Trabalho Politica Educativa
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ISEC/Lisboa
Programa Rede das Bibliotecas Escolares (PRBE)
Índice
1- Enquadramento do trabalho
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Programa Rede das Bibliotecas Escolares (PRBE)
1. Enquadramento do trabalho
A ação pública como definida por Thoenig (1997, p. 28) é “a maneira como uma sociedade
constrói e qualifica problemas coletivos e elabora respostas, conteúdos e processos para abordá-
los”. Com esta definição vemos que são os atores que elaboram as políticas públicas e rompem
com alguns conceitos (Lascoumes & Le Galès (2007)) para a reconceptualização da decisão
política. Por exemplo, podemos afirmar que o Ministério da Educação, com as suas políticas
educativas, irá orientar a ação política da Educação. Com a ação pública, temos um
redimensionamento do espaço, isto porque: a) os atores sociais são dotados de autoridade em
matéria de políticas públicas e atores sociais inseridos noutros contextos sociais organizados
(sindicatos, comunicação social, por exemplo) que participam nos debates públicos sobre políticas
educativas e influenciam o seu percurso. Isto traz como resultado um papel do Estado que fica
relativizado devido a heterogeneidade dos atores, o que torna a acção pública sensível.
Podemos afirmar que as políticas públicas servem para objetar a ação pública, quer nas suas
determinantes, finalidades, procedimentos e consequências.(Faure; Pollet & Warin, 1995a). Desta
forma, a acção pública engloba as políticas públicas e provoca alterações tanto nas perspectivas
como no foco dessas mesmas políticas, porque: a) há uma ampliação dos contextos de ação e de
atores; b) rutura com visões lineares e verticais das políticas públicas.
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Em suma, poderemos definir que a política educativa (que se encontra num referencial setorial
social) é um dispositivo que organiza relações sociais específicas entre a autoridade pública
(Ministério da Educação)e os seus destinatários (Professores). Temos visto, ao longo destes últimos
anos, mudanças na educação pública em Portugal em que esta sofreu, directa ou indirectamente,
influências de vários contextos políticos e culturais. Assim, a ação pública se baseia numa análise
de compreensão das políticas educativas, onde se exige a exploração dos contextos sociais,
políticos, económicos, culturais e ideológicos. Estas dimensões são abordadas como componentes
de uma dinâmica social, onde poderão ser produzidas e realizadas inovações sócio-políticas em
educação.
Antes de entrar neste segundo ponto, considero essencial definir o conceito de regulação.
Apesar de haver várias definições, isto é, ser um conceito com uma pluralidade de significados,
optei pela definição de Barroso (2005), que afirma que a regulação é “um processo constitutivo de
qualquer sistema e tem por principal função assegurar o equilíbrio, a coerência, mas também a
transformação desse mesmo sistema”.
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As três entradas analíticas das políticas públicas baseiam-se em: Atores, Instituições/
Dispositivos e Representações/Referenciais. No que respeita aos atores envolvidos nas políticas
públicas, têm um carácter heterogéneo. São indivíduos, grupos ou organizações que exercem um
domínio direto ou indireto sobre determinado assunto/política, em períodos de tempo diferentes.
São estes atores diversos que influenciados por interesses, ideologias e vários objetivos que muitas
das vezes leva a conflitos entre os pares e que mais tarde nasce as várias políticas publicas que
conhecemos hoje. É importante numa análise de uma política publica distinguir os atores públicos e
privados. Os atores públicos são os que exercem funções públicas, temos por exemplo os políticos.
No setor privado temos os empresários. Estes atores, que podem ser individuais ou coletivos,
exercem uma grande influência nas políticas públicas porque são os que produzem, são os que
estão nos centros de decisão dos sectores da atividade económica. Estes atores privados podem
constituir lobbies para pressionar os atores públicos. Outros atores que podemos encontrar, são os
trabalhadores em que podem constituir sindicatos, como haver a concertação social e a contratação
coletiva, o que pode levar a alterações nas políticas publicas. Os atores internacionais também
influenciam os atores nacionais, como por exemplo o Banco Mundial, a OCDE. E por fim, não nos
podemos esquecer de outro ator importante que são os média. Estes últimos não são menos
importantes que os outros atores citados, porque têm a capacidade de alterar a ação de outros
atores: por exemplo a televisão, os jornais que podem canalizar as opiniões das massas populares.
Toda a influência que cada ator pode ter numa política pública é causada pelo nível, momento e
recursos em que esses atores se encontram.
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O tema que irei apresentar é sobre a política ‘Programa Rede das Bibliotecas Escolares’
(PRBE) que teve como objetivo inicial “instalar e desenvolver bibliotecas em escolas públicas de
todos os níveis de ensino, disponibilizando aos utilizadores os recursos necessários à leitura, ao
acesso, uso e produção da informação em suporte analógico, eletrónico e digital” (Portugal,
2017). Desta forma, podemos afirmar que o PRBE é uma articulação entre a RNBP (Rede Nacional
das Bibliotecas Públicas), RBE (Rede das Bibliotecas Escolares) e as bibliotecas do ensino
universitário. A meta da política foi uma melhoria na educação e reduzir o insucesso e abandono
escolar.
1 O modelo organizacional e de gestão das escolas modificou-se. Hoje em dia, temos os Agrupamentos, como se tem
assistido ao desfecho de escolas nacionais. Estes dois fatores contribuem por uma diminuição de bibliotecas escolares.
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b) Atores envolvidos
Os atores regionais/locais: São todos os atores que põem em prática todo o modo
burocrático do programa de redes de bibliotecas escolares:
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Níveis Atores
Banco Mundial (BM)
Organização Nações Unidas (ONU)
Organização Mundial do Comércio (OMC)
Organização Cooperação Desenvolvimento Económico (OCDE)
Transnacional Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
Níveis Atores
Autarquias
Bibliotecas municipais
Serviço de Apoio as Bibliotecas Escolares (SABE)
Fundações
Universidades
Local Centros de formação
+ Escolas
Individuais Comunicação social
Professores
Alunos
Funcionários não docentes das escolas e agrupamentos
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Na Rede das Bibliotecas Escolares podemos ver os vários dispositivos, tais como,
recursos financeiros para dar suporte ao desenvolvimento dos programas para as bibliotecas
(PRODEP); criar condições para as escolas terem as suas bibliotecas atrativas para quem procura
conhecimento (programas, apoio técnico, livros,…); haver enquadramento jurídico para o bom
funcionamento da biblioteca (contrato de trabalho para o bibliotecário, ….); apoio às bibliotecas
por parte da autarquias (através do seu orçamento autárquico) , entre outros. As plataformas
digitais, cada vez, estão a ganhar maior importância como a renovação do Plano Nacional de
Leitura. Este programa de rede de bibliotecas não se ficou somente nas escolas públicas como
também pretendeu expandir-se para as escolas com contrato de associação com o MEC e a
instituições particulares de solidariedade social. Daqui vemos, um alargamento do âmbito da
política com vista a chegar a vários setores da população.
Nacional Relatórios
3- Informativo e Comunicativo Inquéritos (GEPE)
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Programas
Apoio Técnico
Pós- Formações dos professores
Burocrático 1- Normas e padrões de boas práticas Livros
Locais Documentos de suporte digital
Enquadramento jurídico
3. Notas Finais
Atualmente, a sociedade exige cada vez mais novas competências aos futuros cidadãos e
que estes tenham cada vez mais um papel de intervenção na sociedade. As bibliotecas, ao longo dos
tempos, foram mudando a sua missão perante a sociedade: de um serviço passivo e fechadas em si,
onde se aglomerava livros e documentos passam a ser locais abertos, com vários intervenientes e
tendo as novas tecnologias de informação e comunicação ao seu serviço. É cada vez mais vital a
existência de bibliotecas escolares na vida pedagógica das escolas ( Pereira, 2007). Desde o
surgimento da Rede de Bibliotecas Escolares, verificou-se (apesar com algumas limitações) que as
escolas têm-se renovado como têm ajudado os professores nas suas práticas pedagógicas. Podemos
afirmar, tendo por base o estudo das políticas educativas e desempenho de Portugal no PISA, a
dinamização das redes bibliotecas e o desenvolvimento das redes de bibliotecas intermunicipais
como as municipais com vista a literacia da população portuguesa, de novos hábitos de leitura, de
investimento nas instalações e na formação nos recursos humanos.
Citando Barroso (2013), é fundamental falarmos sobre o ‘local’ para melhor compreender o
sucesso/insucesso de uma política pública. Ele define o ‘local’ como um espaço onde há várias
multirregulações desde a ‘regulação transnacional, o hibridismo da regulação nacional, o
alargamento da regulação intermédia (desconcentração e descentralização), a emergência de
espaços de regulação resultantes da interdependência das escolas, a diversidade de lógicas na
regulação interna das escolas’. É no local que podemos analisar sobre as relações de controlo e de
autonomia. Nas relações de controlo, podemos ver a forma indireta que os atores internacionais
fazem nos atores nacionais. Temos, por exemplo, o projeto PISA da OCDE em que as diretivas não
são impostas diretamente mas que o Estado português se vê obrigado a seguir para não ficar em
níveis menos positivos se comparados com os outros países da organização internacional. Em
qualquer política pública, estes dois tipos de relações estão, atualmente, de mãos dadas e na política
em estudo (PRBE) não é diferente, e passo a analisar:
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Com o exposto, consegue-se analisar que o modo burocrático tem uma relação de controlo
sobre a política pública das bibliotecas escolares. Enquanto, que o modo burocrático das entidades
transnacionais é um controlo ‘disfarçado’ em que são usados instrumentos como orientações e que
nas entidades nacionais, esses instrumentos, são transformados em Leis, Decreto-Leis, Despachos-
Conjuntos entre outros.
Nos anos 80, a descentralização da educação, em Portugal, tornou-se uma realidade. Um dos
grandes objetivos foram as decisões de proximidade. No nosso caso, essa proximidade esteve
revestida pelo dispositivo ‘devolução’, em que neste tipo de descentralização encontramos uma
transferencia de responsabilidades para unidade locais do território que se quer, dando-lhe uma
autonomia considerável. Como já foi referido anteriormente, o modo pós burocrático aposta na
valorização dos resultados e da eficácia. Assim, a partir dessa década, começamos a ver uma
expansão das áreas de intervenção das bibliotecas escolares; o papel do professor bibliotecário é
revisto, o que lhe permite ser um instigador das práticas pedagógicas e didáticas; as novas literacias
pedem formações mais exigentes até então; novas formas de hábitos, onde a tecnologia está
incluída, para a criação de novos saberes; medidas para não haver abandono escolar ou
infoexclusão, …Cada vez mais, as bibliotecas escolares são vistas como recursos auxiliares para o
grande objetivo educativo: criar na população hábitos de leitura e resultados nos conhecimentos.
Devido a toda esta transformação e complexidade da sociedade, o modo neo burocrático está
a ganhar cada vez mais importância. Para além das alterações nas tipologias da construção escolar
e no mobiliário, vemos um sistema de informação e comunicação eficaz onde os professores
bibliotecários, as escolas e as autarquias se comunicam: Existência de um blogue, newsletter,
existência de catálogos bibliográficos, base de dados, entre outros . A formação aos formadores/
professores, na área das bibliotecas escolares, também é uma aposta deste programa de rede das
bibliotecas escolares. Por um lado, é necessário dar resposta aos novos desafios que nos chegam,
onde a rede das bibliotecas escolares está incluída, daí a necessidade de lhe incutir recursos e
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apoiá-la na pesquisa do conhecimento, o que revela um desafio. Por outro lado, esta regulação pode
ser vista como um controlo indireto por parte dos atores transnacionais, nacionais e locais.
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4. Referências bibliográficas
- Carvalho, Luís Miguel, (2015). As Políticas Públicas de Educação sob o prisma da ação
pública: esboço de uma perspetiva de análise e inventário de estudos. Currículo sem
Fronteiras, V. 15, Nº 2, p.314-333.
- Costa, A.F., Pegado, E., Ávila, P. e Coelho, A.R. (2009). Avaliação do programa Rede de
B i b l i o t e c a s E s c o l a re s . L i s b o a : R B E / M E < h t t p s : / / w w w. r b e . m e c . p t /
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- Duran, P. (2010 [1999]). Penser l’action publique. Paris: LGDJ / Lexteso éditions.
Economica.
- FAURE, Alain; POLLET, Gilles & WARIN, Philippe (1995a). Avant-Propos In Alain
Faure; Gilles Pollet & Philippe Warin, dir, La construction du sens dans les politiques
publiques. Débats autour de la notion de référentiel. (pp. 9-11). Paris: Éditions
L’Harmattan.
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- Lascoumes, P., & Galès, P. (2004). Gouverner par les instruments. Paris: Presses de la
Fondation Nationale des Sciences Politiques.
- Lascoumes, P., & Galès, P. (2007). Sociologie de l’action publique. Paris: Armand Colin.
- Mény, Y., & Thoenig, J. C., (1989). Politiques Publiques. Paris: PUF
(Consultado em 12/02/24).
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