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TCC Karen Souza Quimica Dos Sabores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PARA A SUSTENTABILIDADE DO


CAMPUS SOROCABA- CCTS
DEPARTAMENTO DE FÍSICA, QUÍMICA E MATEMÁTICA- DFQM

KAREN FRANCIELE RIBEIRO SOUZA

A QUÍMICA DOS SABORES: UMA PROPOSTA CONTEXTUALIZADA PARA O


ENSINO DE CIÊNCIAS

SOROCABA- SP
2023
KAREN FRANCIELE RIBEIRO SOUZA

A QUÍMICA DOS SABORES: UMA PROPOSTA CONTEXTUALIZADA PARA O


ENSINO DE CIÊNCIAS

Trabalho de conclusão de curso apresentada ao


departamento de Física, Química e Matemática
da Universidade Federal de São Carlos,
Campus Sorocaba, como parte dos requisitos
para a conclusão do curso superior de
Licenciatura plena em química.

Orientador: Prof. Dr. Edemar Benedetti Filho

Sorocaba-SP
2023
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Centro de Ciências e Tecnologia para a Sustentabilidade do Campus Sorocaba

Folha de aprovação

Prof. Dr. Edemar Benedetti Filho


Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba
Orientador

Prof. Dr. Alexandre D. Martins Cavagis


Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba
Examinador

Prof. Dr. João Batista dos Santos Junior


Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba
Examinador
AGRADECIMENTO

Agradeço principalmente a Deus por ter me dado forças para chegar aonde
estou hoje. Meus agradecimentos também ao meu professor orientador Edemar
Benedetti Filho por ter me aceito como orientanda e por estar sempre à disposição
para esclarecimento de dúvidas e incentivo em seguir com o tema. Agradecimento
mais que especial aos meus entes queridos, minha mãe e a minha vó, que foram
exemplos de mulheres fortes e guerreiras e que tenho certeza de que estão lá do céu
torcendo por mim e sem elas hoje eu não estaria aqui. Por fim, agradeço ao meu
esposo Rafael Felix que em todos os momentos me deu apoio, acreditou em mim e
não me deixou desistir nos momentos de dificuldade.
RESUMO

O presente trabalho tratou da elaboração de uma apostila sobre o tema química dos
sabores para servir como material de divulgação científica e como material
complementar para professores de química/ciências aplicarem em suas aulas. A ideia
de escrever uma apostila se deu pela escassez de materiais sobre esse tema voltado
ao público do ensino médio e devido à importância do tema na vida da sociedade. A
química dos sabores foi escolhida por ser um assunto muito amplo, interessante e que
desperta curiosidade nos alunos. Além disso, o material desenvolvido pode ser
utilizado de maneira contextualizada e interdisciplinar, explorando outras áreas do
conhecimento, como por exemplo a biologia, física e história. Esse tema também foi
escolhido pela possibilidade de explorar esta natureza interdisciplinar e aplicá-la à sala
de aula. Durante a pesquisa evidenciou-se que o assunto possui amplitude para ser
trabalhado de diversas formas em sala de aula, sendo a forma mais aplicada através
de experimentação e oficina temática. Entretanto, verificou-se que existem poucos
materiais específicos sobre a assunto voltado exclusivamente ao ensino de
química/ciências e por isso a importância do presente trabalho. Por fim, o material foi
avaliado por alguns professores atuantes na área com o objetivo de verificar a
qualidade e a aplicabilidade do mesmo. Como resultado da avaliação foi possível
comprovar que o material é útil para ser trabalhado em sala de aula e também como
material de divulgação científica e, além disso, possui o caráter contextualizado e
interdisciplinar, características tão importantes no contexto da atual BNCC.

Palavras-chave: Sabor. Contextualização. Paradidático.


ABSTRACT

The present work dealt with the elaboration of a booklet on the subject chemistry of
flavors to serve as material for scientific dissemination and also as complementary
material for chemistry/science teachers to apply in their classes. The idea of writing a
booklet was due to the scarcity of materials on this subject aimed at the high school
public and also due to the importance of the subject in the life of society. The chemistry
of flavors was chosen because it is a very broad, interesting subject that arouses
curiosity in students. In addition, the material developed can be used in a
contextualized and interdisciplinary way, exploring other areas of knowledge, such as
biology, physics and history. This theme was also chosen for the possibility of exploring
this interdisciplinary nature and applying it to the classroom. This work was carried out
using the methodology: theoretical framework, since in general, a review of research
and discussions by other authors on the subject is presented. During the research it
was evidenced that the subject has scope to be worked in different ways in the
classroom, being the most applied form through experimentation and thematic
workshop. However, it was found that there are few specific materials on the subject
aimed at teaching chemistry and therefore the importance of this work. Finally, the
material was evaluated by some teachers working in the area in order to verify its
quality and usefulness. As a result of the evaluation, it was possible to prove that the
material is useful to be worked on in the classroom and also as material for scientific
dissemination and also has a contextualized and interdisciplinary character,
characteristics which are so important in the context of the current BNCC.

Keywords: Flavor. Contextualization. Paradidactic.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de língua......................................................................................... 14


Figura 2 – Estrutura química do acetato de octila ................................................... 16
Figura 3 - QR code utilizado na apostila ................................................................... 27
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Descrição dos tópicos abordados na apostila .......................................... 22


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

2. OBJETIVO.......................................................................................................... 10

3. JUSTICATIVA .................................................................................................... 11

4. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 12

4.1 Química dos Sabores ....................................................................................... 12

4.2 O Ensino contextualizado da Química ............................................................. 17

4.3 Ações de divulgação da química...................................................................... 18

4.4 Abordagens sobre o tema “química dos sabores” na literatura ........................ 19

5. METODOLOGIA ................................................................................................. 21

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 24

7. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 31

ANEXO A- APOSTILA QUÍMICA DOS SABORES .................................................. 34


8

1. INTRODUÇÃO

A química como ciência se dedica ao estudo da matéria, ou seja, tenta elucidar


a composição dos sistemas de matéria e as energias envolvidas nas transformações
que sofrem. Ao combinar a construção do conhecimento químico de outras áreas, os
indivíduos podem compreender os fatos e fenômenos que ocorrem em seu contexto
e intervir nessa dinâmica quando necessário. Explicar a ocorrência desses fatos e
fenômenos, muitas vezes, requer o uso de conceitos, fórmulas, leis e equações
matemáticas. Talvez a forma como esses aspectos técnicos são tratados em sala de
aula complique a química dos alunos (PÉREZ, 2000).
Para minimizar a resistência ao aprendizado da química entre alguns alunos do
ensino médio, é necessário utilizar estratégias instrucionais que promovam a
aprendizagem ao mesmo tempo em que busquem estimular o raciocínio e a reflexão.
Vale ressaltar, no entanto, que a maioria dos cursos ainda está centrada na imagem
do professor, pois o sistema de ensino tradicional ainda é o método mais adotado na
maioria das escolas (MIZUKAMI, 1986).
Segundo Pérez (2000), esta prática é questionada há anos, mas ainda
prevalece na sala de aula. O ensino tradicional tem como método a entrega de
conteúdo e raramente considera os interesses e ideias dos alunos. Essas atividades
são baseadas na elaboração do professor, complementadas por livros didáticos e
exercícios de revisão. Esse modelo, no qual os alunos são educados apenas
passivamente, não tem funcionado muito bem, refletindo o desinteresse pela ciência
por parte da maioria dos alunos.
Esse material tem como principal objetivo auxiliar os professores de química do
ensino médio a propor aulas focadas na contextualização e ajudar a estimular o
interesse dos alunos pela disciplina da química, trazendo o assunto para dentro do
cotidiano dos discentes.
O tema químico dos sabores proposto nesse material didático vai ao encontro
do que está proposto na BNCC, pois trata da contextualização e também da
divulgação da química, além de poder ser trabalhado com os alunos em diversos
assuntos dentro da área de ciências da natureza pelo fato de ser um tema bastante
amplo e que abre caminho para diversas abordagens.
9

Para Marcondes (2008), a contextualização do ensino é motivada pela


utilização de temas que permitem questionar o que os alunos precisam saber sobre
química para exercer sua cidadania. O conteúdo tratado em sala de aula deve ter
significado humanístico e social para despertar o interesse do aluno, estimular o seu
interesse e permitir uma leitura mais crítica do mundo físico e social. A partir da
abordagem temática, o ensino de química passa a ser mais contextualizado, o que
facilita o processo de ensino e, assim, contribui para a formação da consciência cívica
dos alunos. Devido à crescente necessidade de novas estratégias para alcançar
melhores resultados na aprendizagem por meio de tópicos, a contextualização é uma
estratégia que traz resultados significativos na melhoria da aprendizagem.
A ideia da elaboração de um material didático se deu pela escassez de
referenciais pedagógicos acessíveis à prática docente para uso em sala de aula. A
pesquisa bibliográfica foi realizada com a temática “Química dos sabores”,
confeccionando o material para um público nas aulas de química ao nível do ensino
médio. Além disso, o material pode ser importante para o planejamento de aulas do
professor, pois além de trazer o material com a temática química dos sabores,
apresenta algumas atividades de caça-palavras e palavras-cruzadas que podem ser
utilizadas para tornar a aula mais lúdica aos seus alunos.
10

2. OBJETIVO

O objetivo desse trabalho foi a elaboração de um material paradidático


envolvendo a temática “Química dos sabores” para o uso em sala de aula empregando
uma linguagem lúdica e acessível aos alunos do ensino médio. Outro destaque é o
auxílio de um material contextualizado atendendo a BNCC para os professores
utilizarem em sala de aula a fim de incentivar os alunos a despertarem o interesse
pela disciplina de química e as suas relações com o seu dia a dia.
11

3. JUSTICATIVA

A química dos sabores foi a temática escolhida para o desenvolvimento de um


material paradidático por se tratar de um assunto que envolve diversas áreas da
ciência, além de ser facilmente contextualizado e poder promover uma
interdisciplinaridade da química com outras áreas, tais como a biologia, a física, a
história etc. Este conteúdo fornece possibilidades ao professor no que tange à
exploração de vários conceitos da área de química, tais como: solubilidade das
substâncias, funções orgânicas e inorgânicas, ligações químicas, isomeria, dentre
outros.
Devido à falta de materiais pedagógicos direcionados para contextualização e
de interdisciplinaridade no tema “Química dos sabores”, optou-se por esta temática
para que se fornecesse um material de fácil uso pelo professor de química em sala de
aula. Desse modo, elaborou-se um material que pode ser importante para o
planejamento de suas aulas e que traz, além do material teórico, alguns jogos de
passatempos que podem tornar a aula mais dinâmica, atrativa e útil para a revisão
dos conteúdos.
12

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Química dos Sabores

O que faz com que alguns alimentos macroscopicamente semelhantes, como


sal e açúcar, tenham um sabor tão diferente? Primeiramente, devemos lembrar que,
historicamente, o sentido do paladar foi fundamental para nossa existência. Esse
sentimento está relacionado à fome, aos alimentos que precisamos comer e aos
alimentos que devemos evitar (BICAS; FELIPE, 2017).
O sabor dos alimentos é um tema de extrema importância na nossa sociedade
atual, pois está relacionado à aceitabilidade dos alimentos, à cultura de uma
comunidade e ao simples prazer em degustar. O sabor dos alimentos é um fator tão
importante quanto o seu valor nutricional e por isso é um tema amplamente discutido
na sociedade moderna e que movimenta o faturamento altíssimo das indústrias de
alimentos (OLIVEIRA, 2014).
Esse sentido humano, o sabor, envolve diversos conceitos químicos que
podem ser trabalhados em sala de aula, desde o entendimento dos conceitos de
solubilidade e volatilidade, até os conceitos de geometria molecular, forças
intermoleculares, funções orgânicas e eletronegatividade. Ao estudar esses
conteúdos é possível entender como a química está amplamente relacionada com os
aspectos mais simples do nosso cotidiano, em especial, o sabor dos alimentos
(MELLO; VIDAL, 2022).
Nesse contexto, é importante definir o que é gosto, o que, na verdade, são
estas sensações. Assim, em nosso organismo, várias etapas fazem parte do paladar,
os receptores olfativos (no nariz) e as papilas gustativas (em toda a boca, mas mais
concentradas na língua) que combinam a textura, a temperatura e o calor de um
determinado alimento, é um universo de caminhos percorridos por sensores, correntes
sanguíneas, conectores nervosos etc. Assim, o que nos espanta é que o nariz é
responsável por cerca de 80% do sabor, e não a nossa língua. Esse número é tão alto
porque durante a mastigação, as moléculas gasosas presas nos alimentos são
liberadas e conseguem atingir a cavidade nasal (onde a boca e o nariz estão ligados)
(BICAS; FELIPE, 2017), formando assim uma “imagem” do sabor, que é interpretada
pelo nosso cérebro, e ativando outras regiões de nosso corpo.
13

Para compreendemos como funciona o processo de identificar os gostos dos


alimentos, é necessário entender como funciona um dos principais órgãos
responsáveis por esse processo: a língua. É na língua que se localizam as papilas
gustativas, um dos responsáveis pelo gosto que sentimos dos alimentos. Dentro das
papilas existem os chamados receptores gustativos, que são células que irão interagir
com as moléculas dos alimentos e através dessa interação o cérebro é capaz de
diferenciar os gostos dos alimentos (ALVES, 2022). Além disso, existem três tipos de
papilas gustativas: circunvaladas, foliáceas, fungiformes e as chamadas de filiformes,
sendo essa última responsável apenas por detectar a consistência dos alimentos
(IQWIG, 2006).
Por definição, as papilas gustativas são percebidas na boca. Até o início da
década de 1990, acreditava-se que certas áreas da língua continham papilas
especializadas para sentir cada gosto. Por exemplo, a ponta da língua é responsável
pelo sabor adocicado, o gosto amargo é sentido na lateral etc. No entanto, esta teoria
não é mais aceita. Hoje, sabe-se que as papilas gustativas responsáveis pela
detecção de cada gosto estão deslocalizadas na superfície da língua (VIDAL; MELO,
2013).
Tradicionalmente, os gostos são divididos em: doce, amargo, azedo e salgado.
Os cientistas propuseram um novo sabor, o umami, relacionado ao glutamato de
sódio, um aminoácido e, portanto, encontrado em alimentos ricos em proteínas, uma
grande molécula formada por até milhares de aminoácidos, como a carne (BICAS;
FELIPE, 2017).
A explicação científica para o paladar tem a ver com a química: são os
chamados quimiorreceptores (também conhecidos como receptores gustativos)
localizados na língua. Na verdade, a língua esconde mais mistérios do que se imagina,
um órgão musculoso de 10 cm de comprimento e cheio de papilas gustativas. A figura
1 ilustra as áreas da língua que são responsáveis pela percepção dos diferentes
gostos (ALVES, 2022).
14

Figura 1 - Mapa de língua

Fonte: Canal Cecierj, 2022.

O gosto salgado é devido a algum sal, principalmente cloreto de sódio (NaCl).


Os sais são compostos iônicos, ou seja, compostos de ânions e cátions, que
produzem seu gosto salgado por meio de interações eletrostáticas com receptores na
boca, principalmente os da língua. Os gostos doce, amargo e azedo interagem com
receptores específicos por meio de ligações de hidrogênio (NARDY, 2013).
Como as moléculas que causam gostos doces e amargos, as moléculas que
causam gostos azedos formam ligações de hidrogênio com os receptores. Mas neste
caso, as moléculas são ácidos orgânicos e inorgânicos. Os principais ácidos orgânicos
são os de ácidos carboxílicos e possuem grupos COOH. O ácido cítrico também está
presente nas frutas cítricas, juntamente com o ácido ascórbico (vitamina C), que
possui três grupos carboxílicos. O ácido acético é o ácido presente no vinagre e é um
ácido monocarboxílico (NARDY, 2013).
E importante entendermos qual é a diferença entre gosto e sabor/aroma, pois
essa é uma definição confusa para a maioria das pessoas. Segundo Barham (2002),
o gosto que sentimos são os cinco gostos básicos (salgado, doce, azedo, amargo e
umami) e está relacionado somente ao paladar, já o sabor é uma sensação mais
complexa, que relaciona o paladar com o olfato, sendo que 80% do sabor de um
alimento depende do olfato. Além disso, o sabor também depende, em parte, do
sentido do tato (textura dos alimentos) e do fator emocional (memória afetiva dos
15

alimentos), e por isso é tão difícil compreender como funciona o mecanismo do sabor
em sua totalidade, pois um mesmo alimento pode despertar sensações de sabores
diferentes para algumas pessoas em relação a outras, assim, uns gostam de bebidas
mais amargas e outros mais doces.
O paladar e o olfato são sentidos químicos que juntos determinam o sabor de
um alimento. O olfato está intimamente ligado ao sabor, por isso quando somos
acometidos por um resfriado temos dificuldade em sentir os sabores. Isso ocorre, pois
quando mastigamos os alimentos liberamos também substâncias voláteis que
alcançam o nosso nariz e se difundem pela cavidade que liga a boca e o nariz durante
a mastigação. Os voláteis atingem células especializadas da mucosa nasal, por onde
são transmitidos todos os odores. Lá, em uma área de 1 centímetro quadrado,
impulsos elétricos são disparados para o cérebro interpretando o sabor (VIDAL;
MELO, 2013).
A química dos sabores pode parecer um assunto pouco explorado e estudado,
entretanto, ela está envolta em um campo da química muito importante conhecido
como a “Química de alimentos”. Além do valor nutricional e da toxicidade dos
alimentos, este campo da química também se concentra no valor sensorial dos
desses. Ou seja, tem a ver com a felicidade (ou infelicidade) que a comida pode causar
e como esse efeito pode ser potencializado no organismo. De fato, um campo
científico que surgiu neste século é a “gastronomia molecular”, que envolve os
conceitos de química, física e biologia e estes métodos científicos trabalham em
conjunto para satisfazer os mais diversos gostos dos consumidores (BICAS; FELIPE,
2017).
O entendimento do mecanismo do sabor é um assunto muito importante, tanto
que a equipe do bioquímico Terry Acree da Universidade de Cornell, nos Estados
Unidos, desenvolveu uma boca artificial para ajudar a estudar o paladar humano com
o objetivo de criar sabores artificiais. Esse protótipo simula o processo de mastigação
e reproduz o mesmo ambiente na boca através da saliva artificial: temperatura, acidez
e até a lubrificação do alimento. Seu nome oficial é "Post-Nasal Aroma Simulator"
(OLIVEIRA, 2014).
Os compostos responsáveis pelos sabores artificiais encontrados em alimentos
industrializados (conhecidos como flavorizantes), como os presentes nos sorvetes,
nas bolachas, nos bolos etc., são idênticos em relação aos compostos naturais do
16

ponto de vista químico. Mas por que o sabor artificial nunca é igual ao natural? Na
verdade, no aroma artificial encontram-se apenas os chamados compostos de
impacto, ou seja, as principais moléculas responsáveis por um determinado sabor. Em
uma amostra real de alimento existem várias moléculas envolvidas para um único
sabor, entretanto, para simplificar, a indústria reproduz apenas as moléculas de maior
impacto no sabor para o nosso paladar (YU; ZHU, 2020).
Atualmente, os 2.000 sabores disponíveis no mercado são semelhantes aos
2.000 sabores que ocorrem naturalmente no mundo. Grandes empresas e centros de
pesquisa em todo o planeta estão comprometidos em recriar novos compostos e
chegar aos 5.000 sabores em laboratório (YU; ZHU, 2020).
Além disso, alguns sabores naturais atualmente precisam ser produzidos
artificialmente e são conhecidos na química como flavorizantes. Isso ocorre porque
seria muito caro ou muito difícil usá-los naturalmente, como o exemplo da baunilha.
Alguns ingredientes já são usados para criar outros sabores – eles já são pré-
fabricados e simplesmente precisam ser adicionados ao produto (YU; ZHU, 2020).
Os flavorizantes fazem parte do grupo de substâncias conhecidos como éteres
e ésteres. A característica dessas substâncias é o aroma agradável de muitas frutas
e flores. Um exemplo disso é a substância etanoato de octila ou acetato de octila
responsável pelo sabor característico da laranja em sorvetes, sucos em pó e balas,
por exemplo.
Figura 2- Estrutura química do acetato de octila

Fonte: Autoria própria

Um único sabor é resultado de uma mistura complexa de diversas substâncias,


porém alguns ésteres estão predominantemente presentes em alguns aromas e
conferem um odor característico.
Esses compostos pré-fabricados que podem ser obtidos de outras fontes, como
o eugenol (substância encontrada no cravo), quando sofre oxidação, uma simples
reação química que envolve a adição de oxigênio à composição da substância,
17

transforma-se em vanilina, componente principal para o aroma da baunilha. Mas a


vanilina não pode ser considerada um produto completamente artificial, pois a síntese
dela partiu de um composto natural. Já as substâncias artificiais são inventadas em
laboratório, como aromas extravagantes chamados de “tutti-frutti” ou o sabor da
“Coca-Cola” (YU; ZHU, 2020).
Embora o senso comum acredite que as coisas naturais são melhores do que
as feitas pelo homem, nem sempre é assim. Existem substâncias fabricadas pelo
homem que não representam um perigo para a saúde e existem substâncias naturais
que são extremamente perigosas. "Às vezes, é só uma questão de dose", diz o
químico de aromas Moisés Galano. “A noz-moscada é uma especiaria muito utilizada
na culinária em pequenas porções e pode até matar se ingerida inteira, pois contém
grandes quantidades de miristicina, uma substância tóxica presente em sua castanha”
(FARIA; RETONDO, 2010).

4.2 O Ensino contextualizado da Química

Dentre os princípios pedagógicos que compõem o campo do conhecimento, a


contextualização é uma das mais discutidas (FARIA; RETONDO; 2010).
Contextualizar o ensino significa torná-lo mais significativo e envolvente,
promovendo a participação dos alunos e permitindo que eles explorem seu
conhecimento para se aprofundar nos assuntos. Isso envolve tanto as lições que são
ensinadas em sala de aula quanto as que são aprendidas fora dela, pois a
contextualização do ensino torna possível a aquisição de conhecimento de maneira
mais ampla e diversificada (ABREU, 2001).
A BNCC (BRASIL, 2018) estabelece que a contextualização no currículo visa
possibilitar, de forma dinâmica e articulada, a discussão de temas sociais e situações
reais, que vão além dos conteúdos e conceitos de química, para abordar também
questões ambientais, econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas. Isso permite
que os estudantes estabeleçam conexões entre a química e assuntos mais amplos, o
que pode ajudar a desenvolver habilidades e competências relevantes para o mundo
moderno.
Ao invés de citar exemplos de eventos cotidianos, o ensino contextualizado
conecta esses eventos ao conhecimento científico para facilitar o aprendizado e
engajar os alunos na reflexão sobre os temas em debate. Trata-se também de criar
18

um clima de discussão em sala de aula, dando sentido ao papel do aluno, permitindo-


lhe pensar, formular teorias e sentir-se bem dentro e fora da escola, isso é estimular
o aluno a ser importante e torná-lo interessado no conhecimento (ABREU, 2001).
A perspectiva contextualizada ajuda o aluno a entender que o conhecimento
químico não é isolado e simplesmente baseado em fórmulas, tabelas e conceitos
abstratos, sem a conexão com o seu dia a dia. Ela traz a química para perto do aluno,
da vida e das suas situações cotidianas, desmistificando o conhecimento e quebrando
o preconceito de que aprender química é difícil (ABREU, 2001). Nesse sentido, a
temática química dos sabores é um assunto muito amplo e que envolve um aspecto
muito importante e presente na vida dos seres humanos. O paladar traz diversas
possibilidades para serem trabalhadas em sala de aula que podem ser abordadas
através de uma perspectiva contextualizada.

4.3 Ações de divulgação da química

As ações de divulgação da química são uma importante ferramenta para a


comunidade científica, pois elas contribuem para o aumento do interesse dos alunos
e do público em geral a aprender sobre a química e demonstra que essas ações
aproximam o conhecimento acadêmico das pessoas, desmistificando a figura do
cientista (BORGES et al., 2011).
Os programas de divulgação científica, neste contexto, quando direcionados
para públicos específicos, como crianças, jovens e adultos, podem contribuir para a
conscientização da população sobre os avanços da ciência, bem como sobre a
importância e o impacto que a química pode ter na vida das pessoas. Além disso, tais
programas podem promover o desenvolvimento de habilidades científicas, como o
raciocínio crítico, a observação e a experimentação. Por fim, é importante destacar
que a divulgação da ciência não é somente sobre contar histórias interessantes, mas
também sobre motivar as pessoas a se engajarem na busca pelo conhecimento
científico e relatar a importância que o desenvolvimento desta área apresenta para o
seu bem-estar (BORGES et al., 2011).
A leitura no ensino é uma prática muito importante para a formação cidadã dos
alunos e para incentivar o desenvolvimento do senso crítico. Dentro do currículo de
química a prática da leitura nem sempre acontece devido ao currículo estar restrito a
aplicação de fórmulas e resoluções de questões. Além disso, os livros didáticos, por
19

serem muito “engessados” e conteudistas, não incluem textos paradidáticos que


podem ser uma ferramenta essencial na educação (FILHO et al., 2017), o que torna a
ciência mais distante de sua realidade.
Dessa forma, este trabalho de conclusão de curso se dá na elaboração de um
material paradidático com o objetivo de “contextualizar a química dos sabores”. Devido
a sua abrangência em relação ao tema, ele também pode ser considerado um material
de divulgação científica, pois busca divulgar um tema interessante que envolve a
química e as ciências da natureza, com linguagem simples e sem aprofundamentos
teóricos em química, ajudando a despertar o interesse e a curiosidade dos leitores,
convidando-os a adentrar no mundo da química.

4.4 Abordagens sobre o tema “química dos sabores” na literatura

O tema “química dos sabores” voltado ao ensino de química ou ciências vem


sendo abordado de diversas formas no ensino por diversos pesquisadores na área do
Ensino e da Educação. A principal maneira de expor estes conteúdos é através de
oficinas temáticas e da experimentação (MARCONDES et al., 2007).
Oliveira et al. (2022) propuseram em seu trabalho a utilização de uma oficina
temática intitulada “química, uma sensação, que função ela tem?” baseada na
identificação dos aromas dos alimentos através da abordagem dos três momentos
pedagógicos (3 MP). Nesse trabalho, os autores observaram que a aplicação da
oficina temática contribuiu para o ensino de química e através desse recurso foi
possível provocar reflexões e ao mesmo tempo abordar conceitos científicos
construindo uma visão mais global do mundo.
As oficinas temáticas surgiram como um método que proporcionou condições
muito favoráveis ao estudo científico. A prática docente no ensino de química,
baseada na utilização de oficinas temáticas, contextualiza o conhecimento e a
experimentação como um dos princípios metodológicos (MARCONDES et al., 2007).
Assim, apresenta a possibilidade de aplicar os conhecimentos de química na vida dos
alunos, pois eles podem conectar o conteúdo de química em sala de aula ao seu
cotidiano, além de estimular a observação, a criatividade e a curiosidade sobre a
ciência (OLIVEIRA; CANDITO; BRAIBANTE, 2022).
20

Outra forma bastante abordada no tema sabores em sala de aula é a utilização


da experimentação. Vidal e Melo (2013) propuseram em seu trabalho intitulado “A
química dos sentidos - Uma proposta metodológica” uma abordagem da química
aplicada ao paladar, olfato e visão. Aplicando experiências com os alunos aliadas à
teoria com a aplicação de seminários entre eles. Os autores falam o quanto é
importante o professor buscar recursos para ensinar que vão além do método
tradicional:
Ficou comprovado que o ensino de química não pode restringirão uso do
papel e caneta. E necessário uma intervenção de recursos didáticos que
facilitem no processo de aprendizagem, tanto quanto uma conscientização,
por parte do docente, em relação aos métodos de ensino. No conjunto
universo que representa o ensino de química, não existem apenas três
elementos: o aluno, o livro didático e o professor, mas uma infinidade de
oportunidades e meios pelos quais o professor pode utilizar para dinamizar,
aperfeiçoar e facilitar o processo de ensino-aprendizagem (VIDAL; RUTE,
2013).

Materiais paradidáticos também são outro recurso bastante interessante para


abordar o tema sabores com os alunos no ensino médio. Faria e Retondo (2010) em
seu livro intitulado “química das sensações”, no qual abordam a ciência envolvida no
paladar, visão e olfato, discorrem sobre conceitos de química que estão envolvidos
nos sabores, como por exemplo, geometria molecular, solubilidade, funções orgânicas
etc.
A literatura nos demonstra o quanto os materiais didáticos e os de divulgação
científica são importantes recursos para o ensino de química e um catalisador para
motivar os alunos a se interessar e se aprofundar no conteúdo da química.
21

5. METODOLOGIA

Durante a pesquisa pode-se notar que o tema sabores aplicado ao Ensino


Médio é escasso na literatura quando se trata de um nível que apresente uma
linguagem simples e de fácil compreensão para estudantes do ensino fundamental e
médio. Geralmente o tema é abordado mais como um subtema dentro do tema central,
em que é a alimentação o foco principal, e devido a isso surgiu uma dificuldade em
encontrar referenciais teóricos que tratassem especificamente do assunto, como um
texto paradidático para uso em sala de aula.
A primeira etapa do trabalho foi a pesquisa para a elaboração da apostila sobre
o tema “Contextualizando a química dos sabores”. Durante a pesquisa notou-se que
existem poucos materiais sobre o assunto com uma linguagem simples voltado ao
Ensino Médio. E como o objetivo dessa apostila é ser simples e objetiva, foi necessário
sintetizar e reescrever os tópicos em uma linguagem mais simples para que o aluno
entenda os conceitos sem perder a essência do assunto e tenha interesse em
continuar a sua leitura.
Um dos questionamentos que surgiu durante o trabalho foi: qual deveria ser o
layout da apostila para que os conteúdos fossem apresentados da maneira mais
intuitiva e clara possível e se tornasse interessante para o público? Através desse
questionamento, buscou-se elaborar o conteúdo utilizando-se de cores e fontes
diferentes, pois esses elementos ajudam a separar o conteúdo de forma clara,
tornando-o de fácil leitura. Além disso, os títulos e subtítulos ajudam o leitor a
identificar rapidamente as partes do texto que deseja ler.
Para a elaboração do material, utilizou-se o software Power Point, por ser uma
ferramenta que possibilita diversos recursos, dentre eles, a edição e a personalização,
deixando o material mais lúdico, colorido e interessante. A apostila foi elaborada com
uma linguagem simples e objetiva para facilitar a compreensão da química para o
público em geral, dessa forma, o material foi estruturado em alguns tópicos para
separar os conteúdos, como ilustrado na tabela 1:
22

Tabela 1 - Descrição dos tópicos abordados na apostila

Tópico Descrição
01 A importância do sabor
02 Como funciona o paladar
03 A química por detrás dos cinco gostos
04 Flavorizantes e a química do sabor
05 Moléculas dos sabores
06 E o nariz, o que tem a ver com o sabor?
07 Jogos dos sabores

Fonte: Autoria própria, 2023

A divisão de tópicos da apostila foi realizada de modo a seguir uma sequência


semelhante às referências encontradas na literatura. Inicialmente, abordou-se a
importância do tema com o objetivo de despertar o interesse no assunto.
Posteriormente, abordou-se a anatomia da língua (órgão do paladar) para abordar as
papilas gustativas.
O terceiro tópico foi abordar a química dos cinco gostos levantando-se os
conceitos químicos envolvidos no gosto doce, salgado, amargo, azedo e umami.
Optou-se por essa divisão, pois assim foi possível explicar com maior clareza o papel
que as substâncias químicas possuem no paladar e na interação com as papilas
gustativas sobre cada um dos cinco gostos.
No quarto tópico, optou-se por reservar um tópico inteiro para abordar os
flavorizantes, que são importantes compostos químicos responsáveis por dar sabor
aos alimentos e bebidas. Os flavorizantes são um assunto bastante extenso e muito
abordado na literatura, pois possuem uma grande relevância na indústria alimentícia
e estão presente em muitos alimentos industrializados. Por conta disso, buscou-se
sintetizar o assunto abordando a estrutura apenas de alguns flavorizantes mais
conhecidos.
Devido à apostila ser um material didático mais simples, não foi possível
explicar todos os conceitos químicos presentes, entretanto, foi acrescentado um “QR
code” em alguns tópicos para o caso de o leitor querer se aprofundar ou entender
melhor o assunto, assim, ele pode acessar uma fonte de informação ao apontar o
23

celular para a imagem e será redirecionado para uma página da internet previamente
avaliada sobre seu conteúdo e que aborde o assunto. Essa é uma forma de estimular
o aluno a aprender a química através do uso do celular, o qual está presente na vida
da maioria dos adolescentes.
Posteriormente, a apostila foi apresentada a dois profissionais na área do
ensino médio para realizar a sua avaliação em relação à estrutura, tópicos, linguagem,
contextualização e aspecto gráfico. As opiniões dos docentes, registradas como P1 e
P2, foram transmitidas através de áudios e mensagens do aplicativo WhatsApp e
registradas em diário de campo. E a seguir foi realizada a análise dos levantamentos
discutidos pelos docentes.
24

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A ideia da construção da apostila surgiu como uma forma de divulgar a química


para o público em geral, principalmente ao ensino médio, e de ser um material
paradidático útil ao professor para o seu emprego em sala de aula, desenvolver
atividades extracurriculares, projetos de vida etc.
Tendo em vista que o objetivo desse trabalho se consistiu na elaboração de
uma apostila que tem como tema “química dos sabores”, sendo o principal público-
alvo alunos do ensino médio, é importante esclarecer o porquê se deu a escolha do
tema.
A escolha do tema “sabores” ocorreu por ser um assunto multidisciplinar que
envolve não somente a química, mas também as ciências biológicas, a física e até
mesmo as ciências humanas, como por exemplo a história. Por conta disso, o docente
da disciplina de química pode ministrar o assunto de uma forma interdisciplinar e
contextualizada a seus alunos, com os elementos do seu dia a dia, assim contribuindo
para a desmistificação de que a química é uma disciplina isolada da sua rotina,
auxiliando o leitor a compreender a química de uma forma mais ampla e presente nos
aspectos do seu próprio cotidiano.
O tema sabores é um assunto que desperta interesse no público em geral por
ser algo que mexe com as sensações e prazeres humanos, uma área importantíssima
da nossa vida que influencia muitos aspectos além da nossa alimentação. Dessa
forma, o sabor é tão importante para nós que influencia quais tipos de alimentos mais
gostamos e mais comemos e a memória afetiva que temos de alguns pratos na
infância.
Assim, a temática sabores podem ser aplicada de maneira contextualizada e
interdisciplinar, explorando diversos conteúdos relacionados à química, como
características dos elementos químicos, funções e reações químicas, propriedades
físicas e químicas dos alimentos etc. Além disso, também pode ser aplicada para
abordar temas relacionados à nutrição, alimentação saudável, cultura alimentar,
economia, ecologia e o uso de produtos químicos em alimentos.
25

Dessa maneira, a ideia de uma apostila se deu por conta de ser um material de
fácil aplicação em sala de aula que o professor pode aplicar de diversas formas, tais
como, em uma aula expositiva dialogada, como introdução a uma prática experimental
envolvendo alimentação, como material para uma oficina de ciências etc. Já o aluno
pode despertar o interesse pela química através dos assuntos abordados na apostila
e através disso aprofundar-se em química e em biologia, por exemplo.
É importante salientar que a apostila, por ser um material de divulgação
científica, foi elaborado pensando-se no público em geral, o qual possui pouco
conhecimento em química, para que ele possa compreender de maneira clara e
objetiva a ideia sobre o assunto que está sendo divulgado. Essa é uma maneira de
divulgar a importância da química para a população em geral. Dentro da própria BNCC
(BRASIL, 2018) podemos observar a preocupação com a mobilização de recursos
didáticos diferentes do tradicional lousa e giz:
[...] para o desenvolvimento do protagonismo juvenil e para a construção de
uma atitude ética pelos jovens, é fundamental mobilizar recursos didáticos
em diferentes linguagens (textuais, imagéticas, artistas, digitais etc.),
selecionar formas de registro, valorizar os trabalhos de campo (entrevistas,
observações, consultas a acervos históricos etc.) e estimular práticas
voltadas para a cooperação (BRASIL, 2018, p.549).

Além disso, o material desenvolvido vem em concordância com a


contextualização dentro da BNCC (BRASIL, 2018), pois ele também pode ser utilizado
como um recurso didático para contextualizar as aulas a fim como uma forma de fugir
do método tradicional. Dentro do currículo paulista também podemos ver uma
preocupação com a contextualização:
Assim, para garantir esses princípios no Currículo Paulista, é necessário que
os processos de ensino e aprendizagem tenham como foco o
desenvolvimento de ações que visem superar a fragmentação disciplinar do
conhecimento, estimulando a sua contextualização e aplicação na vida real,
para dar sentido ao que se aprende (SÃO PAULO, 2018, p. 32-33).

Segundo a BNCC (BRASIL, 2018) e o currículo paulista (SÃO PAULO, 2018),


a ideia da apostila também vem em concordância com o incentivo da divulgação
científica dentro do currículo de ciências da natureza, como podemos constar na
seguinte habilidade (EM13CNT303) descrita dentro da unidade temática Tecnologia e
Linguagem Científica que é:

Interpretar textos de divulgação científica que tratem de temáticas das


Ciências da Natureza, disponíveis em diferentes mídias, considerando a
apresentação dos dados, a consistência dos argumentos e a coerência das
26

conclusões, visando construir estratégias de seleção de fontes confiáveis de


informações (BRASIL, 2018, p.559).

A habilidade descrita faz parte da competência 3 da BNCC, a qual descreve a


importância de ensinar ao aluno a aplicação do conhecimento científico:
Analisar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico
e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e
linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que
considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas
descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por
meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação
(TDIC) (BRASIL, 2018, p.553).

Dessa forma, podemos verificar o quanto a apostila pode auxiliar os


professores na elaboração de suas aulas dentro dos parâmetros da BNCC e ao
mesmo tempo ser um material para ajudar na divulgação da ciência fora da sala de
aula.
Inicialmente, pensou-se em explicar os conceitos químicos envolvidos dentro
do material da apostila. A primeira versão do material, portanto, continha muitos textos
e conceitos, porém a ideia não foi levada adiante por fugir da proposta de ser uma
apostila voltada ao público leigo e aos alunos que têm curiosidade em aprender
química. A utilização de textos e explicação de conceitos tornaria o material
desinteressante e maçante ao aluno que pouco entende a química. Dessa forma, na
tentativa de sanar essa lacuna, teve-se a ideia de inserir alguns links para explicação
um pouco mais aprofundada de alguns conceitos através de QR codes, os quais
redirecionam o aluno a uma página na internet que explica o conceito mais
detalhadamente. Com isso, fica a critério do aluno em querer aprofundar o assunto ou
não, o que pode despertar ainda mais interesse pela leitura da apostila. Na figura 2
podemos ver um exemplo de QR code utilizado na apostila:
27

Figura 3 - QR code utilizado na apostila

Fonte: Autoria própria, 2023

Como uma forma de avaliar o material, foi solicitado a dois profissionais


docentes da área de química que avaliassem o material desenvolvido, apontando os
fatores positivos e negativos, e que informassem se utilizariam no emprego de suas
aulas em sala de aula. As opiniões dos professores foram transmitidas através de
áudios e mensagens do aplicativo de mensagens WhatsApp e registradas em diário
de campo.
A entrevistada P1 relata:
“achei a apostila bastante interessante, contextualizada pois busca a todo
momento exemplos do cotidiano e que também busca abordar de uma forma
geral todos os itens presentes no assunto sabor. Como ponto negativo, em
alguns momentos a apostila contêm bastante texto e pouco aprofundamento
sobre o assunto o que acaba sendo menos chamativo para os alunos. Se
fosse aplicar a apostila em sala de aula aplicaria em uma turma de 3° ano,
pois eles possuem um pouco mais de noção em funções orgânicas que estão
envolvidas nas moléculas que causam os sabores. Já para as series iniciais
a sugestão é focar mais na parte histórica, sem abordar as estruturas
químicas, pois como eles não tem uma boa base de química, não
entenderiam o que aquilo significa ficando uma informação sem sentido para
o aluno. Se o enfoque da apostila for utilizar em sala de aula, a sugestão é
aplicá-la em várias aulas (15 dias) propondo práticas ou dinâmicas
intercaladas a essas aulas”.

De modo geral, pode-se perceber que a professora aprovou a apostila e


utilizaria em sala de aula, porém ela utilizaria apenas com os alunos que já tem uma
noção de química orgânica devido às moléculas que se apresentam. Para isso,
demandaria algumas aulas sobre o conteúdo de orgânica antes da apresentação do
material.
28

A ideia da apostila não é assustar os alunos com a apresentação de estruturas


químicas, mas sim estimulá-los à leitura e a buscar o conhecimento, por isso foi
inserido um aviso antes de apresentar as moléculas para que os discentes não se
assustem, mas que entendam que mostrá-las, em um primeiro momento, é apenas
um estímulo para que busquem o conhecimento e para entender que aquelas
moléculas estão no seu cotidiano, nos alimentos que consumimos, e não apenas nos
exercícios obrigatórios das provas de química. Por isso interpretamos que é válida a
ideia da apostila tanto para o público leigo quanto para os alunos que já possuem uma
base em química orgânica. Entretanto, de fato, os alunos que possuem uma base em
química orgânica terão um aproveitamento melhor da leitura e irão compreender com
maior facilidade em relação aos alunos sem essa mesma base.
A entrevista com P2 ilustrou outros aspectos referente ao material proposto,
informando sobre outros pontos do material paradidático:
“Fiquei maravilhado com o seu material, com a lucidez, clareza e estética. O
material foi bem abordado, simplificado e possui ao mesmo tempo abertura
para aprofundamento em conceitos específicos. O designer utilizado e as
imagens selecionadas ficaram demais. Com certeza vou utilizar em aulas de
química orgânica e vou divulgar com os demais professores. “

A opinião do segundo profissional foi bastante interessante, pois foram


apontados diversos pontos positivos da proposta, evidenciando que a questão do
design e da simplicidade em abordar os conceitos podem contribuir para o interesse
dos alunos pela leitura e aprofundamento do tema. O profissional não apontou pontos
negativos, mas diante do seu relato, pode-se dizer que é um ponto negativo a limitação
em utilizar o material apenas em aulas de química orgânica devido ao assunto sabores
possuir uma ligação direta com os flavorizantes, que são substâncias orgânicas
(ésteres e éteres). Entretanto, pode-se utilizar o material em assuntos além dos
conceitos de orgânica, utilizando-o para abordar conceitos de inorgânica, como por
exemplo ácidos e bases, sais, eletronegatividade, solubilidade, volatilidade, etc. Além
disso, pode-se propor uma aula interdisciplinar com o conteúdo de biologia (fisiologia
do paladar) e história (sabores regionais, história das especiarias etc.).
Observamos que os materiais paradidáticos possuem infinitas possibilidades
acadêmicas relacionadas à divulgação científica e sobre o estímulo dos alunos em
sala de aula. A apostila trouxe aos professores um material pedagógico como
inspiração para propor em suas aulas o emprego de temas contextualizados e
interdisciplinares a fim de promover o estímulo aos estudantes e propiciar um diálogo
29

aberto em sala de aula, sem contar o incentivo à leitura, prática não comum
atualmente.
30

7. CONCLUSÃO

A elaboração de materiais paradidáticos que auxiliam na divulgação da química


e na possibilidade de recursos pedagógicos para propor aulas mais contextualizadas
e interdisciplinares em sala de aula são cada vez mais necessárias no ensino de
química. É importante atentar à necessidade de despertar o interesse pelo conteúdo
em nossos alunos, pelo processo de leitura e interpretação textual, pela relação entre
a escola e a sociedade, e principalmente, em poder observar que os conteúdos
teóricos ministrados em sala de aula possuem uma relação estreita com o seu
cotidiano e o seu bem-estar. Cada vez mais pesquisas na área de ensino corroboram
que as diversas propostas de aulas que fogem do estilo tradicional, inserindo o
conteúdo de química mais atrativo e lúdico, fornecem resultados mais positivos em
relação ao ganho da aprendizagem dos alunos.
Com a realização deste projeto, foi possível verificar que a elaboração de
materiais paradidáticos sobre o conteúdo de química, através de textos com
linguagem simples, facilita o planejamento de aulas dos professores. É um material
que pode abrir um leque de possibilidades com as quais o educador pode trabalhar
em sala de aula, além do incentivo aos alunos. Além disso, o material pode ser usado
para divulgação da química entre o público em geral, onde o aluno pode levar a
apostila para discussão com os seus familiares, aproximando-a da população, e com
isso podendo gerar um aumento do interesse pela aprendizagem, não só em ciências,
mas como em todo o sistema educacional.
31

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ANEXO A- APOSTILA QUÍMICA DOS SABORES


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