Depressão, Coimbra de Matos

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A investigação da Depressão, segundo Coimbra de Matos

Duas preocupações que motivam esta investigação:

1. A natureza da perda – O doente depressivo perde, não o objeto devido à morte ou


retirada de elementos significativos, mas demarca-se o ambiente familiar disfuncional
e conflituoso com perda ou retirada de afeto pelo sujeito por parte dos objetos
significativos. Ou seja, a perda do amor das pessoas, e não necessariamente das
pessoas.

2. A qualidade da perda – Há a distinção, por parte do autor, entre depressão verdadeira


e depressão falsa. A primeira diz respeito à perda do afeto e do amor. Esta última,
também descrita como depressão anaclítica (dependência emocional na primeira
infância) ou borderline, a perda é sobre a função do objeto. Enquanto que, na
depressão considerada verdadeira, o que falta não é necessariamente a função do
objeto, mas o amor/desejo de estar/conviver com o mesmo, na depressão falsa a
perda é a funcionalidade.

De um ponto de vista dinâmico, o estudo geral das depressões mostra que existem:

1. A Depressibilidade – uma depressão dita normal, que é reativa e é caracterizada pela


reação ou fenómeno de uma estrutura pós-edipiana à perda de um objeto privilegiado
– ser capaz de fazer o luto desta fase é um sinal de boa saúde mental.

2. A Depressão patológica – a natureza predominantemente narcísica dos laços com o


objeto; diz-se que este objeto é sobretudo investido pela líbido narcísica ou que o
objeto é sobretudo narcísico, objeto funcional ou self-objeto.
3. A Depressividade – a existência de um permanente conflito com os introjetos traz uma
constante esmagamento do Self e esgotamento do Eu. Esta pode traduzir-se em
sentimento de inferioridade e/ou um comportamento de relativa incapacidade e revela
esforço defensivo contra o abatimento, pela cedência ao objeto interno. Também pode
apenas deixar-se deprimir e permitir-se à tristeza e solidão pelo abandono do objeto
tutor.

A Depressividade define a personalidade do indivíduo e refere-se a um objeto semiperdido


(perdido enquanto bom objeto). O objeto é um prolongamento do Self, um complemento da
pessoa. Depressão é sobre um estado transitório de perda do objeto. Depressibilidade é
quando o indivíduo sabe e pode fazer o luto do objeto, investindo num outro, porque não tem
dependência excessiva. Não existe afeição patológica, nem ao objeto, nem às partes do Self.
Boa autoestima.

Depressividade e personalidade depressiva Vs. Depressão e estado depressivo: na


depressividade, o que ressalta são os traços de personalidade depressivos, sendo considerada
uma depressão leve. Na verdadeira depressão, esgotam-se os traços pelo desenvolvimento do
próprio processo depressivo.

Depressão psicótica: carência identificativa na relação precoce;

Depressão neurótica: carência da narcisação da imagem sexuada.

São os extremos da dimensão depressiva da personalidade.


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Sentimentos comuns das pessoas depressivas: sentimento de falha, medo de falhar e o


sentimento de incapacidade. Agravam-se em situações de competitividade.

Estrutura e funcionamento da Depressão: inferioridade e culpa

A culpa tem duas origens que se cruzam entre si: 1) a idealização do objeto, relacionada à
tendência de o desculpabilizar; 2) a indução da culpa por parte do próprio objeto, que se
idealiza a si mesmo e faz-se idealizar.

O sujeito depressivo projeta a bondade e introjeta a maldade do objeto – “eu é que sou mau”
– processo de inversão da experiência vivida, que é influenciado pelo objeto e através do qual
é inflingida a culpa como punição. Existe a ideia de que a pessoa depressiva merece o que de
mau lhe acontece (teoria do mundo justo, Lerner, anos 60). Portanto, estamos perante um erro
cognitivo associado à lógica da apreciação da realidade.

A relação depressígena (causadora de depressão) consiste nesta dinâmica: o objeto


patogénico (que é o objeto ou agente depressígeno) culpa o sujeito, que se entende por objeto
patológico, idealizando-se a si mesmo. É, então, um objeto projetivo (a sua identificação
projetiva dá-se por meio da libertação da maldade/agressividade acusando o outro). É também
narcísico porque se idealiza e capta a idealidade do outro.

Há depressão porque há objeto depressígeno: que não desculpa, mas culpa o outro. Que não
ama, mas capta o amor do outro. É um objeto culpabilizante e desamante, tornando esta culpa
em algo patológico e ilógico. É este raciocínio patológico que o terapeuta tem que corrigir,
através de recuperar a idealidade do sujeito na idealização do objeto, bem como a sua
inculpação. Inverter os sentidos.

O mesmo acontece com a questão da inferioridade, pois este é um objeto inferiorizante


relativamente ao sujeito, através do seu “autoengrandecimento”. Pode ser visto como um
objeto desnarcisante “eu sou o maior tu és o menor” – assim pensa o agente depressígeno. No
seu grau máximo, este é um objeto humilhante. O objeto culpígeno (a culpa), no seu limite,
será um objeto torturante.

Não há depressão sem culpa e sobretudo sem inferioridade porque a retirada de amor pelo
objeto – a causa principal da depressão – é só por si desnarcisante. O sintoma característico da
depressão é a baixa autoestima. É aí que a depressão se separa do luto, em que não existe
perda de autoestima (a não ser no luto infantil, em que a perda do objeto tende a ser sentida
como desafeto e abandono).

Casos excecionais: em adultos, luto patológico com um carácter de depressão – quando o


enlutado pensa que a pessoa se deixou morrer porque não gostava dele – o objeto não
abandonou o sujeito por causa extrínseca, mas pelo desamor pelo sujeito (intrínseca). A
maioria dos casos não são lutos patológicos.

Luto corresponde a tristeza. Depressão corresponde a abatimento.

A disposição depressiva

A condição ou disposição depressiva é a desistência dos interesses do Ego em favor da


manutenção do amor do objeto. Não é o mesmo que altruísmo, ou um amor desinteressado
do objeto. O depressivo ama para ser amado e admirado, por ser pobre em sentimentos de
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autoestima e autovalorização (mas estes também podem ocorrer em caso de defesa maníaca,
onde entra a autoimagem de grandiosidade).
É um amor por dependência afetiva, e não porque existe realmente a capacidade de amar por
si só.

Culpabilidade inconsciente

Conceito de difícil entendimento, pois se o sentimento existe então é consciente. Não


obstante, é possível que um sentimento, então consciente, seja reprimido no lugar do
inconsciente tornando-se um resíduo condicionante de atitudes/comportamentos cuja
motivação será, portanto, inconsciente. “A culpa outrora sentida, e agora ignorada, é que
persiste como motivo oculto (inconsciente) da conduta actual.”.

A necessidade de punição vem do sentimento inconsciente da culpa (masoquismo moral).

O papel do terapeuta: conduta transferencial da culpa que deve ser percebida em conjunto
com a capacidade do sujeito lhe tomar consciência. Ao fazer este processo de interpretação,
emoções atuais podem coincidir com emoções e recordações do passado infantil, de uma
fantasia ou de um sonho. A interpretação eficaz requer um conjunto de dados de vários
contextos, de forma a trazer consistência à evidência. Se os elementos forem escassos são
insuficientes para produzir esse efeito.

A Depressão neurótica

Persiste uma ideia obcecante (medo delirante do abandono com raiva narcísica) e
sobrevalorizada, e contra a qual não se estabelece luta. É baseada na neurose histérica, e na
univalência do objeto: que ou é bom (idealizado), ou mau (tendencialmente abandonante).
Também é conhecida por neurose histérica e pelo seu narcisismo carenciado – necessidade de
estima, Kurt Schneider. Inércia.

Esta ideia obcecante associada ao medo do abandono, pode ser vista à luz da teoria edipiana
através do ciúme: o objeto é facilmente visto como alvo de manobras sedutoras de outra
pessoa. Esta pessoa traduz-se num terceiro elemento relacional e vai figurar uma ameaça
sexual ao sujeito depressivo, pois além de materializar o abandono, representa a sua fraqueza
sexual e o sentimento de castração.

Observamos não só uma regressão oral e narcísica, mas uma regressão fálica com deceção
edipiana. A neurose histérica é caracterizada pela dupla regressão aos objetos edipianos e ao
narcisismo primário.

Existe uma forte ligação a substâncias que alterem a consciência, como forma de se
aproximarem do objeto ideal ainda que temporariamente. Masoquismo e frustração precoces.

Estratégias de recalcamento associadas ao afeto depressivo, poderão ser a defesa narcísica, o


exibicionismo e a teatralidade. Outra delas é a histeria de conversão, quando a dor psíquica se
torna física, com manipulação do objeto e importante benefício secundário.

Na neurose obsessiva, predomina a ambivalência. A depressão melancólica traduz-se na


anorexia mental do período edipiano (um exagero da experiência vivida).
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Sobre a patogenia da Depressão:

A criança foi investida narcísica e negativamente pela mãe, não foi valorizada porque não
correspondeu ao objeto idealizado pela própria mãe e que se projetou no filho – não
simbolizava o pénis invejado. Torna-se numa relação narcísica, pois a mãe é severa e exigente
com este objeto que se materializa no filho. A mãe quer que este filho seja um Eu Ideal e um
Ideal do seu próprio Eu, que acaba por experimentar metas dificilmente atingíveis, sente uma
sensação de insucesso real e falha constante. Partem para as conquistas já com o sentimento
de derrota, geralmente as suas conquistas mais desejadas.

Não correspondendo à compensação narcísica da própria mãe, este objeto é investido de


forma ambivalente: é desejado porque pelo menos é um símbolo do atributo narcísico de que
esta mãe carece; mas profundamente rejeitado pela desilusão real que marca a efetivação do
fantasma inconsciente desta mãe.

São mães deprimidas ou com tendência à depressão, apresentam um feiticismo fruto da


simbologia do pénis que não tiveram e não reconstituíram, nem no filho amado, nem noutro
objeto querido. São pessoas com tendência ao apego material, que para elas terá uma
significação superior porque são uma consequência da idealização.

Não existe o holding (equilíbrio das partes do Self, Winnicott).


A criança tem dificuldade em construir um self-objeto transitório (Kohut), não tem um bom
exemplo de segurança narcísica e por isso ligar-se-á tendencialmente a objetos desse cariz
(dependente dos self-objetos). Observa-se nesta estrutura o que se define como vazio
traumático, porque a criança é obrigada a desenvolver-se no sentido ideal da mãe – duplo
narcísico. Tende a copiá-la desenvolvendo com o seu Eu uma relação pouco saudável, com
traços masoquistas, confunde-se a satisfação libidinal com a satisfação do Superego.

O papel do terapeuta: um remexer no endeusamento que o narcísico tem de si.

Três notas sobre a Depressão:

Resoluções edipianas como uma questão de ontogénese – desenvolvimento normal biológico.

1. A incorporação: o objeto é incorporado pelo sujeito, estes não se distinguem.


Confundem-se e são um só. É um fenómeno correspondente ao funcionamento
canibal-narcísico ou oral, como se quisesse possuir a sua própria fantasia à semelhança
do bebé que precisa colocar “o mundo” na boca para o sentir;

2. A introjeção: período em o Self e o objeto se delimitam, e que remete para a fase anal
em que o bebé aprende a separar-se do mundo através do autocontrolo. É parcial e
dividida em dois: diz respeito ao objeto idealizado que se perde e que é fruto do
narcisismo primário; mas também é sobre um introjeto agressivo, que é origem do
Superego;

3. A identificação: a criação intrapsíquica, onde a essência de um objeto completamente


distinto do sujeito é recriada na sua própria fantasia, à sua semelhança. Organiza o
Ideal do Eu/Superego pós-edipiano.
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Distinção da depressão e borderline

Separa-se da depressão propriamente dita, com introjeção da malignidade, a depressão-limite,


mais conhecida por borderline ou anaclítica. Neste caso, perde-se o objeto de apoio e há um
sentimento de desamparo pelo abandono/perda do objeto. Há uma angústia de separação, por
isso é uma estrutura borderline e não uma estrutura depressiva. É uma questão de
helplessness (falta de auxílio) e não de hopelessness (falta de esperança) como acontece na
verdadeira depressão por abandono afetivo. A falsa depressão, depressão por desamparo,
surge numa estrutura psíquica onde não foi criada uma noção de bom objeto interno.
Portanto, não é possível ter uma figura/objeto de referência, e pressupõe-se a dependência do
objeto de vinculação, pois é nela que predomina o desamparo e o vazio, não o sentimento de
falta de amor e nostalgia.

Narcisismo, Sexualidade e Depressão

O narcisismo aqui é entendido como autoimagem e autovalorização e do seu ressoar nas


relações com os outros, e não como período narcísico de evolução da líbido. Apesar, de ser na
fase edipiana inicial, e adolescência, onde está mais implícita a self-imagem sexual.

Nesse momento da vida, a adolescência, os investimentos objetais tendem a ser mais instáveis
onde pode ocorrer uma inversão narcísica – culpabilização do outro. Demarcação das
fronteiras do Eu.

Se o objeto for entendido e valorizado de forma narcísica, como um prolongamento do Eu, e


objeto de recarga narcísica constitui o chamado objeto narcísico. O objeto narcísico confere
uma separação Eu-mundo muito precária e pouco clara. É um caminho aberto à regressão às
fases edipianas.

A evolução para a angústia de castração no desenvolvimento neurótico dá-se pela progressão


da fase edipiana e adolescente, dando aso à repetição na adolescência, até se converter em
ansiedade narcísica. O sentimento de frustração e inferioridade sexual acontece aqui, com uma
autoimagem irreal negativa e uma idealização do Eu.

Relativamente à sexualidade, a relação objetal é marcada pelo apelo à valorização da imagem


sexual. Este é um ponto mais importante do que qualquer outro prazer que a relação possa
significar, seja na fantasia ou na realidade. Porém, a mágoa narcísica do passado, estão sempre
presentes na vida mental e não permitem que o sujeito viva as suas relações na plenitude. Esta
necessidade constante de consolação anula-se num prazer egoísta que pretende vingar os
objetos frustrantes do passado vividos de forma transferencial.

São relações tendencialmente sadomasoquistas e conduzidas a novas experiências de


abandono, ou a reais e desconfortáveis receções do próprio amor.

Inveja do objeto dar e receber mais amor, quando na verdade o sujeito é que não o consegue
aceitar e gerir. É uma agravante ao sentimento de inferioridade e ciúme.

O narcisismo tenta compensar a inferioridade sexual, através de mecanismos de autoafirmação


ou deixa-se abater por períodos de autorreflexão depressivante. Tem maior propensão a exibir-
se do que a conquistar o amor do objeto – a fim de obter valorização do Eu Ideal infantil. Gera
a acumulação de frustrações pela repetição do padrão insatisfação constante. Tudo o que
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acontece à sua volta, relembra constante e persistentemente das perdas passadas, o que é um
fator de acréscimo à depressividade. A negação das partes más do objeto é um mecanismo de
não concretizar totalmente a sua perda e a das relações primárias. É uma forma de suportar a
depressão.

A acessibilidade mental ao objeto interno perde-se à medida que o tempo e os acontecimentos


se passam, recalcando-os até à ausência definitiva. Isto leva ao abandono concreto e à perda
da fantasia da conquista. Aproxima-se do delírio (ou da psicose alucinatória do desejo).

As relações passadas não tiveram lutos, e sim depressões. Não tem recordações agradáveis,
apenas insucessos geradores de raiva e desalento que alimentam a vontade de um dia as vir a
refazer com sucesso. A inibição fóbica ou comportamento introvertido, facilitam a fuga para o
diálogo com os objetos internos que são mortos-vivos, mortos a quem dá vida. Usa-se o termo
catexia para falar da energia psíquica concentrada numa representação mental.

O papel do terapeuta: não só desbloquear a agressividade das pulsões libidinais, mas tomar
consciência do investimento sexual do objeto – resolver o recalcamento sexual. Sem isto, não
há cura da condição depressiva ou da depressão clínica.

Esquematização da depressão neurótica e da neurose:

1. Castração narcísica – ideal do Eu – inferioridade (sexual);

2. Angústia de castração – Superego – Culpabilidade (edipiana).

O objeto semiperdido:

1. Perdido enquanto bom objeto – é entendido como não satisfatório ou suficientemente


gratificante (não corresponde à fantasia);

2. Não perdido – o indivíduo consegue manter o objeto através do autoengano e da


ilusão (perder totalmente o objeto seria insuportável para o sentimento de abandono
e angústia).

Foto da página 104 – as vivências padrão de uma personalidade depressiva:

1. Depressão primária, pré-edipiana, que deixa uma marca de défice narcísico e avidez e
propulsiona uma fantasia de compensação desenfreada;

2. Deceção edipiana intensa (que a experiência anterior prepara, dada a ferida narcísica,
a avidez, a omnipotência da fantasia e o desejo intenso de reconquistar o objeto
arcaico através do amor edipiano).

3. À fixação oral-narcísica soma-se a fixação edipiana;

4. Dificuldade de investir objetos infantis e adolescentes da mesma idade e exogâmicos


(que são de grupos diferentes);

5. Deceção nos amores da infância e adolescência (quase inevitável pelo tipo de relação
fóbica, desmedida e idealizada que se forjou);

6. Fixação às paixões da infância e/ou da adolescência;


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7. Impossibilidade de um amor adulto suficientemente sem conflito;

8. Relação amorosa adulta insatisfatória.

Ainda que o objeto primário do depressivo tenha sido até aqui descrito como idealizado, é
importante falar sobre a relação com o mau objeto interno. À malignidade apagada podemos
atribuir várias causas:

1. Usa-se o recalcamento como anulação do seu conhecimento, não existe registo na


memória;

2. Introjeção desses traços – característica da depressividade, abatimento crónico.


Sentimento de culpa;

3. Projeção desses traços num terceiro elemento, que serve de separação da relação –
característica da paranóia;

4. Clivagem ou não integração do Eu, e também do objeto. O sujeito antecipa-se à morte,


porque acredita que o seu mundo está em completa decadência.

O vínculo binário, seja o patológico, ou o patogénico, da relação é cada vez mais cerrado e é
cada vez mais difícil distinguir-lhes causas e efeitos.

O silêncio na comunicação analítica

Os primórdios da vocalização são, por princípio, uma expressão dos afetos e rapidamente se
tornam em chamamento que se traduz no atingir de uma mensagem. O narcisismo primário,
construção do self, a atividade autoerótica (que gera prazer) assumem que a vocalização
preenche o vazio depressivo, pois colmata o valor do abandono. A fala, bem como o seu
princípio, são uma ponte entre o sujeito e objeto. No que às emoções diz respeito, dá-se o
progresso de significação desta vocalização que converte, então, em significação e simbologia
do seu discernimento.
O papel do terapeuta: através dos signos vocais emitidos pelo sujeito, e da posterior
interpretação, o analista atribui-lhes significado de modo a retorná-los ao analisado com maior
clarividência. A mensagem codificada é transformada em palavra, que explica os desejos
ocultos. O diálogo é visto como fator-chave.

Por outro lado, o silêncio terapêutico (isto é, durante a sessão) pode ser essencial pois clarifica
um momento de reflexão. É importante que o terapeuta não interfira nesse silêncio, e que o
saiba compreender.

Cabe ao psicoterapeuta incorporar o objeto de conflito e ressignificá-lo, através de uma relação


de confiança (Erikson e a confiança básica). Assim, trata-se a função do objeto (Winnicott e as
técnicas de holding).

O masoquismo

O masoquismo apesar de ser uma situação muitas vezes ligada à depressão, também tem as
suas diferenças. Nesta linha de pensamento, o indivíduo vai mais longe: ao sofrer na relação
com o objeto, é para merecer ser amado, captar e manter esse amor. Serve para ser admirado
pelo seu sacrifício e sofrimento, ao mesmo tempo que, e muitas vezes de forma inconsciente,
satisfaz as necessidades sádicas do outro.
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Enquanto no masoquista, a relação de complementaridade do indivíduo com o objeto


acontece pela satisfação do sadismo do outro, na depressividade isso acontece pela satisfação
do narcisismo.

Existe ainda uma diferença entre as personalidades depressivas, pois estas não
necessariamente são as pessoas que estão deprimidas e manifestam o sintoma de abandono e
tristeza, mas sim os indivíduos com tendência para deprimir-se.

Essas personalidades depressivas tendem a apreciar queixar-se da sua vida, assim como
respostas em eco por parte dos seus ouvintes. Procuram a mesma raiva narcísica e a mesma
deceção com o objeto.

Também gostam de encontrar a mesma faceta de grandiosidade nos ouvintes, que acabam por
admirar, de forma a aliviar parcialmente o afeto depressivo. Mas não altera a estrutura
depressiva.

O sujeito repete o padrão da relação primária com o objeto, em que foi amado na desgraça, no
desamparo e na doença, é admirado nas qualidades que interessavam a esse mesmo objeto,
não tendo sido considerados como um ser na sua autenticidade. Portanto, o sujeito depressivo
é visto como o objeto dos desejos (realização através do outro; domínio) dos próprios objetos.

O sofrimento é o mostrar a bondade, mesmo que esta só lhe seja reconhecida depois da sua
morte. Acredita inegavelmente que será reconhecido, pelo objeto, esse seu valor.

O papel do terapeuta: ir contra a introjeção do objeto interno, externalizado no analista. Será


reintrojetado como objeto consistente, seguro e afetivamente bom: baseado na autonomia e
não na cópia de mais um modelo. Além objeto de identificação, o analista é um objeto de
interligação.

Importância de não aceitar a neurose dita edipiana, o objetivo é a transposição da passividade


para a agência.

Abordagem psicanalítica do suicídio

A motivação de suicídio tem origem na vivência depressiva.

“O suicídio é a resultante da não aceitação do sofrimento na impossibilidade da revolta.”

O suicídio é visto como o último ato masoquista, e que pode ser explicado pela euforia ou boa
disposição nos momentos que normalmente o antecedem. Isto acontece porque há uma ilusão
de trunfo pós-morte, o amor eterno do objeto finalmente ser-lhe-á concedido. O objeto
reconhecerá que o sujeito deu a vida por si.
Acha que frases como o “partiu cedo demais” ou “se ele fosse ainda vivo…” ser-lhe-ão
dirigidas. A saudade que terão de si será o seu maior prazer. Ao invés de se matar, o sujeito
também pode deixar-se morrer fruto da consequência do desleixo e negligência consigo
mesmo. Morrer é: uma solução para os insucessos; ou a rejeição de uma vida de sofrimento.
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Razões masoquistas para a morte:

1. Obtenção do amor total e duradouro do objeto (sem traição, indiferença ou


recriminação) – é um desejo de fusão/simbiose com o objeto;

2. Vulnerabilidade narcísica;

3. Intolerância à dor da perda e do abandono, resistem ao sofrimento para obter perdão


e amor;

4. O orgulho ferido e a ideia de que não têm controlo sobre tudo, seja na realidade ou na
fantasia, não são suportáveis.

O Self diminuído também pode justificar o suicídio, por impedir o sujeito de amar e de sentir
prazer pela vida.

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