Sebenta Financas Publicas II Coquim
Sebenta Financas Publicas II Coquim
Sebenta Financas Publicas II Coquim
Finanças Públicas II
Todavia, as reflexões Ricardianas levaram a que a dívida continuasse a ser encarada como uma
receita à qual se poderia recorrer apenas em situações excecionais.
Porquê? Porque a substituição de impostos atuais por impostos no futuro não permite concluir
que o recurso a empréstimos passa a ser uma boa forma de financiar a despesa pública e que os
efeitos nefastos na economia são eliminados. Esta afirmação permite, apenas, sustentar a
conclusão de que os efeitos negativos decorrentes da cobrança de impostos foram temporalmente
adiados. Esta dilação pode permitir que os mesmos sejam cobrados em momento mais adequado.
Ora, com o avanço dos estudos económicos e o aumento da intervenção do estado na economia,
o recurso a crédito para financiar a despesa pública torna-se cada vez mais habitual em
substituição do aumento dos impostos e da emissão de moeda.
• Pode a dívida pública ser considerada como uma componente da riqueza financeira de um
país?
• Uma dívida pública elevada onera as gerações futuras?
• Qual o limite máximo da dívida pública? (se é que há limite)
• Em que circunstâncias é mais provável a escalada de uma crise de confiança do estado?
(num estado com endividamento elevado ou no início de uma crise financeira)
É possível perceber que até uma dívida pública elevada é gerível, ou seja, pode haver um país com
um crescimento económico sustentado e uma dúvida pública elevada (é necessário que tenha
algumas características). O maior problema que vamos enfrentar é o de saber se o endividamento
atual representa ou não um encargo para as gerações futuras.
e. Controlo da inflação.
1.1. Noção de dívida pública: a noção tradicional e a noção alargada relevante para o
direito da União Europeia
As receitas creditícias são uma das categorias de receitas estaduais, constituindo em alguns casos
uma importante fonte de financiamento.
Apesar de poder assumir diversas configurações, pode definir-se a dívida pública como um
conjunto de operações de natureza contratual praticadas pelo estado para obtenção de receitas
para o financiamento da despesa pública. Ou seja, o estado recebe uma determinada quantia que
se compromete a reembolsar num momento futuro, acrescida eventualmente de juros ou de uma
outra forma de retribuição.
Este contrato, de acordo com o Código Civil, é considerado um contrato de mútuo oneroso
(designação jurídica de empréstimo) - art. 1142º e 1145º CC.
Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a
segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade.
1. As partes podem convencionar o pagamento de juros como retribuição do mútuo; este presume-se oneroso
em caso de dúvida.
2. Ainda que o mútuo não verse sobre dinheiro, observar-se-á, relativamente a juros, o disposto no artigo
559.º e, havendo mora do mutuário, o disposto no artigo 806.º.
! Nota a reter: Não são consideradas situações de dívida pública aquelas em que existe um atraso no
pagamento do fornecimento de bens e serviços, por ser considerado como dívida administrativa ou dívida
corrente e estão atualmente regulados na Lei dos compromissos e pagamentos em atraso das entidades
públicas – Lei n.º 8/2012, de 21 de fevereiro.
A dívida pública engloba então as situações em que o Estado é o sujeito principal (dívida pública
direta) mas também aquelas situações em que o devedor é uma outra pessoa coletiva de direito
público diferente do Estado, como por exemplo, as Regiões Autónomas, as Autarquias Locais e
as outras entidades que pertençam ao Setor 13 das Administrações Públicas.
O que interessa verdadeiramente é saber como é que é financiada essa atividade, de forma a
sabermos se estamos perante uma entidade que pertence ao Setor 13.
Para determinarmos a noção de dívida pública presente nas normas de direito da União Europeia
– habitualmente designada por dívida de Maastricht – temos de mobilizar o art.º 126.º do TFUE,
os Protocolos nº 12 e 13 anexos ao Tratado e o Regulamento (CE) 479/2009, de 25 de maio,
relativos à aplicação do protocolo sobre o procedimento relativo aos défices excessivos - esta
diferenciação parte desde logo da delimitação do designado sector Administrações Públicas que
tem em consideração todas as entidades englobadas no sector S13, ou seja, não são tomados em
consideração os valores em que o devedor não se enquadra no S13.
A dívida de Maastricht corresponde, então, ao valor facial do stock de dívida (bruta) apurada a
31 de dezembro no Setor Administrações Públicas (S13), representando o valor que terá que ser
reembolsado aos credores no momento da amortização do empréstimo.
As diferenças entre o conceito utilizado no direito interno e no direito da União Europeia são
visíveis em vários aspetos:
• Inclui apenas a dívida pela qual é responsável o subsetor administração central deixando
de fora o envidamento dos demais subsetores públicos, nomeadamente da administração
regional e local.
• Ainda, trata-se do sector nominal oficial, ou seja, o valor que tem de ser reembolsado ao
credor no momento da amortização de empréstimo, estando incluídos os instrumentos de
numerário (notas e moedas) e depósito, mas também títulos de divida e outro tipo de
empréstimos. Excluem-se derivados financeiros e outros débitos referidos no n5 do art.
Nº1 do Regulamento 479/2009.
o No direito interno o valor da dívida inclui o valor dos juros acumulados e não
resgatados pelos titulares dos certificados de aforro,
o O cálculo do valor da dívida relevante para efeitos do Tratado de Maastricht
apenas deve ser considerado o valor nominal da mesma, desconsiderando o
impacto dos juros capitalizados.
Exemplo: Nas situações em que o financiamento do próprio Estado é assegurado por outros
subsetores, nomeadamente no fundo de estabilização financeira da segurança social em que há
emissão de dívida pública para financiar o próprio fundo (ou seja, o fundo com as receitas próprias
que tem das contribuições dos trabalhadores, adquire títulos da dívida pública que coloca a render,
usando esse rendimento para o financiamento das suas restantes operações). Esta dívida não conta
porque é o Estado que deve a si mesmo e se ele quiser anular essa dívida pode fazê-lo por decreto.
Está excluída a capitalização dos certificados de aforro.
Em suma,
A dívida de Maastricht está prevista no artigo 126º do TFUE e tem em consideração todo o setor administrações públicas
(tudo o que seja Estado, setor empresarial ou não desde que seja incluído no setor das empresas não lucrativas e que tenham
de ser financiadas maioritariamente pelas receitas do orçamento do Estado). É uma dívida consolidada, ou seja, exclui as
operações em que o credor é outra entidade do setor administrações públicas, ou seja, o Estado faz empréstimos a si próprio
que não são considerados.
Na Dívida direta do Estado está apenas em causa o subsetor Estado, que corresponde apenas aos serviços de administração
direta do Estado (por isso é que é normal que a dívida direta do Estado seja inferior à dívida de Maastricht). Não há
consolidação, ou seja, corresponde à dívida em que o subsetor Estado é devedor efetivo independentemente de quem é a
entidade credora. Está incluída a capitalização dos certificados de aforro
2. Espécies de Dívida
! Nota a reter: Para o ano de 2021 o limite previsto pela Lei n.º 75-B/2020 de 31 de dezembro para o
aumento do endividamento líquido global foi de 19 900 000 000 € - cfr. art.º 177.º - e o limite para o
montante acumulado de emissões vivas (ativas) de dívida pública flutuante de 25 000 000 000 € - cfr. art.º
181.º.
Até à aprovação do diploma legal referido, em Portugal era considerada dívida pública flutuante a que fosse
emitida por um período inferior a 12 meses e fundada a que fosse emitida por um período superior. Esse
regime permitia que a dívida flutuante pudesse ser utilizada para a cobertura de défices de tesouraria, mas
também de défices orçamentais, contrariando a sua vocação que é precisamente a de se destinar a cobrir
défices de tesouraria
! Nota a reter: Não obstante termos assistido a uma aglutinação, para efeitos de gestão, das Bolsas
de Paris, Lisboa, Amesterdão e Bruxelas para formarem a Euronext NV isso não distorce o critério
mencionado, embora demande uma análise mais atenta
Critério da moeda
Neste caso o que distingue os empréstimos internos dos empréstimos externos é o facto de os
primeiros serem emitidos em moeda com curso legal no país emitente e os segundos serem numa
moeda que não tenha curso legal no país emitente. O artigo 3.º da Lei n.º 7/98, de 3 de fevereiro
utiliza este critério para distinguir entre dívida pública em moeda nacional e dívida pública em
moeda estrangeira. Deste modo, sempre que Portugal emite dívida pública denominada em euro
estaremos perante dívida pública interna (também designada por dívida pública denominada em
moeda nacional) e quando emite dívida pública em dólares ou libra esterlina estaremos perante
instrumentos de dívida pública externa (ou dívida pública em moeda estrangeira).
• Falamos em residência e não em nacionalidade porque este último vínculo tem vindo a
perder importância como vínculo autónomo na determinação do vínculo jurídico a um
determinado território geográfico e estadual. O que importa, para estes efeitos, é saber
quais os credores do estado que estão sujeitos a todas as dimensões da atuação estadual,
ius imperii daquele Estado, podendo tratar-se ou não de cidadãos nacionais desse país. A
nacionalidade, por si só, não garante em todos os domínios jurídicos e não o garante
claramente nas situações que estamos a analisar, a sujeição às prerrogativas de um
determinado Estado.
o Um sujeito de nacionalidade portuguesa que vive na Alemanha, o poder do
Estado Português sobre ele é nulo. Pelo contrário, alguém que tenha uma
nacionalidade estrangeira, mas que tenha um vínculo de residência em Portugal
já está sujeita ao Estado Português nomeadamente no domínio financeiro.
Então, que critério adotar? Os critérios que acabamos de analisar são muito fluídos e, em regra, a
sua aplicação em simultâneo não conduz a um resultado satisfatório.
Dada a multiplicidade e diversidade de critérios e das dificuldades decorrentes da aplicação isolada
de cada um deles, entendemos que o mais adequado é combinar vários critérios, tendo por base o
critério da residência dos credores complementado, se necessário, pelo critério do movimento
internacional de capitais e pelo critério da moeda.
Sendo a dívida subscrita por entidades residentes, denominada em moeda com curso legal no país
e não existindo movimento internacional de capitais estão reunidas as condições possíveis para que
possamos considerar que estamos perante uma situação em que o estado pode exercer as
prerrogativas de ius imperii para influenciar as decisões dos seus credores e, mais importante do
que isso, para que possamos dizer que se verificam todos os efeitos que decorrem de endividamento
interno. Embora tenhamos que ter em consideração que, no caso de uma moeda que goza de curso
legal em vários países e em que cada um deles, isoladamente, não se pode controlar a sua emissão,
não devemos concluir que este critério deve ser completamente afastado ou que é indiferente a
moeda em que a receita é arrecadada e a moeda em que têm que ser efetuados os pagamentos dos
juros e outras compensações, bem como os reembolsos.
• Reembolsáveis por sorteio – o estado determina, em cada ano, o volume de dívida que
vai amortizar e datas para sorteio e qual ou quais os títulos que serão amortizados.
• Reembolsáveis em data fixa – O Estado estabelece uma data é que vai reembolsar aquele
empréstimo. São aqueles que garantem, quer para o credor quer para o devedor, um maior
grau de certeza no que à data de amortização. Podem, contudo, originar problemas de
tesouraria uma vez que a devolução da quantia mutuada é feita toda na mesma data, o que
obriga a que muitas vezes se recorra a outros meios de crédito a condições mais onerosas.
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Empréstimos voluntários - O Estado, apesar de não obrigar à subscrição de dívida pública, apela
ao sentimento patriótico dos credores.
Estão em causa situações em que o estado pretende oferecer aos seus credores condições menos
vantajosas do que as praticadas no mercado para instrumentos financeiros com características
equiparáveis. Ainda assim, estamos perante situações em que os credores aceitam de forma livre
as condições que lhes são oferecidas, como acontece nos casos de grave crise económica ou de
guerra em que as taxas de juro do mercado sobem.
Quem é que podem ser estas OEVT? As instituições bancárias, por exemplo, que têm de se
registar junto do tesouro português, cumprir determinados requisitos para que depois possam
beneficiar desta negociação entre os OEVT e o Estado
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• Leilão – Implica que sejam colocados no mercado os valores de divida para serem subscritos,
obtendo o preço mais competitivo para um conjunto de títulos a colocar no mercado. Os
particulares têm de estar representados por uma entidade financeira.
o Fase não competitiva – em que os candidatos que são admitidos a leilão, em regra
instituições, apresentam as suas propostas. Se forem validadas passam à 2ª fase.
o Fase competitiva – se houver mais propostas que valores a emitir a proposta é
adjudicada a pagar mais, a quem oferecer as melhores condições de subscrição.
Genericamente, se o comprador do título aceitar receber uma taxa de rentabilidade
mais baixa.
• Valor nominal – tradicionalmente é definido como o valor facial que se encontra inscrito
no título, ou seja, corresponde ao valor que o estado tem de devolver ao credor no fim do
empréstimo. No entanto, atualmente o valor nominal corresponde ao valor facial
registado continuamente, com base no qual são calculados os juros e os demais encargos,
correspondentes aos valores a reembolsar pelo estado, no final do empréstimo (pode não
ser igual ao valor de emissão);
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• Cotação – corresponde ao valor do título que se fixa nos mercados financeiros, e o valor
que os agentes do mercado estão dispostos a pagar pelas características desse título.
• Taxa de juro nominal – também designada por taxa do empréstimo – se for multiplicada
pelo valor nominal do título obtemos o juro (a remuneração a obter pela cedência do capital);
• Taxa de juro real – também designada por yeld ou taxa de rendibilidade do título. Esta
incorpora, para além do juro, outros valores que constituem um fator de remuneração dos
títulos, como prémios de reembolso, prémios de permanência, isenção de impostos e outros
e pode ser determinada a partir de uma operação aritmética simples, que consiste na divisão
do rendimento global do título pelo seu valor nominal. É a que mais importa, pois é a que
permite, de facto, saber as vantagens patrimoniais que o credor irá receber pela aquisição de
títulos da dívida.
• Emissões ao par – quando o valor da emissão é igual ao valor nominal. O Estado recebe
o mesmo valor que se compromete a reembolsar;
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Feitos estes reparos podemos agora dedicar-nos à análise do comportamento da cotação dos títulos
da dívida pública.
Segundo a denominada Lei da Cotação dos Fundos Públicos, “a cotação dos títulos tende para
a capitalização do seu rendimento à taxa de juro corrente no mercado”, ou seja, o valor da cotação
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resultará da divisão do rendimento do título que, recorde-se, é fixo (r), pela taxa de juro corrente
de mercado na data da mensuração.
Esta lei permite-nos determinar a tendência para a cotação de um título da divida publica e em
alguns títulos de empréstimo, conseguimos verificar com exatidão o valor da cotação de um
determinado título num determinado momento. A cotação dos títulos tende para a cotação do seu
desenvolvimento para o mercado.
𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑡í𝑡𝑢𝑙𝑜
Então, 𝑐𝑜𝑡𝑎çã𝑜 =
𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑗𝑢𝑟𝑜 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜
Sendo o rendimento do título um valor fixo quer porque a taxa do empréstimo é fixa e constante
quer porque o título tem um rendimento pré-definido, também fixo e constante, – pode concluir-
se que a cotação do título varia no sentido inverso ao da taxa de juro corrente no mercado no
momento da mensuração e vice-versa.
Exemplo:
No dia 15 de novembro de 1937 foram emitidos contratos de rendas vitalícias, com o valor nominal de 1€
e uma taxa de juro fixa de 4%. No dia 15 de março de 2020 a taxa de juro encontra-se fixada nos 8%. No
entanto, em 2030 prevê-se que a taxa de juro seja 2%.
Posto isto, se em 2020 fossemos vender ao mercado o título, com a taxa de juro a 8%, o título desvalorizaria
para 0.5€, a cotação desceu para metade, visto que a taxa de juro aumentou para o dobro. Em 2030, como
a taxa de juro diminuiu para metade, relativamente a 1937, o preço do título subiria para o dobro, neste
caso 2€.
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Os credores do estado correm o risco de perder caso a taxa de juro no mercado suba e não ganham
caso esta desça. Ou seja, quando a taxa de juro sobre a cotação diminui, no entanto, o contrário
não se verifica.
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Permite assegurar um pagamento contínuo e faseado da dívida, mas nem sempre isso é suficiente
para que o valor global da dívida diminua. Porquê?
o Nos anos em que o saldo orçamental seja nulo ou positivo a dívida pública diminui.
o Nos períodos orçamentais em que exista um défice:
▪ o valor global da dívida pode não diminuir – só diminuirá se o valor do défice for
inferior ao da dotação prevista para a amortização da dívida e
▪ podemos assistir a uma situação em que exista um agravamento da onerosidade da
dívida pública.
Quando recorrer? Nas situações em que seja possível prever, com um elevado grau de certeza,
que a inclusão de uma inscrição de despesa destinada ao pagamento da dívida no orçamento do
estado não vai implicar o recurso ao crédito para financiar a despesa pública.
→ As caixas de amortização
Estamos perante um modelo em que estado cria uma entidade dotada de autonomia administrativa
financeira – designada por Caixa – que tem como objetivo a aquisição de títulos da dívida pública
e proceder à sua gestão. A diversidade de formas como essa gestão é feita permite distinguir entre
as Caixas simples e a Caixa de Price.
• Caixa simples – Em cada período, o estado transfere para a caixa uma determinada
quantia, adquirida através da compra de títulos da divida publica. Depois de adquiridos,
os títulos da dívida são destruídos.
• Caixa de Price – a Caixa também irá receber uma verba proveniente do orçamento do
estado, verba essa que apenas será transferida no primeiro período, constituindo uma
espécie de capital inicial da Caixa. No entanto, ao invés de destruir os títulos adquiridos,
vai arrecadá-los e receber os juros provenientes desses títulos com os quais vai comprar
mais títulos. Gera-se, assim, um ciclo até que se chegue ao ponto em que a divida já está
saldada e aí irão proceder à destruição dos créditos. Assim, tornava-se desnecessária a
existência de qualquer transferência adicional de verba a partir do orçamento do estado.
No fundo, com uma pequena dotação inicial era possível amortizar valores avultados de
dívida.
Erro de Price - a Caixa vai receber juros dos títulos que adquiriu nos períodos anteriores, como
se de um credor externo ao estado se tratasse. Aqui, Price incorre num erro jurídico que se revela
fatal: no momento em que a Caixa adquire títulos da dívida pública esta extingue-se por confusão,
cessando também a obrigação do pagamento dos juros e demais compensações que a esta
estivessem associados.
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! Nota a reter: uma obrigação extingue-se por confusão no momento em que se encontram
reunidos na mesma pessoa as características de devedor e de credor daquela obrigação.
Contudo, no nosso Ordenamento Jurídico, à luz dos arts. 868.º e seguintes do Código Civil, a
implementação de um modelo deste tipo não padeceria, do ponto de vista jurídico, deste “erro”
uma vez que se considera que não existe extinção da dívida por confusão sempre que o crédito e
a dívida pertencerem a patrimónios separados, como sucede no modelo desenhado por Richard
Price. Para além disso, do ponto de vista económico importa considerar que a titularidade da
dívida não é indiferente para a implementação de práticas gestionárias da mesma.
Em termos económicos, os efeitos da utilização de uma caixa de Price são também semelhantes
aos das anuidades obrigatórias, com o problema acrescido de que na amortização, o Estado paga
diretamente ao credor; já nas caixas, a caixa vai ao mercado comprar títulos, pelo que aumenta a
procura de títulos no mercado, o que implica que seu preço tenda a subir, ou seja, apresentam uma
clara desvantagem porque podem provocar o aumento da taxa de juro por pressionarem a procura.
Verdadeiramente, só há efetiva amortização se as transferências para a caixa puderem ser pagas
com receitas efetivas – nos casos de excedente orçamental em valor igual ao das transferências
para a caixa.
→ Os saldos orçamentais
No sistema de saldos orçamentais a amortização da dívida é feita com o recurso aos saldos
orçamentais positivos. Tal significa que apenas haverá amortização da dívida nos casos em que a
execução orçamental o permita, ficando a amortização suspensa nos demais casos.
Apesar da sua eficácia, este mecanismo traduz-se numa imprevisibilidade e irregularidade da
amortização, uma vez que não é previsível nem provável que existam superavits orçamentais em
todos os períodos financeiros.
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Entraves:
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• Perdão – pode ser efetuada de forma expressa ou tácita. Os credores podem renunciar
ao seu direito de reembolso;
o art.º 863.º do CC.
• Repúdio – o repúdio da divida pode ser visto como uma recusa por parte do devedor de
pagar juros e encargos da divida (isto só acontece quando há recusa do lado do devedor),
fundamentando a sua decisão na existência de falta de legitimidade da entidade emitente
para vincular externamente o país uma vez que a emissão de dívida não foi devidamente
consentida pelos órgãos representativos ou, tendo-o sido, estes não tinham legitimidade
democrática para o fazer.
Embora correspondam a uma dívida odiosa, o recurso ao repúdio aparece, atualmente, como uma
hipótese cuja mobilização não é possível. Daí que surja a necessidade de criação de regras que
impeçam a concessão de crédito a estados autoritários ou que, sendo este crédito concedido, não
possam os credores vir exigir o seu pagamento ao novo executivo democraticamente eleito.
! Nota a reter: A designação dívida odiosa decorre do facto de estarmos perante uma situação em
que os cidadãos de um determinado país terem estado sujeitos a um regime ditatorial que emitiu,
sem o devido consentimento, dívida pública destinada a financiar despesa que não podia ser
considerada despesa pública e, para além disso, cessado o regime, têm que suportar através das
mais diversas formas, os encargos devidos do pagamento dessa dívida.
1. Novação objetiva – existe uma substituição dos títulos antigos por títulos novos, sendo de
esperar que estes títulos sejam emitidos com novas taxas de juros. Permitindo até ao estado
diminuir a taxa de juro através da conversão da divida antiga em divida nova;
Ao invés de extinguir a dívida o estado pode optar, caso as condições de mercado assim o
permitam, pela substituição dos títulos de uma dívida existente por novos títulos. Em rigor,
podemos dizer que estamos aqui perante uma novação ou roulement da dívida pública, pois há
a constituição de uma nova obrigação em substituição da anterior – cfr. art.º 857.º do Código Civil
–, levando à extinção da obrigação anterior, mantendo-se inalterados o devedor e o credor. Estas
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alterações contratuais podem ter como origem uma conversão voluntária ou uma conversão
forçada.
→ A conversão forçada ocorrerá naquelas situações em que o estado, no uso dos seus
poderes públicos, impõe a redução da taxa de juro ou a alteração de outras condições
contratuais. O credor não tem qualquer alternativa, ficando vinculado às novas condições
contratuais ditadas de modo unilateral. Esta possibilidade só muito dificilmente é
compatível com o princípio pacta sunt servanda previsto no art.º 406.º do Código Civil.
2. Novação subjetiva – Também se verifica uma substituição dos títulos antigo por novos,
mas dá-se uma alteração relativamente aos credores do estado. No entanto, as estipulações
contratuais mantêm-se inalteradas - artigo 858.º CC
3. Novação mista – Esta novação é caracterizada por uma junção das novações
supramencionadas.
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juros e reembolsos. Trata-se de um efeito negativo que não pode ser anulado, embora possa ser
atenuado por via da utilização que é feita do rendimento que foi obtido através do empréstimo.
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rendimento proveniente, mais uma vez, dos particulares, seja através da emissão
de novos empréstimos seja através da cobrança de impostos.
3. James Buchanan apresenta vários argumentos
❖ Rejeita a ideia de que os particulares comprarem divida pública ao estado
se afigura como um sacrifício, já que a cedência de capital é feita de forma
voluntária. O credor renuncia à utilização no presente de uma determinada
quantia porque espera vir a receber no futuro essa mesma quantia acrescida
de uma outra: o juro.
❖ Nem todos os cidadãos são credores do estado e mesmo os que são, não
veem o valor dos impostos que pagam ser “compensado” pelo reembolso
da quantia que haviam mutuado ou sequer pelos juros que recebem. Aceitar
esta compensação seria advogar uma posição idêntica à defendida por De
Viti de Marco quando se refere à extinção da dívida por democratização.
Se analisarmos os efeitos da contração de dívida pública já não numa perspetiva de puro fluxo
financeiro, mas antes tomando em consideração os efeitos que se verificam ao nível do
rendimento e do consumo da geração presente, bem como sobre o rendimento potencial das
gerações futuras e, por esta via, do seu consumo, as conclusões podem ser diversas.
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redistribuídos entre os bens que já estavam a ser produzidos e os bens que vão agora ser
produzidos decorrentes deste aumento da procura pública. Se aumento a produção dos bens X ou
desloco a produção dos outros ou mantenho tudo como está e aumento o preço desse bem.
→ Se houver uma diminuição da procura dos bens de consumo feita pelos privados, a
geração presente vê-se obrigada a adaptar o seu consumo aos novos bens produzidos
ou a renunciar, ainda que parcialmente, ao seu consumo.
Numa situação de pleno emprego, o estado tem de redistribuir os bens de produção
para os adaptar às preferências de consumo dos particulares.
→ Se não provocar uma diminuição dos bens de consumo, mas só uma diminuição nos
bens de capital (ou bens de investimento), então a produção de bens de consumo no
presente não será afetada, não existindo, também, limitação do consumo da geração
presente.
Dito isto, conclui-se que o que importa determinar são as situações em que é de esperar que a
contração de dívida pública provoque a diminuição da provisão privada de bens de consumo ou,
em alternativa, de bens de produção. Tudo dependerá do comportamento da taxa de juro no
mercado.
→ Sempre que o estado emite dívida pública concorre com os privados no acesso aos
fundos disponíveis no mercado. Esta atuação leva, em regra, a um aumento da procura
de fundos, sendo de esperar que a taxa de juro suba. Aumentando a taxa de juro,
diminuirá o investimento privado, mas não será afetada a provisão privada de bens de
consumo.
Situação em que não há pleno emprego de fatores - o aumento da produção de bens por parte
do estado não tem efeitos sensíveis sobre o consumo bens por parte dos privados a não ser
naquelas situações em que a economia se comece a aproximar do pleno emprego. Contudo, este
aumento da procura de fundos por parte do Estado pode ter efeitos sobre o consumo da geração
presente e sobre o rendimento das gerações futuras.
→ Numa situação em que não existe pleno emprego, os aumentos de fundos, de dinheiro,
pode provocar uma subida da taxa de juro. Se tal acontecer, o consumo da geração
presente não será afetado, mas haverá um decréscimo do investimento.
→ Se a taxa de juro de mantiver inalterada, vai manter-se o investimento privado e a
produção de bens de consumo também não será afetada porque há fatores de produção
disponíveis, não sendo de esperar que exista inflação, mas o preço de alguns bens pode
subir.
Note-se que a inflação é o aumento generalizado dos bens e serviços.
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Em jeito conclusivo, podemos dizer que consumo da geração presente só será afetado se existir
pleno emprego e a taxa de juro se mantiver, uma vez que o aumento da procura de bens de
consumo financiada pelas receitas provenientes da emissão de dívida pública vai provocar um
aumento da procura, sem que lhe corresponda um aumento similar da oferta, provocando a subida
generalizada dos preços dos bens e serviços e a redução do consumo.
→ A conclusão será diferente se estivermos perante uma emissão de dívida pública que
provoque uma subida da taxa de juro no mercado subir. Aqui, há uma tendência para a
diminuição do investimento privado com a consequente diminuição da formação bruta
de capital fixo.
Em conclusão, para as gerações futuras, a divida publica será um encargo nos casos em que o
recurso ao crédito provoca um aumento na taxa de juro e a diminuição no investimento privado
que dai decorre não seja compensada com investimento público com pelo menos a mesma
produtividade.
Para a geração presente, o que interessa ter em consideração são os níveis de consumo do presente
enquanto para a geração futura é o consumo futuro.
Mas como o consumo futuro é difícil de prever, podemos analisar o investimento no presente que
irá influenciar esse consumo. Para as gerações futuras interessa se o país consegue aumentar a
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sua capacidade de produção no presente – formação bruta de capital fixo. Pode até acontecer que
o investimento publico tenha maior produtividade que o investimento privado que deixou de ser
feito. Se aumenta a taxa de juro, diminui o investimento privado. Resta saber o que o Estado vai
fazer, substituiu-se com igual, maior ou menos produtividade.
A par dos efeitos sobre o rendimento e o consumo das gerações presente e futura é usual referir
ainda os efeitos que níveis elevados de endividamento podem ter sobre o crescimento e, em geral,
sobre os mercados.
Ao nível da dívida pública há que ter em especial atenção os efeitos que a mesma tem sobre o
crescimento da carga fiscal, mas, também não podemos olvidar que temos tido vários exemplos
de coexistência entre níveis elevados de dívida pública e níveis elevados de crescimento
económico. Mais do que saber a percentagem da Divida Publica em função do PIB é saber a sua
sustentabilidade, saber se o país continua em crescimento económico. Os EUA ou até a Itália têm
um endividamento muito substancialmente maior que Portugal e apresentam taxas de crescimento
económico que nos ultrapassam a olhos vistos.
O que tem sido constatado, contrariamente às teorias que afirmam que um volume de dívida
pública elevado constitui potencialmente um entrave ao funcionamento dos mecanismos
automáticos de estabilização e às políticas públicas contra cíclicas, é que nem sempre um aumento
dos níveis de endividamento público leva a um efeito proporcionalmente inverso nos níveis de
crescimento do PIB. Tem sido possível observar, isso sim, que um dos fatores que mais
condiciona os efeitos do endividamento sobre o crescimento económico se relaciona com o facto
de os credores serem internos ou externos, isto é, se, graças ao endividamento, a economia de um
dado país está muito ou pouco dependente de credores externos.
Esta ideia é realçada nos estudos mais recentes, que colocam a sustentabilidade da dívida soberana
dependente de três condições:
1- Crescimento do PIB nominal
2- Manutenção da taxa de juro efetiva
3- Equilíbrio do Orçamento Primário.
A redução do endividamento tem que começar por se fazer a partir da limitação/diminuição dos
défices orçamentais, apresentando orçamentos equilibrados do ponto de vista primário e,
preferencialmente, superavitários, bem como com a diminuição dos encargos correntes da dívida
pública (vulgo, juros).
Dado que não é possível recorrer quer à desvalorização monetária, quer à implementação de
políticas de controlo da taxa de juro devido às regras da União Europeia estas são as alternativas
viáveis embora possam escolher-se caminhos diversos para as implementar:
26
a dizer que a parcela de dívida pública interna tem aumentado face à dívida externa. Ainda, cerca
de 51% da dívida pública portuguesa ser detida por organismos oficiais (dados de setembro de
2017) e que apenas uma percentagem marginal de cerca de 0,5% do total de mercado da dívida
pública portuguesa ser negociada em mercado secundário. Todos estes fatores agregados levam
a que o risco de Portugal no curto prazo e de longo prazo fossem classificados como baixo risco,
mas a sustentabilidade da dívida e o risco de médio prazo como elevados.
! Nota a reter: De acordo com os dados do Banco de Portugal a dívida externa líquida em 2000 era de
26,4% do PIB, mas em 2014 se cifrava em 107,64%. Já em 2020 esse valor era de 87,45% do PIB e em
2021 de 80,7% do PIB.
Pode perguntar-se porque é que não foi dado um tratamento igual a estes casos à Grécia, durante
a crise das dívidas soberanas de 2008 ou porque é que um tratamento deste tipo não foi dado
aos PIGS (Portugal, Ireland, Greece and Spain) para que pudessem alcançar uma capacidade de
crescimento económico tendo em vista o aumento dos níveis de bem-estar das suas populações.
A principal razão decorre da necessidade de garantir o livre funcionamento do mercado e das
condições de acesso ao mesmo por parte dos estados.
Em 2017, por exemplo, verificou-se a existência de uma enorme disparidade ao nível das taxas
de juro: enquanto as taxas da dívida pública alemã foram reduzidas para valores entre os 0% e
os 5%, nos PED as taxas em 2017 variavam entre os 5,7% e os 11,4%. E, claro, nenhum dos
países foi autorizado a reembolsar a dívida pública externa em moeda diversa daquela em que
havia sido contraída.
27
Há ainda que considerar que os países periféricos, que foram aqueles onde os efeitos da crise
económica mais se fizeram sentir, acabaram por atingir níveis de endividamento público muito
elevados, acrescendo níveis de endividamento privado também eles muito altos. Como seria de
esperar, sendo os fundos disponíveis limitados, este acréscimo de procura de capital levaria a
um aumento da taxa de juro, mas, estranhamente, esse aumento não se comunicaria aos países
do Centro da Europa que conseguiram continuar a financiar-se no mercado a taxas de juro muito
reduzidas. São disso exemplo a Alemanha, a França, os Países Baixos, a Finlândia, o
Luxemburgo, a Áustria e a Bélgica.
Tudo o que acabou de ser referido leva a que se tente encontrar uma resposta para a razão de ser
deste comportamento em economias de mercado. Somos tentados a concordar com Rosa do
Luxemburgo quando afirmava, seguindo as preleções de Karl Marx, que as relações entre as
potências capitalistas se encontram marcadas de forma vincada pela desigualdade e não pela
igualdade de armas.
Independentemente de podermos concordar ou não com essa afirmação, lida por referência ao
contexto atual, há factos que não podem ser negados: níveis elevados de dívida pública
constituem uma grave ameaça para os sistemas económicos nacionais, mas também para o
sistema económico global. E se a este elevado endividamento público acrescermos o elevado
endividamento privado a situação parece ser ainda mais complexa.
Deve a dívida pública ser paga a todo o custo? – o problema da sustentabilidade da dívida
pública
Questões:
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A discussão da primeira questão está ultrapassada, sendo considerado que os estados são, para
estes efeitos, equiparados aos demais devedores, mas a segunda continua por solucionar.
A opção pelo financiamento da despesa pública através do recurso a receitas provenientes dos
empréstimos deve ser excecional, mas aparece habitualmente relacionada com uma escolha:
4. Receitas Efectivas
4.1. Notas introdutórias
As receitas publicas podem ter uma natureza muito diversificada que reflete as várias funções do
Estado.
Habitualmente fala-se de receitas públicas para designar o conjunto de recursos financeiros de
que são titulares as entidades do Setor Administrações Públicas (S.13), recursos esses que podem
ser utilizados para cobrir as despesas dessas mesmas entidades.
Num Estado moderno de economia de mercado assumem especial importância as receitas
efetivas. Trata-se daquelas receitas que aumentam definitivamente o património monetário
líquido do Estado ou aquelas que, permitem aumentar o património monetário do Estado e não
criam, em contrapartida, qualquer encargo monetário presente ou futuro.
Incluem:
29
o Outros tributos
Ficam excluídas:
30
o Património imobiliário: Até finais do sec. XVIII este património imobiliário era a
principal fonte de receita do Estado, tendo vindo a perder importância.
São bens do domínio rural e bens do património imobiliário urbano dos quais pode resultar a
arrecadação de receitas.
Como? O património imobiliário público pode gerar receita, seja através da cedência para
utilizações temporárias e pontuais como sejam a organização de eventos ou, de uma forma mais
duradoura, como seja através da celebração de contratos de arrendamento ou de concessões de
exploração de espaços públicos. Em todos os casos há possibilidade de ser cobrada uma receita
(renda) pela cedência temporária do imóvel. Toda esta cedência tem de ser feita de acordo com o
princípio da boa administração e da onerosidade.
31
4.3. Multas e outras penalidades: Estamos perante receitas não tributárias e não contributivas,
tendo como característica verdadeiramente distintiva o seu caracter sancionatório. Ou seja,
perante receitas que são não só coativas como também sancionatórias, aplicadas na sequência
da prática de um ilícito de mera ordenação social ou de um crime de natureza fiscal, financeira
ou outra. Em termos contabilísticos encontramos aqui englobados os juros de mora, os juros
compensatórios e outras penalidades do não cumprimento tempestivo das obrigações cujo
credor seja o Estado.
Este título de receitas tem uma logica de criação completamente diferente das demais receitas
estaduais, nomeadamente das receitas tributárias, daí estarem excluídas do nosso estudo.
4.4.Receitas tributárias:
1- Taxas
2- Impostos
3- Demais tributos
Recordamos que a cobrança deste tipo de receitas encontra o seu fundamento (genérico) na
existência de um dever de contribuição por parte dos cidadãos para o financiamento da despesa
pública, desde que o poder tributário tenha sido exercido no cumprimento dos princípios
constitucionais que o legitimam e que o limitam.
A doutrina tem distinguido, dentro da categoria dos tributos, as taxas, os impostos e outras figuras
tributárias. No caso português divisão tripartida não encontra apoio nas normas constitucionais,
que apenas reconhece a existência de duas categorias de tributos – as taxas e os impostos –, mas
antes no art.º 3.º da Lei Geral Tributária que, no desenvolvimento das normas constitucionais,
subdivide os tributos em impostos, taxas e demais contribuições financeiras a favor de entidades
públicas.
Porque é que esta distinção é importante? Esta distinção assenta nas disposições contidas nos arts.
102.º e ss. e no 165.º, n.º 1 al. i) da CRP, bem como nos arts. 3.º e 4.º da LGT e tem relevo, entre
outros, na escolha do parâmetro de determinação do fator de determinação da base de incidência,
na titularidade ativa e passiva da relação jurídica tributária e nas garantias dos contribuintes.
O regime constitucional presente no art. 165, nº1 al. i) da CRP, estabelece a reserva de lei formal
para os designados elementos essenciais dos impostos e para o regime geral das taxas,
estabelecendo ser da competência de reserva relativa da AR, exceto se esta tiver autorizado o
Governo a legislar sobre essa matéria fixando ainda assim, a forma e os limites como esta
autorização tem de ser exercida.
Este regime constitucional permite-nos dizer, para esta perspetiva, podemos distinguir entre:
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No direito do urbanismo há muitos impostos com causa, com muita dificuldade de se distinguir
se são laterais ou bilaterais.
1- Taxas
As taxas são definidas como uma quantia coativamente paga pela utilização individualizada de
bens semipúblicos ou como o preço autoritariamente fixado de tal utilização. - J. J. Teixeira
Ribeiro, “Noção Jurídica de Taxa”,
É uma receita:
o tributária,
o pecuniária, uma vez que tem de ser paga em dinheiro ou equivalente legal,
o coativa,
o ex lege, porque a sua obrigação de pagamento decorre diretamente de ato normativo
o bilateral, ou seja, o pagamento de uma taxa apenas pode ser exigido nos casos em que
exista uma contraprestação especifica decorrente da utilização individualizada
▪ de um bem semipúblico ou de um bem de domínio publico
▪ da prestação concreta de um serviço publico ou
▪ da remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares.
O obstáculo que aquela taxa remove tem de ser um obstáculo real, que permita a utilização de um
bem semipúblico.
Exemplos em que é duvidoso:
• Licenciamento para que se coloque nos Santos Populares vasos nos peitoris das janelas a
pender sobre o passeio. Além da remoção do obstáculo jurídico, tem de haver fiscalização
e, para além disso, o espaço aéreo acima do passeio já é um espaço público.
• Licenciamento para que se coloquem reclames/outdoors nas autoestradas, uma vez que
num outdoor específico notou-se que este transtornava a condução causando acidentes de
trânsito.
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Ou seja, tem de ser um obstáculo real, que exija uma atividade da administração para verificar as
condições de acesso a um bem semipúblico.
Quais podem ser as finalidades das taxas?
2- Impostos
Constituem efetivamente a maior fonte de receita estadual na generalidade dos estados fiscais e
são definidos como uma prestação coativa, unilateral, definitiva, a suportar pelos detentores de
capacidade contributiva e que é pago a favor de entidades que exercem funções públicas por
forma a financiar a realização dessas funções.
No caso dos impostos não existe uma contraprestação especifica, mas apenas uma contraprestação
genérica que se vai materializar nos benefícios que cada um recebe da atividade estadual. A
fixação do valor do imposto tem em conta o princípio da capacidade contributiva, mas pode
também ter em consideração outras finalidades, sendo habitual definir-se entre
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Conceitos a reter:
Matéria coletável (m.c.) corresponde à manifestação de capacidade contributiva
definida para cada tipo de imposto;
Taxa do imposto ou alíquota (t), representa o coeficiente a utilizar para a determinação
da coleta do imposto;
Coleta (c) corresponde ao valor do imposto a entregar nos cofres do Estado e calcula-
se multiplicando a taxa ou alíquota do imposto pela matéria coletável (c = m.c. x t).
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Impostos de quota fixa ou impostos específicos - aqueles em que a lei determina o valor
da coleta, em dinheiro, sem que o mesmo varie em função da matéria coletável.
Em rigor não podemos falar aqui em taxa formal do imposto, embora seja possível determinar a
taxa efetiva do imposto, dividindo a coleta pela matéria coletável (t = c/m.c.)
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Impostos gerais - aqueles que estão previstos na lei para toda uma categoria homogénea
de situações;
Impostos especiais - são aqueles que, respeitando embora a factos e situações abrangidas
genericamente no primeiro grupo, são objeto de uma disciplina jurídica especial.
37
38
5. Sistemas de Tributação
Existe uma necessidade tributária da totalidade do rendimento, o que nem sempre é possível, uma
vez que há alguns benefícios – “fringe benefits’’ –, que é rendimento não monetário, porque são
benefícios relacionados com a prestação de trabalho, mas que não são rendimento acessório, nem
são consideradas suplementos de salário.
Importa ter desde logo em consideração que num sistema tributário encontramos agregadas quer
as receitas provenientes dos tributos bilaterais – maxime, as taxas – e os tributos unilaterais ou
impostos. A fixação do valor das taxas é feita, como já tivemos oportunidade de referir, tendo por
base o princípio do benefício diversamente do que sucede no caso dos impostos em que o
princípio que rege a sua fixação é o da capacidade contributiva.
• Proporcional
• Progressivo
• Regressivo
→ Imposto proporcional é aquele em que se exige uma fração constante da matéria coletada,
ou seja, é o imposto em que a taxa aplicada é sempre a mesma e não varia
independentemente do comportamento da matéria coletada. Costuma também dizer-se que
neste tipo de impostos a taxa média e a taxa marginal são iguais.
o A taxa média do imposto representa a razão (ou relação) entre a coleta do imposto
e a matéria coletável.
o A taxa marginal representa a relação entre o acréscimo da coleta a pagar por cada
fração adicional da matéria coletável.
→ Imposto progressivo, é exigida uma fração crescente da matéria coletável, ou seja, a taxa
do imposto varia no mesmo sentido da variação da matéria coletável. Assim sendo, a taxa
marginal do imposto que é suportado ao abrigo de matéria coletável é superior à taxa média.
→ Imposto regressivo o Estado exige uma fração decrescente da matéria coletável o que faz
com que a taxa do imposto varie em sentido inverso ao da variação da matéria coletada e a
taxa marginal é inferior à taxa média do imposto.
Podemos ter impostos que formalmente pertencem a um destes tipos, mas que materialmente se
enquadram num outro tipo de impostos. Um imposto pode ser proporcional em relação à matéria
coletável, mas regressivo ou progressivo face ao rendimento total do contribuinte.
Exemplo 1: Isto acontece no imposto sobre o tabaco constituído por aquelas duas taxas,
pois é uma taxa sobre a coisa (art. 103º do código dos impostos especiais sobre o
consumo). Há uma certa progressividade pela incidência da taxa ad valorem, que varia
em função do preço, e depois tem a taxa ad rem que varia em função da quantidade da
coisa.
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Exemplo 2: Pode suceder que, no IRS por exemplo, existam elementos proporcionais no
contexto da tributação, em taxas liberatórias, pois o IRS é progressivo, mas no âmbito das
taxas liberatórias ele passa a ser proporcional onde passa a ser um imposto real que tributa
a matéria tributável sem ter em conta qualquer característica pessoal do contribuinte
A conjugação destes conceitos no sistema fiscal é essencial para alcançar a justiça e a equidade
e, a forma como a igualdade foi entendida ao longo dos tempos tem variado.
No período Pós-Revolução Francesa, a igualdade (a qual era essencialmente material) consistia
em que todos pagassem impostos, entendia-se à época que a maior igualdade era em sentido
formal, através de um sistema proporcional que apresentou desde logo diversas falhas.
Mais tarde, em inícios do seculo XX, começou a ideia de diferenciação de um sistema
progressivo, que permitiria arrecadar mais receita, uma vez que a taxa aumentava ao aumento da
matéria coletável e permitia a redistribuição de rendimentos. Habitualmente, até se discutia qual
a melhor forma de igualdade, assunto este que perdeu importância ao longo dos tempos.
! Nota a reter: A título de curiosidade podemos referir que os primeiros impostos sobre o
rendimento introduzidos no Reino Unido eram proporcionais e só mais tarde é que viriam a ser
criados impostos progressivos, enquanto nos Estados Unidos da América foram desde sempre
progressivos. Esta divergência pode ficar a dever-se, apenas, ao facto de estes últimos terem sido
introduzidos mais tarde e faz diferenças face ao seu cálculo
Considera-se a forma mais simples de determinação da matéria coletável, quer porque não
enferma dificuldades de definição quer porque da sua aplicação prática não resultam quaisquer
problemas. A norma fiscal fixa uma taxa invariável que funcionará como coeficiente, sendo a
coleta calculada através de uma operação matemática simples de multiplicação dessa taxa
(formal) do imposto pela matéria coletável.
A utilização de um imposto proporcional na tributação direta mostra-se difícil de compatibilizar
com o princípio da igualdade tributária, impulsionando a introdução de uma isenção de base que
corresponde ao limiar de subsistência, remodelação esta que transformará este imposto num
imposto de outra espécie – um imposto progressivo por dedução - como teremos oportunidade de
ver mais adiante, habitualmente apelidado de flat tax.
→ Imposto progressivo
Num imposto progressivo a taxa do imposto acompanha o sentido de variação da matéria
coletável e a taxa média do imposto é inferior à taxa marginal.
A progressividade surge associada a intenções de realização de maior igualdade social, os
impostos não foram sempre progressivos, isto só nasceu no “caos e improviso” da guerra. Foi
também por aqui, que o capitalismo sobreviveu de forma a tentar combater a ideia de igualdade
do comunismo. Outras razões que justificam a progressividade:
- Económicas: a progressividade a nível económico prende-se com a ideia de que o rendimento
possui uma utilidade que diminui com cada unidade adicional. Quem ganha mais 100 difere de
utilidade para pessoas de rendimento de 1000 ou de 100000. O princípio da igualdade exige que
40
os sacrifícios resultantes dos impostos sejam distribuídos por um critério materialmente justo, e
para isto, o critério tem de considerar a utilidade do rendimento.
- Do plano teórico: a progressividade considera que a tributação não é apenas um direito de
agressão ao património privado, não é apenas um direito do Estado de tributar receitas coativas
aos privados, o imposto é também um direito de repartição, o imposto e os tributos visam repartir
justamente os encargos do Estado pelos contribuintes. A progressividade faz com que a tributação
não vise apenas agredir o património privado, mas sim tente garantir redistribuição de igualdade.
- Estado Social: a progressividade também se justifica pela afirmação do Estado social, é ela que
proporciona o maior nível de distribuição de riqueza entre as formas de tributação. O estado social
custa dinheiro, e a progressividade permite que sejam aplicadas taxas mais altas do que nos
proporcionais, arrecadando assim mais receita. A progressividade é um fim extrafiscal que o
Estado social tem de maneira a não só financiar-se, mas também a promover igualdade
5.2. Os vários ripos de impostos progressivos (matéria não obrigatória para prova escrita)
→ Progressão contínua
Na progressão contínua a taxa do imposto é variável e aumenta com o mínimo aumento da matéria
coletável.
Problemas:
▪ Não podemos desenhar um imposto a que a qualquer aumento, mesmo que residual da
matéria coletável, corresponda um aumento, também ele infinitesimal da taxa do imposto
– por razões de praticabilidade
▪ Não podemos também, por razões de coerência lógica, criar um imposto em que a taxa
se aproxime ou atinja os 100%, sob pena de o imposto se converter em confisco.
É ainda necessário determinar qual a percentagem máxima de rendimento que pode ser entregue
ao Estado a título de imposto e, também aqui por razões de coerência lógica, se torna defensável
que esta possa ultrapassar os 50% fazendo com que aqueles que teriam um rendimento superior
ao dos demais antes da tributação ficassem com um rendimento disponível inferior ao rendimento
disponível dos demais. Isto é, a hierarquização de rendimentos existente antes e após a tributação
deve manter-se após a tributação, ainda que a desigualdade entre os rendimentos seja esbatida.
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À medida que a matéria coletável aumenta, o peso do valor da dedução na matéria coletável total
vai decrescendo, tornando este imposto num imposto quase proporcional para rendimentos
muito elevados, tal como sucede, por razões diversas, na progressão contínua.
Esta modalidade de progressão relega para um campo meramente residual a questão da não
tributação dos rendimentos abaixo do limiar de subsistência, bastando que o desenho da norma se
tenha em consideração esse valor ou um valor aproximado deste. Tendo em consideração que a
taxa efetiva do imposto nunca atingirá o valor da taxa formal do imposto. Para rendimentos mais
elevados o imposto vai-se tornando quase proporcional, facto este que é bem visível na tabela que
se segue:
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A coleta deste imposto pode ser calculada de acordo com três metodologias distintas:
1. Mediante a divisão da matéria coletável em duas parcelas
a. uma, igual ao limite do maior dos escalões que nela couber, à qual se aplica a
taxa média correspondente a este escalão, e outra, igual ao excedente, a que se
aplica a taxa marginal respeitante ao escalão imediatamente superior, somando-
se posteriormente os dois valores apurados.
2. Dividindo a matéria coletável em tantas parcelas quantos os escalões que nela cabem
a. aplicando-se a cada uma delas a taxa própria do respetivo escalão, sendo a coleta
dada pela soma dos produtos de cada uma dessas coletas parciais
Atente-se ao caso português, cujo cálculo se realiza através deste último método, conforme
constante do nº2 do artigo 68º do CIRSS.
43
→ Imposto regressivo
O Estado exige uma fração decrescente da matéria coletável. A taxa do imposto varia em sentido
oposto à variação da matéria coletável e a taxa marginal é inferior à taxa média do imposto.
Podemos encontrar um exemplo de imposto direto regressivo em Inglaterra no séc. XIV, imposto
este que não terá sido implementado e, entre nós, a dízima militar que configura a primeira forma
de imposto direto ad valorem.
Estamos perante um imposto cuja taxa desce na exata proporção do aumento da matéria coletável,
isto é, estabelece-se entre a matéria coletável e a taxa do imposto (alíquota) uma relação de
proporcionalidade simples inversa, o que é conseguido de uma forma bastante simples: a norma
fixa uma coleta a suportar por cada contribuinte, sendo a taxa efetiva do imposto determinada
pela divisão do valor da coleta pelo valor da matéria coletável.
O sistema tributário ideal é a conjugação de vários tipos de tributos, bilaterais e unilaterais, taxas
e impostos, e dentro dos impostos também eles de vários tipos, para permitir atingir um leque
mais abrangente de capacidade contributiva e corrigir mutuamente as deficiências de cada tipo de
imposto. Todos concordam que os sistemas tributários devem ser justos, mas não existe consenso
sobre as características que um sistema fiscal deve assumir para que possa ser considerado justo.
Mas habitualmente é dado especial atenção à própria legitimação do poder tributário dos estados
e à definição de justiça e equidade. A concretização prática destes conceitos tem sofrido alterações
ao longo dos séculos sendo influenciada pelas teorias económicas dominantes em cada período.
Atualmente é consensual que um sistema de tributação progressivo cumpre os requisitos para ser
considerado um sistema justo, embora se considere que um sistema proporcional pode, em certa
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medida, dar cumprimento a esse desiderato. Apenas um sistema regressivo não é capaz de cumprir
essa função.
Em suma, O que se pretende, ao falar em sistema fiscal justo, é um sistema que permita atingir os
objetivos económicos e sociais traçados com a menor perda de bem-estar por parte daqueles que
têm que suportar o pagamento dos impostos ou seja, contribuir para que o impacto económico da
despesa pública financiada por empréstimos seja o menor possível, com base numa ideia de
eficiência e eficácia.
Por forma a responder a esta questão, Adam Smith formulou as “quatro máximas dos impostos”:
1. Capacidade para suportar o encargo do imposto
2. Certeza
3. Conveniência de pagamento
4. Economia de Cobrança
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Embora do ponto de vista teórico seja possível desenhar um sistema económico justo e neutral, a
realidade dos últimos tempos leva-nos também a questionar se os índices de capacidade
contributiva não estão eles próprios a mudar. A tendência atual para concentrar a tributação em
realidades físicas, têm demandado a introdução de algumas alterações nos sistemas fiscais, mas a
erosão das receitas tem funcionado em sentido contrário, por forma a atrair as pessoas físicas e as
atividades empresariais com forte conexão física a um território para que seja possível obter
receitas suficientes para o financiamento das atividades estaduais.
5.3. Repensar o imposto sobre o rendimento
A aplicação combinada dos impostos no nosso sistema fiscal leva-nos a algumas conclusões:
46
→ Repercussão
À alteração dos preços dos bens e dos factores que resulta de um imposto chamamos repercussão
do imposto:
• Temos repercussão para a frente quando há uma subida do preço por efeito do imposto,
significando que é o comprador que suporta o imposto, por via da subida do preço que
ele paga.
• Repercussão para trás significa que é o vendedor que suporta o imposto, através da
redução do preço que ele recebe.
! Nota a reter: a incidência económica refere-se sempre a pessoas físicas. Como já vimos, só
as pessoas físicas podem suportar o sacrifício dos impostos. As pessoas colectivas não fazem
qualquer "sacrifício", pelo que não tem sentido dizer que uma pessoa colectiva suporta um
imposto.
47
Relembrar
• a procura é elástica quando o quociente obtido seja maior que um. Neste caso, se o
preço aumentar, existe uma descida mais que proporcional na quantidade procurada
• a procura é inelástica quando o quociente obtido é menos do que um. Aqui, uma subida
do preço leva a uma diminuição menos que proporcional na quantidade procurada e,
consequentemente, a receita total do empresário aumentará se este subir o preço
• Procura com elasticidade unitária se o quociente obtido for igual a um. Neste caso, uma
variação no preço leva a uma variação idêntica, mas em sentido oposto da quantidade
procurada
• a elasticidade é igual a zero denomina-se por elasticidade absolutamente inelástica.
Aqui verifica-se que o aumento do preço não influencia a procura, pelo que esta é
indiferente a variações de preço – a procura é rígida
Estão reunidas as condições para que a repercussão para a frente atinja os seus objectivos nos
casos em que a elasticidade da procura seja zero, absolutamente inelástica. O vendedor pode subir
o preço do imposto sem afetar o preço do produto sem que a procura seja afetada.
Tendencialmente, os impostos especiais de consumo são repercutiveis na sua totalidade,
precisamente porque incidem sobre bens de compra inelástica. O mesmo acontece com o IVA,
mas por razões diferentes. O IVA é um imposto geral sobre o consumo, em que os consumidores
não têm alternativa livre do imposto.
Quanto aos impostos sobre o trabalho, em regra, a tributação direta é suportada pelo trabalhador,
mas há um fenómeno de repercussão regressiva no caso das contribuições para a SS, por parte
das entidades patronais - Em Portugal, como em muitos países, a incidência legal destas
contribuições está repartida entre trabalhador e empregador. Isto quer dizer que, do seu salário
bruto, o trabalhador paga uma percentagem para a SS. E que o empregador, além do salário bruto,
paga também uma percentagem deste para a SS (sendo a soma destes dois valores o custo do
trabalhador visto do ponto de vista do empregador).
Convém, ainda, distinguir entre:
▪ Repercussão total – há uma transferência da totalidade do encargo tributário do contribuinte
de direito para o contribuinte de facto.
Antes do imposto são vendidas 20 unidades do bem, ao preço de 10 unidades monetárias,
recebe 200 o vendedor. É criado imposto específico sobre cada unidade de 10, sendo uma
procura inelástica, o vendedor sabe que pode subir na proporção do imposto, podendo
subir de 10 para 20 o preço de cada unidade. Destas novas 400 unidades monetárias, o
vendedor fica com mesmo lucro, o comprador paga mais (paga a totalidade do imposto)
e o vendedor apesar de receber um aumento de preço não fica com ele pois o entrega ao
Estado.
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▪ Repercussão Nula – Não há transferência de encargo tributário. Existe nos casos em que a
elasticidade da procura é 1 ou infinitamente elástica, ou seja, só há procura a um
determinado preço, não há possibilidade de haver repercussão pois o contribuinte de direito
não consegue passar para o de facto. Por outro lado, quando a elasticidade é igual a 1, se o
vendedor aumentar o preço vai ter uma diminuição na procura na mesma proporção
→ Remoção
Atividade levada a cabo pelo contribuinte para aumentar a sua matéria coletável por forma a ficar
com o mesmo rendimento disponível que tinha antes da incidência de imposto. O encargo do
imposto é completamente irremissível.
Exemplo: um explicador trabalha 6h/dia e recebe 5000/mês, sem qualquer imposto. Imagine-se
que passa a incidir um imposto de 20% sobre este rendimento. Em prática, por cada hora de
trabalho, recebe menos 20%, mas cada hora de descanso, acaba por ficar muito mais barato. Tem
duas hipóteses: pode aumentar o seu rendimento para absorver total ou parcialmente estes 20%
de imposto (efeito rendimento) ou, como a diminuição do “preço” de cada hora d descanso passa
a ser um incentivo ao aumento da sua procura, passa a trabalhar menos porque o descanso fica
mais barato (ao invés de perder 5 mil por cada hora que não trabalha, perde só 80% desses 5 mil).
Partindo do pressuposto que não há Segurança Social, conseguimos através de dois mecanismos
gráficos, da curva em foice e em S perceber o efeito rendimento ou efeito substituição.
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→ Encargo excedente
Diminuição adicional de bem-estar pelos contribuintes que não se traduz diretamente nem no
efeito rendimento nem no efeito substituição. Mas que decorre diretamente do pagamento do
imposto. É apenas uma perda de bem-estar, traduz-se num comportamento que não implique um
custo monetário.
Exemplo: Em Portugal, os automóveis com apenas dois lugares (os chamados "comerciais
ligeiros") são tributados de forma mais leve do que os restantes automóveis. Muitos dos
adquirentes deste tipo de veículos fazem-no para evitar o pagamento de um imposto mais elevado.
Todavia, estas pessoas, na ausência de impostos, prefeririam comprar um automóvel com 5
lugares. Elas estão então a suportar uma diminuição do seu bem-estar - concretamente, a
diminuição que decorre da ausência do banco traseiro.
→ Descapitalização ou amortização
Perda de valor capital nos bens de produção de duradouros em consequência da criação (ou
aumento da taxa) de um imposto sobre o seu rendimento ou sobre o próprio bem, quer o bem
venha ou não a ser transacionado. Temos bens que são meios de produção duradouros (imóveis,
terrenos, máquinas, p.e.), criado um novo imposto que tributa o rendimento desse bem ou
aumentado a taxa de um já existente.
Exemplo: O Senhor A é proprietário de uma quinta que utiliza para uma produção de maçãs e
cujo rendimento anual é de 1000€. Sobre este rendimento obtido não incide qualquer imposto. O
António quer vender a quinta, sabendo que a taxa de juro no mercado é de 5%. Qual o valor
capital da quinta?
Resposta: Através de fórmula matemática, dividindo o rendimento pela taxa de juro corrente no
mercado (a mesma fórmula que usamos noutras aplicações financeiras). O resultado é 20000,
porque é indiferente a aplicação financeira, a decisão vai depender de outros fatores para alem da
rentabilidade.
Imaginando agora que sobre o rendimento da quinta é criado um imposto à taxa de 20%. Será que
o valor capital da quinta se mantém inalterado ou sofre uma diminuição? Partindo do pressuposto
50
que a taxa de juros corrente do mercado e todas as restantes condições económicas se mantêm
(ceteris paribus), qual será o novo valor da quinta?
O rendimento da quinta diminui uma vez que baixa para 800 (20% de 1000), sendo que,
transacionada, passa a valer 16000. Não obstante, o rendimento bruto continua igual (usando a
mesma fórmula e razão que vimos em cima).
Porque é que o valor desceu? Antes da incidência do imposto o rendimento gerado pela quinta
era 1000€. Posteriormente, mesmo continuando a retirar 1000€ de rendimento da quinta, tem de
entregar 200€ ao Estado a título de imposto. Então, o rendimento líquido da quinta desceu para
800€.
O doutor Teixeira Ribeiro diz que a amortização é uma espécie de repercussão regressiva (o
comprador transfere para o vendedor pois paga menos, o vendedor tem de aceitar receber menos
pois caso contrário não a vendia) dos impostos pois o valor só altera no momento de transação.
Já o doutor Aníbal Almeida diz que a amortização é um efeito económico dos impostos diferente
da repercussão regressiva uma vez que se verifica independentemente do bem ser transacionado
ou não. Desde a criação do imposto, a quinta fica efetivamente a valer menos, desvaloriza, o
rendimento da quinta diminui se for ou não transacionada.
→ Elisão fiscal
O contribuinte escolhe para materialização de uma realidade ou uma operação económica uma
veste jurídica diferente com o objectivo de obter uma maior poupança fiscal. Esta alteração de
comportamento tem apenas por base razões fiscais, mas não é uma violação da lei. Utilizam-se
meios lícitos que tentam evitar o surgimento do imposto. Pressupõe-se aqui, portanto, a
comparação entre uma situação hipotética – a configuração jurídica do acto que corresponderia
ao comportamento racional do agente económico na ausência de imposto – e a configuração
efectivamente empregue.
A elisão fiscal é um comportamento lícito - não envolve a violação de deveres jurídicos - mas
põe em causa o princípio da igualdade tributária, na sua vertente de igualdade horizontal. Na
verdade, a elisão significa que uma mesma realidade económica será tributada de maneira
diferenciada, consoante a forma jurídica escolhida. Além disso, reduz a receita fiscal do Estado.
Todavia, como vimos, a escolha da forma jurídica para uma operação faz parte da liberdade do
contribuinte, e não é em geral censurável que ele se oriente por motivos de poupança fiscal.
Assim, só haverá sanção contra a elisão quando esta configure um abuso dessas formas jurídicas,
uma verdadeira fraude à lei fiscal. Abuso que, segundo a doutrina, existe quando haja afastamento
da “forma negocial normalmente escolhida” para a obtenção daquele resultado económico,
resultando a elisão da utilização de “«processos insólitos», «formas anormais», «formas
inusuais», ou «formas inadequadas»”.
No nosso ordenamento jurídico, a elisão fiscal é combatida pela existência de normas anti-abuso.
A reacção da ordem jurídica perante a elisão fiscal é a desconsideração da caracterização jurídica
dos factos feita pelo contribuinte. A administração fiscal vai ignorar a forma jurídica escolhida
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pelo contribuinte e tributar o facto como se ele tivesse sido praticado sob uma outra
caracterização. Estas normas anti-abuso dividem-se em normas especiais (prevendo um
específico comportamento elisivo, e as respectivas consequências fiscais) e norma geral (ou
cláusula geral anti abuso). A segunda tem sede no art. 38º, nº2 da Lei Geral Tributária.
→ Evasão fiscal
Comportamentos ilícitos, ou seja, contrários à lei, onde o sujeito passivo viola deveres jurídicos
para tentar diminuir o montante de imposto a pagar.
O tipo mais frequente de evasão fiscal é a violação dos deveres de declaração por parte do sujeito
passivo, por exemplo não declarando certos rendimentos auferidos ou fornecendo elementos
falsos acerca de despesas efectuadas. A consequência jurídica da evasão fiscal (se detectada, como
é óbvio) é o pagamento do imposto devido. Além disso, haverá eventualmente, sanções pela
prática do acto ilícito. Dado o princípio da tipicidade das infracções, nem todo o comportamento
ilícito terá necessariamente como consequência uma sanção penal ou contraordenacional. Assim,
dentro dos actos de evasão contra legem, devemos ainda autonomizar os que constituem infracção
fiscal.
7. A política de redistribuição
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exigindo a prévia contribuição para o financiamento do sistema através das quotizações – arts.
54.º, 56.º, 61.º e 90.º n.º 2 LBSS. O acesso aos benefícios fica dependente da inscrição dos
trabalhadores no sistema, e do cumprimento das obrigações contributivas durante um determinado
lapso de tempo – período de garantia.
Por contraposição, nos regimes não contributivos, a finalidade prevalecente é a redistribuição
de rendimentos. Não obstante o âmbito de aplicação material poder ser semelhante ao do regime
contributivo, este funciona numa lógica diversa. O que aqui se pretende em primeira linha é
fornecer aos indivíduos rendimentos que permitam prevenir e erradicar situações de carência
económica – arts. 26.º, 29.º, 36.º, 40.º e 90.º n.º 1 LBSS. O acesso aos benefícios (pensões) não
fica dependente de inscrição no sistema nem envolve o pagamento de contribuições, sendo antes
determinado tendo em consideração os recursos do agregado familiar.
Os regimes de segurança social com finalidade essencialmente redistributiva
As mais importantes políticas redistributivas da Segurança Social enquadram-se no chamado
subsistema de solidariedade, que abrange o regime não contributivo, o regime especial de
segurança social das atividades agrícolas, os regimes transitórios ou outros formalmente
equiparados a não contributivos e o rendimento social de inserção.
Os meios de acesso e âmbito de cobertura pessoal, destinam-se quer a colmatar as lacunas do
regime previdencial, quer a potenciar a inserção dos mais desfavorecidos, bem como a garantir
os direitos essenciais por forma a prevenir ou erradicar situações de pobreza e de exclusão. Este
é mobilizado em situações de falta ou insuficiência de recursos económicos dos indivíduos e dos
agregados familiares para a satisfação das suas necessidades essenciais – nomeadamente
situações de invalidez, velhice ou morte e para a promoção da sua progressiva inserção social e
profissional. Atua ainda em casos de insuficiência das prestações substitutivas dos rendimentos
da atividade profissional, por referência aos valores mínimos fixados, podendo ainda abranger
os encargos resultantes da isenção, redução ou bonificação de taxas contributivas e de antecipação
da idade de reforma.
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Contudo, muitas vezes acontece que a expansão cessa antes de os braços estarem todos ocupados:
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→ Aumento das despesas em subsídios e auxílio aos mais pobres para estimular o
poder de compra
→ Reduzir os impostos sobre os rendimentos,
o Vale notar que só se verifica um aumento no consumo se se considerar
permanente a redução do imposto.
• O caso da inflação-procura
Vencida a depressão, invertido o movimento, entra-se em nova fase de prosperidade,
começando a reabsorver o desemprego.
Enquanto há pessoas sem trabalho, o aumento da procura global provoca aumento
correspondente da produção sem aumento (ou até ligeiro) dos custos. Contudo, à medida que
se aproxima o pleno emprego, o aumento da procura provoca um aumento da produção que
passa a fazer-se a custos crescentes:
o Maiores salários
o Recurso a trabalhadores menos capazes
Assiste-se, portanto, à inflação. Com ela perdem os titulares de rendimentos fixos (pensionistas,
renditas, etc.), os credores a longo prazo e os trabalhadores e ganham os devedores a longo prazo
e os titulares de rendimentos variáveis (os empresários)
O que pode o Estado fazer?
A inflação foi desencadeada pelo aumento da procura global – aumenta a oferta a custos
crescentes e consequentemente os preços. Há então que refrear a procura.
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Trade-off inflação-desemprego
Em face a este desfasamento o Governo tem de proceder a uma arbitragem – trade-off – entre as
duas realidades. Quer isto dizer que tem de optar ou por menos inflação e mais desemprego ou
menos desemprego e mais inflação.
Ora, numa situação próxima do pleno emprego, a diminuição da inflação vai corresponder a níveis
irrisórios de desemprego. Porque o aumento da procura vai-se refletir mais na subida dos preços
do que propriamente na diminuição da produção. Então, qualquer diminuição da procura vai fazer
com que a inflação desça mais do que a produção e, por isso, que o emprego.
Contudo, pode haver atrasos nas políticas financeiras e quando as medias que restringem a
procura sejam implementadas, já se tenha esgotado a fase da prosperidade e estejamos a entrar
em depressão pelo que as medidas podem até agravar o muito desemprego já existente.
• O caso da inflação-custo
Os preços sobem porque sobem os custos, estes sobem porque aumenta a produção a produção
aumenta porque aumenta a procura.
A subida dos custos é, então, motivada pela subida da procura.
Contudo, os custos também podem subir autonomamente:
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