Revista Caatinga 0100-316X: Issn: Caatinga@
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ISSN: 0100-316X
[email protected]
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Brasil
Moreira, José Nilton; Andrade Lira, Mario de; Ferreira dos Santos, Mercia Virginia; Andrade Ferreira,
Marcelo de; Arruda Santos, Gladston Rafael de
CONSUMO E DESEMPENHO DE VACAS GUZERÁ E GIROLANDO NA CAATINGA DO SERTÃO
PERNAMBUCANO
Revista Caatinga, vol. 20, núm. 3, julio-septiembre, 2007, pp. 13-21
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Mossoró, Brasil
13
Resumo - O trabalho foi realizado durante período chuvoso na Estação Experimental de Serra Talhada – IPA com o
objetivo de avaliar o consumo e a produção de leite de vacas das raças guzerá e girolando tendo como base da
alimentação a vegetação da caatinga e recebendo suplementação energética e protéica. Oito animais das duas raças
com 60 dias de lactação e 450 kg de peso vivo, no início do experimento, foram distribuídos em dois quadrados
latinos. Cada período experimental teve duração de 21 dias, sendo 14 destinados à adaptação dos animais às rações
e sete para coleta. Observou-se uma produção de leite variando de 5,29 a 6,19kg/vaca/dia para os diferentes
tratamentos. Os animais que receberam suplementação apresentaram uma maior produção de leite que os não
suplementados, não havendo diferença significativa entre as suplementações. A percentagem de gordura não variou
entre os tratamentos. Um consumo médio de 2,2% do peso vivo foi observado. Os animais da raça girolando
apresentaram maior consumo de matéria seca e maior produção de leite que os da raça guzerá .
Palavras-chave: Pasto Nativo, Suplementação Energética, Suplementação Protéica.
Tabela 1. Teores médios de matéria seca (MS), material mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato
etéreo (EE) fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) da pastagem,
dos suplementos e da extrusa, na época chuvosa no sertão de Pernambuco
indicador externo, o óxido crômico (Cr2O3). Em bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN),
cada período, as vacas receberam, durante 15 fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo
dias, sendo dez no período de adaptação e cinco (EE), material mineral (MM), proteína insolúvel
no período de coleta, uma porção diária de 20 g em detergente neutro (PIDN), proteína insolúvel
de Cr2O3, acondicionadas em cartucho de papel em detergente ácido (PIDA) e lignina (Lig). A
introduzido diretamente no esôfago dos animais, digestibilidade "in vitro" da matéria seca
usando-se um tubo de PVC de ¾ de polegada, (DIVMS) foi determinada pelo método de dois
adaptado para essa finalidade. estágios, conforme Tilley e Terry (1963) no
A coleta de fezes foi realizada durante os Laboratório de Nutrição Animal da Embrapa
períodos de coleta nos segundo e sexto dias às Semi-Árido. A estimativa dos teores de
15:00 e 08:00 horas, respectivamente. Para os carboidratos totais (CHOT) foi feita de acordo
cálculos da produção fecal, utilizou-se a fórmula: com a fórmula: CHOT = 100 - (PB + EE + MM),
PF = indicador administrado (g/dia) / descrita por Sniffen et al. (1992), enquanto os
concentração do indicador nas fezes (%), carboidratos não fibrosos (CNF) foram estimados
conforme descrito por Smith e Reid (1955). Para pela fórmula: CNF = 100 – (FDN + PB + EE +
os cálculos do consumo de matéria seca foi usada MM), conforme Mertens (1997). O cálculo do
a fórmula CMS = PF / (1- DIVMS). NDT foi feito de acordo com Weiss (1999).
Na correção da produção para 4% de gordura Os dados foram analisados utilizando o
utilizou-se a equação proposta pelo NRC (2001), programa Statistical Analysis System - SAS
PLCG = 0,4 x (kg de leite produzido) + 15 x (% (2002), sendo feita análise de variância,
de gordura) x (kg de leite produzido). A comparação de média utilizado o teste de Tukey
produção de leite ordenhada (PLO) foi ao nível 5% de probabilidade e avaliando
determinada pela pesagem do leite ordenhado interação entre raças e tratamentos.
enquanto que a produção de leite estimada (PLE)
foi feita dividindo-se a PLO por 3 (número de RESULTADOS E DISCUSSÃO
tetas ordenhadas) e multiplicando-se por 4 O consumo de MS é um dos fatores
(número total de tetas). A avaliação da variação determinantes do processo produtivo, sendo que a
dos pesos vivos das vacas e dos bezerros foi feita baixa produção de bovinos nos trópicos está
a cada 21 dias, no início e final de cada período quase sempre associada a um consumo deficiente
experimental. (DETMANN, et al., 2001). No caso presente,
Amostras do pasto e dos suplementos foram praticamente não houve substituição da forragem
levadas ao laboratório de Nutrição Animal da pelo concentrado, já que não se observou
UFRPE para avaliação da composição diferença significativa (P>0,05) no consumo de
bromatológica conforme Silva e Queiroz (2002), pasto entre animais suplementados e não
determinando-se matéria seca (MS), proteína suplementados (Tabela 2), enquanto os animais
Tabela 2. Consumo de matéria seca do pasto, em função da suplementação e das raças utilizadas durante
o período chuvoso no sertão de Pernambuco
Consumo
Tratamentos
MS (kg) MS (%PV) MS (g/kg PV0.75 )
Suplementação energética 7,64a 1,80a 81,49a
Suplementação protéica 7,73a 1,72a 78,03a
Sup. energética + protéica 8,38a 2,05a 90,51a
Sem suplementação 8,18a 1,93a 87,59a
Raças
Guzerá 7,35a 1,87a 83,13a
Girolando 8,42b 1,86a 85,68a
Cv ( % ) 14,43 15,94 15,47
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si (P>0,05) pelo teste de Tukey
suplementados com milho e algodão (Tabela 3), Os animais que receberam suplementação
tiveram um consumo total superior aos animais apresentaram maior podução de leite que os não
não suplementados e aos que receberam somente suplementados não havendo diferença
suplementação protéica, não se diferenciando dos significativa entre as suplementações (Tabela 5).
animais suplementados apenas com milho. Para leite corrigido, as vacas suplementadas com
O consumo de nutrientes digestíveis totais proteína, isoladamente, ou associada à energia,
(NDT) encontrado, especialmente para o produziram mais leite que as não suplementadas.
tratamento sem suplementação, de acordo com o Quando da concepção do experimento,
NRC (1989) não é suficiente para a produção de estimou-se o potencial de produção diária de leite
leite observada (Tabela 4). Pressupõe-se que as para animais alimentados exclusivamente com a
vacas foram capazes de selecionar uma dieta de vegetação da caatinga em 5 kg/dia (LIRA et al
melhor qualidade que os animais fistulados. O 1998), o que se confirmou, visto que a média de
fato desses últimos ficarem em jejum por 14 PEL dos animais não suplementados foi de 5,29
horas, antes da coleta e da caatinga ser muito kg/dia. Entretanto, a resposta para a
densa, em algumas áreas, limitando a entrada dos suplementação foi muito baixa, já que dos 5 kg
animais portando as bolsas coletoras poderiam adicionais esperados, em média cada animal só
explicar esta diferença. aumentou cerca de um kg/dia. Isto poderia ser
Tabela 3. Consumo de matéria seca total em função da suplementação e das raças utilizadas durante
o período chuvoso no sertão de Pernambuco
Consumo
Tratamentos
MS (kg) MS (%PV) MS (g/kg PV0.75 )
Suplementação energética 9,60ab 2,26ab 102,57ab
Suplementação protéica 8,79b 2,06b 93,60b
Sup. energética + protéica 10,54a 2,52a 113,78a
Sem suplementação 8,18b 1,93b 87,59b
Raças
Guzerá 8,75a 2,22a 98,91a
Girolando 9,81b 2,16a 99,85a
Cv ( % ) 12,26 13,91 13,35
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si (P>0,05) pelo teste de Tukey
Tabela 4. Consumo de proteína e de nutrientes digestíveis totais (NDT) do pasto, do suplemento e total,
conforme suplementação e raças utilizadas no período chuvoso no sertão de Pernambuco
Consumo (g/cabeça/dia0
Tratamentos
Proteína NDT
Pasto Supl. Total Pasto Supl. Total
Supl. energética 852,23a 191,69c 1043,90b 2844,44a 1670,00a 4518,50a
Supl. protéica 821,88a 530,00a 1351,00a 2728,20a 960,00c 3685,80b
Supl. Energ. + protéica 937,62a 498,90b 1436,50a 3130,62a 1630,00b 4764,30a
Sem suplementação 913,63a - 913,63b 3060,83ª - 3060,80b
Raças
Guzerá 821,17a 305,13a 1126,31a 2740,93a 1065,00a 3807,28a
Girolando 941,50b 305,13a 1246,63b 3141,11b 1065,00a 4207,50b
Cv ( % ) 17,53 - 13,02 17,57 - 12,90
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si (P>0,05) pelo teste de Tukey
Tabela 5. Produção estimada de leite (PEL), teor de gordura (TG) e produção estimada de leite corrigido
para 4% de gordura (PELc) em função da suplementação e das raças utilizadas durante o período seco
no sertão de Pernambuco
Tratamentos PEL PELc Gordura
(kg/vaca/dia) (kg/vaca/dia) (%)
Suplementação energética 6,01b 5,98ab 4,15a
Suplementação protéica 6,13b 6,58b 4,54a
Sup. energética + protéica 6,19b 6,58b 4,50a
Sem suplementação 5,29a 5,58a 4,33a
Raças
Guzerá 4,79a 5,00a 4,41a
Girolando 7,02b 7,35b 4,35a
Cv ( % ) 7,69 10,35 10,57
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si (P>0,05) pelo teste de Tukey
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