Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Elétrica

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

Vinícius Santos Przewodowski

Estudo Preliminar Para Implantação de Usinas Híbridas no Brasil


Um Estudo De Caso No Interior Do Estado da Bahia

NITERÓI
2022
Vinícius Santos Przewodowski

Estudo Preliminar Para Implantação de Usinas Híbridas no Brasil


Um Estudo De Caso No Interior Do Estado da Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Corpo Docente do Departamento de
Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da
Universidade Federal Fluminense, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título
de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. Dr. Bruno Soares Moreira Cesar Borba


Coorientador: Leonardo de Arruda Bitencourt

Niterói, RJ
2022
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de demonstrar minha gratidão a minha esposa, Lorena, por estar ao meu lado
desde o pré-vestibular até hoje, completando a minha graduação. Obrigado por todo o suporte,
mesmo em meio a tantas dificuldades que passamos, sempre me incentivando a não desistir dos
meus objetivos.
Também gostaria de agradecer aos meus pais, André e Fernanda, por todo suporte
desde o meu nascimento até hoje, quando consigo atingir um grande objetivo. Obrigado por
tudo, sem este apoio não me tornaria quem sou hoje.
RESUMO
As fontes de energia renovável variável, como eólica e solar, tem alcançado uma
participação cada vez mais expressiva na matriz de geração elétrica brasileira, e as perspectivas
de crescimento indicam uma expansão ainda maior. Considerando que o sistema possui uma
grande dependência de usinas hidrelétrica, as crises hídricas mais recentes, e suas
consequências, deixaram evidente a necessidade de diversificação da matriz, bem como a
necessidade da busca por inovações tecnológicas aliada com a preservação ambiental, como a
regulamentação e implantação das usinas híbridas e associadas. Neste trabalho será apresentada
uma revisão da literatura acerca dos principais conceitos relacionados às usinas híbridas bem
como um panorama geral da legislação brasileira, além de uma proposta de metodologia
simplificada, que possibilita realizar uma avaliação preliminar para a viabilidade da
implantação de uma usina híbrida eólica-solar, em uma determinada região. Por fim, será
apresentado um estudo de caso, a partir de dados reais coletados de estações de medição
geograficamente próximas, no interior do estado da Bahia. A partir deste estudo, espera-se ter
informações que tornem possível a avaliação preliminar da implantação de uma usina híbrida.

Palavras-Chave: Usinas híbridas, Matriz Elétrica Brasileira, Usinas Associadas.


ABSTRACT

Variable renewable energy sources, such as wind and solar, have achieved an
increasingly expressive participation in the Brazilian electricity generation matrix, and the
growth prospects indicate an even greater expansion. Considering that the system is highly
dependent on hydroelectric plants, the most recent hydric crises, and their consequences, have
made evident the need to diversify the matrix, as well as the need to search for technological
innovations allied with environmental preservation, such as the regulation and implementation
of hybrid and associated plants. This paper will present a literature review of the main concepts
related to hybrid plants as well as an overview of the Brazilian legislation, and a simplified
methodology proposal, which enables a preliminary assessment of the viability of
implementing a wind-solar hybrid plant in a given region. Finally, a case study will be
presented, based on real data collected from geographically close measurement stations in the
interior of the state of Bahia. From this study, it is expected to have information that will make
possible the preliminary evaluation of the implementation of a hybrid plant.

Keywords: Hybrid power plants, Brazilian Electricity Matrix, Associated Plants.


LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa do sistema interligado nacional. ........................................................................ 1
Figura 2: Gráficos de capacidade instalada e consumo por subsistema. .................................... 2
Figura 3: Mapa do sistema isolado – Ciclo 2019. ...................................................................... 2
Figura 4: Gráfico da Matriz de geração Brasileira. .................................................................... 3
Figura 5: Gráfico de Geração. .................................................................................................... 3
Figura 6: Exemplo de um sistema híbrido de geração................................................................ 8
Figura 7: Esquemático de uma usina adjacente. ......................................................................... 9
Figura 8: Esquemático de uma usina associada........................................................................ 10
Figura 9: Esquemático de um portfólio comercial. .................................................................. 11
Figura 10: Esquemático de uma usina híbrida.......................................................................... 11
Figura 11: Linha do tempo do processo de regulação para usinas híbridas. ............................ 12
Figura 12: Curvas características de complementariedade eólica-solar ................................... 13
Figura 13: Diagrama de fluxo da metodologia proposta .......................................................... 18
Figura 14: Gráfico exemplo de complementariedade de recurso eólico-solar. ........................ 21
Figura 15: Exemplo de gráfico de complementariedade de potência normalizada. ................. 23
Figura 16: Gráfico exemplo de complementariedade eólica-sola. ........................................... 26
Figura 17: Gráficos de complementariedade de recurso mensal do estudo de caso................. 28
Figura 18: Continuação dos gráficos de complementariedade de recurso mensal do estudo de
caso. .......................................................................................................................................... 29
Figura 19: Complementariedade de recurso anual. .................................................................. 29
Figura 20: Média da complementariedade de recurso eólico-solar no período de dezembro a
março. ....................................................................................................................................... 30
Figura 21: Média da complementariedade de recurso eólico-solar no período de julho a outubro.
.................................................................................................................................................. 31
Figura 22: Gráficos de potência normalizada. .......................................................................... 31
Figura 23: Gráfico das curvas de saída dos aerogeradores estudados. ..................................... 32
Figura 24: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador V-150. ..................................................................................... 33
Figura 25: Continuação da complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela
proporção das tecnologias para o aerogerador V-150. ............................................................. 34
Figura 26: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador AWG 147. .............................................................................. 35
Figura 27: Continuação da complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela
proporção das tecnologias para o aerogerador AWG 147. ....................................................... 36
Figura 28: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador fictício. .................................................................................... 39
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tabela de combinação entre usinas novas e existentes ............................................ 14
Tabela 2: Tabela exemplo de aquisição parcial de dados do recurso eólico. ........................... 20
Tabela 3: Tabela de otimização para o aerogerador V-150 ...................................................... 33
Tabela 4: Tabela de otimização para o aerogerador AGW 147 ............................................... 34
Tabela 5: Tabela de otimização comparando os modelos de aerogerador. .............................. 37
Tabela 6: Tabela comparando os parâmetros dos aerogeradors. .............................................. 37
Tabela 7: Tabela de diferença percentual. ................................................................................ 38
Tabela 8: Tabela de otimização para o aerogerador fictício. .................................................... 38
Tabela 9: Tabela de otimização comparando os modelos de aerogerador. .............................. 40
Tabela 10: Tabela comparando os parâmetros dos aerogeradors. ............................................ 40
Tabela 11: Tabelas de diferença percentual. ............................................................................ 40
SUMÁRIO
1 Introdução ........................................................................................................................ 1
1.1 Sistema Elétrico Brasileiro .......................................................................................... 1
1.1.1 Matriz de Geração Brasileira ................................................................................ 2
1.1.2 Estabilidade do Sistema de Geração ..................................................................... 4
1.2 Objetivos ...................................................................................................................... 5
1.3 Estrutura do Trabalho .................................................................................................. 6
2 Geração Híbrida ............................................................................................................... 7
2.1 Conceito de Usina Híbrida ........................................................................................... 7
2.2 Panorama Geral ............................................................................................................ 7
2.3 Sistemas Híbridos de Geração Eólico-Solar ................................................................ 8
2.4 Tipologias de Geração “Híbrida” no Brasil ................................................................. 8
2.4.1 Usinas Adjacentes................................................................................................. 9
2.4.2 Usinas Associadas ................................................................................................ 9
2.4.3 Portfólios Comerciais ......................................................................................... 10
2.4.4 Usinas Híbridas................................................................................................... 11
2.5 Legislação Brasileira e Tecnologia Híbrida de Geração ............................................ 12
2.5.1 Estudos da EPE................................................................................................... 12
2.5.2 Consulta Pública 061/2020 ................................................................................. 15
2.5.3 Resolução Normativa N° 954/2021 .................................................................... 15
3 Metodologia ................................................................................................................... 17
3.1 Fluxograma da Metodologia ...................................................................................... 17
3.2 Aquisição e Tratamento de Dados ............................................................................. 18
3.3 Complementariedade de Recurso .............................................................................. 20
3.4 Conversão dos Dados para Potência e Definição de Parâmetros............................... 21
3.5 Complementariedade de Potência .............................................................................. 23
3.6 Otimização ................................................................................................................. 23
4 Estudo de Caso e Análise dos Resultados ..................................................................... 27
4.1 Complementariedade de Recurso .............................................................................. 27
4.2 Complementariedade de Potência .............................................................................. 31
4.3 Otimização ................................................................................................................. 32
5 Conclusão ...................................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 43
1

1 Introdução
1.1 Sistema Elétrico Brasileiro
A matriz elétrica é definida pelo conjunto de usinas disponíveis para a geração de
energia elétrica e os sistemas de transmissão e distribuição para levar essa energia ao
consumidor final. De uma perspectiva macro, o Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), pode ser
subdividido em dois grupos: Sistema Interligado Nacional e Sistema Isolado.
O Sistema Interligado Nacional (SIN) é composto pelo sistema de produção e de
transmissão de energia elétrica do Brasil. Este sistema possui uma malha de transmissão de
mais de 169 mil km de extensão [1], interligando quase todo o território que está subdividido
em 4 subsistemas: (i) Sudeste/Centro-Oeste, (ii) Sul, (iii) Nordeste e (iv) Norte. A figura 1
ilustra a malha de transmissão do SIN e a figura 2 compara a capacidade instalada com o
consumo, por subsistema em 2021.
Figura 1: Mapa do sistema interligado nacional.

Fonte: [2].
2

Figura 2: Gráficos de capacidade instalada e consumo por subsistema.

Fonte: Elaborado pelo autor de [3].

Já o Sistema Isolado integra regiões mais isoladas do território nacional, onde até o
momento não foi viável a integração no SIN. De acordo com o ONS, hoje são 212 localidades,
sendo a maior parte delas da região Norte, atendidas por um sistema isolado. Destaca-se ainda,
que o consumo nestas localidades é baixo, representando menos de 1% da carga total do país.
O mapa da figura 2 retrata as localidades do Brasil, dependentes do sistema isolado em 2019.
Figura 3: Mapa do sistema isolado – Ciclo 2019.

Fonte: [4].
1.1.1 Matriz de Geração Brasileira
O Brasil, diferente da maioria dos países do mundo, possui, segundo o ONS, uma
matriz de geração de energia elétrica de grande porte, hidro-termo-eólico, com predominância
de fontes renováveis [5]. Em 2021, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) [3], os
181,6 GW de capacidade instalada no país estavam distribuídos 60,2% em fonte hidráulica,
23,5% em usinas termelétricas (UTE), 11,4% em eólica, 2,6% em solar e 1,1% em nuclear.
Também é destacado que a fonte hidráulica gerou 55,3% da energia elétrica.
3

É importante destacar que de 2020 para 2021, houve um aumento de 3,9% na


capacidade total instalada no país, com grande destaque para a energia eólica, com aumento de
21,2% e para energia solar, com aumento de 40,9%, segundo dados da EPE [3]. A figura 4
representa a capacidade instalada para cada fonte de energia no Brasil, ilustrando em potência
os dados percentuais citados nos parágrafos anteriores.

Figura 4: Gráfico da Matriz de geração Brasileira.

Fonte: Elaborado pelo autor de [3].

Baseado nos dados de 2019 da EPE [3], observa-se que o Brasil ocupa o sétimo lugar,
entre os dez maiores produtores de energia elétrica no mundo, enquanto ocupa o terceiro lugar,
quando se considera apenas a geração de energia elétrica a partir de fonte renovável. O Brasil
se destaca ainda mais, quando se considera o percentual de geração por fontes renováveis em
relação à produção total, como evidenciado na figura 5.

Figura 5: Gráfico de Geração.

Fonte: Elaborado pelo autor de [3].


4

1.1.2 Estabilidade do Sistema de Geração


O Brasil se destaca na produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, com
predominância de fontes hídricas. Isto ocorre principalmente pela abundância deste recurso no
território nacional. Segundo a EPE [6], o potencial hidrelétrico brasileiro é de aproximadamente
172 GW, e é válido ressaltar que 60% já foram aproveitados. E destaca-se ainda que cerca de
70% do potencial ainda disponível está localizado nas bacias hidrográficas Amazônica e
Tocantins - Araguaia.
Sob uma ótica direcionada para a operação, é importante destacar que as usinas
hidrelétricas possuem diversas vantagens, principalmente nos quesitos de controle e
estabilidade de geração. Como indicado pela EPE [6], usinas hidrelétricas são recursos bastante
versáteis, capazes de prover uma série de serviços ancilares, como o controle automático de
geração, controle de tensão e de frequência. E ainda é necessário destacar que muitas das
hidrelétricas do sistema de geração brasileiro possuem reservatórios, permitindo que a vazão
seja regulada e o armazenamento de potencial energético para geração em períodos de escassez
do recurso.
Com o passar dos anos, ficou claro que a capacidade de regularização dos
reservatórios, perante o crescimento do sistema, está cada vez mais reduzida. Isto se deve às
dificuldades enfrentadas para a aquisição das licenças, principalmente ambientais, para a
construção de novas hidrelétricas e reservatórios.
Dado este cenário, é necessário que na matriz de geração brasileira ainda estejam em
utilização as usinas termelétricas (UTE). As UTEs se utilizam da queima de algum combustível
(gás natural, carvão mineral, biomassa, nuclear etc.), para gerar energia elétrica. Como
explicado pela EPE [6], dependendo do tipo de combustível e tecnologia que a UTE emprega,
diferentes papeis estratégicos podem ser desempenhados, tais como “atuar na geração contínua,
denominada geração de base, na geração complementar a fontes renováveis ou no atendimento
às demandas de ponta. ”.
A utilização das UTEs no SIN é de grande importância, pois dessa forma é possível
atender a curva de consumo com estabilidade, principalmente durante os períodos de escassez
de recurso hídrico, do qual o Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) possui grande dependência.
Com cada vez mais participação de fontes renováveis como eólica e solar, que são derivadas de
recursos instáveis, as termelétricas viabilizam a inclusão destas tecnologias dando estabilidade
nas curvas de geração de curto prazo destas fontes.
5

O Brasil, em 2021, passou por momentos de dificuldade devido à crise hídrica que
ocorreu no país ocasionada pelo menor volume de água recebido nos reservatórios. Destaca-se
que foi o menor volume recebido nos últimos sete anos, inferior à média histórica, resultando
em baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Destaca-se como a crise hidrológica mais
grave desde 1930 [7].
Esta crise hídrica chamou ainda mais atenção para a necessidade de se diversificar a
matriz de geração do Brasil e a importância de se implementar novas tecnologias como as usinas
híbridas no SIN, para que se torne mais estável, confiável, e cada vez menos dependente de
apenas um recurso. Constatou-se também que, além do aumento do consumo de água para
outros usos [8], o deplecionamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas e a redução dos
níveis de chuva se destacam como as principais causas para a ocorrência da crise hídrica de
2021, no Brasil.

1.2 Objetivos
O objetivo geral desse trabalho é indicar o panorama atual da tecnologia híbrida de
geração em relação aos aspectos legislativos e propor um estudo preliminar sobre alguns
indicadores importantes para a viabilização de um empreendimento de geração híbrido eólico-
solar.
Os objetivos específicos do trabalho são:
1. Apresentar um panorama geral do sistema elétrico brasileiro e estabelecer a
importância do desenvolvimento da tecnologia híbrida de geração, além de fazer
uma revisão da legislação brasileira a respeito das usinas híbridas e associadas.
2. Propor uma metodologia para a realização de um estudo preliminar para avaliação
de indicadores importantes para a viabilização e desenvolvimento de projetos de
usinas híbridas.
3. Realizar um estudo de caso, seguindo a metodologia proposta para analisar os
indicadores a partir da coleta de dados reais de recurso eólico e solar e parâmetros
reais de aerogeradores.
6

1.3 Estrutura do Trabalho


Este trabalho está dividido em 5 capítulos, descritos resumidamente a seguir.
O capítulo 1 faz uma breve introdução do sistema elétrico brasileiro, descrevendo a
matriz energética de geração e iniciando uma contextualização com a necessidade do
desenvolvimento de estudos para a implantação de empreendimentos de geração com
tecnologia híbrida.
O Capítulo 2 aborda os principais conceitos teóricos sobre as tecnologias híbridas de
geração, além de traçar um panorama atual sobre o desenvolvimento técnico e legislativo do
tema.
O Capítulo 3 traz a proposta de uma metodologia para a avaliação de indicadores
importantes para os estudos de viabilização e implantação de empreendimentos híbridos
baseados nas fontes eólica e solar.
O Capítulo 4 apresenta um estudo de caso que segue a metodologia proposta,
utilizando dados de recurso eólico e solar reais, e utilizando parâmetros de aerogeradores
presentes no mercado.
O Capítulo 5 apresenta as conclusões acerca dos capítulos, agregando as informações
e indicando os pontos mais relevantes.
7

2 Geração Híbrida
2.1 Conceito de Usina Híbrida
Na literatura, pode-se observar diferentes abordagens em relação à definição do
conceito de usina híbrida. Konstantinou & Hredzak [9] definem o conceito de usina híbrida
como sistemas que “reúnem diferentes tecnologias de geração, armazenamento e consumo em
um único sistema, melhorando os benefícios gerais em comparação com um sistema que
depende de uma única fonte”. Além disso, é descrito que originalmente um sistema híbrido era
concebido por uma combinação de duas tecnologias de geração comuns (não renovável), mas
hoje houve uma expansão da definição para incluir sistemas que são 100% compostos por
energias renováveis.
Já Subho Upadhyay & M.P.Sharma [10], descrevem um sistema híbrido como “uma
combinação adequada de sistemas de energia renovável e não renovável que leva em conta as
vantagens de ambos os sistemas”, considerando que uma combinação adequada significa que
quando combinadas, estas fontes, resultam numa redução de custo de implementação e
manutenção, assim como uma melhoria na confiabilidade do sistema.
No Brasil, a EPE [6], destaca que “Entende-se como hibridismo a complementaridade
energética, a capacidade de dois ou mais recursos (da mesma fonte ou de fontes distintas)
apresentarem disponibilidade energética complementar no tempo”. A EPE em parceria com o
Ministério de Minas e Energia (MME) e o Governo Federal disponibilizou em 24 de abril de
2017 a nota técnica “ESTUDO DE PLANEJAMENTO DA EXPANÇÃO DA GERAÇÃO –
USINAS HÍBRIDAS, uma análise qualitativa de temas regulatórios e comerciais relevantes ao
planejamento”. Nesse documento a EPE mapeia as tipologias de usinas que integram duas ou
mais tecnologias e às define detalhadamente.
2.2 Panorama Geral
Considerando um cenário de transição energética, fica clara a necessidade de
diversificar as fontes de geração de energia para que o sistema não fique vulnerável à escassez
de um recurso. Para tanto, é necessário que sejam incluídas no sistema de gerador usinas com
capacidade de prover uma curva de geração estável, com pouca variabilidade e com tecnologias
sustentáveis.
Assim, as usinas híbridas com pelo menos uma fonte de geração renovável são uma
opção de tecnologia a ser implementada na transição energética. Estas configurações híbridas
estão sendo amplamente estudadas buscando maximizar a utilização de recursos de energia
8

renovável variável, além de otimizar as configurações para que sejam mais confiáveis, tornando
a curva de geração menos variável [11] [12] [13].
É notório o crescimento da potência instalada de usinas eólicas e solares. Estes
recursos possuem um potencial complementar para compor uma planta de geração híbrida [9].
Neste contexto, será estudado os aspectos de tecnologia de geração híbrida apenas para os
recursos eólico e solar fotovoltaico.
2.3 Sistemas Híbridos de Geração Eólico-Solar
Um sistema de geração híbrido eólico-solar é composto por unidades geradoras
eólicas, unidades geradoras solares fotovoltaicas, inversores, rede coletora, sistema de medição
para faturamento (SMF), e subestação. Cada planta tem sua especificidade de acordo com o
cenário estabelecido para a implantação do projeto [11]. A figura 3 exemplifica um o diagrama
de um sistema híbrido eólico solar.
Figura 6: Exemplo de um sistema híbrido de geração.

Fonte: [11].
2.4 Tipologias de Geração “Híbrida” no Brasil
As possíveis combinações e arranjos (tipologias) entre diferentes fontes e tecnologias
são amplamente classificadas de forma genérica como “usina híbrida”. No entanto, é necessário
fazer uma organização ou classificação específica para que se torne possível realizar a
regulamentação destas tecnologias. É valido ressaltar que uma das maiores barreiras para o
desenvolvimento e implantação das usinas hibridas é a falta de regulamentação do setor [6].
A categorização das tipologias faz-se necessária também para que fique fácil e objetiva
a identificação das oportunidades e as formas de investimento, assim como as barreiras e
desafios para implementação de cada caso. No documento da EPE [6], são descritas as
tipologias definidas para o planejamento da expansão da geração no sistema elétrico de potência
9

do Brasil. Esses arranjos foram divididos em quatro grupos: Usinas Adjacentes, Usinas
Associadas, Usinas Híbridas e Portfólios Comerciais.
2.4.1 Usinas Adjacentes
As usinas adjacentes são formadas por duas plantas muito próximas, geograficamente,
podendo até estar dentro de uma mesma propriedade, e fazem o compartilhamento de algumas
instalações onde ambas são beneficiadas. Do ponto de vista de conexão, seja com a rede básica
diretamente ou com o sistema de distribuição, cada usina deve, separadamente, contratar a
capacidade condizente com sua potência nominal instalada, conforme as regras vigentes.
Porém, quando se considera o ponto de vista do sistema, verifica-se que se trata de
dois projetos distintos e separados. Por este motivo, o termo usina híbrida não estaria sendo
bem aplicado. Hoje existem diversos projetos com esta característica que não utilizam recursos
diferentes, a exemplo do nordeste brasileiro em que se encontra diversos projetos eólicos que
se enquadram nesse formato.
Figura 7: Esquemático de uma usina adjacente.

Fonte: Adaptado de [15].


2.4.2 Usinas Associadas
Para que uma planta de geração se enquadre na tipologia associada, diferente das
usinas adjacentes, é requisito que seja composta por duas ou mais usinas de fontes primárias
diferentes e que estas fontes possuam, entre elas, a característica complementar de recurso no
tempo. Além disso, é indispensável que estejam em localização próxima, podendo inclusive
ocupar o mesmo terreno.
Outro ponto em que se difere das usinas adjacentes, é que as duas usinas precisam
compartilhar a mesma infraestrutura de conexão com a rede básica ou de distribuição. Desta
10

forma, o sistema ira entender esta associação num único ponto de conexão como uma única
usina.
Este arranjo também não se enquadra perfeitamente no termo “usina híbrida”, pois
mesmo que o operador do SIN enxergue apenas uma injeção de potência no ponto de conexão,
as usinas ainda estão separadas, constituídas por diferentes equipamentos e infraestruturas de
geração, podendo até manter a utilização de medidores diferentes.
Figura 8: Esquemático de uma usina associada.

Fonte: Adaptado de [15].


2.4.3 Portfólios Comerciais
Para estabelecer um portfólio comercial, diferente das tipologias anteriores, não
necessário que as usinas estejam fisicamente próximas ou que estabeleçam qualquer tipo de
compartilhamento de equipamentos. Para caracterizar um portfólio comercial é necessário
apenas estabelecer um vínculo comercia-contratual, buscando benefícios como a redução da
exposição aos preços de curto prazo.
Esta tipologia se enquadra nesta lista, pois um portfólio, para fazer sentido, precisa que
as usinas vinculadas possuam uma complementariedade de recurso. Do ponto de vista do
sistema, as usinas são visualizadas separadamente, cada uma com sua injeção de potência assim
como não é estabelecida nenhuma vinculação ou correlação para a contratação dos sistemas aos
quais estarão conectadas.
11

Figura 9: Esquemático de um portfólio comercial.

Fonte: Adaptado de [15].


2.4.4 Usinas Híbridas
A EPE [6] define usinas híbridas como uma planta de geração elétrica que combine
duas ou mais fontes distintas ainda no processo de produção. Neste caso, é indispensável que a
infraestrutura de geração das duas fontes estejam próximas fisicamente.
Do ponto de vista da operação do sistema, esta usina é vista como uma única planta de
geração, com apenas uma injeção de potência. Também é importante destacar que se faz
necessário apenas a contratação de uso da rede (básica ou de distribuição) por um único
montante de capacidade que seja adequado para a potência instalada desta usina.
Figura 10: Esquemático de uma usina híbrida.

Fonte: Adaptado de [15].


12

2.5 Legislação Brasileira e Tecnologia Híbrida de Geração


Uma das maiores barreiras para a implantação das usinas híbridas, no brasil e no
mundo é a regulamentação desta nova tecnologia. Na última década, as discussões sobre o
tema ganharam muito espaço e os benefícios desta tecnologia, assim como as barreiras estão
cada vez mais em pauta no setor elétrico.
Hoje é possível estabelecer uma linha do tempo indicando os principais eventos que
ocorreram para a evolução deste tema, como ilustrado pela Figura 8. De 2017 a 2019 a EPE
emitiu três notas técnicas onde foram propostas metodologias, análises e estudos para o
desenvolvimento regulatório comercial-contratual das usinas híbridas. No ano de 2019 foi
realizado também pela EPE um workshop abordando as notas técnicas emitidas no contexto do
planejamento energético.
Nos anos de 2019 a 2021, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) começou
a participar do desenvolvimento do tema. Primeiro, foi realizada a tomada de subsídios, fazendo
uma consulta com os agentes do sistema para direcionamento normativo. Posteriormente foi
realizada uma consulta pública dividida em duas fases: criando o documento Análise de
Impacto Regulatório (AIR) e minuta de normativo, visando a emissão de outorgas para
empreendimentos híbridos e associados e buscando adequação regulatória contratação de uso
do sistema de transmissão e aperfeiçoamento nos textos.
Figura 11: Linha do tempo do processo de regulação para usinas híbridas.

Fonte: Elaborado pelo autor de [11][14][15][16].


2.5.1 Estudos da EPE
Os estudos realizados pela EPE iniciaram os debates no setor elétrico, sendo a nota
técnica EPE-DEE-NT-025, emitida em 2017, o ponto de partida para o desenvolvimento das
discussões sobre usinas híbridas e associada. Todas as notas técnicas mencionadas fazem parte
do “Estudo de Planejamento da Expansão da Geração”, desenvolvido pela entidade.
13

O documento técnico emitido em 2017, nomeado como “AVALIAÇÃO DA


GERAÇÃO DE USINAS HÍBRIDAS EÓLICO-FOTOVOLTAICAS – Proposta metodológica
e estudo de caso”, como bem definido pelo título, busca propor metodologias de avaliação da
geração de usinas híbridas, baseadas nas tecnologias eólica e solar, além de realizar alguns
estudos de caso em diferentes localidades do território nacional.
Neste trabalho, se destaca a metodologia de análise da complementariedade entra a
geração de energia a partir dos recursos eólico e solar-fotovoltaico, tendo como resultado curvas
de geração características para este tipo de estudo, como ilustrado pela figura 9.
Figura 12: Curvas características de complementariedade eólica-solar

Fonte: [14].
Esta nota pode ser vista como um roteiro geral para partes interessadas no
desenvolvimento de estudos preliminares, para viabilização dos projetos e posteriormente
realizar a implantação. Já a segunda nota técnica, denominada “USINAS HÍBRIDAS – Uma
análise qualitativa de temas regulatórios e comerciais relevantes ao planejamento”, teve como
principal objetivo a classificação dos diferentes arranjos para empreendimentos de geração
(tipologias), já especificadas na seção 2.4 deste trabalho.
Além disso, o documento descreve as possíveis combinações de fontes e tecnologias,
limitações físicas e operativas tais como:
14

1. Curtailment é a necessidade de realizar corte na geração de energia elétrica da


usina devido à elevada produção atrelada ao subdimensionamento de
equipamentos e montantes de uso da rede.
2. Interferência entre fontes de geração ocorre quando há a possibilidade da
tecnologia de uma usina causar interferência na outa, como exemplo o
sombreamento causado nos painéis solares por conta dos aerogeradores de uma
usina eólica.
Outro aspecto que não pode deixar de ser mencionado, é a combinação de usinas novas
e usinas já existentes. Para todas as tipologias pode-se fazer a combinação das usinas, tanto com
ambas as fontes implantadas simultaneamente, quanto em momentos distintos. Considera-se
apenas que, nas associadas ou híbridas, a combinação pode se dar das seguintes maneiras: (i)
as duas usinas novas, ou (ii) uma usina nova sendo construída junto à uma existente, já
contratada, utilizando margem de sobra da infraestrutura já existente.
A tabela 1 foi elaborada a partir do documento da EPE [16] e dentre diversas
discussões conceituais, houve a definição de quais empreendimentos seriam elegíveis para se
enquadrar nas tipologias híbridas e associadas, quando já existe uma usina geradora em
operação comercial.
Tabela 1: Tabela de combinação entre usinas novas e existentes
Tipo de Usina Tecnologia A Tecnologia B Aplicabilidade
Nova Nova Permitido
Usina Híbrida Existente Nova Permitido
Existente Existente Não Permitido
Nova Nova Permitido
Usinas
Existente Nova Permitido
Associadas
Existente Existente Não Permitido
Fonte: Elaborado pelo autor de [16].
Por fim, o texto produzido pela EPE [16], em 2019, busca dar continuidade às
discussões sobre as usinas híbridas, debatendo novas questões mais recentes. Este documento
busca analisar questões conceituais sobre o tema, no contexto do planejamento energético.
Neste documento também são respondidos alguns tópicos que foram frequentemente colocados
pelos agentes, sobre os potenciais benefícios da implantação de usinas geradora híbridas no
SIN.
Dentre os tópicos respondidos, se destaca o questionamento acerca da relevância das
usinas híbridas em relação ao aumento da segurança do sistema. Considerando a quantidade de
energia disponível no tempo, o que de fato aumenta a segurança do sistema é a diversificação
de fontes. Cada fonte renovável possui suas particularidades de modulação, sazonalidade e
15

perfil de geração instantâneo. O que ocorre é que a agregação das fontes pode gerar uma maior
estabilidade na produção conjunta.
Sob a ótica do operado do sistema, a diversificação de fontes contribui para redução
dos impactos sistêmicos provocados pela variabilidade instantânea na disponibilidade de
potência, ou seja, com a agregação de duas tecnologias complementares vai resultar em uma
curva de geração com menor variação no tempo.
2.5.2 Consulta Pública 061/2020
Como visto no início da seção 2.5, a consulta pública 061/2020 da ANEEL (dividida
em duas fases) teve como resultado um “Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) ”,
que trata dos temas: “Adequações regulatórias para implantação de usinas híbridas” e
“Aprimoramento da regulação relacionada à contratação de acesso de múltiplas centrais
geradoras”.
Este documento da ANEEL, possui quatro grandes objetivos bem definidos, sendo
excluído o quarto objetivo, pois a entidade não dispõe da competência legal para definir o tema.
(i) facilitar as outorgas de centrais geradoras com mais de uma fonte de geração, (ii) definir as
condições de contratação de uso para rede básica ou de transmissão por centrais geradoras
híbridas ou associadas, (iii) tornar possível e regulada a comercialização de energia gerada por
tipologias híbridas ou associadas, e (iv) discutir possibilidades para se definir a garantia física
de usinas com duas ou mais fontes de geração.
2.5.3 Resolução Normativa N° 954/2021
A resolução normativa n° 954/2021 altera as resoluções normativas n° 77/2004, n°
247/2006, n° 559/2013, n° 583/2013, n° 666/2015 e n°876/2020, para definir o tratamento
regulatório para a implantação de Usinas Geradoras Híbrida (UGH) e usinas geradora
associadas. Cada um dos documentos citados tem o objetivo de regulamentar partes bem
definidas do SEB, desde a implantação dos empreendimentos, até a regulação de tarifas.
1. A REN N° 876/2020 tem como principal objetivo estabelecer os requisitos e
procedimentos que serão necessários para à obtenção da outorga de autorização
para implantação ou alteração da capacidade instalada de empreendimentos de
geração Eólicas, Fotovoltaicas, Termelétricas, Híbridas (ou associadas) e outras
fontes alternativas. Também são definidos requisitos e procedimentos pertinentes
à comunicação de implantação de centrais geradoras com capacidade instalada
reduzida.
2. A REN N° 583/2013, atualmente revogada pela REN ANEEL 1029/2022
consolida os procedimentos e condições necessárias para que seja obtida ou
16

mantida a autorização de operação comercial de um empreendimento de geração


de energia elétrica. Nesta resolução também estão definidos os procedimentos e
requisitos para a comunicação de ocorrência grave de indisponibilidade
prolongada e da suspensão da situação operacional de unidade geradora.
3. A REN N° 559/2013 foi revogada pela REN N° 1024/2022 com o objetivo de
aprovar os submódulos 7.4, 9.4 e 10.5 dos Procedimentos de Regulação Tarifária
– PRORET que, respectivamente, (i) Estabelece os procedimentos de cálculo da
TUSD para as CG (centrais geradoras), (ii) Estabelece a metodologia para o
cálculo da TUST e da Tarifa de Transporte de Itaipu, e (iii) Estabelece, para o
cálculo da TUST e da Tarifa de Transporte de Itaipu, quais informações periódicas
serão requeridas e como devem ser disponibilizadas.
4. A REN N° 666/2015 tratava da regulamentação da contratação do uso do sistema
de transmissão em caráter permanente, flexível, temporário e de reserva de
capacidade, além das formas de estabelecer encargos correspondentes e designar
outras providências. Porém, hoje está revogada pela REN ANEEL 1005/2022 que
altera a REN ANEEL N° 905/2020 a qual estabelece as regras do serviço de
transmissão de energia elétrica no SIN que foi formada a partir da regulamentação
dos serviços de transmissão.
5. A REN ANEEL 1009/2022, que substitui a REN N° 247/2006 tem como objetivo
definir as regrar inerentes à comercialização de energia elétrica pelos agentes, tanto
do ambiente de contratação livre, quanto no regulado. A resolução normativa
revogada regulamentava apenas os empreendimentos de geração que utilizavam
fontes primárias incentivadas com carga maior ou igual a 500 kW.
6. A REN ANEEL 1031/2022 que revoga a REN N° 77/2004 tem o objetivo de
consolidar os autos regulatórios relativos à redução das tarifas de uso dos sistemas
de transmissão e de distribuição, considerando os empreendimentos hidrelétricos
e os com base em fonte solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada. Além
disso, define os requisitos para qualificação de centrais TME cogeradoras de
energia elétrica.
Alguns documentos, como as notas técnicas da EPE apresentados neste capítulo, foram
utilizados como base para o desenvolvimento da metodologia que será apresentada capítulo 3.
Além disso a revisão do desenvolvimento da legislação faz-se necessária para auxiliar em
tomada de decisões, como a definição da tipologia em qual o projeto precisa ser desenvolvido
de acordo com as suas características.
17

3 Metodologia
O objetivo da metodologia proposta pode ser dividido em três partes: (i) projeção da
curva complementar eólica-solar baseada em recurso e análise de resultados, (ii) projeção da
curva complementar eólica-solar baseada em potência normalizada e análise de resultados, e
(iii) otimização da proporção de tecnologia eólica-solar a ser implantado.
A partir de (i) é possível observar a forma que os recursos eólico e solar se
complementam no tempo e se existe uma característica complementar viável para implementar
uma planta de geração híbrida. Para (ii) é necessário inserir alguns parâmetros que modelam a
curva de potência dos geradores, tornando possível observar a complementariedade das fontes
solar e eólica na unidade de potência normalizada. Para (iii) será realizada uma otimização
considerando os parâmetros de variabilidade, custo de implantação e geração de energia diária,
possibilitando a análise de diversos cenários.
3.1 Fluxograma da Metodologia
A metodologia proposta para este trabalho pode ser subdividida em cinco grupos,
como: (i) Aquisição e tratamento dos dados de recurso, (ii) Complementariedade de recurso e
análise de resultado, (iii) Conversão dos dados de recurso para potência normalizada e definição
de parâmetros, (iv) Complementariedade de potência e análise dos resultados e (v) Otimização
da proporção de tecnologias e análise dos resultados. O diagrama da figura 10 ilustra a divisão
e fluxo da metodologia proposta.
18

Figura 13: Diagrama de fluxo da metodologia proposta

Fonte: Elaboração do autor.


3.2 Aquisição e Tratamento de Dados
A aquisição, ou levantamento dos dados, é a primeira etapa que deve ser feita para se
realizar o estudo. Geralmente as séries de dados disponíveis não são apresentadas no formato
ideal para a realização de determinados estudos, sendo necessário trata-los através de
modificações, conversões ou agrupamentos para que possam ser aplicados a um determinado
objetivo.
Para a aplicação da metodologia proposta neste trabalho é necessário que os dados de
recurso estejam em base horária. Desta forma é possível realizar a projeção de
complementariedade, de recurso e potência eólico-solar para um dia.
19

O tratamento de dados desta metodologia se dará pela média aritmética dos dados de
um determinado período de tempo conforme a equação (1). Como exemplo de cenário, supõe-
se o tratamento de uma base de dados apresentada com resolução de 10 minutos, sendo
necessário para o estudo que a base seja horária. A média aritmética dos 6 primeiros dados, irão
compor o dado da primeira hora.
∑𝑞𝑖=1 𝑟(𝑖) (1)
𝑅ℎ =
𝑞
Onde:
𝑅ℎ - É o recurso horário.
𝑟(𝑖)- É recurso medido.
𝑖- É o índice que varia de 1 até a quantidade de dados 𝑞.
𝑞- Representa a quantidade de dados que compõe o período de 1 hora.

Após realizar a conversão em base horário, para se fazer análises relevantes é


necessário realizar o agrupamento mensal e anual segundo as equações (2) e (3):
∑𝑎𝑛𝑜
𝑖=1 𝑅ℎ (𝑖) (2)
𝑅ℎ𝑚 =
𝑎𝑛𝑜
Onde:
𝑅ℎ𝑚 - É o recurso horário agrupado no período de 1 mês.
𝑅ℎ - É o recurso horário.
𝑖- É o índice que varia de 1 até a quantidade de dados (𝑚ê𝑠).
𝑚ê𝑠- Representa a quantidade de dados que compõe o período de 1 mês.
∑𝑎𝑛𝑜
𝑖=1 𝑅ℎ (𝑖) (3)
𝑅ℎ𝑎 =
𝑎𝑛𝑜
Onde:
𝑅ℎ𝑎 - É o recurso horário agrupado no período de 1 ano.
𝑅ℎ - É o recurso horário.
𝑖- É o índice que varia de 1 até a quantidade de dados (𝑎𝑛𝑜).
𝑎𝑛𝑜- Representa a quantidade de dados que compõe o período de 1 ano.
É importante destacar que, segundo o documento [9] da EPE, é necessário utilizar uma
base com dados de pelo menos 12 meses para que este tipo de estudo possa ser realizado.
Portanto, seguindo o cenário anterior, seria necessário tratar uma base de dados de, no mínimo,
12 meses e com dados coletados a cada 10 minutos deste período, conforme ilustrado pela tabela
2.
20

Tabela 2: Tabela exemplo de aquisição parcial de dados do recurso eólico.

Data Hora [m/s]


15/09/2020 0:00:00 9,137
15/09/2020 0:10:00 8,601
15/09/2020 0:20:00 9,372
15/09/2020 0:30:00 9,650
15/09/2020 0:40:00 10,190
15/09/2020 0:50:00 10,305
15/09/2020 1:00:00 9,731
15/09/2020 1:10:00 9,807
15/09/2020 1:20:00 10,089
15/09/2020 1:30:00 10,514
15/09/2020 1:40:00 11,125
15/09/2020 1:50:00 10,828
15/09/2020 2:00:00 10,816
15/09/2020 2:10:00 10,563
15/09/2020 2:20:00 10,713
15/09/2020 2:30:00 10,796
15/09/2020 2:40:00 10,509
15/09/2020 2:50:00 10,028
15/09/2020 3:00:00 10,241
15/09/2020 3:10:00 10,114
15/09/2020 3:20:00 9,942
15/09/2020 3:30:00 10,767
15/09/2020 3:40:00 11,543
15/09/2020 3:50:00 11,125
Fonte: Elaboração do autor a partir de dados reais.
3.3 Complementariedade de Recurso
Após realizar o tratamento dos dados de recurso, com os dados agrupados em meses e
ano, é possível obter a curva de complementariedade eólica-solar para cada mês, estação do
ano, ou de um ano completo. A plotagem destas curvas se dá, utilizando a plotagem de linhas
de tendências.
21

Figura 14: Gráfico exemplo de complementariedade de recurso eólico-solar.

Fonte: Elaboração do autor.


O mais importante neste passo é avaliar, via figura, se os recursos de fato se
complementam. A exemplo da figura 14, é possível verificar que existe uma
complementariedade em relação aos recursos, ou seja, enquanto um recurso está com alta
disponibilidade, o outro está com baixa, e com o decorrer das horas é possível notar que
enquanto a curva de um recurso decai, a outra está e crescimento.
A partir do perfil identificado, é tomada a decisão de aprovar ou não o seguimento do
estudo. Seguindo o exemplo anterior, a continuação do estudo seria aprovada, uma vez que foi
identificado um perfil complementar entre os recursos em questão.
3.4 Conversão dos Dados para Potência e Definição de Parâmetros
Após identificar um perfil complementar entre dois recursos é necessário converter
estes dados para potência. Com isto, será possível realizar análises ainda mais relevantes à
implantação de um projeto de geração. A modelagem matemática deste passo da metodologia
aborda apenas as fontes de recurso eólico e solar, portanto, não se aplica à outras fontes.
Para esta conversão, são utilizadas as bases de dados horárias, podendo ser aplicadas
a quaisquer agrupamentos (dias, semanas, meses ou anos). Baseado nas modelagens propostas
em [12] e [13], foi realizada as modelagens para conversão dos dados de recurso solar e eólico
para potência normalizada, segundo as equações (4) e (5).
22

1. Para dados de recurso solar:


𝐺 (4)
𝑆𝑃 = ∗ 𝑃𝑅
𝐺𝑆𝑇𝐶
Onde:
𝐺- É o recurso medido.
𝐺𝑆𝑇𝐶 - É o recurso em condições padrões de teste (𝐺𝑆𝑇𝐶 =1000 W/m2) (short-wave
radiation standard test conditions).
𝑃𝑅 - É o índice de desempenho (performance ratio), adotado normalmente como
0,75.
Nesta metodologia, tanto 𝑃𝑅 , quanto 𝐺𝑆𝑇𝐶 terão seus valores fixados.
2. Para dados de recurso eólico:
0, 𝑣 < 𝑣𝐼 (5)
𝑣 − 3
𝑣𝐼3
, 𝑣𝐼 ≤ 𝑣 < 𝑣𝑅
𝑊𝑃 = 𝑣𝑅3 − 𝑣𝐼3
1, 𝑣𝑅 ≤ 𝑣 < 𝑣𝑂
{ 0, 𝑣 ≥ 𝑣𝑂
Onde:
𝑣𝐼 - É o cut-in, velocidade mínima de vento necessário para que o aerogerador
produza alguma energia.
𝑣𝑅 - É o rated wind speed, que se refere à velocidade mínima necessária para que
a turbina opere em potência nominal.
𝑣𝑂 - É o cut-out, que se refere à velocidade máxima na qual a máquina suporta
operar.
Após realizar a conversão das séries de dados para potência, conforme a seção anterior,
serão obtidos resultados normalizados de potência (valores entre zero e um). A partir deste
ponto, será necessário definir os parâmetros que serão utilizados nos estudos.
Os parâmetros que podem ser definidos nesta metodologia para fonte solar são: (i)
𝐺𝑆𝑇𝐶 , e (ii) 𝑃𝑅 . São valores que podem variar de acordo com os equipamentos escolhidos para
o projeto da planta solar. Porém, na tecnologia solar-fotovoltaica, segundo [17], normalmente
os valores dos parâmetros STC (standard test conditions) são fixados, assim como será aplicado
neste trabalho.
Já para a geração eólica, os parâmetros podem variar de acordo com cada modelo e
fabricante de aerogerador, ou seja, para definir quais valores serão correspondentes à cada
parâmetro, é necessário escolher um modelo de turbina eólica para realizar o estudo. Como
23

visto na seção anterior, os parâmetros necessários são: (i) 𝑣𝐼 (cut-in), (ii) 𝑣𝑅 (rated wind speed),
e (iii) 𝑣𝑂 (cut-out).
3.5 Complementariedade de Potência
Agora, com os parâmetros definidos e devidamente indicados, é possível fazer a
plotagem das curvas normalizadas de complementariedade de potência eólica-solar. Neste
passo é necessário ter definido as opções de aerogerador disponíveis, e com isso, indicar os
valores dos parâmetros definidos na seção 3.3 dessa metodologia.
A plotagem das curvas de complementariedade de potência é similar a plotagem da
curva baseada no recurso, porém, neste passo é necessário apenas o eixo primário, uma vez que
as duas tecnologias estão parametrizadas para a mesma unidade de medida, conforme
exemplificado pelo figura 15.
Figura 15: Exemplo de gráfico de complementariedade de potência normalizada.

Fonte: Elaboração do autor.


Neste ponto, é possível analisar se as máquinas geradoras disponíveis se enquadram
nos requisitos mínimos para implantação. Estes requisitos são definidos pelo agente
responsável pela implantação do projeto, que irá avaliar se a curva de potência do aerogerador
se adequa com o recurso disponível.
3.6 Otimização
Nesta metodologia, o objetivo é identificar a proporção ótima de potência instalada
entre a tecnologia eólica e solar que deve ser implantada em uma determinada localidade. Para
a otimização do estudo, é necessário ter a definição de qual ou quais parâmetros precisam
alcançar o fator ótimo. Também se faz necessário definir os limites que precisam ser respeitados
nesse processo.
24

Esta metodologia terá como objetivo analisar os parâmetros: (i) custo de implantação,
(ii) energia gerada em 24 horas, e (iii) a variância da curva de saída. E neste método será
imposto apenas o limite físico, indicando o percentual mínimo e máximo, para a implantação
da tecnologia eólica no projeto.
Para poder realizar o processo de otimização, será necessário ter conhecimento prévio
das informações do projeto: (i) potência total instalada, (ii) limitação percentual para
implantação de aerogeradores, e (iii) dados tratados (agrupados e convertidos em potência
normalizada).
Para modelar o custo de implantação, foram selecionados os valores de CAPEX para
período de 2020 a 2030, para as tecnologias eólica onshore e solar fotovoltaica, apresentados
no anexo do [18] PNE 2050 (Plano Nacional de Energia 2050). O equacionamento para análise
deste parâmetro será conforme mostrado em (6), (7) e (8):
𝐶𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟% = 𝑄𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 . ∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 (6)
𝐶𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎% = 𝑄𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 . ∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 (7)
𝐶𝑖𝑚𝑝 = 𝐶𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 + 𝐶𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 (8)
Onde:
𝐶𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟%- Custo da tecnologia solar para um determinado percentual da potência
instalada.
𝑄𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 - Custo de implantação por MW para a tecnologia solar.
∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 - É o percentual de tecnologia solar, da potência total instalada.
𝐶𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎%- Custo da tecnologia eólica para um determinado percentual da potência
instalada.
𝑄𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 - Custo de implantação por MW para a tecnologia eólica.
∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 - É o percentual de tecnologia eólica, da potência total instalada.
𝐶𝑖𝑚𝑝 - É o custo de implantação total por MW
Para modelar a energia gerada em 24 horas pela planta será necessário utilizar os dados
de potência normalizada, agrupados anualmente. Considerando os dados normalizados, será
necessário aplicar o valor da potência instalada do projeto à base de dados, para ter o resultado
direcionado à planta em análise. Considera-se equações (9) e (10) a seguir:
𝑃𝐻𝑠𝑒 = 𝑃𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜 . ((𝑃𝐻𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 . ∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 ) + (𝑃𝐻𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 . ∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 )) (9)
24 (10)
𝐸𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ∑ 𝑃𝐻𝑠𝑒 (𝑖)
𝑖=1

Onde:
25

𝑃𝐻𝑠𝑒 - É a potência horária da composição das tecnologias eólica-solar.


𝐸𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 - É a energia gerada em 24 horas.
𝑃𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜 - É a potência instalada total do projeto.
𝑃𝐻𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 - É a potência horária da tecnologia solar.
𝑃𝐻𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 - É a potência horária da tecnologia eólica.
∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 - É o percentual de tecnologia solar, da potência total instalada.
∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 - É o percentual de tecnologia eólica, da potência total instalada.
𝑖- É o índice que percorre os dados no período de 1 a 24 horas.
Por fim, para verificar a variância, ou seja, o quanto a curva de saída estará distante da
média dos dados, serão utilizadas as equações (11) e (12) a seguir:
∑24
𝑖=1 𝑃𝐻𝑠𝑒 (𝑖) (11)
𝑀𝑒𝑑 =
24
∑24
𝑖=1(𝑃𝐻𝑠𝑒 (𝑖 ) − 𝑀𝑒𝑑)
2 (12)
𝑉𝑎𝑟 =
24
Onde:
𝑀𝑒𝑑- É média da potência horária da composição eólica-solar em 24 horas.
𝑃𝐻𝑠𝑒 - É a potência horária da composição das tecnologias eólica-solar.
𝑖- É o índice que percorre os dados no período de 1 a 24 horas.
𝑉𝑎𝑟 - É variância no período.
Para esta metodologia, o resultado será: (i) uma tabela, indicando o resultado dos
parâmetros por percentual da composição entre as tecnologias eólica e solar, e (ii) um gráfico
demonstrando a complementariedade de potência com base nas informações do projeto e a
curva média de geração (figura 16).
Dependendo do objetivo do projetista, a escolha da proporção irá variar. Caso o
objetivo seja (i) maior produção, indica-se a proporção com maior produção diária, (ii)
estabilidade da curva de saída, tornando menos variável, deve-se optar pela menor variância
indicada em azul, e (iii) reduzir custo de implantação, optando pela opção com o menor custo
de investimento.
26

Figura 16: Gráfico exemplo de complementariedade eólica-sola.

Fonte: Elaboração do autor.


Com a metodologia apresentada é possível gerar resultados e análises que poderão ser
úteis para indicar uma possível viabilidade local para a implantação de uma usina híbrida eólica-
solar, ou já pode indicar que o projeto é inviável. No caso de uma possível viabilidade local,
será necessário realizar diversos estudos mais detalhados para que o projeto possa se tornar
viável tecnicamente e financeiramente. O estudo de caso apresentado no capítulo 4 servirá como
exemplo para aplicação da metodologia proposta.
27

4 Estudo de Caso e Análise dos Resultados


Para realizar este estudo de caso, primeiramente é necessário indicar o cenário e os
dados dispostos para realiza-lo. As estações de medição solar e eólica ficam localizadas no
interior do estado da Bahia. Vale destacar que foram coletados dados eólicos de duas torres
anemométricas, uma localizada radialmente a 2 quilômetros da estação de medição solar, e
outra a uma distância radial de 5 quilômetros.
Neste estudo de caso, será aplicada a metodologia proposta na seção 3 deste trabalho,
desde o tratamento dos dados, até a otimização. A proposta deste estudo de caso é: realizar uma
análise preliminar para a implantação de uma usina híbrida eólica-solar, de 200 MW de potência
total instalada, em localidades próximas às estações de medição.
No âmbito desse estudo serão realizadas análises em relação à complementariedade de
recurso, à variabilidade da curva de saía, ao custo de implantação e à energia gerada por dia.
Todos esses parâmetros serão avaliados dentro dos limites físicos de implantação para
tecnologia eólica, sendo o mínimo de 50% e máximo de 90% da potência total do projeto.
4.1 Complementariedade de Recurso
No que compete à complementariedade de recurso, foi realizado o tratamento de dados
para base horária, realizando o agrupamento mensal e anual, conforme descrito na metodologia.
Com os dados devidamente tratados, foi feita a plotagem dos gráficos, considerando o período
de medição de outubro de 2020 a setembro de 2021, conforme representado nas figuras 17, 18
e 19.
28

Figura 17: Gráficos de complementariedade de recurso mensal do estudo de caso.


29

Figura 18: Continuação dos gráficos de complementariedade de recurso mensal do estudo de caso.

Fonte: Elaboração do autor.


Figura 19: Complementariedade de recurso anual.

Fonte: Elaboração do autor.


Com o resultado obtido nesta primeira parte do estudo, se destacam três análises que
podem ser realizadas: (i) a variação dos dados medidos de acordo com a proximidade física,
(ii) o perfil complementar das fontes de geração, e (iii) a sazonalidade dos recursos eólico e
solar.
i. Observando as figuras 17, 18 e 19, fica claro que a variação da velocidade do
vento medida varia muito pouco com a distância física entre as estações de
medição. Por isso, nos próximos passos, o estudo será realizado utilizando
30

apenas os dados de recurso coletados da torre anemométrica localizada a 2 km


de distância da estação de medição solar.
ii. Analisando as figuras 17, 18 e 19, nota-se também, que nos pontos onde a
disponibilidade de recuso eólico está alto, existe pouca captação do recurso
solar e, à medida que o recurso fotovoltaico apresenta aumento de
disponibilidade, o recurso eólico apresenta queda, mantendo assim um perfil
complementar ao longo das 24 horas. Esta avaliação deixa claro o perfil
complementar eólico-solar na região e indica que é valido realizar estudo mais
aprofundados para a viabilização de um projeto de geração híbrido.
iii. Sobre a sazonalidade, é possível identificar os meses com alta e baixa
disponibilidade dos recursos. Verifica-se que os meses de julho a outubro
apresentam a maior média de recurso eólico e os meses de dezembro a março
a maior média de recurso solar. Com a composição eólico-solar o projeto irá
dispor do aproveitamento da alta disponibilidade de dois recursos diferentes,
em meses diferentes, o que pode resultar num melhor rendimento da planta. As
figuras 20 e 21 apresentam a complementariedade para os períodos de melhor
recurso médio para as fontes de energia eólica e solar, respectivamente.
Figura 20: Média da complementariedade de recurso eólico-solar no período de dezembro a março.

Fonte: Elaboração do autor.


31

Figura 21: Média da complementariedade de recurso eólico-solar no período de julho a outubro.

Fonte: Elaboração do autor.


4.2 Complementariedade de Potência
Nesta seção serão analisadas as curvas de complementariedade da potência
normalizada, para o agrupamento de dados anual, utilizando os parâmetros cut-in, cut-out, e
rated wind speed, para dois aerogeradores diferentes: (i) Vestas V-150 de 4.0 MW, e (ii) WEG
AGW 147 de 4.2 MW.
i. A turbina V-150 da Vestas, de 4.0 MW possui o cut-in de 3 m/s, cut-out de
24,5 m/s e o rated wind speed de 9,7 m/s, de acordo com os dados obtidos no
documento [19] da certificadora DNV.GL.
ii. O aerogerador AGW 147, fabricado pela WEG possui o possui o cut-in de
3 m/s, cut-out de 20 m/s e o rated wind speed de 11 m/s, de acordo com os
dados obtidos no documento [20], do próprio fabricante.
Seguindo a metodologia proposta na seção 3.3, são obtidos os resultados apresentados
nos gráficos 11 e 12:
Figura 22: Gráficos de potência normalizada.

Fonte: Elaboração do autor.


32

Figura 23: Gráfico das curvas de saída dos aerogeradores estudados.

Fonte: Elaboração do autor.


A partir dos resultados obtidos nesta etapa, nota-se que o modelo de aerogerador que
apresenta o melhor resultado é o V-150, fabricado pela Vestas. Infere-se também, que o rated
wind speed foi principal parâmetro que, quando alterado, resultou no deslocamento
significativo da curva. Nota-se que quando este parâmetro possui valor de referência mais
baixo, mais perto de 1 será a curva de saída normalizada, portanto, produzirá mais energia.
É importante ressaltar que a escolha do aerogerador a ser implantado não se baseia
apenas nos parâmetros técnicos apresentados neste estudo. Esta metodologia foi desenvolvida
para realizar um estudo preliminar e simplificado, que quando apresenta bons resultados, indica
que é interessante realizar um estudo detalhado para desenvolver o projeto.
4.3 Otimização
Seguindo a metodologia apresentada seção 3.4, será realizada uma análise com o
objetivo de obter a proporção ótima entre as tecnologias eólica e solar a serem implantadas no
projeto. Para este estudo de caso, como indicado no início desta seção, será desenvolvida uma
planta com potência instalada de 200 MW, sendo considerada apenas a limitação física para
implantação da tecnologia eólica, com no mínimo de 50% da potência instalada e no máximo
90%.
Para o modelo de aerogerador V-150 de 4.0 MW, foram obtidos os resultados
apresentados na tabela 3 e nas figuras 24 e 25.
33

Tabela 3: Tabela de otimização para o aerogerador V-150


Solar / Eólica (%) Variância Energia Diária (MWh) Custo de CAPEX
10 / 90 894,48 2460,80 $237.000.000,00
15 / 85 702,15 2234,65 $235.500.000,00
20 / 80 540,41 2282,58 $234.000.000,00
25 / 75 409,25 2193,47 $232.500.000,00
30 / 70 308,68 2104,37 $231.000.000,00
35 / 65 238,69 2015,26 $229.500.000,00
40 / 60 199,28 1926,15 $228.000.000,00
45 / 55 190,46 1837,04 $226.500.000,00
50 / 50 212,22 1747,94 $225.000.000,00
Fonte: Elaboração do autor.
A Tabela 3 apresenta a otimização para a turbina V-150. A linha destacada em amarelo
(1ª linha da tabela), indica o melhor valor de energia produzida para um dia de operação. A
linha destacada em azul (penúltima linha da tabela), marca a proporção eólica-solar com a
menor variância. E por fim, a linha destacada em verde (última linha da tabela), apresenta o
menor custo de CAPEX.
As figuras 24 e 25 exibem as curvas de complementariedade para cada proporção
eólica-solar indicada na tabela 3, além de exibir a curva de saída, que é a composição da
potência solar e eólica.
Figura 24: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das tecnologias para o
aerogerador V-150.
34

Figura 25: Continuação da complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador V-150.

Fonte: Elaboração do autor.


Para o modelo de turbina AGW 147, de 4.2 MW da WEG, foram obtidos os resultados
apresentados na Tabela 4 e nas figuras 26 e 27.
Tabela 4: Tabela de otimização para o aerogerador AGW 147
Solar / Eólica (%) Variância Energia Diária (MWh) Custo de CAPEX
10 / 90 372,36 1698,85 $237.000.000,00
15 / 85 276,33 1652,08 $235.500.000,00
20 / 80 202,98 1605,30 $234.000.000,00
25 / 75 152,29 1558,52 $232.500.000,00
30 / 70 124,27 1511,74 $231.000.000,00
35 / 65 118,91 1464,97 $229.500.000,00
40 / 60 136,22 1418,19 $228.000.000,00
45 / 55 176,20 1371,41 $226.500.000,00
50 / 50 238,85 1324,63 $225.000.000,00
Fonte: Elaboração do autor.
35

A Tabela 4 apresenta a otimização para a turbina AGW 147. A linha destacada em


amarelo (1ª linha da tabela), indica o melhor valor de energia produzida para um dia de
operação. A linha destacada em azul (6ª linha da tabela), marca a proporção eólica-solar com a
menor variância. E por fim, a linha destacada em verde (última linha da tabela), apresenta o
menor custo de CAPEX.
As figuras 26 e 27 exibem as curvas de complementariedade para cada proporção
eólica-solar indicada na tabela 4, além de exibir a curva de saída, que é a composição da
potência solar e eólica.
Figura 26: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das tecnologias para o
aerogerador AWG 147.
36

Figura 27: Continuação da complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador AWG 147.

Fonte: Elaboração do autor.


A Tabela 5 faz uma comparação dos indicadores dos modelos de turbina utilizados
neste estudo de caso. Como a modelagem do custo de CAPEX não varia neste estudo, não é
possível realizar análises mais relevantes sem que seja realizado um estudo mais aprofundado
sobre este indicador. De acordo com a Tabela 5, fica claro que, como o custo do CAPEX para
a tecnologia fotovoltaica é menor, quanto maior for o seu percentual, menor será o custo total.
Para que seja feito um estudo relevante sobre os custos de implantação de uma usina híbrida, é
necessário realizar o levantamento detalhado de toda a infraestrutura e implantação, e a soma
do custo de CAPEX para uma usina solar-fotovoltaica com uma usina eólica pode não ser
condizente com a realidade.
Porém, a Tabela 5 ilustra o comportamento dos indicadores para variância e energia
diária produzida. O maior percentual de tecnologia eólica irá resultar numa maior produção de
energia diária. Com esta constatação, pode surgir a dúvida de quais são os fatores contrários à
implementação de um projeto 100% eólico e, desta forma, obter a maior produção de energia.
A resposta direta é que a limitação física, ou seja, o espaço disponível, é o principal fator que
fará com que a potência instala não seja totalmente proveniente da tecnologia eólica. Neste
estudo de caso por exemplo, foi indicado que seria viável implantar a tecnologia eólica para
atender no máximo 90% da potência total da planta.
37

Tabela 5: Tabela de otimização comparando os modelos de aerogerador.


V-150 (4.0 MW) AGW 147 (4.2 MW)
Solar / Eólica (%) Custo de CAPEX
Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh)
10 / 90 894,48 2460,80 372,36 1698,85 $237.000.000,00
15 / 85 702,15 2234,65 276,33 1652,08 $235.500.000,00
20 / 80 540,41 2282,58 202,98 1605,30 $234.000.000,00
25 / 75 409,25 2193,47 152,29 1558,52 $232.500.000,00
30 / 70 308,68 2104,37 124,27 1511,74 $231.000.000,00
35 / 65 238,69 2015,26 118,91 1464,97 $229.500.000,00
40 / 60 199,28 1926,15 136,22 1418,19 $228.000.000,00
45 / 55 190,46 1837,04 176,20 1371,41 $226.500.000,00
50 / 50 212,22 1747,94 238,85 1324,63 $225.000.000,00
Fonte: Elaboração do autor.
A proporção de tecnologia que possui o menor valor de variância terá uma curva de
saída menos variável, o que atribui maior estabilidade para a geração da usina. As usinas
geradoras dependentes de fontes variáveis, como eólica e solar, possuem uma imprevisibilidade
muito grande em relação ao recurso, tornando-as menos confiáveis e não despacháveis. Mesmo
com a hibridização, ainda não há confiabilidade suficiente para torna-las despacháveis, porém,
do ponto de vista do SIN, reduzir a variabilidade pode contribuir para a diminuição dos
impactos sistêmicos provocados pela variação instantânea de potência, proveniente
principalmente de empreendimentos renováveis.
A Tabela 6 compara os parâmetros dos aerogeradores V-150 e AGW 147. Analisando
a Tabela 6 em conjunto com a Tabela 5, conclui-se que o parâmetro rated wind speed influência
diretamente nos indicadores de energia diária produzida e variância. Quanto mais próximo da
média histórica de recurso está o parâmetro, maior será a produção diária de energia elétrica e
maior será a variância.
Tabela 6: Tabela comparando os parâmetros dos aerogeradors.
V-150 AGW 147
Parâmetros
m/s m/s
cut-in 3 3
cut-out 24,5 20
rated wind speed 9,7 11
Fonte: Elaboração do autor.
A Tabela 7 faz a comparação entre os indicadores de variância e energia diária para as
turbinas V-150 e AGW 147. O maior valor de energia diária produzida ocorre com a
implantação do maior percentual possível de tecnologia eólica. Analisando a Tabela 5, percebe-
se que com a proporção de 10% de energia solar e 90% de energia eólica obtêm-se os melhores
valores para a produção de energia diária e verificando a Tabela 7 fica claro que no cenário
38

deste estudo, o aerogerador V-150 é capaz de produzir em média 30,96% a mais energia em 24
horas.
Tabela 7: Tabela de diferença percentual.
V-150 (4.0 MW) AGW 147 (4.2 MW)
Solar / Eólica (%) Diferença (%)
Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh)
10 / 90 - 2460,80 - 1698,85 30,96%
35 / 65 - - 118,91 -
37,57%
45 / 55 190,46 - - -
Fonte: Elaboração do autor.
Verificando novamente a Tabela 7, pode-se notar que os menores valores de variância
não são obtidos para a mesma proporção de tecnologia implantada. Além disso, pode-se
comentar que o aerogerador AGW 147 possui uma variância média 37,57% menor do que o
aerogerador concorrente. Para consolidar os resultados obtidos, será apresentado abaixo os
resultados para um aerogerador fictício com os parâmetros: (i) cut-in de 3m/s, (ii) cut-out de
25m/s, e (iii) rated wind speed de 7,9 m/s.
O parâmetro (i) foi definido para se manter igual aos valores dos dois aerogeradores
deste estudo, o (ii) foi definido igual ao menor valor dentre as turbinas V-150 e AGW 147, e
(iii) foi definido para ter o valor igual ao da média histórica de recurso eólico, da base de dados
utilizada neste estudo.
Para o modelo fictício definido, foram obtidos os seguintes resultados, apresentados
Tabela 8 e a figura 28.
Tabela 8: Tabela de otimização para o aerogerador fictício.
Solar / Eólica (%) Variância Energia Diária (MWh) Custo de CAPEX
10 / 90 809,85 3820,92 $237.000.000,00
15 / 85 633,85 3656,25 $235.500.000,00
20 / 80 487,06 3491,58 $234.000.000,00
25 / 75 369,49 3326,91 $232.500.000,00
30 / 70 281,14 3162,24 $231.000.000,00
35 / 65 222,00 2997,57 $229.500.000,00
40 / 60 192,08 2832,90 $228.000.000,00
45 / 55 191,38 2668,23 $226.500.000,00
50 / 50 219,90 2503,56 $225.000.000,00
Fonte: Elaboração do autor.
A Tabela 8 apresenta a otimização realizada para a turbina fictícia. A linha destacada
em amarelo (1ª linha da tabela), indica o melhor valor de energia produzida para um dia de
operação. A linha destacada em azul (penúltima linha da tabela), marca a proporção eólica-
solar com a menor variância. E por fim, a linha destacada em verde (última linha da tabela),
apresenta o menor custo de CAPEX.
A figura 28 exibe as curvas de complementariedade para cada proporção eólica-solar
indicada na tabela, além de exibir a curva de saída, que é a composição da potência solar e
eólica.
39

Figura 28: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das tecnologias para o
aerogerador fictício.

Fonte: Elaboração do autor.


Para finalizar o estudo de caso, segue ilustrado nas Tabelas 9, 10 e 11 as comparações
entre os aerogeradores reais e o fictício.
40

Tabela 9: Tabela de otimização comparando os modelos de aerogerador.


V-150 (4.0 MW) AGW 147 (4.2 MW) Turbina Fictícia
Solar / Eólica (%)
Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh)
10 / 90 894,48 2460,80 372,36 1698,85 809,85 3820,92
15 / 85 702,15 2234,65 276,33 1652,08 633,85 3656,25
20 / 80 540,41 2282,58 202,98 1605,30 487,06 3491,58
25 / 75 409,25 2193,47 152,29 1558,52 369,49 3326,91
30 / 70 308,68 2104,37 124,27 1511,74 281,14 3162,24
35 / 65 238,69 2015,26 118,91 1464,97 222,00 2997,57
40 / 60 199,28 1926,15 136,22 1418,19 192,08 2832,90
45 / 55 190,46 1837,04 176,20 1371,41 191,38 2668,23
50 / 50 212,22 1747,94 238,85 1324,63 219,90 2503,56
Fonte: Elaboração do autor.
Tabela 10: Tabela comparando os parâmetros dos aerogeradors.
V-150 AGW 147 Fictício
Parâmetros
m/s m/s m/s
cut-in 3 3 3
cut-out 24,5 20 20
rated wind speed 9,7 11 7,9
Fonte: Elaboração do autor.
Tabela 11: Tabelas de diferença percentual.
V-150 (4.0 MW) AGW 147 (4.2 MW) Turbina Fictícia
Solar / Eólica (%)
Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh)
10 / 90 - 2460,80 - 1698,85 - 3820,92
35 / 65 - - 118,91 - - -
45 / 55 190,46 - - - 191,38 -

Turbina Fictícia
Diferença (%)
Variância Energia Diária (MWh)
V-150 0,48% 35,60%
AGW 147 37,87% 55,54%
Fonte: Elaboração do autor.
Analisando as tabelas apresentadas, observa-se que o parâmetro rated wind speed é o
mais relevante para o estudo. Quanto mais próximo o valor de tal parâmetro está do valor da
média histórica do recurso, melhor será o resultado encontrado para o indicador de energia
diária produzida. Já para a variância, indicador de variabilidade da curva de saída, não se nota
uma diferença percentual expressiva quando se analisa a redução do parâmetro rated wind
speed para uma mesma proporção de tecnologia eólica-solar.
Então, pode-se concluir que a aplicação da metodologia proposta no capítulo 3, quando
aplicada a um estudo de caso, de fato irá culminar em dados relevantes para auxiliar na tomada
de decisões levando em consideração os cenários estudados e os objetivos definidos.
41

5 Conclusão
Diante das informações apresentadas nos capítulos anteriores, pode-se observar o
expressivo aumento da participação de fontes renováveis na matriz de geração elétrica do
Brasil, com grande destaque para as fontes eólica e solar. Percebe-se também que o Brasil
possui uma matriz energética majoritariamente renovável, com grande dependência de recursos
hídricos. Com isso, fica clara a exposição do sistema a apenas um tipo de recurso, que ficou
ainda mais evidente com a crise hídrica ocorrida em 2021.
Com este cenário fica evidente a necessidade de desenvolver novas tecnologias
baseadas em diferentes recursos para que o sistema elétrico não fique frágil e dependente de
apenas uma fonte. Porém, sabe-se que as usinas geradoras de fonte eólica e solar possuem
recursos muito variáveis e pouco previsíveis, o que torna o estudo de usinas híbridas
indispensável para o desenvolvimento de uma matriz energética confiável e sustentável.
O objetivo da metodologia proposta neste trabalho é realizar um estudo preliminar de
indicadores importantes para viabilizar, projetar e implantar uma usina hibrida eólica-solar.
Como resultado, espera-se obter informações que podem ser utilizadas para justificar estudos
mais aprofundados e detalhados para o desenvolvimento do projeto. Pode-se realizar análises
em relação: (i) ao custo de implantação, (ii) à energia diária gerada e (iii) à variabilidade.
Para (i) fica claro que o maior custo está sempre relacionado com uma maior
porcentagem de implantação da tecnologia eólica e o menor está associado à energia solar. Vale
destacar que, neste estudo, a modelagem do custo de implantação não reflete com precisão a
realidade, sendo necessário incluir diversas variáveis e parâmetros.
Para o indicador (ii), independente do modelo de turbina escolhido, a maior energia
estará sendo produzida quando se implanta a maior porcentagem possível de tecnologia eólica.
Desta forma, se o objetivo for maximização da geração, este é o indicador a ser considerado.
Já para o indicador (iii) o comportamento é bastante diferente, uma vez que os pontos
de máximo e mínimo da otimização não estarão atrelados ao percentual máximo ou mínimo da
implantação de uma das tecnologias. Dado o exposto, do ponto de vista energético, financeiro
e comercial, será necessário a criação de incentivos para justificar a implantação deste tipo de
tecnologia, quando otimizada para redução da variabilidade.
Realizando uma análise mais ampla, outra justificativa para se implantar uma usina
híbrida é a maximização da produção em usinas já existentes, que ainda possuem infraestrutura
elétrica e espaço físico para suportar a inclusão de uma outra fonte de geração. Esta análise
42

deixa explícito um novo estudo que pode ser realizado futuramente. Após as análises indicadas
anteriormente, também pode-se sugerir um trabalho acerca da modelagem detalhada do custo
de implantação de usinas híbridas.
Dado o exposto, os resultados obtidos podem ser analisados de diferentes óticas e
auxiliar na tomada de decisões de se investir tempo e recursos em estudos mais detalhados, que
possibilite definir com confiabilidade a viabilização do empreendimento de geração híbrido no
local do estudo.
43

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