Defesa Contra SARP Nas Pequenas Frações - SGT Victor Rodrigues
Defesa Contra SARP Nas Pequenas Frações - SGT Victor Rodrigues
Defesa Contra SARP Nas Pequenas Frações - SGT Victor Rodrigues
1 O 3º Sargento Victor Rodrigues, da arma de Infantaria, é da turma de 2016 da Escola de Sargentos das
Armas. Foi o primeiro militar brasileiro a ser designado para cursar o Platoon Sergeants Battle Course,
curso de sargentos de pelotão, no Reino Unido. Atualmente exerce a função de Monitor no Centro de
Adestramento-Sul.
A ameaça Drone
Em primeiro lugar, é necessário apresentar as características estruturais do
drone como meio de uso militar. De acordo com a caderneta operacional, um SARP
consiste em três componentes principais: A Estação de Controle terrestre (Control
Station), seja ela um indivíduo operador, uma estação embarcada ou um container
adaptado, por exemplo; a Plataforma Aérea, ou seja, a ARP, propriamente dita, com
sua carga útil inclusa (Payload); e por fim, a rede (Network) que os conecta. É
importante frisar que a eliminação de ao menos um destes itens, por si só, já impede
a operação do sistema como um todo.
Essa preocupação em demonstrar o funcionamento dos drones é o primeiro
passo na construção da mentalidade de defesa anti-SARP de um militar em
preparação para atuar em um espaço de batalha possivelmente vigiado por veículos
aéreos não tripulados. Torna-se perceptível que instruções militares e exercícios de
adestramento voltados ao tema já começaram a ser amplamente realizados pelos
exércitos das maiores potências militares globais. Drones, em geral, costumam
apresentar um certo padrão de componentes em sua estrutura, o que facilita a sua
compreensão. A imagem a seguir exemplifica a composição básica de um SARP.
Imagens 2 e 3: SARP modelo MQ-9 Reaper com mísseis Hellfire, à esquerda. À direita, drone
Mavic III, carregado com artefato explosivo.
Isso se deve ao fato de que pequenos SARP estão ficando mais baratos e
acessíveis, com forças regulares e irregulares intensificando seu uso em combate.
Há diversos relatos recentes de pequenos drones lançando cargas explosivas sobre
combatentes no terreno. Iraque, Afeganistão, Síria, Balcãs e hoje Ucrânia são alguns
bons exemplos da necessidade de o conhecimento de TTP’s anti-SARP ser posto
em prática pelo militar em operação, principalmente no processo de planejamento e
emissão de ordens dos comandantes em todos os níveis.
O Exército Britânico categoriza os SARP da seguinte maneira: Nano, Micro,
Mini/Small, Táticos e MALE/HALE2 – sigla para Medium Altitude Long Endurance/
High Altitude Long Endurance (SARPs de longa autonomia de Média e Grande
Altitude). As três primeiras referem-se aos drones de vôo baixo, com alcances
operacionais de até 30km e peso igual ou inferior a 150kg. São menos suscetíveis a
serem detectados, uma vez que, por seu tamanho diminuto, podem ser facilmente
confundidos com pássaros, o que atrapalha sua captação por satélite ou radar.
Já os das categorias Tático e MALE/HALE, por sua vez, apresentam
rendimento maior, optrônicos melhorados e maior capacidade de carga, o que
implica em armamentos mais letais. São capazes de atingir grandes altitudes e
realizar missões de ISR (Intelligence, Surveillance and Reconnaissance) mais
complexas, em detrimento de serem mais facilmente detectáveis por seu grande
tamanho e necessitarem de mais aparato logístico para sua operação.
Em geral, os SARP das categorias Nano, Micro e Mini não necessitam de
grande infraestrutura para seu emprego, podendo ser operados por um único
indivíduo no terreno. Esse tipo de SARP configura hoje, de acordo com as
instruções da caderneta operacional C-UAS, a maior ameaça dessa natureza para
as forças britânicas, uma vez que é difícil detectá-la e, dessa forma, tomar medidas
2 Há também a designação Strike, utilizada pela OTAN para SARPs HALE de combate com características
especiais como furtividade, raio de ação ilimitado por passagem de controle operacional e capacidades de
atingir alturas beirando os 65.000 pés. É semelhante à categoria 6 da classificação brasileira.
de defesa ativas ou passivas. A tabela a seguir correlaciona o padrão definido pela
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) com as categorias de SARP
estabelecidas na doutrina britânica e também na brasileira, para fins didáticos:
Strike 6
Até 65000 ft Até 60000 ft MD/
> 40h 5550km Estratégico
(~19800m) (~18300m) EMCFA
Classe III HALE 5
(> 600kg)
Até 45000 ft Até 30000 ft 270 a
MALE 4 25 - 40h C Cj Operacional
(~13700m) (~9150m) 1110km
Tabela3: Esquema didático de como o Brasil e o Reino Unido categorizam os SARP com base na
classificação padrão da OTAN, com dados técnicos enquadrados por classe em cada categoria.
3 Dados retirados da publicação Joint Doctrine Publication 0-30.2 - Unmanned Aircraft System, do MoD
britânico, e também do Manual de Campanha Vetores Aéreos da Força Terrestre, do Ministério da Defesa/
Exército Brasileiro, conforme referências bibliográficas.
tático, operacional e estratégico, com a participação ativa do Reino Unido em
exercícios militares e conferências de caráter doutrinário.
Trajetória de vôo
Otimizado para
destruir jatos de
ataque em vôo
baixo
Otimizado
Otimizado para para
detectar e alertar de destruir
fogos de morteiro, helicópteros
artilharia e foguetes
Atenção para tudo que se move nos céus. Um ou mais militares poderão
ser escalados como Vigias do Ar, sendo também possível utilizar pessoal dos Postos
de Vigia ou Escuta (PV/PE) após instruí-los corretamente quanto às TTP referentes
ao contato com drones e sua identificação. Cabe aqui relembrar que é possível
escutar um SARP antes de visualizá-lo. O ensaio das TAI com o pelotão é essencial.
4 A Tabela de Técnicas de Ação Imediata é oriunda da Caderneta Operacional de Defesa contra SARP, material
de estudo da Escola de Batalha de Infantaria – IBS. A mesma encontra-se em tradução livre, com a substituição
de termos doutrinários militares homônimos do inglês para o português, a fim de facilitar a compreensão pelo
leitor.
SARP LARGANDO OBJETOS – PROCEDIMENTO IGUAL A FOGOS INDIRETOS
INIMIGOS
1. Tratar como se fossem fogos indiretos – evadir da área de impacto para cobertura
imediatamente.
2. Seguir Técnica de Ação Imediata para SARP visto ou ouvido.
3. Se as munições despejadas pelo SARP explodirem: Informar Coordenadas do local do
impacto e manter observação.
4. Caso as munições despejadas falhem ao explodir: Conduzir os 4 C’s ou registrar, evitar o
local e informar.
5. Contato com Múltiplos SARPs: Prioridade permanece ser a evasão do local em caso de
IED’s derrubados por eles na área.
6. Enviar informe de 10 linhas (IED) e aguardar apoio da Engeharia (EOD Team).
SARP CAPTURADO E REPASSADO POR NAÇÃO AMIGA – CONSIDERAR COMO
ENGENHO FALHADO
1. Assessorar nação amiga a depositar o SARP em local destinado à destruição de
Engenhos Falhados ou em local seguramente isolado.
2. Conduzir os 4 C’s ou registrar, evitar o local e informar, dependendo do grau de ameaça
à operação (Não aproximar-se do SARP).
3. Enviar informe de 10 linhas (IED) e aguardar apoio da Engeharia na destruição do
artefato (EOD Team).
CONSIDERAÇÕES ANTES DO ENGAJAMENTO PELO FOGO
1. Regras de Engajamento em vigor.
2. Somente engajar se já foram tomadas todas as medidas de precaução para evitar danos
colaterais.
3. Estar atento à(s) trajetória(s) de vôo em potencial do SARP e do local de provável
aterragem do drone.
Tabela (continuação): Memento de Técnicas de Ação Imediata contra SARP, da Caderneta
Operacional de Defesa contra SARP.