Fundamentos de Contabilidade Basica

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Fundamentos de

Contabilidade Básica

Rio de Janeiro
UVA
2016
Julio Cezar de Mello Cidade

Fundamentos de
Contabilidade Básica

Rio de Janeiro
UVA
2016
Copyright © UVA 2016
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer
meio sem a prévia autorização desta instituição.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa.

ISBN: 978-85-69287-33-9

Autoria do Conteúdo
Julio Cezar de Mello Cidade

Projeto Gráfico
UVA

Diagramação
Cristina Lima

Revisão
Janaína Senna
Débora Silvestre Costa
Lydianna Lima

C568 Cidade, Julio Cezar de Mello

Fundamentos de contabilidade básica [livro eletrônico]


/ Julio Cezar de Mello Cidade. – Rio de Janeiro : UVA, 2016.

905 KB.

ISBN 978-85-69287-33-9
Disponível também impresso.

1. Contabilidade. 2. Contabilidade - Estudo e ensino. I.


Universidade Veiga de Almeida. II. Título.

CDD – 657

Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA.


Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho.
SUMÁRIO
Apresentação...............................................................................................................7
Sobre o autor................................................................................................................8

Capítulo 1 - Os conceitos básicos da contabilidade: os


primeiros passos...............................................................9
A contabilidade .............................................................................................10
Usuários............................................................................................................16
Campo de atuação do profissional contábil........................................22
Técnicas contábeis........................................................................................26
Patrimônio.......................................................................................................28
Contas...............................................................................................................32
Princípios contábeis ...................................................................................41
Referências......................................................................................................59

Capítulo 2 - Escrituração Contábil – Parte I....................63


Atos e fatos administrativos.................................................................... 64
Livros da empresa....................................................................................... 74
Método das Partidas Dobradas.............................................................. 91
Escrituração contábil..................................................................................94
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes...........102
Referências....................................................................................................113

Capítulo 3 - Escrituração Contábil – Parte II..................115


As contas de resultado ............................................................................118
Contabilização a partir de razonetes...................................................129
Apropriação das despesas incorridas e não pagas........................138
Balancete de verificação...........................................................................143
Apuração do resultado do exercício....................................................145
Referências...................................................................................................154

Capítulo 4 - Demonstrações contábeis básicas...........155


Características..............................................................................................156
Demonstrações contábeis obrigatórias.............................................168
O balanço patrimonial..............................................................................172
A DRE...............................................................................................................198
Outras demonstrações obrigatórias.....................................................201
Referências....................................................................................................202

Considerações finais.....................................................206
7

APRESENTAÇÃO

Este livro trata do assunto Fundamentos de Contabilidade Básica: uma


abordagem atualizada. Sua função é apresentar os conceitos iniciais
dessa linguagem que se tornou rapidamente uma poderosa ferramenta
de decisão para usuários externos das entidades e de gestão para os
gestores de uma entidade.

Aqui, vamos aprender os elementos básicos para o aprendizado dessa


que é chamada a linguagem dos negócios e que todos os gestores e in-
vestidores no mundo contemporâneo têm que saber utilizar. Entender
a informação contábil é o passo fundamental para a tomada de decisão.
Quanto mais informações reunimos para tomar uma decisão, maiores
as chances de êxito na escolha desta.

Desejamos que você aproveite ao máximo esta experiência e que a leitu-


ra desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conteú-
dos abordados, contribuindo efetivamente para o seu enriquecimento
cultural e acadêmico.
8

SOBRE O AUTOR
Julio Cezar de Mello Cidade é professor da Universidade Veiga de Al-
meida – UVA desde 2012. É administrador de empresas, graduado em
1981, bacharel em Ciências Contábeis, graduado em 2007, certificado
como gestor de fundos de pensão pelo Instituto de Certificação dos
Profissionais de Seguridade Social – ICSS, equivalente à Anbid para o
mercado previdenciário, e mestre em Ciências Contábeis pela Univer-
sidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj. Tem experiência e vivência
em liderança, gerência de projetos, desenvolvimento e implantação
de sistemas, automação comercial, consultoria e mercado financeiro
— liderança e integração de várias equipes e grupos de trabalho para
planejamento, execução e controle de projetos. Atua como docente no
magistério do ensino superior em nível de graduação e pós-graduação.
Atua também como professor na modalidade presencial e EAD na Uni-
versidade Estácio de Sá – Unesa e ministra cursos de contabilidade na
Escola de Administração Judiciária – Esaf. Atuou em Gestão de Entida-
de Fechada de Previdência Complementar, na condição de dirigente,
durante quatro anos, acumulando a superintendência com a diretoria
de aplicações financeiras. Nesse ambiente desenvolveu uma sólida vi-
vência em Governança Corporativa, pois tais entidades são reguladas
de forma rigorosa e com base nos ditames da Lei Sarbanes-Oxley, repli-
cada pela legislação brasileira em muitos dos seus tópicos principais.

.........................................................................................................
A contabilidade 9

CAPÍTULO 1
OS CONCEITOS BÁSICOS DA
CONTABILIDADE: OS PRIMEIROS
PASSOS

Neste capítulo serão abordados alguns conceitos funda-


mentais para o aprendizado da contabilidade.

Serão abordados temas como seus conceitos básicos, o


porquê de a contabilidade ter se tornado a linguagem dos
negócios, quem são os usuários das informações por ela
fornecidas a partir de relatórios contábeis, o conceito de
patrimônio, que é o objeto da contabilidade, como a infor-
mação é produzida de forma qualitativa por meio do con-
ceito de conta contábil, o vasto campo de atuação de um
profissional da área contábil, além das técnicas contábeis
para registrar as operações, produzir as informações, veri-
ficá-las e analisá-las.

Outro ponto de grande importância abordado neste capí-


tulo são os princípios contábeis que norteiam a atuação de
um profissional de Ciências Contábeis.

Aproveite esses conhecimentos iniciais para poder assimi-


lar com consistência os assuntos que virão nos próximos
capítulos.

..........................................................................................................
10 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

A CONTABILIDADE

Um filósofo argentino, chamado Arthur Eddington, afir-


mou certa vez que, “para que a exposição de um sistema
de pensamento seja clara, é preciso que se comece pelas
origens” (EDDINGTON, 1946, p. 258). Para podermos ex-
plicar o presente é necessário que conheçamos o passado,
pois ele é a justificativa para o momento presente.

O professor Lopes de Sá (2010, p. 21) nos ensina que o ho-


mem primitivo, no período Paleolítico Superior, ainda sem
escrita e sem saber fazer cálculos, já tentava registrar, de
alguma forma, suas provisões, que eram, naquele momento,
a expressão de sua riqueza patrimonial. Dizia o autor que:

a qualidade e a quantidade das reservas de utilida-


des, quer de caça, quer de colheitas, foram elemen-
tos que o homem notou como algo distinto, como
conquista de seu trabalho.

Por meio da arte, o homem primitivo, com inscrições em


paredes de grutas, fazia o registro de seu patrimônio.

.........................................................................................................
A contabilidade 11

De forma rudimentar, as inscrições procuravam com


desenhos, representar a qualidade da coisa e com
rabiscos ou riscos a quantidade (SÁ, 2010, p. 22)

Em diversas civilizações foram encontradas formas dife-


rentes de fazer o acompanhamento das variações patri-
moniais de uma pessoa ou grupo.

À medida que a população foi aumentando e o comércio


entre os povos foi se intensificando, a quantidade de fa-
tos a serem registrados se tornou mais volumosa, e isso
resultou em um problema mais complexo de ser tratado.

Na Idade Média, em 1492, o frade franciscano Luca Pacioli


publicou o primeiro livro de que se tem notícia sobre o
método das partidas dobradas, que até os dias atuais é
utilizado pela contabilidade, o livro se chama Summa Ari-
thmetica, Geometria, Proportioni e Proprocionalità. Como
vimos, trata de diversos assuntos, dentre eles apresenta o
Tractatus Particularis de Computis et Scriprituris, no qual
imortaliza o método, também conhecido como método
digráfico. Apesar disso, não se pode afirmar que o fra-
de tenha inventado o método, pois há registros da sua
utilização em épocas anteriores. Aquele que, talvez, seria
considerado como o pai da contabilidade nunca foi iden-
tificado.

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12 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

Esse método passou a ser adotado como método de escri-


turação contábil por todos, ou seja, tornou-se universal.

Basicamente ele demonstra que em cada registro de mo-


vimentação patrimonial haverá sempre uma origem do
recurso e uma aplicação para ele. Veremos com maiores
detalhes na sequência deste livro o assunto escrituração
contábil.

Nos dias atuais não podemos imaginar pessoas físicas ou


jurídicas que não se utilizem da contabilidade. Para en-
tendermos nosso saldo bancário, precisamos de algum co-
nhecimento contábil; para fazermos os nossos orçamen-
tos domésticos, precisamos utilizar essa ciência social.
Sendo assim, é importante que entendamos o que ela é,
como funciona e que tipo de informações fornece.

.........................................................................................................
A contabilidade 13

Conceito
Vivemos em um mundo em que as pessoas, físicas
e jurídicas, podem ser capazes de acumular e admi-
nistrar o que chamamos de patrimônio.

Esses patrimônios, no mundo dos negócios, são


controlados por meio da contabilidade, a linguagem
dos negócios.

A contabilidade, segundo Padoveze (2012), pode ser


definida como o sistema de informações que con-
trola o patrimônio de uma entidade. Podemos tam-
bém adotar uma definição mais protocolar: conta-
bilidade é a ciência que estuda e pratica as funções
de orientação, de controle e de registro relativas à
administração econômica.

Essa definição associa a contabilidade ao forneci-


mento de informações para empresas acerca dos
aspectos patrimoniais, econômicos e financeiros.
Ela é tratada como um sistema de informações, pois
recebe dados por intermédio da escrituração, pro-
cessa-os e fornece as informações, de acordo com o
enfoque necessário, em relatórios contábeis que po-
dem ser utilizados por diversos tipos de usuários.

A Resolução nº 774/94, do Conselho Federal de


Contabilidade – CFC, define que:

[...] a Contabilidade é uma Ciência Social com plena


fundamentação epistemológica. Por consequência,
todas as demais classificações – método, conjun-
to de procedimentos, técnica, sistema, arte, para

..........................................................................................................
14 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

citarmos as mais correntes – referem-se a simples


facetas ou aspectos da Contabilidade, usualmente
concernentes a sua aplicação prática, na solução de
questões concretas.

Em resumo, a resolução trata a contabilidade como


ciência social, pois se refere às alterações do patri-
mônio em função da ação humana.

Objeto
Como pudemos observar na abordagem do concei-
to, o objeto da contabilidade é o patrimônio, seja de
pessoa física ou jurídica.

O patrimônio leva o homem à satisfação de suas


necessidades, e, muitas vezes, não há limites para
a ambição que leva à acumulação de riqueza. Para
efeitos de nossos estudos contábeis, trataremos Pa-
trimônio como um conjunto constituído de Bens,
Direitos e Obrigações. É por meio dele que as en-
tidades econômico-financeiras obtêm seus resulta-
dos. Podemos entendê-lo como o suporte necessário
às atividades de uma organização, desde que seja
passível de mensuração financeira e que seja iden-
tificável como bens, direitos ou obrigações, que são
a matéria-prima das entidades para a produção de
riquezas.

Objetivo
O objetivo dessa ciência é fornecer aos seus usu-
ários informações sobre as variações ocorridas no
patrimônio de uma entidade.

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A contabilidade 15

Ela fornece informações acerca da situação patrimo-


nial, econômica e financeira de uma entidade para
as pessoas nelas interessadas.

Funções
A contabilidade tem uma função administrativa que
é o controle do patrimônio mediante o registro dos
fatos contábeis em livros apropriados, tais como o
livro diário e o livro-razão.

A função econômica da contabilidade é a apuração


dos resultados de uma entidade.

..........................................................................................................
16 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

USUÁRIOS

Se o objetivo da contabilidade é a geração de informações,


os usuários são os destinatários delas.

Existem diversos grupos de interessados nas informações


contábeis, pessoas físicas e jurídicas, que podem ser de
usuários internos ou de usuários externos.

Estamos vivenciando, no Brasil, em especial, um momento


de grandes mudanças nas normas de contabilidade em bus-
ca da harmonização dos padrões internacionais. Essas mu-
danças têm como principal objetivo qualificar melhor e pa-
dronizar as informações fornecidas pela contabilidade aos
seus diversos usuários, sobretudo os usuários externos.

Essas mudanças são previstas pelas Leis nº 11.638/2007


e nº 11.941/2009, que alteram a Lei nº 6.404/1976 e de-
legam a responsabilidade dessas normas ao Comitê de
Pronunciamentos Contábeis – CPC, formado por diversas
entidades como:

• Associação Brasileira das Sociedades de Capital


Aberto – Abrasca.

• Associação dos Profissionais do Mercado de Ca-


pitais – Apimec Nacional.

• Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valo-


res do Estado de São Paulo – BMF&Bovespa.

• Conselho Federal de Contabilidade – CFC.

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Usuários 17

• Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atua-


riais e Financeiras – Fidecafi.

• Instituto Brasileiro dos Contadores – Ibracon.

Cada uma dessas entidades participa do comitê com dois


membros, totalizando 12 membros. Suas deliberações são
aprovadas com voto qualificado, ou seja, 2/3 dos votos
dos membros participantes.

Além desses 12 membros, serão sempre convidados a par-


ticipar de suas deliberações representantes das seguintes
entidades:

• Banco Central do Brasil – BCB.

• Secretaria da Receita Federal – SRF.

• Comissão de Valores Mobiliários – CVM.

• Superintendência de Seguros Privados – Susep.

Por que foi criado o CPC?

Em função das necessidades de:

• Convergência internacional das normas contá-


beis (redução de custo de elaboração de relatórios
contábeis, redução de riscos e custo nas análises e
decisões, redução de custo de capital).

• Centralização na emissão de normas dessa natu-


reza (no Brasil, diversas entidades o fazem).

• Representação e processo democráticos na pro-


dução dessas informações (produtores da informa-
ção contábil, auditor, usuário, intermediário, acade-
mia, governo).

..........................................................................................................
18 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como


objetivo “o estudo, o preparo e a emissão de Pronuncia-
mentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e
a divulgação de informações dessa natureza, para permitir
a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira,
visando à centralização e uniformização do seu processo
de produção, levando sempre em conta a convergência da
Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais”.

Dessa forma o CPC produz pronunciamentos técnicos,


orientações e interpretações.

Para que se tenha uma ideia da importância da qualifica-


ção da informação contábil a ser fornecida pelas entida-
des aos seus usuários, o Pronunciamento Técnico nº 00,
sobre a estrutura conceitual para elaboração e divulga-
ção de relatório contábil-financeiro, em pleno vigor, foi
aprovado por:

• CVM, por meio da Deliberação nº 675/11;

• CFC, por meio da Resolução nº 1.374/11 – NBC


TG ESTRUTURA CONCEITUAL;

• BCB/Conselho Monetário Nacional – CMN, por


meio da Resolução CMN nº 4.144/12;

• Susep, por meio da Circular nº 483/14 – Anexo IV;

• Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, por


meio da Resolução Normativa nº 605/14 – Manual e
da Associação Nacional de Saúde; e

• ANS, por meio da Resolução Normativa nº 322/13


– Anexo I.

.........................................................................................................
Usuários 19

Em seu item nº 1 — Finalidade — determina que essa es-


trutura conceitual estabelece os conceitos que fundamen-
tam a preparação e a apresentação de demonstrações con-
tábeis destinadas a usuários externos.

Em seu item 9, o pronunciamento determina:

Usuários e suas necessidades de informação

Entre os usuários das demonstrações contábeis incluem-


-se investidores atuais e potenciais, empregados, credores
por empréstimos, fornecedores e outros credores comer-
ciais, clientes, governos e suas agências e o público. Eles
usam as demonstrações contábeis para satisfazer algu-
mas das suas diversas necessidades de informação. Essas
necessidades incluem:

(a) Investidores. Os provedores de capital de risco


e seus analistas que se preocupam com o risco ine-
rente ao investimento e o retorno que ele produz.
Eles necessitam de informações para ajudá-los a
decidir se devem comprar, manter ou vender inves-
timentos. Os acionistas também estão interessados
em informações que os habilitem a avaliar se a enti-
dade tem capacidade de pagar dividendos.

(b) Empregados. Os empregados e seus represen-


tantes estão interessados em informações sobre a
estabilidade e a lucratividade de seus empregadores.
Também se interessam por informações que lhes
permitam avaliar a capacidade que tem a entidade
de prover sua remuneração, seus benefícios de apo-
sentadoria e suas oportunidades de emprego.

..........................................................................................................
20 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

(c) Credores por empréstimos. Estes estão interes-


sados em informações que lhes permitam determi-
nar a capacidade da entidade em pagar seus emprés-
timos e os correspondentes juros no vencimento.

(d) Fornecedores e outros credores comerciais. Os


fornecedores e outros credores estão interessados
em informações que lhes permitam avaliar se as
importâncias que lhes são devidas serão pagas nos
respectivos vencimentos. Os credores comerciais
provavelmente estarão interessados em uma enti-
dade por um período menor do que os credores por
empréstimos, a não ser que dependam da continui-
dade da entidade como um cliente importante.

(e) Clientes. Os clientes têm interesse em informa-


ções sobre a continuidade operacional da entidade,
especialmente quando têm um relacionamento a
longo prazo com ela, ou dela dependem como for-
necedor importante.

(f) Governo e suas agências. Os governos e suas


agências estão interessados na destinação de re-
cursos e, portanto, nas atividades das entidades.
Necessitam também de informações a fim de regu-
lamentar as atividades das entidades, estabelecer
políticas fiscais e servir de base para determinar a
renda nacional e estatísticas semelhantes.

(g) Público. As entidades afetam o público de di-


versas maneiras. Elas podem, por exemplo, fazer
contribuição substancial à economia local de vários

.........................................................................................................
Usuários 21

modos, inclusive empregando pessoas e utilizando


fornecedores locais. As demonstrações contábeis
podem ajudar o público fornecendo informações
sobre a evolução do desempenho da entidade e os
desenvolvimentos recentes.

Pelo que pudemos verificar com mediana clareza, há uma


grande preocupação com o atendimento das necessidades
informacionais, preferencialmente dos usuários externos,
pois estes não têm como interferir na produção de infor-
mação específica para o atendimento de suas necessida-
des de informação para a tomada de decisão.

No entanto os usuários são classificados em dois grupos


importantes e distintos. O primeiro tem o condão de for-
matar, de acordo com suas necessidades imediatas, os
relatórios que tomará por base para o seu processo de-
cisório. O segundo não tem esse poder; para isso as re-
gulamentações, visando atender às suas necessidades e
expectativas, criaram a padronização dos demonstrativos
e adotaram um formato específico para cada um deles.

Esses dois grupos de usuários são assim divididos:

1. Usuários Internos
São os administradores, empregados etc.

2. Usuários Externos
São os credores da entidade, financiadores, investi-
dores, governos, clientes etc.

..........................................................................................................
22 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

CAMPO DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL


CONTÁBIL

Com o acelerado avanço ocorrido na tecnologia da infor-


mação nos últimos anos, a profissão de contador expe-
rimentou uma verdadeira revolução, transformando de
forma radical a atuação desses profissionais.

Fatores como a globalização, o agigantamento das em-


presas, as combinações de negócios, a internacionaliza-
ção das empresas, a quebra de barreiras comerciais, as
diversas fusões de grandes empresas e incorporações de
grandes empresas por outras ainda maiores tornaram o
ambiente de negócios algo absolutamente novo, no qual a
concorrência se tornou cada vez mais acirrada, e a veloci-
dade para a tomada de decisão e adaptação às mudanças,
que ocorreram e continuam ocorrendo freneticamente,
transformaram a informação em algo precioso, essencial.

Nesse novo cenário, a contabilidade muda de patamar,


pois, em vez de gerar informações sobre as ocorrências
passadas na situação patrimonial de uma empresa, passa
a gerar informações estratégicas fundamentais em tempo
real, graças aos poderosos sistemas integrados utilizados
pelas empresas, trazendo o profissional contábil da reta-
guarda do processo de informação para a linha de frente
do processo decisório nas organizações.

.........................................................................................................
Campo de atuação do profissional contábil 23

Definitivamente a contabilidade se tornou a linguagem


dos negócios. Sem o adequado planejamento estratégico,
tático e operacional nenhuma dessas empresas sobrevive
nesse mercado tão competitivo. De outro lado, sem o ne-
cessário controle das execuções desses planejamentos, os
ajustes necessários ao planejamento não se concretizam.
No centro dessas duas funções nobres da administração
(planejamento e controle) está a informação contábil.

Vocês já pararam para pensar no porquê de investido-


res de todo o planeta (sim, hoje investidores têm condi-
ções técnicas para operar em bolsas de todos os países
do mundo) utilizarem relatórios contábeis para comparar
empresas e tomarem as decisões quanto ao investimento
que farão de suas poupanças?

O que há de tão importante nessas demonstrações que


fazem com que investidores experientes e conhecedores
do mundo dos investimentos, em que sempre há uma re-
lação de risco e retorno, tomem suas decisões de investir,
muitas vezes, vultosas quantias na empresa A do país X
e não na empresa X do país A? Posso assegurar a vocês
que muito poucos deles estão dispostos a correr riscos
do tipo voo cego, alguns estão propensos a assumir riscos
razoavelmente maiores em busca de retornos melhores e
a maioria busca, em princípio, o maior retorno possível
com o menor risco.

Nesse novo ambiente a profissão contábil ganhou uma


amplitude que os contadores de muito pouco tempo atrás
não imaginavam. No início dos anos 1990, nem se vislum-

..........................................................................................................
24 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

brava essa verdadeira revolução, para dar uma ideia a vo-


cês da velocidade com que essas mudanças ocorreram.
O mercado de trabalho para o profissional contábil se am-
pliou de forma avassaladora. Em muitos países do mundo,
é a profissão mais procurada pelos novos universitários.
A profissão é regulada pelo CFC, que emitiu Normas Téc-
nicas e Profissionais para a atuação dos profissionais ha-
bilitados para o exercício da profissão. Atualmente o CFC
aplica o exame de suficiência para os bacharéis em Ciên-
cias Contábeis para que, aprovados no exame, eles pos-
sam ser credenciados pelo Conselho.

As Normas Profissionais são conhecidas como Normas


Brasileiras de Contabilidade dos Profissionais Gerais – NBC
PG. São elas: a NBC PG 100, que é de aplicação geral aos
profissionais da contabilidade; a NBC PG 200, que regula a
atuação de contadores que prestam serviços (Contadores
Externos); a NBC PG 300, que regula a atuação de conta-
dores empregados (Contadores Internos) e, finalmente, a
NBC PG 12 (R1), que trata da educação profissional conti-
nuada.

As possibilidades de atuação são tantas que um bom es-


quema das alternativas profissionais para um contador é
sintetizado no quadro elaborado pelo professor Marion,
que destaco a seguir:

.........................................................................................................
Campo de atuação do profissional contábil 25

..........................................................................................................
26 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

TÉCNICAS CONTÁBEIS

Na Teoria da Contabilidade aprendemos que as técnicas


contábeis são quatro:

1. Escrituração

Consiste basicamente no registro nos livros apropriados


de todos os fatos administrativos ocorridos na entidade,
pois os fatos administrativos afetam a posição patrimo-
nial. Esses livros são o livro diário, o livro-razão, o livro-
-caixa, contas correntes etc.).

2. Elaboração das Demonstrações Contábeis

Já vimos a importância que se dá às demonstrações contá-


beis, ou seja, às informações acerca da situação patrimonial,
financeira e econômica de uma entidade aos seus diversos
usuários, sobretudo os externos. Saber elaborá-las inclui a
compilação e o tratamento dos dados contábeis registrados,
o reconhecimento de elementos patrimoniais e sua avaliação.

3. Auditoria

As sociedades por ações de capital aberto e as empresas


de grande porte, são, por força de Lei, obrigadas a apre-
sentar suas demonstrações contábeis devidamente audi-
tadas.

.........................................................................................................
Técnicas contábeis 27

A auditoria consiste no exame das demonstrações contá-


beis para que sejam relatados o cumprimento dos princí-
pios contábeis e para que os dados apresentados revelem,
com razoável grau de certeza, os números apresentados
refletindo a realidade patrimonial, financeira e econômica
da empresa examinada.

4. Análise das Demonstrações Contábeis

Vocês recordam que ao abordar o campo de atuação do


profissional contábil eu fiz a indagação “O que há de tão
importante nessas demonstrações que fazem com que
investidores experientes e conhecedores do mundo dos
investimentos, em que sempre há uma relação de risco e
retorno, tomem suas decisões de investir, muitas vezes,
vultosas quantias na empresa A do país X e não na empre-
sa X do país A?”?

Boa parte da explicação para esse questionamento está


contida na técnica da análise das demonstrações contá-
beis, transformando as informações ali contidas em índi-
ces e indicadores fundamentais ao processo de tomada de
decisão.

..........................................................................................................
28 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

PATRIMÔNIO

O que é

Muitos imaginam o patrimônio como algo essencialmente


positivo, porém, o patrimônio tem elementos que são po-
sitivos e elementos que são negativos. O que chamamos
de patrimônio é a diferença entre tais elementos.

O patrimônio de uma entidade é composto pela diferença


entre os bens e direitos e as obrigações da entidade.

Uma entidade pode ter obrigações originárias de duas


fontes: os próprios acionistas/cotistas e pessoas que não
sejam diretamente ligadas à sociedade, tais como bancos,
fornecedores, governos etc.

Às obrigações que pertençam aos sócios, chamamos de


capital próprio. As que não pertencem, chamamos de ca-
pital de terceiros.

Essas obrigações são aplicadas na entidade, por meio do


que chamamos de bens e direitos.

Como é dividido

a. Bens
São coisas úteis capazes de satisfazer as necessida-
des das pessoas e das empresas.

.........................................................................................................
Patrimônio 29

São aplicações dos recursos obtidos pela empresa.


Os bens podem ser numerários, de venda, de renda
ou de uso; estes últimos podem ser tangíveis (mate-
riais) ou intangíveis (imateriais).

b. Direitos
São os valores que a entidade tem a receber de
terceiros, geralmente são seguidos de expressões
como a receber ou a recuperar.

Temos como exemplos: duplicatas a receber, impos-


tos a recuperar etc.

c. Obrigações
São os valores que a empresa tem a pagar a tercei-
ros (exigíveis) ou aos sócios (não exigíveis).

Situações patrimoniais

Ao analisarmos o patrimônio de uma entidade, normal-


mente o fazemos utilizando a mais conhecida das de-
monstrações contábeis: o balanço patrimonial.

Essa demonstração tem o formato de uma letra T, apre-


sentando do lado direito as obrigações com terceiros e o
capital próprio, e do lado esquerdo os bens e direitos da
entidade.

O que chamamos de patrimônio na teoria adotada pelas


empresas, a patrimonialista, é a parte que pertence aos
sócios. São as obrigações não exigíveis, ou as origens de

..........................................................................................................
30 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

recursos que a entidade utiliza pertencentes aos seus só-


cios, e as reservas que vão sendo acumuladas ao longo do
tempo. É representado pelo grupo denominado Patrimô-
nio Líquido.

Os recursos originários de terceiros (exigíveis) são o que


chamamos de Passivo. A soma do passivo com o patrimô-
nio líquido representa o total de origens de recursos da
entidade.

Esses recursos relativos às origens são aplicados no grupo


que denominamos Ativo, em que representamos os bens
e os direitos.

Situação patrimonial positiva: se o total de bens e direi-


tos (ativo) é maior do que o de obrigações com terceiros
(passivo), a situação patrimonial é positiva, ou seja, o Pa-
trimônio Líquido é maior do que zero.

Ativo – Passivo > 0

Situação patrimonial nula: se o total de bens e direitos é


igual ao total de obrigações com terceiros, dizemos que a
situação patrimonial é nula, ou seja, o Patrimônio Líquido
é igual a zero.

Ativo – Passivo = 0

Situação patrimonial negativa: se o total de bens e di-


reitos é menor que o total de obrigações com terceiros,
podemos dizer que a situação patrimonial é negativa, ou
seja, o Patrimônio Líquido é menor do que zero.

.........................................................................................................
Patrimônio 31

Ativo – Passivo < 0

Dessa forma podemos dizer que a equação patrimonial é:

Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido

Aqui temos uma lição importante que levaremos ao longo


de nossa vida como usuários da contabilidade, ou mesmo
como contadores: o total de origens é sempre igual ao
total de aplicações.

Como se modifica

Como a contabilidade registra todos os fatos administrati-


vos, a cada movimentação registrada ocorre uma alteração
na posição patrimonial. Mais adiante veremos como são
efetuados os registros contábeis e abordaremos esses as-
pectos com maior riqueza de detalhes.

..........................................................................................................
32 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

CONTAS

O que são

Em termos contábeis, podemos dizer que conta é como


chamamos o componente patrimonial ou de resultado que
utilizamos para fazer os registros dos fatos administrati-
vos de uma entidade.

Tipos de contas

Para que a contabilidade possa cumprir seu objetivo, que


é o fornecimento de informações aos seus diversos usu-
ários, precisamos dotar essas informações de elementos
qualitativos e quantitativos.

Os primeiros são para informar o que faz parte do patri-


mônio de uma entidade, com todos os detalhamentos pos-
síveis de serem demonstrados; os últimos, para demons-
trar o valor monetário de cada elemento apresentado. Para
que isso seja possível ela se utiliza das contas.

As contas são classificadas, na teoria patrimonialista, que


é a que estamos abordando, em dois grupos:

a. Patrimoniais
São as que identificam cada elemento do patrimô-
nio de uma entidade. Como já vimos anteriormente,
os elementos patrimoniais são os bens, os direitos e
as obrigações, que são divididos como apresentado
a seguir.

.........................................................................................................
Contas 33

i. Ativo
Aqui estamos nos referindo aos bens e direitos
da entidade.

ii. Passivo
Esse grupo de contas inclui as obrigações com
terceiros, ou seja, aquelas que são exigíveis.

iii. Patrimônio Líquido


Nesse grupo estão incluídas as obrigações da
entidade com seus próprios sócios. Inclui, além
do investimento inicialmente feito por eles, to-
das as reservas que foram criadas, prejuízos
acumulados, ajustes de avaliação patrimonial,
entre outras.

b. De resultados
Para que a entidade cumpra sua função econômica,
deve apresentar resultados, e para que esses sejam
apurados utilizamos as contas de resultados. Elas
têm características próprias, pois acumulam saldo
ao longo do exercício social.

O exercício social é o período no qual as entidades


deverão elaborar as demonstrações contábeis. Esse
período deverá ter duração de 1 (um) ano, e a data
do término será fixada no Estatuto Social, conforme
o artigo 175 da Lei nº 6.404/1976 (A Lei das Socie-
dades por Ações), in verbis:

Art. 175. O exercício social terá duração de 1 (um)


ano e a data do término será fixada no estatuto.

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34 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

Parágrafo único. Na constituição da companhia e


nos casos de alteração estatutária o exercício social
poderá ter duração diversa.

Ao final do exercício social, essas contas são encerradas


na apuração do resultado do exercício, quando se apura
se a entidade teve lucro ou prejuízo, e seus saldos serão
zerados.

Nada impede que esses demonstrativos sejam apurados


mensalmente, trimestralmente ou como preferirem os
gestores. A exigência acima trata da legislação societária,
não da tributária.

Elas são divididas em duas categorias, que veremos a seguir:

i. Receitas
São as contas que representam as operações decor-
rentes da venda de bens ou serviços, ou pela remu-
neração de ativos da entidade. Existem em número
bem menor que as contas de despesas. As contas de
receitas mais comuns são: receitas de vendas, recei-
tas de serviços, aluguéis ativos, descontos obtidos,
receitas de juros etc.

ii. Despesas
São contas que representam o sacrifício de ativos
ou compromissos assumidos em busca de receitas.
Decorrem do consumo de bens ou da utilização de
serviços. Ao fazer uma venda de mercadorias uma
empresa tem uma receita de vendas, mas, quando
entrega a mercadoria vendida para o cliente, estará

.........................................................................................................
Contas 35

“sacrificando” um ativo em troca daquela receita.


As despesas mais comuns são: custo de mercado-
rias/serviços/produtos vendidos, impostos, des-
contos concedidos, salários de empregados, energia
elétrica etc.

O plano de contas

Para controlar o patrimônio e ter como fornecer informa-


ções que sejam úteis e confiáveis, a contabilidade precisa
ampliar as possibilidades de qualificar a informação que
fornece. Para que isso seja possível, utiliza-se de dois ti-
pos de contas, que veremos em detalhes a seguir.

São elas as contas analíticas e as contas sintéticas. Parece


complicado, não? Mas é apenas uma primeira impressão.

Um plano de contas é feito de tantos níveis quanto neces-


sários forem.

a. O que é
Cada empresa, de acordo com suas características
peculiares, ou do ramo que atua, precisa organizar
suas contas de forma a possibilitar a geração de in-
formações adequadas aos seus diversos usuários.
Para isso, cada uma delas define a estrutura mais
adequada para as suas contas. A essa estruturação
chamamos de Plano de Contas.

b. Para que serve


Podemos dizer que se trata do planejamento da for-
ma como será efetuada a escrituração contábil da-

..........................................................................................................
36 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

quela empresa. É certo que o plano de contas deve


atender às necessidades legais de evidenciação de
informações.
Ao definir o plano de contas de uma empresa que
está iniciando, o contador deve desenvolver uma es-
trutura flexível o suficiente para suportar um enor-
me aumento do porte dessa empresa que ora se ini-
cia, ou seja, o plano de contas tem que ser capaz de
absorver em sua estrutura novas contas.

c. A hierarquia das contas

i. Contas analíticas
Se você tem duas contas bancárias: uma no
Banco da Praça, agência 999, com saldo de R$
1.000,00, e outra no Banco do Parque, agência
888, com saldo de R$ 500,00, qual seria o seu
saldo bancário total, ou seja, o saldo da conta
que chamaremos de Bancos?

Somados os R$ 1.000,00 do Banco da Praça com


os R$ 500,00 do Banco do Parque, teremos um
saldo total de R$ 1.500,00. Nesse exemplo, as
contas Banco da Praça e Banco do Parque repre-
sentam contas analíticas, são as contas que são
movimentadas. A conta Bancos representa uma
conta sintética, pois apenas soma (sintetiza) os
saldos de contas analíticas a ela ligadas.

Ficou mais fácil para compreender agora? A


contabilidade, mesmo sem termos consciência
disso, é aplicada em nosso cotidiano.

.........................................................................................................
Contas 37

De forma simplificada podemos dizer que as


contas analíticas são aquelas que, efetivamente,
recebem os lançamentos contábeis. É nelas que
ocorrem os registros dos fatos administrativos.

ii. Contas sintéticas


As contas sintéticas são as que resumem os sal-
dos das contas a elas subordinadas. No primei-
ro nível de uma conta sintética há o resumo dos
saldos das contas analíticas a ela subordinadas.
Nos níveis acima, uma conta sintética soma os
saldos das contas sintéticas a ela subordinadas,
ou até mesmo de outras contas analíticas.

d. Como deve ser planejado e elaborado


Como vimos, o plano de contas deve ser elabora-
do com muito cuidado, pensando nas variações que
podem ocorrer no futuro, em longuíssimo prazo.

Dessa forma, ele tem que ser flexível o suficiente


para absorver novas contas durante muitos exer-
cícios sociais consecutivos. Muitas vezes fatos não
previstos ocorrem, como a criação de um novo tri-
buto, e uma conta tem que ser criada para atender
ao seu registro.

Segundo Velter e Missagia (2011, p. 117),

A maioria das empresas não trabalha com um plano


de contas na acepção da palavra. Usa apenas um
elenco de contas. A diferença entre um e outro resi-
de no fato de que o plano de contas, além de apre-

..........................................................................................................
38 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

sentar a relação de contas (elenco), mostra a função


e o funcionamento destas. O elenco de contas só
exibe a relação das contas a serem movimentadas.

As contas têm como função o registro e controle dos fatos


administrativos ocorridos, de sorte que a informação de-
las possa ser extraída de forma ordenada e clara.

As contas têm características de funcionamento próprias.

As que registram os ativos da empresa são as que inicial-


mente recebem as aplicações (lembram?), portanto, pode-
mos dizer que elas têm natureza devedora.

As do passivo e do patrimônio líquido são as que inicial-


mente recebem as origens de recursos da entidade, por-
tanto, podemos afirmar que elas têm natureza credora.

As contas de receitas representam a entrada de recursos,


portanto, têm natureza credora.

As contas de despesas representam a saída de recursos,


portanto, têm natureza devedora.

Como podemos constatar, as contas funcionam em duas


situações: quando ela é debitada ou quando ela é creditada.

Para que um plano de contas seja criado, é preciso que de-


finamos a quantidade de níveis que ele terá e, como numa
construção civil, deverá ser erguido de baixo para cima.
No nível inferior são situadas as contas analíticas (as con-
tas que recebem lançamentos diretos).

.........................................................................................................
Contas 39

No nível mais elevado estão as contas que representam


os grandes grupos contábeis, que normalmente são assim
representados:

1. Contas do Ativo.

2. Contas do Passivo e Patrimônio Líquido.

3. Contas de Despesas.

4. Contas de Receitas.

5. Contas de Apuração do Resultado.

Segundo a Lei das Sociedades por Ações, o Ativo é dividi-


do em dois grupos, o circulante e o não circulante.

Poderíamos representar o circulante como sendo o sub-


grupo 1, e o não circulante, como o subgrupo 2.

Nessa simples estrutura mostrada teríamos:

1 – Ativo
1.1 – Circulante
1.2 – Não circulante

Ainda não estamos estudando alguns detalhes sobre as di-


ferenças entre esses subgrupos, mas apenas para ilustrar
a hierarquia das contas, em uma estrutura de um plano
de contas, poderíamos dizer que os saldos das contas 1.1
– Circulante e 1.2 – Não circulante somados perfazem o
saldo da conta 1 – Ativo.

Continuando uma primeira visão de uma estrutura bem


simplificada, poderíamos ter como continuação do grupo

..........................................................................................................
40 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

1.1 – Circulante a conta 1.1.1 – Disponibilidades, cujo sal-


do será adicionado à conta 1.1 – Circulante, que por sua
vez adiciona seu saldo à conta 1 – Ativo.

1 – Ativo
1.1– Circulante
1.1.1 – Disponibilidades

1.2 – Não circulante

A conta 1.1.1 – Disponibilidades, apenas a título de ilus-


tração, poderia ter a ela vinculadas as contas 1.1.1.01 –
Caixa e 1.1.1.02 – Bancos. O saldo da conta 1.1.1.01 – Cai-
xa somado ao saldo da conta 1.1.1.02 – Bancos somados
perfazem o total do saldo da conta 1.1.1 – Disponibilida-
des, e assim sucessivamente.

1 – Ativo
1.1 – Circulante
1.1.1 – Disponibilidades
1.1.1.01 – Caixa
1.1.1.02 – Bancos
1.2 – Não circulante

Observe que o número de níveis vai depender da amplitu-


de da estrutura de contas que for planejada.

.........................................................................................................
Princípios contábeis 41

PRINCÍPIOS CONTÁBEIS

Os Princípios de Contabilidade significam a essência das


doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade, de
acordo com o entendimento predominante, para um deter-
minado momento, nos universos científico e profissional.
Eles não são imutáveis, mas são de observância obrigató-
ria pelos contabilistas no exercício da profissão, conforme
determinam as Normas Brasileiras de Contabilidade.

A partir de 02/06/2010, Os “Princípios Fundamentais


de Contabilidade (PFC)”, citados na Resolução CFC nº
750/1993, passam a ser chamados de “Princípios de
Contabilidade (PC)”, por força da Resolução CFC nº
1.282/2010, cuja íntegra é a que se segue:

RESOLUÇÃO CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE - CFC Nº


1.282
DE 28.05.2010
D.O.U.: 02.06.2010

Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que


dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade.

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas


atribuições legais e regimentais,
CONSIDERANDO que, por conta do processo de convergência às
normas internacionais de contabilidade, o Conselho Federal de
Contabilidade emitiu a NBC T 1 - Estrutura Conceitual para a Elabo-
ração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, que discute

..........................................................................................................
42 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

a aplicabilidade dos Princípios Fundamentais de Contabilidade


contidos na Resolução CFC nº 750/93;
CONSIDERANDO a necessidade de manutenção da Resolução CFC
nº 750/93, que foi e continua sendo referência para outros orga-
nismos normativos e reguladores brasileiros;
CONSIDERANDO a importância do conteúdo doutrinário apresen-
tado na Resolução CFC nº 750/93, que continua sendo, nesse novo
cenário convergido, o alicerce para o julgamento profissional na
aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade;
CONSIDERANDO que, para assegurar a adequada aplicação das
Normas Brasileiras de Contabilidade à luz dos Princípios de Conta-
bilidade, há a necessidade de harmonização dos dois documentos
vigentes (Resolução CFC nº 750/93 e NBC T 1);

CONSIDERANDO que, por conta dessa harmonização, a denomina-


ção de Princípios Fundamentais de Contabilidade deva ser alterada
para Princípios de Contabilidade, visto ser suficiente para o perfei-
to entendimento dos usuários das demonstrações contábeis e dos
profissionais da Contabilidade, resolve:

Art. 1º Os “Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC)”, citados


na Resolução CFC nº 750/93, passam a denominar-se “Princípios de
Contabilidade (PC)”.

Art. 2º O “CONSIDERANDO” da Resolução CFC nº 750/93 passa a vi-


gorar com a seguinte redação:

“CONSIDERANDO a necessidade de prover fundamentação apro-


priada para interpretação e aplicação das Normas Brasileiras de
Contabilidade,”

Art. 3º Os arts. 5º, 6º, 7º, 9º e o § 1º do art. 10, da Resolução CFC nº


750/93, passam a vigorar com as seguintes redações:

“Artigo 5º O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade


continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a
apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta
esta circunstância.

.........................................................................................................
Princípios contábeis 43

Artigo 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de


mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para
produzir informações íntegras e tempestivas.

Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na pro-


dução e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a
perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação
entre a oportunidade e a confiabilidade da informação.

Artigo 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original determina


que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente regis-
trados pelos valores originais das transações, expressos em moe-
da nacional.

§ 1º As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em


graus distintos e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes
formas:

I - Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos


ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor
justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da
aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos
que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas cir-
cunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os
quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal
das operações; e

II - Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio,


os componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer va-
riações decorrentes dos seguintes fatores:

a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em


caixa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se
esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou
no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reco-
nhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não
descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na
data ou no período das demonstrações contábeis;

b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa

..........................................................................................................
44 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela ven-


da em uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos va-
lores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se
espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações
no curso normal das operações da Entidade;

c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, des-


contado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera
seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade.
Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo
futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para
liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade;

d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um


passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em
uma transação sem favorecimentos; e

e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aqui-


sitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros
contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valo-
res dos componentes patrimoniais.

§ 2º São resultantes da adoção da atualização monetária:

I - a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor,


não representa unidade constante em termos do poder aquisitivo;

II - para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores


das transações originais, é necessário atualizar sua expressão for-
mal em moeda nacional, a fim de que permaneçam substantiva-
mente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por
consequência, o do Patrimônio Líquido; e

III - a atualização monetária não representa nova avaliação, mas


tão somente o ajustamento dos valores originais para determina-
da data, mediante a aplicação de indexadores ou outros elemen-
tos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda na-
cional em um dado período.”

[...]

.........................................................................................................
Princípios contábeis 45

“Artigo 9º O Princípio da Competência determina que os efeitos


das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos
a que se referem, independentemente do recebimento ou paga-
mento.

Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simul-


taneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas.”

Artigo 10. [...]

“Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego


de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos neces-
sários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido
de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos
e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabili-
dade ao processo de mensuração e apresentação dos componen-
tes patrimoniais.”

Art. 4º Ficam revogados o inciso V do art. 3º, o art. 8º e os §§ 2º e


3º do art. 10, da Resolução CFC nº 750/93, publicada no D.O.U., Se-
ção I, de 31.12.93; a Resolução CFC nº 774/94, publicada no D.O.U.,
Seção I, de 18/1/95, e a Resolução CFC nº 900/01, publicada no
D.O.U., Seção I, de 3/4/01.

Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

JUAREZ DOMINGUES CARNEIRO

Presidente do Conselho

..........................................................................................................
46 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

Da entidade

O Princípio da Entidade, na Resolução CFC nº 750/1993,


tem a seguinte redação:

O PRINCÍPIO DA ENTIDADE

Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Pa-


trimônio como objeto da Contabilidade e afirma a
autonomia patrimonial, a necessidade da diferen-
ciação de um Patrimônio particular no universo dos
patrimônios existentes, independentemente de per-
tencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma
sociedade ou instituição de qualquer natureza ou
finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequ-
ência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde
com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no
caso de sociedade ou instituição.

Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTI-


DADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou
agregação contábil de patrimônios autônomos não
resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de
natureza econômico-contábil.

Em síntese, podemos afirmar que o patrimônio da entida-


de deve ser segregado do patrimônio de seus sócios. São
patrimônios distintos, não se misturam. O sócio tem o seu
quinhão na empresa, mas o dinheiro da empresa é do pa-
trimônio dela, e não do sócio.

Se a empresa obtiver lucro e parte desse lucro for distri-


buído aos sócios, aí, sim, eles terão parte do patrimônio
da empresa.

Um exemplo da aplicação desse princípio é apresentado


por meio da questão de concurso público – Analista Legis-
lativo – Câmara dos Deputados – FCC – 2007:

.........................................................................................................
Princípios contábeis 47

A Cia. Astral tem como sócio-presidente o Sr. Carlos Al-


berto. A empresa, neste último exercício, vem atravessan-
do sérias dificuldades financeiras em função de os dois
outros concorrentes terem se instalado na mesma região,
disputando mercado que anteriormente era somente seu.

O Sr. Carlos Alberto habitualmente apresenta suas despe-


sas pessoais para serem contabilizadas e pagas pela em-
presa. Ao fazer isso o Sr. Carlos Alberto está infringindo o
Princípio/Norma Contábil:

a) Da continuidade.
b) Do conservadorismo.
c) Da entidade.
d) Do custo como base do valor original.
e) Da competência.

Resposta: Letra C – Da entidade.

Da continuidade

O Princípio da Continuidade, na Resolução CFC nº


750/1993, modificada pela Resolução CFC nº 1.282/2010,
tem a seguinte redação:

Art. 5º O Princípio da Continuidade pressupõe que a Enti-


dade continuará em operação no futuro e, portanto, a men-
suração e a apresentação dos componentes do patrimônio
levam em conta esta circunstância.
Parte do pressuposto que, em condições normais, salvo evi-
dências ou algum evento excepcional em contrário, a entida-

..........................................................................................................
48 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

de terá continuidade no futuro, ou seja, de que as empresas


tendem a continuar existindo por longos períodos.

Caso haja indícios de que essa continuidade não ocorrerá,


os critérios de avaliação de seu patrimônio necessariamen-
te terão que ser diferentes, ou seja, o tratamento contábil
dado ao patrimônio da empresa terá que ser diferenciado.

Da oportunidade

A redação do Princípio da Oportunidade, na Resolução


CFC nº 750/1993, foi alterada pela Resolução CFC nº
1.282/2010 e assim ficou:

Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao


processo de mensuração e apresentação dos com-
ponentes patrimoniais para produzir informações
íntegras e tempestivas.

Parágrafo único. A falta de integridade e tempesti-


vidade na produção e na divulgação da informação
contábil pode ocasionar a perda de sua relevância,
por isso é necessário ponderar a relação entre a
oportunidade e a confiabilidade da informação.

Novamente aqui se pode notar o cuidado da regulamenta-


ção com a qualidade das informações a serem fornecidas
pela contabilidade.

Segundo Moraes Júnior (2013, p. 28), esse princípio está


marcado pela necessidade do fornecimento de informa-
ções que sejam íntegras e tempestivas, portanto, exige a
apreensão, o registro e o fornecimento das informações
relativas às alterações ocorridas no patrimônio, no mo-
mento em que os fatos administrativos são consumados.

.........................................................................................................
Princípios contábeis 49

Para exemplificar a aplicação desse princípio, vejamos


uma questão de prova de concurso sobre o tema:

(Analista Judiciário – Área Administrativa – Especialidade


Contabilidade – TRT 24R-2011 – FCC) O princípio contábil
que determina que o registro das variações patrimoniais,
desde que tecnicamente estimável, deve ser feito mesmo
na hipótese de somente existir razoável certeza de sua
ocorrência, é o Princípio da:

a) Continuidade.
b) Exclusividade.
c) Oportunidade.
d) Entidade.
e) Prudência.

Essa questão aborda em essência a ideia do Princípio da


Oportunidade, pois os registros contábeis das variações
patrimoniais devem ser efetuados mesmo na existência de
razoável certeza do acontecimento.

Como não poderia deixar de ser, nesse exemplo a alterna-


tiva correta é a opção “C”.

Do registro pelo valor original

Esse é outro Princípio previsto na Resolução CFC nº


750/1993 que foi modificado pela Resolução CFC nº
1.282/2010.

Art. 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original


determina que os componentes do patrimônio de-

..........................................................................................................
50 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

vem ser inicialmente registrados pelos valores origi-


nais das transações, expressos em moeda nacional.

Um ponto importante a ser destacado é que na nova re-


dação desse Princípio ele absorve o extinto princípio da
atualização monetária, que agora é utilizado apenas como
um dos critérios para que se registre a variação do custo
histórico.

Esse é o Princípio que mais alterações sofreu com a edição


da Resolução CFC nº 1.282/2010.

Ele determina que os componentes patrimoniais devem,


em princípio, ser registrados pelos valores originais das
transações a que correspondem expressos em moeda na-
cional.

A partir daí manifestam-se, mais uma vez, os cuidados


regulatórios em favor da apresentação mais próxima da
realidade. A ideia é fazer com que os valores apresentados
nas demonstrações contábeis reflitam, com a maior proxi-
midade possível, seus valores corretos.

A partir do momento em que foi feito o registro pelo va-


lor original, dependendo do caso e das circunstâncias, as
seguintes bases de mensuração de seus valores devem ser
utilizadas, combinadas ou não, para demonstrar as varia-
ções de valores ocorridas ao longo do tempo. Essas bases
são, segundo a Resolução CFC nº 1.282/2010, editando a
Resolução CFC nº 750/1993:

.........................................................................................................
Princípios contábeis 51

§ 1º As seguintes bases de mensuração devem ser


utilizadas em graus distintos e combinadas, ao lon-
go do tempo, de diferentes formas:

I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos


valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equiva-
lentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que
são entregues para adquiri-los na data da aquisição.
Os passivos são registrados pelos valores dos recur-
sos que foram recebidos em troca da obrigação ou,
em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa
ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários
para liquidar o passivo no curso normal das opera-
ções; e

II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado


ao patrimônio, os componentes patrimoniais, ativos
e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos
seguintes fatores:

a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos


valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais
teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equi-
valentes fossem adquiridos na data ou no período
das demonstrações contábeis. Os passivos são re-
conhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes
de caixa, não descontados, que seriam necessários
para liquidar a obrigação na data ou no período das
demonstrações contábeis;

b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos


valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais
poderiam ser obtidos pela venda em uma forma or-
denada. Os passivos são mantidos pelos valores em
caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que
se espera seriam pagos para liquidar as correspon-
dentes obrigações no curso normal das operações
da Entidade;

c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor


presente, descontado do fluxo futuro de entrada lí-
quida de caixa que se espera seja gerado pelo item
no curso normal das operações da Entidade. Os pas-
sivos são mantidos pelo valor presente, desconta-

..........................................................................................................
52 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

do do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se


espera seja necessário para liquidar o passivo no
curso normal das operações da Entidade;

d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode


ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes
conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação
sem favorecimentos; e

e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração


do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser
reconhecidos nos registros contábeis mediante o
ajustamento da expressão formal dos valores dos
componentes patrimoniais.

§ 2º São resultantes da adoção da atualização mo-


netária:

I – a moeda, embora aceita universalmente como


medida de valor, não representa unidade constante
em termos do poder aquisitivo;
II – para que a avaliação do patrimônio possa man-
ter os valores das transações originais, é necessário
atualizar sua expressão formal em moeda nacional,
a fim de que permaneçam substantivamente corre-
tos os valores dos componentes patrimoniais e, por
consequência, o do Patrimônio Líquido; e
III – a atualização monetária não representa nova
avaliação, mas tão somente o ajustamento dos va-
lores originais para determinada data, mediante a
aplicação de indexadores ou outros elementos ap-
tos a traduzir a variação do poder aquisitivo da mo-
eda nacional em um dado período.

Observem que os valores variam de acordo com alguns con-


ceitos muito importantes que serão muito utilizados ao lon-
go do seu aprendizado em Ciências Contábeis, tais como:

1. Custo histórico.
2. Variações do custo histórico, como Custo Corren-

.........................................................................................................
Princípios contábeis 53

te, Valor Realizável, Valor Presente, Valor Justo e


Atualização Monetária.

Ao longo do curso esses temas serão tratados com maior


profundidade.

Da competência

Outro Princípio estabelecido pela Resolução CFC nº 750


que foi modificado pela Resolução CFC nº 1.282/2010:

Art. 9º O Princípio da Competência determina que


os efeitos das transações e outros eventos sejam re-
conhecidos nos períodos a que se referem, indepen-
dentemente do recebimento ou pagamento.

Parágrafo único. O Princípio da Competência pres-


supõe a simultaneidade da confrontação de receitas
e de despesas correlatas.

Esse Princípio também sofreu mudança, em face da har-


monização das Normas de Contabilidade de acordo com
novo padrão adotado para a contabilidade brasileira. Ele
simplesmente, agora de forma mais genérica, determina o
reconhecimento, e consequente registro, das transações
no momento em que elas ocorrem, independentemente se
houve ou não seus pagamentos ou recebimentos.

Vamos exemplificar a aplicação desse Princípio com uma


questão de concurso público (FCC):

Em relação ao princípio contábil da competência, é correto


afirmar que:

..........................................................................................................
54 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

a) O reconhecimento das despesas deve ser efetua-


do quando houver o efetivo desembolso financeiro
por parte da pessoa jurídica que efetuou o gasto.

b) Uma despesa é considerada incorrida quando há


um surgimento de um ativo, sem o concomitante
desaparecimento de um passivo.

c) As perdas involuntárias de ativos por questões


fortuitas ou por força maior não devem ser compu-
tadas na apuração do resultado do exercício, por-
que não estão correlacionadas com a realização de
receitas.

d) As receitas são consideradas realizadas, nas tran-


sações com terceiros, quando estes efetuarem o pa-
gamento.

e) A extinção, mesmo que parcial, de um passivo,


sem o desaparecimento concomitante de um ativo,
de valor igual ou maior, é considerada realização de
receita.

Existem nessa questão-exemplo alguns conceitos que você


ainda não aprendeu, mas a simples leitura do caput do
Princípio da Competência e de seu parágrafo único levará
você à resposta correta, observe:

O princípio da competência define claramente que o reco-


nhecimento de uma despesa independe do seu pagamento
ou recebimento, portanto, a opção A não atende às suas
definições.

.........................................................................................................
Princípios contábeis 55

Quando há o surgimento de um ativo, sem o concomitante


desaparecimento de um passivo, podem ter ocorrido dois
tipos de eventos: sócios investindo mais recursos na enti-
dade ou, este mais comum, uma receita, por exemplo, de
aluguéis recebidos, ou seja, ocorreu uma receita. Portanto
a opção B não está de acordo com o princípio da compe-
tência.

As perdas são necessariamente registradas como despe-


sas, e o resultado é o confronto entre receitas e despesas,
portanto, a opção C também não atende ao princípio da
competência.

É o mesmo caso da opção A, só que ao contrário. O princí-


pio da competência não atrela o reconhecimento de uma
receita ao seu recebimento, portanto, essa opção também
não atende ao princípio da competência.

A extinção de um passivo (obrigação) sem o desapareci-


mento concomitante de um ativo (normalmente as obri-
gações são quitadas com ativos — bens e direitos) signifi-
ca realização de receita, nos termos da Resolução CFC nº
750/1993, em seu artigo 9º. Opção correta “E”.

Da prudência

Na existência de um ativo ou um passivo, escriturados de


acordo com o que determina o Princípio do Registro pelo
Valor Original, quando é suscitada qualquer dúvida quan-
to à correção que eles devem sofrer, o Princípio da Prudên-
cia deve ser observado.

..........................................................................................................
56 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

Caso exista mais de uma possibilidade de se fazer o cálcu-


lo dos valores atualizados, recomenda o princípio da pru-
dência que seja sempre escolhido o de menor valor para
os ativos e o de maior valor para os passivos. O objetivo é
sempre garantir os interesses dos credores da entidade ou
dos sócios minoritários da entidade.

O valor provisionado ao final de cada exercício social para


estimar, no próximo exercício social, as perdas que ocor-
rerão pelo não recebimento dos créditos da empresa junto
aos seus clientes, chamada de Provisão para Estimativa de
perdas em Créditos de Liquidação Duvidosa – PECLD, é
um exemplo claro da aplicação do princípio da prudência,
pois, como essa conta (PECLD) é redutora do ativo, o usu-
ário das demonstrações contábeis daquela entidade terá
a ideia correta dos valores líquidos que a empresa espera
receber de seus clientes.

Art. 10. O Princípio da PRUDÊNCIA determina a ado-


ção do menor valor para os componentes do ATIVO
e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apre-
sentem alternativas igualmente válidas para a quan-
tificação das mutações patrimoniais que alterem o
patrimônio líquido.
Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe
o emprego de certo grau de precaução no exercício
dos julgamentos necessários às estimativas em cer-
tas condições de incerteza, no sentido de que ativos
e receitas não sejam superestimados e que passi-
vos e despesas não sejam subestimados, atribuindo
maior confiabilidade ao processo de mensuração e
apresentação dos componentes patrimoniais.

Vejamos, a título de exemplo, uma questão de concurso


que aborda o tema:

.........................................................................................................
Princípios contábeis 57

(Técnico Judiciário – Área Administrativa – Especialidade


Contabilidade – TER/PI – 2009 – FCC) De acordo com o
Princípio da Prudência, a contabilidade deve adotar, den-
tre os critérios válidos, aquele que resulta no:

a) Menor valor para os passivos.


b) Menor valor para os ativos.
c) Menor valor para as perdas.
d) Maior valor para o patrimônio líquido.
e) Maior valor para as receitas.

O Princípio da Prudência mostrado acima determina a


adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e
do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem
alternativas igualmente válidas para a quantificação das
mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido.

Dessa forma não teremos dúvidas em assinalar a opção


“B”.

Neste capítulo, você estudou as noções iniciais do que é


a contabilidade. Foram abordadas algumas características
que a definem como uma linguagem importante para in-
vestidores e gestores em geral de acordo com o atual con-
texto de negócios e suas demandas contemporâneas.

Você pôde entender que a contabilidade vai bem além do


simples fato de fazer registros e gerar informações passa-
das para seus usuários. Ocorreram mudanças que a alça-
ram a um novo patamar no universo dos negócios.

..........................................................................................................
58 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

Você teve a oportunidade de conhecer um pouco de sua


história e evolução.

Viu também quais são os usuários das informações con-


tábeis e dentre esses grupos de usuários aprendeu a dis-
tinguir os que têm prioridade nas informações contábeis
padronizadas.

Você pôde aprender e conhecer o amplo campo de atua-


ção atualmente disponível para um profissional da área
contábil.

Outro ponto importante que você pôde conhecer foi o en-


tendimento das técnicas que um profissional contábil uti-
liza para atender aos objetivos da contabilidade.

Teve também a oportunidade de conhecer o verdadeiro


significado do que é patrimônio, sua composição e as di-
versas situações patrimoniais possíveis.

Você teve um contato inicial com o “tijolo” da construção


da informação contábil, a noção de conta contábil, do re-
lacionamento existente entre elas e como por meio desse
relacionamento se projeta a informação que se deseja ex-
trair do sistema contábil.

Finalmente, pôde compreender parte do escopo regula-


mentar que rege o exercício técnico da profissão, ou seja,
os princípios contábeis.

.........................................................................................................
59

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução


Normativa nº 605, de 11 de março de 2014. Aprova o Ma-
nual de Contabilidade do Setor Elétrico – MCSE, instituí-
do pela Resolução Normativa nº 444, de 26 de outubro de
2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 mar. 2014.

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE. Resolução Normativa nº


322, de 27 de março de 2013. Altera o Anexo da Resolução
Normativa nº 290, de 27 de fevereiro de 2012, que dispõe
sobre o Plano de Contas Padrão para as Operadoras de Pla-
nos de Assistência à Saúde. Diário Oficial da União, Brasí-
lia, DF, 28 mar. 2013.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução nº 4.144, de 27


de setembro de 2012. Dispõe sobre a estrutura conceitual
para a elaboração e apresentação das demonstrações con-
tábeis. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 set. 2012.

BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe


sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 17 dez. 1976.

. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera


e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro
de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e es-
tende às sociedades de grande porte disposições relativas
à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007.

. Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a le-


gislação tributária federal relativa ao parcelamento ordiná-
rio de débitos tributários; concede remissão nos casos em
que especifica; institui regime tributário de transição [...] e

..........................................................................................................
60 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 28 maio 2009.

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação CVM


nº 675, de 13 de dezembro de 2011. Aprova o Pronuncia-
mento Conceitual Básico do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis, que dispõe sobre a estrutura conceitual para
elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 dez. 2011.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC


nº 750, de 29 de dezembro de 1993. Dispõe sobre os Prin-
cípios de Contabilidade (PC). Diário Oficial da União, Bra-
sília, DF, 31 dez. 1993.

. Resolução CFC nº 774, de 16 de dezembro de


1994. Aprova o Apêndice à Resolução sobre os Princípios
Fundamentais de Contabilidade. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 18 jan. 1995.

. Resolução CFC nº 1.055, de 7 de outubro de 2005.


Cria o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC) e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
24 out. 2005.

. Resolução CFC nº 1.282, de 28 de maio de 2010.


Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº
750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de
Contabilidade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2 jun.
2010.

. Resolução CFC nº 1.374, de 8 de dezembro de


2011. Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CONCEITU-
AL – Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de
relatório contábil-financeiro. Diário Oficial da União, Bra-
sília, DF, 16 dez. 2011.

.........................................................................................................
61

. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 100,


de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 100 –
Aplicação geral aos profissionais da contabilidade. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 2014.

. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 12,


de 21 de novembro de 2014. Aprova a NBC PG 12, que dis-
põe sobre educação profissional continuada. Alterada pela
NBC PG 12, de 10 de dezembro de 2015. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 8 dez. 2014.

. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 200,


de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 200 –
Contadores que prestam serviços (contadores externos).
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 2014.

. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 300,


de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 300 –
Contadores empregados (contadores internos). Diário Ofi-
cial da União, Brasília, DF, 25 mar. 2014.

EDDINGTON, Arthur S. La filosofia de la ciência física.


Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1946.

MARION, José C. Contabilidade Geral. São Paulo: Atlas,


2012.

MORAES JÚNIOR; José J.; Contabilidade Geral. Rio de Ja-


neiro: Campus, 2013.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Manual de Contabilidade Básica:


contabilidade introdutória e intermediária. 8. ed. São Pau-
lo: Atlas, 2012.

SÁ, Antônio Lopes de. Teoria da Contabilidade. 5. ed. São


Paulo: Atlas, 2010.

..........................................................................................................
62 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos

SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS. Circular


Susep nº 483, de 6 de janeiro de 2014. Dispõe sobre al-
terações das Normas Contábeis a serem observadas pelas
sociedades seguradoras, sociedades de capitalização, enti-
dades abertas de previdência complementar e ressegura-
dores locais, instituídas pela Resolução CNSP nº 86, de 3
de setembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
8 jan. 2014.

VELTER, Francisco; MISSAGIA, Luiz R. Manual de Contabi-


lidade: teoria e mais de 650 questões. 8. ed. Rio de Janeiro:
Campus; Elsevier, 2011.

.........................................................................................................
Atos e fatos administrativos 63

CAPÍTULO 2
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL –
PARTE I

Neste capítulo, abordaremos a diferença entre atos e fatos


administrativos para a contabilidade e como os fatos ad-
ministrativos são registrados nos principais livros da em-
presa.

Um ponto importante que será abordado, fundamental


para a compreensão da lógica que fundamenta a linguagem
contábil, é o Método das Partidas Dobradas.

Será apresentada, em suas minúcias, a técnica da escritu-


ração contábil, e, em seguida, será mostrada a prática da
escrituração contábil no livro diário, que é o principal livro
contábil, e nos razonetes, que representam a simplificação
da escrituração efetuada no livro-razão, outro importante
livro da contabilidade.

..........................................................................................................
64 Escrituração Contábil – Parte I

ATOS E FATOS ADMINISTRATIVOS

Em contabilidade, a questão das nomenclaturas adotadas


é sempre importante. É bom que seja esclarecida a dife-
rença entre ATOS administrativos e FATOS administrati-
vos, pois isso costuma dar margem a erros.

Atos Administrativos

Ocorrem na entidade sem causar alterações em seu pa-


trimônio, portanto, não são registrados contabilmente
(veremos como funciona essa contabilização ainda neste
capítulo).

Quando forem abordadas as demonstrações contábeis,


veremos que o conjunto delas inclui Notas Explicativas.
Nelas são registrados alguns atos administrativos, os que
sejam relevantes e que poderão gerar fatos administrati-
vos no futuro. O melhor exemplo dessa situação é a em-
presa se tornar avalista de um empréstimo tomado por
uma empresa em que tenha participação relevante. Se a
empresa associada não pagar o empréstimo, a empresa
avalista terá que pagá-lo, com seus custos, e isso se torna-
rá um fato administrativo.

Existem algumas situações mais simples e transitórias que


são atos administrativos. Muitas empresas costumam, por
esse motivo, fazer registros em contas de compensação,
que são contas próprias para o registro de atos adminis-
trativos (MORAES JÚNIOR, 2013, p. 91).

.........................................................................................................
Atos e fatos administrativos 65

Fatos Administrativos

Alguns autores os chamam também de fatos de gestão,


porém, a grande maioria os trata como fatos administrati-
vos, que representam operações realizadas pela adminis-
tração de uma entidade que afetem, em termos quantitati-
vos e/ou qualitativos, o patrimônio desta.

A simples transferência de valores da conta que registra


a movimentação do Banco A para a conta que registra a
movimentação do Banco B afeta a posição patrimonial, e
por esse motivo deve ser registrada. Sim, os fatos adminis-
trativos devem ser registrados na contabilidade.

Enfim, todas as operações praticadas pela administração


de uma entidade, tais como compras, vendas, emprésti-
mos, trocas etc., são consideradas fatos administrativos.

Com muita propriedade nos esclarece Ferreira (2013, p.


391) que fato administrativo não é a mesma coisa que fato
contábil, porque todo fato administrativo é um fato contá-
bil, mas nem todo fato contábil é um fato administrativo.
Por exemplo, se um incêndio causa a perda dos estoques
de uma empresa, o patrimônio é reduzido. Esse fato não
é decorrente de atos praticados pelos gestores, portanto,
não é um fato administrativo, mas produz variação patri-
monial, portanto, trata-se de um fato contábil.

Os fatos administrativos podem ser separados em três ca-


tegorias distintas: fatos permutativos ou compensativos,
fatos modificativos e fatos mistos.

..........................................................................................................
66 Escrituração Contábil – Parte I

1. Fatos permutativos ou compensativos

São aqueles que NÃO provocam alterações no valor do Pa-


trimônio Líquido. Como no exemplo das contas bancárias
mostrado acima: o fato administrativo não alterou o valor
do patrimônio. Naquele caso somente alterou o valor das
duas contas bancárias envolvidas. O valor do ativo perma-
neceu o mesmo, o do passivo também, por consequência,
o patrimônio líquido também não foi alterado.

Sempre que houver fatos que envolvam somente contas


patrimoniais, não haverá apenas a troca de saldos. Vamos
ver alguns exemplos:

1.1. Se a empresa retira R$ 1.000,00 da conta caixa


e compra estoques ocorre uma redução no saldo da
conta caixa, ou seja, um crédito, já que é uma conta
do ativo, e um correspondente aumento da conta
estoque, ou seja, um débito, já que é também uma
conta do ativo. Nesse caso, houve o registro de um
fato administrativo, porém o ativo não se alterou,
nem o passivo e tampouco o patrimônio líquido.

1.2. Se a empresa paga, por meio de um cheque de


R$ 5.000,00, uma dívida com um fornecedor, temos
uma saída da conta bancos, que, por ser uma conta
do ativo, é diminuída, e para diminuir o ativo de-
vemos lançar um crédito. O pagamento serviu para
quitar uma obrigação, reduzindo o passivo. Para re-
duzir o passivo devemos lançar um débito de R$
5.000,00, que, nesse caso, é efetuado na conta for-
necedores a pagar. Observem que nesse exemplo o

.........................................................................................................
Atos e fatos administrativos 67

ativo diminuiu, o passivo diminuiu no mesmo valor,


e, como o patrimônio líquido é a diferença entre o
ativo e o passivo, ele não foi alterado.

1.3. Um cliente pagou, em dinheiro, R$ 2.000,00 que


devia à empresa. O fato administrativo foi registra-
do da seguinte forma: um débito na conta caixa no
valor de R$ 2.000,00 (aumento do ativo) e um crédi-
to na conta clientes a receber no mesmo valor (dimi-
nuição do ativo). Novamente temos um caso em que
o fato administrativo não alterou o valor do ativo,
não envolveu o passivo e, portanto, não alterou o
patrimônio líquido.

1.4. A empresa que tinha uma reserva de lucros


para futuro aumento de capital resolveu efetivar o
aumento de seu capital utilizando-se dessa reser-
va, que montava a R$ 500.000,00. Nesse caso temos
envolvidas duas contas do patrimônio líquido: “ca-
pital social” e “reserva de lucros para aumento de
capital”. Por serem contas de natureza credora (as
contas do passivo e do patrimônio líquido têm
natureza credora) — para aumentar o patrimônio
líquido devemos lançar um crédito, e, para dimi-
nuir, um débito — vamos lançar um crédito de R$
500.000,00 na conta que teve o saldo aumentado,
ou seja, a conta “capital social”, e um débito no mes-
mo valor na conta que teve o saldo reduzido, ou
seja, a conta “reserva de lucros para aumento de
capital”. Observe que não ocorreu alteração no valor
do patrimônio líquido, pois nesse fato administrati-
vo ele aumentou e diminuiu no mesmo valor.

..........................................................................................................
68 Escrituração Contábil – Parte I

1.5. A empresa efetuou, a prazo, uma compra de mer-


cadorias para revenda, no valor de R$ 600.000,00.
Estão envolvidas nesse fato administrativo duas
contas, “fornecedores a pagar” e “estoques”, uma do
passivo, pois é uma obrigação assumida, e uma do
ativo, pois são bens adquiridos. Temos nesse caso
um aumento no ativo, representado por um débito
na conta “estoques”, e um aumento no passivo, re-
presentado por um crédito na conta “fornecedores
a pagar”, ou seja, foram aumentados o ativo e o pas-
sivo em R$ 600.000,00, não alterando o patrimônio
líquido, pois Ativo – Passivo = Patrimônio Líquido.

1.6. Se a empresa vender, à vista, em dinheiro, pelo


preço de custo, uma mercadoria de seus estoques,
ocorrerá somente a troca de mercadorias por mo-
edas. Nesse caso, o fato administrativo envolverá
contas patrimoniais e contas de resultado (veremos
esse tipo de operação mais adiante), mas não haverá
nenhuma alteração no patrimônio líquido, pois não
ocorrerá nem lucro, nem prejuízo.

Nesses fatos administrativos exemplificados acima


não devemos, e não podemos, esquecer do Princípio
da Competência. Lembram dele? O reconhecimento
dos fatos deve se dar no momento de sua ocorrên-
cia, não estando vinculado necessariamente ao seu
pagamento ou recebimento.

2. Fatos Modificativos

Como o nome sugere, esses fatos provocam alterações


para mais ou para menos no patrimônio líquido, podendo
ser classificados da seguinte forma:

.........................................................................................................
Atos e fatos administrativos 69

a) Aumentativos: são os que aumentam o valor do


patrimônio líquido.

b) Diminutivos: são os que reduzem o valor do pa-


trimônio líquido.

c) Mistos ou compostos: são aqueles que envolvem,


ao mesmo tempo, um fato modificativo e um fato per-
mutativo, podendo ser aumentativos ou diminutivos.

Apesar de não termos aprendido ainda o que são lança-


mentos contábeis, serão apresentados a seguir alguns
exemplos desses fatos, que ficarão mais claros, para o seu
entendimento, após o estudo dos lançamentos contábeis e
da apuração de resultados de um exercício social.

2.1 Fatos Modificativos Aumentativos:

a) A entidade prestou um serviço e o recebeu à vis-


ta, em dinheiro.
Houve um aumento do ativo, por meio de um dé-
bito na conta caixa, e um aumento do patrimônio
líquido, em função do lançamento a crédito na con-
ta receita de serviços. Toda receita aumenta o patri-
mônio líquido.

b) A entidade recebeu dividendos relativos à distri-


buição dos lucros de uma entidade em que tenha
participação societária. Ao receber os dividendos, ela
teve um débito em sua conta bancos e um crédito,
por exemplo, em outras receitas. Sempre que ocorre
uma receita o patrimônio líquido é aumentado.

..........................................................................................................
70 Escrituração Contábil – Parte I

Nesse exemplo tivemos um aumento de um ativo e


um aumento do patrimônio líquido.

c) Os acionistas da empresa resolveram fazer um


aumento do capital social e integralizaram mais R$
100.000,00, depositados na conta do Banco A.
Nesse caso houve um aumento do patrimônio líqui-
do, por causa de um crédito na conta capital social,
e um aumento do ativo, em função de um débito na
conta banco A.

d) A empresa devia uma importância significativa a


um determinado fornecedor e, após um acordo com
os acionistas, decidiu aumentar seu capital social,
emitindo novas ações, que foram entregues ao for-
necedor em troca da importância devida.
Nesse caso houve uma redução do passivo, por cau-
sa de um débito na conta fornecedores a pagar, e
um aumento do patrimônio líquido, em função de
um crédito na conta capital social.

2.2 Fatos Modificativos Diminutivos:

a) A empresa distribuiu dividendos aos seus acio-


nistas, por meio de transferências bancárias para os
titulares dessas ações.
Nesse caso houve uma redução do ativo, em função
de créditos na conta bancos, e uma redução do pa-
trimônio líquido, por causa da distribuição, lançada
por meio de débitos na conta lucros acumulados.

b) A empresa efetuou o pagamento do aluguel da


loja que utiliza, em dinheiro.

.........................................................................................................
Atos e fatos administrativos 71

Nessa situação houve a redução de ativo, traduzido


por um lançamento a crédito na conta caixa, e a re-
dução do patrimônio líquido, pois a conta despesa
com aluguéis recebeu um débito. Toda despesa re-
duz o patrimônio líquido.

c) A empresa obteve antecipadamente duplicatas


que tinha a receber. Para que o cliente fizesse o pa-
gamento de forma antecipada, a empresa ofereceu
um desconto.
Houve um recebimento em dinheiro ou cheque, au-
mentando o ativo por meio de débito. Houve o des-
conto concedido, que é registrado em função de um
débito (lembram que toda despesa reduz o patrimô-
nio líquido?), e um direito foi retirado do ativo, por
causa de um crédito, que corresponde à soma dos
dois débitos que vimos acima.

2.3 Fatos Mistos Diminutivos:

a) Uma empresa recebeu, em 01/06/2016, por depó-


sito bancário, R$ 100.000,00 relativos a uma dupli-
cata cujo valor era de R$ 108.000,00 e venceria em
60 dias. Para tanto, concedeu ao cliente um descon-
to de R$ 8.000,00.
O lançamento envolveria um débito na conta caixa,
pois o caixa foi aumentado no valor recebido (R$
100.000,00); a contrapartida dessa conta seria a
conta clientes a receber, em que o cliente constava
como devedor de R$ 108.000,00, portanto, tal con-
ta recebe um lançamento a crédito no valor de R$
100.000,00. Para completar o registro, devemos lan-

..........................................................................................................
72 Escrituração Contábil – Parte I

çar, na conta despesas financeiras, o desconto que


foi concedido ao cliente no valor de R$ 8.000,00.
Toda despesa recebe lançamento a débito e reduz
o patrimônio líquido. Como contrapartida a esse re-
gistro, devemos lançar um crédito na conta “clien-
tes a receber” no valor de R$ 8.000,00.
Dessa forma, esse fato permutou posições no ativo
e reduziu o patrimônio líquido.
Observem que o total lançado a débito (R$
100.000,00 + R$ 8.000,00) é exatamente igual ao to-
tal lançado a crédito (R$ 100.000,00 + R$ 8.000,00).
Essa é uma das regras mais importantes da conta-
bilidade.
Estudaremos isso com mais detalhes quando abor-
darmos a escrituração contábil.

2.4 Fatos Mistos Aumentativos:

b) Uma empresa recebeu, em 01/06/2016, por depó-


sito bancário, uma duplicata de R$ 100.000,00 que
um cliente lhe devia. Esse recebimento foi acrescido
de R$ 8.000,00 a título de juros pelo atraso no paga-
mento, ou seja, a empresa tinha “duplicatas a receber”
no valor de R$ 100.000,00 e recebeu R$ 108.000,00.
No caso houve um aumento no ativo, na conta ban-
cos. Como já sabemos, para aumentar o ativo de-
vemos fazer um lançamento a débito no valor de
R$ 108.000,00. Houve a quitação de uma dívida, ou
seja, um direito que a empresa tinha a receber foi
recebido, dessa forma houve uma redução no ativo.
Para reduzir o ativo devemos fazer, nesse caso, um
lançamento a crédito na conta duplicatas a receber

.........................................................................................................
Atos e fatos administrativos 73

no valor de R$ 100.000,00, que era o valor da dívida


que o cliente tinha registrada na empresa. Os res-
tantes R$ 8.000,00 são lançados na conta receitas
financeiras, e, como vocês já sabem, as receitas são
lançadas a crédito e aumentam o patrimônio líquido.
Dessa forma o fato permutou elementos do ativo e
modificou para mais o patrimônio líquido.
Novamente observem que o total lançado a débito é
exatamente igual ao total lançado a crédito.

..........................................................................................................
74 Escrituração Contábil – Parte I

LIVROS DA EMPRESA

As atividades empresariais podem ser representadas por


pessoas físicas ou jurídicas de forma quase total, à ex-
ceção das que exigem a adequação da entidade ao que é
determinado pelos diplomas legais de cada país em que
estejam sendo executadas.

No caso das entidades brasileiras, atuantes no Brasil, o


primeiro normativo a ser obedecido é o Código Civil – CC,
ou seja, a Lei nº 10.406/2002.

CAPÍTULO IV

Da Escrituração

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados


a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com
base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência
com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o ba-
lanço patrimonial e o de resultado econômico.

§ 1o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros


ficam a critério dos interessados.

§ 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empre-


sário a que se refere o art. 970.

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável
o Diário (grifo nosso), que pode ser substituído por fichas no caso
de escrituração mecanizada ou eletrônica.

Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro


apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de re-
sultado econômico.

.........................................................................................................
Livros da empresa 75

Prossegue a Lei:

Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente


nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês
e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasu-
ras, emendas ou transportes para as margens.

Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de


abreviaturas, que constem de livro próprio, regularmente auten-
ticado.

Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e


caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita di-
reta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da
empresa.

§ 1º Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que


não excedam o período de trinta dias, relativamente a contas
cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do
estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regular-
mente autenticados, para registro individualizado, e conservados
os documentos que permitam a sua perfeita verificação.

§ 2º Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resul-


tado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em
Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou
sociedade empresária.

Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o


sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário
pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas
formalidades extrínsecas exigidas para aquele.

Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado


de modo que registre:

I - a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis,


pelo respectivo saldo, em forma de balancetes diários;

II - o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerra-


mento do exercício.

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76 Escrituração Contábil – Parte I

O regulamento do imposto de renda – RIR, Decreto nº


3.000, de 26 de março de 1999, obriga as pessoas jurí-
dicas tributadas com base no lucro real a manterem sua
escrituração em livros adequados.

O CFC, por meio da Resolução nº 1.330/2011, emitiu


a interpretação técnica geral – ITG 2000, alterada em
05/12/2014 pela ITG 2000 (R1) – publicada no D.O.U. de
12/12/2014 – tratando do tema:

ITG 2000 (R1) – ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL

Objetivo
1. Esta Interpretação estabelece critérios e procedimentos a serem
adotados pela entidade para a escrituração contábil de seus fatos
patrimoniais, por meio de qualquer processo, bem como a guarda
e a manutenção da documentação e de arquivos contábeis e a
responsabilidade do profissional da contabilidade.

Alcance
2. Esta Interpretação deve ser adotada por todas as entidades, in-
dependente da natureza e do porte, na elaboração da escritura-
ção contábil, observadas as exigências da legislação e de outras
normas aplicáveis, se houver.

Formalidades da escrituração contábil


3. A escrituração contábil deve ser realizada com observância aos
Princípios de Contabilidade.

4. O nível de detalhamento da escrituração contábil deve estar


alinhado às necessidades de informação de seus usuários. Nesse
sentido, esta Interpretação não estabelece o nível de detalhe ou
mesmo sugere um plano de contas a ser observado. O detalha-
mento dos registros contábeis é diretamente proporcional à com-
plexidade das operações da entidade e dos requisitos de informa-
ção a ela aplicáveis e, exceto nos casos em que uma autoridade
reguladora assim o requeira, não devem necessariamente obser-
var um padrão predefinido.

.........................................................................................................
Livros da empresa 77

5. A escrituração contábil deve ser executada:

a) em idioma e em moeda corrente nacionais;


b) em forma contábil;
c) em ordem cronológica de dia, mês e ano;
d) com ausência de espaços em branco, entrelinhas, borrões,
rasuras ou emendas; e
e) com base em documentos de origem externa ou interna ou,
na sua falta, em elementos que comprovem ou evidenciem fa-
tos contábeis.

6. A escrituração em forma contábil de que trata o item 5 deve


conter, no mínimo:

a) data do registro contábil, ou seja, a data em que o fato con-


tábil ocorreu;
b) conta devedora;
c) conta credora;
d) histórico que represente a essência econômica da transação
ou o código de histórico padronizado, neste caso baseado em
tabela auxiliar inclusa em livro próprio;
e) valor do registro contábil;
f ) informação que permita identificar, de forma unívoca, todos
os registros que integram um mesmo lançamento contábil.

7. O registro contábil deve conter o número de identificação do


lançamento em ordem sequencial relacionado ao respectivo do-
cumento de origem externa ou interna ou, na sua falta, em ele-
mentos que comprovem ou evidenciem fatos contábeis.

8. A terminologia utilizada no registro contábil deve expressar a


essência econômica da transação.

9. Os livros contábeis obrigatórios, entre eles o Livro Diário e o Li-


vro Razão, em forma não digital, devem revestir-se de formalida-
des extrínsecas, tais como:

a) serem encadernados;
b) terem suas folhas numeradas sequencialmente;
c) conterem termo de abertura e de encerramento assinados
pelo titular ou representante legal da entidade e pelo profissio-
nal da contabilidade regularmente habilitado no Conselho Re-
gional de Contabilidade.

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78 Escrituração Contábil – Parte I

10. Os livros contábeis obrigatórios, entre eles o Livro Diário e o


Livro Razão, em forma digital, devem revestir-se de formalidades
extrínsecas, tais como:

a) serem assinados digitalmente pela entidade e pelo profissio-


nal da contabilidade regularmente habilitado;
b) serem autenticados no registro público competente;
c) quando exigível por legislação específica, serem autenticados
no registro público ou entidade competente (Alterada pela ITG
2000 (R1)).

11. Admite-se o uso de códigos e/ou abreviaturas, nos históricos


dos lançamentos, desde que permanentes e uniformes, devendo
constar o significado dos códigos e/ou abreviaturas no Livro Diá-
rio ou em registro especial revestido das formalidades extrínsecas
de que tratam os itens 9 e 10.

12. A escrituração contábil e a emissão de relatórios, peças, análi-


ses, demonstrativos e demonstrações contábeis são de atribuição
e de responsabilidade exclusivas do profissional da contabilidade
legalmente habilitado.

13. As demonstrações contábeis devem ser transcritas no Livro


Diário, completando-se com as assinaturas do titular ou de repre-
sentante legal da entidade e do profissional da contabilidade le-
galmente habilitado.

Livro diário e livro-razão

14. No Livro Diário devem ser lançadas, em ordem cronológica,


com individualização, clareza e referência ao documento proban-
te, todas as operações ocorridas, e quaisquer outros fatos que pro-
voquem variações patrimoniais.

15. Quando o Livro Diário e o Livro-Razão forem gerados por pro-


cesso que utilize fichas ou folhas soltas, deve ser adotado o regis-
tro “Balancetes Diários e Balanços”.

16. No caso da entidade adotar processo eletrônico ou mecaniza-


do para a sua escrituração contábil, os formulários de folhas soltas,
devem ser numerados mecânica ou tipograficamente e encader-
nados em forma de livro.

.........................................................................................................
Livros da empresa 79

17. Em caso de escrituração contábil em forma digital, não há ne-


cessidade de impressão e encadernação em forma de livro, porém
o arquivo magnético autenticado pelo registro público compe-
tente deve ser mantido pela entidade.

18. Os registros auxiliares, quando adotados, devem obedecer aos


preceitos gerais da escrituração contábil.

19. A entidade é responsável pelo registro público de livros contá-


beis em órgão competente e por averbações exigidas pela legis-
lação de recuperação judicial, sendo atribuição do profissional de
contabilidade a comunicação formal dessas exigências à entidade.
Escrituração contábil de filial

20. A entidade que tiver unidade operacional ou de negócios,


quer como filial, agência, sucursal ou assemelhada, e que optar
por sistema de escrituração descentralizado, deve ter registros
contábeis que permitam a identificação das transações de cada
uma dessas unidades.

21. A escrituração de todas as unidades deve integrar um único


sistema contábil.

22. A opção por escrituração descentralizada fica a critério da en-


tidade.

23. Na escrituração descentralizada, deve ser observado o mesmo


grau de detalhamento dos registros contábeis da matriz.

24. As contas recíprocas relativas às transações entre matriz e uni-


dades, bem como entre estas, devem ser eliminadas quando da
elaboração das demonstrações contábeis da entidade.

25. As despesas e as receitas que não possam ser atribuídas às


unidades devem ser registradas na matriz e distribuídas para as
unidades de acordo com critérios da administração da entidade.

..........................................................................................................
80 Escrituração Contábil – Parte I

Documentação contábil

26. Documentação contábil é aquela que comprova os fatos que


originam lançamentos na escrituração da entidade e compreende
todos os documentos, livros, papéis, registros e outras peças, de
origem interna ou externa, que apoiam ou componham a escri-
turação.

27. A documentação contábil é hábil quando revestida das carac-


terísticas intrínsecas ou extrínsecas essenciais, definidas na legis-
lação, na técnica-contábil ou aceitas pelos “usos e costumes”.

28. Os documentos em papel podem ser digitalizados e armazena-


dos em meio magnético, desde que assinados pelo responsável pela
entidade e pelo profissional da contabilidade regularmente habilita-
do, devendo ser submetidos ao registro público competente.

Contas de compensação

29. Contas de compensação constituem sistema próprio para con-


trole e registro dos fatos relevantes que resultam em assunção de
direitos e obrigações da entidade cujos efeitos materializar-se-ão
no futuro e que possam se traduzir em modificações no patrimô-
nio da entidade.

30. Exceto quando de uso mandatório por ato de órgão regulador,


a escrituração das contas de compensação não é obrigatória. Nos
casos em que não forem utilizadas, a entidade deve assegurar-se
que possui outros mecanismos que permitam acumular as infor-
mações que de outra maneira estariam controladas nas contas de
compensação.

Retificação de lançamento contábil

31. Retificação de lançamento é o processo técnico de correção de


registro realizado com erro na escrituração contábil da entidade e
pode ser feito por meio de:

a) estorno;
b) transferência; e
c) complementação.

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Livros da empresa 81

32. Em qualquer das formas citadas no item 31, o histórico do lan-


çamento deve precisar o motivo da retificação, a data e a localiza-
ção do lançamento de origem.

33. O estorno consiste em lançamento inverso àquele feito erro-


neamente, anulando-o totalmente.

34. Lançamento de transferência é aquele que promove a regula-


rização de conta indevidamente debitada ou creditada, por meio
da transposição do registro para a conta adequada.

35. Lançamento de complementação é aquele que vem posterior-


mente complementar, aumentando ou reduzindo o valor ante-
riormente registrado.

36. Os lançamentos realizados fora da época devida devem con-


signar, nos seus históricos, as datas efetivas das ocorrências e a
razão do registro extemporâneo.

Em razão dessa alteração, as disposições não alteradas desta In-


terpretação são mantidas e a sigla da ITG 2000, publicada no DOU,
Seção 1, de 22.3.11, passa a ser ITG 2000 (R1).

A alteração desta Interpretação entra em vigor na data de sua pu-


blicação.

Brasília, 5 de dezembro de 2014.

Contador José Martonio Alves Coelho


Presidente

Pelo que pudemos verificar nessa parte da regulamenta-


ção, existem livros empresariais obrigatórios e livros fa-
cultativos; livros comuns e livros especiais; livros princi-
pais e livros auxiliares; e, finalmente, livros cronológicos e
livros sistemáticos.

..........................................................................................................
82 Escrituração Contábil – Parte I

Moraes Júnior (2013, p. 68) mostra um interessante esque-


ma que ajudará muito na compreensão dessas diferenças.

Livros obrigatórios – São os que a lei exige, por


exemplo, o livro diário exigido pelo CC, e o livro-ra-
zão, exigido pelo CFC pela ITG 2000 (R1).

Livros facultativos – Esses não são exigidos por lei,


podendo, de acordo com os critérios da empresa,
ser ou não adotados; temos como exemplo o livro-
-caixa.

Livros comuns – São livros exigidos nas empresas,


de forma geral, não importando se são ou não obri-
gatórios. Dependendo do tipo societário alguns li-
vros são obrigatórios ou não.

Livros especiais – São exigidos exclusivamente para


alguns tipos de sociedades.

Livros principais – Registram todos os fatos admi-


nistrativos e contábeis; temos como exemplos o li-
vro diário e o livro-razão.

Livros auxiliares – São os que registram informa-


ções para controle de apenas alguns elementos pa-
trimoniais, isoladamente, tais como o livro de con-
tas correntes ou o livro-caixa.

Livros Cronológicos – Obedecem, como o nome su-


gere, a ordem de ocorrência dos fatos administrativos
e contábeis, de forma rigorosa, dia a dia, mês a mês,
ano a ano. O maior exemplo disso é o livro diário.

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Livros da empresa 83

Livros sistemáticos – São aqueles em que a escritu-


ração é feita separada por contas (elementos patri-
moniais). Por exemplo, o livro-razão.

É importante que isso seja entendido, pois é muito cobra-


do em concursos públicos e no exame de suficiência do
CFC. Observe que cada livro pode possuir mais de uma
característica.

O livro diário, por exemplo, é obrigatório, principal, co-


mum e cronológico.

O livro-razão é obrigatório (pela regulamentação comer-


cial e fiscal e pelo CFC), principal e sistemático.

Vamos ver os detalhes, especialmente desses dois livros,


para entender essas diferenças e o porquê de serem tão
importantes.

1. Livro diário

O Código Civil coloca como livro obrigatório o livro diário,


no entanto, ele pode ser substituído por fichas, no caso de
escrituração mecanizada (quase em desuso) ou eletrônica.
No caso remoto do uso de fichas, isso não elimina a neces-
sidade de livro apropriado para o lançamento do balanço
patrimonial e do demonstrativo de resultado econômico
(que chamamos de demonstração do resultado do exercí-
cio – DRE). Veja os artigos 1.179 e 1.180 do CC.

Continuando a atenta leitura do CC, fica patente que a


escrituração deve ser feita em idioma nacional e moeda
corrente nacional, em formato contábil, por ordem crono-

..........................................................................................................
84 Escrituração Contábil – Parte I

lógica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem


entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes
para as margens.

No livro diário, serão lançadas, com individuação, clareza


e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por
escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas
ao exercício da empresa. A esse respeito a ITG 2000 (R1)
determina os elementos mínimos de um lançamento con-
tábil nele. São eles:

a) Data do registro contábil, ou seja, a data em que


o fato contábil ocorreu;
b) Conta(s) devedora(s);
c) Conta(s) credora(s);
d) Histórico que represente a essência econômica
da transação ou o código de histórico padronizado,
neste caso baseado em tabela auxiliar inclusa em
livro próprio;
e) Valor do registro contábil;
f) Informação que permita identificar, de forma uní-
voca, todos os registros que integram um mesmo
lançamento contábil (normalmente contido na com-
binação da data do evento, das contas envolvidas,
do histórico e do valor).

Outro ponto importante constante da ITG 2000 (R1) é o


seguinte: “serão lançados no Diário o balanço patrimonial
e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados
por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado
e pelo empresário ou sociedade empresária”. Isso signifi-
ca que deverá ser feita no próprio livro diário a apuração
do resultado de cada exercício e feitos os lançamentos re-

.........................................................................................................
Livros da empresa 85

lativos aos relatórios daí resultantes. Essa apuração e os


relatórios balanço patrimonial e DRE veremos em detalhes
nos próximos capítulos.

O livro diário, atendendo às formalidades legais, deve ser


encadernado, com folhas numeradas sequencialmente,
nas quais estarão os registros dos fatos administrativos
ou contábeis ocorridos no período de um exercício social.
Deverá conter termo de abertura e de encerramento e ser
autenticado no órgão competente — no caso das socie-
dades empresárias, as Juntas Comerciais — e deverá ter
as demonstrações contábeis nele contidos assinadas pelo
titular ou representante legal da entidade e pelo conta-
dor responsável pela escrituração da empresa. Podemos
resumir as formalidades legais exigidas para o livro diário,
separando-as em dois grupos: formalidades intrínsecas e
formalidades extrínsecas, conforme o quadro a seguir:

Formalidades Extrínsecas Formalidades Intrínsecas

• Encadernado e com páginas • Ordem cronológica


numeradas

• Registrado no órgão compe- • Não são permitidos borrões,


tente rasuras ou emendas

• São necessários termos de • Não são permitidos espaços


abertura e de encerramento em branco e ocupação de
margens e entrelinhas

• Assinado por contabilista • Método uniforme de escritu-


responsável e por represen- ração
tante legal da empresa
Fonte: Velter e Missagia (2013, p. 156).

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86 Escrituração Contábil – Parte I

De acordo com os pontos que abordamos podemos enten-


der que o livro diário faz o registro dos fatos administra-
tivos ou contábeis na mesma ordem em que eles ocorrem,
ou seja, obedecendo uma ordem cronológica. Se imaginar-
mos que esse livro, em cada registro nele feito, utiliza con-
tas, tanto a débito quanto a crédito, muitas vezes diferen-
tes, salvo em sistema informatizado, na segunda página já
não saberíamos em tempo razoável os saldos de cada uma
dessas contas. Pensem no livro diário de um banco. Cada
um de nós tem nele pelo menos uma conta. A cada depó-
sito que fazemos em nossas contas é feito um registro no
livro diário. Já imaginaram a confusão para que cada um
obtenha seu saldo?

2. Livro-razão

O livro-razão veio a registrar, em ordem cronológica, mas


individualmente, as movimentações ocorridas em cada
conta, ou seja, ele é separado por conta contábil. Por inter-
médio dele fica mais direto o acompanhamento do saldo
de cada conta contábil (lembram do exemplo das contas
correntes bancárias que vimos no livro diário?). Cada vez
que vamos a um terminal bancário e imprimimos os lan-
çamentos efetuados em nossa conta corrente, o extrato
bancário, estamos utilizando uma parte do conteúdo do
livro-razão de nossa conta corrente no banco.

É um livro obrigatório, principal e sistemático. “O Razão é


um livro primordialmente sistemático e secundariamente
cronológico, enquanto que o Diário é exclusivamente cro-
nológico.“ (MORAES JÚNIOR, 2013, p. 71).

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Livros da empresa 87

Como vimos, ao abordarmos as contas contábeis, existem


contas analíticas e contas sintéticas (lembram?). As contas
analíticas são as efetivamente movimentadas, recebem os
lançamentos, e as contas sintéticas são as que acumulam
saldos de outras contas, analíticas ou sintéticas, a elas vin-
culadas.

Todas as contas do plano de contas da entidade, sintéti-


cas ou analíticas, são registradas no livro-razão. Temos,
portanto, o livro-razão analítico e o livro-razão sintético.
Vamos ver um exemplo. No capítulo em que abordamos
as contas foi colocado um exemplo para demonstrar a hie-
rarquia das contas. Agora podemos desdobrar o mesmo
exemplo para entendermos melhor como funciona essa
hierarquia e como são efetuados os registros nos livros-
-razão analítico e sintético. O exemplo que foi colocado
está transcrito a seguir:

1 – Ativo
1.2 – Circulante
1.1.1 – Disponibilidades
1.2 – Não circulante

A conta 1.1.1 – Disponibilidades, apenas a título de ilus-


tração, poderia ter a ela vinculadas as contas 1.1.1.01 –
Caixa e 1.1.1.02 – Bancos. O saldo da conta 1.1.1.01 – Cai-
xa somado ao saldo da conta 1.1.1.02 – Bancos somados
perfazem o total do saldo da conta 1.1.1 – Disponibilida-
des, e assim sucessivamente.

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88 Escrituração Contábil – Parte I

1 – Ativo
1.2 – Circulante
1.1.1 – Disponibilidades
1.1.1.01 – Caixa
1.1.1.02 – Bancos

Suponhamos que a empresa tem contas em três bancos di-


ferentes, somente em uma agência de cada um deles (mui-
tas empresas têm mais de uma conta no mesmo banco).

De acordo com a estrutura que traçamos vamos criar um


código para cada uma dessas contas, que são as seguintes:

Banco A – Agência 777


Banco B – Agência 888
Banco C – Agência 999

No plano de contas da empresa seriam atribuídos os se-


guintes códigos para cada uma delas:

1.1.1.02.001 – Banco A – Agência 777


1.1.1.02.002 – Banco B – Agência 888
1.1.1.02.003 – Banco C – Agência 999

O Razão de cada uma dessas contas, que são analíticas,


teria o seguinte formato:

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Livros da empresa 89

Conta: 1.1.1.02.001 – Banco A – Agência 777

Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C

04/07/2015 Depósito 5.500,00 5.500,00 D


inicial

05/07/2015 Ch. 321123 400,00 D


Conta: 1.1.1.02.002 – Banco A – Agência 888

Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C

04/07/2015 Depósito 15.000,00 15.000,00 D


inicial

06/07/2015 Depósito 15.000,00 45.000,00 D


Conta: 1.1.1.02.003 – Banco A – Agência 999

Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C

05/07/2015 Depósito 35.000,00 35.000,00 D


inicial


Poderíamos dizer que o total que temos em cada conta é
facilmente identificável. Basta olhar para o Razão de cada
uma delas e verificar imediatamente.

Porém, se quisermos saber o total que temos depositados


em bancos, teríamos que fazer a soma dos três Razões.
O Razão sintético, de acordo com a hierarquia definida no
plano de contas, efetua exatamente isso.

A conta sintética 1.1.1.02 registrará a movimentação ocor-


rida em todas as contas a ela vinculadas, que, nesse caso,
são a 1.1.1.01.001, 1.1.1.01.002 e 1.1.1.01.003.

..........................................................................................................
90 Escrituração Contábil – Parte I

O Razão dessa conta, que é sintética, seria assim repre-


sentado:
Conta: 1.1.1.02 – Bancos

Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C

Depósito
04/07/2015 inicial 5.500,00 5.500,00 D
Banco A

Depósito
04/07/2015 inicial 15.000,00 20.500,00 D
Banco B

Ch. 400,00
05/07/2015 321123 20.100,00 D

Depósito
05/07/2015 inicial 35.000,00 55.100,00 D
Banco C

Depósito
06/07/2015 inicial 30.000,00 85.100,00 D
Banco B

.........................................................................................................
Método das Partidas Dobradas 91

MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS

Entraremos em um assunto de importância vital para a


sua compreensão sobre os próximos passos na contabi-
lidade.

Trata-se do método sobre o qual se apoia a contabilidade


moderna, apesar de ter sido relatado em 1492.

Quando, no primeiro capítulo, vimos o que é a contabilida-


de foi colocado o seguinte texto: na Idade Média, em 1492,
o frade franciscano Luca Pacioli publicou o primeiro livro
de que se tem notícia sobre o método das partidas dobra-
das, que até os dias atuais é utilizado pela contabilidade, o
livro chamado de Summa de Arithmetica, Geometria, Pro-
portioni et Proprocionalità.

O professor Antônio Lopes de Sá (1995), grande estudio-


so da contabilidade no Brasil e de todas as suas teorias,
dizia em seu dicionário contábil que o termo “partida” é
o “registro de um fato ou vários fatos em forma contábil,
caracterizando-se a conta, o histórico, os valores e a data
em que se verificou o fato”.

Se associarmos essa definição ao que determina a ITG


2000 (R1), veremos nela integralmente presente essa defi-
nição do emérito professor Lopes de Sá:

..........................................................................................................
92 Escrituração Contábil – Parte I

a) Data do registro contábil, ou seja, a data em que


o fato contábil ocorreu.
b) Conta(s) devedora(s).
c) Conta(s) credora(s).
d) Histórico que represente a essência econômica
da transação ou o código de histórico padronizado,
neste caso baseado em tabela auxiliar inclusa em
livro próprio.
e) Valor do registro contábil.
f) Informação que permita identificar, de forma uní-
voca, todos os registros que integram um mesmo
lançamento contábil (normalmente contido na com-
binação da data do evento, das contas envolvidas,
do histórico e do valor).

O termo partida pode ser entendido como sendo sinônimo


de lançamento.

A ideia central desse método é a de que não pode existir


uma aplicação sem que haja origem correspondente, e vi-
ce-versa.

Não podemos aplicar um dinheiro que veio do “nada”.

Não podemos receber um recurso e ele, simplesmente,


como um toque de mágica, desaparecer no éter.

Diante dessa simples constatação, temos estabelecido o


método que, para um determinado montante de recursos
aplicados, deve haver um montante correspondente de
origens de recursos.

.........................................................................................................
Método das Partidas Dobradas 93

Sendo assim, sempre que formos registrar, por meio do


lançamento contábil, um fato administrativo ou contábil,
temos que informar a origem do recurso e a sua aplicação.
Por exemplo, a empresa adquiriu, a prazo, mercadorias
para revenda do fornecedor X. Nessa operação a origem
dos recursos registrados é o fornecedor X, que recebe um
crédito. A aplicação desses recursos foi feita nos estoques
da empresa; dessa forma a conta estoques recebe um dé-
bito de igual valor, ou seja, o total de origens tem que ser,
obrigatoriamente, igual ao total de aplicações de recursos.

Existem fatos em que há uma origem e uma aplicação, ou-


tros em que há várias aplicações e uma origem, outros em
que há várias origens e uma aplicação, outros, ainda, em que
há diversas origens e diversas aplicações. Nada disso tem
importância se, ao final, o total de origens for igual ao total
de aplicações. Não pode haver, em um lançamento contábil,
diferença entre os totais de origens e de aplicações.

..........................................................................................................
94 Escrituração Contábil – Parte I

ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL

Quando, no capítulo I, abordamos as técnicas contábeis,


vimos que a primeira delas é a escrituração. Vimos que é
a técnica contábil que registra os fatos contábeis e os ad-
ministrativos, pois eles alteram, seja qualitativa ou quan-
titativamente, o patrimônio de uma entidade.

Em termos comerciais, que é o que nos interessa neste


estudo, utilizamos o método de escrituração das partidas
dobradas, também chamado de digrafia.

Como vimos, método, ao fazer um registro, observa dois


aspectos fundamentais: a origem e a aplicação dos recur-
sos.

A origem dos recursos será sempre representada por cré-


dito, e a aplicação dos recursos, por débito.

O CC, a ITG 2000 (R1) e a Lei das Sociedades por Ações,


nº 6.404/76, dispõem sobre a obrigatoriedade da escritu-
ração contábil.

.........................................................................................................
Escrituração contábil 95

Código Civil Brasileiro – Lei nº 12.406/2002

CAPÍTULO IV

Da Escrituração

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados


a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com
base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência
com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o ba-
lanço patrimonial e o de resultado econômico.

Artigo 177 da Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976


Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros
permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comer-
cial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente acei-
tos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes
no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime
de competência.

ITG 2000 (R1) – ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL

Objetivo

1. Esta Interpretação estabelece critérios e procedimentos a serem


adotados pela entidade para a escrituração contábil de seus fatos
patrimoniais, por meio de qualquer processo, bem como a guarda
e a manutenção da documentação e de arquivos contábeis e a
responsabilidade do profissional da contabilidade.

Alcance

2. Esta Interpretação deve ser adotada por todas as entidades, in-


dependente da natureza e do porte, na elaboração da escritura-
ção contábil, observadas as exigências da legislação e de outras
normas aplicáveis, se houver.

..........................................................................................................
96 Escrituração Contábil – Parte I

Como vimos, a escrituração deverá ser registrada em li-


vros contábeis apropriados. Em nossa abordagem introdu-
tória ficaremos restritos aos livros diário e razão.

Para executarmos a técnica da escrituração precisamos


utilizar o lançamento contábil, que nada mais é do que o
registro dos fatos contábeis e/ou administrativos, logica-
mente com suporte em documentação idônea.

Um lançamento contábil, para que assim seja configurado,


precisa conter, no mínimo cinco elementos:

• Local e data.

• Conta(s) debitada(s).

• Conta(s) creditada(s).

• Valor.

• Histórico.

Somente por meio desses elementos seremos capazes de


localizar um documento relativo a uma determinada ope-
ração. Esse conjunto de elementos é o identificador do
lançamento.

Como vimos ao estudarmos o método das partidas dobra-


das, pode haver quatro fórmulas de lançamentos, no livro
diário, a saber:

1ª Fórmula:
Nesse tipo de lançamento temos uma conta debitada e
uma conta creditada.

.........................................................................................................
Escrituração contábil 97

2ª Fórmula:
Nesse tipo de lançamento temos uma conta debitada e
mais de uma creditada.

3ª Fórmula:
Nesse tipo de lançamento temos mais de uma conta debi-
tada e apenas uma creditada.

4ª Fórmula:
Nesse tipo de lançamento temos mais de uma conta debi-
tada e mais de uma creditada.

Importante: não importa qual seja a fórmula utilizada, “Nunca


podemos esquecer que o total de débitos TEM que ser igual
ao total de créditos.”

Veremos agora como seriam feitos os lançamentos, no livro diário,


de cada uma das fórmulas.

Exemplo de um lançamento de 1ª fórmula:

Uma compra, feita a prazo, de mercadorias para revenda,


no dia 5 de junho de 2016, no valor de R$ 15.000,00.

Rio de Janeiro, 5 de junho de 2016.


Mercadorias
a Fornecedores a Pagar 15.000,00

..........................................................................................................
98 Escrituração Contábil – Parte I

Exemplo de um lançamento de 2ª fórmula:

No dia 10 de junho de 2016 a empresa efetuou um paga-


mento ao fornecedor, com atraso. Era devida a importân-
cia de R$ 5.000,00, mas houve o acréscimo de R$ 100,00 a
título de juros pelo atraso.

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2016.


Bancos
a Diversos
a Duplicatas a Pagar 5.000,00
a Juros passivos 100,00 5.100,00

Exemplo de um lançamento de 3ª fórmula:

No dia 10 de junho de 2016 a empresa recebeu do Cliente


X, por meio de depósito bancário, uma duplicata a receber
no valor de R$ 10.000,00, já vencida, e recebeu R$ 200,00
de juros pelo atraso.

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2016.


Diversos
a Bancos
Duplicatas a Receber 10.000,00
Juros Ativos 200,00 10.200,00

Exemplo de um lançamento de 4ª fórmula:

Em 5 de junho de 2016 a empresa adquiriu na Loja XYZ


uma máquina para sua fábrica por R$ 3.000,00, uma mesa
para microcomputador no valor de R$ 600,00 e uma ca-
deira no valor de R$ 400,00. No ato da compra foi dada

.........................................................................................................
Escrituração contábil 99

uma entrada, em dinheiro, no valor de R$ 1.500,00, sendo


o restante a ser pago por duplicata, vencível em 30 dias,
no valor de R$ 2.500,00.

Rio de Janeiro, 5 de junho de 2016.


Diversos
a Diversos
Caixa 1.500,00
Duplicatas a Pagar 2.500,00
a Móveis e utensílios 1.000,00
a Máquinas e Equipamentos 3.000,00

Observem que em todos os lançamentos os totais lança-


dos a débito são exatamente iguais aos totais lançados a
crédito.

Se esses lançamentos fossem efetuados no livro-razão, te-


ríamos, como exemplo, o de 1ª fórmula:

Conta: N.N.N.NN.NNN – Mercadorias

Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C

Compra
05/06/2016 – NF 222 15.000,00 15.000,00 D
– Fornece-
dor XYZ

Conta: X.X.X.XX.XXX – Fornecedores a Pagar

Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C

Compra
05/06/2016 – NF 222 15.000,00 15.000,00 C
– Fornece-
dor XYZ

..........................................................................................................
100 Escrituração Contábil – Parte I

Buscando a simplificação da utilização do livro-razão,


como se fosse um rascunho, utilizamos os razonetes, que
são a representação gráfica da conta no formato de uma
letra “T”. Acima do traço fica o nome da conta, do lado
esquerdo ficam todos os créditos lançados na conta, e do
lado direito ficam todos os débitos lançados na conta.

Nome da Conta

Débito Crédito

Vamos preencher os razonetes das


operações mostradas no exemplo acima?

Vamos fazer primeiro o da conta mercadorias. Os recursos


da conta mercadorias, no exemplo mostrado, representam
origem ou aplicação de recursos? A resposta é simples: re-
presentam aplicações, pois as origens são explicadas pelo
crédito dado pelo fornecedor.

Todas as vezes que você for fazer a classificação de uma


conta contábil para saber se a lançará a débito ou a cré-
dito, faça a pergunta: de onde veio o recurso? A resposta
indicará a(s) conta(s) que receberá(ão) lançamento(s) a cré-
dito. Em seguida faça a pergunta: onde foram aplicados
os recursos? A resposta indicará a(s) conta(s) que recebe-
rá(ão) lançamento(s) a débito, ou seja, as origens são sem-
pre credoras, e as aplicações, sempre devedoras.

No nosso exemplo, os recursos em questão tiveram qual


origem? “Fornecedores a Pagar”. Tiveram qual aplicação?
“Mercadorias”. Então, crédito para “Fornecedores a Pagar”
e débito de “Mercadorias”.

.........................................................................................................
Escrituração contábil 101

Mercadorias

Débito Crédito
15.000,00

Fornecedores a pagar

Débito Crédito
15.000,00

Um ponto de enorme relevância é que, de acordo com a


Resolução CFC nº 750/1993, que foi modificada pela Reso-
lução CFC nº 1.282/2010, os registros contábeis devem ser
feitos obedecendo ao Princípio da Competência, ou seja,
os fatos devem ser reconhecidos no ato de sua ocorrência
independentemente de seus pagamentos ou recebimentos.
Assim também determina a Lei das Sociedades por Ações.

A escrituração da companhia será mantida em registros


permanentes, com obediência aos preceitos da legislação
comercial e desta Lei aos princípios de contabilidade ge-
ralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios
contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações pa-
trimoniais segundo o regime de competência (Art. 177, da
Lei nº 6.404/1976).

Outro princípio adotado na escrituração normal de uma


entidade é o Princípio da Continuidade, quando se supõe
que aquela empresa está funcionando em condição nor-
mal e com perspectiva de continuidade de suas atividades.

..........................................................................................................
102 Escrituração Contábil – Parte I

PRATICANDO A ESCRITURAÇÃO NO LIVRO


DIÁRIO E NOS RAZONETES

Na cidade do Rio de Janeiro, em 1º de junho de 2015, João


e José, futuros sócios na empresa XPTO, em fase de forma-
ção, reuniram-se oficialmente para elaborar seu contrato
social, quando estabeleceram que o capital social da em-
presa seria de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), compos-
to por 2.000 quotas, no valor nominal de R$ 100.000,00
cada, como se segue:

João R$ 100.000,00
José R$ 100.000,00

Total R$ 200.000,00

As quotas estabelecidas deveriam ser (e foram) integrali-


zadas, em 15 de junho de 2015, por meio de depósito ban-
cário na conta da Cia. XPTO, em moeda corrente do país.

Os primeiros fatos administrativos a serem escriturados


estão presentes. Teriam que ser feitos no livro diário os
seguintes lançamentos:

Rio de Janeiro, 1º de junho de 2015.


Capital Subscrito
a Capital Social 200.000,00
Referente à subscrição do capital da Cia. XPTO.

.........................................................................................................
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes 103

Nesse ato os razonetes assim teriam a seguinte represen-


tação:

Capital social Capital a integralizar

200.000,00 200.000,00

Na escrituração acima ficou registrada a subscrição do ca-


pital (quanto os sócios determinaram que investiriam na
empresa).

Em 15 de junho, conforme estabelecido, os sócios efetua-


ram os depósitos de suas quotas na conta bancária da Cia.
XPTO. Para que se fizesse o registro desses fatos foram
efetuados os seguintes registros contábeis no livro diário:

Rio de Janeiro, 15 de junho de 2015.

Bancos c/ Movimento
a Capital subscrito 200.000,00

Referente à integralização pelos sócios da importân-


cia subscrita para a formação do capital social da Cia.
XPTO.

..........................................................................................................
104 Escrituração Contábil – Parte I

Nos razonetes teríamos a seguinte representação:

Capital social

200.000,00

Capital a integralizar
200.000,00
200.000,00

Bancos Conta Movimento

200.000,00

Estamos no início de um exemplo de escrituração, mas


vamos fixar alguns pontos importantes:

• No primeiro lançamento (subscrição do capital),


a origem foi a conta “capital social”; por esse motivo
ele foi lançado a crédito. A aplicação foi a conta “ca-
pital a integralizar”; por esse motivo ela foi lançada
a débito.

• Nos razonetes, os lançamentos a crédito ficam


sempre do lado direito do “T”; os a débito, do lado
esquerdo.

• No segundo lançamento (integralização do capi-


tal), a origem foi a integralização, por isso foi lan-
çado um crédito na conta capital a integralizar e a

.........................................................................................................
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes 105

aplicação foi depositada na conta Bancos conta mo-


vimento da Cia XPTO, que recebeu um lançamento
a débito.

• No livro diário, os créditos não são precedidos da


partícula “a”, os débitos são.

Conta Devedora
a Conta Credora

No dia 16 de junho de 2015, já com o dinheiro depositado


na conta da Cia XPTO, os dois sócios resolveram iniciar
as atividades e adquiriram um microcomputador por R$
3.000,00, duas mesas de escritório ao custo unitário de R$
600,00 e duas cadeiras de escritório ao custo unitário de
R$ 200,00. Tudo foi pago à vista.

No mesmo dia adquiriram mercadorias para revender, no


valor de R$ 20.000,00, sendo que metade foi pago no ato
da compra, e a outra metade, a crédito, para ser paga em
20 dias.

O livro diário teve fatos para registrar no dia 16, e eles


foram nele assim registrados:

..........................................................................................................
106 Escrituração Contábil – Parte I

Rio de Janeiro, 16 de junho de 2015

Máquinas e Equipamentos
a Bancos conta movimento 3.000,00

Relativo à aquisição de um microcomputador na Firma


XYZ, por meio da Nota Fiscal nº 9.999.

Móveis e Utensílios
a Bancos conta movimento 1.200,00

Relativo à aquisição de duas mesas de escritório na Fir-


ma ZYX, por meio da Nota Fiscal nº 7.700

Móveis e Utensílios
a Bancos conta movimento 400,00

Relativo à aquisição de duas cadeiras de escritório na


Firma ZYX, por meio da Nota Fiscal nº 7.700

Diversos
Banco conta movimento 10.000,00
Estoques 10.000,00
a Fornecedores a Pagar 20.000,00

Relativo à aquisição de mercadorias para revenda do


Fornecedor Gente Boa, por meio da Nota Fiscal nº 6.987.

.........................................................................................................
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes 107

Capital social Capital a integralizar

200.000,00 200.000,00
200.000,00

Bancos Conta Movimento Máquinas e equipamentos

200.000,00 3.000,00 3.000,00


1.000,00
10.000,00

Móveis e utensílios Estoques

200.000,00 200.000,00

Fornecedores a pagar

10.000,00

Fique atento para o fato de que, nas contas até aqui lança-
das, todas são patrimoniais, ou seja, são bens, direitos ou
obrigações. Quando movimentamos somente contas patri-
moniais, o total do patrimônio líquido não é alterado, ou
seja, todos os fatos são permutativos. Vamos recapitular
os lançamentos, apurando a posição patrimonial a cada
lançamento efetuado.

..........................................................................................................
108 Escrituração Contábil – Parte I

Temos que considerar que a equação patrimonial é a se-


guinte:

Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo

• No primeiro lançamento foi efetuado o registro


da subscrição do capital. Ficamos com saldo em
duas contas do patrimônio líquido, uma com cré-
dito de R$ 200.000,00, e outra com débito de R$
200.000,00. Nenhuma conta no Ativo e nenhuma no
Passivo. Olhando para a fórmula, teremos: 0 – 0 = 0
(200.000,00 – 200.000,00).

• No segundo lançamento foi efetuado o registro


da integralização (a colocação dos recursos pelos
sócios na empresa) do capital social.

• Ao final ficamos com um saldo credor na conta


capital social de R$ 200.000,00 e um saldo devedor
na conta banco conta movimentos de R$ 200.000,00.

Respeitando a equação patrimonial teremos:

Ativo – Passivo = Patrimônio líquido

200.000,00 – 0 = 200.000,00

• No terceiro lançamento foi feita uma compra de


um microcomputador, à vista, por R$ 3.000,00, ou
seja, ocorreu um fato permutativo, pois transferiu-
-se saldo de uma conta do ativo para outra, sem al-
terar o patrimônio líquido.

.........................................................................................................
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes 109

• O total do ativo, nesse momento, era de R$


200.000,00, sendo R$ 197.000,00 na conta bancos
conta movimento e R$ 3.000,00 na conta máquinas
e equipamentos. O total do passivo continuou zero,
de forma que o ativo subtraído do passivo resultou
nos mesmos R$ 200.000,00 da operação anterior.

• No quarto lançamento foi efetuada a compra de


duas mesas, à vista, totalizando R$ 1.200,00. Mais
uma vez o patrimônio líquido não se alterou.

• O ativo continuou totalizando R$ 200.000,00,


sendo R$ 195.800,00 na conta bancos conta movi-
mento, R$ 3.000,00 na conta máquinas e equipa-
mentos e R$ 1.200,00 na conta móveis e utensílios.
O passivo continuou zero, e, consequentemente o
patrimônio líquido permaneceu em R$ 200.000,00.

• No quinto lançamento foi efetuada a compra de


duas cadeiras, à vista, totalizando R$ 400,00. No-
vamente não ocorreu modificação no patrimônio
líquido.

• O ativo continuou totalizando R$ 200.000,00,


sendo R$ 195.400,00 na conta bancos conta movi-
mento, R$ 3.000,00 na conta máquinas e equipa-
mentos e R$ 1.600,00 na conta móveis e utensílios.
O passivo continuou zero, e, o patrimônio líquido
permaneceu em R$ 200.000,00.

• No sexto e último lançamento feito, foi efetua-


da a compra de mercadorias para revenda, sendo
metade à vista e metade a prazo, totalizando R$
20.000,00. Novamente não ocorreu modificação no
patrimônio líquido, mas observem que aqui ocorreu
um fato diferente. O patrimônio líquido não se alte-
rou, mas o ativo aumentou, e o passivo aumentou
no mesmo valor.

..........................................................................................................
110 Escrituração Contábil – Parte I

Vamos rever os razonetes, após esse último lançamento


efetuado.

Capital social Capital a integralizar

200.000,00 200.000,00
200.000,00

Bancos Conta Movimento Máquinas e equipamentos

200.000,00 3.000,00 3.000,00


1.000,00
10.000,00

Móveis e utensílios Estoques

600,00 20.000,00
400,00

Fornecedores a pagar

10.000,00

Para apurar o saldo de cada conta soma-se o total nela


lançado a débito. Faz-se o mesmo com o total a crédito.
O saldo da conta é a diferença, portanto a conta pode ter
saldo devedor, saldo credor ou saldo igual a zero.

.........................................................................................................
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes 111

• A conta capital social tem um saldo credor de R$


200.000,00.

• A conta capital a integralizar tem saldo zero.

• A conta bancos conta movimento tem saldo de-


vedor de R$ 185.400,00.

• A conta máquinas e equipamentos tem saldo de-


vedor de R$ 3.000,00.

• A conta móveis e utensílios tem saldo devedor de


R$ 1.600,00.

• A conta estoques tem saldo devedor de R$


20.000,00.

• A conta fornecedores a pagar tem saldo credor


de R$ 10.000,00.

Lembrando que os componentes do ativo são os bens e os


direitos, teremos no ativo:

Banco conta movimentos R$ 185.400,00


Estoques R$ 20.000,00
Máquinas e Equipamentos R$ 3.000,00
Móveis e utensílios R$ 1.600,00
Total do Ativo R$ 210.000,00

No passivo:
Fornecedores a pagar R$ 10.000,00

No Patrimônio líquido:
Capital social R$ 200.000,00

..........................................................................................................
112 Escrituração Contábil – Parte I

Utilizando a equação do patrimônio teremos:

R$ 200.000,00 (ativo) – R$ 10.000,00 (passivo) = R$ 200.000,00


(patrimônio líquido).

Observe que o ativo aumentou, o passivo aumentou, mas


isso não alterou o patrimônio líquido.

.........................................................................................................
Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes 113

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o


Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002.

CONSELHO FEDERAL DE CONTALIBIDADE. ITG 2000 (R1):


escriturações contábeis. Brasília, DF, 2014.

FERREIRA, R. J. Contabilidade básica: teoria e mais de


1.600 questões comentadas. 10. ed. Rio de Janeiro: Ferrei-
ra, 2013.

MORAES JÚNIOR, José J. Contabilidade Geral. Rio de Janei-


ro: Campus, 2013.

SÁ, Antônio Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9. ed.


São Paulo: Atlas, 1995.

VELTER, Francisco; MISSAGIA, Luiz R. Manual de Contabi-


lidade: teoria e mais de 650 questões. 8. ed. Rio de Janeiro:
Campus/Elsevier 2011.

..........................................................................................................
114

.........................................................................................................
As contas de resultado 115

CAPÍTULO 3
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL –
PARTE II

Neste capítulo serão mostrados os desdobramentos da es-


crituração e seus efeitos sobre o patrimônio.

Outro ponto fundamental do capítulo será a abordagem


detalhada das contas de resultado, ou seja, as contas que,
ao serem confrontadas, revelam se uma entidade teve lu-
cro ou prejuízo.

A partir desses elementos estudados serão mostradas si-


tuações com a utilização de contas patrimoniais e con-
tas de resultados para que sejam apresentados os efeitos
da escrituração sobre o patrimônio. Esses lançamentos
serão registrados em razonetes. Depois de finalizados,
será apresentado o balancete de verificação para que seja
visto de que forma é feita a conferência dos lançamentos
efetuados e como se prepara a apuração do resultado do
exercício.

Após encerrada a apuração do resultado será mostrado de


que forma esse resultado será incorporado ao patrimônio
da entidade.

É sobre isso que será o enfoque deste capítulo.

..........................................................................................................
116 Escrituração Contábil – Parte II

Observando atentamente os exemplos apresentados no


final do capítulo anterior, detecta-se com clareza que so-
mente foram movimentadas as contas patrimoniais, po-
rém, no Capítulo I, quando foram mostradas as contas,
foi esclarecido que elas estão divididas em dois grupos
distintos: as patrimoniais, que são o ativo e o passivo, e o
patrimônio líquido e as de resultado, que são as receitas
e as despesas.

Ao estabelecer uma empresa com finalidade lucrativa, o


objetivo dos investidores é fazer o seu patrimônio líquido
aumentar, que pode aumentar, ou mesmo diminuir, me-
diante as seguintes situações:

Aumentar: Diminuir:

• Os sócios da empresa • Os sócios da empresa


colocam (integralizam) retiram uma parte do lucro
mais recursos na gerado pela empresa.
empresa, aumentando
o seu capital social.

• A empresa apresentou • A empresa apresentou


lucro ao final de um prejuízo ao final de
exercício social. um exercício social.

Em condições normais, as decisões de financiamento da


entidade estão atreladas às suas decisões de investimen-
tos, ou seja, quando são colocados recursos em uma em-
presa, na qualidade de investidores, é importante saber
como eles serão investidos a fim de que gerem o resultado
imaginado.

Ficou bastante claro que dentre as opções possíveis de


alteração do Patrimônio Líquido, somente duas são atra-

.........................................................................................................
Escrituração Contábil – Parte II 117

entes para os investidores da entidade: a empresa apre-


sentar lucro ao final de um exercício social, de preferência
resultante de suas operações normais, ou ela distribuir
lucros (para distribuir, antes ela terá que gerar) para seus
sócios, sem comprometer seu funcionamento futuro.

Como fazer com que essas empresas gerem lucros? Como


saber se geraram? Afinal, como é apurado o lucro de uma
entidade?

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118 Escrituração Contábil – Parte II

AS CONTAS DE RESULTADO

Como já mostrado, trata-se das contas de Receitas e das


contas de Despesas ou Custos.

Segundo o Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – Estru-


tura conceitual para elaboração e divulgação de relatório
contábil-financeiro, visando à correlação da contabilidade
brasileira às Normas Internacionais de Contabilidade, em
seus itens, ele apresenta para essas contas as seguintes
definições:

Receitas

4.29. A definição de receita abrange tanto receitas propriamente di-


tas quanto ganhos. A receita surge no curso das atividades usuais da
entidade e é designada por uma variedade de nomes, tais como ven-
das, honorários, juros, dividendos, royalties, aluguéis.

4.30. Ganhos representam outros itens que se enquadram na defini-


ção de receita e podem ou não surgir no curso das atividades usuais
da entidade, representando aumentos nos benefícios econômicos e,
como tais, não diferem, em natureza, das receitas. Consequentemen-
te, não são considerados como elemento separado nesta Estrutura
Conceitual.

4.31. Ganhos incluem, por exemplo, aqueles que resultam da venda


de ativos não circulantes. A definição de receita também inclui ga-
nhos não realizados. Por exemplo, os que resultam da reavaliação de
títulos e valores mobiliários negociáveis e os que resultam de aumen-
tos no valor contábil de ativos de longo prazo. Quando esses ganhos
são reconhecidos na demonstração do resultado, eles são usualmen-
te apresentados separadamente, porque sua divulgação é útil para
fins de tomada de decisões econômicas. Os ganhos são, em regra,
reportados líquidos das respectivas despesas.

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As contas de resultado 119

4.32. Vários tipos de ativos podem ser recebidos ou aumentados por


meio da receita; exemplos incluem caixa, contas a receber, bens e
serviços recebidos em troca de bens e serviços fornecidos. A receita
também pode resultar da liquidação de passivos. Por exemplo, a enti-
dade pode fornecer mercadorias e serviços ao credor por empréstimo
em liquidação da obrigação de pagar o empréstimo.

Despesas

4.33. A definição de despesas abrange tanto as perdas quanto as des-


pesas propriamente ditas que surgem no curso das atividades usuais
da entidade. As despesas que surgem no curso das atividades usuais
da entidade incluem, por exemplo, o custo das vendas, salários e de-
preciação. Geralmente, tomam a forma de desembolso ou redução
de ativos como caixa e equivalentes de caixa, estoques e ativo imo-
bilizado.

4.34. Perdas representam outros itens que se enquadram na definição


de despesas e podem ou não surgir no curso das atividades usuais da
entidade, representando decréscimos nos benefícios econômicos e,
como tais, não diferem, em natureza, das demais despesas. Conse-
quentemente, não são consideradas como elemento separado nesta
Estrutura Conceitual.

4.35. Perdas incluem, por exemplo, as que resultam de sinistros como


incêndio e inundações, assim como as que decorrem da venda de
ativos não circulantes. A definição de despesas também inclui as
perdas não realizadas. Por exemplo, as que surgem dos efeitos dos
aumentos na taxa de câmbio de moeda estrangeira com relação aos
empréstimos da entidade a pagar em tal moeda. Quando as perdas
são reconhecidas na demonstração do resultado, elas são geralmen-
te demonstradas separadamente, pois sua divulgação é útil para fins
de tomada de decisões econômicas. As perdas são, em regra, repor-
tadas líquidas das respectivas receitas.

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120 Escrituração Contábil – Parte II

Elas são bem diferentes das patrimoniais. É por meio da


confrontação entre elas que uma entidade apura os seus
resultados.

No exemplo de lançamentos contábeis, que foi apresenta-


do no final do Capítulo II, ficou patente que toda aquela
movimentação ocorrida somente alterou o patrimônio da
empresa no momento da integralização do capital. A par-
tir daquele lançamento, todos os outros apenas trocaram
posições patrimoniais, sem alterar o patrimônio líquido.

Ao lançarmos uma receita, automaticamente o patri-


mônio líquido da entidade aumenta.

Ao lançarmos uma despesa, automaticamente o pa-


trimônio líquido da entidade diminui.

O conceito de Resultado está ligado ao confronto das Recei-


tas e Despesas. Se o total de receitas for maior, a empresa
teve lucro. Porém, se o total de despesas for maior, a empre-

.........................................................................................................
As contas de resultado 121

sa apurou prejuízo, e, finalmente, se os totais se igualarem


é porque não houve lucro nem prejuízo. Lucro aumenta o
patrimônio líquido, enquanto o prejuízo o reduz.

Naturalmente, quando são abordadas a escrituração, a apu-


ração de resultados, e outros, deve ser levado em considera-
ção o princípio da competência e o da continuidade. Sendo
assim, sabe-se que nem todas as receitas significam entrada
de numerário para a empresa, assim como nem todas as
despesas significam saída de numerário da empresa.

Lembram o Princípio da Competência?

O Princípio da Competência determina que os efeitos


das transações e outros eventos sejam reconhecidos
nos períodos a que se referem, independentemente do
recebimento ou do pagamento.

Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe


a simultaneidade da confrontação de receitas e de des-
pesas correlatas.

É importante também que, sempre de acordo com as nor-


mas contábeis, estabelecidas por meio de leis, decretos,
pronunciamentos, resoluções, interpretações técnicas,
orientações, resoluções, circulares, resoluções normativas
e deliberações de diversos órgãos reguladores, colocan-
do-se sempre as leis e os decretos em primeiro lugar, a
fim de que uma receita ou uma despesa sejam reconheci-
das como tais, elas deverão cumprir alguns requisitos que
estão estabelecidos no Pronunciamento Conceitual Básico
(R1), conhecido como CPC 00, a saber:

..........................................................................................................
122 Escrituração Contábil – Parte II

Reconhecimento de receitas

4.47. A receita deve ser reconhecida na demonstração do


resultado quando resultar em aumento nos benefícios
econômicos futuros relacionado com aumento de ativo ou
com diminuição de passivo, e puder ser mensurado com
confiabilidade. Isso significa, na prática, que o reconhe-
cimento da receita ocorre simultaneamente com o reco-
nhecimento do aumento nos ativos ou da diminuição nos
passivos (por exemplo, o aumento líquido nos ativos ori-
ginado da venda de bens e serviços ou o decréscimo do
passivo originado do perdão de dívida a ser paga).

4.48. Os procedimentos normalmente adotados, na práti-


ca, para reconhecimento da receita, como, por exemplo, a
exigência de que a receita tenha sido ganha, são aplicações
dos critérios de reconhecimento definidos nesta Estrutura
Conceitual.

Tais procedimentos são geralmente direcionados para res-


tringir o reconhecimento como receita àqueles itens que
possam ser mensurados com confiabilidade e tenham su-
ficiente grau de certeza.

Quando é feita a apuração do resultado, ele deverá ser evi-


denciado de forma detalhada em uma peça contábil, con-
forme já vimos, denominada DRE. Observe que, segundo a
definição dada, uma receita pressupõe aumento do ativo
e/ou redução no passivo. Deve-se considerar que tenham
suficiente grau de certeza (no caso de uma receita a prazo)
e que ela possa ser mensurada de forma confiável.

.........................................................................................................
As contas de resultado 123

Reconhecimento de despesas

4.49. As despesas devem ser reconhecidas na demonstra-


ção do resultado quando resultarem em decréscimo nos
benefícios econômicos futuros, relacionado com o decrés-
cimo de um ativo ou o aumento de um passivo, e puder
ser mensurado com confiabilidade. Isso significa, na prá-
tica, que o reconhecimento da despesa ocorre simultane-
amente com o reconhecimento de aumento nos passivos
ou de diminuição nos ativos (por exemplo, a alocação por
competência de obrigações trabalhistas ou da depreciação
de equipamento).

4.50. As despesas devem ser reconhecidas na demonstra-


ção do resultado com base na associação direta entre elas
e os correspondentes itens de receita. Esse processo, usu-
almente chamado de confrontação entre despesas e recei-
tas (regime de competência), envolve o reconhecimento
simultâneo ou combinado das receitas e despesas que re-
sultem diretamente ou conjuntamente das mesmas tran-
sações ou outros eventos. Por exemplo, os vários compo-
nentes de despesas que integram o custo das mercadorias
vendidas devem ser reconhecidos no mesmo momento em
que a receita derivada da venda das mercadorias é reco-
nhecida. Contudo, a aplicação do conceito de confronta-
ção, de acordo com esta Estrutura Conceitual, não autori-
za o reconhecimento de itens no balanço patrimonial que
não satisfaçam à definição de ativos ou passivos.

4.51. Quando se espera que os benefícios econômicos


sejam gerados ao longo de vários períodos contábeis e a
associação com a correspondente receita somente possa

..........................................................................................................
124 Escrituração Contábil – Parte II

ser feita de modo geral e indireto, as despesas devem ser


reconhecidas na demonstração do resultado com base em
procedimentos de alocação sistemática e racional. Muitas
vezes isso é necessário ao reconhecer despesas associadas
com o uso ou o consumo de ativos, tais como itens do
imobilizado, ágio pela expectativa de rentabilidade futura
(goodwill), marcas e patentes. Em tais casos, a despesa é
designada como depreciação ou amortização. Esses proce-
dimentos de alocação destinam-se a reconhecer despesas
nos períodos contábeis em que os benefícios econômicos
associados a tais itens sejam consumidos ou expirem.

4.52. A despesa deve ser reconhecida imediatamente na


demonstração do resultado quando o gasto não produzir
benefícios econômicos futuros ou quando, e na extensão
em que, os benefícios econômicos futuros não se qualifi-
carem, ou deixarem de se qualificar, para reconhecimento
no balanço patrimonial como ativo.

4.53. A despesa também deve ser reconhecida na demons-


tração do resultado nos casos em que um passivo é incor-
rido sem o correspondente reconhecimento de ativo, como
no caso de passivo decorrente de garantia de produto.

Em síntese, são sacrifícios de ativos da empresa ou assun-


ção de passivos em busca da geração de receitas. Observe
que a norma se refere diretamente à confrontação entre re-
ceitas e despesas considerando o regime de competência.

Para facilitar o entendimento, é apresentado um peque-


no exemplo, de uma forma bem primária: a montagem de
uma loja para vender roupas.

.........................................................................................................
As contas de resultado 125

Inicialmente, é necessário o investimento em ativos (es-


toques de mercadorias para revenda, prateleiras, compu-
tadores, vitrines, cabines, iluminação, letreiro etc). Isso
pronto, torna-se fundamental que seja alugada uma loja,
que já estava em vista; em seguida, a empresa deve contra-
tar vendedores para suas mercadorias.

Qual o objetivo dos investidores nesse empreendimento?


– Conseguir receitas de vendas e ter lucros.

Como? – Vendendo as mercadorias que têm em estoque


por preços superiores aos que os compram.

Porém, a fim de que isso seja possível, é necessário que se


façam alguns sacrifícios: pagar o aluguel da loja, as taxas de
luz, telefone, condomínio, além das taxas municipais para o
funcionamento da loja, os salários dos vendedores contra-
tados, as comissões sobre as vendas que eles efetuarem etc.

Observe que, para que seja possível a obtenção de receitas,


deve-se fazer uma série de sacrifícios de ativos, normal-
mente dinheiro, que são denominadas despesas. Porém,
sem incorrer nessas despesas, como obter receitas? Porque
até as empresas de e-commerce têm suas despesas, apesar
de não terem as despesas com instalações, lojas etc.

A ideia central da gestão reside neste raciocínio:

Devem-se tomar decisões de financiamentos (nas quais se-


rão obtidos os recursos que utilizaremos na empresa – nor-
malmente, a parte inicial é dos sócios, além da parte de ter-
ceiros), assim como qual será o prazo para pagar o capital
de terceiros, quais serão as taxas que estão sendo cobradas
por eles e associá-las às decisões de investimento, ou seja,

..........................................................................................................
126 Escrituração Contábil – Parte II

de que forma serão aplicados esses recursos obtidos para


que seja possível remunerar o capital investido pelos sócios,
quitar as obrigações assumidas e ainda gerar riqueza para a
entidade, aumentando o seu patrimônio líquido.

Justamente para que se possa saber o resultado da empre-


sa, deve ser efetuada a apuração do resultado.

Outro ponto importante é que as contas patrimoniais e as


de resultado, nas operações normais da empresa, mistu-
ram-se. Não há a restrição em relação à contrapartida de
uma conta de resultado não poder ser uma conta patrimo-
nial ou vice-versa.

Ao final do exercício, no momento da apuração, elas serão


devidamente separadas para que seja efetuado o procedi-
mento da apuração do resultado do exercício.

Antes de iniciar um exemplo, é importante que sejam re-


lembrados alguns conceitos:

• Normalmente, as contas do ativo representam


aplicações de recursos, por isso elas têm natureza
devedora.

• Existem no ativo algumas contas, denominadas


redutoras do ativo, que têm natureza credora, pois
elas servem para diminuir o valor da conta à qual
elas estão ligadas.

• No geral, as contas do passivo representam ori-


gens de recursos, por isso elas têm natureza credora.

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As contas de resultado 127

• Existem no passivo algumas contas, denomina-


das redutoras do passivo, que têm natureza credo-
ra, pois elas servem para diminuir o valor da conta
à qual elas estão ligadas.

• Todas as receitas são credoras, pois aumentam o


patrimônio líquido.

• Todas as despesas são devedoras, pois reduzem


o patrimônio líquido.

• Todos os lançamentos contábeis devem ter totais


iguais lançados a débito e a crédito, segundo o Mé-
todo das Partidas Dobradas.

A equação patrimonial é:

Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido


ou
Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo

Recordando todo o esquema, teremos:

Conta Patrimônio
Ativo Passivo líquido
Efeito

Aumenta Débito Crédito Crédito

Diminui Crédito Débito Débito

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128 Escrituração Contábil – Parte II

Contas Ativo Passivo Efeito

Aumentam o
Receitas Crédito
Patrimônio Líquido

Despesas Débito Reduzem o Patrimônio Líquido

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Contabilização a partir de razonetes 129

CONTABILIZAÇÃO A PARTIR DE
RAZONETES

Sendo assim, visando a entender, parte a parte, o que foi


apresentado até aqui, será montado um exemplo em que
será feita a contabilização, por meio de razonetes, de cada
fato administrativo ou contábil ocorrido. Ao final de to-
dos os lançamentos, será feita a apuração do resultado do
exercício.

1 – Na cidade do Rio de Janeiro, em 2 de janeiro de 2015,


Antônio e Maria, futuros sócios na empresa comercial Ma-
rônio, em fase de formação, oficialmente se reuniram para
elaborar seu contrato social, quando estabeleceram que o
capital social da empresa seria de R$ 300.000,00 (trezen-
tos mil reais), composto por 2.000 quotas, no valor nomi-
nal de R$ 150.000,00 cada, como segue:

Antônio R$ 150.000,00
Maria R$ 150.000,00

Total R$ 300.000,00

No Fato Contábil envolvido, deve ser efetuado o lançamento em


duas contas, que são “Capita Social” e “Capital Subscrito”, sendo
que, nesse caso, a origem do futuro recurso é a conta “Capital So-
cial”, que recebe um lançamento de R$ 300.000,00 a crédito, e a
aplicação do futuro recurso é a conta “Capital Subscrito”, que re-
cebe um lançamento de R$ 300.000,00 a débito. Dessa forma, o
total lançado a crédito, ou seja, o total de origens, é igual ao total
lançado a débito, ou seja, o total de aplicações é igual ao total de
origens.

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130 Escrituração Contábil – Parte II

Isso se refere a um lançamento de 1ª Fórmula, ou seja, 1 débito e


1 crédito.

O razonete desse lançamento ficaria assim:

Observe que nesse momento o patrimônio da empresa é igual a


zero.

2 – As quotas estabelecidas deveriam ser (e foram) inte-


gralizadas, em 5 de janeiro de 2015, por meio de depósito
bancário na conta da companhia XPTO, em moeda corrente
do país.

Acontece aqui um fato administrativo modificativo aumentativo


que envolve duas contas: “Banco c/ movimento” e “Capital a in-
tegralizar”.

A origem do recurso veio da conta “Capital a integralizar”, e o re-


curso foi aplicado na conta “Banco c/ movimento”. Portanto, cré-
dito para a primeira e débito para a segunda.
Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 300.000,00
em direitos (depósito bancário). O Passivo totaliza zero, portanto,
o Patrimônio Líquido é R$ 300.000,00 – R$ 0 = R$ 300.000,00, ou
seja, houve aumento do patrimônio líquido.

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Contabilização a partir de razonetes 131

3 – A Marônio adquiriu, à vista, máquinas e equipamentos


no valor de R$ 50.000,00.

Ocorre aqui um fato administrativo permutativo que envolve duas


contas: “Banco c/ movimento” e “Máquinas e Equipamentos”.

A origem do recurso veio da conta “Banco c/ movimento”, e o recur-


so foi aplicado na conta “Máquinas e Equipamentos”; portanto, cré-
dito para a primeira e débito para a segunda.

Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 300.000,00


em direitos (depósito bancário). O Passivo totaliza zero; portanto,
o Patrimônio Líquido é R$ 300.000,00 – R$ 0 = R$ 300.000,00, ou
seja, não houve alteração quantitativa do patrimônio líquido.

4 – A Marônio adquiriu, à vista, móveis e utensílios, no


valor de R$ 30.000,00.

Há aqui outro fato administrativo permutativo que envolve duas


contas: “Banco c/ movimento” e “Móveis e Utensílios”.

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132 Escrituração Contábil – Parte II

A origem do recurso veio da conta “Banco c/ movimento”, e o re-


curso foi aplicado na conta “Móveis e Utensílios”; portanto, crédito
para a primeira e débito para a segunda.

Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 300.000,00


em direitos (depósito bancário). O Passivo totaliza zero, portanto,
o Patrimônio Líquido é R$ 300.000,00 – R$ 0 = R$ 300.000,00, ou
seja, houve aumento do patrimônio líquido. Novamente, ele não
sofre alteração. O que houve foi uma transferência do saldo de
uma conta do ativo para outra conta do ativo.

5 – A empresa adquiriu, a prazo, mercadorias para reven-


da no valor de R$ 80.000,00.

Ocorre aqui outro fato administrativo permutativo que envolve


duas contas: “Fornecedores a Pagar” e “Estoques”.

A origem do recurso veio da conta “Fornecedores a Pagar”, e o re-


curso foi aplicado na conta “Estoques”; portanto, crédito para a
“Fornecedores a Pagar” e débito para “Estoques”.

Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 380.000,00


em Bens e direitos. O Passivo totaliza R$ 80.000,00 em obrigações;
portanto, o Patrimônio Líquido é R$ 380.000,00 – R$ 80.000,00 = R$
300.000,00, ou seja, não houve alteração quantitativa do patrimô-
nio líquido.

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Contabilização a partir de razonetes 133

Observe que, nesse caso, ocorreu aumento no ativo: a parte positi-


va do patrimônio é de igual valor no passivo, a parte negativa do
patrimônio, e, por esse motivo, não ocorreu alteração do valor do
Patrimônio Líquido.

6 – Considerando a inexistência de impostos na operação,


a empresa vendeu, a prazo, metade das mercadorias em
estoque pelo preço de R$ 120.000,00.

Atenção:
Há aqui um fato misto aumentativo que envolve quatro contas:
“Clientes a Receber” e “Receitas de Vendas”, “Estoques” e “Custo
das Mercadorias Vendidas”.
(As contas sublinhadas são as de resultado de, respectivamente,
receita e despesa).
Observe que esse fato obedece a duas etapas no registro, conside-
rando o método das partidas dobradas:

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134 Escrituração Contábil – Parte II

Primeiro, registramos a venda. Como a origem do recurso foi uma


receita de venda, a conta a ser registrada a crédito, no valor vendi-
do, que é de R$ 120.000,00, é a conta “Receitas de Vendas”. A conta
que recebeu a aplicação desse recurso foi “Clientes a receber”, tam-
bém no valor de R$ 120.000,00.

Estão envolvidas, na primeira transação, uma conta de resultado


e uma patrimonial.

Em seguida, temos de fazer o registro da saída da mercadoria do


estoque que foi vendida. Qual a fonte do recurso? O estoque. En-
tão, crédito para a conta estoque no valor de R$ 40.000,00 (me-
tade do estoque existente – veja o razonete da conta estoque
acima). E para onde foi esse recurso? Para o cliente, em troca do
valor que ele ficou devendo à empresa. Então, débito de “Clientes
a receber” no valor de R$ 40.000,00.

Temos de destacar alguns pontos importantes do lançamento


contábil que foi efetuado:

• Foram lançadas a débito 2 contas e a crédito 2 contas, por-


tanto, trata-se de um lançamento de quarta fórmula.

• Houve um lançamento permutativo cuja troca não teve


valores iguais, ou seja, houve um débito de R$ 120.000,00
(Clientes a Receber) e um crédito de R$ 40.000,00 (Estoques).

• A diferença citada acima é compensada nesse ponto. Houve


um lançamento de uma receita (Receitas de Vendas) no valor
de R$ 120.000,00 e um lançamento de uma despesa relativa
à saída da mercadoria do estoque no valor de R$ 40.000,00.

• A apuração do lucro dá-se por meio do confronto entre o


total de receitas e o total de despesas, de forma que, nesse
caso, houve um lucro de R$ 80.000,00 (R$ 120.000,00 – R$
40.000,00).

• Se houve lucro, ocorreu aumento do patrimônio líquido,


portanto, esse é um fato misto aumentativo.

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Contabilização a partir de razonetes 135

7 – A empresa havia estabelecido o pagamento aos ven-


dedores de 5% sobre suas vendas a título de comissão de
venda e resolveu fazer, na sequência da venda ocorrida,
o pagamento da comissão ao vendedor que a efetuou no
valor de R$ 6.000,00 (5% de 120.000,00).

Há aqui um fato misto diminutivo que envolve as contas: “Bancos


c/ Movimento” e “Despesas com comissão”.

Aqui se configura uma despesa, traduzida pelo sacrifício de um


ativo (dinheiro em banco) em função da obtenção de uma receita
(a venda das mercadorias).

O lançamento contábil correspondente a esse fato administrativo


é o crédito da conta bancária, a origem do recurso, e débito da
conta despesas com comissão, a conta na qual foi aplicado o re-
curso.

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136 Escrituração Contábil – Parte II

8 – A Marônio efetuou o pagamento no valor de R$ 10.000,00


relativos à pintura da nova loja.

Há aqui novamente um fato misto diminutivo que envolve as con-


tas: “Bancos c/ Movimento” e “Despesas diversas”.

Da mesma forma que no lançamento anterior, aqui isso também


se configura uma despesa, traduzida pelo sacrifício de um ativo
(dinheiro em banco) em função da obtenção de receitas de venda
(a melhoria da aparência da loja).
O lançamento contábil correspondente a esse fato administrativo
é o crédito da conta bancária, a origem do recurso, e o débito da
conta despesas diversas, a conta na qual foi aplicado o recurso.

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Contabilização a partir de razonetes 137

9 – A empresa recebeu R$ 40.000,00 de parte do que seu


cliente lhe devia.

Ocorre aqui outro fato administrativo permutativo que envolve


duas contas: “Clientes a Receber” e “Bancos c/ Movimento”.

A origem do recurso veio da conta “Clientes a Receber”, e o recur-


so foi aplicado na conta “Bancos c/ Movimento”, portanto, crédito
para a primeira e débito para a segunda.
Observe que, nesse fato administrativo, não houve alteração se-
quer do total do ativo.

10 – Considerando que as operações do período foram


registradas, resta fazer a apropriação das despesas in-
corridas e não pagas, conforme determina o Princípio da
Competência.

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138 Escrituração Contábil – Parte II

APROPRIAÇÃO DAS DESPESAS


INCORRIDAS E NÃO PAGAS

A empresa tem de apropriar as despesas com salários, o


aluguel da loja, a taxa de condomínio e as taxas de servi-
ços (água, luz e telefone), cujos valores são os seguintes:

10.1 – Despesas com salários R$ 10.000,00


10.2 – Despesas com aluguel da loja R$ 5.000,00
10.3 – Despesa com taxa de condomínio R$ 2.000,00
10.4 – Despesas gerais R$ 6.000,00

Para que seja feita a apropriação, deve ocorrer o reconhe-


cimento da despesa incorrida no período, mesmo que ela
não tenha sido nele paga.

O reconhecimento da despesa consiste em um lançamento


de uma despesa, tendo como contrapartida o lançamento
de uma obrigação a pagar (passivo).
10.1 – No caso das Despesas com salários, teríamos:

Despesas com Salários Salários a pagar

10.1 10.000,00 10.000,00 10.1

No reconhecimento da despesa, temos a origem do recurso na


dívida assumida pela empresa, de forma que a conta “Salários a
pagar” recebe um lançamento a crédito. Os recursos foram consu-
midos e não pagos durante o mês, sendo aplicados na conta “Des-
pesas com Salários”, que recebe um lançamento a débito.

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Apropriação das despesas incorridas e não pagas 139

10.2 – No caso das Despesas com aluguéis, teríamos:

Despesas com aluguéis Aluguéis a pagar

10.2 5.000,00 5.000,00 10.2

Da mesma forma que na apropriação anterior, vista no item 10.1,


temos a origem do recurso na dívida assumida pela empresa, de
forma que a conta “Aluguéis a pagar” recebe um lançamento a
crédito. Os recursos foram consumidos e não pagos durante o mês
e foram aplicados na conta “Despesas com aluguéis”, que recebe
um lançamento a débito.

10.3 – No caso das despesas com taxas de condomínio,


teríamos:

Despesas com condomínio Condomínio a pagar

10.3 2.000,00 2.000,00 10.3

Aqui é feita a repetição do mesmo procedimento dos itens 10.1 e


10.2.

Nesse caso, a origem é a conta “Condomínio a pagar”, que é lan-


çada a crédito. A aplicação é registrada na conta “Despesas com
condomínio”, que é lançada a débito.

10.4 – No caso das despesas gerais, teríamos:

Despesas gerais Contas a pagar

10.4 6.000,00 6.000,00 10.4

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140 Escrituração Contábil – Parte II

Novamente é feita a repetição do mesmo procedimento dos itens


anteriores.
Nesse caso, a origem é a conta “Contas a pagar”, que é lançada a
crédito. A aplicação é registrada na conta “Despesas gerais”, que é
lançada a débito.

Feitas as apropriações, o próximo passo é fazer a apu-


ração do resultado do exercício, que é feita por meio da
confrontação das contas de resultados, ou seja, Receitas
X Despesas.

A seguir será colocada a relação dos razonetes de todas


as operações:

.........................................................................................................
Apropriação das despesas incorridas e não pagas 141

Estão listadas, em formato de razonetes, todas as contas


contendo as movimentações que sofreram nas operações
que foram feitas, passo a passo.

É bom relembrar que o saldo de uma conta é a diferença


positiva entre os totais nela lançados a débito e a crédito.

Portanto, pode-se dizer que o saldo da conta “Bancos


c/ Movimento” é de R$ 244.000,00, ou seja, (300.000,00
+ 40.000,00) – (50.000,00 + 30.000,00 + 6.000,00 +
10.000,00).

O próximo passo para apurar o resultado do exercício e


fazer a confrontação das contas de resultado é transferir os
saldos dessas contas (receitas e despesas) para uma conta
de resultado que concentrará o saldo de todas as outras, de-
nominada apuração do resultado do exercício – ARE. Essas
contas, nesse ato, serão encerradas, ou seja, ficarão com
saldo zerado, restando saldo somente na conta ARE, se o
total de receitas for diferente do total de despesas.

Os razonetes estão apresentados na mesma sequência em


que foram registrados, ou conforme foram ocorrendo os

..........................................................................................................
142 Escrituração Contábil – Parte II

fatos registrados. Para facilitar e organizar a disposição


das contas e de seus respectivos saldos, utiliza-se o ba-
lancete de verificação, primeiro, para verificar se o mé-
todo das partidas dobradas foi aplicado de forma correta.
Como fazer isso?

.........................................................................................................
Balancete de verificação 143

BALANCETE DE VERIFICAÇÃO

Respondendo à pergunta anterior: verificando se os totais


lançados a débito são iguais aos totais lançados a crédito,
pois, como já foi visto, o total de origens (créditos) tem
que ser, obrigatoriamente, igual ao total de aplicações (dé-
bitos).

Como também já visto, o balancete de verificação, que é


um demonstrativo contábil auxiliar, pode ter diversos for-
matos. Para o nosso caso, utilizaremos o mais simples. A
ordem em que as contas são apresentadas no balancete
de verificação não é importante. E após sua conclusão, o
primeiro passo é verificar se o total a débitos é igual ao to-
tal a créditos. Em seguida, temos que classificar as contas
que são patrimoniais e as que são de resultado, pois, para
efeito de apuração do resultado do exercício, somente as
últimas serão utilizadas.

Apurando, conta por conta, os saldos apresentados nos


razonetes da movimentação que ocorreu no exemplo
apresentado, e considerando que as contas que têm seus
saldos zerados não necessitam ser relacionadas, teremos
o balancete de verificação com a seguinte formação:

Natureza do saldo
Contas
Devedor Credor

Capital social 300.000,00


Banco c/ movimento 244.000,00
Total 523.000,00 523.000,00

..........................................................................................................
144 Escrituração Contábil – Parte II

Natureza do saldo
Contas
Devedor Credor

Máquinas e equipamentos 50.000,00


Móveis e utensílios 30.000,00
Fornecedores a pagar 80.000,00
Estoques 40.000,00
Receitas de vendas 120.000,00
Clientes a receber 80.000,00
Custo das mercadorias vendidas 40.000,00
Despesas com comissão 6.000,00
Despesas diversas 10.000,00
Despesas com salários 10.000,00
Salários a pagar 10.000,00
Despesas com aluguel 5.000,00
Aluguéis a pagar 5.000,00
Despesas com condomínio 2.000,00
Condomínios a pagar 2.000,00
Despesas com serviços 6.000,00
Contas a pagar 6.000,00
Total 523.000,00 523.000,00

Propositalmente, para facilitar a visualização e o entendi-


mento, as contas patrimoniais (bens, direitos, obrigações)
foram marcadas na cor branca, e, consequentemente, as
contas de resultados estão assinaladas na cor cinza.
Apuração do resultado do exercício 145

APURAÇÃO DO RESULTADO DO
EXERCÍCIO

Como já dito, para fazer a apuração do resultado, temos


que fazer o encerramento das contas de resultado, confron-
tando as receitas e as despesas, utilizando a conta ARE.

Receitas de Vendas Custo das Mercadorias Vendidas

120.000,00 40.000,00

Despesas com Comissão Despesas Diversas

6.000,00 10.000,00

Despesas com Salários Salários a Pagar

10.000,00 10.000,00

Despesas com Aluguéis Aluguéis a Pagar

5.000,00 5.000,00

Despesas com Condomínio Condomínio a Pagar

2.000,00 2.000,00

Despesas com Serviços Contas a Pagar

6.000,00 6.000,00
146 Escrituração Contábil – Parte II

Após relacionar todos os razonetes das contas de resulta-


dos, será criado um razonete para a conta ARE.

ARE

Agora será criada a conta ARE.

Os saldos de cada uma das contas de resultado serão trans-


feridos por meio de lançamento escriturado nos livros di-
ário e razão para a conta de resultados. No entanto, não
podemos simplesmente colocar saldo em uma conta se
não houver uma origem e uma aplicação no mesmo valor.

A primeira conta de resultado no quadro é a Receita com


Vendas. Ela tem saldo credor. Será feito um lançamento a
débito para zerar o seu saldo e um lançamento a crédito
na conta ARE.

Receitas de Vendas Custo das Mercadorias Vendidas

120.000,00 120.000,00 40.000,00

Despesas com Comissão Despesas Diversas

6.000,00 10.000,00

Despesas com Salários Salários a Pagar

10.000,00 10.000,00
Apuração do resultado do exercício 147

Despesas com Aluguéis Aluguéis a Pagar

5.000,00 5.000,00

Despesas com Condomínio Condomínio a Pagar

2.000,00 2.000,00

Despesas com Serviços Contas a Pagar

6.000,00 6.000,00

ARE

120.000,00

A próxima conta que aparece no quadro é a Custo das


Mercadorias Vendidas. Será repetido o mesmo procedi-
mento que foi feito na primeira conta, e depois sucessi-
vamente para todas as demais, ou seja, será feito o mes-
mo para a conta Despesas com comissão, depois para
a Despesas diversas, em seguida, para a Despesas com
salários e posteriormente, para a Salários a pagar. Na se-
quência, será feito o mesmo para a conta Despesas com
aluguéis, a seguir, para a Aluguéis a pagar, prosseguindo
para a Despesas com condomínio, que terá, em seguida, a
conta Condomínio a pagar, partindo para a Despesas de
serviços e, finalmente, para a Contas a pagar. Feitos os
lançamentos, restará apenas saldo na conta ARE, e todas
148 Escrituração Contábil – Parte II

as outras contas de resultado estarão com seus saldos en-


cerrados, ou, como se diz comumente, “zerados”.

Veja na sequência como ficaram os razonetes:

Receitas de Vendas Custo das Mercadorias Vendidas

120.000,00 120.000,00 40.000,00 40.000,00

Despesas com Comissão Despesas Diversas

6.000,00 6.000,00 10.000,00 10.000,00

Despesas com Salários Despesas com Aluguéis

10.000,00 10.000,00 5.000,00 5.000,00

Despesas com Condomínio Despesas com Serviços

2.000,00 2.000,00 6.000,00 6.000,00

ARE

120.000,00
40.000,00
6.000,00
10.000,00
10.000,00
5.000,00
2.000,00
6.000,00

79.000,00 120.000,00
Apuração do resultado do exercício 149

Na confrontação entre receitas e despesas feita na conta


ARE, o total de despesas foi de R$ 79.000,00, e o total
de receitas foi de R$ 120.000,00. Porém, como o saldo de
uma conta é obtido pela diferença entre receitas e despe-
sas, pode-se inferir que o saldo da conta é credor em R$
41.000,00, ou seja, no período apurado, a Marônio obteve
um lucro de R$ 41.000,00.

Até o momento, o que foi apurado é chamado de Lucro An-


tes do Imposto de Renda e da Contribuição Social Sobre
o Lucro Líquido — LAIRCSL. Em uma empresa comercial
que opere pelo lucro real (esse assunto será tratado em ou-
tro livro), a alíquota da Contribuição Sobre o Lucro Líquido
— CSLL, tributo instituído pela Lei nº 7.689/1989, com o
intuito de financiar a seguridade social brasileira, é de 9%
sobre o lucro ajustado por algumas adições, exclusões e
compensações, as quais não serão abordadas neste livro.

Para fins didáticos, está sendo considerado que as ope-


rações registradas, nas quais não foram informadas suas
respectivas datas, compreendem o exercício completo de
janeiro a dezembro de 2015 e que a empresa optou pela
declaração anual de suas informações contábeis.

Considerando que o LAIRCSL é, nesse caso, a base de cál-


culo da CSLL, o valor a ser provisionado para o pagamento
desse tributo seria de R$ 3.690,00 (9% de R$ 41.000,00).

O Imposto de Renda com base no lucro real, que também


tem suas adições, exclusões e compensações, será calcula-
do, nesse caso, com uma alíquota de 15%, de forma que o
valor a ser provisionado para o pagamento desse tributo
seria de R$ 6.150,00 (15% de R$ 41.000,00).
150 Escrituração Contábil – Parte II

Dessa forma, para finalizar a apuração do resultado, ainda


serão registrados os dois fatos administrativos correspon-
dentes aos impostos incidentes sobre o lucro, que seriam
os seguintes:

Despesa c/ provisão para CSLL CSLL a Pagar

3.690,00 3.690,00

Despesa c/ provisão para


Imposto de Renda I.R. a Pagar

6.150,00 6.150,00

Resultaram desses fatos duas contas de resultado (despe-


sas) e duas contas patrimoniais (obrigações). Sendo assim,
ainda há duas contas de resultado que deverão ter seus
saldos transferidos para a conta ARE, para a apuração do
Lucro Líquido.

Despesa c/ provisão para CSLL CSLL a Pagar

3.690,00 3.690,00 3.690,00

Despesa c/ provisão para


Imposto de Renda I.R. a Pagar

6.150,00 6.150,00 6.150,00


Apuração do resultado do exercício 151

ARE

120.000,00
40.000,00
6.000,00
10.000,00
10.000,00
5.000,00
2.000,00
6.000,00

79.000,00 120.000,00
3.690,00
6.150,00

88.840,00 120.000,00

31.160,00

Considerando as despesas com imposto de renda e com a


CSLL e como todas as contas de resultado devem ser en-
cerradas (zeradas) ao final do exercício, o saldo contido na
conta ARE, nesse caso em que houve lucro, portanto, sal-
do credor, deve ser transferido para a conta Lucros Acu-
mulados. Como fazer a transferência? Fazendo um lança-
mento a débito na conta ARE, zerando o seu saldo, e um
lançamento a débito na conta Lucros Acumulados, que é
uma conta patrimonial que integra o Patrimônio Líquido.
O lançamento seria o seguinte:
152 Escrituração Contábil – Parte II

ARE

120.000,00
40.000,00
6.000,00
10.000,00
Lucros Acumulados
10.000,00
5.000,00 31.160,00
2.000,00
6.000,00

79.000,00 120.000,00
3.690,00
6.150,00

88.840,00 120.000,00

31.160,00 31.160,00

A partir de todas essas operações, nenhuma conta de re-


sultado possui saldo, ou seja, todas foram “zeradas”. Se
for elaborado um segundo balancete de verificação, com
essa nova situação, seria evidenciada a seguinte situação:
Apuração do resultado do exercício 153

Natureza do saldo
Contas
Devedor Credor

Capital social 300.000,00


Banco c/ movimento 244.000,00
Máquinas e equipamentos 50.000,00
Móveis e utensílios 30.000,00
Fornecedores a pagar 80.000,00
Estoques 40.000,00
Clientes a receber 80.000,00
Salários a pagar 10.000,00
Aluguéis a pagar 5.000,00
Condomínios a pagar 2.000,00
Contas a pagar 6.000,00
I. R. a pagar 6.150,00
CSLL a pagar 3.690,00
Lucros acumulados 31.160,00
Total 444.000,00 444.000,00

Considerando que todas as contas de resultado foram en-


cerradas, as apropriações, efetuadas, e os impostos, reco-
nhecidos por meio da provisão para pagamento no futuro,
temos no balancete de verificação acima, porém, somente
a existência de contas patrimoniais (bens, direitos ou obri-
gações), e os totais de origens (créditos) é igual ao total de
aplicações (débitos). Pode-se, então, partir para o próxi-
mo passo, que é a elaboração do balanço patrimonial, mas
esse assunto será tratado no próximo capítulo.
154 Escrituração Contábil – Parte II

REFERÊNCIAS

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronuncia-


mento Conceitual Básico (R1): estrutura conceitual para
elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro:
correlação às Normas Internacionais de Contabilidade –
The Conceptual Framework for Financial Reporting (IASB
– BV 2011 Blue Book). Brasília, DF, 2011.

.........................................................................................................
Características 155

CAPÍTULO 4
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
BÁSICAS

Este capítulo aborda, de forma detalhada, duas das prin-


cipais demonstrações contábeis obrigatórias e que devem
ser conhecidas e construídas pelo estudante: o balanço
patrimonial e a DRE.

É apresentada a relação das demonstrações obrigatórias,


mas essas outras deverão ser estudadas em outra etapa.

..........................................................................................................
156 Demonstrações contábeis básicas

CARACTERÍSTICAS

Se o objetivo da contabilidade é fornecer informações acer-


ca das variações ocorridas no patrimônio de uma entidade,
ao longo dos exercícios sociais, podemos compará-las às
demonstrações contábeis que sejam úteis e tragam infor-
mações relevantes para os tomadores de decisão, sobretu-
do os externos, apresentadas de forma correta, confiável e
tempestiva e que atendam às características qualitativas
fundamentais e às características qualitativas de melho-
ria estabelecidas pelo Pronunciamento Conceitual Básico
(R1) – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação
de Relatório Contábil-Financeiro, emitido pelo CPC.

Para que a informação contábil-financeira seja útil, são ne-


cessárias características qualitativas fundamentais, que
são Relevância e Representação Fidedigna:

• Relevância – Segundo o Pronunciamento Concei-


tual Básico, também chamado de CPC 00:

QC6. Informação contábil-financeira útil é aquela


capaz de fazer diferença nas decisões que possam
ser tomadas pelos usuários. A informação pode ser
capaz de fazer diferença em uma decisão mesmo
no caso de alguns usuários decidirem não a levar
em consideração, ou já tiver tomado ciência de sua
existência por outras fontes.

.........................................................................................................
Características 157

QC7. A informação contábil-financeira é capaz de


fazer diferença nas decisões se tiver valor preditivo,
valor confirmatório ou ambos.

QC8. A informação contábil-financeira tem valor pre-


ditivo se puder ser utilizada como dado de entrada
em processos empregados pelos usuários para pre-
dizer futuros resultados. A informação contábil-fi-
nanceira não precisa ser uma predição ou uma pro-
jeção para que possua valor preditivo. A informação
contábil-financeira com valor preditivo é empregada
pelos usuários ao fazerem suas próprias predições.

QC9. A informação contábil-financeira tem valor


confirmatório se retroalimentar – servir de feedback
– avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las).

QC10. O valor preditivo e o valor confirmatório da


informação contábil-financeira estão inter-relacio-
nados. A informação que tem valor preditivo muitas
vezes também tem valor confirmatório. Por exem-
plo, a informação sobre receita para o ano corrente,
a qual pode ser utilizada como base para predizer
receitas para anos futuros, também pode ser com-
parada com predições de receita para o ano corrente
que foram feitas nos anos anteriores. Os resultados
dessas comparações podem auxiliar os usuários a
corrigirem e a melhorarem os processos que foram
utilizados para fazer tais predições.

Para que a informação possa ser relevante ela deve apre-


sentar a característica da Materialidade.

..........................................................................................................
158 Demonstrações contábeis básicas

QC11. A informação é material se a sua omissão ou


sua divulgação distorcida (misstating) puder influen-
ciar decisões que os usuários tomam com base na
informação contábil-financeira acerca de entidade
específica que reporta a informação. Em outras pa-
lavras, a materialidade é um aspecto de relevância
específico da entidade baseado na natureza ou na
magnitude, ou em ambos, dos itens para os quais a
informação está relacionada no contexto do relató-
rio contábil-financeiro de uma entidade em particu-
lar. Consequentemente, não se pode especificar um
limite quantitativo uniforme para materialidade ou
predeterminar o que seria julgado material para uma
situação particular.

• Representação Fidedigna – Segundo o Pronun-


ciamento CPC 00:

QC12. Os relatórios contábil-financeiros represen-


tam um fenômeno econômico em palavras e núme-
ros. Para ser útil, a informação contábil-financeira
não tem só que representar um fenômeno relevante,
mas tem também que representar com fidedignida-
de o fenômeno que se propõe representar. Para ser
representação perfeitamente fidedigna, a realidade
retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser
completa, neutra e livre de erro. É claro, a perfeição
é rara, se de fato alcançável. O objetivo é maximizar
referidos atributos na extensão que seja possível.

QC13. O retrato da realidade econômica completo


deve incluir toda a informação necessária para que o

.........................................................................................................
Características 159

usuário compreenda o fenômeno sendo retratado, in-


cluindo todas as descrições e explicações necessárias.
Por exemplo, um retrato completo de um grupo de
ativos incluiria, no mínimo, a descrição da natureza
dos ativos que compõem o grupo, o retrato numérico
de todos os ativos que compõem o grupo, e a des-
crição acerca do que o retrato numérico representa
(por exemplo, custo histórico original, custo histórico
ajustado ou valor justo). Para alguns itens, um retrato
completo pode considerar ainda explicações de fatos
significativos sobre a qualidade e a natureza desses
itens, fatos e circunstâncias que podem afetar a qua-
lidade e a natureza deles, e os processos utilizados
para determinar os números retratados.

QC14. Um retrato neutro da realidade econômica é


desprovido de viés na seleção ou na apresentação
da informação contábil-financeira. Um retrato neu-
tro não deve ser distorcido com contornos que pos-
sa receber dando a ele maior ou menor peso, ênfase
maior ou menor, ou qualquer outro tipo de manipu-
lação que aumente a probabilidade de a informação
contábil-financeira ser recebida pelos seus usuários
de modo favorável ou desfavorável. Informação
neutra não significa informação sem propósito ou
sem influência no comportamento dos usuários. A
bem da verdade, informação contábil-financeira re-
levante, por definição, é aquela capaz de fazer dife-
rença nas decisões tomadas pelos usuários.

QC15. Representação fidedigna não significa exati-


dão em todos os aspectos. Um retrato da realidade

..........................................................................................................
160 Demonstrações contábeis básicas

econômica livre de erros significa que não há erros


ou omissões no fenômeno retratado, e que o proces-
so utilizado, para produzir a informação reportada,
foi selecionado e foi aplicado livre de erros. Nesse
sentido, um retrato da realidade econômica livre de
erros não significa algo perfeitamente exato em to-
dos os aspectos. Por exemplo, a estimativa de preço
ou valor não observável não pode ser qualificada
como sendo algo exato ou inexato. Entretanto, a re-
presentação dessa estimativa pode ser considerada
fidedigna se o montante for descrito claramente e
precisamente como sendo uma estimativa, se a na-
tureza e as limitações do processo forem devida-
mente reveladas, e nenhum erro tiver sido cometido
na seleção e aplicação do processo apropriado para
desenvolvimento da estimativa.

QC16. Representação fidedigna, por si só, não re-


sulta necessariamente em informação útil. Por
exemplo, a entidade que reporta a informação pode
receber um item do imobilizado por meio de sub-
venção governamental. Obviamente, a entidade ao
reportar que adquiriu um ativo sem custo retrata-
ria com fidedignidade o custo desse ativo, porém
essa informação provavelmente não seria muito
útil. Outro exemplo mais sutil seria a estimativa do
montante por meio do qual o valor contábil do ativo
seria ajustado para refletir a perda por desvaloriza-
ção no seu valor (impairment loss). Essa estimativa
pode ser uma representação fidedigna se a entidade
que reporta a informação tiver aplicado com pro-
priedade o processo apropriado, tiver descrito com
propriedade a estimativa e tiver revelado quaisquer

.........................................................................................................
Características 161

incertezas que afetam significativamente a estimati-


va. Entretanto, se o nível de incerteza de referida es-
timativa for suficientemente alto, a estimativa não
será particularmente útil. Em outras palavras, a re-
levância do ativo que está sendo representado com
fidedignidade será questionável. Caso não exista al-
ternativa para retratar a realidade econômica que
seja mais fidedigna, a estimativa nesse caso deve
ser considerada a melhor informação disponível.

Aplicação das características qualitativas fundamentais

QC17. A informação precisa concomitantemente


ser relevante e representar com fidedignidade a rea-
lidade reportada para ser útil. Nem a representação
fidedigna de fenômeno irrelevante, tampouco a re-
presentação não fidedigna de fenômeno relevante
auxiliam os usuários a tomarem boas decisões.

QC18. O processo mais eficiente e mais efetivo para


aplicação das características qualitativas funda-
mentais usualmente seria o que segue (sujeito aos
efeitos das características de melhoria e à restrição
do custo, que não são considerados neste exemplo).
Primeiro, identificar o fenômeno econômico que te-
nha o potencial de ser útil para os usuários da in-
formação contábil-financeira reportada pela entida-
de. Segundo, identificar o tipo de informação sobre
o fenômeno que seria mais relevante se estivesse
disponível e que poderia ser representado com fi-
dedignidade. Terceiro, determinar se a informação
está disponível e pode ser representada com fide-

..........................................................................................................
162 Demonstrações contábeis básicas

dignidade. Dessa forma, o processo de satisfazer as


características qualitativas fundamentais chega ao
seu fim. Caso contrário, o processo deve ser repe-
tido a partir do próximo tipo de informação mais
relevante.

Visando ao atendimento das necessidades dos usuários,


sobretudo os externos, o CPC fez destaques importantes,
também, sobre as características qualitativas de melhoria,
que são quatro: comparabilidade, verificabilidade, tem-
pestividade e compreensibilidade.

Determina o CPC 00 sobre elas:

QC19. Comparabilidade, verificabilidade, tempes-


tividade e compreensibilidade são características
qualitativas que melhoram a utilidade da informa-
ção que é relevante e que é representada com fi-
dedignidade. As características qualitativas de me-
lhoria podem também auxiliar a determinar qual
de duas alternativas que sejam consideradas equi-
valentes em termos de relevância e fidedignidade
de representação deve ser usada para retratar um
fenômeno.

Comparabilidade

QC20. As decisões de usuários implicam escolhas


entre alternativas, como, por exemplo, vender ou
manter um investimento, ou investir em uma enti-
dade ou noutra. Consequentemente, a informação
acerca da entidade que reporta informação será

.........................................................................................................
Características 163

mais útil caso possa ser comparada com informa-


ção similar sobre outras entidades e com informa-
ção similar sobre a mesma entidade para outro pe-
ríodo ou para outra data.

QC21. Comparabilidade é a característica qualita-


tiva que permite que os usuários identifiquem e
compreendam similaridades dos itens e diferenças
entre eles. Diferentemente de outras características
qualitativas, a comparabilidade não está relaciona-
da com um único item. A comparação requer no mí-
nimo dois itens.

QC22. Consistência, embora esteja relacionada com


a comparabilidade, não significa o mesmo. Consis-
tência refere-se ao uso dos mesmos métodos para
os mesmos itens, tanto de um período para outro
considerando a mesma entidade que reporta a in-
formação, quanto para um único período entre enti-
dades. Comparabilidade é o objetivo; a consistência
auxilia a alcançar esse objetivo.

QC23. Comparabilidade não significa uniformidade.


Para que a informação seja comparável, coisas iguais
precisam parecer iguais e coisas diferentes precisam
parecer diferentes. A comparabilidade da informa-
ção contábil-financeira não é aprimorada ao se fazer
com que coisas diferentes pareçam iguais ou ainda
ao se fazer coisas iguais parecerem diferentes.

QC24. Algum grau de comparabilidade é possivel-


mente obtido por meio da satisfação das caracte-

..........................................................................................................
164 Demonstrações contábeis básicas

rísticas qualitativas fundamentais. A representação


fidedigna de fenômeno econômico relevante deve
possuir naturalmente algum grau de comparabili-
dade com a representação fidedigna de fenômeno
econômico relevante similar de outra entidade que
reporta a informação.

QC25. Muito embora um fenômeno econômico sin-


gular possa ser representado com fidedignidade de
múltiplas formas, a discricionariedade na escolha
de métodos contábeis alternativos para o mesmo
fenômeno econômico diminui a comparabilidade.

Verificabilidade

QC26. A verificabilidade ajuda a assegurar aos usu-


ários que a informação representa fidedignamente o
fenômeno econômico que se propõe representar. A
verificabilidade significa que diferentes observado-
res, cônscios e independentes, podem chegar a um
consenso, embora não cheguem necessariamente a
um completo acordo, quanto ao retrato de uma rea-
lidade econômica em particular ser uma representa-
ção fidedigna. Informação quantificável não necessi-
ta ser um único ponto estimado para ser verificável.
Uma faixa de possíveis montantes com suas proba-
bilidades respectivas pode também ser verificável.

QC27. A verificação pode ser direta ou indireta. Ve-


rificação direta significa verificar um montante ou
outra representação por meio de observação direta,
como, por exemplo, por meio da contagem de caixa.

.........................................................................................................
Características 165

Verificação indireta significa checar os dados de en-


trada do modelo, fórmula ou outra técnica e recal-
cular os resultados obtidos por meio da aplicação
da mesma metodologia. Um exemplo é a verificação
do valor contábil dos estoques por meio da checa-
gem dos dados de entrada (quantidades e custos) e
por meio do recálculo do saldo final dos estoques
utilizando a mesma premissa adotada no fluxo do
custo (por exemplo, utilizando o método PEPS).

QC28. Pode não ser possível verificar algumas ex-


plicações e alguma informação contábil-financeira
sobre o futuro (forward-looking information) até
que o período futuro seja totalmente alcançado.
Para ajudar os usuários a decidir se desejam usar
dita informação, é normalmente necessário divulgar
as premissas subjacentes, os métodos de obtenção
da informação e outros fatores e circunstâncias que
suportam a informação.

Tempestividade

QC29. Tempestividade significa ter informação dis-


ponível para tomadores de decisão a tempo de po-
der influenciá-los em suas decisões. Em geral, a in-
formação mais antiga é a que tem menos utilidade.
Contudo, certa informação pode ter o seu atributo
tempestividade prolongado após o encerramento do
período contábil, em decorrência de alguns usuá-
rios, por exemplo, necessitarem identificar e avaliar
tendências.

..........................................................................................................
166 Demonstrações contábeis básicas

Compreensibilidade

QC30. Classificar, caracterizar e apresentar a infor-


mação com clareza e concisão torna-a compreensível.

QC31. Certos fenômenos são inerentemente com-


plexos e não podem ser facilmente compreendidos.
A exclusão de informações sobre esses fenômenos
dos relatórios contábil-financeiros pode tornar a
informação constante em referidos relatórios mais
facilmente compreendida. Contudo, referidos rela-
tórios seriam considerados incompletos e poten-
cialmente distorcidos (misleading).

QC32. Relatórios contábil-financeiros são elabora-


dos para usuários que têm conhecimento razoável
de negócios e de atividades econômicas e que re-
visem e analisem a informação diligentemente. Por
vezes, mesmo os usuários bem informados e dili-
gentes podem sentir a necessidade de procurar aju-
da de consultor para compreensão da informação
sobre um fenômeno econômico complexo.

Aplicação das características qualitativas de me-


lhoria

QC33. Características qualitativas de melhoria de-


vem ser maximizadas na extensão possível. Entre-
tanto, as características qualitativas de melhoria,
quer sejam individualmente ou em grupo, não po-
dem tornar a informação útil se dita informação for
irrelevante ou não for representação fidedigna.

.........................................................................................................
Características 167

QC34. A aplicação das características qualitativas


de melhoria é um processo iterativo que não segue
uma ordem preestabelecida. Algumas vezes, uma
característica qualitativa de melhoria pode ter que
ser diminuída para maximização de outra caracte-
rística qualitativa. Por exemplo, a redução temporá-
ria na comparabilidade como resultado da aplicação
prospectiva de uma nova norma contábil-financeira
pode ser vantajosa para o aprimoramento da rele-
vância ou da representação fidedigna no longo pra-
zo. Divulgações apropriadas podem parcialmente
compensar a não comparabilidade.

Além das características qualitativas apresentadas, há


também a premissa subjacente sobre a qual se baseiam os
relatórios contábil-financeiros: a continuidade.

Significa dizer que as demonstrações contábeis são ela-


boradas, em condições normais, utilizando como premis-
sa que a entidade está em atividade e assim permanecerá
dentro de um futuro previsível. Entende-se assim que a
empresa não tem a pretensão de reduzir suas atividades,
nem perspectiva de entrar em processo de liquidação.

Há também que se observar uma relação positiva entre


custos para a geração da informação e os benefícios que
ela irá trazer.

Um dos aspectos referidos em relação às demonstrações


contábeis diz respeito a um conceito que precisa ser en-
tendido, de acordo com o que determina a Lei das Socie-
dades Anônimas, o exercício social. Qual a duração de um
exercício social? Quando tem seu início e qual o seu final?

..........................................................................................................
168 Demonstrações contábeis básicas

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
OBRIGATÓRIAS

A Lei das Sociedades por Ações, Lei nº 6.404/76, modificada


pela Lei nº 11.638/2007, em seu artigo nº 176 determina:

Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará ela-


borar, com base na escrituração mercantil da com-
panhia, as seguintes demonstrações financeiras,
que deverão exprimir com clareza a situação do
patrimônio da companhia e as mutações ocorridas
no exercício:
I - balanço patrimonial;
II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumu-
lados;
III - demonstração do resultado do exercício; e
IV - demonstração das origens e aplicações de re-
cursos.
IV – demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação
dada pela Lei nº 11.638, de 2007)
V – se companhia aberta, demonstração do valor
adicionado. (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007)
§ 1º As demonstrações de cada exercício serão
publicadas com a indicação dos valores correspon-
dentes das demonstrações do exercício anterior.
§ 2º Nas demonstrações, as contas semelhantes
poderão ser agrupadas; os pequenos saldos pode-
rão ser agregados, desde que indicada a sua natu-
reza e não ultrapassem 0,1 (um décimo) do valor
do respectivo grupo de contas; mas é vedada a uti-
lização de designações genéricas, como “diversas
contas” ou “contas-correntes”.
§ 3º As demonstrações financeiras registrarão a
destinação dos lucros segundo a proposta dos ór-
gãos da administração, no pressuposto de sua apro-
vação pela assembleia-geral.
§ 4º As demonstrações serão complementadas
por notas explicativas e outros quadros analíticos

.........................................................................................................
Demonstrações contábeis obrigatórias 169

ou demonstrações contábeis necessários para escla-


recimento da situação patrimonial e dos resultados
do exercício. (grifos nossos)

O CPC emitiu o Pronunciamento CPC nº 26 (R1) – Apre-


sentação das Demonstrações Contábeis, aprovado pela
Deliberação CVM nº 676/2011, no qual torna parte do
conjunto das demonstrações contábeis obrigatórias para
as sociedades por ações abertas. O CFC, através da Orien-
tação Técnica Geral – OTG 1000 e da NBC 26 (R3) – Apre-
sentação das Demonstrações Contábeis, ampliou a exigên-
cia para outras empresas. De forma geral a situação ficou
assim:

Demons- ME e EPP PMEs Regra S.A. de


tração ITG NBC TG Geral Capital
contábil 1000 1000 Aberto
BP Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório
DR Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório
Pode ser
DRA Facultativa substituída Obrigatório Obrigatório
pela DLPA
Facultativa
(Obriga-
tória se
DLPA Facultativa Facultativa Facultativa
substituir
a DRA ou
a DMPL)
Pode ser
DMPL Facultativa substituída Obrigatório Obrigatório
pela DLPA
DFC Facultativa Obrigatório Obrigatório Obrigatório
NE Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório
DVA Facultativa Facultativa Facultativa Obrigatório
Fonte: <http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/mai-
ling/html/2013_06_17_informativoFiscalizacao.html>.

..........................................................................................................
170 Demonstrações contábeis básicas

Observações: O § 6º do art. 176 da Lei nº 6.404/76 deter-


mina que a companhia fechada com patrimônio líquido,
na data do balanço, inferior a R$ 2.000.000,00 (dois mi-
lhões de reais) não será obrigada à elaboração e publica-
ção da demonstração dos fluxos de caixa. (Redação dada
pela Lei nº 11.638/2007).

O parágrafo § 3º do art. 177 da mesma lei estabelece que


as demonstrações financeiras das companhias abertas de-
vem observar ainda as normas expedidas pela CVM e serão
obrigatoriamente submetidas à auditoria por auditores in-
dependentes nela registrados. (Redação dada pela Lei nº
11.941/2009). Ainda no mesmo artigo mais três pontos
relevantes devem ser destacados: § 4º as demonstrações
financeiras serão assinadas pelos administradores e por
contabilistas legalmente habilitados; no § 5º ocorre a de-
terminação que as normas expedidas pela CVM a que se
refere o § 3º do artigo 177 deverão ser elaboradas em con-
sonância com os padrões internacionais de contabilidade
adotados nos principais mercados de valores mobiliários.
(Incluído pela Lei nº 11.638/2007); e finalmente, no § 6º
fica estabelecido que as companhias fechadas poderão
optar por observar as normas sobre demonstrações finan-
ceiras expedidas pela CVM para as companhias abertas.
(Incluído pela Lei nº 11.638/2007).

Exercício Social

O exercício social é definido pela Lei 6.404/76, em seu


art. 175, pelo Código Civil, Lei 10.406/2002, em seu art.
1.179, também no Pronunciamento Técnico CPC 21 (R1) –
Demonstração Intermediária e tem duração de 12 meses,

.........................................................................................................
Demonstrações contábeis obrigatórias 171

sem que seu início ocorra necessariamente no dia 1º de


janeiro de cada ano, pois a data de início varia de acordo
com o previsto nos estatutos de cada companhia.

Ciclo Operacional

Trata-se do tempo decorrido a partir da data da compra


da mercadoria, para uma empresa comercial onde será re-
vendida, ou da matéria-prima, para uma empresa indus-
trial em que será transformada em produtos, até o rece-
bimento dos recursos relativos aos produtos vendidos ou
mercadorias revendidas.

..........................................................................................................
172 Demonstrações contábeis básicas

O BALANÇO PATRIMONIAL

A mais conhecida demonstração contábil é o balanço pa-


trimonial. Ele é um dos relatórios cuja apresentação é
obrigatória para as sociedades por ações e para as empre-
sas de grande porte, segundo determina a Lei 6.404/76.
Já o Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, determina:

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária


são obrigados a seguir um sistema de contabilida-
de, mecanizado ou não, com base na escrituração
uniforme de seus livros, em correspondência com a
documentação respectiva, e a levantar anualmente
o balanço patrimonial e o de resultado econômico.
§1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a
espécie de livros ficam a critério dos interessados.
§2º É dispensado das exigências deste artigo o pe-
queno empresário a que se refere o art. 970.

O art. 970 do Código Civil prevê:

Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, di-


ferenciado e simplificado ao empresário rural e ao
pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efei-
tos daí decorrentes.

Por sua vez a Resolução CFC nº 1.482/2012, que aprova a


OTG 1000 – Modelo Contábil para Microempresa e Empre-
sa de Pequeno Porte, determina, em seu item 4:

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 173

4. A adoção dessa Interpretação não desobriga a mi-


croempresa e a empresa de pequeno porte a manu-
tenção de escrituração contábil uniforme dos seus
atos e fatos administrativos que provocaram, ou
possam vir a provocar, alteração do seu patrimônio.

O objetivo do balanço patrimonial é evidenciar o patrimô-


nio, em termos quantitativos e qualitativos, de uma enti-
dade no último dia de cada exercício fiscal, o que normal-
mente ocorre no dia 31 de dezembro de cada ano. Como
demonstra a situação de um determinado momento, é
considerada uma demonstração estática.

Para que sua informação seja útil, o balanço patrimonial,


bem como as outras demonstrações obrigatórias, deve ser
apresentado de forma resumida.

Como foi visto na abordagem sobre patrimônio, o patri-


mônio é composto por bens, direitos e obrigações com
terceiros.

A Lei nº 6.404/76 obriga em seu art. 176 que as demons-


trações de cada exercício sejam publicadas com a indica-
ção dos valores correspondentes das demonstrações do
exercício anterior, para que os usuários possam ter parâ-
metros de comparação.

Outro ponto importante definido nesse artigo é que, nas


demonstrações, as contas semelhantes poderão ser agru-
padas (lembram-se de que se trata de uma demonstração
resumida?), desde que indicada a natureza desses agru-
pamentos e que não ultrapassem um décimo do valor do
referido grupo de contas, sendo proibido o uso de deno-

..........................................................................................................
174 Demonstrações contábeis básicas

minações genéricas, que não determinem a natureza do


agrupamento, como “diversas”, por exemplo.

Segundo a Lei nº 6.404/76, as contas no balanço patrimo-


nial são divididas em dois grupos: Ativo e Passivo, de for-
ma que o passivo total da empresa seja o capital próprio
somado com o capital de terceiros. Dessa forma podemos
afirmar, com base no método das partidas dobradas, que
o ativo deve ser sempre igual ao passivo. Isso explica o
motivo de a demonstração chamar-se balanço. Tem que
haver equilíbrio entre os dois lados.

A equação patrimonial diz que Ativo = Passivo (capital de


terceiros ou passivo exigível) + Patrimônio Líquido (capital
próprio ou passivo não exigível).

Atenção: É comum nos livros a separação ativo = passivo


+ patrimônio líquido, em que se considera que passivo se
trata somente das obrigações com terceiros. Em questões
de provas e concursos há que se tomar muito cuidado com
essa questão. Prevalece a lei.

Apresentação das contas do Ativo e do Passivo

Há a necessidade de que os relatórios contábeis sejam ela-


borados de forma padronizada, para permitir a compa-
rabilidade, portanto a estrutura das informações a serem
evidenciadas no relatório deve obedecer, visando harmo-
nização das normas internacionais, ao Pronunciamento
CPC nº 26, porém a Lei das Sociedades Anônimas não
pode ser descumprida. Por esse motivo o citado pronun-
ciamento considera os dados existentes na lei e somente
acrescenta as informações que faltam para o atendimento

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 175

do objetivo de harmonização com as práticas internacio-


nais; por exemplo, no CPC não há determinação de ordem
de apresentação de contas, mas na lei há. Uma coisa não
prejudica a outra, portanto temos que cumprir a lei.

Em seu art. 178, § 1º, no ativo, as contas serão dispostas


em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos
nelas registrados.

Grau de liquidez significa o prazo no qual os bens e os


direitos podem ser transformados em dinheiro e as obri-
gações liquidadas. Quanto mais rápido, maior o grau de
liquidez daquele bem, direito ou obrigação.

O Ativo

O Ativo é composto por dois grupos:

• Ativo Circulante

• Ativo Não Circulante

Para que seja bem entendido esse conceito de circulante e


não circulante é preciso a assimilação do seguinte concei-
to bem simplificado: é considerado circulante tudo o que
se espera que seja realizado (no caso do ativo) ou liquida-
do (no prazo do passivo) até o final do exercício seguinte,
ou seja, doze meses após o encerramento do balanço do
ano corrente, que teoricamente ocorrerá no dia 31 de de-
zembro do mesmo ano. Nos casos das empresas que tive-
rem o ciclo operacional maior do que um exercício social,
o conceito de circulante passa a ser adotado em função do
ciclo operacional.

..........................................................................................................
176 Demonstrações contábeis básicas

O ativo não circulante é subdividido em quatro subgrupos:

1. Realizável a Longo Prazo.

2. Investimentos.

3. Imobilizado.

4. Intangível.

O ativo não circulante é formado por recursos que foram


retirados de circulação em função de opções estratégicas
e operacionais da entidade.

O subgrupo Realizável a Longo Prazo refere-se aos direi-


tos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim
como os derivados de vendas, adiantamentos ou emprés-
timos a sociedades coligadas ou controladas (artigo 243
da Lei 6.404/76), diretores, acionistas ou participantes no
lucro da companhia, que não constituírem negócios usu-
ais na exploração do objeto da companhia.

Há nesse subgrupo algumas exceções que devem ser des-


tacadas: adiantamentos ou empréstimos a sociedades co-
ligadas (empresas que a entidade mantém participação
ou influência significativa em sua gestão) ou controladas
(empresas que a entidade detém o controle acionário, ou
seja, que estejam submetidas à sua gestão), diretores,
acionistas ou participantes no lucro da companhia que
não constituam negócios usuais na exploração do objeto
da companhia. Nesse caso, não importando o prazo da
realização do direito, circulante (curto prazo) ou não cir-
culante (longo prazo), esses direitos serão classificados
nesse subgrupo.

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 177

O subgrupo Investimentos inclui os seguintes direitos da


companhia: as participações permanentes em outras so-
ciedades e os direitos de qualquer natureza, não classifi-
cáveis no ativo circulante e que não se destinem à manu-
tenção da atividade da companhia ou da empresa.

Muitas questões de concursos costumam explorar o as-


sunto em função do texto grifado. Atenção a esse impor-
tante detalhe!

O subgrupo Ativo Imobilizado inclui os direitos que te-


nham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção
das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos
com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações
que transfiram à companhia os benefícios, riscos e contro-
le desses bens. (Redação dada pela Lei nº 11.638/2007).

Importante salientar que esse subgrupo está diretamente


relacionado à manutenção das atividades da companhia,
são ativos para uso.

O subgrupo Ativo Intangível agrupa os direitos que te-


nham por objeto bens incorpóreos destinados à manu-
tenção da companhia ou exercidos com essa finalidade,
inclusive o fundo de comércio adquirido. (Incluído pela Lei
nº 11.638/2007).

O Passivo

Conforme já foi visto, a Lei 6.404/76 em seu Art. 178 in-


clui o passivo exigível e o patrimônio líquido (passivo não
exigível) no grupo passivo, dessa forma o passivo fica as-
sim dividido:

..........................................................................................................
178 Demonstrações contábeis básicas

1. Passivo Circulante.
2. Passivo Não Circulante.
3. Patrimônio Líquido.

Não está previsto na Lei das Sociedades por Ações ne-


nhum ordenamento específico para as contas do Passivo,
porém convencionou-se ordená-las por grau decrescente
de exigibilidade, ou seja, das que vencem primeiro para as
que vencem por último.

Como foi visto, fica mantido o conceito de Circulante (cur-


to prazo) e Não Circulante (longo prazo) que foi visto no
Ativo.

Não há subdivisões nesses grupos. O ponto fundamental


aí é que eles representam as obrigações da entidade com
terceiros, ou seja, com não participantes da sociedade que
concederam algum tipo de crédito para ela, de curto ou de
longo prazo.

O grupo Patrimônio Líquido disposto na Lei nº 6.404/76,


com nova redação estabelecida pela Lei 11.941/2009, tem
a seguinte composição:

1. Capital Social.
2. Reservas de Capital.
3. Ajustes de Avaliação Patrimonial.
4. Reservas de Lucros.
5. Ações em Tesouraria.
6. Prejuízos Acumulados.
7. Ajustes Acumulados de Conversão.

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 179

1. O subgrupo Capital Social é composto pelos recursos


empregados na empresa por seus sócios, podendo ser na
forma de dinheiro ou outro bem, suscetível de avaliação
monetária. O montante desses recursos é fixado nos atos
que constituem a sociedade e que são traduzidos por duas
peças fundamentais: o estatuto social e o contrato social.
É comum que esse montante seja alterado ao longo da
vida da empresa, seja pela entrada de novos recursos ori-
ginários dos seus sócios ou pela incorporação de reservas
dos lucros ou de capital registradas em seu patrimônio
líquido.

Segundo a Lei das Sociedades por Ações, previsto em seu ar-


tigo 182, a conta capital social discriminará o total subscrito
e, por dedução, a parcela ainda não integralizada. Capital
subscrito representa os recursos que foram estabelecidos,
nos atos de instituição da entidade, que os sócios aplica-
riam na entidade. O capital integralizado representa o total
do capital subscrito já entregue pelos sócios à sociedade.
Por dedução o capital a subscrever representa a parte que
falta ser entregue à entidade do capital subscrito.

2. O subgrupo Reservas de Capital é constituído pelos


valores recebidos pela entidade, de seus sócios ou outros
participantes do capital (debenturistas com debêntures
conversíveis em ações, portadores de bônus de subscrição
e de partes beneficiárias).

A lei determina, em seu artigo 182, in verbis:

§ 1º Serão classificadas como reservas de capital as


contas que registrarem:
a) a contribuição do subscritor de ações que

..........................................................................................................
180 Demonstrações contábeis básicas

ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de


emissão das ações sem valor nominal que ultrapas-
sar a importância destinada à formação do capital
social, inclusive nos casos de conversão em ações
de debêntures ou partes beneficiárias;
b) o produto da alienação de partes beneficiá-
rias e bônus de subscrição.
§ 2° Será ainda registrado como reserva de capital o
resultado da correção monetária do capital realiza-
do, enquanto não-capitalizado.

Alguns dos termos aí contidos são desconhecidos, vamos


tentar esclarecê-los para facilitar o entendimento, mas
isso somente será utilizado em fase mais avançada do cur-
so de Ciências Contábeis.

1. Debêntures – São valores mobiliários representa-


tivos de dívida de médio e longo prazos que asse-
guram a seus detentores (debenturistas) direito de
crédito contra a companhia que as emitiu.

2. Debêntures Conversíveis – São aquelas que po-


dem ser trocadas por ações da companhia que as
emitiu. As condições de conversibilidade devem es-
tar descritas na escritura de emissão.

3. Partes Beneficiárias – O art. 46 da Lei 6.404/76


determina que uma companhia pode emitir, a qual-
quer tempo, títulos negociáveis, sem valor nominal
e estranhos ao capital social, denominados “partes
beneficiárias”. Acrescenta em seu § 1º que elas con-
ferirão aos seus titulares direito de crédito eventu-
al contra a companhia, consistente na participação
nos lucros anuais (artigo 190).

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 181

4. Bônus de Subscrição – Em seu art. 75 a Lei das


Sociedades por Ações autoriza que companhias po-
derão emitir, dentro do limite de aumento de capi-
tal autorizado no estatuto (artigo 168), títulos ne-
gociáveis denominados “Bônus de Subscrição”. Em
seu parágrafo único define: os bônus de subscrição
conferirão aos seus titulares, nas condições cons-
tantes do certificado, direito de subscrever ações do
capital social, que será exercido mediante apresen-
tação do título à companhia e pagamento do preço
de emissão das ações.

5. Capital Autorizado – A Lei nº 6.404/76, em seu


art. 168, prevê a possibilidade de que o estatuto de
uma companhia possa conter autorização para au-
mento do capital social independentemente de re-
forma estatutária. Logicamente há nesse artigo ou-
tros itens que limitam e regulamentam os limites,
os autorizadores e as condições para sua realização.

Observações:

1. Os valores auferidos em face dos itens 2, 3 e 4 deverão


ser registrados em Reservas de Capital.

2. É comum empresas oferecerem aos seus empregados,


executivos, conselheiros etc. opções de ações, normalmen-
te a partir de contratos firmados, que dão a esses empre-
gados a exercer, ou não, o direito de compra de um de-
terminado quantitativo de ações da entidade, por prazo
estabelecido em contrato e mediante o cumprimento de
algumas condições (resultados, tempo de serviço etc.). Se-

..........................................................................................................
182 Demonstrações contábeis básicas

gundo a Orientação Técnica OCPC 02, emitida pelo CPC, a


contabilização dessas opções deve se dar com crédito em
conta especial de patrimônio líquido; sugere Ferrari (2016,
p. 695) que a denominação dessa conta seria “Opções ou-
torgadas reconhecidas”.

3. O subgrupo Ajuste de Avaliação Patrimonial represen-


ta uma das maiores mudanças que ocorreram no proces-
so de harmonização da contabilidade brasileira. Grandes
mudanças ocorreram nas avaliações de ativos e passivos e
na evidenciação dos resultados econômicos de uma enti-
dade em função de seu estabelecimento, juntamente com
outras normas. Tais alterações foram introduzidas na Lei
das Sociedades por Ações através da Lei nº 11.638/2007
e confirmadas pela Lei 11.941/2007. A Lei 6.404/76 prevê
em seu Art. 182, § 3º, que serão classificadas como ajustes
de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no re-
sultado do exercício, em obediência ao regime de compe-
tência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de
valores atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em
decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos pre-
vistos nessa lei ou em normas expedidas pela CVM, com
base na competência conferida pelo § 3º do art. 177 dessa
mesma lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009).

Por exemplo, um terreno foi adquirido e registrado pela


empresa ao valor de R$ 80.000,00 em janeiro de um deter-
minado ano. Ao final desse ano, para fins de fechamento
do seu balanço patrimonial, a empresa requereu a especia-
listas do mercado imobiliário uma avaliação do preço do
referido terreno. Supondo que a avaliação, a preço de mer-
cado, indique que o valor do terreno, naquele momento,
seja de R$ 85.000,00, teríamos a seguinte contabilização:

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 183

D – Terrenos 5.000,00
C – Ajuste de Avaliação Patrimonial 5.000,00

Caso a avaliação feita demonstrasse um valor de mercado
de R$ 78.000,00, teríamos:

D – Ajustes de Avaliação Patrimonial 2.000,00


C – Terrenos 2.000,00

No primeiro caso a empresa teve um ganho e no segundo


caso teve uma perda, que não foram realizados pelo regi-
me da competência.

4. O subgrupo Reservas de Lucros apresenta as diversas


reservas que podem se formar em função da destinação
do lucro líquido apurado em cada exercício. O § 2º do
Art. 178 da Lei das Sociedades por Ações determina que a
conta lucros acumulados deverá ter seu saldo destinado e
não poderá apresentar saldo no balanço patrimonial. Essa
destinação deverá ser dividida entre reservas de lucros e
distribuição de dividendos aos acionistas, de acordo com
o § 6º do Art. 202 da Lei 6.404/76, podendo uma parte ser
utilizada para aumento do capital. Importante destacar
que esse impedimento diz respeito ao balanço encerrado
ao final do exercício social, não havendo nada que impeça
que nas demonstrações intermediárias seja apresentado
saldo na conta lucros acumulados.

A Lei das Sociedades por Ações trata das diversas reservas


de lucros, tais como reserva legal e a reserva estatutária,
que pode ser composta por diversos tipos de reserva, tais
como reserva para contingências, reserva de lucros a reali-

..........................................................................................................
184 Demonstrações contábeis básicas

zar, reserva de retenção de lucros, reserva para dividendos


obrigatórios, também chamada de reserva especial, e a re-
serva de incentivos fiscais.

Reserva Legal
Prevista pelo Art. 193, determina que 5 % do lucro líqui-
do serão, antes de qualquer destinação, para a constitui-
ção dessa reserva. É obrigatória, se houver lucro. Somente
essa reserva é obrigatória, todas as outras podem ou não
ser constituídas.
Seu limite não poderá ultrapassar 20% do total do capital
social realizado corrigido monetariamente (correção que
só ocorre em alguns casos especiais).
A empresa poderá constituir a reserva relativa ao exercí-
cio também caso o seu saldo somado ao das reservas de
capital exceder 30% do capital social.
Essa reserva tem a finalidade de garantir a integridade do
capital social e somente poderá ser utilizada para aumen-
to do capital social ou para a compensação de prejuízos.

Reservas Estatutárias
Os acionistas de uma companhia aberta têm o poder de
criar diversos tipos de reservas, desde que as prevejam
em seu estatuto, como sugere o nome, e que para cada
reserva criada seja feita a indicação, precisa e pormeno-
rizada, de sua finalidade; sejam estabelecidos os critérios
que determinem qual parcela do lucro será a ela destinado
e que, também, estabeleça o limite máximo para a sua acu-
mulação, tal qual ocorre com a reserva legal, por exemplo.
Dentre as reservas estatutárias mais comuns temos:

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 185

• Reserva para contingências

Trata-se de uma das reservas mais utilizadas e deve


ser proposta pelos Órgãos de Direção Executiva da
Entidade e aprovada pela assembleia de acionistas.
Determina a Lei 6.404/76 em seu Art. 195 que sua
finalidade é a destinação de parte do lucro buscan-
do compensar, em exercício futuro, a diminuição do
lucro decorrente de perda julgada provável, cujo va-
lor possa ser estimado.
A proposta dos órgãos da administração deverá in-
dicar a causa da perda prevista e justificar, com as
razões de prudência que a recomendem, a constitui-
ção da reserva.
A reserva será revertida no exercício em que dei-
xarem de existir as razões que justificaram a sua
constituição ou em que ocorrer a perda.

• Reserva de lucros a realizar

A Lei das Sociedades por Ações, em seu art. 202,


estabelece que uma parte do lucro líquido, ajustado
com a formação, e das reservas legais e estatutá-
rias e reversão de algumas das reservas estatutá-
rias, caso não haja previsão estatutária, 50% desse
lucro líquido ajustado deverá ser distribuído aos
acionistas da entidade. Ela, porém, autoriza que a
assembleia geral dos acionistas determine um per-
centual menor, desde que não seja menor do que
25%. A reserva de lucros a realizar é prevista pela
Lei das Sociedades por Ações, em seu art. 197, e
tem o objetivo de postergação do pagamento dos
dividendos obrigatórios a serem distribuídos sobre
os lucros ainda não realizados que não se espera

..........................................................................................................
186 Demonstrações contábeis básicas

que sejam transformados em moeda no decorrer do


próximo exercício social.
Essa reserva somente poderá ser utilizada para o
pagamento do dividendo mínimo obrigatório a me-
nos que seja absorvida para a cobertura de prejuí-
zos acumulados.

• Reserva de retenção de lucros

Conforme determina o art. 196 da Lei 6.404/76, a


assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos
da administração, deliberar reter parcela do lucro lí-
quido do exercício prevista em orçamento de capital
por ela previamente aprovado.
O § 1º do artigo em tela impõe que o orçamento,
submetido pelos órgãos da administração com a
justificação da retenção de lucros proposta, deverá
compreender todas as fontes de recursos e aplica-
ções de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a
duração de até 5 (cinco) exercícios, salvo no caso
de execução, por prazo maior, de projeto de inves-
timento. Prevê o § 2º do mesmo artigo que o orça-
mento poderá ser aprovado pela assembleia geral
ordinária que deliberar sobre o balanço do exercício
e revisado anualmente, quando tiver duração supe-
rior a um exercício social. (Redação dada pela Lei nº
10.303, de 2001).

• Reserva de Incentivos Fiscais

A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos


de administração, destinar para essa reserva a par-
cela do lucro líquido decorrente de doações ou sub-
venções governamentais para investimentos, que

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 187

poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo


obrigatório (inciso I do caput do art. 202 dessa lei).
(Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007).

• Reserva para dividendos obrigatórios

Quando a companhia não dispõe de meios para


fazer o pagamento de dividendos obrigatórios, a
parte não distribuída dos dividendos formará uma
reserva que somente poderá ser utilizada para pa-
gamento de dividendos, a menos que seja absorvida
para a cobertura de eventuais prejuízos futuros.

5. O subgrupo Ações em Tesouraria ocorre em função de


que uma empresa pode adquirir no mercado partes das
ações por ela emitidas e mantê-las em tesouraria por ra-
zões estratégicas. Esse ato tem amparo na Lei das Socieda-
des por Ações em seu art. 30, reproduzido a seguir:

Negociação com as Próprias Ações

Art. 30. A companhia não poderá negociar com


as próprias ações.
§ 1º Nessa proibição não se compreendem:
a) as operações de resgate, reembolso ou amor-
tização previstas em lei;
b) a aquisição, para permanência em tesouraria
ou cancelamento, desde que até o valor do saldo de
lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição
do capital social, ou por doação;
c) a alienação das ações adquiridas nos termos
da alínea b e mantidas em tesouraria;
d) a compra quando, resolvida a redução do ca-
pital mediante restituição, em dinheiro, de parte do
valor das ações, o preço destas em bolsa for inferior
ou igual à importância que deve ser restituída.
§ 2º A aquisição das próprias ações pela com-
panhia aberta obedecerá, sob pena de nulidade, às

..........................................................................................................
188 Demonstrações contábeis básicas

normas expedidas pela Comissão de Valores Mobili-


ários, que poderá subordiná-la à prévia autorização
em cada caso.
§ 3º A companhia não poderá receber em garan-
tia as próprias ações, salvo para assegurar a gestão
dos seus administradores.
§ 4º As ações adquiridas nos termos da alínea
b do § 1º, enquanto mantidas em tesouraria, não
terão direito a dividendo nem a voto.
§ 5º No caso da alínea d do § 1º, as ações adqui-
ridas serão retiradas definitivamente de circulação.

O art. 178 da Lei das Sociedades por Ações, em seu § 2º,


estabelece que o passivo é composto, conforme o Inciso I,
de passivo circulante; segundo o Inciso II, de passivo não
circulante; e segundo o Inciso III, de patrimônio líquido.

O § 5º do art. 182 prevê que as ações em tesouraria de-


verão ser destacadas no balanço como dedução da conta
do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos
aplicados na sua aquisição.

6. O subgrupo Prejuízos Acumulados como já visto na


definição do subgrupo Reservas de Lucros, quando a enti-
dade apura lucro ao final do exercício, após possíveis pre-
juízos acumulados, deverá destinar o lucro restante antes
do encerramento do balanço patrimonial, de forma que a
conta Lucros Acumulados não poderá ter saldo no balanço
patrimonial de encerramento do exercício (nas demonstra-
ções intermediárias não há nenhum impedimento).

Se o resultado apurado no exercício for prejuízo este será


transferido para a conta Prejuízos Acumulados.

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 189

O art. 189 em seu parágrafo único determina que o pre-


juízo do exercício será obrigatoriamente absorvido pelas
reservas de lucros e pela reserva legal, nessa ordem. Ponto
importante: a reserva Legal é uma reserva de lucro, mas a
lei determina que é a última a ser utilizada para a compen-
sação de prejuízos acumulados.

No exercício seguinte, caso seja apurado lucro, serão de-


duzidos, antes de qualquer participação, os prejuízos acu-
mulados e a provisão para o Imposto sobre a Renda.

7. O subgrupo Ajustes Acumulados de Conversão, se-


gundo o Pronunciamento CPC 02(R2), o Pronunciamento
CFC TG-02(R1) e a Deliberação CVM nº 640/2010, trata,
entre outras coisas, dos Ajustes Acumulados de Conver-
são. Segundo Ferrari (2016, p. 696): “É uma das contas do
Patrimônio Líquido que compõem os ‘Outros Resultados
Abrangentes’, isto é, valores que alteram o PL sem, no en-
tanto, alterar o resultado.”

Nela são registradas as variações cambiais de investimen-


tos no exterior, em coligadas, controladas ou controladas
em conjunto, além dos instrumentos de proteção (hedge)
utilizados para garantir esses investimentos.

Segundo a OCPC 02 (Orientação Técnica), essa conta será


reconhecida no resultado apenas quando da baixa do re-
ferido investimento. Essa não é uma conta de reserva, ela
tem funcionalidade semelhante à conta Ajuste de Avalia-
ção Patrimonial, podendo ter saldo devedor ou credor.

Dessa forma, visto item por item um balanço patrimonial


completo teria a seguinte apresentação:

..........................................................................................................
190 Demonstrações contábeis básicas

Ativo Passivo
Circulante Circulante
Caixa Fornecedores a pagar
Bancos Impostos a pagar
Duplicatas a Receber Salários a pagar
Estoques
Não circulante Não Circulante
Realizável a Longo Prazo Financiamentos a pagar
Empréstimos a receber
Investimentos
Participações em outras
entidades
Imobilizado Patrimônio Líquido
Móveis de uso Capital Social
Móveis e Utensílios Reservas de Capital
Máquinas e Reservas de lucro
Equipamentos Ações em Tesouraria (redutora)
Intangível Ajustes de Avaliação Patrimonial (+/-)
Marcas e patentes Prejuízos Acumulados (redutora)
Softwares Ajustes Acumulados de
Concessões Conversão (+/-)

Ao final do capítulo III foi apresentado um exemplo de


apuração de resultados do exercício que, após sua conclu-
são, resultou no seguinte balancete:

Natureza do Saldo
Contas
Devedor Credor
Capital 300.000,00
Banco c/ Movimento 244.000,00
Máquinas e
50.000,00
equipamentos
Móveis e utensílios 30.000,00
Fornecedores a pagar 80.000,00
Estoques 40.000,00
Clientes a receber 80.000,00
Salários a Pagar 10.000,00

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 191

Natureza do Saldo
Contas
Devedor Credor
Aluguéis a Pagar 5.000,00
Condomínio a Pagar 2.000,00
Contas a pagar 6.000,00
I.R. a Pagar 6.150,00
CSLL a Pagar 3.690,00
Lucros Acumulados 31.160,00
TOTAL 444.000,00 444.000,00

Utilizando como exemplo o mesmo balancete de verifica-


ção e, hipoteticamente, considerando que ele se refira ao
mês de novembro de 2015, com o intuito de completar as
contas para apresentar um balanço patrimonial com con-
teúdo em boa quantidade dos grupos e subgrupos, vamos
imaginar que em dezembro e no fechamento do balanço
patrimonial ocorreram as seguintes operações.

1. A empresa Marônio adquiriu participação perma-


nente em outra empresa, denominada XPTO Ltda.,
comprando 60% de seu patrimônio líquido pagando
pela operação o valor justo de R$ 100.000,00, à vista.

2. A empresa Marônio emprestou à empresa XPTO a


importância de R$ 20.000,00 para aliviar as dificul-
dades imediatas de caixa que a XPTO tinha naquele
momento, sem prazo definido para pagamento.

3. A Marônio adquiriu, a prazo, software para ges-


tão de suas operações no valor de R$ 20.000,00.

4. A Marônio adquiriu máquinas e equipamentos,


com financiamento a longo prazo, com 3 anos de

..........................................................................................................
192 Demonstrações contábeis básicas

carência para início do pagamento no valor de R$


200.000,00.

5. 5% do lucro líquido apurado foi destinado à reser-


va legal, no valor de R$ 1.558,00.

6. A Marônio adquiriu ações de uma determinada


companhia, no mercado financeiro, e as classificou
como investimentos temporários, no valor de R$
10.000,00. O valor justo dos referidos títulos foram
avaliados ao final do exercício em R$ 10.800,00.

7. Em função de previsão de prejuízos no próximo


exercício em face da retração da economia a direção
da empresa propôs, e a assembleia dos acionistas
aprovou, destinar 10% do lucro para a reserva de
contingências.

8. A Marônio emitiu no mercado 1.000 títulos de


Partes Beneficiárias e contabilizou R$ 10,00 em
cada unidade captada, totalizando R$ 10.000,00.

9. O estatuto da Marônio prevê a distribuição míni-


ma de 30% do lucro para os seus acionistas.

a. Nesse caso, descontadas as reservas que foram


criadas, o dividendo mínimo seria:

i. Lucro Líquido 31.160,00


ii. Reserva Legal 1.558,00
iii. Reserva de contingências 3.116,00
iv. Saldo 26.486,00
v. Dividendo mínimo 30% 7.945,80
vi. Saldo 18.540,20

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 193

10. Face aos projetos de expansão apresentados pela dire-


ção, a assembleia aprovou a constituição de reserva de re-
tenção de lucros com a utilização do saldo remanescente.

A contabilização dessas operações mostraria os seguintes


saldos para as contas:

1. Banco c/ Movimentos Participações em outras sociedades


si 244.000 100.000 1 1 100.000
20.000 2
10.000 6
8 10.000

2. Empréstimos a Receber de Controladas


2 20.000

3. Softwares Títulos a Pagar


3 20.000 20.000 3

4. Máquinas e Equipamentos Financiamentos de Longo Prazo


si 50.000 20.000 4
4 200.000

5. Lucros Acumulados Reserva Legal


5 1.558 si 31.160 1.558,00 5
7 3.116
9 7.945,00
10 18.540,20

6. Ações disponíveis para venda Ajustes da Avaliação Patrimonial


6 10.000 800 8.1
8.1 80.000

..........................................................................................................
194 Demonstrações contábeis básicas

7. Reservas de Contigências
3.116 7

8. Partes Beneficiárias
10.000 8

9. Dividendos a Distribuir
7.945, 80 8

10. Reserva de Retenção de Lucros


18.540,20 10

Após essas operações o balancete de verificação seria as-


sim apresentado:

Balancete de Verificação
Contas Débito Crédito
Capital Social 300.000,00
Banco Conta Movimento 124.000,00
Máquinas e Equipamentos 250.000,00
Móveis e Utensílios 30.000,00
Fornecedores a Pagar 80.000,00
Estoques 40.000,00
Clientes a Receber 80.000,00
Salários a Pagar 10.000,00
Aluguéis a Pagar 5.000,00
Condomínios a Pagar 2.000,00
Contas a Pagar 6.000,00
I. R. a Pagar 6.150,00
CSLL a Pagar 3.690,00

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 195

Balancete de Verificação
Contas Débito Crédito
Participações Outras 100.000,00
Sociedades

Empréstimos a Receber 20.000,00


de Controladas

Softwares 20.000,00

Títulos a Pagar 20.000,00

Financiamentos a Longo Prazo 200.000,00

Reserva Legal 1.558,00

Ações Disponíveis para Venda 10.800,00

Ajustes de Avaliação 800,00


Patrimonial

Reserva de Contingências 3.116,00

Partes Beneficiárias 10.000,00

Dividendos a Distribuir 7.945,80

Reserva de Retenção de Lucros 18.540,20

Total 674.800,00 674.800,00

..........................................................................................................
196 Demonstrações contábeis básicas

O balanço patrimonial, portanto, seria assim apresentado:

Companhia Marônio
Balanço Patrimonial - Encerrado em 31/12/2015

Saldo
Ativo
31/12/2014 31/12/2015

Circulante
Banco Conta Movimento -
Ações Disponíveis para Venda - 124.000,00
Estoques -
Clientes a Receber - 10.800,00

40.000,00

80.000,00
Não Circulante
Realizável a Longo Prazo
Empréstimos a Rec.
de Controladas - 20.000,00
Investimentos
Participações em
Outras Sociedades - 100.000,00
Imobilizado
Móveis e Utensílios - 30.000,00
Máquinas e
Equipamentos - 250.000,00
Intangível
Softwares - 20.000,00

Total 674.800,00

.........................................................................................................
O balanço patrimonial 197

Saldo
Passivo
31/12/2014 31/12/2015

Circulante
Salários a Pagar - 10.000,00
Aluguéis a Pagar - 5.000,00
Condomínios a Pagar - 2.000,00
Fornecedores a Pagar - 80.000,00
Contas a Pagar - 6.000,00
Títulos a Pagar - 20.000,00
I.R a Pagar - 6.150,00
CSLL a Pagar - 3.690,00
Dividendos a Distribuir - 7.945,80

Não Circulante
Financiamentos a Longo Prazo 200.000,00

Patrimônio Líquido
Capital Social - 300.000,00
Reservas de Capital
Partes Beneficiárias - 10.000,00
Reservas de Lucros
Reserva Legal - 1.558,00
Reserva de Contingências - 3.116,00
Reserva de Retenção
de Lucros - 18.540,20
Ajuste de Avaliação
Patrimonial - 800,00

Total 674.800,00

..........................................................................................................
198 Demonstrações contábeis básicas

A DRE

Segundo Ferreira (2013, p. 877) a DRE é a exposição orde-


nadas das receitas realizadas e das despesas incorridas
no exercício, registradas de acordo com o regime da com-
petência.

Se no balanço patrimonial são evidenciadas apenas contas


patrimoniais, na DRE são listadas, em ordem, apenas as
contas de resultado.

Tomando por base Velter e Missagia (2011, p. 503), é obri-


gatória para todas as empresas, independentemente de
sua natureza jurídica, prevista pelo Art. 187 da Lei das So-
ciedades por Ações e Art. 1.189 da Lei nº 10.406/2002 (Có-
digo Civil), que a ele se refere como Balanço de Resultado
Econômico ou Demonstração da Conta de Lucros e Perdas.

O CPC 26 (R1), aprovado pelo CFC através da NBC TG 26


(R3) e pela Deliberação CVM nº 676/11; o CPC 31, aprova-
do pelo CFC através da NBC TG 31 (R2) e pela CVM através
da Deliberação nº 598/09; e o CPC 41, aprovado pelo CFC
através da NBC TG 41 (R1) e pela CVM através da Deli-
beração nº 636/10 também aludem à obrigatoriedade da
evidenciação da DRE.

Com as alterações trazidas pelas Leis nº 11.638/2007 e


11.941/2009 e em consonância com os Pronunciamentos
Contábeis citados, foi estabelecida uma nova estrutura
para a DRE:
A DRE 199

Operações Continuadas ou Operações em Continuidade

Receitas (segundo o conceito do item 8 do CPC 30(R1) – Receitas).


( - ) Custo dos Produtos, Mercadorias ou
Serviços Vendidos (CPV, CMV ou CSV)
( = ) Resultado Bruto (Lucro ou Prejuízo)
( - ) Despesas com Vendas
( - ) Despesas Administrativas
( - ) Despesas Gerais
( - ) Outras Despesas
( + ) Outras Receitas
( + ) Receita de Equivalência Patrimonial
( - ) Despesa de Equivalência Patrimonial
( = ) Resultado Antes das Receitas e Despesas Financeiras
( - ) Despesas Financeiras
( + ) Receitas Financeiras
( = ) Resultado Antes do IR e CSL
( - ) Despesas com IR e CSL (só das operações continuadas)
( = ) Resultado Líquido das Operações Continuadas (Lucro
ou Prejuízo Líquido das Operações Continuadas)

Operações em Descontinuidade (ou Operações Descontinuadas)

( + ) Resultado Líquido das Operações Descontinuadas


(Lucro ou Prejuízo Líquido das Operações Descontinuadas)
( - ) Participações Estatutárias sobre o
Lucro (Lei nº 6.404/76, art. 187)
( = ) Resultado Líquido do Exercício (lucro ou prejuízo líquido
do exercício)
Resultado Básico por Ação (Segundo o CPC 41 – Resultado por
Ação)
Resultado Diluído por Ação (Segundo o CPC 41 – Resultado por
Ação)

Fonte: Ferrari (2016, p. 739-740).

É bom esclarecer um ponto que tem sido objeto de muita


polêmica, o que é normal em ambiente de mudanças, en-
tre contabilistas.
200 Demonstrações contábeis básicas

Concordo com o Prof. Ed Luiz Ferrari quando afirma que


quando ocorrerem divergências entre a Lei das Sociedades
por Ações e os Pronunciamentos Técnicos do CPC, aprova-
dos pelos diversos órgãos reguladores (no caso das Socie-
dades por Ações, a CVM), deve prevalecer a lei, com base
nos § 3º e § 5º do Art. 177 da Lei em questão.

Pelo Art. 187 da Lei das Sociedades por Ações o início da


DRE se apresenta da seguinte forma:

Receita Bruta
( - ) Deduções
( = ) Receita Líquida
( - ) CPV e/ou CMV e/ou CSV

O CPC 30 (R1), em seu item 8, demonstra com total clare-


za que não mais existem as receitas brutas e as receitas
líquidas. Há somente um conceito que permanece: o de
Receita.

Os tributos sobre vendas não recuperáveis (PIS, Cofins) so-


bre bens e serviços (ISS) e sobre o valor adicionado (ICMS,
PIS e Cofins) recuperáveis) não são benefícios econômicos
que fluam para a entidade e não resultam em aumento
do Patrimônio Líquido. Portanto, são excluídos da Receita
(FERRARI, 2016, p. 741).

Essas ocorrências são evidenciadas em Notas Explicativas,


tal qual o detalhamento das operações descontinuadas.

Como se pode observar, a DRE é montada em um formato


de conta aritmética, utilizando exclusivamente contas de
resultados.
Outras demonstrações obrigatórias 201

OUTRAS DEMONSTRAÇÕES
OBRIGATÓRIAS

Não abordaremos em detalhes neste livro as outras de-


monstrações obrigatórias pela Lei das Sociedades por
Ações e pelo CPC 26.

São elas, além do balanço e da DRE:

• Demonstração do Resultado Abrangente.

• Demonstração das Mutações do Patrimônio Lí-


quido.

• Demonstração dos Fluxos de Caixa.

• Demonstração do Valor Adicionado.

As Notas Explicativas são obrigatoriamente o complemen-


to das demonstrações, pois todas são resumidas, sinteti-
zadas ao máximo.

Ao conjunto das Demonstrações Contábeis deve ser incluí-


do o Relatório da Auditoria e o Relatório da Administração.
202 Demonstrações contábeis básicas

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe


sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 17 dez. 1976.

. Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001. Altera e


acrescenta dispositivos na Lei nº 6.404, de 15 de dezem-
bro de 1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações,
e na Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe
sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão
de Valores Mobiliários. Diário Oficial da União, Brasília,
1º nov. 2001.

. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o


Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002.

. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera


e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro
de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e
estende às sociedades de grande porte disposições rela-
tivas à elaboração e divulgação de demonstrações finan-
ceiras. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007.

. Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a


legislação tributária federal relativa ao parcelamento ordi-
nário de débitos tributários; concede remissão nos casos
em que especifica; institui regime tributário de transição
[...] e dá outras providências. Diário Oficial da União, Bra-
sília, DF, 28 maio 2009.
203

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação CVM


nº 598, de 15 de setembro de 2009. Aprova o Pronuncia-
mento Técnico CPC 31 do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis, que trata de ativo não circulante mantido para
venda e operação descontinuada. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 16 set. 2009.

. Deliberação CVM nº 636, de 6 de agosto de 2010.


Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 41 do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, que trata da determinação
e apresentação do resultado por ação. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 9 ago. 2010.

. Deliberação CVM nº 640, de 7 de outubro de 2010.


Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 02(R2) do Comitê
de Pronunciamentos Contábeis – CPC sobre efeitos das mu-
danças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações
contábeis. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 out. 2010.

. Deliberação CVM nº 676, de 13 de dezembro de


2011. Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 26(R1) do
Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata da Apre-
sentação das Demonstrações Contábeis. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 15 dez. 2011.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Orientação


OCPC 02: esclarecimentos sobre as demonstrações contá-
beis de 2008. Brasília, DF, 2009.

. Pronunciamento Técnico CPC 41: resultado por


ação: correlação às Normas Internacionais de Contabilida-
de – IAS 33. Brasília, DF, 2010.
204 Demonstrações contábeis básicas

. Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2): efeitos das


mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demons-
trações contábeis: correlação às Normas Internacionais de
Contabilidade – IAS 21 (BV2010). Brasília, DF, 2010.

. Pronunciamento Conceitual Básico (R1): estrutura


conceitual para elaboração e divulgação de relatório con-
tábil-financeiro: correlação às Normas Internacionais de
Contabilidade – The Conceptual Framework for Financial
Reporting (IASB – BV 2011 Blue Book). Brasília, DF, 2011.

. Pronunciamento Técnico CPC 21 (R1): demons-


tração intermediária: correlação às Normas Internacionais
de Contabilidade – IAS 34 (IASB – BV 2011). Brasília, DF,
2011.

. Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1): apresen-


tação das demonstrações contábeis: correlação às Normas
Internacionais de Contabilidade – IAS 1 (IASB – BV 2011).
Brasília, DF, 2011.

. Pronunciamento Técnico CPC 30 (R1): receitas:


correlação às Normas Internacionais de Contabilidade IAS
18 (IASB – BV 2012). Brasília, DF, 2012.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Orientação


Técnica Geral OTG nº 1.000, de 21 de outubro de 2015.
Aprova a OTG 1000 que dispõe sobre modelo contábil
para microempresa e empresa de pequeno porte. Brasília,
DF, 23 out. 2015.

. Resolução CFC n° 1.482, de 20 de março de 2015.


Acrescenta o parágrafo 5º ao artigo 1º e altera o caput
do artigo 4º da Resolução CFC nº 1.442/2013, que dispõe
sobre os critérios para a elaboração dos atos que discipli-
205

nam o exercício das atribuições legais e regimentais dos


Conselhos de Contabilidade e dá outras providências. Diá-
rio Oficial da União, Brasília, DF, 8 abr. 2015.

. NBC TG 02 (R1): efeitos das mudanças nas taxas


de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Bra-
sília, DF, 2013.

. NBC TG 26 (R3): apresentação das demonstrações


contábeis. Brasília, DF, 2015.

. NBC TG 31 (R3): ativo não circulante mantido para


venda operação descontinuada. Brasília, DF, 2015.

. NBC TG 41 (R1): resultado por ação. Brasília, DF,


2013.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO PARANÁ.


Informativo de Fiscalização nº 2: demonstrações contá-
beis obrigatórias. Curitiba, 18 jun. 2013. Disponível em:
<http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/mai-
ling/html/2013_06_17_informativoFiscalizacao.
html>. Acesso em: 5 ago. 2016.

FERRARI, Ed Luiz. Contabilidade Geral: teoria e mais de


1.000 questões. 14. ed. Niterói: Impetus, 2016.

FERREIRA, R. J. Contabilidade básica: teoria e mais de 1.600


questões comentadas. 10. ed. Rio de Janeiro: Ferreira, 2013.

VELTER, Francisco; MISSAGIA, Luiz R. Manual de Contabi-


lidade: teoria e mais de 650 questões. 5. ed., Rio de
Janeiro: Campus/Elsevier, 2011.
206

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste livro inicial da contabilidade creio ter sido possí-


vel ao leitor entender a importância do estudo das Ciên-
cias Contábeis nos dias atuais. Foi possível conhecer uma
breve história da evolução e a fixação de alguns de seus
principais conceitos, objeto e objetivos. Outros aspectos
importantes inicialmente abordados dizem respeito aos
usuários da informação contábil e à estrutura conceitual
para a elaboração do relatório contábil, este constituin-
do um tema muito atual e merecedor de destaque na har-
monização das normas internacionais de contabilidade.
Também foram inicialmente apontados temas importan-
tes, como as possibilidades de mercado de trabalho para
o profissional da área contábil e a técnica contábil da es-
crituração.

Pontos estruturais das Ciências Contábeis também foram


abordados no início deste livro: o primeiro contato com a
ideia do que seja patrimônio e suas situações possíveis,
permeado com o entendimento da ideia de conta e com-
plementado com a concepção de um plano de contas, que
certamente ajudarão em muito a compreensão da prática
contábil.

Também foram abordados os princípios contábeis, cujo


entendimento pelos alunos tem importância vital no uni-
verso contábil.
207

Para que fosse possível colocar os conhecimentos iniciais


estudados em prática foram apresentados alguns temas
decisivos. A diferença entre atos e fatos administrativos,
os livros utilizados para o registro dos fatos adminis-
trativos e o primeiro contato com o secular Método das
Partidas Dobradas, que se tornou a base da contabilidade
desde seu descobrimento até os dias de hoje, e, acredito,
assim permanecerá por longo tempo.

Apresentados esses pontos essenciais, foi iniciada a apli-


cação prática dos conceitos inicialmente apresentados,
começando pela técnica da escrituração, praticando-a uti-
lizando o livro diário por meio dos razonetes, inicialmente
utilizando contas patrimoniais.

Ampliando os conceitos de conta contábil, buscando en-


tender como é efetuada a apuração dos resultados das en-
tidades, foram abordadas as contas de resultado de forma
mais aprofundada, adicionando aos registros contábeis os
conceitos de reconhecimento de receitas, de apropriação
de despesas incorridas e não pagas ou reconhecimento de
despesas, balancete de verificação com a posterior apura-
ção do resultado do exercício.

Finalmente, foram abordadas as demonstrações contábeis


obrigatórias, com destaque para o balanço patrimonial e
seu detalhamento e para a DRE, com sua nova estrutu-
ra. As demais demonstrações foram apenas mencionadas
com o apontamento de suas funções básicas.

Espero que este conteúdo seja útil na sua caminhada no


universo contábil.

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