Ensino de Ciências: Práticas e Exercícios para A Sala de Aula

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Ensino de Ciências: práticas e exercícios para a sala de aula – Claúdia Pinto Machado 0

Ensino de Ciências:
práticas e exercícios para a sala de aula

Cláudia Pinto Machado


Organizadora

Ensino de Ciências: práticas e exercícios para a sala de aula – Claúdia Pinto Machado 1
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

Presidente:
Ambrósio Luiz Bonalume

Vice-Presidente:
Nelson Fábio Sbabo

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

Reitor:
Evaldo Antonio Kuiava

Vice-Reitor e Pró-Reitor de Inovação e


Desenvolvimento Tecnológico:
Odacir Deonisio Graciolli

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação:


Nilda Stecanela

Pró-Reitor Acadêmico:
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Diretor Administrativo:
Cesar Augusto Bernardi

Chefe de Gabinete:
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Coordenador da Educs:
Renato Henrichs

CONSELHO EDITORIAL DA EDUCS

Adir Ubaldo Rech (UCS)


Asdrubal Falavigna (UCS)
Cesar Augusto Bernardi (UCS)
Guilherme Holsbach Costa
Jayme Paviani (UCS)
Luiz Carlos Bombassaro (UFRGS)
Nilda Stecanela (UCS)
Paulo César Nodari (UCS) – presidente
Tânia Maris de Azevedo (UCS)

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Ensino de Ciências:
práticas e exercícios para a sala de aula

Organizadora:

Cláudia Pinto Machado


Professora adjunta na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Graduada em Ciências Biológicas. Mestra em Biologia
Animal e Doutora em Ciências, ênfase em Paleontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Tem atuado como coordenadora e colaboradora em projetos de extensão que envolvam a formação científica e
acadêmica, bem como na educação e popularização da ciência. Atua na área de Paleontologia, Zoologia e Ensino.

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© dos organizadores

Foto capa:
<a href='http://br.freepik.com/vetores-gratis/ciencias-e-biologia-rabiscos_761073.htm'>Designed by Freepik</a>

Revisores científicos:
Camila Ferreira Escobar (UFRGS)
Claudia Pinto Machado (UCS)
Liane Terezinha Dorneles (Instituto Rio Grandense de Arroz – IRGA)
Patrícia Hadler Rodrigues (UFSC)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Universidade de Caxias do Sul
UCS – BICE – Processamento Técnico

E59 Ensino de ciências [recurso eletrônico] : práticas e exercícios para a sala de


aula / org. Cláudia Pinto Machado. – Caxias do Sul, RS: Educs, 2017.
Dados eletrônicos (1 arquivo).

ISBN 978-85-7061-880-1
Apresenta bibliografia.
Modo de acesso: World Wide Web.

1. Ciência – Estudo e ensino. I. Machado, Cláudia Pinto.


CDU 2.ed.: 37.016:5

Índice para o catálogo sistemático:

1. Ciência – Estudo e ensino 37.016:5

Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária


Paula Fernanda Fedatto Leal – CRB 10/2291

Direitos reservados à:

EDUCS – Editora da Universidade de Caxias do Sul


Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 – Bairro Petrópolis – CEP 95070-560 – Caxias do Sul – RS – Brasil
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Capítulo 13

Saídas de campo urbanas: uma metodologia didática para o


ensino de Geologia, Paleontologia e Educação Ambiental no
Ensino Básico

Robson Crepes Corrêa, Karen Adami Rodrigues, Ana Karina Scomazzon

1. Objetivo: as “saídas de campo urbanas” se constituem em um excelente mecanismo


para aliar o conhecimento teórico das Geociências, demonstrado em sala de aula, ao
cotidiano do aluno. Essa metodologia faz com que os alunos visualizem na prática os
materiais geológicos que compõem as construções da cidade, como as rochas ígneas,
metamórficas e sedimentares, sendo estas últimas portadoras de fósseis. Desta forma, é
possível explicar conceitos geológicos e paleontológicos, mostrando na prática a sua
importância em nossa vida.

2. Conteúdo: Geociências, Geologia, Paleontologia, Paleozoologia, Paleobotânica,


Evolução, Educação Ambiental

3. Público-alvo: Alunos do Ensino Fundamental e Médio

4. Referencial teórico

A Geologia é a ciência que estuda nosso planeta, sua formação, estrutura interna e
externa. A ferramenta de estudo desta ciência é a rocha. Existem três principais tipos de
rochas: ígneas, metamórficas e sedimentares. Através do estudo das rochas, é possível
compreender os processos e mecanismos de formação e dinâmica de desenvolvimento
do nosso planeta. Processos como magmatismo, vulcanismo, intemperismo, erosão e
mecanismos, como a tectônica de placas, motor do nosso planeta, que contribuem à
movimentação das placas litosféricas e com isso na geração de montanhas, formação de
fossas oceânicas, terremotos, variação relativa do nível do mar, etc. Há ainda a gênese
dos diferentes tipos de rochas (com suas características próprias e peculiares, já que
foram geradas em ambientes geológicos específicos), os diferentes tipos de sedimentos
e os diversos grupos de fósseis.
A Paleontologia, do grego palaiós (antigo) + ontós (ser) + logos (estudo), é uma
ciência que desperta muita curiosidade desde os tempos mais remotos, principalmente

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pelos famosos fósseis de dinossauros que habitam o imaginário das pessoas, fazendo
com que construam a ideia do grande tempo percorrido pelos seres vivos na evolução da
vida na Terra. (MANZING; WEINSCHÜTZ, 2012). Os fósseis, objeto de estudo da
Paleontologia, são restos ou vestígios de seres que viveram de 3,8 bilhões até 11 mil
anos atrás, período este último em que se encerrou a última grande glaciação. Os
conteúdos da Geologia e da Paleontologia e de áreas como a paleozoologia,
paleobotânica, paleobiogeografia, paleoecologia e a evolução, são importantes para o
desvelamento da formação da Terra e de seus organismos que, desde os primórdios, se
adaptaram a diferentes contextos ambientais, através da mudança de sua morfologia
corpórea e comportamental. Tais mudanças adaptativas são capazes de fazer com que
espécies se adaptem melhor que outros organismos competidores, ganhando mais
chances de se reproduzir e, consequentemente, de deixar descendentes que podem
chegar a ter representantes atuais. Assim como nós, espécie humana, em constante
mudança nos aspectos fenotípicos e genotípicos, nos quais a evolução atua através da
seleção natural, podemos, graças a algumas variáveis ambientais, dar origem a outra
espécie ou mesmo se extinguir como qualquer outro tipo de organismo que já viveu no
planeta. O processo de extinção já aconteceu com milhares de organismos, deixando,
em casos específicos, o seu registro corporal nas rochas sedimentares, como os fósseis
e/ou seus hábitos de atividade vital como pegadas, rastros e tocas, ou seja, os
icnofósseis. Estima-se que apenas 0,1% das espécies, que um dia viveram na Terra,
deixaram seus registros fossilizados, ou seja, há muitas lacunas de conhecimentos
incompletos sobre os seres vivos pretéritos. (MANZING; WEINSCHÜTZ, 2012).
Atualmente, a Paleontologia é um conteúdo abordado principalmente na disciplina
de Biologia, no Ensino Médio das escolas brasileiras, tendo por objetivo apresentar os
seres vivos que um dia habitaram o nosso planeta, através de seus registros fossilíferos
preservados nas rochas sedimentares. Retrata-se o que ocorreu nos milhares de anos da
evolução da vida na Terra, bem como mostra os prováveis caminhos que a seleção
natural percorreu na maximização de caracteres “favoráveis” e na deleção dos
“desfavoráveis”. O professor, na maioria dos casos, utiliza unicamente o livro didático
como instrumento para a transposição de conhecimentos paleontológicos. Os alunos têm
dificuldade de compreender, em poucas aulas disponibilizadas no currículo para o
ensino de Paleontologia, os processos que levaram de bilhões a milhares de anos de
especiações, como, por exemplo, a evolução dos peixes ao homem atual. (SHUBIN,
2008).

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Muitas informações que poderiam ser trabalhadas de uma forma dinâmica, como
os conteúdos sobre invertebrados fósseis ou a megafauna sul-americana extinta há
pouco tempo e que coexistiu com os humanos, não são abordadas. Temas geradores de
interdisciplinaridade como: a evolução das diversas características morfológicas e
fisiológicas dos diferentes seres vivos, o ciclo dos diferentes tipos de rochas, a tectônica
de placas, que altera dentro de milhões de anos a geomorfologia dos continentes,
gerando novos hábitats para que a seleção natural atue e gere novos organismos, através
de formas pré-existentes, são desenvolvidos pela maioria dos educadores em conceitos
individualizados. A crítica ambiental e de sustentabilidade da sociedade humana pode
ser amplamente discutida na formação de petróleo e de carvão mineral, que se
constituem em processos lentos de decomposição de matéria orgânica morta,
considerados ainda importantes recursos energéticos, que mantêm e dominam a
sociedade humana moderna.
A compreensão de como a vida evoluiu em um planeta inicialmente sem vida para
um ambiente rico, nas mais diversas formas orgânicas e que continuam se extinguindo e
evoluindo, na constante marcha dos organismos na Terra e desta pelo universo, não é de
fácil compreensão. Isso torna indispensável o ensino da Geologia e da Paleontologia no
ensino básico. Portanto, compreender essas disciplinas como recursos que comprovam
as teorias evolutivas faz com que consigamos vislumbrar a nossa própria história de
vida como seres humanos. A importância está na contextualização do indivíduo, como
parte do planeta e como espécie “dominante”, posicionado em uma ínfima fração do
tempo total percorrido desde a formação da Terra. Significa estabelecer, através de uma
linha de tempo, a formação das primeiras formas de vida até a evolução dos humanos,
em princípio, única espécie, nesse processo evolutivo, que tem consciência de si e do
meio em que vive, além da capacidade de construir modelos teóricos e solucionar
perguntas inquietantes milenares como: “Quem somos? De onde viemos? E para onde
possivelmente vamos?”
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM +) salientam,
entre seus seis temas estruturadores do ensino de Biologia, que seja abordado o ensino
de evolução (BRASIL, 2002), ou seja, para compreenderem-se os mecanismos evolutivos
é necessário que se entendam conceitos geológicos e paleontológicos. A seleção dos
conteúdos fica a caráter do educador, elegendo quais serão abordados dentro da
recomendação dos programas para cada uma das séries. Para tanto, o professor deve ter
em mente a impossibilidade de se ensinar e fazer com que os alunos aprendam tudo, já
que, mesmo com informações compactadas para haver ensino, deve ocorrer

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aprendizagem. Desta forma, a seleção de conteúdos deve contemplar tanto o estudo da
realidade local e particular do aluno quanto essa realidade inserida num contexto
expandido. (BRASIL, 2002).
Portanto, a finalidade da educação escolar é dotar os alunos das habilidades de
compreensão, utilização e transformação da realidade, para que sejam capazes de
buscar, escolher e usar as informações em situações necessárias, no transcorrer da vida.
(BRASIL, 2002). Para que tais informações sejam captadas de forma maximizada, faz-se
necessário que o ensino não priorize apenas a memorização (que faz com que os alunos
esqueçam os conteúdos após uma avaliação), mas, através de conhecimentos novos que
se liguem a “subsunçores” já previamente instaurados na estrutura cognitiva, tornando
então a aprendizagem significativa e não mecânica. (PELIZZARI et al., 2002). Para que a
aprendizagem significativa possa ocorrer, é preciso que o professor conheça a realidade
na qual o aluno está inserido e pela qual tem conhecimentos prévios da mesma, como
também de temas de interesse, que façam com que o aluno dê importância ao conteúdo
que será ministrado. Faz-se necessário, desde as aulas de Ciências no Ensino
Fundamental, que seja apoiada a investigação sobre o universo que rodeia os alunos,
incitando-os assim a enxergarem a ciência com propriedades investigativas dos
fenômenos que os cercam e não como algo que só pertence aos cientistas e restrito ao
universo acadêmico. (FERREIRA, 2013).
Existem possibilidades de abordagem da Geologia e Paleontologia, em sala de
aula, que vão além da utilização do livro didático como único material de apoio para os
professores, podendo-se empregar então atividades como as “saídas de campo urbanas”.
Essas saídas de campo urbanas são instrumentos que aperfeiçoam a aprendizagem da
Geologia e da Paleontologia em lugares inesperados do cotidiano, como edificações e
calçamentos de cidades que, na maioria das vezes, passam despercebidos, constituindo-
se, assim, uma gama de recursos didáticos a serem explorados pelos professores, fora da
sala de aula. Desse modo, pode-se trabalhar interdisciplinarmente aspectos como a
observação do registro fóssil e de suas características fixadas nas estruturas que
compõem as calçadas e as edificações, dentro do próprio ambiente citadino, tendo ainda
a vantagem de não precisar mover os alunos desse ambiente para lugares distantes.
(SILVA, 1998).

5 Atividade

Neste trabalho foi priorizado o desenvolvimento de metodologias de ensino e


aprendizagem, como suplemento ao livro didático, ou seja, além de utilizar o recurso

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tradicional, o professor poderá utilizar alternativas viáveis, desde que seja respeitado o
nível cognitivo para a aplicação do conhecimento geológico e paleontológico em
questão. Para tanto, sugerem-se saídas de campo urbanas, em que os roteiros e as
ferramentas de identificação em campo se constituam metodologias de ensino e
aprendizagem, que podem ser usadas em qualquer ambiente urbano e rural dotado de
estruturas fossilizadas. O conteúdo de Geologia é apresentado através da identificação
em construções urbanas de rochas sedimentares, portadoras de traços e rastros fósseis
(icnofósseis) (Figuras 1), e de outros dois tipos de rochas: as ígneas (basaltos, andesitos,
riolitos, granitos, dioritos) (Figura 2A) e as metamórficas (ardósias, filitos, xistos,
gnaisses, mármores) (Figura 2B), que permitem ampliar o material visual disponível na
vida diária dos alunos.
Figuras 1 – Traços fósseis (icnofósseis) de invertebrados em rocha sedimentar utilizada para calçamento.
A e B. Diferentes traços fósseis

Figura 2 – A. Aluna observando o calçamento composto de rocha ígnea (paralelepípedo). B. Calçada


composta por diferentes tipos de rochas. Rocha central de cor branca, um mármore, e no entorno, granitos

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Recomenda-se o uso de lupas de mão de 4x (Figura 3) e exercícios de
identificação como a prática de campo urbana “Identificando Marcas do Passado”, na
qual os alunos sejam convidados a identificar os diferentes icnofósseis dos calçamentos
da cidade, com o auxílio de uma folha que contenha o nome da icnofácie em questão
(Mermia) e o respectivo desenho de cada um dos seus diversos icnogêneros associados:
Mermia, Cochilichnus, Gordia, Helminthoidichnites, Helminthopsis, Planolites,
Treptichnus, Tuberculichnus, Palaeophycus, Circulichnis, Vagorichnus, Undichnia. O
desenho da icnofácie utilizada nesse exercício foi retirado de Buatois e Mángano (2004)
(Figura 4). A identificação dos diferentes icnofósseis pode ser feita com o auxílio do
livro Icnologia de Carvalho e Fernandes (2007). Nessa dinâmica de saída de campo
urbana, podem ser também trabalhados os sistemas de localização e direcionamento
com a bússola (Figura 5) e o GPS (Sistema de Posicionamento Global) (Figura 6), a fim
de georreferenciar as estruturas geológicas e icnológicas, demonstrando assim como
relatar seu posicionamento, dentro da cidade, de um modo técnico, para que outras
pessoas possam também encontrá-las.

Figura 3 – Observação da rocha ígnea com o auxílio de lupas de mão

Ensino de Ciências: práticas e exercícios para a sala de aula – Claúdia Pinto Machado 158
Figura 4 – Exercício proposto para observação dos icnofósseis

O professor poderá utilizar o livro didático como recurso de apoio, tendo a


vantagem de que, necessariamente, não precisará contar com um museu para
visualização de tais estruturas, já que esses elementos estão expostos no cotidiano dos
alunos. A aprendizagem significativa se dá no momento em que os alunos percebem
que a Geologia e a Paleontologia são conhecimentos que estão expostos no seu dia a
dia.

Ensino de Ciências: práticas e exercícios para a sala de aula – Claúdia Pinto Machado 159
Figura 5 – Alunos aprendendo a manipular e se orientar com a bússola

Figura 6 – Alunos utilizando o GPS para orientação

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6 Consiserações finais

A presente atividade foi testada pelo centro urbano da cidade de Pelotas /RS, em
2013, com alunos de uma turma do 1º ano do Ensino Médio de uma escola estadual
(Figura 7).

Figura 7 – Início da “saída de campo urbana”. Pode-se observar o calçamento de rocha, o banco de ferro
e, ao fundo, as edificações feitas com materiais de construção como argila, areia, argamassa, cimento,
tijolos, telhas, ferro, etc., que são constituintes geológicos

A saída de campo urbana constituiu-se na observação e identificação em


calçamentos e edificações dos três tipos de rochas (ígneas, metamórficas e
sedimentares), revelando assim a sua gênese e a utilização nas construções das cidades,
uma vez que materiais geológicos, como calcários, areia, argila e amianto são utilizados
na confecção de tijolos, telhas, argamassa e cimento, com as rochas usadas em peitoris,
fachadas, muros, calçamentos, meio-fio, etc. Assim, foi possível mostrar (e discutir com
os alunos) importância da Geologia na prospecção e exploração das rochas, para
aquisição de bens minerais, pois, conforme observado acima, nossas construções são
realizadas com a necessidade de ferro, alumínio, aço, cobre, cimento, argamassa, argila,
areia, rochas, telhas, tijolos, carvão, até mesmo na tinta (pigmentos e chumbo) que
utilizamos para a finalização de nossas construções. Todos estes elementos descritos são

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prospectados e beneficiados para nosso conforto, para a construção de nossas casas,
ruas, pontes, praças, etc. Desta forma, é necessário a escavação de determinadas regiões,
formando minas e pedreiras, às quais muitas pessoas são contrárias, pela necessidade de
desmatamentos e pela poluição ambiental gerada. Contudo, apesar do modelo atual de
nossa civilização necessitar destes materiais geológicos, que tem que ser prospectados, é
possível um trabalho de manejo ambiental dessas regiões exploradas. Assim, a questão
ambiental também pôde ser discutida com os alunos; apesar da nossa necessidade de
exploração do planeta, podemos fazer isso de forma sustentável.
Além da observação da Geologia, através dos materiais de construção, foi
possível observar a paleontologia através das rochas sedimentares compostas
principalmente por folhelhos e argilitos, presentes como calçamento e contendo
icnofósseis (rastros e traços) de invertebrados. Os alunos visualizaram fósseis e
estruturas sedimentares como marcas onduladas e pingos de chuva, que representam
antigos ambientes de sedimentação, propiciando interpretações temporais e ambientais e
que hoje estão ali nas calçadas em lugares inesperados do seu cotidiano.
O exemplo aqui demonstrado pode ser adaptado pelos professores de qualquer
cidade, uma vez que, principalmente rochas e outros materiais utilizados em
construções, fazem parte do nosso cotidiano.

Referências

BRASIL. PCN + Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros


Curriculares Nacionais – Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. 2002. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2015.

BUATOIS, L. A.; MÁNGANO, M. G. 2004. Animal-substrate interactions in freshwater


environments: aplications of ichnology in facies and sequence stratigraphic analysis of fluvio-
lacustrine successions. In: McILROY, D. The Application of Ichnology to Palaeoenvironmental
and Stratigraphic Analysis. The Geological Society of London, 2004. p. 311-334.

CARVALHO, I. S.; FERNANDES, A. C. S. Icnologia. São Paulo: Sociedade Brasileira de


Geologia, 2007.

FERREIRA, A. R. A curiosidade na aula de Ciências: como levar a turma a investigar e


entender o mundo que nos cerca. Nova Escola, n. 265, p. 36-44, 2013.

MANZING, P. C.; WEINSCHÜTZ, L. C. Museus e fósseis da Região Sul do Brasil: uma


experiência visual com a paleontologia. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2012.

Ensino de Ciências: práticas e exercícios para a sala de aula – Claúdia Pinto Machado 162
Pelizzari, A. et al. Teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel. 2002. Disponível em:
<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012381.pdf>. Acesso em: 12 jul.
2015.

SHUBIN, N. A história de quando éramos peixes: uma revolucionária teoria sobre a origem do
corpo humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

SILVA, C. M. “Paleontologia urbana”: percursos citadinos de interpretação e educação


(paleo)ambiental. 1998. Disponível em: <http://paleoviva.fc.ul.pt/cmsbibliogafia/cms026.pdf>.
Acesso em: 16 jul. 2015.

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