Análise SWOT Águas

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v15e5

ANÁLISE SWOT DA GESTÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS NO PIAUÍ
SWOT ANALYSIS OF THE GROUNDWATER MANAGEMENT IN PIAUÍ
Recebido: 30/05/2018
Revisado: 28/08/2018
Aceito: 30/08/2018

Pedro Benjamin Carreiro Lima Monteiro


Jaime Joaquim da Silva Pereira Cabral

RESUMO ABSTRACT

A análise SWOT é uma ferramenta da administração SWOT analysis is an administration tool used to analyze
utilizada para analisar os ambientes interno e externo de the internal and external environments of an organization in
uma organização a fim de identificar os pontos fortes order to identify advantages and disadvantages to establish
e fracos e estabelecer os cenários para um determinado scenarios for a certain goal. Transposing this notion to water
objetivo. Transpondo essa noção para a gestão de recursos resources management, SWOT analysis could be used to
hídricos, a análise SWOT poderia ser utilizada na produção
elaborate scenarios looking for the strengthening of the
de cenários visando o fortalecimento da gestão. Assim, ela
management. Thus, it was used to produce the scenarios
foi utilizada para compor os cenários da gestão das águas
subterrâneas no estado do Piauí. Foram elencadas as forças e of groundwater resources in the state of Piauí. It was listed
as oportunidades que poderiam auxiliar no fortalecimento da the strength and opportunities which could help on the
gestão, bem como as fraquezas e ameaças que dificultariam strengthening of management, as well as the weaknesses
a consecução desse objetivo. and threats which could difficult achieving the goal.

Palavras-chave: Águas subterrâneas, Piauí, ameaças e Keywords: Groundwater, Piauí, threats and opportunities,
oportunidades, fraquezas e forças. weaknesses and strengths.

1. INTRODUÇÃO

SWOT é um acrônimo para strengths (forças), para o ambiente interno recebem o nome de forças
weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e fraquezas; e do ambiente externo são classificados
e threats (ameaças). A análise SWOT foi criada entre de ameaças e oportunidades.
as décadas de 1960 e 1970 por Albert Humphrey, ao Como se mencionou anteriormente, a ferramenta
conduzir um projeto de pesquisa para identificar por foi originalmente desenvolvida para a aplicação de
que os planejamentos estratégicos de empresas haviam empresas e corporações, contudo outras áreas do
falhados (HOFRITCHER, 2017). Ela visa a análise dos conhecimento também passaram a utilizá-la, como
ambientes interno e externo a fim de saber quais são economia, direito, engenharia e ciências ambientais
os fatores (internos e externos) que podem auxiliar ou (KALLIORAS et al., 2010). Braun e Amorin (2014)
dificultar um determinado objetivo (HOFRITCHER, citam alguns trabalhos bem-sucedidos na proteção
2017). O ambiente interno refere-se a fatores tangíveis de áreas ambientais como a elaboração do plano
e intangíveis internos a uma organização, mas que estratégico para o Parque Nacional de Ilha Grande,
estão sob seu controle, já o ambiente externo seria no Paraná, e o Parque Estadual Morro do Diabo,
aqueles fatores fora do controle da empresa, que podem em São Paulo. Os autores utilizam a metodologia
tanto ser atrativos ou um risco (HOFRITCHER, a fim de elaborar um diagnóstico de campo rápido
2017). Ambos os ambientes são analisados do ponto para melhorar o processo de tomadas de decisões e
de vista das vantagens e desvantagens, sendo que o desenvolvimento de um plano de gerenciamento
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para o Parque Estadual de Ilha Grande (PEIG), no resilientes as condições climáticas. Porém, com uma
Rio de Janeiro. Kallioras et al. (2010) utilizam a gestão de recursos hídricos incipiente, esse tipo de
técnica para propor uma série de medidas para evitar fonte hídrica encontra-se ameaçado. Vidal (2003) relata
a superexploração dos aquíferos costeiros na Grécia. Já que o volume extraído do aquífero Serra Grande, no
Praveena e Aris (2009) a utilizam para sistematizar a município de Picos, no ano de 2001, foi 140% maior
situação das águas subterrâneas de 55 ilhas. Nagara et al. que o volume de recarga. De acordo com o autor, a
(2015) utilizaram a ferramenta a fim de montar uma zona urbana do município gera um rebaixamento de
análise comparativa para diversas soluções para escassez 0,90 m/ano nos níveis potenciométricos do aquífero.
hídrica nas zonas áridas e semiáridas da Ásia e África. O Plano Estadual de Recursos Hídricos (SECRETARIA
Por essa versatilidade da ferramenta é que se julgou DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
interessante a sua utilização para caracterizar a gestão DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010) também chama
das águas subterrâneas no Piauí. atenção para o sistema aquífero Poti/Piauí, na bacia
As águas subterrâneas são uma importante fonte de do rio Longá, afirmando que ele poderá chegar ao
recursos hídricos para mundo. A Food and Agricultural limite da sua vida útil em 8,6 anos se não mudarem a
Organization of The United Nations (2016) aponta política de uso dos recursos hídricos subterrâneos. Por
que elas são responsáveis por 36% de toda a água isso, como forma de caracterizar a gestão e perceber
potável, 24% para o suprimento da indústria e 43% aqueles fatores que podem influenciá-la de maneira
de toda a água utilizada na irrigação. Apesar disso, a positiva ou negativa, elaborou-se essa matriz SWOT
sua gestão esteve relegada a segundo plano. Alguns para a gestão de águas subterrâneas no Piauí.
autores (MEGDAL et al, 2017; MECHLEM, 2012)
explicam que por ser um recurso invisível e seus CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
problemas demorarem a surgir, preferiu-se concentrar
na gestão de águas superficiais; que são de mais fácil O Piauí é um estado do Nordeste brasileiro, possui
controle e os impactos são sentidos imediatamente. 251.611,929 km2 (INSTITUTO BRASILEIRO
Llamas e Martinez-Santos (2005) mostram que as DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2017); dos
águas subterrâneas começaram a ser utilizadas para quais 79,73% estão inseridos no semiárido brasileiro
a irrigação no início do século XX, contudo os (SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO
primeiros problemas e conflitos de uso começaram a DO NORDESTE, 2018). Segundo o Plano Estadual
ser noticiados apenas no final desse século e início do (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS
século XXI. No início dos anos 2000, contudo, essa HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), o
visão começa a mudar. Várias entidades internacionais estado está situado numa zona de transição entre o
começaram a produzir estudos sobre a gestão das águas semiárido e a região pré-amazônica, o que confere
subterrâneas, e plataformas para divulgar informações ao estado dois regimes hídricos distintos: um úmido,
sobre o recurso hídrico subterrâneo, vide o Global a oeste, e outro seco, mais a leste. As temperaturas
Groundwater Information System (GGIS) e World-wide médias do estado variam entre 26,5 ºC e 27,5 ºC, mas
Hydrogeological Mapping (WHYMAP). Megdal et al. a capital Teresina chega a registrar valores superiores
(2017) citam que a comunidade acadêmica também a 40ºC. As altas temperaturas no estado contribuem
tem contribuído para mudar essa visão. para uma alta evaporação (a maior já registrada foi de
Assim, como o restante do mundo, o Piauí 4.033,33 mm/ano em Paulistana), o que pode gerar
apresenta uma grande demanda por águas subterrâneas, um déficit hídrico de até 532 mm/ano (SECRETARIA
principalmente voltado para irrigação, no sul do estado. DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
O estado pertence a região Nordeste do Brasil, com DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010). Quanto a divisão
duas estações do ano bem definidas: período chuvoso e hidrográfica, o estado está quase completamente inserido
o período seco. Por causa disso, a maior parte dos rios na bacia do rio Parnaíba, apenas uma pequena parte
são intermitentes ou efêmeros, sendo mais interessante, (no litoral) pertence a bacia do Atlântico Nordeste
portanto, utilizar as águas subterrâneas, por serem mais Oriental (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE
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E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO Cabeças e sistema Poti/Piauí (SECRETARIA DE


PIAUÍ, 2010). O estado pode ser dividido em doze MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
sub-bacias hidrográficas, das quais apenas a Difusas DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010). Apenas uma
do Litoral não pertence a bacia do rio Parnaíba, como pequena parte do estado, fronteira com Pernambuco
pode ser visto pela figura 01. e Ceará, assente sobre escudo cristalino, apresenta
Segundo o Plano Estadual (SECRETARIA DE uma baixa produção e uma concentração de sólidos
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS totais acima de 1.000 mg/L. Essa mesma concentração
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), a disponibilidade também pode ser encontrada em aquíferos do litoral
hídrica superficial é de 18,0 km3/ano, contudo piauiense (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE
ela está concentrada no rio Parnaíba, cuja a vazão E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO
pode variar de 194,05 m3/s, na sub-bacia do Alto PIAUÍ, 2010).
Parnaíba, a 710,92 m3/s, na sub-bacia do Baixo do Na região do Vale do Gurgueia, ainda é possível
Parnaíba (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE encontrar poços jorrantes. A alta produção dessa região
E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO levou Feitosa et al. (2012) a classificarem a região
PIAUÍ, 2010). Outros rios, como o rio Canindé tem como uma Zona Estratégica de Produção de Águas
uma vazão máxima de 80,66 m3/s (SECRETARIA DE Subterrâneas (ZEPAS). Segundo eles, o monitoramento
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS feito em 39 poços produtores mostrou uma vazão
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010). Entretanto, um média de 500 m3/h/poço. Com essa vazão seria possível
recurso melhor distribuído, que abrange quase todo construir uma adutora que pudesse fornecer água a
o estado são as águas subterrâneas. 80% do estado porção semiárida do estado. Contudo o projeto nunca
está assente sobre a bacia sedimentar do Parnaíba chegou a ser implementado.
(figura 02), possuindo três aquíferos principais de Segundo a plataforma SIAGAS (SERVIÇO
extensão regional, que respondem por quase 90% GEOLÓGICO DO BRASIL, 2018), o Piauí é o terceiro
dos recursos subterrâneos do estado: Serra Grande, estado com o maior número de poços perfurados no

Figura 1 - Sub-bacias do Piauí


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Figura 2 - Domínios Hidrolitológicos do Piauí

Brasil – quase 30 mil. Contudo, segundo o banco de Cerrados, (ii) o uso industrial encontra-se concentrado
dados do órgão gestor, existiam apenas 8.618 processos na Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE)
para pedidos de outorga desde 2006 até julho de Grande Teresina; (iii) a demanda por consumo humano
2018. Desses, apenas 56,37% tiveram seus pedidos mostra-se generalizada pelo estado. As figuras 03, 04,
aprovados. Foi feito também um levantamento mais 05 e 06 foram produzidas a partir dos volumes médios
detalhado referente aos anos de 2016 e 2017, a fim de outorgados nos anos de 2016 e 2017.
conhecer as principais demandas pelo uso das águas Embora o universo analisado seja pequeno, ele
subterrâneas. Foram levados em consideração apenas corrobora com as estimativas do Plano Estadual
as outorgas emitidas para águas subterrâneas. (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS
É interessante perceber que das 747 outorgas HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), em
emitidas, apenas 3,0% referiam-se às águas superficiais que são eleitos a irrigação, o abastecimento humano,
(em sua maioria eram outorgas para diluição de dessedentação animal e indústria. Infelizmente, não foi
efluentes). Os principais usos percebidos pelo possível analisar o volume para a dessedentação animal,
levantamento foram irrigação (85,06%), consumo pois quando essa aparecia, dentre as finalidades, seu
humano (6,42%) e indústria (7,70%). Da análise dos volume vinha junto com o consumo humano, não
dados, foi possível também espacializar o consumo das sendo possível conhecer a porcentagem do volume
águas subterrâneas por município, do qual percebe-se o destinada a cada uso. Segundo os dados do Sistema
seguinte: (i) a irrigação está concentrada na região dos Nacional de Informação sobre Saneamento - SNIS
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Figura 3 - Volume outorgado para consumo humano por município considerando os anos de levantamento

Figura 4 - Volume outorgado para irrigação por município considerando os anos de levantamento
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Figura 5 - Volume outorgado para indústria por município considerando os anos de levantamento

Figura 6 - Volume outorgado para outros usos por município considerando os anos de levantamento
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(BRASIL, 2016), do total de 176 municípios que legislações existentes, as várias instituições estaduais
responderam ao questionários, 58,92% dos municípios atuantes no gerenciamento dos recursos hídricos e
piauienses têm abastecimento exclusivo por águas principalmente a atuação do órgão gestor de recursos
subterrâneas, enquanto 20% têm abastecimento misto hídricos. Já como ambiente externo foram levados em
(feito por águas subterrâneas e superficiais), ou seja, consideração os órgãos federais presentes no estado, os
quase 80% dos municípios piauienses dependem das vários programas federais para preservação e conservação
águas subterrâneas para o seu abastecimento. A capital do meio ambiente, e a relação com outros estados.
Teresina responde por 11% do volume total de águas É importante dizer que os exemplos citados acima não
subterrâneas utilizado no abastecimento humano. são exaustivos, apenas explicativos. Um dos objetivos da
Além do percentual mencionado no parágrafo análise SWOT é poder determinar quais são os fatores
anterior, a capital concentra cerca de 25,29% dos internos (controláveis) e externos (não-controláveis) de
habitantes do estado e 47,09% do PIB (INSTITUTO uma organização (HOFRITCHER, 2017).
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, Tendo em mente isso, para a composição do
2017). É também nesse município que se concentra o trabalho foram utilizados documentos, principalmente o
pólo industrial e, 80% do volume outorgado para Teresina Plano Estadual (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE
era referente a esse uso. Ainda pode-se mencionar a E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ,
resolução específica do Conselho Estadual de Recursos 2010) e o projeto Governança das Águas Subterrâneas
Hídricos (CERH-PI) para Teresina para pedidos de (FOOD AND AGRICULTURAL ORGANIZATION
outorga de águas subterrâneas. Isso porque o centro OF THE UNITED NATIONS, 2016). Também foi
da capital está situado entre os rios Poti e Parnaíba, feito uma pesquisa bibliográfica a fim de comparar
tornando a região suscetível a “sinistros geológicos, a situação do estado do Piauí com outras regiões do
geotécnico e hidrogeológico” (SECRETARIA DE planeta. A parte seguinte foi montar a matriz SWOT.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO
Hofritcher (2017) argumenta que existe várias maneiras
ESTADO DO PIAUÍ, 2015), o principal deles foi o
de se representar graficamente a matriz, devendo ser
afundamento ocorrido na rua Francisco Mendes, em
escolhida a que for mais adequada para o trabalho.
2008, provocando danos estruturais em residências
Sendo assim, dispôs-se de um modelo baseado no
(SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL, 2008).
trabalho de Kallioras et al. (2010), por considerar
O agronegócio desenvolve-se no sul do estado,
mais pertinente a esse trabalho. Posteriormente, no
na região conhecida como MATOPIBA, formada
tópico Resultados e Discussão são discutidos cada um
pelos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
dos tópicos expostos na matriz.
Spera et al. (2016) mostram que entre 2003 e 2013
o MATOPIBA quase duplicou a sua área de cultivo,
sendo que o Piauí apresentou a maior taxa de expansão, 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
de 120.000 ha para aproximadamente 450.000 ha.
Contudo, não é possível dizer qual tipo de cultura A figura 07 apresenta a matriz SWOT para a
irrigada pelo levantamento feito (figura 04), pois essa gestão das águas subterrâneas no Piauí. A seguir são
informação não consta nos documentos de outorgas discutidos cada um dos itens destacados na figura.
emitidas.
Forças (Strengths)
2. METODOLOGIA Como mencionado acima, as forças na matriz SWOT
refere-se ao ambiente interno de uma organização,
Para a análise SWOT, na composição da matriz, fatores positivos que fazem com que essa se diferencie
levou-se em consideração a estrutura organizacional, da concorrência. Na análise do ambiente interno da
a legislação, a participação da sociedade e o nível de gestão, foram destacados três itens: (i) Política Estadual
informação sobre águas subterrâneas. O ambiente interno de Recursos Hídricos; (ii) Plano Estadual de Recursos
considerado refere-se a esfera político-administrativa do Hídricos (PERH); (iii) Adoção do Cadastro Nacional
estado, a Política Estadual de Recursos Hídricos e demais de Usuários de Recursos Hídricos (CNARH).
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Figura 7 - Matriz SWOT

Para alguns autores como Hager et al. (2002), e o direito de propriedade da terra. Muito embora esse
Llamas e Martinez-Santos (2005), Mechlem (2012) aspecto seja decorrente da promulgação da Constituição
e Megdal et al. (2017) a gestão das águas subterrâneas Federal de 1988 – CF/1988 - (BRASIL, 1988) e da
sempre ocupou um papel secundário na gestão de Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH -
recursos hídricos. Segundo Hager et al. (2002) há um (BRASIL, 1997); ele obedece ao que diz o projeto
problema de semântica, uma vez que quando se fala em Governança das Águas Subterrâneas (FOOD AND
recursos hídricos, muitos associam a expressão apenas AGRICULTURAL ORGANIZATION OF THE
as águas superficiais. Mechlem (2012) explica que UNITED NATIONS, 2016) quanto ao fortalecimento
historicamente a legislação sobre recursos hídricos sempre da governança das águas subterrâneas quanto ao seu
se preocupou mais com a gestão das águas superficiais. caráter legal. Quanto ao seu conteúdo, a Política
Como as águas subterrâneas não podem ser vistas e os Estadual de Recursos Hídricos (SECRETARIA DE
seus problemas demoram a aparecer (MEGDAL et al., MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
2017), isso gerou uma “hidroesquizofrenia” (LLAMAS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015) apresenta-se muito
E MARTINEZ-SANTOS, 2005) na gestão, em semelhante ao da PNRH, entretanto se diferencia
que se avançou com a gestão das águas superficiais, em alguns aspectos como a adoção dos instrumentos
deixando para trás a gestão das águas subterrâneas. de compensação aos municípios, que na PNRH foi
Nesse contexto, pode-se dizer a Política Estadual de revogado, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos
Recursos Hídricos do Piauí mostra-se a frente do seu (FERH), um fundo financeiro criado para apoiar a
tempo, inserindo dentro do seu texto um capítulo gestão, e como já mencionado, o capítulo voltado às
especialmente voltado para as águas subterrâneas. águas subterrâneas.
Apenas outras seis políticas estaduais fazem o mesmo: De fato, a Política Estadual, promulgada pela
Rio de Janeiro, Paraná, Pará, Amazonas, Tocantins, lei estadual nº 5.165, de 20 de agosto de 2000,
Pernambuco (OLIVEIRA, 2012). traz em seu conteúdo alguns artigos sobre águas
Um aspecto importante da Política Estadual subterrâneas, como a inclusão expressa na elaboração
(SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS do Plano Estadual de “um programa de gestão de
HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015) é águas subterrâneas, compreendendo a pesquisa, o
quanto ao caráter público das águas subterrâneas, a planejamento, o mapeamento da vulnerabilidade
necessidade de outorga para o seu uso e a separação dela à poluição, a delimitação de áreas destinadas à sua
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proteção e controle e monitoramento” - XI, art. MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS


5º - (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015). Contudo, chama-se
RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, atenção para o art. 63, que determina um prazo de
2015). Ademais, do art. 50 ao art. 63, a referida lei 360 dias para regulação de todas as captações de águas
estabelece zonas de proteção, as quais são: (i) Área de subterrâneas anteriores a lei, uma vez que não se
Proteção Máxima, (ii) Área de Restrição e Controle e, tenha pensado na logística para essa operação e nem
(iii) Área de Proteção de Poços e Outras Captações. tampouco na capacidade do órgão gestor, que como
A primeira refere-se à proteção de zonas de recarga será discutido mais adiante apresenta uma série de
de aquíferos altamente vulneráveis a poluição e a limitações; o cumprimento desse artigo é um desafio.
zonas essenciais para o abastecimento humano. O projeto Governança das Águas Subterrâneas (FOOD
A segunda disciplina as extrações e controle máximo AND AGRICULTURAL ORGANIZATION OF
das fontes poluidoras já implantadas e restrições a THE UNITED NATIONS, 2016) chama atenção
fontes potencialmente poluidoras e a terceira, a área que não é a elaboração de uma lei que fará diferença,
de proteção dos poços e a distância mínima entre mas sua implementação e efetividade. Entretanto,
poços e outras captações - art. 52 (SECRETARIA DE como lembra Kallioras et al. (2010) o conteúdo da
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS lei, bem como a sua promulgação, gera um otimismo
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015). para a gestão das águas subterrâneas.
O conteúdo desses artigos é semelhante ao dos Outro ponto positivo considero é o Plano
decretos estaduais do estado de Pernambuco – decreto Estadual de Recursos Hídricos (SECRETARIA DE
nº 20.423, de 26 de março de 1998 (PERNAMBUCO, MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
1998) – e de São Paulo – decreto nº 32.955, de 07 DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010). De acordo com o
de fevereiro de 1991 (SÃO PAULO, 1991) – que projeto Governança das Águas Subterrâneas (FOOD
regulamentam as respectivas leis sobre conservação e AND AGRICULTURAL ORGANIZATION OF
proteção das águas subterrâneas. É interessante notar THE UNITED NATIONS, 2016) a elaboração de
que quando da definição das áreas de proteção e do planos diretores é o último passo para o fortalecimento
estabelecimento dos critérios para sua delimitação e da governança das águas subterrâneas e deve reunir as
das permissões de uso das águas, as três legislações informações das etapas anteriores, quais sejam: criando
apresentam um texto bastante semelhante, o que não a base para uma governança adequada, construindo
significa dizer que essas áreas sejam menos importantes instituições efetivas, constituindo links essenciais e o
para a gestão ou que elas destoam da realidade do redirecionamento financeiro. A primeira diz respeito
estado. Na verdade, a expressa definição dessas áreas a um diagnóstico sobre as águas subterrâneas, o
na Política Estadual, demonstra a importância das contexto aonde se insere, quem são as instituições
águas subterrâneas para o Piauí. Além disso, enquanto responsáveis pela sua gestão, o envolvimento dos atores
o decreto apenas regulamenta uma lei, essa tem caráter entre outros, a fim de identificar quais são os pontos
maior, de estabelecer diretrizes e a obrigação de um que necessitam ser melhorados. A segunda etapa tem
processo legislativo a torna difícil de ser revogada ou relação com o órgão gestor, “a construção de uma
alterada, o que não acontece com um decreto. instituição legítima e com credibilidade aos olhos dos
O capítulo referente às águas subterrâneas ainda atores da gestão” (FOOD AND AGRICULTURAL
dispõe sobre a recarga artificial de aquífero, devendo ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS,
essa ser precedida de estudos que comprovem sua 2016). A terceira etapa refere-se a gestão integrada não
conveniência técnica, econômica e sanitária (art. 60), apenas das águas subterrâneas com as superficiais, mas
sobre a celebração de convênios com outros Estados com outras políticas como a de saneamento, meio
para aquíferos compartilhados no intuito de estabelecer ambiente, energia elétrica e mudanças climáticas, por
o uso harmônico e sustentável desse (art. 61), e sobre exemplo. Por fim, a quinta etapa, redirecionamento
as águas minerais, no qual determina que essas serão financeiro, diz respeito a encontrar maneiras para
regidas pela legislação federal (SECRETARIA DE financiar a gestão de águas subterrâneas.
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O Plano Estadual (SECRETARIA DE MEIO hídricas e recursos explotáveis. É nesse volume, ao


AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO analisar os mapas potenciométricos produzidos no
ESTADO DO PIAUÍ, 2010) é composto por nove trabalho da SUDENE e os produzidos para o próprio
volumes mais um relatório síntese para divulgação, nos plano, que o Plano afirma o rebaixamento da ordem
quais são abordados a matriz institucional da gestão de 100 m sofrido pelos aquíferos Serra Grande e
de recursos hídricos, as diretrizes estratégicas para o Cabeças na zona oriental (zonas livres ou de reduzido
fortalecimento da gestão, diagnóstico da demandas e confinamento).
disponibilidades, integração com a política de meio O Plano também sugere, apesar de considerar que
ambiente, o prognóstico e os programas e ações para a grande disponibilidade e a baixa explotação, zonas de
gestão. Na matriz institucional é feito um levantamento restrição a explotação, dividindo em dois grupos: zonas
de todas as instituições que interferem na gestão de de controle e zonas de proteção. A primeira com um
recursos hídricos, focando principalmente na situação risco moderado de comprometimento do aquífero, e a
e a credibilidade do órgão gestor. O Plano Estadual segunda exigindo um nível mais rigoroso de proteção,
destaca alguns pontos, como: (i) a “pulverização de “devendo ser imediatamente providenciados estudos
competências”, uma vez que vários órgãos acabam hidrogeológicos locais” (SECRETARIA DE MEIO
por realizar funções privativas do órgão gestor, AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO
(ii) a pequena capacidade técnica e operativa do DO PIAUÍ, 2010). Ele ainda faz uma projeção da
órgão gestor, (iii) o organograma simplista, que não quantidade de anos necessários para o esgotamento
abarca a complexidade da gestão de recursos hídricos das potencialidades dos aquíferos considerando uma
e (iv) e conflito ético, uma vez que o órgão gestor é taxa de crescimento na explotação de 2%, 4% e 8%,
responsável pela construção de adutoras no semiárido do qual é possível concluir que os aquíferos que se
do estado e também o fiscal ambiental. Para sanar apresentam em risco no pior cenário é o sistema
esses problemas, o Plano sugere que o órgão gestor Poti/Piauí, na bacia do rio Longá, com apenas 8,6 anos.
estadual seja colocado numa posição central em relação Há também informações sobre a qualidade das águas
as articulações institucionais, fazendo um paralelo subterrâneas, mostrando que de uma maneira geral
com a Agência Nacional de Águas (ANA), ademais elas se apresentam com uma concentração de sólidos
recomenda, como forma de fortalecimento institucional, dissolvidos (STD) inferior a 500 mg/L, sendo que em
a realização de concurso público, capacitação técnica áreas muito específicas (sudeste do estado e litoral)
e, uma reorganização na estrutura interna de modo a essa concentração é superior a 1000 mg/L.
contemplar todos os instrumentos de gestão e demais Contudo no estabelecimento de um programa de
ações necessárias a gestão de recursos hídricos. ações para águas subterrâneas o Plano se limita a sugerir
Com relação às águas subterrâneas em especifico, duas ações: (i) perfuração de poços, para aumentar
o Plano Estadual, para composição do diagnóstico, a oferta hídrica, (ii) controle de superexploração de
consultou os trabalhos produzidos pelo Projeto aquíferos, com instalação de medidores de vazão nos
Áridas (2000), Levantamento Básico dos Recursos poços jorrantes da região do Vale do Gurguéia. Além
Naturais da Bacia do Parnaíba nos Estados do Piauí, disso, o Plano não apresenta um planejamento para
Maranhão e Ceará, organizado pela SUDENE a gestão de águas subterrâneas, como é exigido pela
em 1975 e o banco de dados do SIAGAS/CPRM, lei nº 5.165/2000, art 5º, inciso XI. Outro fator que
AGESPISA e SEMAR. Da análise do banco de dados pode comprometer é quanto a idade do Plano, já que
da CPRM, foi possível discriminar a quantidade de foi produzido em 2010. Nesses oito anos, o Plano não
poços perfurados por bacia, por aquífero e também sofreu uma única atualização e dados nele apresentados
dos usos feitos. Além disso, o volume reúne uma podem não representar mais a realidade do estado.
série de informações quanto aos aquíferos, como: O último ponto considerado como ponto forte do
extensão, profundidade, condutividade hidráulica, ambiente interno é a adoção do Cadastro Nacional de
transmissividade, coeficiente de armazenamento, áreas Usuários de Recursos Hídricos (CNARH). Ele é uma
de recarga, reservas, potencialidades e disponibilidades plataforma criada pela Agência Nacional de Águas
Monteiro, P. B. C. L.; Cabral, J. J. S. P. ANÁLISE SWOT DA GESTÃO DE ÁGUAS...

(ANA), mas que foi disponibilizado aos estados para DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015). Ainda segundo
que cadastrassem os seus usuários. É valido dizer a lei, o SEGERH tem diversos objetivos dentre os
que, embora seja uma plataforma gerida pela ANA, quais se destaca: (i) coordenar a gestão integrada
o CNARH permite ao órgão gestor um amplo acesso de recursos hídricos; (ii) implementar a Política
as suas funcionalidades, como: o gerenciamento dos Estadual; (iii) planejar, regular e controlar o uso, a
usuários existente no estado, produção de relatórios, preservação e a recuperação dos recursos hídricos e,
alteração dos dados de usuários cadastrados, entre de modo geral (iv) promover a implementação dos
outros; por isso a plataforma foi incluída nesse item. instrumentos de gestão - art 33 – (SECRETARIA DE
Com a adoção do CNARH, torna-se mais fácil MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
para o órgão gestor monitorar os usuários de recursos DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015). Entretanto a
hídricos, bem como também, mais simples quantificar fraca atuação desses entes tem contribuído para a
esses usuários por bacia, por aquífero e por usos. Outro precariedade do sistema.
ponto favorável é que o estado, através do decreto É interessante notar que essa percepção é corroborada
nº 16.142, de 14 de agosto de 2015 (SECRETARIA pelos próprios colegiados, como se pode observar pela
DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS avaliação do Progestão/Pacto das Águas (abordado mais
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015), determinou que adiante). Segundo os relatórios do primeiro ciclo do
seja feita uma campanha de cadastramento e que programa (2013-2016), o Conselho se classificou como
todos os usuários sejam cadastrados na plataforma, nível três, ou seja, apesar de existir um conselho, ele
o que fortalece o seu uso. O órgão gestor, através ainda é pouco atuante e/ou funciona em condições
de uma resolução interna determinou que todos os precárias. Os comitês por outro lado foram classificados
novos usuários deveriam se cadastrar no CNARH como nível dois: existem comitês apenas em áreas de
antes de requisitarem o pedido de outorga de uso dos conflitos devido ao comprometimento hídricos, ou
recursos hídricos. aspectos de gestão de infraestrutura hídrica.
Recentemente a Agência Nacional de Águas (ANA) Uma das prováveis causas para isso é a falta de
alterou o sistema. O CNARH foi substituído pelo interesse dos membros em participar das reuniões e
Sistema Federal de Regulação de Usos (REGLA). dos processos de gestão, como se pode observar pela
Essa mudança de sistema irá representar um novo ausência de alguns membros nas reuniões, ocasionando
desafio para a SEMAR, uma vez que tanto os usuários em certos casos o cancelamento das reuniões por falta
quanto os técnicos terão que aprender e se adaptar de quórum. Vaz (2013) explica que os Conselhos de
ao novo sistema. Políticas Públicas, como o CERH e CBHs, têm uma
menor participação individual, pois operam sobre
Fraquezas (Weakness) uma lógica representativa, “o que implica que a
Pela figura 07, as fraquezas listadas foram: (i) fraca participação depende de critérios eletivos”. Para o autor,
atuação do SEGERH, (ii) concentração de forças na as participações nessas instituições são limitadas também
aplicação da outorga, (iii) ausência de fiscalização; pois as reuniões têm uma periodicidade específica;
(iv) grande número de usuários irregulares, (v) ausência o que exige tempo do integrante para se dedicar à
de uma rede de monitoramento, (v) ausência de um atividade; e os temas tratados exigem compreensão e
sistema de informações. estudo, uma vez que delineam diretrizes e/ou normas
O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos para a área temática, gerando receios por parte dos
Hídricos (SEGERH) é composto pelo Conselho indivíduos cujo engajamento esteja radicalmente
Estadual de Recursos Hídricos (CERH), SEMAR, fora de seus padrões e/ou expectativas. “Portanto, os
Comitês de Bacias (CBH), Agência de Bacias e indivíduos podem, na verdade, sequer se sentir como
órgãos do poder público municipal e estadual cujas parte efetiva dos processos políticos” (VAZ, 2013).
competências se relacionam com a gestão de recursos Outro complicador é a participação majoritária
hídricos - art. 34, lei nº 5.165/2000 – (SECRETARIA de órgãos públicos, principalmente no Conselho
DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS Estadual. Segundo o regimento interno do CERH
REGA, Porto Alegre, v. 15, e5, 2018

(SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS A última entidade que compõem o SEGERH


HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015), embora discutida aqui é o próprio órgão gestor de recursos
seja previsto uma representação tripartite (Estado, hídricos: Secretaria de Meio Ambiente e Recursos
usuários, e sociedade civil), o CERH apresenta como Hídricos do Estado do Piauí (SEMAR). O projeto
representantes da sociedade civil o Instituto Brasileiro Governança das Águas Subterrâneas (FOOD AND
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis AGRICULTURAL ORGANIZATION OF THE
(IBAMA); Departamento Nacional de Obras Contra UNITED NATIONS, 2016), estabelece que para
as Secas (DNOCS) e Companhia de Desenvolvimento o fortalecimento da governança seja identificado e
do Vale do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), desenvolvido um líder. Esse seria responsável pela
que são órgãos federais. Jacobi (2006) alerta para o gestão das águas subterrâneas, pelo envolvimento dos
fato das decisões definidas por essa representação atores na gestão e por conhecer e divulgar a situação
majoritária do governo, pois aumenta em muito o e os problemas existentes em um determinado local
poder de manipulação dos consensos e dos resultados. relacionado às águas subterrâneas. Vale ressaltar que
Para o autor, essa participação marjoritária reduz o para isso, é necessário: (i) leis e regulamentações para
confronto efetivo entre interesses conflitantes, o que alcançar o nível requerido de controle sobre o uso e
desestimula a participação dos cidadãos. atividades potencialmente poluidoras; (ii) um bom
A representação tripartite do Conselho também arranjo estrutural com adequada capacidade para
falha na representação dos usuários, uma vez que elaboração de políticas e administração do uso e proteção
contra poluição; (iii) mecanismos para permanente
apenas prevê assentos para a AGESPISA (concessionária
participação e envolvimento dos atores para desenvolver
pública dos serviços de saneamento) e representantes
a conscientização social das águas subterrâneas como
dos comitês, mas não prevê vagas direcionadas as
um bem comum; (iv) procedimentos para coordenação
categorias dos usuários. Com relação a gestão de águas
e co-gerenciamento com outros setores; (v) organizações
subterrâneas, vale citar também a não existência de
para o gerenciamento de aquíferos transfronteiriços
uma câmara técnica especifica para o assunto, como
(FOOD AND AGRICULTURAL ORGANIZATION
acontece nos Conselhos Nacional Conselho Nacional
OF THE UNITED NATIONS, 2016). Esse papel é
de Recursos Hídricos. (CNRH) e Conselhos Estaduais
geralmente exercido por uma entidade pública, como
de São Paulo e Pernambuco. A criação de uma câmera
é o caso do Piauí.
técnica poderia possibilitar uma discussão aprofundada Criada pela lei nº 4.797, de 24 de outubro de 1995,
sobre o tema e possibilitar ações mais efetivas. a SEMAR é tanto o órgão gestor de recursos hídricos
Contudo, esse cenário tem sofrido alterações por quanto o órgão gestor ambiental do estado. Dentre
causa de programas como o Progestão. Embora para suas funções estão a de formular e executar ambas
a tipologia do estado, seja exigido apenas a existência políticas ambientais, o que difere da escala federal, na
de ambas instituições mesmo que em funcionamento qual existe um órgão responsável pela formulação de
precário, foi firmado o compromisso com o órgão cada uma dessas políticas e outro para a sua execução.
gestor de pelo menos manter reuniões periódicas do Esse modelo (centralizado e concentrado), sem uma
Conselho de modo a respeitar o que diz o decreto de instância subalterna e intermediária, faz com que
sua formação, ou seja, a cada seis meses (SECRETARIA toda a responsabilidade sobre os acertos e erros da
DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS gestão recaiam sobre a SEMAR (SECRETARIA DE
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2015). Além disso, o MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO
estado, por intermédio da SEMAR, manifestou ESTADO DO PIAUÍ, 2010). Além disso, as estruturas
interesse para adesão ao ProComitê, com o intuito de responsáveis por cuidar da gestão de meio ambiente
fortalecer os comitês de bacias existentes, no qual a e recursos hídricos apresentam um organograma
Agência Nacional de Águas se compromete a repassar diferente. Enquanto a Superintendência de Meio
recursos financeiros aos comitês desde que esses sejam Ambiente (SMA) mostra-se complexa com várias
investidos em ações de fortalecimento da participação. diretorias e assuntos especializados; a Superintendência
Monteiro, P. B. C. L.; Cabral, J. J. S. P. ANÁLISE SWOT DA GESTÃO DE ÁGUAS...

de Recursos Hídricos (SRH) apresenta uma estrutura uso é o único instrumento com um departamento
linear, simplista e focada no instrumento da outorga especializado. Todavia, sem aplicação dos demais
de direito de uso. “Deixa-se de lado, portanto, toda a instrumentos, principalmente dos planos diretores
perspectiva de fortalecimento da área de recursos hídricos e enquadramento dos corpos d’água, sua análise é
que embasa o Plano Estadual de Recursos Hídricos, simplista e superficial, concentrando-se basicamente
fundamental para implementação de uma Política de na produção do poço. A Agência Nacional de Águas
Recursos Hídricos no Estado” (SECRETARIA DE (2011) lembra que são os planos diretores que irão
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS determinar os usos prioritários, as áreas sujeitas a restrição
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010). de uso e as metas de racionalização. O enquadramento
Além disso, o pequeno corpo técnico torna difícil relaciona-se com a outorga na medida que dita a
a execução da Política Estadual de Recursos Hídricos. qualidade dos corpos d’água, principalmente para efeito
Apenas dois servidores efetivos trabalham diretamente de diluição de efluentes (AGÊNCIA NACIONAL DE
na SRH, o restante do seu corpo técnico é formado por ÁGUAS, 2011). A demais, uma análise mais complexa
contratos temporários, servidores emprestados de outros também exige a implantação e operação de uma rede
órgãos, ou terceirizados. Em outras palavras, grande de monitoramento. O Projeto Governança das Águas
parte da equipe técnica é formada por profissionais Subterrâneas (FOOD AND AGRICULTURAL
rotativos, sem permanência no órgão, o que é ruim ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS,
para implementação de programas e continuidade 2016) frisa que um conhecimento baseado em dados
das ações. Para o Plano Estadual (SECRETARIA DE suficientes e confiáveis é fundamental para guiar a
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO gestão, exploração e proteção das águas subterrâneas.
ESTADO DO PIAUÍ, 2010), a falta de profissionais Logo é preciso conter um banco de dados robusto.
é principal gargalo para a gestão de recursos hídricos. Mais além, é preciso processar, interpretar e divulgar
Seria ideal que fosse realizado concurso público, essas informações numa linguagem clara e acessível que
principalmente para ocupar as 100 vagas destinadas possa propiciar o envolvimento dos atores na gestão.
aos auditores fiscais ambientais (SECRETARIA DE Atualmente há uma única rede de monitoramento
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS implantada no estado e se refere ao projeto
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010). Também é RIMAS/CPRM (Rede Integrada de Monitoramento
preciso destacar, nesse cenário, o que o Plano das Águas Subterrâneas) no aquífero Serra Grande a
Estadual (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E leste do estado. Contudo, vale lembrar que o estado
RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, possui outros dois aquíferos amplamente utilizados e
2010) chama de pulverização de competências pois de extensão regional (Cabeças e o Sistema Poti/Piauí),
diversos órgãos públicos acabam por realizar funções mas sem uma rede de monitoramento. Cria-se, então,
que seriam exclusivas da SEMAR, como é o caso da um paradoxo: concentra-se na análise e emissão de
AGESPISA, que exerce função de planejamento e outorga, mas não se tem informações suficientes
regulação dos recursos hídricos. A SEMAR também para analisar o pedido de uma forma a propiciar a
realiza funções alheias às suas competências. É o boa gestão dos recursos hídricos. Além disso, a falta
caso da implementação das adutoras de Bocaina e de um sistema de informação, com a divulgação dos
Piaus II na bacia do rio Canindé. Esses casos acabam dados de forma clara e acessível por todos, dificulta
contribuindo para a descredibilização do órgão gestor. o envolvimento dos atores, uma vez que eles não
Ou seja, embora a SEMAR seja a responsável pela conhecem o recurso e, consequentemente, não podem
gestão de águas subterrâneas, faltam a ela elementos tomar decisões a respeito.
necessários para isso, principalmente no que diz O único sistema de informação presente no
respeito a estrutura organizacional e a equipe técnica. estado é o SIAGAS (Sistema de Informação de Águas
As demais fraquezas elencadas são decorrentes dessa Subterrâneas) administrado pela CPRM, que dentre
estrutura falha e do pequeno quadro técnico. Como as várias informações presentes está a quantidade
se mencionou anteriormente, a outorga de direito de de poços perfurados no estado do Piauí: 29.435.
REGA, Porto Alegre, v. 15, e5, 2018

O banco de dados da SEMAR registra pouco mais está abaixo de 500 mg/L, o que são consideradas águas
de 8 mil usuários cadastrados, sendo 90% para águas doces. Se considerar a capacidade de exploração apenas
subterrâneas. Ou seja, há um grande número de usuários dos três principais aquíferos (Cabeças, Serra Grande,
irregulares no estado, em que não se conhece a sua sistema Poti/Piauí) relatada no PERH (SECRETARIA
demanda, os seus usos e as fontes utilizadas. O Plano DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
Estadual (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), que é de
RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 4.000 hm3/ano, e a população estimada para o ano de
2010) chama atenção, quando da construção dos cenários 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
de esgotamento das potencialidades, que é esperado E ESTATÍSTICA, 2017) - 3.219.257 hab. - tem-se uma
uma média de 2.057 pedidos de outorga para águas disponibilidade per capita de 1.242,52 m3/hab/ano;
subterrânea por ano, entretanto a realidade mostra o que confere uma situação relativamente confortável
que essa média é de apenas 196 pedidos, o que leva o ao estado, principalmente se comparado com regiões
PERH a supor o seguinte: (i) o crescimento anual de áridas da Ásia e África cuja disponibilidade está abaixo
poços não segue a taxa de crescimento estimada; (ii) a de 1.000 m3/hab, considerando tantos rios quanto
lei nº 5165/2000 não está sendo cumprida; (iii) ambas aquíferos (NAGARA et al., 2015).
hipóteses são verdadeiras. Essa falta de controle no O principal risco está relacionado com a contaminação
uso é preocupante, pois acarreta na superexploração dos aquíferos e a superexploração. O primeiro, não
de aquíferos, rebaixamento dos níveis piezométricos, há muitos estudos a respeito, embora a profundidade
e, em situações mais críticas, subsidência dos solos; dos aquíferos seja grande, torna-se necessários estudos
como relatado anteriormente. ao seu respeito. Foram encontrados dois estudos
sobre vulnerabilidade. O primeiro caracteriza a
Oportunidades (Opportunities)
vulnerabilidade dos aquíferos existentes na capital
Pela figura 07, as oportunidades destacadas para a
Teresina (Piauí e Pedra de fogo) com uma vulnerabilidade
gestão de águas subterrâneas são: (i) grande disponibilidade;
variando de baixa a moderada, tendo como principal
(ii) CGEO – Centro de Geotecnologia Ambiental
ponto de poluição a disposição in situ de efluentes
e Fundiária do Estado do Piauí; (iii) ZEE-Piauí;
(iv) Programas de pagamentos por resultados; domésticos (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE
e (v) Empréstimo com o Banco Mundial. E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO
Segundo o Plano Estadual (SECRETARIA DE PIAUÍ, 2007). Já o segundo, relata a vulnerabilidade
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO do aquífero Serra Grande, estando mais suscetível à
ESTADO DO PIAUÍ, 2010), estudos feitos pela CPRM contaminação na sua zona de recarga, mas à medida
(SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL, 2015), os que se torna confinado seu índice de vulnerabilidade
aquíferos possuem uma boa disponibilidade hídrica, com vai diminuindo (SERVIÇO GEOLÓGICO DO
produção média a alta e uma boa qualidade das águas. BRASIL, 2012). Quanto a superexploração, estudos
O Relatório da CPRM (SERVIÇO GEOLÓGICO como o de Vidal (2003) mostram o rebaixamento dos
DO BRASIL, 2015) destaca que a produção é maior níveis piezométrico dos aquíferos. No caso, o autor
para a parte confinada dos aquíferos Cabeças, Serra constata um rebaixamento de 30 m no aquífero Serra
Grande e Sistema Poti/Piauí; com vazões superiores Grande no município de Picos. Já o Plano Estadual
a 100 m3/h. O Plano Estadual (SECRETARIA DE (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), mostra
DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010) chega a relatar que tanto o Serra Grande quanto o Cabeças sofreram
uma vazão de até 600 m3/h para o aquífero Cabeças. um rebaixamento de aproximadamente 100 m na
Com relação à qualidade, nota-se uma concentração zona oriental entre as décadas de 1970 a 2000. Vale
de sólidos totais superior a 1000 mg/L apenas na parte lembrar ainda, que o uso descontrolado faz o Plano
sudeste do estado, onde se situa o escudo cristalino, e ao Estadual (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE
norte, próximo ao litoral. Nas demais, a concentração E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO
Monteiro, P. B. C. L.; Cabral, J. J. S. P. ANÁLISE SWOT DA GESTÃO DE ÁGUAS...

PIAUÍ, 2010) estimar a vida útil do sistema aquífero de consolidação, preservação permanente e restrição
Poti/Piauí em 8,6 anos na bacia do rio Longá. de uso. Assim, a utilização do ZEE poderia ser útil
O segundo ponto mencionado é sobre o Centro de para delimitar as zonas de proteção e restrição de uso
Geotecnologia Ambiental e Fundiária do Piauí – CGEO. dos aquíferos, incrementar a análise dos pedidos de
Esse novo centro pretende ser um grande banco de dados outorga de direito de uso, e auxiliar na identificação
com informações sobre os recursos naturais do estado de ecossistemas dependentes de águas subterrâneas -
do Piauí, além de contar com informações sobre o uso ecossistemas que dependem da expressão das águas
e ocupação do solo e a distribuição de terras no estado. subterrâneas para manutenção dos seus processos
Como CGEO pretende também trazer informações ecológicos (RICHARDSON et al., 2011).
sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), pode-se Os programas de incentivo para o fortalecimento
tornar uma importante ferramenta para a fiscalização da gestão de recursos hídricos promovido pela Agência
do órgão gestor de recursos hídricos. Ademais, pode Nacional de Águas (ANA) são outro ponto que
fornecer informações atualizadas sobre a situação dos pode melhorar a gestão de águas subterrâneas. Esses
recursos hídricos e informações espacializadas sobre o programas, nomeados genericamente de Programas
seu uso. Singh (2014) lembra que as ferramentas GIS de Pagamentos por Resultados, apresentam um
podem ser utilizadas em consonância com os modelos ponto em comum: é feito um acordo entre a ANA e
de simulação para melhor caracterização dos parâmetros o órgão gestor do estado, geralmente oficializado por
hidrológicos e hidrogeológicos. Nesse sentido, pode-se decreto, no qual o segundo se compromete a cumprir
citar o trabalho de Neres et al. (2011) que utiliza a determinadas metas, devendo a primeira premiá-la com
ferramenta para caracterização hidrogeoquimica dos recursos financeiro a cada meta cumprida. São vários
aquíferos costeiros em Cabo Frio (RJ). os programas da agência financiados nesse sentido,
Aliado a isso, há também o Zoneamento como: o Progestão, Procomitê, PNQA e Qualiágua
Ecológico-econômico do estado, em que foi executado e Pagamentos por serviços ambientais (PSA). Aqui
um macrozoneamento do estado, sendo detalhados serão abordados os três primeiros.
10 municípios da macrorregião dos Cerrados. O projeto O Progestão é o mais amplo dos três programas e
foi concluído em 2015 e teve os objetivos de apresentar visa a gestão propriamente dita dos recursos hídricos.
um retrato das potencialidades e vulnerabilidades dos Primeiramente os estados foram agrupados em quatro
meios natural, socioeconômico e ambiental. O ZEE tipologias, que relaciona a complexidade do processo
permite a espacialização dos atributos ambientais, suas de gestão com a estrutura institucional (AGÊNCIA
potencialidades, vocações, fragilidades e conflitos. NACIONAL DE ÁGUAS, 2013), e para cada tipologia
Vasconcellos, Hadad e Martins Junior (2013) lembram foram estabelecidas metas diferentes, de acordo com
que, por ser um instrumento de organização territorial, o nível de gestão. O programa, então, estabeleceu
o ZEE se torna muito útil para as várias políticas uma série de metas que os estados deveriam cumprir
ambientais do Brasil, pois elas se preocupam em ao longo de cinco anos, sendo as metas progressivas
estabelecer zoneamentos que orientem o uso do solo de e cumulativas. O programa avalia diversos aspectos
forma sustentável em áreas ambientalmente sensíveis. da gestão de recursos hídricos, desde a legislação até
Pereira et al. (2011) destacam que com o ZEE é possível mesmo a situação do balanço hídrico. O Procomitê
orientar a formulação de politicas públicas setoriais é voltado ao fortalecimento dos comitês de bacia e
com maior precisão e consistências, além de fornecer o pré-requisito para fazer parte do programa é a sua
indicadores e índices, que condessam informações, existência de comitês de bacias antes da criação do
para nortear o monitoramento, acompanhamento programa (II, art. 2º, resolução ANA nº 1.595, 19 de
e avaliação do planejamento do espaço territorial. dezembro de 2016 - AGÊNCIA NACIONAL DE
Um exemplo disso foi a proposta de zoneamento ÁGUAS, 2016). Já o PNQA (Programa Nacional de
elaborada por Rovani e Vieira (2017) que utilizam Qualidade da Água), mais especificamente o Qualiágua,
dados de solos, geologia, populacionais, de saneamento, visa o aporte financeiro aos estados desde que esses
recursos hídricos entre outros para estabelecer as zonas realizem o monitoramento qualitativo dos rios.
REGA, Porto Alegre, v. 15, e5, 2018

Esse incentivo financeiro gerado através desses hidráulicas a fim de aumentar a oferta hídrica. A SEMAR,
programas se torna essencial para a gestão de recursos que é o órgão gestor de recursos hídricos, atua também
hídricos, uma vez que os órgãos gestores contam na promoção de obras hidráulicas, vide, por exemplo,
com pouco recursos financeiros para executar suas a construção das adutoras de Bocaina/Piaus II, que
ações. A SEMAR, por exemplo, no ano de 2014 é de sua responsabilidade. Isso prejudica a gestão de
havia arrecado apenas R$ 154.498,46; derivados das recursos hídricos, enfraquece o órgão gestor e dificulta
taxas de análise de pedidos de outorga, enquanto os a implementação da Política Estadual. No caso, ainda,
recursos do PROGESTÃO por ano representavam da SEMAR há o questionamento ético, uma vez que
R$ 750.000,00; ou seja, quase cinco vezes maior. o órgão responsável pelo licenciamento ambiental é
O entrave principal a execução desses programas é que o mesmo que constrói. Ainda é preciso citar a lei nº
o órgão gestor deve ser o coordenador das ações, como 6.995, de 17 de março de 2017 (PIAUÍ, 2017), que
se viu anteriormente, a SEMAR já concentra diversas definiu programas e investimentos estratégicos e com
funções sem a devida capacidade para cumpri-las; não à eles, criou coordenadorias estratégicas para cuidar de
toa, apesar de manifestar interesse aos três programas, o cada programa. Uma delas foi a Coordenadoria de
órgão apenas aderiu ao PROGESTÃO (segundo ciclo) Recursos Hídricos, cujas as funções e competências
e, mais recentemente, ao PROCOMITÊ. Todavia, vão de encontro às competências da SEMAR. Dentre
como as metas desses programas são progressivas e
os objetivos da Coordenadoria de Recursos Hídricos
proporcionais, a SEMAR deve encontrar problemas
estão: (i) a conservação e gestão dos recursos hídricos
para o cumprimento delas pelos motivos já esclarecidos.
em articulação com a política ambiental, e (ii) implantar
Nessa mesma linha de raciocínio, pode ser citado
o sistema estadual de monitoramento e os planos
o empréstimo feito pelo estado com o Banco Mundial
diretores de bacias; ou seja, funções do órgão gestor,
que tem como objetivo melhorar a gestão de diversas
estabelecidas em sua lei de criação.
áreas, dentre elas a gestão ambiental. É através desse
O Plano (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE
empréstimo que está sendo desenvolvido o CGEO.
Para a gestão de recursos hídricos, o principal projeto E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO
refere-se ao cadastramento de todos os usuários de PIAUÍ, 2010) ainda relata a falta de definição sobre
águas subterrâneas, além da elaboração de diversos a gestão de obras hídricas, exemplificando casos de
estudos na área. Um projeto ambicioso, mas que pode barragens construídas, mas que não se sabe qual
trazer diversos benefícios para a gestão, entretanto o o órgão responsável pela sua gestão. Para o Plano
principal gargalo continua sendo a pequena capacidade (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS
operativa da SEMAR. HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), é
urgente uma solução institucional para lidar com esse
Ameaças (Threats) problema. Na sua proposta, considera que a SEMAR
A principal ameaça encontrada é quanto a pulverização deveria cuidar dos sistemas de águas bruta, devendo
de competências. De acordo com o Plano Estadual em sua estrutura contar com uma célula para essa
(SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS função. Entretanto isso só seria possível quando do
HÍDRICOS DO ESTADO DO PIAUÍ, 2010), há aumento da capacidade operativa do órgão. Outra
uma enorme quantidade de instituições presentes forma de contornar o problema seria também o órgão
no estado que direta ou indiretamente interferem na buscar acordos, termos de cooperação com as demais
gestão de recursos hídricos, sem, contudo, essa função entidades a fim de centralizar a gestão na sua escala de
estar prevista no seu rol de competências. A Secretaria competência. Um bom exemplo disso são os contratos
de Planejamento (SEPLAN) e de Saúde atuam na de gestão firmados entre a ANA e as agências de bacias
promoção e perfuração de poços tubulares, enquanto de rios federais, regulado pela lei nº 10.881; de 09 de
órgãos como o Instituto de Desenvolvimento do Piauí junho de 2004 (BRASIL, 2004). Com a celebração
(IDEPI) exercem atividade de planejamento e gestão de um contrato de gestão, ambos os órgãos teriam
quando deveriam, na verdade, ser responsáveis por obras obrigações e metas a cumprir, sob um programa
Monteiro, P. B. C. L.; Cabral, J. J. S. P. ANÁLISE SWOT DA GESTÃO DE ÁGUAS...

de trabalho, sendo que o órgão delegatário deveria ESTADO DO PIAUÍ, 2010) estabelece alguns programas
apresentar um relatório das atividades executadas. nesse sentido, como o incentivo a coleta seletiva para
Ainda como ameaças à gestão de águas subterrâneas mitigar os pontos de poluição, o controle da água na
está a fraca interação entre as demais políticas do irrigação e do uso de agrotóxicos, além de incentivar
estado. Segundo o Projeto Governanças das Águas acordos e convênios com outras instituições a fim de
Subterrâneas (FOOD AND AGRICULTURAL fortalecer a Política Estadual, contudo desde a sua
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, produção foram implementados poucos projetos como
2016), para o fortalecimento da governança é necessário o tamponamentos dos poços jorrantes e estudos para
estabelecer links essenciais, ou seja, identificar a relação construção de adutoras. Não houve ações efetivas de
entre as águas subterrâneas e outras fontes de recursos
modo a propiciar a integração entre outras políticas.
hídricos e com outros setores e como eles interferem
No saneamento básico, por exemplo, grande parte do
na gestão das águas subterrâneas. São exemplos disso,
estado é abastecido por águas subterrâneas – 78,92%
a gestão integrada com as águas superficiais, com o
(BRASIL, 2016) -, contudo a situação do esgotamento
meio ambiente, as políticas de saneamento básico,
com a gestão do uso e ocupação do solo, do espaço sanitário é precária, a rede não chega a 20%. A capital
subsuperficial, mudanças climáticas e energia elétrica. Teresina detém o maior percentual, com 21,17%
Estima-se que as águas subterrâneas sejam responsáveis de atendimento (BRASIL, 2016). Cidades como
por 36% de todo o volume utilizado na irrigação (FOOD Bom Jesus, Demerval Lobão e Luís Correia têm
AND AGRICULTURAL ORGANIZATION OF de 60 a 90% de sua rede de esgoto composta por
THE UNITED NATIONS, 2016), principalmente soluções individuais (fossa séptica e sumidouro), que
impulsionados em regiões áridas e semiáridas devido caso não sejam construídos adequadamente podem
ao avanço das tecnologias de campo (LLAMAS; contaminar as águas subterrâneas, como já acontece
MARTINEZ-SANTOS, 2005). Shah et al. (2008) em alguns locais em Teresina (SECRETARIA DE
afirmam que a captação de águas subterrâneas para MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
irrigação em Gujarat, na Índia, aumentou 585% entre DO ESTADO DO PIAUÍ, 2007).
1971 e 2001. Os autores relatam as mudanças sofridas O último ponto destacado é quanto às diferentes
no meio rural após as alterações na política de energia demandas pelo uso da água. De maneira geral, a
elétrica. O governo passou a controlar o volume captado maioria dos pedidos para outorga são para consumo
de águas subterrâneas a partir da energia elétrica na humano (uso doméstico), porém a depender da região
região, premiando usuários que investiam na recarga é possível que outros usos se destaquem, como se pode
dos aquíferos e punido aqueles com um consumo ver pelas figuras 03 a 06. Segundo o levantamento feito
abusivo a partir das tarifas de energia (SHAH et al., entre os anos de 2016 e 2017 relacionado ao volume
2008). Han et al. (2016) correlacionando a poluição
outorgado, nota-se que para a macrorregião Cerrados
das águas subterrâneas e os locais de construção e
há uma forte demanda para irrigação, enquanto para
operação de aterros sanitários na China, concluíram
no Meio Norte há uma maior diversidade de uso e para
que foram detectados 96 tipos de poluentes nas águas
Teresina, o uso industrial se destaca. Nesse levantamento,
subterrâneas próximas a aterros, sendo 22 mais nocivos.
Já Kebede et al. (2017) chamam a atenção para a o Litoral apresentou uma demanda diferente das demais
importância em entender e caracterizar a interação entre macrorregiões, classificada como outros. Além disso,
as águas superficiais e subterrâneas. Os autores citam os como os lençóis freáticos estão a pouca profundidade
problemas encontrados na bacia do rio Nilo por causa do solo, a região é mais vulnerável a poluição e a
da falta de uma gestão integrada como, o aumento da intrusão salina (PFALTZGRAFF; BRANDÃO;
salinidade das águas dos aquíferos e alteração na biota TORRES, 2010). É preciso que o órgão gestor esteja
após a construção de barragens na bacia. atento às demandas de cada região quando da gestão
O Plano Estadual (SECRETARIA DE MEIO de recursos hídricos para que possa estabelecer ações
AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO compatíveis e adequadas a cada região.
REGA, Porto Alegre, v. 15, e5, 2018

4. CONCLUSÕES sem uma rede de monitoramento e um grande


número usuários irregulares a análise dos pedidos
No presente artigo, mostrou-se como a análise de outorga é simplista e se concentra basicamente
SWOT pode ser usada para a gestão de recursos na produção do poço. Ainda se frisa a falta de um
hídricos, a fim de compor um diagnóstico da situação sistema de informação capaz de armazenar, processar
atual dessa. A construção de uma Matriz SWOT é e divulgar os dados sobre águas subterrâneas de
interessante porque oferece subsídios para a elaboração forma clara e objetiva a população incentivando a
de um planejamento estratégico a fim de fortalecer sua participação na gestão.
a gestão, uma vez que mostra os principais pontos Em oportunidades, foram listados (i) grande
fortes e fracos da gestão. Além disso, é um método disponibilidade; (ii) CGEO; (iii) Programas de
simples e versátil que pode ser usado nas mais diversas pagamentos por resultados; e (iv) Empréstimo com
áreas de conhecimento. A sua construção é baseada o Banco Mundial. Com uma população de pouco
em quatro cenários a partir da análise dos ambientes mais de 3,0 milhões de habitantes e aquíferos de
interno e externo. O primeiro refere-se à fatores cujo extensão regional, o subterrâneo piauiense tem uma
sucesso ou fracasso dependem da atuação da empresa, disponibilidade per capta de 1.242,52 m3/hab/ano,
já o segundo, a fatores não controláveis pela empresa, contudo o número de usuários irregulares e a falta de
mas com capacidade para influenciá-la de modo controle no uso tem gerado situações adversas como o
positivo ou negativo. Assim, utilizou-se a ferramenta rebaixamento acentuado nos aquíferos Cabeças e Serra
para produzir um diagnóstico da situação atual da Grande e a redução da vida útil no sistema aquífero
gestão de águas subterrâneas no estado do Piauí. Poti/Piauí. o Centro de Geoprocessamento e o ZEE
No cenário forças elencou-se os seguintes fatores: propiciam um incremento quando da análise dos
(i) Política Estadual de Recursos Hídricos, em que é pedidos de outorga, e podem facilitar a fiscalização, o
destacado o capitulo destinado às águas subterrâneas, monitoramento e até mesmo a elaboração de planos
o seu caráter público e a separação entre o direito de para as águas subterrâneas considerando cada uma das
uso e ocupação do solo; (ii) Plano Estadual de Recursos particularidades das regiões do estado. Os Programas de
Hídricos, destacando o diagnóstico e prognóstico pagamento por resultados, sob coordenação da ANA,
sobre as águas subterrâneas e os aquíferos presentes e o empréstimo com o Banco Mundial conferem ao
no estado, embora tenha se ponderado quanto a idade órgão recursos financeiros para realizar as atividades
das informações e a necessidade de atualização do da gestão. Além disso, o ProComitê pode ajudar no
Plano; e (iii) a adoção do CNARH, como forma de fortalecimento da gestão participativa, uma vez que
ter um sistema informatizado para melhor controle foca na atuação dos comitês de bacias.
dos usos e volumes captados. O último cenário são as ameaças. Nele foram
Para o cenário fraquezas, os pontos destacados elencados: (i) pulverização de competências; (ii) fraca
foram: (i) fraca atuação do SEGERH, (ii) concentração integração com outras políticas; (iii) diferentes
de forças na aplicação da outorga, (iii) grande número demandas das regiões do estado. Com a fraca atuação
de usuários irregulares, (iv) ausência de uma rede de do órgão gestor, existem várias outras instituições
monitoramento, e (v) ausência de um sistema de no estado que acabaram por realizar suas funções, o
informações. O SEGERH é composto pelo Conselho que acaba contribuindo para o enfraquecimento da
Estadual de Recursos Hídricos, comitês de bacias e gestão de recursos hídricos. Nota-se também pouca
a SEMAR, contudo há falhas na sua atuação. Nos integração com as demais políticas aplicadas no
dois primeiros é notado a pouca participação dos estado. Como se mencionou, identificar e estabelecer
membros, enquanto a SEMAR sofre com um acumulo os links entre a gestão de águas subterrâneas e outros
de funções, mas sem um corpo técnico suficiente componentes poderia ser benéfico a primeira e
para isso. O organograma do órgão gestor acaba possibilitar novas formas de controle de uso e proteção
privilegiando a outorga de direito de uso, contudo das águas subterrâneas. As diferentes demandas do
Monteiro, P. B. C. L.; Cabral, J. J. S. P. ANÁLISE SWOT DA GESTÃO DE ÁGUAS...

estado relacionam-se principalmente com a outorga 5. AGRADECIMENTOS


e a elaborar diretrizes e estratégias adequadas para
cada região. Os autores agradecem a Secretaria de Meio Ambiente
Assim, com a elaboração da Matriz SWOT é e Recursos Hídricos do Estado do Piauí (SEMAR)
possível perceber os principais fatores que podem pelas informações prestadas, à Agência Nacional de
influenciar na gestão, consequentemente, pensar em Águas (ANA), à CAPES e à Universidade Federal de
ações a fim de aumentar ou diminuir essa influência Pernambuco (UFPE) pela promoção do mestrado
na medida em que a interação se dá de maneira Profissional em Gestão e Regulação de Recursos
positiva ou negativa. Hídricos (ProfÁgua).

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Pedro Benjamin Carreiro Lima Monteiro Universidade Federal


de Pernambuco.
email: [email protected]
Contribuição do autor:
Concepção do trabalho, redação do manuscrito,
levantamento bibliográfico e compilação dos dados.
Jaime Joaquim da Silva Pereira Cabral Universidade Federal
de Pernambuco.
email: [email protected]
Contribuição do autor:
Orientador do mestrando; revisão do manuscrito,
discussão dos dados coletados.

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