BRAGA Isabel Drumond Cultura Material TR
BRAGA Isabel Drumond Cultura Material TR
BRAGA Isabel Drumond Cultura Material TR
N.° 7 | 2015-2019
DE ARTES DECORATIVAS
R E V I S T A D E A R T E S D E C O R A T I VA S
N.º 7 – 2015-2019
Edição
ISSN
1646-8759
Depósito legal
306753/10
Capa
Painel de azulejos a simular um jardim com vegetação e aves,
Quinta Nova da Assunção, Sintra.
Fotografia de António Cota Fevereiro, 2018.
Sumário
5 Editorial
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
Artigos
11 O papel decorativo da pintura a fresco dos séculos XV e XVI em
Portugal
Joaquim Inácio Caetano
119 Da Rua dos Ourives da Prata à Rua Bela da Rainha: as lojas dos
ourives da prata em Lisboa na segunda metade do século XVIII
Rita Carlos
Notícias
245 I – Dissertações
245 A) Dissertações de Mestrado em Artes Decorativas
252 B) Teses de Doutoramento
252 B.1. Teses de Doutoramento em Arte – Especialidade de Artes Decorativas
253 B.2. Teses de Doutoramento em Estudos do Património, abordando temáticas de
Artes Decorativas
254 B.3 Projectos de Tese de Doutoramento em Estudos do Património, abordando
temáticas de Artes Decorativas
255 II – Publicações
255 A) Colecção obras de Carlos da Silva Lopes
256 B) Colecção Uma iniciação a…
256 C) Obra em parceria entre o CITAR e a Livraria Civilização Editora
256 D) Colecção Artes Decorativas em Portugal
257 E) Revista de Artes Decorativas (n.OS 1 a 6)
263 F) Matrizes da investigação em Artes Decorativas (I a V)
267 G) Subsídios para as Artes Decorativas nos Açores
269 H) Outras Publicações
270 I) Publicações do CIONP – Centro Interpretativo da Ourivesaria do
Norte de Portugal
Resumen: El textil, una actividad regulada tanto a nivel de producción como en lo relativo
a las fases existentes dentro de la profesión – aprendiz, oficial y maestro –, era
uno de los muchos oficios ligados a la vestimenta y los textiles domésticos.
La producción era, por regla general, a pequeña escala, se llevaba a cabo en
1
Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência
e Tecnologia no âmbito do projeto UID/HIS/00057/2013.
2
Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras e CIDEHUS. isabeldrumondbraga@hotmail.
com. Cf. https://ulisboa.academia.edu/IsabelDrumondBraga/Papers.
Palabras clave: Tejedores, cultura material, Santo Oficio, Portugal, siglos XVI-XVIII
3
A documentação inquisitorial tem sido aproveitada muito especialmente para estudar o
funcionamento do Tribunal do Santo Ofício, designadamente as vítimas e a repressão. Nos
últimos anos, tem começado a ser evidente o potencial destas fontes para o estudo de outras
realidades. Recordemos, por exemplo, estudos sobre a literacia, a alimentação das minorias
étnico-religiosas, a sociabilidade, a cultura material, as actividades profissionais e a vida
nos cárceres. Cf., respetivamente, MARQUILHAS, Rita – A Faculdade das Letras. Leitura
e Escrita em Portugal no século XVII, Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2000;
CASTILLO GÓMEZ, Antonio – Escrito en Prisión. Las Escrituras Carcelarias en los siglos
XVI y XVII. Península. Revista de Estudios Ibéricos. Porto, nº 0 (2003), pp. 147-170; BRAGA,
Isabel M. R. Mendes Drumond – A Alimentação das Minorias no Portugal Quinhentista. In
Do Primeiro Almoço à Ceia. Estudos de História da Alimentação, Sintra: Colares Editora,
2004, pp. 11-33 (disponível on line em https://www.academia.edu/6581297/); MOTT, Luís
– Meu Menino Lindo: Cartas de Amor de um Frade Sodomita, Lisboa (1690). Luso-Brazilian
Review. Madison, nº 38, (2001), pp. 97-115; IDEM – In Vino Veritas: Vinho e Aguardente no
Quotidiano dos Sodomitas Luso-Brasileiros à Época da Inquisição. In VENÂNCIO, Renato
Pinto; CARNEIRO, Henrique, org. – Álcool e Drogas na História do Brasil, São Paulo:
Alameda; Belo Horizonte, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2005, pp. 47-70;
BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Bens de Hereges. Inquisição e Cultura Material
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 83
12
SERRÃO, Vítor – Documentos dos Protocolos Notariais de Lisboa referentes a Artes e Artistas
Portugueses (1563-1650). Lisboa: [s.n.], 1989.
13
ALVES, Milene Loirinho Gonçalves – Aprendizagem de Ofícios pelas Crianças Confiadas à
Real Casa dos Expostos de Lisboa (1777-1812). Lisboa: Dissertação de Mestrado em História,
especialidade de História Moderna e Contemporânea, apresentada à Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa, 2013.
14
Cf. FAZENDA, José Vieira – As Bandeiras de Ofícios. Revista do Instituto Histórico-Geográfico
Brasileiro. Rio de Janeiro, tomo 86, vol. 140 (1919), pp. 131-136; RABELLO, Elizabeth Darwi-
che – Os Ofícios Mecânicos e Artesanais em São Paulo na segunda metade do século XVIII.
Revista de História. São Paulo, vol. 56, nº 112 (1977), pp. 575-588; MENESES, José Newton
Coelho – Homens que não Mineravam: Ofícios Mecânicos nas Minas Gerais Setecentistas.
In RESENDE, Maria Efigénia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos, org. – História de Minas
Gerais. As Minas Gerais Setecentistas. Belo Horizonte, Autêntica, Companhia do Tempo,
2007, vol. 1, pp. 377-399; LIMA, Carlos A. M. – Artífices no Rio de Janeiro (1790-1808).
Rio de Janeiro: Apicuri, 2008; MARTINS, Mônica de Souza – Entre a Cruz e o Capital. As
Corporações de Ofícios no Rio de Janeiro após a Chegada da Família Real 1808-1824. Rio de
Janeiro: Garamond, 2008. Sobre os ofícios mecânicos e suas insígnias cf. MENESES, José
Newton Coelho de – Discrição nas Cores e Efeitos nas Formas: Emblemas, Simbologias e
Manifestações de Identidade dos Ofícios Mecânicos no Mundo Português dos séculos XVIII
e XIX. In MENDONÇA, Júnia Furtado de, org. – Sons, Formas, Cores e Movimentos na
Modernidade Atlântica: Europa, Américas e África. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte,
Fapemig, 2008, pp. 401-426. Sobre as corporações, as festas e os conflitos, cf. SANTOS,
Beatriz Catão Cruz – O Corpo de Deus na América. A Festa de Corpus Christi nas Cidades
da América Portuguesa – século XVIII. São Paulo: Annablume, 2005, pp. 85-92; IDEM – Os
Senhores do Tempo: a Intervenção do Bispado na Procissão de Corpus Christi no século XVIII.
Tempo. Niterói, nº 33 (2012), pp. 165-190.
15
Cf. LECERF, Florence – La Sociedad Granadina de Principios del siglo XVI: contratos de
Aprendizaje y Cartas de Servicio. In MONTOYA RAMÍREZ, María Isabel; ÁGUILA ESCOBAR,
Gonzalo, coord., La Vida Cotidiana a través de los Textos (ss. XVI-XX). Estudios. Granada:
Editorial Universidade de Granada, 2009, pp. 17-46.
16
BATTISTINI, Francesco, Gelsi Bozzoli e Caldaie – L’Industria della Seta in Toscana (sec.
XVI-XVIII). Florença: Leo S. Olschki, 1998.
17
AAVV, Le Vie della Seta e Venezia. Roma: Leonardo De Luca Editore, 1990.
18
ARIZZOLI-CLEMENT, Pierre, GASTINET-COURAL, Chantal– Soieries de Lyon: Commandes
Royales au XVIIIe siècle. Lyon: Musée Historique des Tissus, 1998.
19
Cf. SCIARROTA, Silvana – Artigiani. La Rete dei Mestrieri e l’Organizzazione del Lavoro a
Salermo (1734-1764). Salermo: Edisud Salermo, 2011.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 85
20
PEERS, Simon – Golden Spider Silk. Londres: Victoria and Albert Publishing, 2012.
21
Cf. SEQUEIRA, Joana – O Pano da Terra. Produção Têxtil e, Portugal nos finais da Idade
Média. Porto: Universidade do Porto, 2014, pp. 153-169. Cf. ainda CAÑAS PELAYO, Marcos
Rafael – Tácticas y Medidas de Protección Social: El Estabelecimiento de Comerciantes
Portugueses en el Reino de Córdoba (siglos XVI-XVII). Yakka. Revista de Estudios Yeclanos.
Alicante, nº 20 (2015), pp. 563-575.
22
Sobre a produção de seda em Portugal, na Idade Média, cf. SEQUEIRA, Joana – O Pano da
Terra […], pp. 57-68.
23
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, procs. 1807-1, 1808-1, 1809-1, 1812-1, 2133-1, 8564.
24
MADUREIRA, Nuno Luís, coord. – História do Trabalho e das Ocupações. Lisboa: Celta,
2001, vol. 1 (A Indústria Têxtil), p. 80.
25
PEREIRA, J. M. Esteves – Subsídios para a História da Indústria […], p. 116; FARINHA,
Luís – Subsídios para a Caracterização da Indústria Têxtil em Portugal nos séculos XV e
XVI. História e Sociedade. Lisboa, vol. 1 (1978), pp. 3-7; GARCIA, João Carlos – Os Têxteis no
Portugal dos séculos XV e XVI. Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia. Lisboa, vol. 21,
nº 42 (1986), pp. 337-338; BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – A Produção Artesanal.
In DIAS, João José Alves, coord. – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica, (=Nova
História de Portugal, direção de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques). Lisboa: Presença,
1998, vol. 5, pp. 185-186.
86 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
34
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, pp. 724-725.
Em outros espaços, as corporações obedeciam a propósitos diferentes. Cf. SONKAJÄRVI,
Hanna – A Religião como Meio de Inclusão e de Exclusão nas Corporações de Ofícios de
Estrasburgo (1681-1789). Topoi. Revista de História. Rio de Janeiro, vol. 12, nº 23 (2011),
pp. 193-205.
35
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, pp. 725-726.
36
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 732.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 89
para estes exames de mulheres lhe passarão suas certidões quando acharem
que são suficientes”37.
O regimento de 1782 atualizará as determinações, ao mesmo tempo que
equiparou os juízes aos pais, na tradicional metáfora presente nos tratados
de teoria política que referem os monarcas como pais dos súbditos. Assim,
determinou que “os juízes de qualquer corporação são como pais de toda ela,
obrigados a punir-lhe os erros e ensinar-lhe os acertos, não só com a palavra,
mas ainda mais com o exemplo”38, para continuar esclarecendo que “como
da perícia dos oficiais depende a perfeição das obras e nela consiste não só o
argumento do ofício, mas o desengano do povo, será só aprovado para exercer
este ofício, como mestre, e com a carta aquele oficial ou obreira desta cidade
e seu termo que souber fazer o seguinte: apontuar um pente, que fique certo,
tendo doze puas em cada ponto, e o último ficará com doze fora o puão do
oreleiro, e o pente será de qualquer conta que os juízes lhe derem. Apontará
as oito prexadas para o lisso do mesmo pente que fiquem certos os pontos
das prechadas com os do pente. Fará um liso do mesmo pente, que fique
certo sem crescer, sem faltar cadeia e muito direito. Urdirá uma teia na sua
devida conta, carregá-la-á no tear, repassá-la-á no liso e no pente e lhe tecerá
meia vara. Mas o homem saberá de mais o repasso empuartado e armar ou
assentar hum tear com os preceitos necessários [indica sete preceitos]”39.
Às mulheres eram exigidos os mesmos conhecimentos: “será obrigada por
especulativo estes preceitos e medidas para as dizer ao carpinteiro quando
lhe for assentar o tear. Sendo necessariamente preciso que eles e elas saibam
procurar os fios na urdideira, tirando-os pela palheta para que se não crie a
teia”40. Mais se esclarece que “sucedendo que o oficial ou obreira não tenha
toda a precisa e indispensável aptidão para ser examinado, no que se devem
os juízes haver com muita cautela e sem comiseração alguma porque neste
ato consiste uma das principais circunstâncias da felicidade deste ofício em
razão de que não pode dar boa disciplina o mestre que não tem a necessária
qualidade de ciência e o dano que disto resulta vem a cair no todo e comum
do ofício, o mandarão os juízes novamente exercitar por aquele tempo que
lhe parecer, mas de forma que não possa ser menos de um ano e sem que
apresente atestação do mestre ou mestra em cuja loja exercitou não será
admitido a novo exame. Se ainda depois suceder que não tenha adquirido
as luzes precisas o mandarão aprender por mais seis meses de sorte que só
37
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, pp. 732-733.
38
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 739.
39
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, pp. 741-742.
40
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 742.
90 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
41
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, pp. 742-743.
42
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 743.
43
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 744.
44
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 745.
45
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 745.
46
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 747.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 91
diferentes teriam que fechar as lojas. Não era possível haver mulheres nas
lojas de homens e vice-versa47.
Os processos movidos aos tecelões em estudo não são particularmente
ricos acerca de questões relativas à aprendizagem do ofício48. De qualquer
modo, no de Henrique de Sá, de 23 anos, tecelão de sedas, natural de
Mogadouro e morador em Bragança, preso em 1695, foi referido o ensino de
vários artesãos na sua oficina. Por exemplo, em duas denúncias feitas por
aprendizes, referem-se informações sobre o facto de estarem em simultâneo
na oficina do mestre: Bartolomeu Afonso, “solteiro, filho de Francisco Pires
e de Dominguas Affonço, natural do lugar de Sarzeda termo desta cidade
de Bragança, o qual de prezente está aprendendo a arte da seda em caza de
Henrique de Sa christam novo desta mesma cidade e este cazado com Maria
de Sa christam nova, e este Henrrique de Sa he filho de Phellipa Nunces
veuva christam nova”49 e Bartolomeu Pires, solteiro, filho de Francisco Pires,
lavrador, natural e morador do lugar de Sarzedas, termo de Bragança, “que
aprende a arte da seda em casa de Henrique de Sá”50. O próprio réu também
deu a conhecer a sua aprendizagem, em Bragança, cerca de seis anos antes,
em casa do tecelão de sedas Gabriel Nunes. Nessa época havia por lá um
outro aprendiz, Rafael Dias, e ambos combinaram judaizar51.
Numa denúncia de Maria Ferreira, constante do processo de Diogo
Ferreira, de 30 anos, tecelão de sedas, natural de Vinhais e à data da prisão
morador em Bragança, foi referido o final da aprendizagem de seus tios, cerca
de 1689. A denunciante recordou que, em Chacim, em casa de seu tio Diogo
Ferreira, tecelão de sedas, “estando ambos sós na occazião que o mesmo com
seos irmãos vierão da dita cidade para a dita villa de Chacim por haverem
acabado de aprender o officio de teceloens e de haver falecido o mestre que os
insinava que era seu cunhado e arm[a]ndo os seos teares não nas cazas em
que vivião por lhe não cab[er]em nellas mas em outras que para o dito efeito
alugarão hi[ndo] ella confitente para as mesmas não só pella rezão de ser
s[ua] sobrinha mas tãobem pella curiosidade de os ver tecer”52. Nos processos
dos irmãos do réu constam informações complementares. Eram também
tecelões de seda e foram presos no mesmo dia. Manuel Ferreira, de 26 anos,
residente em Chacim, segundo denúncia de Manuel Correia, cristão-velho,
47
LANGHANS, Franz-Paul – As Corporações dos Ofícios Mecânicos […], vol. 2, p. 749.
48
Sobre a aprendizagem dos ofícios têxteis para a Época Medieval, cf. SEQUEIRA, Joana – O
Pano da Terra […], pp. 123-127.
49
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
50
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
51
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
52
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6977.
92 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
residente em Bragança, afirmou conhecer o réu “de quinze annos a esta parte
por elle testemunha aprender o oficio em caza do cunhado do reo e falar com
elle varias vezes”53. António de Sá, morador em Chacim, afirmou conhecer o
réu há cerca de 14 anos, por aquele ter aprendido o ofício em Bragança em
casa de um primo dele testemunha54. Da aprendizagem de Daniel Ferreira,
de 19 anos, o mais jovem dos três irmãos, sabe-se que compreendeu duas
fases, a primeira em Bragança, durante dois anos e meio, até que adoeceu e
o foram buscar; e, a segunda, com seu irmão Manuel Ferreira, em Chacim.
No testemunho de André Ferreira: “avera sete annos pouco mais ou menos o
dito reo se absentara desta dita cidade pera a villa de Chacim aonde asistira
sempre e não sabe nem ouviu diser que viesse mais a esta dita cidade e se
fora pera a dita villa por causa de lhe morrer seu cunhado Belchior Rodrigues
nesta dita cidade que avera nove annos pouco mais ou menos he falecido
com o qual elle testemunha aprendera o oficio por lhe faltarem dous annos
os acabara de cumprir com Manoel Ferreira irmão do dito reo”55. Ou seja, as
informações constantes destes processos não nos fornecem dados acerca do
tempo médio de aprendizagem, nem das condições em que a mesma tinha
lugar, ao contrário do que acontece em relação a outros ofícios, em que os
dados são mais completos56. De qualquer modo, torna-se claro que as casas
de residência eram os lugares em que também funcionavam as oficinas, o
que também acontecia com outros mesteres57.
É suposto que os mestres tinham a obrigação de ensinar os aprendizes
e que estes tinham que se sujeitar a fazer os mais variados recados, mesmo
que alheios ao ofício. Ao mestre cabia igualmente dar-lhes casa e comida
e alguns não se esqueciam de os sujeitarem a alguns castigos e até de os
expulsarem. Veja-se o caso de Daniel Ferreira, de 19 anos, natural e morador
em Chacim, preso em 1697, o qual, nas contraditas, confessou ter inimigos
em resultado de alguns problemas com aprendizes. Assim, “Domingos Lopes
o Ruivo seos filhos nettos noras alem das contraditas que lhes tem arguido
são seos inimigos tambem porque elle reo e seos irmãos lhe tinhão tomado
hum seo filho para emsinarem ao seo officio de tecelão de sedas e lhes darem
algum castigo e o lançarem fora fiquarão todos os sobredictos seos inimigos”58.
53
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 5278.
54
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 5278.
55
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3015.
56
Cf. BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Os Confeiteiros Portugueses na Época Moderna:
Cultura Material, Produção e Conflituosidade […].
57
No caso dos mouriscos granadinos, tal nunca acontecia. Cf. LECERF, Florence – La Sociedad
Granadina de Principios del siglo XVI: contratos de Aprendizaje […], p. 20.
58
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3015.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 93
59
SHEPHARD JR., Edward J. – Movilidad Social y Geográfica del Artesanato en el siglo XVIII:
Estudio de la Admisión a los Gremios de Dijon, 1700-90, in LÓPEZ BARAHONA, Victoria e
NIETO SÁNCHEZ, José A., coord., El Trabajo en la Encrucijada: Los Artesanos Urbanos en
la Europa de la Edad Moderna, Madrid: Los Libros de la Catarata, 1996, pp. 37-69.
60
CERUTTI, Simona, Estrategias de Grupo y Estrategias de Oficio: el Gremio de Sastres de
Turin a finales del siglo XVII y principios del XVIII, in LÓPEZ BARAHONA, Victoria e
NIETO SÁNCHEZ, José A., coord., El Trabajo en la Encrucijada: Los Artesanos Urbanos en
la Europa de la Edad Moderna, Madrid: Los Libros de la Catarata, 1996, pp. 70-112.
61
BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Os Confeiteiros Portugueses na Época Moderna:
Cultura Material, Produção e Conflituosidade […].
62
Cf. anexo 2.
94 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
63
Por exemplo, Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, procs 1578, 1688. Sobre a pobreza dos
artesãos, cf. GUTTON, Jean-Pierre – La Société et les Pauvres. L’Exemple de la Généralité
de Lyon 1534-1789. Paris: Société d’Édition les Belles Lettres, 1971, pp. 44-46, passim;
GUICHETEAU, Samuel – Les Ouvriers en France 1700-1835. Paris: Armand Colin, 2014,
pp. 39-44, passim; BEROUJON, Anne – Peuple et Pauvres des Villes dans la France Moderne.
De la Renaissance à la Révolution. Paris: Armand Colin, 2014, pp. 16-26, passim. Não obstante,
em Paris, por volta de 1700, havia alguns que já possuíam alguns bem e viviam em casas
com algum conforto. Cf. GUICHETEAU, Samuel – Les Ouvriers en France […], p. 49. Para
Portugal, cf. GOMES, Fátima Freitas – Oficiais e Ofícios Mecânicos no Funchal (séculos XVIII
a princípios do século XIX. In Actas do II Congresso Internacional de História da Madeira.
Funchal: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1990,
pp. 201-230 e BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – A Produção Artesanal, Portugal do
Renascimento à Crise […], pp. 186-187; 205-206.
64
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, procs 1560, 1577, 1805, 1812, 1813, 3494.
65
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1617.
66
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1583.
67
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 4555.
68
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6913.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 95
so os do seu officio e uso que erão o seu tear de tafetas que valera quatro
patacas e huma meza em que comia e hum tamborete e não tinha outra
couza mais de seu e que devia tres mil e seiscentos e vinte reis a Luis Alves
mercador da villa de Vinhaes e não tinha outras dividas nem lhe devião nem
mais que declarar”69. Gabriel Nunes, tecelão de veludos, preso no mesmo
ano, limitou-se a arrolar uma cama composta por colchões, dois lençóis e
uma manta70. Manuel Lopes de Carvalho, o Canuto, de 60 anos, natural
e residente em Bragança, preso em 1710, declarou alguns móveis – arcas
velhas, bofete e tamborete – algumas peças de vestuário e um tear que
valia 10 tostões71. João Rodrigues Carvalho, o Canuto, de 45 anos, natural
e morador em Bragança, preso em 1713, apenas declarou um tear em que
tecia mantos, avaliando-o em 4.000 ou 5.000 réis72.
Os restantes inventários contêm bens mais variados. Destaquem-se
algumas questões, comuns a outros inventários de cristãos-novos: a posse de
casas e de terras, em especial de vinhas, no caso destes tecelões; as muitas
referências aos teares e às sedas, e a móveis correntes, a par com escassas
referências a jóias, a pratas, a alimentos, a têxteis domésticos, a utensílios
de cozinha e a armas. O vestuário referido foi apenas o de uso corrente e
nunca foi avaliado, ao contrário do que aconteceu em outros inventários
nos quais apenas as peças de roupa de luxo e, consequentemente, de valor
económico, foram mencionadas73.
69
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3191.
70
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 85.
71
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2131-1.
72
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 8923.
73
Faça-se o confronto, com BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Bens de Hereges. Inquisição
e Cultura Material […].
96 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
Quadro 1
Categorias de Bens dos Tecelões
Categorias de Bens Total de menções
Dentro e Fora de Portas
Casas 13
Terras 11
Móveis 14
Têxteis Domésticos 11
À Volta da Mesa
Alimentos 5
Utensílios de Cozinha 3
Pratas 1
Proteger e Ornamentar o Corpo
Vestuário e Calçado 13
Joias 3
Armas 1
Pelo Mundo do Trabalho
Objetos Profissionais 18
Animais 1
74
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1119.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 97
huma tea de velludo preto que estava ordida e valeria nove mil reis. E
que tinha sessenta côvados de gorgorão ordido somente que tinha dous
arrates de seda que vallião seis mil reis. E que tinha setenta côvados de
calhamaco ordidos que tinhão tres arrates de seda que valião nove mil
reis”75. Manuel Ferreira, de 26 anos, natural e morador em Chacim, preso
em 1697, arrolou no seu inventário: “tres teias postas no tear de seda que
valerião quarenta mil reis pouco mais ou menos. E que tinhão tres teares
em casa dois delles erão delle declarante e de seu irmão Daniel Ferreira e
o terceiro era de sua irman Maria Ferreira e cada hum valeria quatro mil
reis. E que tinha arrátel e meio de seda já aparelhada que valeria quatro
mil e quinhentos reis”76. Rafael de Sá, de 50 anos, natural e morador em
Bragança, preso em 1747, fez saber que “tinha huma tea de seda de mantos
que estava ainda no tear e tinha de fora mais seda para acabar a dita tea e
principiar outra e tudo importaria em cem mil reis e que em casa de Maria
Ferreira encanhadeira tinha dois arrates de seda a encanhar que valerão
seis mil reis. E que tem dois tiares que valerão ambos quinze mil reis”77;
enquanto Gabriel Borges, de 36 anos, natural e morador na mesma cidade
e preso no mesmo ano de 1747, declarou quatro teares aparelhados, no
valor de 40.000 réis; seda para 12 mantos, no valor de 60.000 réis, depois
de prontos os mantos; 46 arráteis de seda amarela, avaliada em 92.000
réis; e um caldeirão de tingir seda, no valor de 6.400 réis78. Curiosamente,
o réu informou que um dos tios maternos, Jerónimo Álvares Ramos, casado
em segundas núpcias com Beatriz Penha, deslocara-se para Lisboa, onde
trabalhava na Real Fábrica das Sedas79.
Em outros passos dos processos também se encontram informações
sobre as atividades laborais propriamente ditas. Por exemplo, Manuel
Lopes de Carvalho, o Canuto, de 60 anos, natural e residente em Bra-
gança, preso em 1710, declarou em sua defesa que tinha “torno de seda
em que trabalha e serve a toda a gente que o costuma ocupar e por essa
causa algumas pessoas christans novas terião trato com elle por causa
da ditta negociação o que o reo não podia evitar por ter muita família que
75
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
76
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 5278.
77
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1809-1.
78
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 8564.
79
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 8564. Sobre a Real Fábrica das Sedas, cf. BRAGA,
Isabel M. R. Mendes Drumond – Teares, Fios e Tecidos em Viagem. Produções e Exportações
da Real Fábrica das Sedas para o Brasil (1734-1821). Revista de Artes Decorativas. Porto,
nº 4 (2010), pp. 101-124 (disponível on line em https://www.academia.edu/6580984/) e a
bibliografia aí citada.
98 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
2.3 As tecedeiras
80
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2131-1.
81
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2131-1.
82
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3494.
83
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1812-1.
84
Cf., por exemplo, FERNANDES, Isabel Maria, OLIVEIRA, António José de – Ofícios e Mestres
Vimaranenses nos séculos XV e XVI. Revista de Guimarães. Guimarães, nº 113-114 (2004),
pp. 163-167, maxime 43-209 e SEQUEIRA, Joana, MELO, Arnaldo Sousa – A Mulher na
Produção Têxtil Portuguesa Tardo-Medieval. Medievalista [em linha]. Lisboa, nº 11 (2012),
pp. 1-26. (2015-05-07). Disponível em htttp://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista. Joana
Sequeira – O Pano da Terra […], pp. 132-144. Para o estudo das mulheres e do trabalho
em Portugal, durante a Época Moderna, cf. LOPES, Maria Antónia – Sebastiana da Luz,
Mercadora Coimbrã Setecentista (Elementos para a História de As Mulheres e o Trabalho).
Revista de História da Sociedade e da Cultura. Coimbra, nº 5 (2005), pp. 133-156; POLÓNIA,
Amélia – Women’s Participation in Labour and Business in the European Maritime Societies
in the Early Modern Period, Il ruolo economico della famiglia. Secs. XIII-XVIII. Atti delle
Settimane di studio. Prato: Instituto Internazionale di Storia Economica F. Datini, 2009. Para
outros espaços, cf., por exemplo, MARTÍNEZ MOUTÓN, Mónica – La Mujer Prestamista en
la Malaga del siglo XVIII. In VILLAR GARCÍA, María Begoña, coord. – Vida y Recursos de
Mujeres durante el Antiguo Régimen. Málaga: Universidade de Málaga, 1997, pp. 111-129;
MOTTU-WEBER, Liliane – Gagner sa Vie. In Vivre à Genève autour de 1600. Genève: Editions
Slatkine, 2002, vol. 1 (La Vie de tous les Jours), pp. 210-211; BÉROUJON, Anne– Peuple et
Pauvres des Villes dans la France Moderne [...], pp. 95-100.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 99
85
Veja-se, por exemplo, o caso ocorrido em Veneza no século XVIII, em que as mulheres chegam
a poder abrir loja, depois de a tecelagem ter sido uma empresa familiar. Cf. VALENTINA,
Marcello Della, Il Setificio Salavato dalla Done: Le Tessitrici Veneziane nel Settecento. In Donne
a Venezia. Spazi di Libertà e Forme di Potere (sec XVI-XVIII). Veneza: Storia di Venezia, 2012,
disponível on line em < http://www.storiadivenezia.net/sito/donne/DellaValentina_Setificio.
pdf>. Para França, cf. GUICHETEAU, Samuel – Les Ouvriers en France […], pp. 12-13.
86
OLIVEIRA, António de – A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Coimbra:
Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1971, vol. 1, p. 484; BRAGA, Isabel
M. R. Mendes Drumond – A Produção Artesanal, Portugal do Renascimento à Crise […], p. 182.
Para o Brasil colonial a situação não era muito diferente se excetuarmos a presença das chamadas
pretas de ganho que se mantiveram activas mesmo após a independência. Cf. FIGUEIREDO,
Luciano Raposo de Almeida – O Avesso da Memória. Cotidiano e Trabalho da Mulher em
Minas Gerais no século XVIII. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editor, 1999; SILVA, Maciel
Henrique – Pretas de Honra. Vida e Trabalho de Domésticas e Vendedoras no Recife do século
XIX (1840-1870). Recife: Editora Universitária da UFPE, Salvador, EDUFBA, 2011.
87
SÁ, Isabel dos Guimarães – O Trabalho. In LAINS, Pedro; SILVA, Álvaro Ferreira da, org. –
História Económica de Portugal 1700-2000. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2004, p. 109.
88
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6083.
89
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1119.
90
Cf. o caso estudado para Pradoluengo (Castela) em MARTÍN GARCÍA, Juan José – La Industria
Textil en Pradoluengo 1534-2007. La Pervivencia de un Núcleo Industrial. Valladolid: Junta
de Castilla y León, 2007, pp. 70 passim.
100 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
91
BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – A Produção Artesanal, Portugal do Renascimento
à Crise […], pp. 186-187.
92
OLIVEIRA, António de – A Vida Económica e Social de Coimbra […], vol. 1, pp. 516-517.
93
BRANDÃO (DE BUARCOS), João – Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552, organização
e notas de José da Felicidade Alves. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 194 e 201.
94
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 4555.
95
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, procs. 6913, 8748,
96
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 4102.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 101
adaga para lhe dar o que não fes mas a ditta molher do reo lhe chamou
cornudo sendo elle cazado de que resultou demandar lhe huma injurua
fazendo citar ao reo para a defender”97. Por seu lado, Manuel da Costa, o
Ratona, de 24 anos, natural e morador em Bragança, preso em 1709, era
tecelão e soldado98.
97
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2683.
98
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 7355.
99
Sobre conflituosidade laboral entre artesãos e entre estes e seus mestres, cf., para Espanha
e França, respectivamente, NIETO SÁNCHEZ, José A. – Asociación y Conflicto Laboral
en la Madrid del siglo XVIII. El Trabajo en la Encrucijada: […], pp. 273-287; TRUANT,
Cynthia M. – Insolentes e Independientes: Los Oficiales y sus ‘Ritos’ en el Taller del Antiguo
Régimen. In LÓPEZ BARAHONA, Victoria; NIETO SÁNCHEZ, José A., coord. – El Trabajo
en la Encrucijada: Los Artesanos Urbanos en la Europa de la Edad Moderna. Madrid: Los
Libros de la Catarata, 1996, pp. 203-247 e GUICHETEAU, Samuel – Les Ouvriers en France
[…], pp. 54-63. Em alguns casos, a resposta face aos conflitos foi a criação de associações
diversas. Para França, designadamente para Lyon, cf. AAVV – Le Compagnonnage à Lyon
de ses Origines Mythiques à nos Jours. Lyon: Silvana Editoriale, 2014.
100
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6395.
101
Sobre esta matéria, cf. OLTEAN, Crina Adriana – A Denúncia ao serviço da Fé ou da Vingança?
A Delação Inquisitorial e os seus Efeitos. Lisboa: Dissertação de Mestrado em História,
especialidade de História Moderna e Contemporânea, registada na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, 2014.
102 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
102
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
103
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
104
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1813-1.
105
Sobre os insultos, cf. BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Violência Verbal e Violência
Física numa Sociedade em Mudança: Portugal séculos XV-XVI. In III Congresso Histórico de
Guimarães. D. Manuel e a sua Época. Actas. [Guimarães]: Câmara Municipal de Guimarães,
2004, vol. 3, pp. 495-508.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 103
de Franco, acabando por lhe dizer “negareis vos que não fostes muito
grande puta antes que fosseis boa mulher”106.
António Rodrigues Ferreira, de 25 anos, natural e morador em Bragança,
preso em 1713, era profissionalmente muito bem-sucedido, mas afirmou
ao Santo Ofício ser “muito pobre e não ter bens alguns”. As contraditas
apresentadas revelaram muito sobre a sua atividade profissional e sobre
as más vontades e invejas que o seu sucesso e a sua honestidade moti-
vavam. Assim, ficou claro que: “o réu é o melhor tecelão de mantos que
havia na cidade de Bragança e fora dela nas mais partes deste Reino em
tal forma que os mantos da fábrica do réu se lhe pagavam por mais uma
moeda de ouro pouco mais ou menos ordinariamente do que custavam e
se pagavam os mantos de todos os mais oficiais e fabricas da dita cidade
e de quaisquer outras cidade e terras do Reino […] atualmente estava o
réu fazendo mantos de encomendas para as casas titulares e mais ilustres
da cidade de Lisboa e ainda para os homens de negocio que tem nela e na
cidade do Porto fábricas de mantos porque quando tinham encomendas
deles de empenho os encomendavam e mandavam fazer ao réu porque só
asi podiam satisfazer no seu empenho. Provara que por estas razões todos
os mais oficiais de mantos da cidade de Bragança tinham pouco gasto e
lucros nas suas fábricas antes nelas padeciam perdas muito conhecidas e
por isso pediam ao réu lhes quisesse passar com seus e vender mantos das
fábricas desses oficiais mas o réu nunca o quis fazer e assim provara que
de todo o relatado resultou serem seus capitais inimigos todos os oficiais de
mantos e suas famílias e parentes há mais de dez ou doze anos a esta parte
a saber: António Rodriguez Pereira, Henrique Novaes, Manuel Fernandes
Pacheco e sua mulher, João da Costa Teixeira e sua mulher e cunhada
Maria Correa, Manuel Rodriguez Lima e sua mulher, seu cunhado António
da Fonseca e sua mulher, Lourenço Mendes de Sá, seu irmão Jorge de Sá,
Manuel de Barros, o Pavaltes de apelido e sua mulher, seu irmão António
de Barros e sua mulher, António de Barros e sua mulher, António de Paz
o Marrana de alcunha, João Dias e sua mulher, seu primo José de Paz,
José Rodriguez Traça, sua mãe e mulher e António José. Os quais todos
são oficiais do mesmo ofício e homens que mandam obrar nele e por causa
do grande ódio e inimizade que têm ao réu há tantos anos o ameaçavam
muitas vezes dizendo que lhe armariam cousas per que mais não tecesse
mantos e todos são cristãos-novos e moradores em Bragança”107. Após o
elenco, o tecelão explicitou os problemas concretos que vivera com cada um
106
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2138.
107
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 174.
104 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
108
Repare-se no tipo de tratamento preconizado face a um doente que padecia de transtornos
mentais. Sobre esta questão, cf. BRAGA, Paulo Drumond – Nam Parecia ser muito Certo no
Juizo e Capacidade. Réus, Doenças Psíquicas e Inquisição. Lusíada. História. Lisboa, nº 8
(2011), pp. 243-258 e BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Viver e Morrer […], pp. 143-176.
109
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 174.
110
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 174.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 105
a hum cunhado do reo per nome Francisco Lopes o reo mostrou que o dito
seu cunhado não era o culpado mas o dito Francisco Lopes Bonitinho”111.
No mesmo ano, foi preso o referido Francisco Lopes, o Bonitinho, de
54 anos, natural de Bragança e morador em Chacim. Pelo menos três
pessoas eram suas inimigas em resultado de questões relacionadas com
a tecelagem: Domingos Gomes Alves, alfaiate, “por duvidas que deve com
o reo sobre huma tea de sem covados de picote que o reo lhes vendeu e
por o teselão lha não dar ao tenpo que ficou e lha dilatar nove mezes se
queixou do reo e tiveram resõis pezadas e lhes ficou odio”; Vicente Gomes,
“por grandes duvidas que tiveram sobre huna tea de picote que o reo lhes
tinha dado a teser e per o reo lha demandar” e Domingos Teixeira “por
duvidas que tiveram e por o reo lhes não querer dar mais teas a teser se
descompuserão”112.
Nas contraditas do processo de António Franco Machado, de 34 anos,
mercador, natural e morador em Bragança, preso em 1696, também
foram apresentados problemas e disputas profissionais, os quais estariam
na base de inimizades e de denúncias. Assim, fica a saber-se que Julião
Gomes, cristão-velho, tecelão de veludos, morador em Bragança, além de
ser “falto de juizo ha de haver tres para quatro annos he inimigo do reo
por duvidas sobre o ajustamento de huas contas que entre si tinhão nos
que se descompuzerão” como também “não so Julião Gomes de que se faz
menção no primeiro artigo mas sua irman […] veuva haverá tres annos
foi a caza do reo a pedir lhe hum machuello de hum tear de veludos que
tinha sido de Henrique de Sa e o reo tinha comprado e a dita pessoa dizia
ser seu o dito machuello e que o tinha emprestado ao dito Henrique de Sa
e por o reo lho não querer dar pois o tinha comprado ella pondo a mão no
cappelo o ameaçou dizendo que por aquelle lho havia de pagar”113.
Em contraditas de outros processos as menções a conflitos profissionais
foram igualmente frequentes. Manuel Ferreira, de 26 anos, natural e
morador em Chacim, detido em 1697, alegou que “Manoel Luis christão
velho torcedor de sedas do lugar dos Olmos termo da villa de Chacim
há de haver anno e meio pouco mais ou menos que he inimigo do reo e o
ameaçou e isto por o reo em caza de huma sua irmam onde o dito Manoel
Luis trabalhava o descompos com palavras afrontosas por o dito Manoel
Luis não dar boa conta da ceda que se lhe dava por assitir muito pouco a
trabalhar”; que “Andres Lopes, christão novo, cortidor de Chacim e seus
111
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6977.
112
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2103-1.
113
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 5027-1.
106 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
filhos há de haver dous annos e meio são muito mal affeiçoados ao reo
e se não falavão e isto porque tendo o dito Andres Lopes huma parte da
partida de ceda para vender por o reo dizer a João Rodriguez Franco que a
queria comprar que a ceda tinha cheiro e que lhe não servia a não comprou
e (?) ao dito Andres Lopes que nella teve muita perda” e ainda que “João
Rodrigues Franco tendeiro de Chacim e seu tio Manoel Rodriguez clérigo
de appellido mercador de Bragança christão novo há de haver vinte meses
pouco mais ou menos que comprarão ao reo huma partida de mantos e
depois de os terem em caza e o reo recebido do dinheiro sobre o resto do
preço que os sobreditos lhe não quizerão pagar por dizerem que os mantos
o não valião tiveram suas duvidas”114. Situação semelhante aconteceu com
Daniel Ferreira, de 19 anos, natural e morador em Chacim, preso em 1697,
o qual, nas contraditas, apresentou inimizades resultantes de problemas
laborais: “Vicente Gomes de Chasim tambem era enemigo do reo de seis
annos a esta parte e sua molher por o reo lhe não querer emprestar os
aparelhos do officio de tesellão”115; que a filha mais velha de uma tecedeira
“he inimiga do reo e de seos irmãos porque tendo a elle reo por fiadeira
de seda huns dois annos e a deixarem e tomarem otra e lhe não pagarem
o que ella queria ficou sua mal affecta”116 e, finalmente, que “Domingos
Lopes o Ruivo seos filhos nettos noras alem das contraditas que lhes tem
arguido são seos inimigos tambem porque elle reo e seos irmãos lhe tinhão
tomado hum seo filho para emsinarem ao seo officio de tecelão de sedas e
lhes darem algum castigo e o lançarem fora fiquarão todos os sobredictos
seos inimigos”117.
Inimizades diferentes foram dadas a conhecer pelas contraditas do
processo de Lourenço Mendes, o Orelhas, de 33 anos, natural e residente em
Bragança, preso em 1701. Foram arroladas seis pessoas que se enfadaram
com o réu de alguma maneira em resultado da arte de tecer. Assim, Vicente
Gomes e família – mulher e sogra – “são inimigos do reo há 9 para 10 annos
porquanto indo o reo viver a dita villa alugou humas cazas defronte dos
preditos e perquanto abrio huma janella defronte da escada delles para
por o seo tear de seda da dita janella se devassava a escada dos preditos e
elle reo se gabou que dentro do seo tear estava vendo as pernas a molher
do dito Vicente Gomes este o desafiou que saísse para fora que o havia de
matar e que lhe havia de fazer tapar a janella”; Antonio de Sá Carranço
114
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 5278.
115
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3015.
116
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3015.
117
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3015.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 107
“he inimigo do reo há 17 annos porque indo o reo a Castella buscar hum
poco de sabão para branquear de seda em companhia do predito este no
caminho o roubou tomando lhe per força o dinheiro” e Manuel Furtado e
sua molher “são inimigos do reo há 8 annos porque dando elle reo huma
poqua de seda para lhe fiar a molher do predito per que lhe faltou alguma
no pezo e lha pedio ambos se agastarão muito contra o reo por lhe impor
que erão ladrões”118.
As contraditas apresentadas pelas testemunhas de Manuel Lopes de
Carvalho, o Canuto, de 60 anos, natural e residente em Bragança, preso em
1710, revelam problemas e inimizades, desta feita não apenas profissionais
como também familiares. Assim, segundo um testemunho, “João Lopes e
Manuel Nunes e sua irmam Leonor Nunes da cidade de Bargança suposto
sejão sobrinhos do reo são seos mal affectos haverá quatro para cinco annos
por quanto pedindo lhe huma poca de seda que o reo tinha de Lourenço
Alvares para lha troçer o reo lhes largou des arrates com condição de a
tratarem bem e per que lha lançarão muito azeite e o senhor da seda lhe
não quisera aceitar e lhe fes pagar a perda tem grandes duvidas e resões
passadas com os preditos que ainda lhe ficarão devendo hum arrate
e hum corteirão alem de outro tanto que por elles pagou” ou, segundo
outro, “dando lhe seda a torcer e outros mais negócios e sabe que o ditto
reo teve duvidas e pendencias com huns seus sobrinhos que se chamão
Manoel Nunes e outro João Lopes e a causa foi por o ditto reo dar algumas
sedas aos ditos seus sobrinhos e como elles lhe não dessem conta della se
travarão de más palavras”119. Por seu turno, Manuel da Costa, o Ratona,
de 24 anos, natural e morador em Bragança, detido em 1709, apresentou
aos inquisidores vários membros da sua família como seus inimigos, em
especial a mãe, a irmã e um cunhado. Desta feita, o problema referiu-se
à escolha de marido para a irmã. Maria da Costa pretendia matrimoniar-
-se com Pedro Correia Pinheiro, com quem se carteava, enquanto o réu
desejava que ela se casasse com João da Costa Magina. Para acabar com
o namoro apanhou uma missiva de Pinheiro e entregou-a a Magina. A
mãe partiu para Castela sem se despedir, depois de se ter zangado com
Manuel da Costa, que não conseguiu impedir o casamento. Porém, a irmã
e o cunhado “nunca mais fiserão cazo do reo e se o tinhão em sua caza era
com o interesse de trabalhar para elles, tratando o sempre mal e faltando
lhe com o sustento necessario, não lhe dando mais que algum pedaço de
pão, de sorte que foi necessario ao reo ir assentar praça de soldado pago
118
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1786.
119
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2131-1.
108 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
infante, causa tambem porque os sobreditos lhe ficarão mais odiosos por
se livrar de trabalhar para elles”120.
120
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 7355.
121
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6277.
122
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 5278.
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 109
123
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1786.
124
Alguns apresentaram-se voluntariamente ao Santo Ofício de Coimbra. Cf., por exemplo,
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, procs 1807-1, 1808-1, 1809-1, 1812-1, 2133-1, 8564.
125
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1807-1.
126
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1807-1.
110 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
127
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 8923.
128
Sobre estas práticas, cf. TAVARES, Maria José Pimenta Ferro – A Religiosidade Judaica.
In Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a sua Época. Actas. Porto: Universidade do
Porto: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1989,
vol. 5, pp. 369-380; IDEM – Judaísmo. In AZEVEDO, Carlos Moreira, Dicionário de História
Religiosa de Portugal. [Lisboa]: Círculo de Leitores, 2001, vol. J-P, pp. 31-37.
129
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 3015.
130
O mesmo também acontecia com os confeiteiros. Cf. BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Os
Confeiteiros Portugueses na Época Moderna: Cultura Material, Produção e Conflituosidade […].
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 111
131
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6395.
132
Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 6395.
112 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
Anexo 1
Artesãos Têxteis Presos pelo Tribunal do Santo Ofício de
Coimbra sob acusação de Judaísmo (séculos XVI-XVIII)
Anexo 2
Relações Familiares dos Artesãos Têxteis Presos pelo
Tribunal do Santo Ofício de Coimbra (séculos XVI-XVIII)
Filhos com
Profissão Outros familiares com a
Nome Profissão a mesma Data Fonte
paterna mesma profissão
profissão
Tecelão de
Afonso de Valença Tecelão de veludos - 1 irmão 1711 2611
veludos
Álvaro Carneiro Aprendiz de tecelão Sapateiro - 2 irmãos, 4 sobrinhos 1714 1570
Tecelão de 1 genro, 4 tios, 1
André da Costa Tecelão de sedas - 1713 1569
sedas cunhado
António da Costa Tecelão de tafetá Sapateiro - - 1667 6180
António da Costa
Tecelão Torcedor - - 1718 530
Mendes
António Ferreira Tecelão Escrivão - - 1664 1412
António Ferreira Aprendiz de tecelão Barbeiro - - 1671 3713
António Francisco, o
Tecelão Tecelão - 3 tios 1674 3434
Amoroso
António Francisco, o Tecelão e 2 irmão, 1 tio, dois
Tecelão 1671 8748
Amoroso trombeteiro primos
António Franco Tecelão de seda e
Mercador - 1 tio, 5 primos 1688 5027
Machado mercador
António Lopes
Tecelão Tecelão - 2 cunhados 1716 1688
Pereira, o Nozes
António Lopes, o Tecelão de toalhas e Tecelão de 1 avô, 1 genro, 2 tios, 3
1661 4555
Rachado charameleiro toalhas primos, 1 sobrinho
António Rodrigues
Tecelão - - - 1713 174
Ferreira
António Rodrigues,
Tecelão de sedas Curtidor - 1 irmão, 1 tio, 5 primos 1713 1807
o Castelhano
Tecelão de
Baltazar Fernandes Tecelão de toalhas - 1 irmão 1601 6083
toalhas
Baptista Gonçalves Tecelão de mantos Moleiro - - 1675 4102
Tecelão e torcedor
Belchior Fernandes Sapateiro - - 1704 785
de sedas
Tecelão de
Belchior Fernandes Cardador Cardador 2 irmãos, 1 sobrinho 1669 1508
mantos
Belchior Ferreira Tecelão Sapateiro - - 1711 181
2 irmão, 2 cunhados, 1
Daniel Ferreira Tecelão de sedas Curtidor - 1697 3015
tio, 2 sobrinhos
Diogo Ferreira Tecelão de sedas Curtidor - 4 irmãos, 1 tio, 1 primo 1697 6977
Domingos Gonçal-
Tecelão Tecelão - 2 irmãos, 1 tio, 2 primos 1671 6913
ves, o Amoroso
Domingos Lopes Tecelão Curtidor - 1 irmão 1698 2943
Francisco Cardoso Tecelão de alforges Sapateiro - - 1667 6648
Francisco Lopes Torcedor de sedas - - 3 irmãos, 1 tio, 3 primos 1667 2103
Francisco Nunes Tecelão e cardador - - - 1581 6395
Francisco Ramires Tecelão de veludos Sapateiro 1 - 1713 2699
5 primos e 4 primas
Francisco Rodrigues Tecelão Sapateiro 2 1595 6689
casadas com tecelões
Francisco Rodrigues Tecelão de sedas Mercador - 1 tio, 4 primos 1713 8054
2 irmãos, 2 cunhados, 6
Gabriel Borges Tecelão de sedas Tecelão - 1747 8564
tios, 18 primos
116 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga
Filhos com
Profissão Outros familiares com a
Nome Profissão a mesma Data Fonte
paterna mesma profissão
profissão
Gabriel Nunes, o
Tecelão de veludos Sapateiro 2 1 cunhado, 9 primos 1708 85
Raba
Tecelão de
Gaspar Fernandes Tecelão de toalhas - 2 tio e dois primos 1602 577
toalhas
Gaspar Ferreira Tecelão de sedas Sapateiro 1 1 primo 1711 2133
Tecelão de
Gaspar Lopes Tecelão de toalhas - 1 avô, 3 tios, 4 primos 1661 3480
toalhas
Tecelão de sedas e
Gaspar Luís Sapateiro - 1 genro 1711 1578
sapateiro
Gaspar Rodrigues Tecelão de lenços Tecelão - - 1600 9355
Henrique de Sá Tecelão de sedas Mercador - 2 irmãos, 1 tio, 5 primos 1695 6277
Jerónimo Henriques Tecelão de alforges Tecelão 1 avô, 2 primos 1643 7499
João de Carvalho Tecelão - - - 1713 1617
João Dias Tecelão de sedas Tecelão 7 tios, 1 sobrinho 1713 1552
João Fernandes Tecelão de toalhas - - - 1591 2765
João Henriques
Tecelão Mercador - 6 tios, 2 primos 1709 5792
Nunes
Tecelão de
João Nunes Tecelão de sedas - 1 irmão 1709 1812
sedas
João Rodrigues Tecelão de sedas - - 3 primos 1713 8065
João Rodrigues 2 irmãos, um cunhado, 2
Tecelão de sedas Sapateiro 1713 8923
Carvalho tios, 6 primos, 1 sobrinho
José da Costa Tecelão Tecelão - 1 irmão, 8 tios, 6 primos 1748 1805
José de Sá Pilão Tecelão de sedas Favaceiro - 2 primos 1711 1583
José Dias Tecelão de sedas Curtidor - - 1713 5793
Lourenço de Sá
Tecelão de sedas Mercador - - 1713 1574
Silveira
Lourenço Mendes Tecelão de seda Mercador - 1 genro, 1 irmão, 3 tios 1701 1786
Luís Álvares Tecelão de sedas Sapateiro - 2 irmãos, 1 primo 1713 1808
Luís de Novais
Tecelão de sedas - - - 1715 1577
de Sá
Manuel Cardoso Tecelão de sedas Sapateiro - 1 cunhado, 4 primos 1706 3191
Tecelão de tafetás e
Manuel de Castro Sapateiro - - 1692 2683
mercador
Manuel de Lafaia Tecelão de sedas Cerieiro - 1 irmão 1661 9062
Manuel Dias Tecelão Tecelão - 3 tios, 1 primo 1716 1560
1 tio, 2 primos, 3 irmãos,
Manuel Ferreira Tecelão de sedas Curtidor - 1697 5278
2 cunhados
Manuel Gomes da
Tecelão e soldado Mercador - 1 cunhado 1709 7355
Costa, o Ratona
Manuel Gonçalves, o
Tecelão Tecelão - 4 tios 1673 2489
Amoroso
Manuel Lopes de Tecelão de
Torcedor de sedas - 3 irmãos, 2 tios, 2 primos 1667 2131
Carvalho veludos
Manuel Lopes, o Tecelão de
Tecelão de toalhas - 1 avô, 1 tio 1661 3494
Capado toalhas
Manuel Teixeira da
Torcedor Tecelão - 2 tios 1713 1575
Costa
Marcos da Costa Tecelão de veludos - - 1 avô 1660 1521
Mateus Lopes Tecelão de sedas - - - 1713 8034
Tecelão de tafetás,
Matias Rodrigues Sapateiro - 1 tio, 1 primo 1660 8190
curtidor, sapateiro
Rafael de Sá Tecelão de sedas Tecelão - 3 tios 1747 1809-1
Cu l t u ra M a te r i a l, Tra b a l h o e Co n f l i t u o s i d a d e O s A r te s ã o s Tê x te i s ( s é c u l o s X V I -X V I I I ) 117
Filhos com
Profissão Outros familiares com a
Nome Profissão a mesma Data Fonte
paterna mesma profissão
profissão
Rafael Lopes Torcedor de
Tecelão - 6 irmãos 1718 1813
Pereira seda
Salvador Mendes Tecelão Torcedor - 1 irmão, 2 tios 1710 1686
Tecelão de
Salvador Pires Tecelão de sedas - Avô, 2 tios, 4 sobrinhos 1660 2138
tafetás
Tecelão de 1 avô, 1 tio, 1 irmão, 4
Salvador Rodrigues Tecelão de sedas - 1664 3772
sedas primos
1 primo e 1 marido de
Sebastião Rodrigues Tecelão de veludos Pedreiro - 1661 1119
uma prima
Penas:
Publicitação das penas: a – auto da fé, m – Mesa do Santo Ofício;
Abjuração dos réus: l – abjuração de levi suspeito na fé, f – abjuração em forma, v – abjuração de
veemente suspeito na fé;
Castigos: c – cárcere, cf – confisco de bens, d – degredo (A – Angola; B – Brasil; CM – Castro
Marim), hpa – hábito penitencial a arbítrio, hpp – hábito penitencial perpétuo; pe – penas
espirituais; r – relaxado ao braço secular.
Fonte:
C – Inquisição de Coimbra, proc.
(Footnotes)
1 * Teve novo processo, em 1747. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1807-1. Então
era viúvo de Filipa Pereira.
2 *5 Teve um segundo processo, em 1697. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2103-1.
Já enviuvara da primeira e da segunda mulher, Francisca de Sá, estava casado com Ana da Paz e
residia em Chacim.
3 *7 Teve um segundo processo, em 1747. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2133-1.
4 *3 Teve um segundo processo, em 1747. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1812-1.
Era então casado com Mariana Teresa.
5 *1 Teve novo processo, em 1749. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1808-1.
6 *6 Teve um segundo processo, em 1710. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 2131-1.
Já enviuvara de Isabel de Morais e estava casado com Branca Pereira.
7 *2 Este é o segundo processo.
8 *4 Teve um segundo processo em 1748. Cf. Lisboa, A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, proc. 1813-1.
Já enviuvara de Luísa Maria e estava casado com Maria Rosa.