Análise Da Relação Entre Profissional Fisioterapeuta e Paciente em Unidade de Terapia Intensiva Sob A Perspectiva Do Tratamento Humanizado

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Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro, v.

2022/01 ISSN 2178-6925

ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE PROFISSIONAL FISIOTERAPEUTA E


PACIENTE EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA SOB A PERSPECTIVA DO
TRATAMENTO HUMANIZADO

ANALYSIS OF THE RELATIONSHIP BETWEEN THE PROFESSIONAL PHYSICAL


THERAPIST AND PATIENT IN THE INTENSIVE CARE UNIT FROM THE
PERSPECTIVE OF A HUMANIZED TREATMENT

ANNA LUIZA BARBOSA VERSIANI


Acadêmica do 10º período do Curso de Fisioterapia. Universidade Presidente
Antônio Carlos - ALFAUNIPAC de Teófilo Otoni/MG – BRASIL
E-mail: [email protected]

FRANKLIN AUGUSTO RODRIGUES VIEIRA


Acadêmico do 10º período do Curso de Fisioterapia. Universidade Presidente
Antônio Carlos - ALFAUNIPAC de Teófilo Otoni/MG – BRASIL
E-mail: [email protected]

REJANE GOECKING BATISTA PEREIRA


Especialista em Fisioterapia Neurológica pela UFMG, Especialista em Terapia
Intensiva Neonatal pela Escola de Saúde Pública-MG. Fisioterapeuta Responsável
Técnica Unimed Três Vales. Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade
Presidente Antônio Carlos campus Teófilo Otoni – MG.
E-mail: [email protected]

Recebido: 29/10/2021 – Aceito: 03/11/2021

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Resumo

Com a presença mais constante dos profissionais fisioterapeutas nas UTIs, suas funções
aumentaram, aumentando com elas as responsabilidades. O fisioterapeuta intensivista é levado a
ter que lidar com pacientes graves em ambiente pouco humanizado da Unidade de Terapia
Intensiva. As limitações do espaço e a distância da vida cotidiana tornam a UTI menos humanizada
e é obrigação dos profissionais de contato direto minimizar esse sofrimento. Porém esse ambiente
também afeta os profissionais de forma a interferir no tratamento perante a situação mais complexa
que é a internação em UTI. Realiza-se uma análise bibliográfica na estrutura denominada revisão de
literatura sistemática, do tipo descritivo, caracterizada por ser qualitativa, a qual temos como objetivo
de analisar qual a relevância do tratamento humanizado dentro do ambiente de Unidade de Terapia
Intensiva para os profissionais Fisioterapeutas e seus pacientes.
Diante disso, verifica-se que o tratamento humanizado dentro das Unidades de Terapia Intensiva
colabora de forma positiva para a relação profissional/paciente e para a recuperação do paciente,
dando uma oportunidade de atendimento de qualidade superior e ao profissional um ambiente de
trabalho mais agradável e sua aplicação é diretamente ligada as questões biopsicossociais da
equipe, do paciente e dos familiares do paciente.
Palavras-chave: Humanização em UTI. Tratamento Humanizado. Humanização Fisioterapia na UTI

Abstract

With the more constant presence of physiotherapists in the ICUs, their functions have increased, so
as their responsibilities. The intensive care physiotherapist is forced to deal with critical patients in a
less humanized environment of the Intensive Care Unit. The limitations of space and distance from
daily life makes the ICU less humanized and it is the obligation of direct contact professionals to
minimize this suffering. However, this environment also affects professionals in a way that interferes
in the treatment facing the most complex situation, which is hospitalization in the ICU. A literature
review is carried out in the structure called systematic literature review, descriptive, characterized by
being qualitative, which aims to analyze the relevance of humanized treatment within the Intensive
Care Unit environment for Physiotherapists and their patients.
Therefore, it appears that humanized treatment within the Intensive Care Units contributes positively
to the professional/patient relationship and to the patient's recovery, providing an opportunity for
superior quality care and a more pleasant working environment for the professional and its

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application is directly linked to the biopsychosocial issues of the team, the patient and the patient's
family members.
Keywords: Humanization in ICU. Humanized Treatment. Physical Therapy Humanization in the ICU

1. Introdução

O trabalho do profissional Fisioterapeuta tem se mostrado cada vez mais


necessário dentro das Unidades de Terapia Intensiva. As técnicas de atendimento
fisioterapeutico são de grande importância para a recuperação eficaz e a
preservação das funcionalidades dos pacientes. A atuação do profissional
fisioterapeuta depende muito da qualidade relacional, nas condições que os
pacientes se apresentam durante o tratamento intensivo e as questões psicológicas
que estão adjuntas às patologias físicas.
A política de humanização dentro das UTIs deve ser construída de forma
coletiva, identificando as potencialidades, necessidades, interesses e desejos dos
sujeitos envolvidos, sejam eles pacientes, familiares ou profissionais da saúde.
A realização da humanização no atendimento veio através da necessidade
de poder contribuir com a melhora e recuperação dos pacientes que chegam à UTI,
por um conjunto de iniciativas baseadas nos cuidados ao paciente, com a
capacidade de conciliar a tecnologia com o acolhimento necessário e o respeito às
questões biopsicossociais do paciente, da equipe multiprofissional que o assiste e
da família que acompanha o paciente.
Este trabalho busca ressaltar a relevância do tratamento fisioterapêutico
humanizado para pacientes com internação em UTI com intuito de demonstrar
como o ambiente hospitalar pode afetar a relação profissional/paciente, o bem estar
biopsicossocial do paciente, bem como as pressões no trabalho do profissional
Fisioterapeuta intensivista interferem no tratamento humanizado.
A presente pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa e de nível descritivo
por meio de análise bibliográfica na estrutura denominada Revisão de Literatura.
Foi feita uma revisão criteriosa com busca nas bases de dados virtuais SCIELO
(Scientific Eletronic Library Online), Journal of Health Connections, Revista Ciência

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& Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Escolas Medicas,


Revista UNIJUI, (Physiotherapy Evidence Database), LILACS (Literatura Latino
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Google Acadêmico e PubMed. Os
critérios de inclusão foram: trabalhos publicados entre os anos de 2002 e 2020;
artigos originais, artigos experimentais, estudos randomizados e revisões
bibliográficas na língua portuguesa. As buscas pelas obras nas bases de dados
virtuais utilizaram as seguintes palavras chaves: humanização, Unidades de
Terapia Intensiva, fisioterapia, atendimento humanizado. Foram excluídos da
análise estudos que se desviaram do tema proposto, publicados antes do ano de
2002 e trabalhos em outros formatos como: monografias, dissertações e teses.

2. Revisão Bibliográfica

2.1 Humanização em Unidade de Terapia Intensiva

As competências dos profissionais fisioterapeutas exigem que estes


estejam habituados a buscar o conhecimento técnico-científico para performar de
forma satisfatória em seus campos de trabalho. Essa busca por um plano de
tratamento mais eficaz e mais técnico pode ir de contramão à humanização do
tratamento. (SANTUZZI, 2013) (VILA, 2002) Dentro do tratamento fisioterapêutico
nas Unidades de Terapia Intensiva, o processo de reconhecimento e aplicação da
humanização do atendimento deve ser levado como uma prioridade. A UTI
necessita de equipamento de ponta, mas estes não são a única necessidade
básica dentro do atendimento; o profissional precisa levar em consideração o fator
humano do paciente, pois somos, junto à equipe multidisciplinar responsáveis pela
saúde física e mental do doente em internação. (CAETANO, 2007) (MONDADORI,
2016) (VILA, 2002) É de comum acordo que a prioridade máxima dentro da UTI é
manter o paciente estabilizado, monitorado e em possibilidade maior de
sobrevivência, porém é necessário que se avalie as condutas dentro das Unidades
de Terapia Intensiva, pois muitas vezes os tratamentos necessários para a
manutenção da vida são incapacitantes, reclusivos, estressantes e
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desestimulantes, o que pode acarretar num prognóstico desfavorável. (GOMES,


2018) (VILA, 2002)

2.2 Tratamento Fisioterapeutico Humanizado

O tratamento humanizado vem sido retratado nos cursos de Fisioterapia de


forma dissolvida dentro da grade curricular, não colocando como um foco de estudo
em matéria específica e sim como complemento das áreas fisioterapêuticas
(FIGUEIREDO, 2019), mesmo que os profissionais docentes veem a necessidade
de humanizar o tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (SANTOS, 2016).
Dentre os 24 alunos da Faculdade de Ciências Médicas de Campina
Grande formandos do primeiro semestre de 2007 foi demonstrado baixo
conhecimento sobre o conceito de humanização, com uma visão restrista sobre o
atendimento humanizado (SILVA, 2011) A concentração do conhecimento na
execução das técnicas fisioterapêuticas e o ritmo de trabalho intenso dos
graduados foram apontados como alguns dos fatores responsáveis pela qualidade
inferior da relação profissional/ paciente. (CONDRADE, 2010) É importante que
haja uma revisão dos cursos de graduação em relação ao ensino adequado,
completo, mais explícito e mais aprofundado sobre a humanização na saúde.
(FIGUEIREDO, 2019) Como foi observado pelo estudo feito com 26 estudantes de
fisioterapia em estágio curricular, estes relataram que as crianças atendidas nas
unidades hospitalares utilizando recursos lúdicos de forma rotineira se
desenvolveram de forma eficiente, sendo optante da maioria de realizar o
atendimento seguindo esse critério, o que reforça a ideia do atendimento
humanizado feito de forma rotineira nas unidades de saúde pode efetivamente
colaborar para a melhor evolução dos pacientes internados. (SANTOS, 2020)
Em 2 estudos encontramos o panorama da humanização da saúde dentro
das UTIs nos últimos 5 anos, sendo um estudo do tipo descritivo investigacional,
qualitativo e quantitativo, que avaliou os profissionais da saúde (técnicos em
enfermagem, enfermeiros, médicos e fisioterapeutas) do Hospital Regional de
Santa Maria (HRSM), na cidade Santa Maria/DF. Nessa unidade foi constatado que
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nos últimos 5 anos não houve evolução no pensamento dos profissionais quanto ao
tratamento humanizado, mantendo pelos 5 anos um atendimento insatisfatório
nesse quesito. Também foi constatado que esses profissionais não se sentiam
valorizados na sua área de atuação, o que interfere no resultado da pesquisa.
(CANGUSSU, 2020) No segundo estudo foi realizado revisão integrativa realizada
nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe (LILACS) e Base de
Dados de Enfermagem (BDENF) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), chegando
ao panorama semelhante à amostragem do estudo anterior. (DOS SANTOS, 2020)
Em 5 anos, não houve uma grande evolução na conscientização dos profissionais
em relação a aplicação do tratamento humanizado nas UTIs.

2.3 Bioética do Tratamento Fisioterapeutico em UTI

O Código de Ética e Deotolongia da Fisioterapia, elaborado pelo COFFITO


possui as normas éticas da Fisioterapia. Nele encontramos as responsabilidades
do exercício da profissão em vários ambitos, seja na relação com o paciente, com
colegas de trabalho, até mesmo honorários e responsabilidades ao realizar
publicações acadêmicas. (COFFITO, 2013) Dentre essas normas temos citações
que lembram ao profissional Fisioterapeuta a sua obrigação de realizar um trabalho
de acordo com a bioética, garantindo melhor qualidade de vida e atendimento do
paciente enquanto enfermo. A promoção da saúde é uma obrigação do
fisioterapeuta, como visto no Artigo 4 do Código de Ética do profissional
fisioterapeuta:
O fisioterapeuta presta assistência ao ser humano, tanto no
plano individual quanto coletivo, participando da promoção da
saúde, prevenção de agravos, tratamento e recuperação da
sua saúde e cuidados paliativos, sempre tendo em vista a
qualidade de vida, sem discriminação de qualquer forma ou
pretexto, segundo os princípios do sistema de saúde vigente
no Brasil.
Já no Artigo 14 do Código de Ética do profissional Fisioterapeuta há um
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reforço na ideia da obrigação do profissional em zelar a qualidade de atendimento


do paciente em todos os aspectos físicos e mentais:
Constituem-se deveres fundamentais dos fisioterapeutas
relacionados à assistência ao cliente/paciente/usuário: I –
respeitar a vida humana desde a concepção até a morte,
jamais cooperando em ato em que voluntariamente se atente
contra ela, ou que coloque em risco a integridade física,
psíquica, moral, cultural e social do ser humano; [...] IV –
respeitar o princípio bioético de autonomia, beneficência e
não maleficência do cliente/paciente/usuário de decidir sobre
a sua pessoa e seu bem estar; V – informar ao
cliente/paciente/usuário quanto à consulta fisioterapêutica,
diagnóstico e prognóstico fisioterapêuticos, objetivos do
tratamento, condutas e procedimentos a serem adotados,
esclarecendo-o ou o seu responsável legal. VI – Prestar
assistência fisioterapêutica respeitando os princípios da
bioética.
A humanização da saúde é entendida de forma rasa pelos profissionais da
saúde. O tratamento humanizado é tratado como assistencialismo, muitas vezes
não havendo um consenso dos profissionais sobre o que seria a humanização
dentro das UTIs, nem os protocolos corretos para garantir sua implantação.
(SANCHES, 2016) A humanização na saúde visa garantir condições de
atendimento dignas independente da classe social, poder aquisitivo, crenças,
fisionomia e meio inserido; sem deixar de levar em consideração cada uma de suas
vivências na elaboração do plano de tratamento. (CAMPOS, 2012) Para que o
plano de tratamento seja feito no modelo humanizado dentro do ambiente de UTI, é
necessário levar em consideração as questões éticas e morais da bioética,
aplicando dentro do praticável. Enquanto a ética diz respeito ao “eu”, dentro das
ideias, do caráter, dos valores, cultura familiar, social e histórica, a moral vê essas
questões na visão do “nós”, utilizando daquilo que o indivíduo tomou para si e
aplicando no coletivo. A bioética trabalha utilizando a ética e a moral para realizar
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esclarecimentos sobre questões éticas dentro das questões biopsicossociais das


ciências médicas. (SANTUZZI, 2013)

2.4 Influências Biopsicossociais no Tratamento Humanizado

Dentro da Unidade de Terapia Intensiva o paciente é privado de sua vida


social, do acesso aos seus pertences, da sua individualidade, da privacidade de
seus corpos, das suas atividades de vida diária, do direito ao silêncio, ou até
mesmo da luz do Sol. Luzes artificiais ficam 24 horas acesas, os leitos próximos, o
som dos aparelhos ficam sempre ligados, em que os cheiros químicos e de
secreções que pertencem ou não ao paciente permeia o ambiente e a temperatura
é invariavelmente fria. O desgaste emocional é grande e justificável, tornando um
ambiente por si só pouco humanizado. O dever do profissional é diminuir o
desconforto e vulnerabilidade do paciente e da família. (SANTUZZI, 2013) (VILA,
2002)
O profissional fisioterapeuta em seu papel de intensivista enfrenta ainda as
suas questões pessoais, que interfererem diretamente no atendimento ao público.
As jornadas de trabalho são estressantes, muitas vezes exaustivas. Na graduação,
o profissional não é preparado para lidar com quadros de extrema gravidade e com
a morte e não são preparados para lidar com familiares de pacientes graves.
(SANTUZZI, 2013) Como mecanismo de defesa o profissional se fecha à
possibilidade de proxêmica com o paciente, mantendo uma “distância de
segurança” para não sofrer com a possível perda do paciente. Já diante dos
familiares há a necessidade de se adequar ao nível de escolaridade do familiar
para realizar as orientações sobre o paciente e passar as notícias de seu quadro
clínico, compreender que aquela situação é complexa tanto para a equipe quanto
para os entes queridos. (VILA, 2002)

2.5 Visão do Paciente sobre a Humanização em UTI

Os pacientes sentem positivamente quando o tratamento fisioterapêutico é


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realizado de forma humanizada. Num estudo feito em um hospital público de


Fortaleza – Ceará com pacientes em pós operatório de cirurgia cardíaca (6
pacientes de cirurgia de revascularização do miocárdio, 1 transplantado cardíaco e
3 pacientes de cirurgia de próteses valvares, com permanência média de 3 dias de
internação em UTI), os pacientes consideraram que os aspectos positivos do
atendimento superaram os negativos, e frisaram que o atendimento de qualidade
com bons profissionais visando a recuperação foram fundamentais para a
recuperação. (PINTO, 2008). Em agosto de 2008, no Hospital São Rafael (HSR)
em Salvador (BA) foi realizado um estudo de corte transversal com 44 pacientes
que estiveram internados nas UTIs Geral e Cardiológica. A maioria dos pacientes
entrevistados demonstraram satisfeitos com a assistência de fisioterapia; apenas 2
pacientes avaliaram como desumanizada a relação fisioterapeuta-paciente.
Entretanto, a empatia e garantia foram os fatores determinantes da satisfação com
a humanização da assistência de fisioterapia. No sentido de melhorar a qualidade
do atendimento prestado, o reconhecimento dos mais frequentes fatores de
insatisfação podem apontar caminhos para facilitar a humanização da assistência
de fisioterapia prestada na UTI. (LOPES, 2009) No Paraná, um estudo transversal
feito em fevereiro à junho de 2015 no Hospital de Ensino São Lucas (FAG), 60
pacientes demonstraram satisfação e apontaram como humanizado o atendimento
da UTI adulto da respectiva unidade. Os pacientes relataram que a equipe de
fisioterapeutas realizaram as condutas de forma humanizada nos quesitos
dignidade, comunicação, confiabilidade, aspectos interpessoais e receptividade, os
resultados foram positivos, sendo aprovados por todos pacientes. De acordo com
os resultados obtidos neste estudo, foi possível observar a conduta profissional
humanizada adotada pelos fisioterapeutas atuantes na UTI e a satisfação dos
pacientes que necessitaram dessa assistência fisioterapêutica ajudaram na
recuperação dos pacientes. (MONDADORI, 2016)

2.6 Relação entre Fisioterapeuta e Paciente

De acordo com Santuzzi et al. (2013), os profissionais fisioterapeutas não


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são preparados de forma mais aprofundada à lidar com questões da bioética do


mercado de trabalho e com isso nem sempre as maiores dificuldades encontradas
são sobre as técnicas a serem aplicadas e sim em como lidar com situações
complexas na relação profissional/paciente. Figueiredo et al. (2019), Santos et al.
(2016) e Silva et al. (2011) chegaram na concepção que a humanização é retratada
dentro dos cursos de fisioterapia como um complemento de aprendizado, o que
não condiz com real necessidade de aprendizado. Dissentes e docentes veem a
necessidade de realização do atendimento humanizado, mas pouco se tem feito
para adequação dos cursos de Fisioterapia para que a humanização seja estudada
de maneira a mostrar de fato sua relevância dentro do mercado de trabalho. Como
retratado por Silva et al. (2011), os alunos participantes de seu artigo apresentavam
baixo conhecimento acerca da humanização. Já no estudo de Santos et al. (2020),
crianças atendidas de maneira lúdica, com tratamento humanizado tiveram uma
significativa melhora e a maior parte dos alunos optaram por realizar o tratamento
de forma humanizada para garantir a qualidade do atendimento prestado e bem
estar dos pacientes.
Como levantado por Santuzzi et al. (2013) e por Villa et al. (2002), o
ambiente da UTI é por si só pouco humanizado tanto para o profissional
Fisioterapeuta, quanto para o paciente internado. Os fatores estressantes do
ambiente podem ou não estar diretamente sobre a responsabilidade do
Fisioterapeuta, e cabe ao profissional buscar as maneiras de minimizar os fatores
complicadores para que seu atendimento seja efetivo, seu trabalho mais prazeroso
e o paciente se recupere de maneira satisfatória com a menor perda possível.
Dentro da UTI há a necessidade de lidar com o ambiente hostil para o paciente,
com situação crítica para toda a equipe, com as descargas emocionais que o
ambiente gera nos pacientes e nos familiares, com a pressão do trabalho e com a
iminente possibilidade de morte dos pacientes. São pacientes graves de
assistência direta 24 horas por dia. No final manter esse ambiente humanizado faz
com que todos se beneficiem, compensando o esforço nas adequações
necessárias de acordo com a demanda do local de trabalho.

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3. Considerações Finais

O tratamento humanizado dentro das Unidades de Terapia Intensiva


colabora de forma positiva para a relação profissional/paciente e para a
recuperação do paciente, dando uma oportunidade de atendimento de qualidade
superior e ao profissional um ambiente de trabalho mais agradável. Mesmo com
essa confirmação foi constatada que a humanização em UTI não é feita de maneira
efetiva e de forma homogênea nas unidades de saúde. As maiores limitações no
artigo foram em encontrar material de pesquisa de qualidade dentro do tema
proposto dentro do critério de 10 anos de publicação (2010-2020). Mesmo abrindo
a possibilidade de utilizar artigos mais antigos, houve poucos trabalhos relevantes
para acrescentar ao tema proposto (estendido para 2007-2020, mais uma exceção
de 2002). É valido que se realizem pesquisas acerca da padronização do
tratamento de maneira humanizada dentro das Unidades de Terapia Intensiva
pelos profissionais Fisiotereapeutas e por toda a equipe multiprofissional. É válido
políticas públicas que colaborem com tal padronização, bem como com a grade
curricular dos cursos de Fisioterapia, a fim de melhorar o ensino da bioética,
relação profissional/paciente, bem como o bem estar biopsicossocial dos
profissionais Fisioterapeutas e de seus pacientes.

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