TCC Vers o Final
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UM ESTUDO A
PARTIR DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
(IDEB).
INTRODUÇÃO
Este trabalho traz uma pesquisa sobre determinados aspectos da qualidade da
educação brasileira, em uma análise feita a partir do IDEB, o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica, o mais importante indicador de qualidade
educacional no país. Estuda a relação dos indicadores com o conceito de qualidade
educacional, instituído pelos padrões sociopolíticos da sociedade contemporânea.
Para cumprir com os objetivos da pesquisa realizamos análise documental das
fichas técnicas do Inep assim como da sua parte histórica para identificar a metodologia
utilizada para a obtenção das metas intermediárias e projeções do IDEB. E por meio da
análise bibliográfica de artigos e livros publicados por autores que contemplam o tema
da educação. Escritos de Carlos Rodrigues Brandão (1989), Paulo Freire (2001) e
Pedro Demo (2000) compõem as principais referências usadas na construção do
trabalho.
Assim, buscamos neste estudo entender o que definirá de fato a educação qual
seria o pivô para a formação desta revolução nas últimas décadas no setor, e o fator ou
fatores determinantes na definição desse próprio modelo. Tendo como objeto de
pesquisa a concepção de qualidade educacional a partir do IDEB, questiona: para quê
e para quem se destina essa qualidade educacional?
O trabalho está estruturado em três tópicos que são seus pontos centrais,
interligados entre si: O “Conceito de Educação de Qualidade”, discorre uma breve
análise sobre o padrão de qualidade que é buscado, bem como a motivação deste
modelo de educação ter sido escolhido para implementação e a quem poderá
favorecer. “Avaliação em larga escala” é o tópico que abrange a instauração de intensas
discussões em torno da educação, que teve seu estopim na década de 1990 gerando
muitas mudanças na área da educação, revelando um forte interesse com a qualidade,
na tentativa de compreender as reformas educacionais e as avaliações em larga
escala. E o último deles, “Padrão de Educação do IDEB” que irá se concentrar na
educação estabelecida nas escolas contemporâneas, tendo como eixo o interesse na
implementação e desenvolvimento de um modelo educacional de qualidade e unificado.
Esboçando o que é valorizado neste modelo de ensino, no que ele foca e a
funcionalidade deste sistema de educação.
A educação no seu sentido mais genuíno pode existir em qualquer lugar desde
que se possibilite, como aponta Carlos Brandão, (...) “haver redes e estruturas sociais
de transferência de saber de uma geração a outra’’(BRANDÃO, 1989, p.11), sem que
obrigatoriamente se faça necessário o uso de processos formalizados de ensino. Isso
porque a educação em sua essência é um fenômeno complexo e abrangente que existe
desde que os primeiros homens decidiram andar em grupos. Não se tratando de um
objeto, com formato e metodologia individual.
Desde seu surgimento na sua organização mais simplista e rudimentar, a
educação percorre um processo de desenvolvimento em que sofreu, e sofre mudanças
ao longo do tempo e da formação da humanidade. Sem dúvidas a alta formalização do
ensino na atualidade é uma de suas características mais marcantes:
[...]não foi a educação burguesa que criou a burguesia, mas a burguesia que,
emergindo, conquistou sua hegemonia e, derrocando a aristocracia,
sistematizou ou começou a sistematizar sua educação que, na verdade, vinha
se gerando na luta da burguesia pelo poder. A escola burguesa teria de ter,
necessariamente, como tarefa precípua dar sustentação ao poder burguês
(FREIRE, 1981,p.28).
Este evento marca o momento em que muitos países, inclusive entidades que
não são ligadas à educação demonstraram uma aguçada preocupação com ela, se
unindo em prol de um modelo padronizado e entrelaçado ao termo qualidade, estendido
para atender toda a demanda dos diferentes países.
Educação de qualidade é um termo frequentemente citado em discursos
políticos, o que é natural visto que é imprescindível para o crescimento socioeconômico
de qualquer país. O que se precisa frisar, no entanto, é como poderia ser imprimido em
um determinado modelo de ensino as bases, a qualidade e a metodologia de maneira
que se esteja suprindo realmente a todos? Pois sendo ele unificado não tem como ser
próximo nem da realidade, nem das necessidades dos diferentes grupos que o modelo
contempla.
Unificar o conceito de qualidade, ou seja, estabelecer um padrão que possa
servir a todos deve ser uma missão quase improvável, segundo Davok: “qualidade em
educação, no marco dos sistemas educacionais, admite uma variedade de
interpretações dependendo da concepção que se tenha sobre o que esses sistemas
devem proporcionar à sociedade’’ (DAVOK,2007,p.506). Concretizar esta definição
complica-se, pois, o processo de qualificação envolverá comparação e quase sempre
as características consideradas as ideais para um determinado grupo podem não ser as
mesmas para outro, por admitir essa variação e não ser uma ciência exata, podemos
aspirar que o que pesa na tomada de decisões pode ter a ver com influências que
inculcam na educação interesses totalmente alheios a sua propriedade:
1
Os dados e citações utilizados no trabalho, de documentos contidos no Portal do INEP relacionados a
parte histórica da instituição, sofreram alterações no seu conteúdo na última atualização feita na página.
Ocorrendo a retirada de algumas informações que continha anteriormente.
O INEP, já na sua fundação, mostrou que a educação ganha atenção de forma
substancial a partir da percepção de uma nova necessidade que surgia; a de suprir a
demanda do mercado de trabalho. Criado num momento em que o país passava pelo
advento da indústria, era lógico e indispensável que os trabalhadores dessa indústria
que acabava de se iniciar precisariam de preparo e capacitação, algo que até então as
classes que seriam mão de obra industrial nunca haviam experimentado.
Conferindo-nos um primeiro indício de que as motivações das reformas educacionais
podem estar intimamente ligadas ao âmbito econômico.
Em 1939 já realizaram- se as primeiras publicações dos chamados Estudos
Educacionais do INEP, que tratava- se do registro da situação do ensino primário que
levou em conta o período de 1932-1936:
Com uma estrutura austera de apenas quatro funcionários, incluindo o
diretor-geral, o Inep realiza seu primeiro concurso para contratar técnicos. Neste
mesmo ano, o instituto publica o Boletim n.º 1, com o registro da situação do
ensino primário de 1932 a 1936 no Brasil. 70% da população do país era
analfabeta. (BRASIL, História Inep,2020, s.p).
A realidade que o Brasil dispunha naquele momento não era nada positiva, com
quase três quartos da população analfabeta a maioria dos brasileiros não tinha acesso
ao ensino básico, e é custoso crer que um setor que esteve estagnado por tanto tempo
migrou para o status de assunto central do governo, e que este dirigiu um forte e
repentino interesse pela educação puramente movido pela preocupação com a taxa de
analfabetismo.
Então em 1941, será atribuída ao INEP oficialmente a função de elaborar
políticas públicas para a educação e organizar cursos para capacitação dos
professores. A instituição que atualmente é uma autarquia, sofreu muitas mudanças ao
longo da sua história, diretamente ligada ao Estado acompanhou e foi afetada por
também todas as trajetórias dos diferentes governos que estiveram em vigor.
A instituição teve seus ápices e um ponto marcante que sinalizou grandes
avanços na área da educação foi o momento em que foi presidido por Anísio Teixeira,
ele que decididamente foi um apoiador e incentivador da pesquisa:
Além de implantar o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), no
Rio de Janeiro, e centros regionais em Recife, Salvador, Belo Horizonte, São
Paulo e Porto Alegre todos os centros regionais continham uma biblioteca de
educação, um serviço de documentação e informação pedagógica, um museu
pedagógico e os serviços de pesquisa e inquérito. Não parando por aí ele foi o
autor do Plano de Construções Escolares que foi implantado no Sistema
Educacional de Brasília (Caseb), o qual concebeu a rede de jardins de infância,
escolas classe e escolas parque. (BRASIL, História Inep, 2020, s.p).
Por ter sido uma figura de grande inspiração e de inegável devoção à educação,
anos mais tarde em 2001 como uma forma de homenagear o ex-diretor, o Senado
aprovou a inclusão do seu nome no instituto que assim passou a chamar-se Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Ao longo da história entre avanços, perdas e ganhos grandes marcos do instituto
foram se concretizando, como em 1982 o INEP assume o serviço das estatísticas
educacionais. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é elaborado em
1990 e em 2000 é realizado pela primeira vez o Programa Internacional de Avaliação de
Alunos (Pisa) sob a coordenação do instituto, até a criação do IDEB:
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Nota Técnica 1;Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
É uma avaliação objetiva e os números obtidos são o que fazem a classificação
da educação básica brasileira, também com esses números se definem os problemas
das escolas e se projetam as possíveis soluções. Com o objetivo de atingir a média dos
países desenvolvidos, e este continua sendo um dos mais fortes propósitos mesmo
quando em 2000 com a realização do primeiro (Pisa) Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes o país teve uma colocação no ranking que refletia uma
situação nada positiva no setor.
Holanda* 532 -
[...] o Ideb tem alta correlação com o nível socioeconômico do alunado. Assim,
ao atribuir a esse indicador o status de síntese da qualidade da educação,
assume-se que a escola pode superar toda a exclusão promovida pela
sociedade. Há uma farta literatura que mostra que isso é impossível. Todos os
alunos têm direito de aprender, e os conhecimentos e habilidades especificados
para educação básica devem ser os mesmos para todos. No entanto, obter este
aprendizado em escolas que atendem alunos que trazem menos de suas
famílias é muito mais difícil, fato que deve ser considerado quando se usa o
indicador de aprendizagem para comparar escolas e identificar sucessos
(SOARES, 2011, p.24).
IDEBᵢ= Nᵢ Pᵢ
O cálculo é feito com uma equação que pode não ser compreendida por muitas
pessoas, e a complicação pode ter início justamente pela dupla combinação de dados.
Visto que o índice leva em conta o desempenho dos alunos nas provas e a taxa de
aprovações, um único número demonstra dois aspectos que se relacionam, mas que
não deixam de ser diferentes. As provas focam em língua portuguesa e matemática,
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Nota Técnica 2; Metodologia utilizada para o estabelecimento das metas intermediárias para a trajetória
do Ideb no Brasil, Estados, Municípios e Escolas
sendo que a avaliação é feita a cada dois anos, é aplicada a todos os alunos e cada um
obtém uma nota individual que ao final é somada e origina como produto a média da
escola. E a média das escolas juntas atribuem a nota do município inteiro, e dessa
forma generalizada se produzem as médias dos estados e assim vai até o nível
nacional.
Como no cálculo se considera a média de desempenho do aluno em língua
portuguesa e matemática, são geradas duas notas que precisam formar apenas um
proficiente que só depois fará parte do cálculo final juntamente com o número do
indicador da taxa de fluxo (aprovação). Segundo Soares e Xavier (2013, s.p), ‘‘A
metodologia do Ideb assume que, para tornar comparáveis as proficiências de Leitura e
Matemática, basta fazer com que variem no mesmo intervalo’’.
Tabela 2
Limites Superiores e Inferiores usados para a padronização das notas de Leitura
e Matemática no Ideb
Matemática Leitura
Série
4° 60 322 49 324
Assim num exemplo simplificado uma escola que ofereça apenas as primeiras séries
do ensino fundamental em que alunos da 4ª série (5º ano) que realizaram a Prova
Brasil com as proficiências médias de 206,92 em matemática e 184,52 em leitura.
Tendo então dois números a partir das notas de desempenho, para se padronizar a
proficiência dessa escola é necessário submetê-las a outro cálculo:
Fonte:(Soares e Xavier,2013).
A média das proficiências padronizadas das escolas varia muito menos do que
as notas individuais, enquanto as proficiências padronizadas dos alunos assumem
valores de 0 a 10, o que se consegue pela multiplicação por dez que ocorre no cálculo.
Já as proficiências padronizadas das escolas se concentram em um intervalo de
variação mais restrito porque são estipuladas pelos valores de limite inferior e superior
definidos para a padronização das notas.
Uma escola só pode atingir a nota 10 se todos os alunos tiverem média igual ao
limite superior (Tabela 2). E uma escola só obtém nota 0 se todos os seus alunos
tiverem como nota a proficiência igual ao limite inferior.
Lembrando que após a obtenção do número da proficiência padronizada da
escola como o sistema do Ideb sintetiza dois indicadores; o de rendimento e o de
desempenho em um único número pelo produto dos dois indicadores. Como Soares e
Xavier (2013, s.p) diz ‘‘cria-se, implicitamente, uma equivalência entre diferentes
combinações dos indicadores de desempenho e rendimento’’. Desta maneira:
IDEB= Desempenho X Rendimento = D X R
O chamado rendimento trata-se do fluxo (aprovação), e conforme Soares e
Xavier (2013) o indicador de rendimento ‘‘[...] é um número menor que 1, o IDEB é
sempre menor que o indicador de desempenho. Ou seja, o IDEB penaliza a escola que
usa a reprovação como estratégia pedagógica, atribuindo-lhe valores mais baixos’’
(SOARES e XAVIER, 2013, s.p).
Visto que acontece a combinação de dois indicadores diferentes a soma pode
resultar uma média final não tão confiável, pois o sistema permite que um número
compense outro. Dentro da logística do IDEB uma escola com média de desempenho
baixa pode ter ao final dos cálculos um proficiente padrão mais alto por ter uma média
de aprovação também alta. Assim é possível equilibrar a nota do IDEB diminuindo a
reprovação. E assim, vice-versa, uma escola com a média de desempenho mais alta se
estiver reprovando muito, seu fluxo mais baixo vai baixar o seu proficiente padrão.
O sistema parece ser favorável às instituições que formam alunos dentro do
tempo estipulado, sem atrasos, sem reprovações, e denota até mesmo uma
despreocupação com o próprio desempenho do alunado. O aprendizado parece sair do
foco, afinal como esse tipo de intervenção pode melhorar a qualidade da educação?
Para Davok:
Por outro lado, a expressão “qualidade educacional” tem sido utilizada para
referenciar a eficiência, a eficácia, a efetividade e a relevância do setor
educacional, e, na maioria das vezes, dos sistemas educacionais e de suas
instituições (DAVOK, 2007, p.506).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, este trabalho destaca que o conceito de qualidade educacional supera
esse modelo de educação padronizado eleito parcialmente como superior. Porque a
educação é maior do que isso, ela não pode ser totalmente controlada pelos grupos
dominantes que impuseram este protótipo, o estudo mostra que o sistema de ensino
sofre influências negativas quando executam-se reformas e adaptações na educação
para que esta sirva de apoio para estabelecer e manter a dominância econômica e
social daqueles que concentram o poder. E não desistir da educação é a única forma
de se contrapor a este manejo indiscriminado de indivíduos.
REFERÊNCIAS
ABREU. Cláudia Barcelos de Moura e Silva. Monica Ribeiro da. Reformas para
que? As políticas educacionais nos anos de 1990, o ‘‘novo projeto de formação’’ e
os resultados das avaliações nacionais. Perspectiva, Florianópolis, v.26, n° 2,
523-550, jul.dez/2008.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
1981.
SOARES, J.F. IDEB na Lei? Simon's site, 13 jul. 2011. Disponível em:
<http://www.schwartzman.org.br/sitesimon/?p=2352&lang=pt-br>. Acesso em: jun.
2020.