Artigo Emilse Neves Novo Financiamento
Artigo Emilse Neves Novo Financiamento
Artigo Emilse Neves Novo Financiamento
ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n1-363
RESUMO
Em 2019, o Núcleo de Ampliado à Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) foi
excluído dos programas que teriam custeio garantido dentro do novo financiamento da
Atenção Básica instituído pela Portaria n° 2.979, resultando na publicação da Nota
Técnica n° 3/2020 que explana sobre essa exclusão. A publicação desses documentos,
bem como a importância de divulgar e monitorar as alterações dos custeios em saúde e
seus argumentos resultou no presente trabalho. Desse modo, este estudo objetiva analisar
justificativas apontadas pelos documentos supracitados para a exclusão do Nasf-AB. A
justificativa desse estudo se dá pela necessidade de compreender os impactos advindos
dessa normativa e suas consequências para a atenção integral à saúde da população. Para
elaboração do estudo, utilizou-se a metodologia qualitativa argumentativa através da
análise documental dos referidos documentos. Observou-se que a multiprofissionalidade
e a interdisciplinaridade não estão sendo garantidas e priorizadas, pois dependem
exclusivamente da atuação da gestão municipal para serem implementadas, sem nenhuma
garantia de existência, o que abre precedentes para a precarização do atendimento e
infringi os princípios de resolutividade, descentralização e longitudinalidade da
assistência. Considera-se que a continuidade do Nasf-AB é imprescindível no
atendimento à população, por garantir a implementação das ações características da
Atenção Básica e oferecer qualidade de vida aos usuários através do cumprimento do
princípio da integralidade, e que deve ser uma estratégia inclusa no novo financiamento
da Atenção Básica.
ABSTRACT
In 2019, the Expanded Family Health and Basic Care Center (Nasf-AB) was excluded
from the programs that would have been guaranteed funding within the new funding for
Basic Care established by Ordinance No. 2,979, resulting in the publication of Technical
Note No. 3/2020 which explains this exclusion. The publication of these documents, as
well as the importance of disclosing and monitoring the changes in health care funding
and its arguments resulted in the present work. Thus, this study aims at analyzing the
justifications pointed out by the above-mentioned documents for the exclusion of Nasf-
AB. The justification for this study is the need to understand the impacts resulting from
this regulation and its consequences for the integral attention to the population's health.
To elaborate the study, we used the argumentative qualitative methodology through the
documental analysis of the referred documents. It was observed that multiprofessionality
and interdisciplinarity are not being guaranteed and prioritized, since they depend
exclusively on the performance of municipal management to be implemented, without
any guarantee of existence, which opens precedents for the precariousness of care and
violates the principles of resolutiveness, decentralization and longitudinality of care. It is
considered that the continuity of Nasf-AB is essential in the care of the population,
because it guarantees the implementation of the characteristic actions of Basic Care and
offers quality of life to the users through the fulfillment of the principle of completeness,
and that it should be a strategy included in the new financing of Basic Care.
1 INTRODUÇÃO
O Núcleo de Ampliado à Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) foi criado
pelo Ministério da Saúde (MS) através da Portaria n° 154/2008 e reformulado pela
Portaria n.º 2.436/2017. Trata-se de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar que
atua em conjunto com a equipe de Saúde da Família (EqSF) com intuito de auxiliar e
aprimorar ações de saúde, potencializar ofertas de serviços e compartilhar práticas e
saberes em saúde a fim de ampliar a resolutividade e o escopo de ofertas da Atenção
Básica (AB). A seleção das áreas profissionais da saúde que compõem o Nasf-AB é
definida pelos gestores municipais, seguindo os critérios de prioridade identificados a
partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que
serão apoiadas (BRASIL, 2008; 2017).
Quanto ao financiamento do Nasf-AB, a Portaria n° 154/08 traz “[...] que os
recursos orçamentários [...] façam parte da fração variável do Piso de Atenção Básica
(PAB variável) e componham o bloco financeiro de Atenção Básica” (BRASIL, 2008).
Após a revisão normativa de 2012 (BRASIL, 2012) o Nasf-AB foi incorporado ao
Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ)
e cria mais um tipo de equipe com intuito de contemplar municípios pequenos, incorporar
novos profissionais e diminuir EqSF sob cobertura: NASF 1 é responsável por no mínimo
5 equipes e no máximo 9; NASF 2 por no mínimo 3 equipes e máximo de 4; e NASF 3,
no mínimo 1 equipe e no máximo 2. O PMAQ é um programa do MS, de adesão
voluntária entre os municípios, em formato de ciclos realizado por meio de parceria com
instituições de ensino e pesquisa que avalia e monitora a AB atentando-se à infraestrutura
das Unidades Básicas de Saúde (UBS), profissionais de saúde e usuários. Os municípios
que aderem ao PMAQ recebem importante incentivo financeiro para implantação de
EqSF e Nasf-AB (BROCADO et al., 2018).
A publicação da nova PNAB em 2017 ampliou a responsabilidade do Nasf-AB
para equipes de AB (EqAB), território e usuários, alterando também a nomenclatura da
sigla de “apoio” para “ampliado”, produzindo responsabilidade mútua pelo cuidado, a
fim de ampliar o escopo de ações e contribuir para o aumento da resolubilidade,
capacidade de análise, intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em
termos clínicos quanto sanitários, integrando os diferentes núcleos profissionais que
compõem a AB (MENDES; CARNUT; GUERRA, 2018; BRASIL, 2017).
De acordo com a PNAB 2017, os recursos que integram o PAB Variável
continuariam sendo condicionados à implantação de estratégias e programas da AB para
os municípios que implantarem quaisquer uma das estratégias contempladas pelo piso,
incluindo o Nasf-AB (BRASIL, 2017). Ao incorporar incentivos financeiros referentes à
explicitação de alternativas para a configuração e implementação da AB, especificamente
com a introdução de recursos para equipes de AB que adotam padrões diferentes de ações
2 METODOLOGIA
Para elaboração do presente trabalho, utilizou-se a metodologia qualitativa
argumentativa para analisar e refletir acerca da não adesão do NASF-AB dentro das
estratégias garantidas no novo financiamento da AB. Trata-se de uma análise documental
de duas publicações do Ministério da Saúde: a Portaria n° 2.979/2019 e a NT 03/2020.
A análise documental “[...] envolve a investigação em documentos internos (da
organização) ou externos (governamentais, de organizações não governamentais ou
instituições de pesquisa, dentre outras)” (ZANELLA, 2013, p. 118). Além disso, “[...] se
caracteriza pelo estudo de documentos que ainda não receberam um tratamento analítico
em relação a um determinado objeto de estudo, mesmo que ele já tenha sido analisado
outras vezes sob o olhar de outro objeto de estudo” (CECHINEL et al., 2016, p. 6-7).
Inicialmente foi realizada a análise da Portaria n° 2.979/2019 e da NT n° 03/2020,
para compreender o novo custeio da AB e as estratégias abarcadas e o destaque dos
argumentos presentes para a não adesão ao Nasf-AB. Por fim, realizou-se a discussão
acerca dos argumentos observados e a interlocução com as diretrizes da saúde pública.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Portaria n° 2.979/19 traz em suas considerações iniciais “[...] a necessidade de
ampliação da capacidade instalada e abrangência da oferta dos serviços da AB com atuação
de equipes multiprofissionais” (BRASIL, 2019). Para tal ampliação, institui o Programa
Previne Brasil, o qual estabelece que o financiamento da Atenção Primária (AP) seja
resultado de: “I: capitação ponderada; II: pagamento por desempenho; e III: incentivo para
ações estratégicas” (BRASIL, 2019). Com relação ao ponto III, o Art. 12 da referida
Portaria aponta quais são as estratégias, ações e programas que terão custeio e não citam o
Nasf-AB, sendo o motivo esclarecido com a NT n° 03/2020. Observam-se algumas das
justificativas através do ponto 2.2 da NT, conforme Brasil (2020):
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Nasf-AB, enquanto uma equipe interprofissional, visa um processo de trabalho
compartilhado através de suas diretrizes e responsabilidades de atuação, proporcionando
impactos positivos para a atuação da promoção e prevenção em saúde e para que a
população tenha acesso a um atendimento integral.
A análise documental proporcionou a observação atenta de que os argumentos
para a exclusão de novas equipes Nasf-AB são rasos e incoerentes, pois o novo
financiamento abarca necessidades e métodos que já eram contemplados pelo Nasf-AB
e/ou coloca a liberdade financeira e administrativa acima da qualidade do serviço de saúde
e do acesso da população. Relevante ressaltar que excluir uma das principais estratégias
de interprofissionalidade da AB não garante que a atuação da equipe prioritária ocorra de
maneira integrada, interdisciplinar e multiprofissional, uma vez que será necessário maior
contratação de profissionais para as unidades de saúde, o que não condiz com a realidade
dos municípios de pequeno porte, infringindo os princípios de resolutividade,
descentralização e longitudinalidade da assistência, sem apoio matricial e dependentes da
ampliação da EqSF para ser contemplada com o conhecimento específico de outras áreas.
REFERÊNCIAS