Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Elétrica
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
NITERÓI
2022
Vinícius Santos Przewodowski
Niterói, RJ
2022
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de demonstrar minha gratidão a minha esposa, Lorena, por estar ao meu lado
desde o pré-vestibular até hoje, completando a minha graduação. Obrigado por todo o suporte,
mesmo em meio a tantas dificuldades que passamos, sempre me incentivando a não desistir dos
meus objetivos.
Também gostaria de agradecer aos meus pais, André e Fernanda, por todo suporte
desde o meu nascimento até hoje, quando consigo atingir um grande objetivo. Obrigado por
tudo, sem este apoio não me tornaria quem sou hoje.
RESUMO
As fontes de energia renovável variável, como eólica e solar, tem alcançado uma
participação cada vez mais expressiva na matriz de geração elétrica brasileira, e as perspectivas
de crescimento indicam uma expansão ainda maior. Considerando que o sistema possui uma
grande dependência de usinas hidrelétrica, as crises hídricas mais recentes, e suas
consequências, deixaram evidente a necessidade de diversificação da matriz, bem como a
necessidade da busca por inovações tecnológicas aliada com a preservação ambiental, como a
regulamentação e implantação das usinas híbridas e associadas. Neste trabalho será apresentada
uma revisão da literatura acerca dos principais conceitos relacionados às usinas híbridas bem
como um panorama geral da legislação brasileira, além de uma proposta de metodologia
simplificada, que possibilita realizar uma avaliação preliminar para a viabilidade da
implantação de uma usina híbrida eólica-solar, em uma determinada região. Por fim, será
apresentado um estudo de caso, a partir de dados reais coletados de estações de medição
geograficamente próximas, no interior do estado da Bahia. A partir deste estudo, espera-se ter
informações que tornem possível a avaliação preliminar da implantação de uma usina híbrida.
Variable renewable energy sources, such as wind and solar, have achieved an
increasingly expressive participation in the Brazilian electricity generation matrix, and the
growth prospects indicate an even greater expansion. Considering that the system is highly
dependent on hydroelectric plants, the most recent hydric crises, and their consequences, have
made evident the need to diversify the matrix, as well as the need to search for technological
innovations allied with environmental preservation, such as the regulation and implementation
of hybrid and associated plants. This paper will present a literature review of the main concepts
related to hybrid plants as well as an overview of the Brazilian legislation, and a simplified
methodology proposal, which enables a preliminary assessment of the viability of
implementing a wind-solar hybrid plant in a given region. Finally, a case study will be
presented, based on real data collected from geographically close measurement stations in the
interior of the state of Bahia. From this study, it is expected to have information that will make
possible the preliminary evaluation of the implementation of a hybrid plant.
1 Introdução
1.1 Sistema Elétrico Brasileiro
A matriz elétrica é definida pelo conjunto de usinas disponíveis para a geração de
energia elétrica e os sistemas de transmissão e distribuição para levar essa energia ao
consumidor final. De uma perspectiva macro, o Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), pode ser
subdividido em dois grupos: Sistema Interligado Nacional e Sistema Isolado.
O Sistema Interligado Nacional (SIN) é composto pelo sistema de produção e de
transmissão de energia elétrica do Brasil. Este sistema possui uma malha de transmissão de
mais de 169 mil km de extensão [1], interligando quase todo o território que está subdividido
em 4 subsistemas: (i) Sudeste/Centro-Oeste, (ii) Sul, (iii) Nordeste e (iv) Norte. A figura 1
ilustra a malha de transmissão do SIN e a figura 2 compara a capacidade instalada com o
consumo, por subsistema em 2021.
Figura 1: Mapa do sistema interligado nacional.
Fonte: [2].
2
Já o Sistema Isolado integra regiões mais isoladas do território nacional, onde até o
momento não foi viável a integração no SIN. De acordo com o ONS, hoje são 212 localidades,
sendo a maior parte delas da região Norte, atendidas por um sistema isolado. Destaca-se ainda,
que o consumo nestas localidades é baixo, representando menos de 1% da carga total do país.
O mapa da figura 2 retrata as localidades do Brasil, dependentes do sistema isolado em 2019.
Figura 3: Mapa do sistema isolado – Ciclo 2019.
Fonte: [4].
1.1.1 Matriz de Geração Brasileira
O Brasil, diferente da maioria dos países do mundo, possui, segundo o ONS, uma
matriz de geração de energia elétrica de grande porte, hidro-termo-eólico, com predominância
de fontes renováveis [5]. Em 2021, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) [3], os
181,6 GW de capacidade instalada no país estavam distribuídos 60,2% em fonte hidráulica,
23,5% em usinas termelétricas (UTE), 11,4% em eólica, 2,6% em solar e 1,1% em nuclear.
Também é destacado que a fonte hidráulica gerou 55,3% da energia elétrica.
3
Baseado nos dados de 2019 da EPE [3], observa-se que o Brasil ocupa o sétimo lugar,
entre os dez maiores produtores de energia elétrica no mundo, enquanto ocupa o terceiro lugar,
quando se considera apenas a geração de energia elétrica a partir de fonte renovável. O Brasil
se destaca ainda mais, quando se considera o percentual de geração por fontes renováveis em
relação à produção total, como evidenciado na figura 5.
O Brasil, em 2021, passou por momentos de dificuldade devido à crise hídrica que
ocorreu no país ocasionada pelo menor volume de água recebido nos reservatórios. Destaca-se
que foi o menor volume recebido nos últimos sete anos, inferior à média histórica, resultando
em baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Destaca-se como a crise hidrológica mais
grave desde 1930 [7].
Esta crise hídrica chamou ainda mais atenção para a necessidade de se diversificar a
matriz de geração do Brasil e a importância de se implementar novas tecnologias como as usinas
híbridas no SIN, para que se torne mais estável, confiável, e cada vez menos dependente de
apenas um recurso. Constatou-se também que, além do aumento do consumo de água para
outros usos [8], o deplecionamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas e a redução dos
níveis de chuva se destacam como as principais causas para a ocorrência da crise hídrica de
2021, no Brasil.
1.2 Objetivos
O objetivo geral desse trabalho é indicar o panorama atual da tecnologia híbrida de
geração em relação aos aspectos legislativos e propor um estudo preliminar sobre alguns
indicadores importantes para a viabilização de um empreendimento de geração híbrido eólico-
solar.
Os objetivos específicos do trabalho são:
1. Apresentar um panorama geral do sistema elétrico brasileiro e estabelecer a
importância do desenvolvimento da tecnologia híbrida de geração, além de fazer
uma revisão da legislação brasileira a respeito das usinas híbridas e associadas.
2. Propor uma metodologia para a realização de um estudo preliminar para avaliação
de indicadores importantes para a viabilização e desenvolvimento de projetos de
usinas híbridas.
3. Realizar um estudo de caso, seguindo a metodologia proposta para analisar os
indicadores a partir da coleta de dados reais de recurso eólico e solar e parâmetros
reais de aerogeradores.
6
2 Geração Híbrida
2.1 Conceito de Usina Híbrida
Na literatura, pode-se observar diferentes abordagens em relação à definição do
conceito de usina híbrida. Konstantinou & Hredzak [9] definem o conceito de usina híbrida
como sistemas que “reúnem diferentes tecnologias de geração, armazenamento e consumo em
um único sistema, melhorando os benefícios gerais em comparação com um sistema que
depende de uma única fonte”. Além disso, é descrito que originalmente um sistema híbrido era
concebido por uma combinação de duas tecnologias de geração comuns (não renovável), mas
hoje houve uma expansão da definição para incluir sistemas que são 100% compostos por
energias renováveis.
Já Subho Upadhyay & M.P.Sharma [10], descrevem um sistema híbrido como “uma
combinação adequada de sistemas de energia renovável e não renovável que leva em conta as
vantagens de ambos os sistemas”, considerando que uma combinação adequada significa que
quando combinadas, estas fontes, resultam numa redução de custo de implementação e
manutenção, assim como uma melhoria na confiabilidade do sistema.
No Brasil, a EPE [6], destaca que “Entende-se como hibridismo a complementaridade
energética, a capacidade de dois ou mais recursos (da mesma fonte ou de fontes distintas)
apresentarem disponibilidade energética complementar no tempo”. A EPE em parceria com o
Ministério de Minas e Energia (MME) e o Governo Federal disponibilizou em 24 de abril de
2017 a nota técnica “ESTUDO DE PLANEJAMENTO DA EXPANÇÃO DA GERAÇÃO –
USINAS HÍBRIDAS, uma análise qualitativa de temas regulatórios e comerciais relevantes ao
planejamento”. Nesse documento a EPE mapeia as tipologias de usinas que integram duas ou
mais tecnologias e às define detalhadamente.
2.2 Panorama Geral
Considerando um cenário de transição energética, fica clara a necessidade de
diversificar as fontes de geração de energia para que o sistema não fique vulnerável à escassez
de um recurso. Para tanto, é necessário que sejam incluídas no sistema de gerador usinas com
capacidade de prover uma curva de geração estável, com pouca variabilidade e com tecnologias
sustentáveis.
Assim, as usinas híbridas com pelo menos uma fonte de geração renovável são uma
opção de tecnologia a ser implementada na transição energética. Estas configurações híbridas
estão sendo amplamente estudadas buscando maximizar a utilização de recursos de energia
8
renovável variável, além de otimizar as configurações para que sejam mais confiáveis, tornando
a curva de geração menos variável [11] [12] [13].
É notório o crescimento da potência instalada de usinas eólicas e solares. Estes
recursos possuem um potencial complementar para compor uma planta de geração híbrida [9].
Neste contexto, será estudado os aspectos de tecnologia de geração híbrida apenas para os
recursos eólico e solar fotovoltaico.
2.3 Sistemas Híbridos de Geração Eólico-Solar
Um sistema de geração híbrido eólico-solar é composto por unidades geradoras
eólicas, unidades geradoras solares fotovoltaicas, inversores, rede coletora, sistema de medição
para faturamento (SMF), e subestação. Cada planta tem sua especificidade de acordo com o
cenário estabelecido para a implantação do projeto [11]. A figura 3 exemplifica um o diagrama
de um sistema híbrido eólico solar.
Figura 6: Exemplo de um sistema híbrido de geração.
Fonte: [11].
2.4 Tipologias de Geração “Híbrida” no Brasil
As possíveis combinações e arranjos (tipologias) entre diferentes fontes e tecnologias
são amplamente classificadas de forma genérica como “usina híbrida”. No entanto, é necessário
fazer uma organização ou classificação específica para que se torne possível realizar a
regulamentação destas tecnologias. É valido ressaltar que uma das maiores barreiras para o
desenvolvimento e implantação das usinas hibridas é a falta de regulamentação do setor [6].
A categorização das tipologias faz-se necessária também para que fique fácil e objetiva
a identificação das oportunidades e as formas de investimento, assim como as barreiras e
desafios para implementação de cada caso. No documento da EPE [6], são descritas as
tipologias definidas para o planejamento da expansão da geração no sistema elétrico de potência
9
do Brasil. Esses arranjos foram divididos em quatro grupos: Usinas Adjacentes, Usinas
Associadas, Usinas Híbridas e Portfólios Comerciais.
2.4.1 Usinas Adjacentes
As usinas adjacentes são formadas por duas plantas muito próximas, geograficamente,
podendo até estar dentro de uma mesma propriedade, e fazem o compartilhamento de algumas
instalações onde ambas são beneficiadas. Do ponto de vista de conexão, seja com a rede básica
diretamente ou com o sistema de distribuição, cada usina deve, separadamente, contratar a
capacidade condizente com sua potência nominal instalada, conforme as regras vigentes.
Porém, quando se considera o ponto de vista do sistema, verifica-se que se trata de
dois projetos distintos e separados. Por este motivo, o termo usina híbrida não estaria sendo
bem aplicado. Hoje existem diversos projetos com esta característica que não utilizam recursos
diferentes, a exemplo do nordeste brasileiro em que se encontra diversos projetos eólicos que
se enquadram nesse formato.
Figura 7: Esquemático de uma usina adjacente.
forma, o sistema ira entender esta associação num único ponto de conexão como uma única
usina.
Este arranjo também não se enquadra perfeitamente no termo “usina híbrida”, pois
mesmo que o operador do SIN enxergue apenas uma injeção de potência no ponto de conexão,
as usinas ainda estão separadas, constituídas por diferentes equipamentos e infraestruturas de
geração, podendo até manter a utilização de medidores diferentes.
Figura 8: Esquemático de uma usina associada.
Fonte: [14].
Esta nota pode ser vista como um roteiro geral para partes interessadas no
desenvolvimento de estudos preliminares, para viabilização dos projetos e posteriormente
realizar a implantação. Já a segunda nota técnica, denominada “USINAS HÍBRIDAS – Uma
análise qualitativa de temas regulatórios e comerciais relevantes ao planejamento”, teve como
principal objetivo a classificação dos diferentes arranjos para empreendimentos de geração
(tipologias), já especificadas na seção 2.4 deste trabalho.
Além disso, o documento descreve as possíveis combinações de fontes e tecnologias,
limitações físicas e operativas tais como:
14
perfil de geração instantâneo. O que ocorre é que a agregação das fontes pode gerar uma maior
estabilidade na produção conjunta.
Sob a ótica do operado do sistema, a diversificação de fontes contribui para redução
dos impactos sistêmicos provocados pela variabilidade instantânea na disponibilidade de
potência, ou seja, com a agregação de duas tecnologias complementares vai resultar em uma
curva de geração com menor variação no tempo.
2.5.2 Consulta Pública 061/2020
Como visto no início da seção 2.5, a consulta pública 061/2020 da ANEEL (dividida
em duas fases) teve como resultado um “Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) ”,
que trata dos temas: “Adequações regulatórias para implantação de usinas híbridas” e
“Aprimoramento da regulação relacionada à contratação de acesso de múltiplas centrais
geradoras”.
Este documento da ANEEL, possui quatro grandes objetivos bem definidos, sendo
excluído o quarto objetivo, pois a entidade não dispõe da competência legal para definir o tema.
(i) facilitar as outorgas de centrais geradoras com mais de uma fonte de geração, (ii) definir as
condições de contratação de uso para rede básica ou de transmissão por centrais geradoras
híbridas ou associadas, (iii) tornar possível e regulada a comercialização de energia gerada por
tipologias híbridas ou associadas, e (iv) discutir possibilidades para se definir a garantia física
de usinas com duas ou mais fontes de geração.
2.5.3 Resolução Normativa N° 954/2021
A resolução normativa n° 954/2021 altera as resoluções normativas n° 77/2004, n°
247/2006, n° 559/2013, n° 583/2013, n° 666/2015 e n°876/2020, para definir o tratamento
regulatório para a implantação de Usinas Geradoras Híbrida (UGH) e usinas geradora
associadas. Cada um dos documentos citados tem o objetivo de regulamentar partes bem
definidas do SEB, desde a implantação dos empreendimentos, até a regulação de tarifas.
1. A REN N° 876/2020 tem como principal objetivo estabelecer os requisitos e
procedimentos que serão necessários para à obtenção da outorga de autorização
para implantação ou alteração da capacidade instalada de empreendimentos de
geração Eólicas, Fotovoltaicas, Termelétricas, Híbridas (ou associadas) e outras
fontes alternativas. Também são definidos requisitos e procedimentos pertinentes
à comunicação de implantação de centrais geradoras com capacidade instalada
reduzida.
2. A REN N° 583/2013, atualmente revogada pela REN ANEEL 1029/2022
consolida os procedimentos e condições necessárias para que seja obtida ou
16
3 Metodologia
O objetivo da metodologia proposta pode ser dividido em três partes: (i) projeção da
curva complementar eólica-solar baseada em recurso e análise de resultados, (ii) projeção da
curva complementar eólica-solar baseada em potência normalizada e análise de resultados, e
(iii) otimização da proporção de tecnologia eólica-solar a ser implantado.
A partir de (i) é possível observar a forma que os recursos eólico e solar se
complementam no tempo e se existe uma característica complementar viável para implementar
uma planta de geração híbrida. Para (ii) é necessário inserir alguns parâmetros que modelam a
curva de potência dos geradores, tornando possível observar a complementariedade das fontes
solar e eólica na unidade de potência normalizada. Para (iii) será realizada uma otimização
considerando os parâmetros de variabilidade, custo de implantação e geração de energia diária,
possibilitando a análise de diversos cenários.
3.1 Fluxograma da Metodologia
A metodologia proposta para este trabalho pode ser subdividida em cinco grupos,
como: (i) Aquisição e tratamento dos dados de recurso, (ii) Complementariedade de recurso e
análise de resultado, (iii) Conversão dos dados de recurso para potência normalizada e definição
de parâmetros, (iv) Complementariedade de potência e análise dos resultados e (v) Otimização
da proporção de tecnologias e análise dos resultados. O diagrama da figura 10 ilustra a divisão
e fluxo da metodologia proposta.
18
O tratamento de dados desta metodologia se dará pela média aritmética dos dados de
um determinado período de tempo conforme a equação (1). Como exemplo de cenário, supõe-
se o tratamento de uma base de dados apresentada com resolução de 10 minutos, sendo
necessário para o estudo que a base seja horária. A média aritmética dos 6 primeiros dados, irão
compor o dado da primeira hora.
∑𝑞𝑖=1 𝑟(𝑖) (1)
𝑅ℎ =
𝑞
Onde:
𝑅ℎ - É o recurso horário.
𝑟(𝑖)- É recurso medido.
𝑖- É o índice que varia de 1 até a quantidade de dados 𝑞.
𝑞- Representa a quantidade de dados que compõe o período de 1 hora.
visto na seção anterior, os parâmetros necessários são: (i) 𝑣𝐼 (cut-in), (ii) 𝑣𝑅 (rated wind speed),
e (iii) 𝑣𝑂 (cut-out).
3.5 Complementariedade de Potência
Agora, com os parâmetros definidos e devidamente indicados, é possível fazer a
plotagem das curvas normalizadas de complementariedade de potência eólica-solar. Neste
passo é necessário ter definido as opções de aerogerador disponíveis, e com isso, indicar os
valores dos parâmetros definidos na seção 3.3 dessa metodologia.
A plotagem das curvas de complementariedade de potência é similar a plotagem da
curva baseada no recurso, porém, neste passo é necessário apenas o eixo primário, uma vez que
as duas tecnologias estão parametrizadas para a mesma unidade de medida, conforme
exemplificado pelo figura 15.
Figura 15: Exemplo de gráfico de complementariedade de potência normalizada.
Esta metodologia terá como objetivo analisar os parâmetros: (i) custo de implantação,
(ii) energia gerada em 24 horas, e (iii) a variância da curva de saída. E neste método será
imposto apenas o limite físico, indicando o percentual mínimo e máximo, para a implantação
da tecnologia eólica no projeto.
Para poder realizar o processo de otimização, será necessário ter conhecimento prévio
das informações do projeto: (i) potência total instalada, (ii) limitação percentual para
implantação de aerogeradores, e (iii) dados tratados (agrupados e convertidos em potência
normalizada).
Para modelar o custo de implantação, foram selecionados os valores de CAPEX para
período de 2020 a 2030, para as tecnologias eólica onshore e solar fotovoltaica, apresentados
no anexo do [18] PNE 2050 (Plano Nacional de Energia 2050). O equacionamento para análise
deste parâmetro será conforme mostrado em (6), (7) e (8):
𝐶𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟% = 𝑄𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 . ∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 (6)
𝐶𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎% = 𝑄𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 . ∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 (7)
𝐶𝑖𝑚𝑝 = 𝐶𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 + 𝐶𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 (8)
Onde:
𝐶𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟%- Custo da tecnologia solar para um determinado percentual da potência
instalada.
𝑄𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 - Custo de implantação por MW para a tecnologia solar.
∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 - É o percentual de tecnologia solar, da potência total instalada.
𝐶𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎%- Custo da tecnologia eólica para um determinado percentual da potência
instalada.
𝑄𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 - Custo de implantação por MW para a tecnologia eólica.
∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 - É o percentual de tecnologia eólica, da potência total instalada.
𝐶𝑖𝑚𝑝 - É o custo de implantação total por MW
Para modelar a energia gerada em 24 horas pela planta será necessário utilizar os dados
de potência normalizada, agrupados anualmente. Considerando os dados normalizados, será
necessário aplicar o valor da potência instalada do projeto à base de dados, para ter o resultado
direcionado à planta em análise. Considera-se equações (9) e (10) a seguir:
𝑃𝐻𝑠𝑒 = 𝑃𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜 . ((𝑃𝐻𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 . ∆%𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 ) + (𝑃𝐻𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 . ∆%𝑒ó𝑙𝑖𝑐𝑎 )) (9)
24 (10)
𝐸𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ∑ 𝑃𝐻𝑠𝑒 (𝑖)
𝑖=1
Onde:
25
Figura 18: Continuação dos gráficos de complementariedade de recurso mensal do estudo de caso.
Figura 25: Continuação da complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador V-150.
Figura 27: Continuação da complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das
tecnologias para o aerogerador AWG 147.
deste estudo, o aerogerador V-150 é capaz de produzir em média 30,96% a mais energia em 24
horas.
Tabela 7: Tabela de diferença percentual.
V-150 (4.0 MW) AGW 147 (4.2 MW)
Solar / Eólica (%) Diferença (%)
Variância Energia Diária (MWh) Variância Energia Diária (MWh)
10 / 90 - 2460,80 - 1698,85 30,96%
35 / 65 - - 118,91 -
37,57%
45 / 55 190,46 - - -
Fonte: Elaboração do autor.
Verificando novamente a Tabela 7, pode-se notar que os menores valores de variância
não são obtidos para a mesma proporção de tecnologia implantada. Além disso, pode-se
comentar que o aerogerador AGW 147 possui uma variância média 37,57% menor do que o
aerogerador concorrente. Para consolidar os resultados obtidos, será apresentado abaixo os
resultados para um aerogerador fictício com os parâmetros: (i) cut-in de 3m/s, (ii) cut-out de
25m/s, e (iii) rated wind speed de 7,9 m/s.
O parâmetro (i) foi definido para se manter igual aos valores dos dois aerogeradores
deste estudo, o (ii) foi definido igual ao menor valor dentre as turbinas V-150 e AGW 147, e
(iii) foi definido para ter o valor igual ao da média histórica de recurso eólico, da base de dados
utilizada neste estudo.
Para o modelo fictício definido, foram obtidos os seguintes resultados, apresentados
Tabela 8 e a figura 28.
Tabela 8: Tabela de otimização para o aerogerador fictício.
Solar / Eólica (%) Variância Energia Diária (MWh) Custo de CAPEX
10 / 90 809,85 3820,92 $237.000.000,00
15 / 85 633,85 3656,25 $235.500.000,00
20 / 80 487,06 3491,58 $234.000.000,00
25 / 75 369,49 3326,91 $232.500.000,00
30 / 70 281,14 3162,24 $231.000.000,00
35 / 65 222,00 2997,57 $229.500.000,00
40 / 60 192,08 2832,90 $228.000.000,00
45 / 55 191,38 2668,23 $226.500.000,00
50 / 50 219,90 2503,56 $225.000.000,00
Fonte: Elaboração do autor.
A Tabela 8 apresenta a otimização realizada para a turbina fictícia. A linha destacada
em amarelo (1ª linha da tabela), indica o melhor valor de energia produzida para um dia de
operação. A linha destacada em azul (penúltima linha da tabela), marca a proporção eólica-
solar com a menor variância. E por fim, a linha destacada em verde (última linha da tabela),
apresenta o menor custo de CAPEX.
A figura 28 exibe as curvas de complementariedade para cada proporção eólica-solar
indicada na tabela, além de exibir a curva de saída, que é a composição da potência solar e
eólica.
39
Figura 28: Complementariedade eólica-solar com curva de saída composta pela proporção das tecnologias para o
aerogerador fictício.
Turbina Fictícia
Diferença (%)
Variância Energia Diária (MWh)
V-150 0,48% 35,60%
AGW 147 37,87% 55,54%
Fonte: Elaboração do autor.
Analisando as tabelas apresentadas, observa-se que o parâmetro rated wind speed é o
mais relevante para o estudo. Quanto mais próximo o valor de tal parâmetro está do valor da
média histórica do recurso, melhor será o resultado encontrado para o indicador de energia
diária produzida. Já para a variância, indicador de variabilidade da curva de saída, não se nota
uma diferença percentual expressiva quando se analisa a redução do parâmetro rated wind
speed para uma mesma proporção de tecnologia eólica-solar.
Então, pode-se concluir que a aplicação da metodologia proposta no capítulo 3, quando
aplicada a um estudo de caso, de fato irá culminar em dados relevantes para auxiliar na tomada
de decisões levando em consideração os cenários estudados e os objetivos definidos.
41
5 Conclusão
Diante das informações apresentadas nos capítulos anteriores, pode-se observar o
expressivo aumento da participação de fontes renováveis na matriz de geração elétrica do
Brasil, com grande destaque para as fontes eólica e solar. Percebe-se também que o Brasil
possui uma matriz energética majoritariamente renovável, com grande dependência de recursos
hídricos. Com isso, fica clara a exposição do sistema a apenas um tipo de recurso, que ficou
ainda mais evidente com a crise hídrica ocorrida em 2021.
Com este cenário fica evidente a necessidade de desenvolver novas tecnologias
baseadas em diferentes recursos para que o sistema elétrico não fique frágil e dependente de
apenas uma fonte. Porém, sabe-se que as usinas geradoras de fonte eólica e solar possuem
recursos muito variáveis e pouco previsíveis, o que torna o estudo de usinas híbridas
indispensável para o desenvolvimento de uma matriz energética confiável e sustentável.
O objetivo da metodologia proposta neste trabalho é realizar um estudo preliminar de
indicadores importantes para viabilizar, projetar e implantar uma usina hibrida eólica-solar.
Como resultado, espera-se obter informações que podem ser utilizadas para justificar estudos
mais aprofundados e detalhados para o desenvolvimento do projeto. Pode-se realizar análises
em relação: (i) ao custo de implantação, (ii) à energia diária gerada e (iii) à variabilidade.
Para (i) fica claro que o maior custo está sempre relacionado com uma maior
porcentagem de implantação da tecnologia eólica e o menor está associado à energia solar. Vale
destacar que, neste estudo, a modelagem do custo de implantação não reflete com precisão a
realidade, sendo necessário incluir diversas variáveis e parâmetros.
Para o indicador (ii), independente do modelo de turbina escolhido, a maior energia
estará sendo produzida quando se implanta a maior porcentagem possível de tecnologia eólica.
Desta forma, se o objetivo for maximização da geração, este é o indicador a ser considerado.
Já para o indicador (iii) o comportamento é bastante diferente, uma vez que os pontos
de máximo e mínimo da otimização não estarão atrelados ao percentual máximo ou mínimo da
implantação de uma das tecnologias. Dado o exposto, do ponto de vista energético, financeiro
e comercial, será necessário a criação de incentivos para justificar a implantação deste tipo de
tecnologia, quando otimizada para redução da variabilidade.
Realizando uma análise mais ampla, outra justificativa para se implantar uma usina
híbrida é a maximização da produção em usinas já existentes, que ainda possuem infraestrutura
elétrica e espaço físico para suportar a inclusão de uma outra fonte de geração. Esta análise
42
deixa explícito um novo estudo que pode ser realizado futuramente. Após as análises indicadas
anteriormente, também pode-se sugerir um trabalho acerca da modelagem detalhada do custo
de implantação de usinas híbridas.
Dado o exposto, os resultados obtidos podem ser analisados de diferentes óticas e
auxiliar na tomada de decisões de se investir tempo e recursos em estudos mais detalhados, que
possibilite definir com confiabilidade a viabilização do empreendimento de geração híbrido no
local do estudo.
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ONS. “O Sistema em Números”. Disponível em http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-
sin/o-sistema-em-numeros, 2022.
[2] ONS. “Sobre o SIN – Mapas”. Disponível em http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-
sin/mapas, 2022.
[3] EPE. Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2022. Relatório técnico, Empresa de Pesquisa
Energética, Rio de Janeiro, Brasil, 2022.
[4] EPE. “Planejamento do Atendimento aos Sistemas Isolados Horizonte 2024 – Ciclo 2019”,
2019.
[5] ONS. “Sobre o SIN – O QUE É O SIN”. Disponível em
http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-sin/o-que-e-o-sin, 2022.
[6] EPE. “Expansão da Geração – Fontes” Disponível em https://www.epe.gov.br/pt/areas-de-
atuacao/energia-eletrica/expansao-da-geracao/fontes, 2022.
[7] ONS. “NOTA À IMPRENSA - ESCLARECIMENTOS EM RELAÇÃO À NOTA
TÉCNICA SOBRE AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ATENDIMENTO
ELETROENERGÉTICO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL - ESTUDO
PROSPECTIVO JUNHO A NOVEMBRO DE 2021”. Disponível em
http://www.ons.org.br/Paginas/Noticias/Nota-a-imprensa-Esclarecimentos-em-relacao-a-nota-
tecnica-Avaliacao-das-Condicoes-de-Atendimento-Eletroenergetico-do-SIN, 2022.
[8] SALES, C. “Crise hídrica: causas, respostas e reflexões”. Disponível em
https://editorabrasilenergia.com.br/crise-hidrica-causas-respostas-e-reflexoes, 2022
[9] GEORGIOS, Konstantinou; BRANISLAV, Hredzak. “Hybrid Renewable Energy
Systemsand Microgrids: 6 - Power electronics for hybrid energy systems. 1. ed.”. Academic
Press, 2021. p. 215-234.
[10] UPADHYAY, S., SHARMA, M.P. “A review on configurations, control and sizing
methodologies of hybrid energy systems”. Renewable and Sustainable Energy Reviews, V. 38,
pp. 47-63, 2014. Doi: https://doi.org/10.1016/j.rser.2014.05.057. Disponível em < https://www-
sciencedirect.ez24.periodicos.capes.gov.br/science/article/pii/S1364032114003827 >.
[11] ANEEL. “Relatório de Análise de Impacto Regulatório nº 002/2020-
SRG/SRT/SCG/ANEEL”, 2020.
[12] JEREZ, S., TRIGO, R. M., SARSA, A., LORENTE-PLAZAS, R., POZO-VÁZQUES, d.,
MONTÁVEZ, J. P. “Spatio-temporal complementarity between solar and wind power in the
Iberian Peninsula”, Energy Procedia, v. 40, pp. 48 – 57, 2013. Doi:
44