Parte 1 - Síntese Neoclássica

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Disciplina Macroeconomia I

A síntese neoclássica

Tópico 7, parte I
Snowdon e Vane cap. 3

Eliane Araújo
Estrutura

1. Origem da síntese Neoclássica

2. Os pilares da Teoria Geral de Keynes

3. A síntese neoclássica

4. O modelo IS-LM e suas principais extensões

5. Considerações finais sobre a síntese neoclássica


1. Origem da síntese neoclássica (SN)
• Síntese Neoclássica-Keynesiana (SN): Modelo IS-LM
apresentado Hicks (1937)

• Propõe uma interpretação para A Teoria Geral do Emprego, do


Juro e da Moeda (TG, Keynes, 1936)

• Argumenta que a TG de Keynes não era antagônica, mas sim


complementar à teoria neoclássica

• Daí a proposta de síntese dos dois enfoques


Teoria Geral
Dois pilares da TG:
(1) Princípio da Demanda Efetiva (PDE): decisões de gasto (demanda)
determinam o nível da atividade econômica (oferta); e
(2) Teoria da Preferência por Liquidez (TPL): papel central do mercado
monetário na determinação do produto.

O PDE e a TPL têm uma raiz comum nas economias de mercado: a


permanente incerteza dos agentes quanto à sua renda futura.

A incerteza  PL  PDE  da Lei de Say

Embora a oferta gere renda monetária de igual valor, a PL rompe o


vínculo entre esta renda e a DE que sustentará a produção no período
seguinte.
Teoria Geral
• O PDE e a TPL alicerçam a crítica de Keynes ao equilíbrio único
neoclássico, a pleno emprego.
• Se DE, inibida pela PL, < Yp:
– não há incentivo para as empresas elevarem a produção e,
– para a solução neoclássica da redução de preços

• Isso porque, em nenhum dos casos, garante-se o aumento das


receitas com uma demanda retraída, caracterizando a situação de
equilíbrio com desemprego.
• Em momentos de maior incerteza se configuraria o que Keynes
chamou de “armadilha da liquidez”: caso extremo em que a
economia se mantém em depressão, porque a renda se concentra
na PL, em detrimento da DE
Teoria Geral
• Embora concorra com a demanda por bens, a principal influência da
PL sobre o produto agregado (Y) se dá no mercado de ativos.

• O primeiro efeito do aumento na PL é a retração da demanda por


ativos, elevando as taxas de juros (i) requeridas para que estes
possam concorrer com a demanda por moeda (L).

• Dadas taxas de retorno esperadas (a que Keynes chamou de


Eficiência Marginal do Capital – EMC), o aumento do custo
(financeiro e de oportunidade) dos investimentos (I) faz com que
esses se retraiam, inibindo a renda agregada e o consumo (C).
Teoria Geral
Keynes sintetizou sua teoria no Cap. 18 da TG. Do PDE, resulta:

[1] Y = DE =C + I

[2] C = C(Y), C ’ > 0

[3] I = I(EMC, i), ∂I/∂EMC > 0 e ∂I/∂i < 0. Da TPL, temos:

[4] i = i(L, M), ∂i/∂L > 0 e ∂i/∂M < 0

[5] M = oferta monetária (exógena, definida pela autoridade


monetária).

[6] L = Lt(Y) + Ls(i), ∂Lt/∂Y > 0 e ∂L/∂i < 0


O modelo IS-LM
• A principal motivação de Hicks para propor a SN foi metodológica:
considerando o modelo de equilíbrio geral (MEG) o mais apropriado
à análise macroeconômica, e reconhecendo méritos nas teorias
neoclássica e keynesiana, Hicks formulou um MEG que
contemplasse essas principais contribuições.

• O modelo IS-LM é um MEG construído a partir das funções do Cap.


18 da TG, no qual as duas teorias são tratadas como “casos
especiais”: respectivamente, de equilíbrio com pleno emprego e
com desemprego.
O modelo IS-LM
O equilíbrio se dá pela interação entre os mercados de bens e
monetário, que, numa definição linear das funções (1)-(6), resulta:

[7] Y = Ca + c.Y + Ia – k.i

[8] M = L = Lt + Ls = m.Y – h.i

[9] Y = A – k.i (Curva IS)

[10] i = (m/h).Y + (1/h).M (Curva LM)

[7] e [8] representam as condições de equilíbrio dos mercados de bens


e de moeda.

[9] e [10] sintetizam o MEG de Hicks: sendo Y uma função de i no


mercado de bens e i uma função de Y no mercado monetário
O modelo IS-LM
O modelo IS-LM
• Os casos keynesiano e neoclássico são identificados a partir de
proposições distintas sobre o mercado monetário:
• O caso neoclássico ocorre quando h tende a zero (h → 0), tornando
a LM vertical. Isto ocorreria com Y a pleno emprego – daí a
vinculação aos neoclássicos – caso em que M estaria sendo
integralmente alocada a fins transacionais.
• O caso keynesiano se restringiria à situação extrema da “armadilha
da liquidez”: com Y muito baixo, a maior parte de M é alocada a Ls,
o que equivale à hipótese de h → ∞, tornando a LM horizontal.
• Para Hicks, Keynes não teria formulado uma teoria geral do
produto, mas apenas “a teoria econômica da depressão”, pois
apenas neste cenário a Ls seria relevante.
As principais extensões do modelo IS-LM
Duas implicações principais:

1) Implicações de política econômica

2) Trade-off entre desemprego e inflação


1) Implicações de política econômica
• Incluindo nos gastos autônomos (A) o gasto público (G) e
lembrando que M é definida pelo governo, o modelo tornou-se útil
para a análise dos efeitos das políticas fiscal e monetária.

• No caso geral, as duas políticas têm efeitos reais: um aumento em


G desloca a IS para cima, elevando Y (e também i, gerando algum
efeito crowding out sobre I), e um aumento em M desloca a LM
para baixo, reduzindo i e elevando Y.

• No caso keynesiano, M não é capaz de deslocar LM – a armadilha


da liquidez eleva Ls e impede a queda de i. Já a política fiscal atinge
máxima eficácia: com LM horizontal, é nulo o efeito crowding out.
• No caso neoclássico dá-se o oposto: a política fiscal é ineficaz
(crowding out integral) e a política monetária tem eficácia máxima.
2) A SN e a curva de Philips: trade-off entre P e U
• Em todas as versões do modelo IS-LM, a resposta de Y é
condicionada a seu efeito sobre P, refletindo o trade-off entre
desemprego e inflação.
• Isso deu origem a um importante complemento, em 1960, a Curva
de Phillips (CP), uma versão setorial e dinâmica da curva OA, que,
em vez da relação agregada P-Y, retrata a variação de P (π = ∂P/P)
dados diferentes níveis de U no mercado de trabalho: π = π(U).
• A teoria keynesiana de P sugere uma CP negativamente inclinada
(π’ < 0), refletindo a pressão de U sobre W, condicionada ao grau de
capacidade ociosa da economia.
• Em suma, a flexibilidade de salários e preços – essencial na teoria
neoclássica e descartada por Keynes – é incorporada à SN como
condicionante da capacidade de recuperação da economia a partir
de uma posição de desemprego.
Considerações finais sobre a SN
• A SN representa a mais conhecida escola de pensamento
Keynesiana. Isso, porém, deve-se mais à sua simplicidade e
flexibilidade que a sua aderência à teoria de Keynes.
• Hicks inverte a causalidade proposta na TG entre a preferência
por liquidez (Ls) e o produto agregado.
• Na TG, Ls condiciona a demanda efetiva e explica o
desemprego.
• Na SN, é o desemprego que justifica a relevância quantitativa e
teórica de Ls, já que, na ausência dele, Ls = 0 – condição
incompatível com a TPL.
Considerações finais sobre a SN
• A “parcela keynesiana” da SN se restringe à aceitação parcial
do PDE, sem a força que lhe atribuiu Keynes – de
determinante do produto.
• Na SN, a demanda efetiva é mais uma influência relevante,
adicionada aos determinantes do lado da oferta – salários, em
especial – enfatizados pelos neoclássicos.
• Tratamento semelhante é dado às expectativas de longo prazo,
determinantes da EMC: Keynes lhe atribuiu um papel central na TG,
enquanto na SN, a EMC é apenas mais uma variável do modelo, sem
status diferenciado.
• Na SN o PDE abre espaço para as proposições de política econômica
de Keynes, em especial, para o reconhecimento da necessidade e
eficácia da atuação anticíclica do governo diante do desemprego.
Considerações finais sobre a SN
• A TPL não é incorporada ao modelo explicativo do PIB, restando- -
lhe a função pragmática de orientar a política anticíclica: quanto
maior a preferência por liquidez, que, na SN, reflete o grau de
capacidade ociosa da economia, menos eficaz será a política
monetária e mais indicada será a política fiscal.
• Esse resultado, porém, sendo condicionado ao grau de flexibilidade
de W e P, apenas em parte corresponde às proposições da TG, onde
o fator decisivo para o efeito real da política anticíclica é a resposta
da preferência por liquidez e da EMC.
• Vale notar que a SN concilia dois enfoques teóricos que, até hoje,
polarizam o debate macroeconômico e são considerados
inconciliáveis porque partem de premissas
muito distintas quanto à racionalidade dos agentes e ao modo de
operação das economias de mercado.
Considerações finais sobre a SN
• Ademais, embora representasse uma “terceira via”, o modelo de
Hicks passou a ser identificado como Keynesiano e, mesmo
contrariando elementos importantes da TG, tornou-se a sua mais
difundida representação analítica.

• Foi nesta versão que a teoria “Keynesiana” se tornou hegemônica


entre as décadas de 1940 e 1960, inspirando as políticas de
estímulo ao crescimento econômico no pós-guerra, bem como as
críticas de filiação neoclássica e keynesiana que se seguiram.

• Talvez a maior das ironias seja que tal interpretação “keynesiana”


tenha ficado conhecida como Síntese Neoclássica!

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