos, 46% estavam envolvidos com o bullying, desses 46%, 22% foram
identificadas vítimas, 15% agressores, e 12% como vítimas agressoras, ou seja, a criança é
vitimizada e tende a reproduzir esse comportamento contra outros colegas ainda mais
frágeis que o agressor. Entre os 15% identificados como agressores, 80% deles, disseram
que agem de tal modo como forma de reproduzir os maus-tratos sofridos.

As consequências do bullying no âmbito escolar

Segundo Fante (2021) por mais que o assunto “bullying na escola” seja recente, os
casos estão presentes nas escolas do mundo todo há muito tempo. Essas agressões
presentes na infância e juventude prejudicam o desenvolvimento do aluno, principalmente
seu rendimento escolar. Os sintomas podem variar, de perca da concentração, muitas faltas,
sempre buscando pretexto para não participar das aulas, até a evasão escolar. Na saúde
física pode-se notar sinais como a somatização, dores de cabeça, dores no estômago,
tontura, diarreia, taquicardia, insônia, estresse e depressão, deve-se atentar pois casos mais
extremos podem evoluir ao suicídio. Os traumas podem perdurar durante a vida adulta,
refletindo na falta de autoestima, insegurança e instabilidade emocional.
Para o agressor a consequência também é grave, esse está injetando o
comportamento a sua própria personalidade, sendo reflexo em seus relacionamentos no
futuro e seu modo de conviver em sociedade. Esses jovens terão tendência à delinquência
na maioridade, por acreditarem, desde criança, que podem ter domínio e subjugar outras
pessoas.

Casos de massacres a escolas ligados ao bullying

Um caso que chocou o Brasil, foi a tragédia de Taiúva (SP), em janeiro de 2003,
ocasião na qual um aluno invadiu uma escola e abriu fogo contra alguns colegas e
funcionários, deixando 7 feridos, cometendo suicídio em seguida disparando contra a
própria cabeça. Durante o ocorrido uma mulher pulou do prédio, ficando tetraplégica.
Conforme o site de notícias, após investigações, constatou-se que o jovem de 18 anos, que
cometeu o crime, era vítima de bullying por colegas da escola, por ter obesidade era vítima
de várias chacotas e piadas por causa de seu peso. Segundo informações de professores e
funcionários, o aluno tinha alvos em mente, pois se dirigiu aos agressores e passou por
algumas pessoas antes não atirando em nenhuma delas.
O professor Franscisco Berci, que estava presente no dia da tragédia, afirmou que
passaram por momentos de terror, mas que poderiam ter evitado caso tivessem observado a
mudança de comportamento do jovem, como mencionou o professor a reportagem: “A
turma brincava com ele, ele brincava com a turma, mas ele tinha um alvo específico, sim.
Ele passou perto de outras pessoas e não atirou nelas. Por isso que eu falo que ele tinha um
alvo determinado. Ele entrou na escola e escolheu as vítimas”.
Outro fato de atentado a escola que está associado ao bullying foi o massacre em
Realengo, que ocorreu na Escola Municipal Tasso da Silveira, na zona Oeste do Rio de
Janeiro, e deixou 12 mortos, as vítimas tinham de 13 a 15 anos. Quem cometeu o massacre
se chamava Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, antigo aluno da escola. Esse
logrou entrar na escola se apresentando como palestrante, pois a escola estava recebendo
antigos alunos para falar sobre a experiência de suas vidas escolares. Wellington levava
dois revólveres na mochila, primeiramente se dirigiu a uma sala do 8° ano, onde 40 alunos
assistiam a aula e iniciou o massacre, mirava na cabeça das meninas e no corpo dos
meninos, as mortes ocorreram a queima-roupa.
De acordo com a BBC News Brasil o atirador utilizou o tempo de recarga da arma
para trocar de salas. Com o barulho dos tiros, muitos alunos em fuga acabaram sendo
pisoteados, um dos estudantes, de 13 anos de idade, mesmo ferido, conseguiu buscar ajuda
de policiais que realizavam uma blitz a 200 metros dali. Ao ouvir a chegada da polícia,
tentou atirar em um dos policiais sendo atingido antes no abdômen, por fim, atirou em sua
própria cabeça. O massacre resultou em 12 mortos e 12 feridos. Wellinton deixou uma
carta dizendo cometer o delito, por ter sido vítima de bullying na escola em que praticou o
massacre. Thayane, também foi uma das vítimas que carrega as marcas até hoje, ela ficou
paraplégica após ter sido atingida com quatro disparos, sendo que um se alojou em sua
coluna.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta da pesquisa é, com base nos estudos teóricos, mediar o conhecimento
com os professores, para que o caminho seja uma educação fundamentada na tolerância e
boas relações entre os colegas, respeitando as diferenças. Na maioria dos casos, crianças
agressivas também sofreram maus tratos, como resultado, reproduzem atitudes de quando
foram vítimas, cabendo ao professor compreender e acolher esse estudante.
Deve-se estar atento aos comportamentos dos estudantes, pois quando esses estão
passando por situações difíceis tendem a agir de forma diferente, podendo manifestar
irritabilidade, depressão e isolamento. Cabe ao professor estar atento e ter boa
comunicação com os alunos. De acordo com os dados e acontecimentos que foram
mencionados acima, mostra-se essencial a discussão sobre o assunto em escolas, assim
como a preparação dos professores para que tenham como lidar com situações de violência
com segurança e autonomia caso estas venham a ocorrer na escola ou em sala de aula.
A base da educação é o conhecimento. As crianças vítimas devem ser bem
acolhidas pela escola e professores, assim como o agressor, que pode ser apenas mais uma
vítima, merece atenção. Também é preciso compromisso da escola, de forma que esta se
compromete a solucionar o problema, como por exemplo, realizando uma pesquisa para
entender quais os motivos da criança estar cometendo tais agressões contra os colegas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bullying pode vir de diversas formas, podendo ser físico ou até emocional, por
meio de xingamentos, palavras que ferem emocionalmente a criança. Situações de
violência ocorrem por diferentes motivos, mas o principal é pela intolerância à diferença,
como por exemplo, a cor. Geralmente quem comete tais agressões, está apenas
reproduzindo atitudes nas quais foi vítima. Cabe ao professor e ao corpo docente da escola
ter um bom direcionamento para tratar desses casos e intervir com ideias e projetos que
combatam e previnam o bullying na escola.
A mudança deve começar pela transformação dos professores e funcionários, para
que consigam fazer a diferença na vida de seus alunos. Sendo esse o intuito do projeto de
pesquisa e extensão aqui proposto fornecer uma boa formação, para que esses profissionais
estejam preparados ofertando uma educação que acolha e seja exercida com base na
tolerância e respeito entre os alunos, algo que refletirá diretamente no desenvolvimento dos
estudantes, fazendo com que cresçam e se tornem adultos que acolham as diferenças e não
venham a cometer atos de violência na sociedade tendo como base a tolerância e aceitação.

REFERÊNCIAS

BERNARDO, André. Massacre de Realengo: Os 10 anos do ataque a escola que deixou


12 mortes e chocou o Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
56657419 Acesso em: 05 de novembro, 2021.

FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar
para a paz. Disponível em: Biblioteca pessoal. Acesso em: 05 de novembro, 2021.

OLIVEIRA-MENEGOTTO, Lisane. PASINI; Audry. LEVANDOWSKI, Gabriel. O


bullying escolar no Brasil: uma revisão de artigos científicos. Disponível
em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
36872013000200016#:~:text=Bullying%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20q
ue,Su%C3%A9cia%2C%20na%20d%C3%A9cada%20de%201970. Acesso em: 05 de
novembro, 2021.

SOUZA, Christiane Parntoja de; ALMEIDA, Léo Parente de. Bullying em ambiente
escolar. Disponível em: Biblioteca pessoal. Acesso em: 05 de novembro, 2021.

Vídeo:
FANTE, Cleo. Cléo Fante lança: “O Fenômeno Bullying”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=iBJHyiPAW1c&t=738s Acesso em: 05 de novembro,
2021.

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