Junior Amorim - Missao Da Igreja Hoje
Junior Amorim - Missao Da Igreja Hoje
Junior Amorim - Missao Da Igreja Hoje
São Paulo
2019
JOSÉ AUGUSTO AMORIM CUNHA JÚNIOR
São Paulo
2019
“O que o homem é Cristo quis ser, para
que o homem pudesse ser, o que Cristo
é.”
Cipriano
Dedico este trabalho ao Triúno Deus da Graça, Soberano Amante da Vida, Rocha
minha e Redentor meu.
À minha mãe, Solange, e ao meu pai, Augusto, raízes que busco honrar com
gratidão e amor.
À minha avó Edy e ao meu avô Jason (in memorian), que me apresentaram, ainda
na infância, o Evangelho pela via do afeto e do cuidado.
À Reverenda Sônia Mota, minha tutora eclesial, e ao Pastor Nelson Kilpp, que muito
me ajudaram com diálogos, livros, amizade e exemplos na caminhada rumo ao
ministério pastoral.
INTRODUÇÃO.............................................................................................................5
1. PERSPECTIVA BÍBLICO-REFORMADA.................................................................8
1.1. Missão em perspectiva bíblica...........................................................................8
1.2. Missão numa perspectiva reformada...............................................................18
2. PERSPECTIVA INTEGRAL-LIBERTADORA E ECUMÊNCIA...............................24
CONCLUSÃO.............................................................................................................33
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................35
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INTRODUÇÃO
1. PERSPECTIVA BÍBLICO-REFORMADA
24.17-18). “Sempre que o povo de Israel renova sua aliança com Javé, reconhece
que está renovando suas obrigações com as vítimas da sociedade” (Bosch, 2014, p.
36).
No que diz respeito à relação de Israel com outras nações, há
ambiguidades, tendências divergentes e variações ao longo de sua história. A
alteridade era um tremendo desafio também ao povo eleito. Pode-se delinear ao
menos duas correntes que se desenvolvem com muitas nuances no transcorrer do
Antigo Testamento, uma nacionalista e excludente, outra universalista e inclusiva.
Num primeiro momento, Israel caminhou em conformidade com o contexto religioso
do Antigo Oriente, onde prevaleciam os chamados “deuses nacionais” (Ex 23.20-33).
Cada povo cria num deus particular e contava com sua companhia e proteção, bem
como com sua ajuda nas guerras nas quais as vitórias eram atribuídas à respectiva
divindade e os vitoriosos impunham seu deus e religião. Israel sofreu e praticou este
modelo de imposição religiosa.
No império de Davi e Salomão, a fé javista foi imposta aos
vencidos. Durante a supremacia Assíria, os reis de Judá foram
obrigados a colocar estátuas, altares e símbolos de divindades
assírias no templo de Jerusalém. Em vez de missão havia
imperialismo (Zwetsch, 1998, p. 200).
Este viés exclusivista atravessa a maior parte do Antigo Testamento e é
majoritário. No período pós-exílio babilônico, em meio a conflitos com populações
vizinhas e sob domínio estrangeiro, a defesa da identidade de Israel passou por um
ideal de pureza e segregação quanto a outros povos. Os casamentos com
estrangeiros foram proibidos (Ne 10) e até mesmo desfeitos (Ed 10). Na visão
Cronista, a ênfase é dada ao culto e ao templo, assim como à proeminência de Judá
(I Cr 17.21). Segundo Allmen,
É verdade que os últimos profetas anunciam que as nações se reunirão
em Jerusalém para orar a Deus em seu templo (Ag 2.6-9, Zc 8:20-23) e
proclamarão sua glória (Is 66.18ss), mas sob a condição de praticar o
culto judeu e submeter-se escrupulosamente à lei (Zc 14.16ss): as
nações deverão se assimilar ao povo santo, tornar-se seus escravos (Is
61.5ss) ou desaparecer por ocasião do grande massacre dos povos (Jl
3.12ss)... Em suas visões apocalípticas, Daniel vê as grandes nações
gentias sob a forma de animais perigosos, cujo poder lhes será tirado
para serem submetidos ao povo dos santos do Altíssimo (Dn 7). O
exclusivismo chega ao ódio a tudo que não é judeu, de que está
impregnado o livro de Ester (Et 9). (Allmen, 1972 p. 273)
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caminhada de vida e missão deve ser pautada não pelo ser servido, mas pelo servir,
pela diaconia (Mc 10.45; Jo 13.1-17).
A vida de serviço e entrega de Jesus culmina na cruz. Ali se mostra sua
mais completa fidelidade ao Reino e as consequências que esta fidelidade implica
na história face os implacáveis e “podres poderes” (naquele tempo, as lideranças
religiosas judaicas, os representantes políticos do império romano e a multidão
manipulada). Para os discípulos foi uma experiência de medo, profunda tristeza e
desânimo, decepção e de quase desistência da caminhada à qual Jesus os chamou
a trilhar (Lc 24.13-24). Todavia, pelo poder e ação de Deus, a morte e a opressão
foram subvertidas pela Ressurreição (Lc 24.25-35)! O encontro dos (as) discípulos
(as) com o Cristo ressurreto os reanima para a vida e missão. “Esta é, pois, iniciativa
divina e chamado para a tarefa de Deus (Mc 16; I Co 1.21).” (Zwetsch, 1998, p. 202).
“Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20.21), esta expressão
“ilumina o sentido profundo do envio final dos Doze, quando das aparições do Cristo
ressuscitado: ‘Ide...’ Eles irão, portanto, anunciar o Evangelho (Mc 16.15), fazer
discípulos de todas as nações (Mt 28.19), levar a toda parte o seu testemunho (At
1.8)” (Allmen, 1972, p. 602). Não o farão com suas próprias forças e méritos, mas
sim pela força do Espírito Santo, que foi prometido por Jesus e cuja promessa se
cumpre no dia de Pentecostes, quando nasce a Igreja. “O Espírito é o Cristo
Ressurreto atuante no mundo. No dia de Pentecostes, Cristo, através do Espírito,
escancara as portas e impele as discípulas ao mundo” (Bosch, 2014, p. 63).
A ousada comunidade missionária nascente, sob o protagonismo do
Espírito, tem as marcas da unidade na diversidade (At 2.5-11), do ensino dos
apóstolos, da oração e comunhão fraterna, do anúncio da Palavra e celebração
(Santa Ceia), da partilha e do serviço (At 2.42-47; At 6). Supera preconceitos e
barreiras, como no encontro de Pedro com Cornélio, no qual Pedro (símbolo da
Igreja) se converte de seus preconceitos para poder proclamar o Evangelho a
Cornélio (símbolo do mundo), encontro mediado e conduzido pelo Espírito que leva
Pedro a compreender que Deus não faz acepção de pessoas (At 10). (cf. Santos,
1974, p. 78, grifo do autor)
Paulo, na mesma direção, transpôs as fronteiras da cultura judaico-
palestinense. Defendeu decididamente que não é necessário ser judeu para ser
cristão e “tornou-se o mais radical defensor da abertura para os outros. Evangelho é
graça! Este passo – sair do judaísmo para a gentilidade – foi o primeiro e mais
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Por outro lado, “As criaturas do Deus soberano devem ser servas do
soberano Deus” (McKim, 1998, p. 324). Portanto, a soberania de Deus requer
obediência e fidelidade por parte do ser humano. Assim, junto com a ênfase na
adesão à vontade do Deus soberano, assume relevo a ênfase na gravidade do
pecado humano. No pecado o ser humano “erra o alvo” de viver segundo a vontade
Divina e para sua Glória e inclina-se a uma autossuficiência egoísta e destrutiva.
Por suas próprias forças, o ser humano não consegue superar o pecado. “O
pecado prejudicou seriamente o relacionamento entre a criatura e o criador.
Basicamente, esta ruptura só pode ser vencida pela obra de graça realizada por
Jesus Cristo” (McKim, 1998, p. 324). Ao refletir sobre o legado teológico de Calvino,
Mota Dias esclarece que o reformador enfatizava o caráter misericordioso e justo de
Deus, que se revelou ao povo de Israel e de forma plena na pessoa de Jesus Cristo.
Assim, Deus misericordiosamente se adapta, se acomoda aos limites da condição
humana para expressar sua glória e verdade, principalmente, na pessoa de Jesus
Cristo. Neste sentido,
só podemos vislumbrar o que Deus é, de fato, na pessoa de
Jesus Cristo. E isto sob a unção do Espírito e a graça do Pai.
Aqui Calvino faz eco às formulações de Agostinho que, por sua
vez, ressoa a compreensão eclesiológica de Paulo. Esta
perspectiva acerca da soberania de Deus que se revela ao
mundo e aos seres humanos o faz colocar a majestade e a
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encontro com Cornélio (Atos 10), converter-se de seus preconceitos para comunicar
com coerência e relevância a Boa Nova da paz por meio de Jesus Cristo, na força
do Espírito e sob a misericórdia do Pai.
Visto que o Deus que se revela em Jesus Cristo é um Deus Soberano, mas
não totalitário, Ele não impõe a sua Graça (o que já serve de crítica e interdição a
entendimentos e práticas missionárias impositivas, imperialistas, intolerantes). O
modo pelo qual o ser humano pode dizer sim à Graça é através da Fé. Só a Fé é um
princípio que nos ensina que a resposta afirmativa à Graça é confiança e fidelidade,
afinal “o justo vive pela fé” (Romanos 1.17). Assim, a missão não se fia em recursos
materiais, simbólicos, institucionais ou circunstanciais da Igreja, mas na fé no Triúno
Deus, na sua misericórdia e poder.
Para o cumprimento da missão libertadora e redentora para a qual Deus a
chamou, a Igreja precisa estar alicerçada nas Sagradas Escrituras (só a Escritura),
encontrando nelas, permanentemente, sob a iluminação do Espírito, a Palavra de
Deus, de onde provêm o discernimento e a força para fazer a vontade Divina, na
busca incansável do Reino de Deus e sua justiça. Necessário se faz ter cuidado
para não incorrer em interpretações literalistas ou descontextualizadas. É
imprescindível buscar conhecer tanto o contexto histórico em que os textos bíblicos
foram escritos quanto o contexto histórico em que vivemos a fim de evitar
fundamentalismos e cultivar uma leitura popular e libertadora da Bíblia.
Há que se considerar que o centro das Escrituras, a Palavra que se fez
humano e habitou entre nós é Jesus Cristo. “Nele, por Ele e para Ele são todas as
coisas” (Romanos 11.36). Jesus é o mediador entre os humanos e Deus, é modelo
central para a missão. Sua radicalidade no amor não pode ser preterida pela Igreja.
Por isso, ainda que a história seja farta de exemplos das contradições e erros da
Igreja, é incabível, em sua atuação no mundo, toda e qualquer prática coercitiva,
violenta, soberba ou alinhamento a pessoas e grupos que exploram, oprimem,
ameaçam e destroem a vida.
Jesus é o caminho da misericórdia, da solidariedade, da justiça, da paz.
Veio para trazer vida em plenitude e eterna. Na direção de seus passos é que a
Igreja pode participar de modo autêntico da missão que o Pai confiou ao Filho e que
o Espírito Santo forma e impulsiona a Igreja para dar continuidade, ainda que não
esteja a ela subordinado e que seu agir não seja exclusivamente através dela.
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CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, João Dias de. Inquisição sem fogueiras. Rio de Janeiro: ISER, 1985.