Defesa Contra SARP Nas Pequenas Frações - SGT Victor Rodrigues

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Defesa contra SARP (C-UAS) nas pequenas frações – Lições aprendidas

da Infantry Battle School, Reino Unido

3º Sgt Victor Rodrigues de Souza1

O emprego de SARP (Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas,


também conhecidos como VANT ou, popularmente, drones) nos conflitos armados
recentes revelou uma nova era na guerra moderna. Modelos cada vez mais
eficientes, letais e precisos, com as mais diversas funcionalidades, como ataque e
inteligência, reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos (IRVA), têm imposto
desafios às forças terrestres mundiais, uma vez que, por consequência desse
advento, são requeridos meios de defesa anti-SARP constantemente atualizados.
No geral, quando tais meios inexistem, ou quando o cenário é adverso a tal ponto
que os recursos existentes são incapazes de negar essa ameaça, empregam-se as
Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP) individuais de resposta a esse perigo.
As instruções na Infantry Battle School (Escola de Batalha de Infantaria),
instituição responsável por formar os líderes de frações e pequenas frações da
Infantaria do Exército Britânico, localizada na cidade de Brecon, País de Gales,
estão focadas no desenvolvimento da ação de comando do líder militar e de sua
capacidade de resposta às ameaças inerentes ao combate. Experiências colhidas
por aquele exército nos diversos conflitos armados dos quais participou ao longo da
história, com destaque aos recentes engajamentos no Iraque e no Afeganistão, bem
como da análise feita dos conflitos na região de Nagorno-Karabakh e a atual guerra
na Ucrânia, reforçaram a ampla gama de fatores aos quais um comandante de
fração deve estar constantemente atento.
Ao cursar naquela instituição a edição 2103 do Platoon Sergeants Battle
Course, o Curso de Sargentos de Pelotão, voltado ao aperfeiçoamento de militares
através da formação operacional dos sargentos adjuntos de pelotão da Infantaria, o
autor deste artigo deparou-se com a Caderneta Operacional de Defesa contra
Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (C-UAS/ Counter Unmanned Air
Systems Handbook). Trata-se de um material desenvolvido pela Royal School of
Artillery (Escola Real de Artilharia) para instruir e assessorar os comandantes de
frações e pequenas frações no âmbito do Exército Britânico quanto às TTP
relacionadas ao contato com aeronaves remotamente pilotadas (ARP), amigas ou
inimigas, no teatro de operações – o tema central deste artigo, cujo objetivo é
apresentá-las de forma didática, visando agregar conhecimentos oriundos da
experiência do Reino Unido em defesa anti-SARP.

1 O 3º Sargento Victor Rodrigues, da arma de Infantaria, é da turma de 2016 da Escola de Sargentos das
Armas. Foi o primeiro militar brasileiro a ser designado para cursar o Platoon Sergeants Battle Course,
curso de sargentos de pelotão, no Reino Unido. Atualmente exerce a função de Monitor no Centro de
Adestramento-Sul.
A ameaça Drone
Em primeiro lugar, é necessário apresentar as características estruturais do
drone como meio de uso militar. De acordo com a caderneta operacional, um SARP
consiste em três componentes principais: A Estação de Controle terrestre (Control
Station), seja ela um indivíduo operador, uma estação embarcada ou um container
adaptado, por exemplo; a Plataforma Aérea, ou seja, a ARP, propriamente dita, com
sua carga útil inclusa (Payload); e por fim, a rede (Network) que os conecta. É
importante frisar que a eliminação de ao menos um destes itens, por si só, já impede
a operação do sistema como um todo.
Essa preocupação em demonstrar o funcionamento dos drones é o primeiro
passo na construção da mentalidade de defesa anti-SARP de um militar em
preparação para atuar em um espaço de batalha possivelmente vigiado por veículos
aéreos não tripulados. Torna-se perceptível que instruções militares e exercícios de
adestramento voltados ao tema já começaram a ser amplamente realizados pelos
exércitos das maiores potências militares globais. Drones, em geral, costumam
apresentar um certo padrão de componentes em sua estrutura, o que facilita a sua
compreensão. A imagem a seguir exemplifica a composição básica de um SARP.

Imagem 1: Componentes básicos de um drone e seu funcionamento.

As distâncias das quais um drone poder ser operado podem, atualmente,


variar de um a centenas de quilômetros. É importante para um comandante de
fração pressupor que tudo que um SARP “enxerga” será automaticamente
transmitido à sua Estação de Controle, e por sua vez, repassado aos tomadores de
decisão, ou seja, o Escalão Superior do inimigo. Isso implica em um risco cada vez
mais elevado de obtenção de informações sensíveis pelas forças oponentes e na
consequente exploração, por parte das mesmas, de pontos fracos das forças
amigas, com mais furtividade e precisão.
As recentes notícias do conflito na Ucrânia têm evidenciado o quanto os
SARP estão sendo empregados para cumprir diversificadas missões pelos dois
lados beligerantes, que vão desde realizar reconhecimentos e vigiar áreas de
interesse para as forças que os empregam, a até parar colunas inteiras de
blindados, como o caso dos popularmente denominados “drones kamikaze”, SARPs
ofensivos que podem atuar como verdadeiras armas anticarro, cabendo ao operador
a tarefa de apenas lançá-los, e os mesmos, com carga explosiva suficientemente
letal, voam diretamente até o carro de combate inimigo, causando-lhe grande avaria
e, na maioria das vezes, incapacitando a sua tripulação.
Há modelos de diferentes tamanhos, alcances operacionais e formas de
emprego. Por exemplo, tanto um MQ-9 Reaper, drone de ataque de fabricação
norte-americana carregado com mísseis AGM-114 Hellfire, que ganhou notoriedade
em atuações em diversos conflitos armados e operações militares isoladas, como
um Mavic, por sua vez de pequeno porte e normalmente utilizado para filmagens,
sendo capaz de ser engenhosamente carregado com granadas anti-pessoal de
40mm, ambos configuram ameaças reais ao militar desdobrado no terreno.

Imagens 2 e 3: SARP modelo MQ-9 Reaper com mísseis Hellfire, à esquerda. À direita, drone
Mavic III, carregado com artefato explosivo.

Isso se deve ao fato de que pequenos SARP estão ficando mais baratos e
acessíveis, com forças regulares e irregulares intensificando seu uso em combate.
Há diversos relatos recentes de pequenos drones lançando cargas explosivas sobre
combatentes no terreno. Iraque, Afeganistão, Síria, Balcãs e hoje Ucrânia são alguns
bons exemplos da necessidade de o conhecimento de TTP’s anti-SARP ser posto
em prática pelo militar em operação, principalmente no processo de planejamento e
emissão de ordens dos comandantes em todos os níveis.
O Exército Britânico categoriza os SARP da seguinte maneira: Nano, Micro,
Mini/Small, Táticos e MALE/HALE2 – sigla para Medium Altitude Long Endurance/
High Altitude Long Endurance (SARPs de longa autonomia de Média e Grande
Altitude). As três primeiras referem-se aos drones de vôo baixo, com alcances
operacionais de até 30km e peso igual ou inferior a 150kg. São menos suscetíveis a
serem detectados, uma vez que, por seu tamanho diminuto, podem ser facilmente
confundidos com pássaros, o que atrapalha sua captação por satélite ou radar.
Já os das categorias Tático e MALE/HALE, por sua vez, apresentam
rendimento maior, optrônicos melhorados e maior capacidade de carga, o que
implica em armamentos mais letais. São capazes de atingir grandes altitudes e
realizar missões de ISR (Intelligence, Surveillance and Reconnaissance) mais
complexas, em detrimento de serem mais facilmente detectáveis por seu grande
tamanho e necessitarem de mais aparato logístico para sua operação.
Em geral, os SARP das categorias Nano, Micro e Mini não necessitam de
grande infraestrutura para seu emprego, podendo ser operados por um único
indivíduo no terreno. Esse tipo de SARP configura hoje, de acordo com as
instruções da caderneta operacional C-UAS, a maior ameaça dessa natureza para
as forças britânicas, uma vez que é difícil detectá-la e, dessa forma, tomar medidas

2 Há também a designação Strike, utilizada pela OTAN para SARPs HALE de combate com características
especiais como furtividade, raio de ação ilimitado por passagem de controle operacional e capacidades de
atingir alturas beirando os 65.000 pés. É semelhante à categoria 6 da classificação brasileira.
de defesa ativas ou passivas. A tabela a seguir correlaciona o padrão definido pela
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) com as categorias de SARP
estabelecidas na doutrina britânica e também na brasileira, para fins didáticos:

Reino Unido Brasil


OTAN
(Classe / Altitude de Altitude de Raio de Elemento
Autonomia Nível de
Peso) Categoria Operação Categoria Operação Ação de
(horas) Emprego
(ft/m) (ft/m) (km) Emprego

Strike 6
Até 65000 ft Até 60000 ft MD/
> 40h 5550km Estratégico
(~19800m) (~18300m) EMCFA
Classe III HALE 5
(> 600kg)
Até 45000 ft Até 30000 ft 270 a
MALE 4 25 - 40h C Cj Operacional
(~13700m) (~9150m) 1110km

Classe II Até 10000 ft Até 18000 ft


(150kg - Tático 3 20 - 25h ~270km CEx/DE
(~3050m) (~5500m)
600kg)

Até 5000 ft Até 10000 ft


Small 2 ~15h ~63km DE/Bda
(~1500m) (~3300m)
Até 3000 ft Tático
Classe I Mini
(~900m) Até 5000 ft
(até 150kg) 1 ~2h ~27km Bda/U
(~1500m)
Micro
Até 200 ft Até 3000 ft
(~60m) 0 ~1h 9km Até SU
Nano (~900m)

Tabela3: Esquema didático de como o Brasil e o Reino Unido categorizam os SARP com base na
classificação padrão da OTAN, com dados técnicos enquadrados por classe em cada categoria.

O padrão da OTAN de classificação dos SARP é um conceito estratégico


desenvolvido pelo seu Centro Conjunto de Competências de Poder Aéreo (Joint Air
Power Competence Centre – JAPCC) após identificar a necessidade de
interoperabilidade entre os países membros em termos de capacidades em drones.
Não só os países membros da aliança basearam seus estudos de classificação dos
SARP nesses parâmetros, como também outras nações externas ao grupo, como é
o caso do Brasil. A categorização no modelo de três classes relaciona, de forma
progressiva, os drones dos tipos mais leves, de menor tamanho e alcance, até os
grandes vetores de longa autonomia, grandes altitudes e com necessidade de apoio
logístico considerável para sua operação.
A questão que surgiu subsequente aos estudos de padronização da aliança foi
de como fazer frente à ameaça dos VANT, em sua plenitude. As necessidades de
padronizações para a concepção, desenvolvimento e emprego de modelos de
drones que atendessem aos requisitos operacionais da OTAN já haviam sido
identificadas, e estes vetores passaram, de fato, a atendê-las. Porém, a
interoperabilidade entre os Estados membros no aspecto da defesa anti-SARP ainda
esbarraria nas capacidades e limitações de cada nação – aqui entendendo-se
defesa antiaérea como a solução primária para esse fim.
Dessa forma, surge a necessidade de padronização de conceitos em defesa
contra drones, como com a recente criação do Programa de Trabalho C-UAS 2021-
2023, focado na coordenação da criação de soluções em defesa nos níveis técnico,

3 Dados retirados da publicação Joint Doctrine Publication 0-30.2 - Unmanned Aircraft System, do MoD
britânico, e também do Manual de Campanha Vetores Aéreos da Força Terrestre, do Ministério da Defesa/
Exército Brasileiro, conforme referências bibliográficas.
tático, operacional e estratégico, com a participação ativa do Reino Unido em
exercícios militares e conferências de caráter doutrinário.

Níveis de defesa antiaérea contra SARP


A imagem gráfica a seguir apresenta as capacidades e limitações do sistema
de defesa e detecção de SARPs britânico. A defesa antiaérea consiste em diversas
camadas de alcance por altitude e, para o estudo da defesa contra a atuação dos
drones, é considerado o teto máximo da defesa antiaérea de curto alcance.

Trajetória de vôo

Otimizado para
destruir jatos de
ataque em vôo
baixo
Otimizado
Otimizado para para
detectar e alertar de destruir
fogos de morteiro, helicópteros
artilharia e foguetes

Envelope Operacional Contestado (C-UAS)

Imagem 4: Gráfico demonstrativo de capacidades de defesa contra SARP do Exército Britânico.

As porções coloridas representam o alcance útil dos sistemas de defesa


antiaérea de até curto alcance, como na área hachurrada roxa, por definição capaz
de interceptar aeronaves de ataque ao solo voando a baixas altitudes (SHORAD,
Short Range Air Defense). Para isso, o Exército Britânico dispõe de sistemas como
as baterias de mísseis antiaéreos Rapier. A zona amarela, denominada VSHORAD
(Very Short Range Air Defense, muito curto alcance), representa as capacidades
suficientes para a interceptação de helicópteros através do uso dos mísseis
antiaéreos HVM, bem como sistemas lançadores de mísseis portáteis. Em verde, as
capacidades de consciência situacional e detecção de foguetes, artilharia e
morteiros (AS&W, Attack Sense and Warning).
A zona em vermelho, denominada “Envelope Operacional Contestado”, é a
área do espaço de batalha caracterizada pelas baixíssimas altitudes, ao nível da
superfície, e que ainda está sendo explorada em termos de capacidades. Ela
representa, atualmente, a maior lacuna no que se refere à defesa contra SARP
dentro das capacidades do Reino Unido. Isto se deve ao fato de que a maioria dos
drones que operam nessa faixa são os das categorias Mini, Micro e Nano, sendo
estes últimos ainda mais críticos devido à sua muito baixa assinatura e quase
impossibilidade de detecção por radar.
Há hoje, de fato, sistemas de defesa contra SARP portáteis em
desenvolvimento e avaliação, resultado da já mencionada necessidade de constante
atualização dos meios de defesa por parte das forças militares mundiais.
Geralmente possuem capacidades em Guerra Eletrônica (GE), que é
reconhecidamente o método de defesa ativa mais eficiente para desabilitar drones.
Por exemplo, os americanos desenvolveram o Dronebuster, equipamento capaz de
neutralizar SARPs através da eliminação da rede que o vincula à sua Estação de
Controle, utilizando para isso um sistema de jamming (interferência) por frequência
de rádio que captura o sinal ser recebido pelo drone, forçando-o a parar e pousar.
As possibilidades no campo da defesa contra esses meios é ilimitada, com esse
departamento necessitando, todavia, de alto valor agregado e tecnologia na criação
de novos produtos.

Técnicas, Táticas e Procedimentos do Exército Britânico


Dentro da realidade britânica em anti-SARP ao nível das pequenas frações,
que são o objeto de análise deste artigo, ainda não estão disponibilizados na sua
totalidade os referidos meios de defesa portáteis contra drones, com os
comandantes lançando mão de Técnicas, Táticas e Procedimentos de defesa contra
essa ameaça até que as soluções tecnológicas entrem em campo. Em conformidade
com as instruções da Infantry Battle School, tratam-se de medidas passivas,
baseadas em princípios doutrinários e que podem resguardar a vida dos militares
que a adotam.
Em linhas gerais, o primeiro pressuposto é o de que “Todas as tropas
devem considerar-se sempre sob vigilância”. Isso consiste basicamente no fato de a
fração, seja ela uma esquadra, grupo de combate ou pelotão, começar a preocupar-
se com ameaças que venham do ar de forma mais séria. Isso se deve às
capacidades cada vez mais eficazes de observação dos SARP atuais, que podem
vir dotados de instrumentos ópticos como o FMV (Full Motion Video), EO (Electro-
Optical) ou Infra-vermelho (IR).
Normalmente, observa-se que é possível escutar um drone antes de
visualizá-lo no terreno, apesar da possibilidade de haver, todavia, dificuldades para
fazê-lo, dependendo da distância da ARP, direção do vento e nível de ruído do local.
Para exemplificar: ao estar embarcado em uma viatura, o militar necessitará cortar o
motor para então, neste caso, eliminar o ruído, e assim utilizar os seus próprios
sentidos para se proteger. Basta analisar, de forma didática, a seguinte pergunta:
como se percebe a presença de um drone? Qual o primeiro elemento que denuncia
a sua presença?
A maioria das pessoas que já se depararam com um pequeno drone de
filmagens provavelmente irá lembrar de haver antes escutado o barulho
característico de “mosca” daquele aparelho, aproximando-se rapidamente para
gravar eventos. O mesmo também se aplica aos drones táticos: militares servindo
em guarnições onde há a presença de grandes SARPs em algum aeródromo
certamente já notaram a presença dos drones sobrevoando a região graças ao som
característico de seu motor. São sistemas de aeronaves menores que os aviões e
helicópteros, mais difíceis de serem notados, mas não são (por enquanto) isentos de
emitir som.
É necessário salientar que o comandante de fração ou pequena fração
inicialmente deverá, quando em operação, apontar um militar como “Vigia do Ar” (Air
Sentry), se possível já durante a Emissão de Ordens. Esse conceito, inclusive, já é
de conhecimento doutrinário no Exército Brasileiro no tocante à conduta quanto à
ameaça aérea. O acrônimo “DON’T BE SEEN”, do inglês “não seja visto” é a síntese
de um conjunto de princípios que norteam as Técnicas de Ação Imediata previstas
para a situação de a tropa travar contato com um ou mais SARPs. A escolha deste
acrônimo visa tornar a memorização das Técnicas, Táticas e Procedimentos mais
simplificada para o soldado atuando no terreno, estando ele embarcado ou não. Em
tradução livre, também é possível sugerir um acrônimo em português contendo os
mesmos elementos. Mais um importante item a ser abordado na ordem ao pelotão.
Figura: Acrônimo “DON’T BE SEEN” e sugestão de tradução livre em Português.

Em operações onde a função de combate Inteligência já constatou o uso de


SARP pelas forças inimigas, é possível transmitir ao pelotão informações de como
identificar corretamente um drone em uso pelas mesmas. Os de pequeno porte,
especialmente aqueles pertencentes às categorias Nano ou Micro, impõem
naturalmente um desasfio maior ao militar no tocante à identificação. Isto porque,
dentro da realidade britânica, as forças amigas também empregam SARPs nessa
categoria. Os princípios contidos no acrônimo DON’T BE SEEN (ou DESAPAREÇA)
já fornecem ao soldado o conjunto de medidas passivas que poderão ser adotadas
ao primeiro sinal de contato com drones inimigos:
Dispersão. O uso da dispersão nas formações, deslocamentos ou
estacionamentos, por exemplo, poderá confundir os operadores de SARP inimigos,
que serão forçados a tomar decisões como ter de escolher quais viaturas, indivíduos
ou posições observar – fato que naturalmente pode causar fricção em seu processo
de comando e na tomada de decisões. A dispersão, em outras palavras, aumenta as
chances de sobrevivência da tropa, tornando-a um alvo mais difícil tanto para
observação como para o emprego do armamento inimigo.

Cobertura de vistas aéreas sempre que possível. A boa camuflagem,


individual ou coletiva, pode ludibriar a observação inimiga. Quando a tropa não
dispuser de redes de camuflagem, deve-se buscar coberturas mais densas quanto
possível no terreno. Existem soluções tecnológicas como as redes do tipo Thermal
Sheet, que reduzem a assinatura de calor daquilo que envolvem. São amplamente
utilizadas pelas tropas blindadas e mecanizadas britânicas. O motor de uma viatura
recém desligada apresenta uma assinatura térmica bastante elevada – sendo uma
preocupação para a tropa cobrí-lo o mais rápido possível.

Elementos na natureza não são retilíneos. Considera-se que o espaço


natural e todos os seus elementos, em linhas gerais, não apresenta linhas
perfeitamente retas. Na rapidez exigida pela ocupação de posições no terreno, o
militar deverá atentar para a forma como camufla os meios empregados. As redes
de camuflagem, por exemplo, não necessariamente devem cobrir uma viatura ou
instalações em sua silhueta justa e exata. Um bom operador de drone será capaz de
identificar o que há debaixo das redes de camuflagem instaladas de forma
deficiente.
Atentar para a assinatura térmica. É necessário que a tropa jamais
subestime a capacidade de observação termal de um SARP, por mais rudimentar
que o mesmo aparente ser. A já mencionada minimização da assinatura térmica dos
motores das viaturas empregadas entra em questão novamente, com o comandante
no terreno podendo optar pela redução do tempo de funcionamento dos motores.
Individualmente, interessa reduzir a exposição de partes do corpo no uniforme.

Imagem 5: Exemplo de Camuflagem deficiente de uma Estação de Guerra Eletrônica encontrada


por um drone na Ucrânia, em 2016.

Pontos notáveis no terreno devem ser evitados. A fração deverá, sempre


que possível, evitar operar próxima a pontos nítidos no terreno, como construções
ou objetos naturais proeminentes, uma vez que os mesmos podem servir como uma
referência para um operador de SARP inimigo que esteja visando identificar as
posições da tropa para conduzir e guiar fogos indiretos das forças adversas.

Atenção para tudo que se move nos céus. Um ou mais militares poderão
ser escalados como Vigias do Ar, sendo também possível utilizar pessoal dos Postos
de Vigia ou Escuta (PV/PE) após instruí-los corretamente quanto às TTP referentes
ao contato com drones e sua identificação. Cabe aqui relembrar que é possível
escutar um SARP antes de visualizá-lo. O ensaio das TAI com o pelotão é essencial.

Atentar para a disciplina de luzes. É de extrema importância que os


militares no terreno obedeçam à disciplina de luzes, tomando as mesmas
precauções características de uma operação noturna em período diurno. Reduzir o
brilho ou reflexo do Sol no armamento, equipamento ou viaturas (vidros, chassi,
retrovisores e faróis) em uso pela tropa é crucial, uma vez que isso poderá servir
como um chamariz para atrair a atenção do operador de SARP inimigo.

Evitar ou mascarar rastros de viatura no solo. Mesmo que um operador


de drone não esteja necessariamente observando as posições da tropa no terreno,
poderá ser capaz de deduzí-las através da identificação de marcas de pneus ou
lagartas no solo. Como medida passiva, a tropa poderá mascará-las, dentro das
possibilidades, ou criar marcas alternativas, visando confundir as vistas inimigas.

Sempre observar os céus ao desabrigar-se. Antes de abandonar cobertas


e/ou abrigos, é vital que a tropa faça uma pausa de dois minutos para observação
aérea, o que caberá ao Vigia do Ar, ou a qualquer militar em plenas condições de
fazê-lo. Os motores das viaturas, no caso da tropa embarcada, deverão ser cortados
para esse fim. Os princípios aqui definidos, no tocante ao uso da audição e da visão,
são os mesmos ensinados nas cadernetas escolares de Patrulha.

Reportar cada SARP avistado. A tropa deverá empregar os informes de


detecção (INFDET) padronizados. Cada comandante ou indivíduo deverá ser
familiarizado com o emprego de tais informes durante a Emissão de Ordens, sendo
crucial identificar e informar todo e qualquer SARP que esteja atuando nas
proximidades, avistados dentro ou fora de sua zona de ação. Os britânicos utilizam o
padrão de informes de 6 (seis) linhas, relativas ao contato com ARP.

6-Line report: A padronização dos informes de detecção de SARP do Exército Britânico.


Tradução Livre.

SARP e a Emissão de Ordens


É necessário considerar, para fins de planejamento, que um SARP não é
sempre capaz de determinar 100% da situação tática de uma área batida. Apesar do
grande aparato tecnológico que acompanha e garante o funcionamento do drone, o
operador do sistema é um ser humano, limitado apenas àquilo que consegue
observar das câmeras em sua varredura. Isso permite que a adoção de posições de
muda ou posições falsas, por exemplo, consiga fazer com que o inimigo emita
informes errados ou imprecisos ao seu Escalão Superior, o que por consequência
atrapalharia sua tomada de decisão. O comandante de fração deverá pensar “fora
da caixa”, analisando todos os fatores que podem contribuir com o inimigo e buscar
mitigá-los imediatamente.
Numa ordem ao pelotão, por exemplo, a caderneta operacional sugere que o
primeiro tópico a ser abordado no espectro da defesa contra SARP seja a sua
identificação, isto é, ensinar ao soldado as características estruturais e o propósito
dos modelos de drones inimigos, de cujo uso as forças amigas já tenham
conhecimento. As intenções do comandante (inclusive dos escalões acima) viriam
em seguida, uma vez que é necessário determinar a postura da fração em relação à
ameaça drone, quer seja defensiva, quer ofensiva, de forma alinhada com o que foi
estabelecido pelos comandantes de subunidade e unidade.
ARPs, de acordo com a doutrina britânica, só poderão ser engajados caso
haja um risco iminente à vida ou sejam recebidas ordens superiores com TTPs para
tal ação. Isso implica, conforme as instruções da caderneta, em evitar gasto
desnecessário de munição com um alvo difícil de acertar, inclusive sob pena de
denunciar, com a abertura de fogos, a posição da tropa. A busca pela dissimulação,
ao evitar-se o contato com drones inimigos, é tida como a solução mais ideal.
A capacidade de reação dos militares do pelotão, propriamente dita, será
determinada pelo tempo investido em ensaios após as ordens e na trasmissão de
conhecimentos. Os informes de detecção, não menos importantes, também deverão
ser abordados e memorizados pelos soldados – o que facilitará o fluxo de
informações repassados ao Escalão Superior. Isso reforça a máxima de que “cada
militar é um sensor”, com a responsabilidade da identificação de aeronaves
remotamente pilotadas residindo em cada membro da fração.

TÉCNICAS DE AÇÃO IMEDIATA – SARP VISTO OU OUVIDO 4


1. ALERTAR: Alertar membros da fração utilizando sinais pré-estabelecidos e método de
designação de alvo para desencadear as ações imediatas do pelotão.
2. INFORMAR: Enviar os informes de detecção (INFDET) ao Escalão Superior (C2/PC):
1) Quando? 2) Onde? 3) O quê? 4) Atividades? 5) Linhas de Ação.
3. COP ou PC (Cmt Cia) verificar com Escalão Superior e/ou agências, SFC (“se for o
caso”), se a atividade de SARP na área pertence a forças amigas.
4. REAGIR: Comandante de fração esclarecer a situação/ ameaça para a tropa, escalar
Vigia do Ar. Continuar a missão ou, dependendo da situação, mover-se para cobertura
densa ou fora da área engajada; conduzir cheque do BEM. SFC, instruir a fração a utilizar
material QBRN. Não tentar engajar SARP pelo fogo, exceto quando houver ameaça à vida
ou ordens superiores contendo TTP’s para fazê-lo.
5. REPORTAR: Atualizar o rol de informações do Escalão Superior com o informe de 6
linhas (6 Line) ou INFDET padronizado.
SARP POUSANDO OU DERRUBADO – TRATAR COMO IED / ENGENHO FALHADO
1. Em estando no local de pouso/ queda do SARP, imediatamente evadir da área de
impacto e informar.
2. Linhas de Ação (dependentes da situação tática):
a) Conduzir os 4 C’s do contato com IED’s: Confirmar, Limpar, Balizar e Controlar (Confirm,
Clear, Cordon, Control).
b) Enviar informe de 10 linhas (10 Line report) de IED ao Escalão Superior e aguardar
direcionamento.
c) Marcar o Local e evitá-lo.
d) Neutralizar o SARP em solo com armas orgânicas para negá-lo ao inimigo.
e) Destruí-lo como Engenho Falhado.
CONTATO COM SARP SEGUIDO DE FOGOS INDIRETOS INIMIGOS
1. Ações conforme TAI de fogos indiretos inimigos (tempo de espera de 3 minutos, proteção
QBRN SFC, evadir o local para área densamente coberta ou sair da área).
2. SARP deverá ser engajado por autodefesa somente ao acreditar-se que o mesmo está
sendo empregado como plataforma de observação para fogos indiretos pelo inimigo.

4 A Tabela de Técnicas de Ação Imediata é oriunda da Caderneta Operacional de Defesa contra SARP, material
de estudo da Escola de Batalha de Infantaria – IBS. A mesma encontra-se em tradução livre, com a substituição
de termos doutrinários militares homônimos do inglês para o português, a fim de facilitar a compreensão pelo
leitor.
SARP LARGANDO OBJETOS – PROCEDIMENTO IGUAL A FOGOS INDIRETOS
INIMIGOS
1. Tratar como se fossem fogos indiretos – evadir da área de impacto para cobertura
imediatamente.
2. Seguir Técnica de Ação Imediata para SARP visto ou ouvido.
3. Se as munições despejadas pelo SARP explodirem: Informar Coordenadas do local do
impacto e manter observação.
4. Caso as munições despejadas falhem ao explodir: Conduzir os 4 C’s ou registrar, evitar o
local e informar.
5. Contato com Múltiplos SARPs: Prioridade permanece ser a evasão do local em caso de
IED’s derrubados por eles na área.
6. Enviar informe de 10 linhas (IED) e aguardar apoio da Engeharia (EOD Team).
SARP CAPTURADO E REPASSADO POR NAÇÃO AMIGA – CONSIDERAR COMO
ENGENHO FALHADO
1. Assessorar nação amiga a depositar o SARP em local destinado à destruição de
Engenhos Falhados ou em local seguramente isolado.
2. Conduzir os 4 C’s ou registrar, evitar o local e informar, dependendo do grau de ameaça
à operação (Não aproximar-se do SARP).
3. Enviar informe de 10 linhas (IED) e aguardar apoio da Engeharia na destruição do
artefato (EOD Team).
CONSIDERAÇÕES ANTES DO ENGAJAMENTO PELO FOGO
1. Regras de Engajamento em vigor.
2. Somente engajar se já foram tomadas todas as medidas de precaução para evitar danos
colaterais.
3. Estar atento à(s) trajetória(s) de vôo em potencial do SARP e do local de provável
aterragem do drone.
Tabela (continuação): Memento de Técnicas de Ação Imediata contra SARP, da Caderneta
Operacional de Defesa contra SARP.

A tabela acima resume o conjunto de ações e decisões a serem tomadas


pelo comandante da fração ao travar contato com um SARP inimigo. A sequência de
ações remonta às Técnicas de Ação Imediata das patrulhas, prevendo
procedimentos ante a possibilidade de contato visual com o drone, detecção da
tropa por parte do SARP seguida de fogos indiretos inimigos ou mesmo ações diante
de objetos lançados pelo drone.
Estas medidas também prevêem a possibilidade de o contato com VANTs
ocorrer em uma missão conjunta com forças de nações amigas, lição que é fruto da
experiência coletada em países onde as forças britânicas atuaram juntamente com
as forças de segurança locais – como no Iraque, contra o ISIS (Estado Islâmico do
Iraque e do Levante) e no Afeganistão, contra o grupo extremista armado Talibã. Tais
forças irregulares chegaram à conclusão de que o uso dos drones poderia, de fato,
evoluir de apenas filmagens e propagandas para ações ofensivas.
As ações militares nesses países buscavam ser consoantes com as
jurisdições locais, com as forças estrangeiras combinando esforços com os exércitos
e instituições policiais nacionais no árduo esforço de combater um inimigo invisível.
ARPs capturados ou abatidos seriam, a partir do momento em que as tropas
britânicas os detectassem, tratados como “Engenhos falhados” ou mesmo IED’s
(sigla em inglês para Dispositivos Explosivos Improvisados), que inclusive foram a
maior ameaça para as tropas em terra nestes dois conflitos. Destaca-se aqui a
importância de a tropa conhecer os “cinco C’s” do contato com IED’s: confirmar,
limpar, balizar, controlar e informar o Escalão Superior (Confirm, Clear, Cordon,
Control, Call), bem como todo o rol de informações a respeito.
Por fim, mas não menos importante, as regras de engajamento repassadas
pelo Escalão Superior encerram o elenco de fatores que nortearão o planejamento
dos comandantes de frações e pequenas frações. É imprescindível que as mesmas
não estejam ausentes na Emissão de Ordens de um comandante de pelotão que
enfrente a possibilidade de travar contato com SARP inimigo. Há também a
preocupação com danos colaterais em situação de queda de um drone, devendo ser
máxima a atenção dos militares da fração à trajetória que um drone avariado ou
desabilitado irá descrever ao pousar. Todo esse conjunto de precauções irá ajudar a
amenizar os riscos inerentes ao contato com SARPs no terreno.

Defesa contra SARP e Simulação


Verifica-se, diante da exposição das considerações britânicas no tocante à
defesa contra SARP nas pequenas frações, que medidas simplificadas e bem
difundidas pela tropa podem contribuir para a preservação da integridade física de
seus membros. A simulação de combate, fator primordial no que se refere ao
adestramento de tropas, pode preparar militares para o emprego das Técnicas,
Táticas e Procedimentos cabíveis ao contato com SARPs.
O Brasil dispõe de dois Centros de Adestramento (CA-Sul e CA-Leste) já
engajados na certificação das Forças de Prontidão (FORPRON) dentro do Sistema
de Prontidão do Exército Brasileiro (SISPRON). Através da simulação, o drone pode
ser inserido no espaço de batalha – bem como as medidas de defesa contra SARP.
A simulação militar permite muito mais do que reproduzir as ações e efeitos de um
meio de combate. Ela torna possível a produção de conhecimento através de erros e
acertos, o que poupa vidas em uma situação real. Dentro da experiência militar
brasileira, nesse aspecto, é possível hoje adestrar tropas utilizando-se, para isso, as
simulações Construtiva, Virtual e Viva.
Através da simulação Construtiva, voltada para o adestramento do Comando
e Estado-Maior de unidades e grandes unidades por meio do software COMBATER,
é possível hoje inserir incidentes com SARP nos chamados exercícios de Jogos de
Guerra. Nesta modalidade, o terreno, a tropa, os meios e efeitos são simulados, com
o fator humano real presente no planejamento, emissão de ordens e coordenação
das ações. No Centro de Adestramento-Sul, por exemplo, a Seção de Simulação
Construtiva já empregou, por diversas vezes, o vetor drone nos seus exercícios,
acrescentando um grau maior de realismo ao inserir no espaço de batalha novas
possibilidades a explorar por parte dos comandantes em todos os níveis.

Imagem 6: SARP (azul) vigiando um Esquadrão de Cavalaria Mecanizado inimigo


(vermelho) em deslocamento. Imagem obtida atavés do Software Combater da Seção de
Simulação Construtiva do CA-Sul.
Na Simulação Virtual, por sua vez, os militares em adestramento operam em
um ambiente virtual projetado no software VBS3 (Virtual Battlespace 3), software
este também utilizado, inclusive, por diversos países no treinamento de suas forças,
dentre eles os Estados Unidos da América, Reino Unido e Alemanha. Nessa
modalidade, a tropa constituída em adestramento é real, com os meios, terreno e
efeito dos armamentos ocorrendo de forma simulada. O SARP e suas possibilidades
podem ser explorados de forma extremamente imersiva, sendo possível reproduzir
todos os seus já mencionados componentes, isto é, tanto a operação dentro de uma
Estação de Controle terrestre como o vôo da ARP e a possível perda de seu sinal,
de forma realista.
Ações ofensivas e/ou de reconhecimento e vigilância são algumas das
muitas possibilidades de tarefas que, através do VBS3, um drone simulado pode
executar, contra ou a favor da tropa adestrada. Dessa forma, assim como é possível
simular a operação do SARP nos exercícios em sua totalidade, torna-se também
possível observar a conduta da tropa ao deparar-se com esse vetor, fator que
estabelece o início do desenvolvimento da mentalidade de defesa anti-SARP em
cada militar participante.

Imagens 7 e 8: À esquerda, militar da Seção de Simulação Virtual do Centro de


Adestramento-Sul simulando um ataque a carros de combate realizado por um drone MQ-09
Reaper. À direita, visão geral do ataque na perspectiva de outro SARP, com os alvos circulados
em vermelho.

Por fim, a Simulação Viva sintetiza essas lições aprendidas (através do


anterior adestramento nas simulações Construtiva e Virtual) em ações concretizadas
no terreno real, com tropa e meios reais e apenas os efeitos dos armamentos e
munições empregadas no exercício ocorrendo de forma simulada. A derradeira
possibilidade no que se refere à consolidação da mentalidade anti-SARP na tropa
seria, finalmente, o emprego de drones nos exercícios de simulação. Como exemplo
de possibilidades, uma vez que a doutrina já tenha sido bem difundida, seria factível
trabalhar com os já utilizados drones de filmagens para registro de eventos, com os
mesmos podendo simplesmente adentrar no espaço de batalha simulado em
exercício de forma a travar contato com a tropa adestrada. Com seu uso
devidamente coordenado pela Direção do Exercício (DIREx), esse vetor “de origem
desconhecida” provocaria uma necessidade natural de reação por parte da tropa.
Assim, seria possível observar e avaliar a conduta das frações ante a
presença de aeronaves remotamente pilotadas com possíveis intenções hostis, e o
grau de atenção dos militares à sequência de ações imediatas já estudadas – fator
que geraria ganhos significativos para a Força ao fomentar o processo constante de
desenvolvimento e aperfeiçoamento de sua Doutrina Militar Terrestre (DMT).
Conclusão
O drone, ao representar esse novo paradigma na guerra moderna, sugere
uma preocupação maior, por parte dos exércitos do mundo, em preparar seu
pessoal e capacitá-lo para responder a essa ameaça. Há, dessa forma, um fértil
terreno para a implementação da mentalidade de defesa contra SARP no
adestramento da Força Terrestre, especialmente ao nível das frações e pequenas
frações, com o aproveitamento de conhecimentos adquiridos através dos
ensinamentos colhidos da observação dos conflitos armados da atualidade, bem
como a produção de material doutrinário nacional. Ao Brasil, por sua relevância
mundial, muito interessa estar preparado para lidar com tais ameaças, de forma que
suas Forças Armadas estejam sempre aptas para cumprir seu papel muito bem
definido pela carta magna brasileira – a defesa da pátria e de sua soberania.
A participação de pessoal da Força em cursos no exterior sempre é pautada
pelo aprendizado inerente ao contato com diferentes doutrinas militares. O Exército
Britânico possui um histórico de participações em conflitos armados de centenas de
anos. Um exército que, embora reduzido em números, é altamente móvel e capaz, e
está alinhado com o progresso tecnológico militar ao implementar uma constante
modernização de seus meios para manter as suas tropas preparadas para enfrentar
os desafios do combate no século XXI.
As lições aprendidas na Infantry Battle School “salvam vidas”, de acordo
com as palavras do então comandante, Tenente-Coronel DJ Flanagan, em seu
discurso de encerramento do Platoon Sergeants Battle Course, edição 2103. Tais
ensinamentos foram, de fato, o elemento norteador da conduta dos comandantes e
sargentos de pelotão da infantaria em suas passagens recentes pelo Iraque e
Afeganistão. Dentre as diversas Técnicas, Táticas e Procedimentos de nível pelotão
aprendidas e praticadas nas atividades do curso, não poderiam estar ausentes as
medidas de defesa contra a ameaça drone, que ainda é um campo a ser explorado
pela doutrina militar britânica. Percebe-se, através dessa abordagem, o quanto que
o desenvolvimento e disseminação do conhecimento sobre defesa anti-SARP é
importante para o Exército Brasileiro.
Diante do exposto, é possível aferir que ao contar com comandantes de
pelotão, de grupo ou de esquadra capacitados, uma vez que as frações e pequenas
frações constituem a espinha dorsal da Força, a tropa conseguirá evitar ou
minimizar ameaças como os SARPs, através do emprego das técnicas de ação
imediata solidificadas e bem massificadas pelas instruções, ensaios e práticas. A
boa ação de comando é fundamental para assegurar o sucesso das missões e,
principalmente, garantir a segurança da tropa e sua pronta resposta aos desafios
inerentes ao combate. Mesmo com o constante avanço tecnológico na área da
defesa, particularmente cosiderando aqui a ampla gama de novas possibilidades no
emprego dos drones atualmente, o fator humano ainda é, e sempre será, o elemento
primordial no sucesso das operações militares.
Referências Bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Defesa. Manual de Campanha Vetores Aéreos da


Força Terrestre. EB70-MC-10.214. 2. ed. Brasília, DF: Comando de Operações
Terrestres, 2020.

MINISTRY OF DEFENSE. All Arms Tactical Aid Memoire. 8ª ed.


Warminster, Reino Unido: Directorate of Land Warfare, Land Warfare Centre, 2020.

MINISTRY OF DEFENSE. Joint Doctrine Publication 0-30.2 - Unmanned


Aircraft Systems. Swindon, Reino Unido: Forms and Publications Section, LCSLS
Headquarters and Operations Centre, 2017.

THE ROYAL SCHOOL OF ARTILLERY. Counter Unmanned Air Systems


(UAS) Handbook. Salisbury, Reino Unido: Training Innovation Centre, Royal School
of Artillery, 2018.

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