Dissertação MP Patti 2021 Pdf-A
Dissertação MP Patti 2021 Pdf-A
Dissertação MP Patti 2021 Pdf-A
SANTOS
2021
LUCIMARA PATRICIA PATTI
SANTOS
2021
Patti, L. P. Intervenção precoce no transtorno do espectro autista: educação permanente
fortalecendo a rede de cuidado. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo,
campus Baixada Santista, Santos.
Banca Examinadora
Em especial a minha orientadora Prof. Dra. Stella Maris Nicolau que me acompanha desde a
graduação em Terapia Ocupacional.
Agradeço a equipe de trabalho do SIPTEA Amanda Prado Morato, Andrea Prado Cabral
Magalhães, Aline Rodrigues Pires, Edina Lucia Esteves, Anna Paula Quintão Vassão e Erika
Pedrosa pelo apoio em todos os dias de trabalho e pela colaboração que cada uma prestou na
construção dessa dissertação.
Agradeço ao meu esposo João Carlos Calheiros de Melo pelo apoio prestado em todos os
momentos.
Agradeço a toda equipe de gestão de saúde pública do município de Praia Grande pelo trabalho
prestado até aqui à população.
RESUMO
O Ministério da Saúde institui em 2012 a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência que
sistematiza a Linha de Cuidado para a Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no
âmbito do SUS. No município de Praia Grande/SP instituiuse em 2018 o SIPTEA, serviço que,
frente à baixa detecção de risco das crianças com TEA pela Atenção Básica, passa a empreender
ações de Educação Permanente em Saúde junto aos profissionais desses serviços a fim de
sensibilizálos e instrumentalizálos na detecção e intervenção precoce dos sinais de TEA,
qualificando ações junto à criança e sua família ainda na primeiríssima infância, fato que
comprovadamente impacta positivamente no prognóstico. O objetivo dessa pesquisa é
compreender a intervenção precoce no TEA na atenção básica, e os sentidos das ações de
educação permanente em saúde para a mudança na abordagem dos profissionais da Atenção
Básica, com foco no trabalho em equipe e em rede junto às crianças com sinais de risco para
TEA. O estudo realizado teve caráter qualitativo e exploratório com entrevistas
semiestruturadas com nove profissionais da atenção primária, transcritas e submetidas à análise
temática de conteúdo. Foram identificadas cinco categorias: 1) Protocolo de Puericultura na
Atenção Básica: nem todas as equipes seguem as recomendações do ministério da saúde e
incluem a identificação de risco para TEA em suas ações. 2) Intervenção Precoce na Atenção
Básica: há uma tendência em valorizar sua importância, mas como ação dos serviços
especializados. 3) Acesso Avançado na Atenção Básica: equipes se sentem muito pressionadas
para responder às demandas não agendadas e com pouco espaço nas agendas e mesmo energia
para outros trabalhos, como as ações de identificação e intervenção de risco para TEA. 4)
Educação Permanente em Saúde: equipes reconhecem sua importância e identificam algumas
mudanças no processo de trabalho após serem sensibilizados sobre o tema. 5) Plano Terapêutico
Singular: equipes valorizam a construção conjunta com a equipe do SIPTEA de estratégias de
estimulação das crianças identificadas, e da corresponsabilização pelo cuidado. Como produto
técnico dessa pesquisa foram criados dois livretos, um para orientar profissionais da Atenção
Básica em intervenção precoce e outro para contribuir para formação teórica das famílias
inseridas no SIPTEA sobre o processo de intervenção precoce de suas crianças.
Palavras chave: Pessoa com Deficiência; Educação Permanente em Saúde; Autismo; Primeira
Infância; Atenção Primária em Saúde; Intervenção Precoce; Ensino em saúde.
ABSTRACT
In 2012, the Ministry of Health established the Care Network for People with Disabilities that
systematizes the Care Line for People with Autism Spectrum Disorder in SUS. In 2018, in the
municipality of Praia Grande/SP, SIPTEA was established, a Primary Care service responsible
for undertaking Permanent Health Education actions with professionals to sensitize and
instrumentalize them in the early detection and intervention of ASD signs. Qualifying actions
with the child and his family in early childhood, a fact that demonstrably impacts the
prognosis. The objective of this research is to understand early intervention in primary care
and permanent health education actions to change the approach of Primary Care professionals,
with a focus on teamwork and networking with children with signs of risk for ASD. The study
carried out was qualitative and exploratory in nature with semistructured interviews with nine
primary care professionals, transcribed and submitted to thematic content analysis. Five
categories were identified: 1) Childcare Protocol in Primary Care: not all teams follow the
recommendations of the Ministry of Health and include the identification of risk for ASD in
their actions. 2) Early Intervention in Primary Care: there is a tendency to value its importance,
but as an action by specialized services. 3) Advanced Access in Primary Care: teams feel very
pressured to respond to unscheduled demands and with little space on the agendas and even
energy for other jobs, such as actions for identifying and intervening risk for ASD. 4)
Permanent Health Education: teams recognize its importance and identify some changes in
the work process after being sensitized on the topic. 5) Singular Therapeutic Plan: teams value
the joint construction with the SIPTEA team of strategies to stimulate the identified children
and coresponsibility for care. As a technical product of this research, a booklet was created
to guide Primary Care professionals in early intervention. As a technical product of this
research, two booklets were created, one to guide Primary Care professionals in early
intervention and the other to contribute to the theoretical formation of families included in
SIPTEA on the process of early intervention for their children.
Tabela 10. Percepção dos profissionais sobre intervenção precoce na Atenção Básica 64
LISTA DE ABREVIATURAS
AB Atenção Básica
IP Intervenção Precoce
MS Ministério da Saúde
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
2. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 14
2.1. Educação Permanente em Saúde ................................................................................. 14
2.2. Intervenção Precoce no TEA: a realidade do Brasil .................................................. 17
2.3. O Transtorno do Espectro Autista .............................................................................. 24
2.4. Políticas Públicas da PCD no Brasil ............................................................................ 26
2.4.1. O Território da RMBS e o município de Praia Grande ................................................... 28
2.5. Serviço de Intervenção Precoce no TEA SIPTEA ................................................... 33
3. OBJETIVOS ................................................................................................................... 44
3.1. Objetivos específicos ..................................................................................................... 44
4. HIPÓSTESE ................................................................................................................... 45
5. METODOLOGIA........................................................................................................... 45
5.1. Método de Pesquisa ....................................................................................................... 45
5.2. Cenário de Pesquisa ...................................................................................................... 45
5.3. Participantes da Pesquisa ............................................................................................. 46
5.4. Local ............................................................................................................................... 46
5.5. Instrumentos de Coleta ................................................................................................. 46
5.6. Procedimentos ............................................................................................................... 47
5.6.1. Aspectos Éticos ............................................................................................................... 47
5.6.2. Coleta de Dados .............................................................................................................. 48
5.7. Análise de dados ............................................................................................................ 49
6. RESULTADOS ............................................................................................................... 50
6.1. Caracterização dos Participantes ................................................................................ 50
6.2. Resultado das Entrevistas ............................................................................................ 51
6.2.1. Puericultura na Atenção Básica nacional e municipal .................................................... 52
6.2.1.1. Ações de puericultura desenvolvidas no município de Praia Grande e Ações
Preconizadas pelo Ministério da Saúde .................................................................................... 54
6.2.1.2. Grupos de orientação maternoinfantil na puericultura .............................................. 58
6.2.2. Intervenção Precoce na Atenção Básica ......................................................................... 62
6.2.3. O acesso avançado na Atenção Básica............................................................................ 67
6.2.4. Educação permanente em saúde...................................................................................... 70
6.2.5. Plano Terapêutico Singular ............................................................................................. 75
7. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 77
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 85
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 87
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ................................ 96
APÊNDICE B – Roteiro da Entrevista ..................................................................................... 98
APÊNDICE C – Termo de Confidencialidade e Sigilo.......................................................... 100
ANEXO A Carta de anuência emitida pela Secretaria de Saúde Pública do Município de Praia
Grande .................................................................................................................................... 101
ANEXO B Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ..................................................... 102
12
1. INTRODUÇÃO
Cabral (2019) afirma que no campo da infância, embora haja uma demanda crescente
pela defesa de direitos e por políticas públicas, a problemática da criança com deficiência
ainda é bastante invisibilizada. E nesse processo a criança com deficiência vem traçando seus
caminhos, em meio ainda a muitas dificuldades, preconceitos e sem um olhar de urgência para
seu cuidado. Em 1990 é instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que garante
o cuidado especializado em toda a rede de cuidado (ECA, 1990).
De acordo com a portaria 793 de 24 de abril de 2012, que institui a Rede de Cuidados
à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde, temos a fundamentação para
poder direcionar a construção e organização da rede de cuidado da pessoa com deficiência
(BRASIL, 2012a; BRASIL, 2014a; BRASIL, 2014c).
Desde a detecção dos sinais até o diagnóstico propriamente dito, são necessários o
acompanhamento e a intervenção. Para isso, apresentamse a seguir um rol de sinais
de problemas de desenvolvimento (BAIR et al., 2006) e um rol de características
sugestivas de TEA que são encontrados com frequência no histórico clínico e nas
pesquisas com pacientes diagnosticados com TEA (BARBARO; RIDGWAY;
DISSNAYAKE, 2011). Isso não quer dizer que todas as crianças que os
apresentarem necessariamente receberão tal diagnóstico (BRASIL, 2014c).
Em 2017 entra em vigor a Lei 13438, que torna obrigatório o uso de protocolos para
avaliação de risco para o desenvolvimento nos primeiros dezoito meses de vida (BRASIL,
2017b).
A terceira seção deste estudo apresenta a metodologia empregada. A quarta seção trata
da apresentação dos resultados e discussão dialogando com a literatura. Por fim apresentamos
as considerações finais.
14
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A educação permanente em saúde (EPS) foi descrita já há alguns anos antes mesmo
de ser uma proposta para o Brasil. A Organização PanAmericana de Saúde (OPAS)
conceituou a EPS como “um processo dinâmico de ensino e aprendizagem, ativo e contínuo,
com a finalidade de análise e melhoramento da capacitação de pessoas e grupos, frente à
evolução tecnológica, às necessidades sociais e aos objetivos e metas institucionais
(SARDINHA et al., 2013).
conteúdo, tem como objetivo a atualização técnicocientífica. E esta, por sua vez, pode ser
adicionada à educação permanente. Já a educação permanente tem como meta a mudança no
desenvolvimento profissional, o conteúdo a ser abordado emerge da prática, e fundamentase
da pedagogia centrada na resolução de problemas, onde o resultado é a mudança institucional,
a apropriação da ciência na prática (SARDINHA, 2013).
Para tanto, vamos aqui rever as políticas públicas referentes ao assunto no Brasil. O
Estado brasileiro ao lançar a política Viver sem Limites (2012), política de educação
permanente (2004), política de humanização do SUS (2003), diretrizes de cuidados à pessoa
16
autista (2014), diretrizes para estimulação precoce (2016) coloca como meta em todas elas as
ações intersetoriais e intrasetoriais a fim de garantir o princípio do SUS do cuidado integral.
“A Política considera, ainda, que os demais setores e instituições são fundamentais para
a produção de saúde e do seu cuidado” (BRASIL, 2018).
Cabe ao setor da saúde impulsionar esta reflexão e trazer esta necessidade para suas
práticas de cuidado. Assim a articulação intersetorial deve estimular e impulsionar os demais
setores a considerar, na construção de suas políticas específicas, todas as condições de
vulnerabilidades e potencialidades da saúde que afetam a vida do sujeito. Trazendo para
prática a responsabilização dos setores e fazendo com que a saúde componha as agendas de
todas as políticas públicas (BRASIL, 2018).
O eixo operacional desta política pública explica que ter ações intersetoriais significa
“compartilhamento de planos, de metas, de recursos e de objetivos comuns entre os diferentes
setores e entre diferentes áreas do mesmo setor” (BRASIL,2018).
Para iniciarmos esta seção e falar do Brasil, vale apresentar estudos realizados em
Portugal, que tem sido uma fonte importante para compreendermos melhor no que consiste a
intervenção precoce.
Della Barba (2018) demonstra que o conceito de IP tem evoluído bastante nos últimos
20 anos, o que antes os estudos se direcionavam para uma perspectiva centrada nos déficits
das crianças, hoje buscam além disso e também destacam a importância do protagonismo da
família no processo e valorização do contexto natural. Seu estudo demonstra o processo de
construção dos termos de intervenção precoce e estimulação precoce, que no Brasil tem sido
usado como sinônimos, e que observouse em seus estudos juntamente com a pesquisa de
Marini et al. (2018) incoerência entre prática e conceitos teóricos, mas cabe destacar que o
Brasil ainda carece de pesquisas para definição dos termos e as práticas profissionais ainda
são centradas nos déficits, diferente da realidade internacional em que os conceitos e práticas
não se baseiam somente na deficiência. Mas para darmos sequência ao nosso estudo vamos
18
Partindo agora para os conceitos práticos destacamos alguns autores estrangeiros como
Dunst e EspeSherwindt (2016) que definem Intervenção Precoce como:
Uma prestação de apoios (e recursos) às famílias com crianças pequenas por parte
das redes de apoio formal e informal, de forma a capacitar, influenciar e melhorar
de forma direta e indireta o comportamento e funcionamento dos pais, da família e
da criança.
Franco et al. (2007) aponta que o termo intervenção precoce, emerge posteriormente ao
termo estimulação precoce. Na estimulação precoce a preocupação era expor a criança a
situações para o desenvolvimento das funções motoras e sensoriais para a idade. Entendese
hoje a intervenção precoce como algo mais vasto que estimulação precoce, sendo definido
como um conjunto de intervenções dirigidas às crianças até seis anos, com problemas no
desenvolvimento infantil.
Para Franco et al. (2007) o objetivo da intervenção precoce é criar condições que facilite
o desenvolvimento da criança, diminua o risco, colabore com a interação da criança com seu
ambiente familiar, escolar e social.
Para Franco a intervenção precoce apresenta quatro fases, a primeira delas é a fase da
detecção em toda população, de forma sistemática dos indicadores para medidas a serem
tomadas individualmente. A segunda fase, consiste na identificação ou sinalização do atraso
do desenvolvimento ou sinais de um desenvolvimento atípico. A terceira fase se dá a avaliação
multidisciplinar para averiguar o atraso do desenvolvimento e planejar a intervenção. Por fim
temos a quarta fase, onde a intervenção inclui atividades dirigidas à criança, a família e a todo
seu contexto, com propósito de criar condições favoráveis ao seu desenvolvimento (FRANCO
et al., 2007). As políticas públicas caminham neste sentido quando propõem que a intervenção
precoce deve acontecer antes mesmo do diagnóstico, e ainda quando coloca obrigatório o
rastreio de atrasos do desenvolvimento através de protocolos de avaliação na primeira infância
(BRASIL, 2009, BRASIL, 2012a). O Ministério da Saúde preconiza a avaliação a partir da
observação da criança, e entrevistas com os pais e/ou cuidadores, e indica o uso de escalas
padronizadas de avaliação que podem ajudar nesse processo, tais como os instrumentos de
rastreio como Modified Checklist for Autism in Toddlers MChat e Indicadores Clínicos de
Risco para o Desenvolvimento Infantil (Irdi) (BRASIL, 2014c). No documento publicado
pelo Ministério da Saúde em 2014, a intervenção deve acontecer nos primeiros sinais de alerta,
porém nem todas as crianças que apresentarem sinais nos primeiros 3 anos de vida terão o
19
diagnóstico de autismo. A rede de cuidado deve agir com cautela, pois diagnósticos
precipitados podem trazer prejuízos à criança e sua família (BRASIL, 2014c).
De acordo com o Ministério da Saúde o diagnóstico deve ser conduzido por equipe
multiprofissional; ter escuta qualificada, incluindo sua história de vida, configuração familiar,
rotina diária, história clínica, interesses da pessoa e da família e a queixa principal; observação
livre ou em atividades dirigidas, para avaliação de como a pessoa se comunica, como se
relaciona, quais seus interesses (BRASIL, 2015).
Ozonoff, Rogers e Hendren (apud ROGERS & DAWSON, 2014) também concordam
que a intervenção deve iniciar antes mesmo do diagnóstico clínico, uma vez que a intervenção
orientação e avaliação diagnóstica caminham juntas.
Brentani et al. (2013) mostram que apesar de o DSMV1 apontar que os principais
sinais serem em níveis comportamentais, estudos recentes com crianças com alto risco para
TEA, que tinham irmãos mais velhos dentro do TEA, mostraram que é possível identificar
atraso motor, irritabilidade, falta ou excesso de responsividade entre os 6 meses e 12 meses
de vida.
Vamos trazer agora para este estudo o que temos de evidência científica no cuidado da
pessoa autista, em especial em intervenção precoce. A busca por ações baseadas em evidências
é uma preocupação presente na equipe de intervenção precoce de Praia Grande. Estamos
falando de crianças que estão iniciando a fase mais importante de suas vidas que é a primeira
infância, onde a poda neuronal acontece e há grande neuroplasticidade nessa fase, a falta de
conhecimento, de intervenção nessa fase pode trazer prejuízos significativos na vida dessas
pessoas (PIERCE et al., 2016; PELLICANO, 2012).
1
É um manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito
o diagnóstico de transtornos mentais
21
Pierce et al. (2016) demonstram que o cérebro humano passa por mudanças neurais
significativas nos primeiros 3 anos de vida. Existe uma mudança significativa por exemplo,
entre o primeiro e o sexto mês e vai se acelerando até os 3 anos de vida. Os circuitos neurais
passam de conexões simples para complexas que permitem o desenvolvimento da linguagem e
habilidades sociais. Nesse sentido, é importante que a detecção e a intervenção precoce
aconteçam nesse período, pois a densidade sináptica no córtex préfrontal, região responsável
pelo comportamento social, dobra entre o primeiro e segundo ano de vida. A área da linguagem
também apresenta mudanças significativas como a área de Wernicke e Broca, atingindo picos
aos 3 anos de idade, fase que começam a acontecer as podas neuronais.
O estudo das práticas baseadas em evidência científica (PBE), mostrou diversas práticas
relacionadas a abordagens comportamentais, e dentre elas as que se referem a este estudo:
abordagens comportamentais, intervenção naturalística e intervenção implementada por pais
(STEINBRENNER et al., 2020).
Dentre estes modelos vamos apresentar aqui uma, o treinamento de pais. Em relação
ao treinamento de pais, podemos citar a Organização Mundial de Saúde, pois, lançou a Série
de 2016 da revista The Lancet sobre desenvolvimento na primeira infância destacado nos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030. Dentre as práticas baseadas em
evidências científicas aparece o programa de apoio aos pais. Cabe aqui citar diretamente o que
estudo descreve:
Brentani et al. (2013) em seu artigo mostra que o treinamento de pais para estimularem
os filhos, favorece as crianças a aumentarem seu repertório de habilidades sociais, porém nem
todos os familiares se beneficiam deste tipo de abordagem, sendo necessário a avaliação
23
individualizada de cada caso. Apesar de estudos mostrarem que crianças que tiveram a
participação dos pais tiveram mais sucesso que as que não tiveram.
O estudo de Fazzio (2002) é apontado como fator de garantia para generalização das
habilidades avaliadas e ensinadas pelos terapeutas, o treinamento de pais e de outros agentes
do cuidado da criança.
Essa interação com a família também é relatada nas diretrizes de estimulação precoce
do Ministério da Saúde:
O fato de levar para os ambientes naturais da criança o ensino das habilidades, facilita
a instalação do comportamento ensinado e garante a generalização do mesmo. A proposta de
treinamento de pais garante também a vinculação afetiva e a relação horizontal entre terapeuta
e família, proporcionando que o projeto terapêutico singular seja elaborado de acordo com as
necessidades e a realidade de cada indivíduo.
Oliveira et al. (2016) em sua tese discute que ensinar os pais a como lidar com seus
filhos e ensinar a como desenvolver suas crianças socialmente e cognitivamente, coloca a
família em um papel ativo no cuidado, saindo do estado de passividade, de discussão e
apresentação de seus problemas. Esta abordagem consegue garantir a intensividade da
intervenção precoce de maneira natural em seu contexto.
Gomes et al. (2019), realizaram uma pesquisa que mostrou a eficácia de um programa
de intervenção intensiva em um centro brasileiro especializado na intervenção precoce de
crianças autistas. Neste estudo eles compararam dois grupos de crianças e observaram que as
crianças que permaneceram no programa de treinamento de pais obtiveram melhores
resultados no desenvolvimento infantil, mostrando assim a eficácia mais uma vez da
abordagem de treinamento de pais, babás ou estagiários.
De acordo com o documento do Ministério da Saúde, não existe uma única abordagem
a ser privilegiada no atendimento a pessoas com TEA, recomendase que a escolha entre as
diversas abordagem busquem técnicas seguras e de maior efetividade (BRASIL, 2015).
O estudo de Brentani et al. (2013) afirma que é possível identificar os primeiros sinais
do TEA em crianças entre os 18 e 24 meses, pois os sinais nesta fase já estão estáveis, por isso
é preciso que os pediatras, e profissionais que atendem a primeira infância estejam atentos.
Vale ressaltar que o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência Viver
sem Limite, foi lançado no dia 17 de novembro de 2011 (Decreto Nº 7.612). Tal plano, de
caráter interministerial, norteia todas as esferas de atenção à pessoa com deficiência (saúde,
educação, cidadania e etc.). O Plano traz a lógica do cuidado integral, e da ação em saúde
articulada em rede. Além de lançar a proposta da produção do comum, ou seja, todas a
secretarias devem ter suas ações voltadas à pessoa com deficiência pensando em algo comum,
e não a secretaria de educação pensar em ações isoladas, sem envolver as outras secretarias e
viceversa. Nessa lógica também emergem as discussões que tencionam as mudanças de
paradigmas no cuidado (BRASIL, 2014b).
A portaria 793/2012 também traz a proposta da criação dos grupos condutores, sendo
obrigatória a implantação de um grupo condutor regional em cada Diretoria Regional de Saúde
(DRS) do Estado, e deixando facultativa a criação de grupos condutores municipais. A região
da Baixada Santista começou a implantação do Grupo Condutor Municipal (GCM) no
município de Santos (GASPAR, 2017). Posteriormente no município do Guarujá, em
fevereiro de 2017, através do Decreto n° 12.124/2017 (BRASIL, 2012a; GUARUJA, 2017).
Em Praia Grande ainda não foi criado o grupo condutor municipal, que poderia ser um
fortalecedor da construção da rede de cuidado. Porém o município encontrase em processo
de construção de rede e linha de cuidado especificamente para a pessoa com Transtorno do
espectro autista, através do SIPTEA.
A rede da pessoa com deficiência é composta pela atenção básica em saúde, atenção
especializada, atenção hospitalar de urgência e emergência, ou seja, todos os serviços de saúde
que forem necessários a PCD (BRASIL, 2012a; BRASIL, 2014ª; BRASIL, 2014b; BRASIL,
2014c).
como ferramentas para garantir o cuidado integral e humanizado (BRASIL, 2014a; BRASIL,
2014b).
Entretanto, para Cabral (2019) o braço da política “viver sem limites” na esfera da
saúde não tem conseguido promover um cuidado qualificado e voltado às especificidades das
crianças com sinais de desenvolvimento atípico. Por isso o seu estudo propôs a estudar as
ações realizadas na atenção primária relacionadas a crianças de 0 a 6 anos de idade. Neste
estudo verificouse que há atualmente uma preocupação acentuada para a identificação da
criança com transtorno do Espectro autista e destacouse nas pesquisas o uso do instrumento
MChat, proposto inclusive na diretriz de cuidado da pessoa com TEA (BRASIL, 2014b;
BRASIL, 2014c). Destarte, também se observou que a prática de treinamento de equipes se
fez presente e que os espaços de reuniões de equipe mostravamse espaços potentes para
construção do cuidado.
Nesta discussão sobre cuidado da pessoa com deficiência, não podemos deixar de
pensar que a garantia da qualidade do cuidado, e atualização dos conceitos de saúde e técnicas
de intervenção estão diretamente ligadas a ações de educação permanente.
Absoluto Relativo
Para começarmos esta análise dos dados referentes a este território, é indispensável
analisar os índices de mortalidade infantil. Uma vez, que estamos falando nesta dissertação
sobre intervenção precoce. Ou seja, uma ação que faz parte das estratégias para enfrentamento
desta realidade (WHO, 2016).
Fonte: IBGE/Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (19971999), Censos Demográfico (1991, 2000 e
2010), Contagem Populacional (1996) e projeções e estimativas demográficas (20012009); DATASUS 2012.
Quando comparamos esta taxa com as outras regiões metropolitanas, a baixada santista
mostra um resultado alarmante. Segue a Tabela 6:
Diante Política nacional de promoção à saúde, e busca por garantir os direitos das
pessoas com deficiências, o município de Praia Grande coloca em vigor em 2016 a Lei 1814
que “Institui a Política Municipal de Proteção aos Direitos das Pessoas com Transtorno do
Espectro Autista, e dá outras providências”. Dentre estas providências, destacase no artigo 2,
como diretriz a “intersetorialidade e desenvolvimento das ações e das políticas e no
atendimento à pessoa com Transtorno do Espectro Autista (PRAIA GRANDE, 2016a).
SIPTEA pode ser um equipamento matriciador da rede de cuidado, uma vez que atende
famílias de crianças autistas.
Para Peduzzi e Agreli (2018) relatam em sua pesquisa que a prática colaborativa vem
sendo realizada principalmente no contexto da atenção primária em saúde e explica que “é
preciso que equipes de um mesmo serviço colaborem entre si e que profissionais e equipes de
um serviço colaborem com profissionais e equipes de outros serviços e outros setores na lógica
de redes”. Porém, as equipes de saúde precisam avançar para práticas colaborativas que
envolvam outros serviços da rede de cuidado e principalmente o usuário, família e
comunidade.
Desta maneira o SIPTEA tem como objetivos de trabalho, a busca de recursos e apoio
da gestão do SUS para garantir um atendimento em rede com a participação da criança, da
família, da escola, da comunidade e os outros pontos da rede.
diagnóstico fechado. Sabemos que a criança com sinais de risco para TEA deve ter seu
diagnóstico diferencial, necessitando iniciar as intervenções e orientações familiares logo que
se identificam os primeiros sinais, antes do diagnóstico. Nesta dicotomia, de um lado uma
criança com atrasos do desenvolvimento necessitando de intervenção e de outro um serviço
que necessita de encaminhamento a partir do diagnóstico. Assim, pensando em resolver este
problema, criouse no município de Praia Grande o SIPTEA, com a proposta de avaliar e
iniciar intervenção precoce à criança em seus vários contextos (escola, domicílio e clínica) tão
logo sejam identificados os primeiros sinais de alerta, e também matriciar profissionais da
atenção básica e da escola quanto à identificação e intervenção precoce no TEA.
O SIPTEA recebe crianças com sinais de risco ou diagnóstico fechado de TEA até os
3 anos e 11 meses e é acompanhada até os 4 anos e 11 meses. Segue um quadro
exemplificando o fluxo de encaminhamento na rede. Vale destacar que muitas vezes a escola
identifica sinais e também faz o encaminhamento, ao serviço, porém o mediador desse fluxo
é a atenção básica em saúde.
O SIPTEA pauta seu protocolo nas políticas públicas, e propõe o cuidado integral e
intersetorial. Para o Ministério da Saúde (2016b), é importante que os serviços da
especialidade façam articulação da rede cuidado, principalmente com a rede de ensino da
região, para identificar crianças com atrasos no desenvolvimento ou deficiência, avaliar as
necessidades, dar apoio e orientação aos educadores, às famílias e a comunidade escolar,
visando a adequação do ambiente escolar às especificidades de cada pessoa com deficiência.
de situações
(matriciamento)
Para compreender melhor, o SIPTEA, tem sua sede dentro do CERII. O serviço conta
no momento com uma sala de reuniões e uma sala de atendimento. A equipe tem um
computador para elaboração de materiais, internet, e impressora dividida com a equipe CERII.
Como a equipe ainda é reduzida estas ações intersetoriais acabam sendo direcionadas
para os casos mais complexos, porém o ideal seria para todos os atendidos.
39
Estas visitas são organizadas nas 5 semanas em que as crianças estão em intervenção
domiciliar ministrado pelos pais/cuidadores. Desta forma, o serviço consegue dividir as
famílias em 2 turmas, ou seja, enquanto a primeira turma está nas primeiras 5 semanas e
participando das atividades na unidade, a turma 2 está na intervenção domiciliar e recebendo
a visita da terapeuta na casa, escola ou USAFA.
MCHAT
Autism Treatment Evaluation Checklist – ATEC
Autism Behavior Checklist – ABC/ Protocolo de registro do Inventário de
Comportamentos Autísticos (ICA)
Prova de Vocabulário do teste – ABFW para crianças verbais
Prova de Pragmática do teste – ABFW para crianças não verbais
A equipe também utiliza como instrumento os seguintes testes para compor a avaliação
diagnóstica e elaboração do PEI.
40
Para casos em que ainda não há um diagnóstico fechado, a equipe elabora relatórios
para o especialista de neurologista ou psiquiatria do município. Porém o diagnóstico não
interfere na inserção da criança ao serviço.
Falta no workshop (não há justificativa de falta, pois qualquer membro da família ou amigo pode ir
para representar a criança.)
Falta em 2 encontros do primeiro ciclo de 10 semanas
Nesse processo é importante que os familiares selecionados para tal formação sejam
os responsáveis para orientar todas os indivíduos dessa família e faça o acompanhamento em
todo processo de intervenção precoce nas próximas semanas.
41
Nesse momento pode participar qualquer familiar interessado em conjunto com esse
responsável selecionado. O formato de ensino varia desde modalidade online, por tele
atendimento, até presencial. O principal responsável necessita ser alfabetizado, com facilidade
em leitura e escrita, pois durante todo processo utilizamos textos, planilhas de registro para
coleta de informações no ambiente domiciliar que deverão ser entregues a equipe de
especialistas. Utilizamos nesse processo a apostila elaborada pela equipe, quadro negro
canetas coloridas, vídeos do youtube elaborados pela equipe e também os disponíveis
gratuitamente.
Após esse período de formação básica a família participará de mais dois encontros
conforme o quadro 6 no período de 5 semanas até retornar e iniciar o processo do quadro 5
abaixo.
Quadro 5. Fluxo de atendimento do SIPTEA após a introdução do curso ABA para Famílias
Fluxo de atendimento do SIPTEAprimeiras 5 semanas
Semana Ação Profissionais Participante da família
1° semana Avaliação interdisciplinar 2 terapeutas da equipe Apenas a criança se
individual preferencialmente possível
2° semana Elaboração do PEI Todos os terapeutas Representantes legais,
preferencialmente babás, avós ou adultos
indicados pelos pais
3° semana Treinamento dos pais 2 terapeutas Família com a criança,
preferencialmente ou não (a depender do
PTS)
4° semana Treinamento dos pais 2 terapeutas Família e criança
preferencialmente
5° semana Treinamento dos pais 2 terapeutas Família e criança
preferencialmente
Um instrumento utilizado pela equipe para caracterização dos usuários foi o FormSUS,
que consiste em um Sistema para Criação de Formulários, desenvolvido para dar agilidade,
estruturação e qualidade ao processo de coletar dados. As informações ficam registradas no
DATASUS e ficam protegidas por senha. Este formulário emite uma planilha de resultados
conforme as buscas e gera melhor administração do serviço.
Por fim segue a quantidade de crianças assistidas por USAFAS entrevistadas nesta
pesquisa. O sistema utilizado para categorização dos atendidos no serviço é o FORMSUS,
ferramenta disponibilizada pelo Ministério da Saúde para gestão dos serviços de saúde. Tal
planilha foi editada alterando o nome das unidades de saúde para preservar o sigilo de
informações da pesquisa. Tal informação nos mostra a quantidade de crianças atendidas em
cada unidade de saúde entrevistada. Tais dados não foram critérios de inclusão e exclusão,
apenas informativo que talvez possa contribuir na discussão.
3. OBJETIVOS
4. HIPÓSTESE
5. METODOLOGIA
5.4. Local
Já nas entrevistas individuais, iniciaramse com três entrevistas piloto com a realização
de todo o procedimento descrito aqui, buscando a análise do instrumento e possibilitar
alterações e melhoramentos antes da coleta de dados em si. Assim, a partir das entrevistas
com três profissionais com duração de 20 minutos a 30 minutos, foi possível fazer alterações
necessárias. Foi explicado para os entrevistados que o objetivo desse piloto era descobrir os
pontos fracos e algum problema de entendimento/clareza das questões do instrumento. E, após
esse momento, foi assinado o TCLE. O profissional aceitou essa participação e respondeu às
perguntas iniciais. O estudo piloto revelou que algumas questões eram retóricas, sendo estas
retiradas do instrumento, outras questões eram fechadas e levaram o profissional a responder
somente sim ou não, essas foram alteradas para perguntas abertas. Assim, todas perguntas
iniciaram com enunciados de questões abertas, tais como: descreve um caso, qual sua opinião,
quais ações você faria, etc. Em seguida, os dados do estudo piloto e o roteiro de entrevista
foram analisados por dois profissionais da área. Foram realizadas as alterações necessárias
para melhor aplicabilidade do roteiro, como a organização da sequência de perguntas,
procurando utilizar uma linguagem clara.
5.6.Procedimentos
Desta maneira, a análise de conteúdo não deve ser extremamente vinculada ao texto
ou a técnica, num formalismo excessivo, que prejudique a criatividade e a
capacidade intuitiva do pesquisador, por conseguinte, nem tão subjetiva, levando se
a impor as suas próprias ideias ou valores, no qual o texto passe a funcionar
meramente como confirmador dessas. Outro ponto importante ainda dentro dos
conteúdos, e que esses tendem a serem valorizados à medida que são interpretados,
levandose em consideração o contexto social e histórico sob o qual foram
produzidos.
A inferência também faz parte de análise de conteúdo, pois é a partir da inferência que
produzimos suposições acerca da mensagem, mas para além disso é embasálas com
pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com suas situações concretas de
seus produtores ou receptores.
6. RESULTADOS
Enfermagem, Especialista Em
Profissional 3 47 8 Anos USAFA 3
Pré Natal
Enfermagem Neonatal E
Profissional 4 32 4 Anos USAFA 4
Pediatria
Medicina Residente Em
Profissional 6 27 2 Anos USAFA 6
Saúde Da Família
Profissional 8
39 Psicóloga 18 Anos USAFA 5, 8, 9
NASF
Profissional 9
35 Fisioterapeuta 19 Anos USAFA 5, 8, 9
NASF
Aqui serão apenas apresentados os dados das entrevistas. Logo após, será feito a
articulação e discussão desses dados com os pressupostos teóricos, a questão norteadora da
pesquisa a literatura da área, e posteriormente realizar a conclusão do trabalho, considerações
finais da pesquisa.
6.2.2 Intervenção
Precoce Na
Atenção Básica
A partir de agora será apresentado cada categoria com uma breve análise dos
resultados, seguido das falas dos participantes e as relações com a literatura.
[...] primeira semana de saúde na APS, se possível oportunizando tudo para uma
mesma data: consultas para ambos (mãe e RN), estimulando a presença do pai sempre
que possível, apoio ao aleitamento materno, imunizações, coleta de sangue para o teste
do pezinho, etc. Depois, até a criança completar 2 anos, o objetivo é um
acompanhamento cuidadoso do crescimento e do desenvolvimento da criança pela
equipe de saúde (inclusive com busca de faltosos), com um olhar biopsicossocial não
só para a criança, mas também para as condições do contexto de saúde e de vida de
sua mãe e família, inclusive com as articulações intersetoriais, no território,
necessárias para o projeto terapêutico de cada criança/família (BRASIL 2012b).
Tal resultado nos levanta um alerta para repensar a organização da atenção básica
municipal, uma vez que existem pesquisas suficientes para justificar um acompanhamento mais
assertivo nessa faixa etária bem como documentos oficiais que trazem as orientações e citam
instrumentos de rastreio específicos.
Além dos documentos oficiais já citados neste estudo que orientam o uso das escalas de
acompanhamento dos marcos do desenvolvimento na caderneta da criança, MCHAT, IRDI.
55
Existem pesquisas recentes que discutiram tais ações como por exemplo a dissertação de Moura
(2016) que verificou em seu estudo que o MCHAT pode ser aplicado na consulta de
enfermagem da atenção básica e ainda verificou durante a pesquisa que de 120 crianças, 11
foram identificadas com suspeita de TEA e foram encaminhadas para intervenção precoce nas
unidades CAPSi da região.
● Na 1° semana de vida
● No 1° mês
● No 2° mês
● No 4° mês
● No 6° mês
● No 9° mês
● No 12° mês
● No 18°mês
● No 24° mês
Oliveira (2019) traz a reflexão acerca da identificação precoce, pois esta permite o início
da intervenção precoce, que pode trazer benefícios para a vida desses indivíduos, como melhora
do prognóstico com ganhos significativos e duradouros, fato associado à plasticidade cerebral
e à redução de gastos com tratamento tanto pela família como pelo sistema de saúde pública.
que há casos que não precisarão de densidade tecnológica avançada. Nessas situações,
a capacidade de cuidado na AB necessita da organização do processo de trabalho das
eSF/eAB agregado ao saber de outros núcleos profissionais que podem compor o Nasf
(fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos,
professor/profissional de educação física, assistentes sociais, nutricionistas). Cabe
lembrar que é papel de todas as eSF/eAB, apoiadas ou não pelo Nasf, realizar a
identificação precoce de sinais de desenvolvimento atípico e a busca ativa efetiva dos
casos no território, favorecendo o cuidado em tempo oportuno e o direcionamento
qualificado dos encaminhamentos necessários (BRASIL, 2016b).
Este documento ainda orienta que, por mais que a criança esteja em acompanhamento
com equipes da especialidade, é papel da AB acompanhar o desenvolvimento da criança em
todas as suas áreas (cognitiva, linguagem, motora e social) (BRASIL, 2016b).
Profissional 2.1 (enfermeiro): Na minha área não tem muita criança que usa o serviço
público, mas geralmente elas acompanham só nos primeiros meses. Mas no primeiro ano de
vida o ideal é que elas venham mensalmente e após o segundo ano a cada 6 meses. Para
avaliação do desenvolvimento infantil a gente não usa um instrumento específico e também
nunca usamos o MChat. Mas a gente vai conversando com a família e vai observando as
questões clínicas, e comportamentos.
apenas 3 profissionais relataram estar com algum grupo em funcionamento, destes 3 apenas
dois participam de fato. A justificativa de não realizar essas atividades é a falta de tempo
relacionado ao acesso avançado.
O profissional parecia estar refletindo sobre sua pratica nessa conversa, e as vezes
suspirava ao dizer que a falta de tempo prejudicava.
as orientações sobre DNPM e alegam não ter um protocolo único com instrumentos
padronizados. Em geral, esses profissionais dão suporte a esses grupos e orientações às
famílias, e alguns recorrem a cartilhas com marcos do desenvolvimento da criança como
instrumento de orientação às famílias.
que esse formato é o mais válido do que eu conheço dos territórios que eu já trabalhei a única
unidade que desempenha desse formato que eu considero dentro das possibilidades que a gente
tem hoje na praia grande o mais próximo do ideal.
Ao olhar a Tabela 10 e observar a fala de cada profissional, fica claro que a maioria dos
técnicos acreditam que a intervenção precoce na atenção básica é a identificação e o
encaminhamento para as especialidades. Já outros acreditam que a IP na AB é a identificação
e intervenção. Dois relatam que não há IP na Atenção básica, mas que deveria acontecer. O
profissional 2 relata que se tivesse orientação poderiam estar realizando, mas não define em sua
fala qual modelo seria adequado. O profissional 9 descreve que não há intervenção precoce, por
não haver protocolos, mas o projeto Canguru poderia ser um espaço de IP, porém não há
protocolo para guiar a AB (PRAIA GRANDE, 2016b).
Tais resultados vão de encontro com os referenciais teóricos apontados nas secções
anteriores e aqui fica evidente o quanto o assunto é pertinente e deve ser abordado na atenção
básica. Tais falhas na porta de entrada da saúde geram prejuízos aos acessos dos usuários SUS
a toda rede de cuidado, e em consequência a intervenção tardia no desenvolvimento atípico da
criança.
Steyer, Lamoglia e Bosa (2018), referem que a identificação tardia dos sinais de TEA
estão relacionadas ao fato de que antes dos 3 anos de idade a manifestação dos sintomas são
63
Por mais que o tema “autismo” esteja mais falado ainda temos a realizada no brasil de
conclusão de diagnóstico aos 5 anos de idade (ZANOM et al., 2017).
Umas das hipóteses para a identificação tardia dos sinais de alerta para a criança com
TEA e aplicação dos instrumentos de rastreio é a falta de capacitação, ou de educação
permanente como defini o Ministério da Saúde, dos profissionais da atenção básica incluindo
enfermeiros, pediatras, agentes comunitários em saúde e profissionais da educação (BRASIL,
2012b; PIERCE, 2016; ZANOM et al., 2017; STEYER, LAMOGLIA e BOSA 2018).
O artigo de Steyer, Lamoglia e Bosa (2018) traz uma afirmação de muita importância
que vale até uma citação direta:
No entanto a busca por uma rede qualificada de cuidado deve ser objetivada com muito
cuidado, pois a identificação de sinais de risco de forma inadequada pode trazer preocupações
desnecessárias as famílias, superlotação e aumento de filas de espera nos serviços
especializados (STEYER, LAMOGLIA E BOSA 2018).
A Tabela 10 torna visível os principais pontos dessa discussão, e a seguir a fala de cada
um dos profissionais referente a essa temática.
Tabela 10. Percepção dos profissionais sobre intervenção precoce na Atenção Básica
Percepção dos Profissionais Sobre IP na Atenção Básica
Identificação Identificação
Profissional Não Há Há Projetos
Intervenção Encaminhamento
1 X
2 X
2.1 X
3 X
4 X
5 X Grupo
Formiguinhos
6 X
X
7
8 X Método Canguru
9 X Método Canguru
Profissional 2 (enfermeiro): Então eu acho que de fato não fazemos, acho que se a
minha equipe tivesse um momento de orientação sobre a intervenção precoce, nós
conseguiríamos desenvolver ações aqui. Mas ia ser bom se tivéssemos esse vínculo com a
especialidade. Tento utilizar o protocolo da carteira de vacina, mas nós temos um protocolo de
puericultura próprio.
clínica. A gente não usa um instrumento específico. Mas a gente vai conversando com a família
e vai observando as questões clínicas, e comportamentos.
discutimos com o NASF para ver se tem risco. Se necessário encaminhamos ao SIPTEA. Mas
não temos avaliação formal. A gente sabe da intervenção que ela é muito importante para essas
crianças.
continuidade é a USAFA 5. Esse plano de cuidado aí até os dois anos de idade é o Ribeirópolis.
Tem uma equipe bem diversificada de profissionais. Então enfermeiro, dentista, fisioterapeuta,
nutricionista, psicólogo, e em cada momento assim, a gente se divide, né para ter falas e
orientações aí para as crianças, tanto para desenvolvimento motor, como da saúde bucal,
avaliação, né, os marcos do desenvolvimento, a questões comportamentais e questão da fala,
né. Então várias outras, é temática que venham à tona e tem as avaliações, também né na parte.
Enfermagem da parte clínica é feita nos grupos. São bem dinâmicos assim, é sugestões de
brincadeiras. Então eu acho que esse formato é o mais válido do que eu conheço dos territórios
que eu já trabalhei a única unidade que desempenha desse formato que eu considero dentro das
possibilidades que a gente tem hoje na praia grande o mais próximo do ideal. […] Então existe
o método Canguru, mas que para mim vem pouco. Poucos bebês quando chegam prematuros.
A equipe traz para discutir pelo menos comigo fisio. Eu acho que é mais acompanha com a
pediatria do NASF. Mais para a fisioterapia são poucos. Já acompanhei alguns casos, mas são
raros na Ribeirópolis a enfermeira Ângela, que é responsável pelo método canguru. Sempre que
achar pertinente alguma coisa do desenvolvimento, alguma dúvida. Ela chama para a gente está
avaliando da fisioterapia, mas é uma das poucas enfermeiras que eu percebo isso está. De uma
forma geral a equipe acaba conduzindo sozinha e não tem muito essa troca de saberes. Esse
cuidado mais compartilhado aí em relação ao método. Não a gente trabalha bastante a
conscientização dos profissionais, né no mês e na semana do método canguru, mas de uma
forma geral nas USAFAs, eu não vejo isso muito presente.
Nas falas dos profissionais entrevistados, algo interessante pontuado por alguns
profissionais foi o acesso avançado. Nas entrevistas piloto já apareceram nos relatos queixas
sobre esse modelo de intervenção. Tal assunto não foi colocado no roteiro da entrevista, porém
durante as conversas com os entrevistados ,4 profissionais trouxeram à tona este assunto, 3
como crítica e 1 como elogio, mas essa modalidade de organização de trabalho toma muito
tempo e energia do profissional para atender demandas não agendadas e imprevistos, o que
desvitaliza as ações mais programadas e planejadas de seu dia, tais como as consultas e grupos.
Dessa forma, o trabalho grupal, as ações mais educativas e de promoção de saúde acabam
ficando em segundo plano, e a energia do profissional acaba ficando direcionada para
68
responder de forma individualizada aos imprevistos do dia, o que por um lado acolhe
sofrimentos importantes, garante acesso e acolhimento, mas não constrói ações programadas
e de educação em saúde, como seriam as ações de intervenção precoce.
De acordo com Cirino et al. (2019) o acesso avançado tem uma única regra: “faça o
trabalho de hoje, hoje”:
É uma forma de organização do serviço que permite que pessoas busquem a unidade
por quaisquer problemas de saúde, seja ele urgente, de rotina ou prevenção. Este
sistema preconiza que os usuários sejam atendidos no mesmo dia ou em até 48 horas,
favorecendo a continuidade do cuidado, reduzindo as faltas e diminuindo
significativamente as filas, sem recursos adicionais (CIRINO et al., 2019).
Faria (2017) afirma que esse modelo de atenção requer uma mudança de paradigmas
entre profissionais e usuários, pois rompe com a distinção entre rotina e urgência. Já Gusso e
Poli Neto (2012) destacam a importância de proteger e controlar o cuidado da gestante e da
criança no primeiro ano de vida.
Pires Filho et al (2019) recomendam a adoção de uma organização em que haja uma
agenda aberta e uma agenda protegida destinada a consulta de prénatal, puerpério,
puericultura. Desta forma, define que 90% da agenda pode ser aberta e 10% destinada a
agenda protegida.
as agendas por demandas, eles não atendem a família como um todo. Eles não vêm a
comunidade é muito difícil para eles expandir esse olhar assim. Eles têm muito essa
dificuldade, né.
Profissional 2.1 (enfermeiro): De início esse cuidado da criança autista acaba não
sendo de perto pela atenção básica. E isso se perde. Eu acredito que deveríamos ter mais atenção
para eles. De repente fazer alguma ação com esses grupos, mas com o acesso avançado a nossa
agenda fica toda comprometida. E aí nós acabamos deixando de lado questões que não são
urgentes. Pelo menos para nós enfermeiros.
Ele vai ter o atendimento ali, então vai ficar esperando muito para ter uma consulta e o acesso
que eu percebo é que a população não entende muito a proposta. Sempre os mesmos sendo
atendidos, sabe aqueles pacientes meio que hiperfrequentadores que não entendem muita
proposta. Eh da parte muito imediatista o paciente de achar que se não sair ali com uma receita
do médico, não está. Feito com encaminhamento, ele não está satisfeito. Então acho que falta
um pouco também de compreensão da população sobre o SUS sobre os níveis de atenção de
entender um pouquinho também tirar sair um pouquinho dessa figura, muito centrada no
médico, né. Então muitos casos, dá para ser compartilhados com os outros. Não
necessariamente precisa passar numa consulta médica. Muitas vezes a enfermeira consegue
resolver ali, né no primeiro contato ali com o paciente. Quem faz o acolhimento e muitas vezes
eles não saem satisfeitos porque eles queriam passar com o médico. Então assim tem muito essa
visão Médico com ainda muito centrada no médico e não na equipe, mas eu acho válido sim.
Eu acho que que facilita, né o acesso e eu acho positivo assim um acesso avançado quando bem
aplicado.
Um dos entrevistados destaca que percebe em sua prática a falta de retorno após as EPs
e reitera que a EP no formato atual (aulas dispositivas com temas gerais, como ele citam) não
tem conseguido mudar a prática dos profissionais, pois a conduta antiga tem permanecido.
A experiência de Maranhão et al. (2019) destaca um serviço criado em 2016 que segue
na mesma linha do SIPTEA. O serviço apresentado no Artigo é chamado de SATEA – Serviço
de Atenção ao Transtorno do Espectro Autista.
O Satea está inserido no SUS como serviço de referência ambulatorial para a atenção
à saúde maternoinfantil e para habilitação/reabilitação auditiva, motora e intelectual,
na proposta de Educação Baseada na Comunidade. A criação do Satea veio com a
prerrogativa de atuar na formação, desenvolvimento e educação permanente de
profissionais de saúde, desenvolvendo ações integradas de ensino, pesquisa e extensão
centradas nas concepções de responsabilidade social, equidade, qualidade e eficiência,
para gerar evidências científicas, desenvolver estratégias e promover parcerias
capazes de fortalecer e auxiliar o Sistema Único de Saúde (SUS) (MARANHÃO et
al., 2019).
Tal estudo demonstra o quanto a educação permanente se faz necessária nessa temática,
para a articulação e a efetividade do cuidado em rede.
De acordo com Bárbaro e Dissanayake. (2013) apenas um estudo piloto foi publicado
no país no que se refere a educação em saúde dos profissionais da atenção primária no brasil.
O estudo piloto de Bordini et al. (2014) demonstrou que após o ensino em saúde o treinamento
como chamaram dos profissionais da atenção primária, a identificação e encaminhamento dos
casos suspeitos aos serviços especializados aumentaram 6 vezes comparados a 4 meses
anteriores a pesquisa. Desta forma concluíram que a metodologia utilizada de educação sem
saúde em 5 sessões de treinamentos semanais de 3 horas, podem ser consideradas promissoras.
nas unidades básicas de saúde, constatase uma diminuição na faixa etária dos
encaminhamentos ao serviço.
Nesse quadro abaixo (Quadro 11) podemos perceber que os temas marcantes para os
entrevistados, foram aqueles apresentavam algum produto como materiais impressos, ou que
promoviam ações dos profissionais como teatro, música e oficina. Por outro lado, um dos
entrevistados relata gostar do modelo de aulas dispositivas.
3
Quadro 11 continua na próxima página
73
Profissional 1 (enfermeiro): Bastante coisa está sendo novidade para mim na educação
permanente, o que eu acho que é importante e efetivo é que quem for passar o conteúdo, seja
alguém que domine o tema, mas de forma geral todas as que eu participei foram interessantes
e o que eu gostei foi a EP do SIPTEA que mostrou a carteira de acompanhamento do
desenvolvimento infantil e isso fez muito sentido para minha prática.
Profissional 2.1(enfermeiro): O que marcou foi sobre o método canguru, pois trouxe em
forma de arte, música e isso foi bem interessante. Os mais dinâmicos são mais efetivos, pois
trazem a relação com a prática. É importante a interação entre as pessoas, e não focar na teoria
maçante.
Profissional 3 (enfermeiro): O que achei muito legal foi o folheto que vocês entregaram
na e do siptea, pois eu não tinha por isso não usava também. Achei interessante a ferramenta.
Eu acho que seria interessante e muito mais dinâmico se colocassem específico, para
74
enfermeiros, médicos e auxiliares. Pois eu não faço encaminhamento e tenho que participar de
capacitação de encaminhamento. Acho que seria mais eficaz.
Profissional 5 (enfermeiro): Acho que a capacitação do siptea foi o que mais marcou,
pois vocês mostraram a escala de acompanhamento dos marcos do desenvolvimento e a
necessidade de identificação precoce. E eu fui buscar saber mais na internet.
Profissional 7 (enfermeiro): Gosto das EPs que fazem orientações clínicas e dos serviços
da rede, como por exemplo quando o siptea apresentou. Que eu nem sabia que existia. Foi
explicado como funciona, quais os profissionais envolvidos, público a qual se destina e como
encaminhar. A maioria das EPs são produtivas, pois sempre aborda assuntos da nossa vivência
profissional. O formato de intercalar o assunto abordado com a nossa realidade e a maneira
mais esclarecedora. Eu prefiro as EP em formato de aula mesmo, gosto de receber o
conhecimento, prefiro as aulas dispositivas.
Profissional 9 (fisioterapeuta): Eu vejo que não funciona pelo menos assim o que eu
vejo em relação ao que é bordado e o que acontece nas Usafa né? Então eu imagino. Seria sei
lá a forma que eu que eu percebo através de oficinas, outros tipos de capacitação, às vezes
focado mais no público alvo que vai atuar naquilo porque às vezes os temas não são muito
pertinentes. As pessoas acabam ficando dispersas, né ou a forma da apresentação, Formato atual
acesso não é muito interessante e acaba que a pessoa não presta atenção. Fica no celular. Acaba
não sendo participativo, sendo uma coisa muito mandatória para todo mundo e às vezes não
atinge a proposta. Igual em relação ao SIPTEA, eu não sei como que é para vocês é a devolutiva,
mas para a gente não é positiva, pelo menos para mim, não chega essa demanda, acho que para
psicóloga deve chegar essa demanda, mas para mim da Fisio, nunca chegou nenhum caso em
específico para ser discutido em relação ao desenvolvimento junto, às vezes vem alguma coisa
do desenvolvimento motor. Nunca fui abordado nada em relação ao SIPTEA. E a gente percebe
isso em outras capacitações do NASF, também que a gente já fez várias, né. Nesse decorrer. Aí
as dúvidas elas permanecem, os encaminhamentos permanecem, então a gente vê que se o NEP
fosse feito através de grupos menores, em forma de oficinas, ou uma vivência com feedback na
hora. De repente, o treinamento dentro da usafa, fosse um pouquinho mais efetivo. Porque essa
forma que está hoje, a gente vê que as práticas permanecem as mesmas mesmo depois do NEP.
De modo geral a maioria já participou desses espaços, porém não parece fazer parte da
rotina de trabalho de alguns, como demonstrado no Quadro 12.
76
multiprofissionais. A gente faz é o PTS nos casos mais complexos. A gente sempre estimula a
equipe a fazer junto muitas vezes. Mas eles sempre não querem fazer porque não querem ter
mais trabalho. Não querem ter mais dor de cabeça. Acham que essas reuniões não adiantam de
nada, mas as equipes que tão afim mesmo de resolver o caso, querem ajudar e fazem muito
bem. Mas a maioria não sabe nem como começar a gente tem que fazer tudo convocar os
participantes. E discutir o caso pensar e normalmente o que a gente faz é dos casos bem
complexos. A gente convoca serviços externos, de outras secretarias, assistente social. Mas o
que eu sinto muita falta é que deveria acontecer nos casos do NASF. Isso a gente não consegue
fazer, muita gente tenta essa conversa, mesmo, mas nunca uma conversa de vamos sentar e
vamos fazer o nosso PTS. É bem complicado.
7. DISCUSSÃO
Vamos iniciar esta discussão falando sobre a puericultura na atenção primária, um ponto
importante a ser destacado nessa pesquisa referese ainda à falta de conhecimento que o sistema
78
de saúde, seja ele público ou privado, tem em relação ao diagnóstico e tratamento do pessoa
com autismo, e isso se reflete na falta de políticas públicas direcionadas a essa população bem
como a ausência de protocolos de cuidados bem descritos, apesar de já existirem estudos
científicos que demonstram os caminhos a serem percorridos principalmente na primeira
infância. Esta pesquisa revela, mesmo com uma amostra pequena de entrevistados, a ausência
de protocolos definidos para se abordar a primeira infância de modo geral, ficando a critério do
profissional criar seus próprios meios de trabalho.
Fazse necessária uma reflexão na AB do quanto o acesso avançado pode por um lado
promover acesso, mas por outro sugar as energias e tempo dos profissionais para ações mais
estruturadas de promoção de saúde, incluindo o trabalho de intervenção precoce junto às
crianças, suas famílias e o intersetor nos territórios. Como foi destacado na introdução deste
estudo, não podemos deixar de citar as altas taxas de mortalidade infantil que vivemos na
baixada santista, e fica aqui uma consideração importante em relação a busca por trabalhos de
prevenção e promoção em saúde na atenção primária, bem como buscar o trabalho em rede
entre maternidade e atenção básica. Muitas vezes essa relação entre equipamentos da rede fica
dificuldade devido à distância, mas estudos, relatos de experiência sobre essa regulação de
vagas e ação em conjunta devem ser discutidas no âmbito do SUS.
Fazendo uma costura agora com essa discussão do cuidado em puericultura na atenção
básica poderíamos já pensar sobre qual o papel da atenção básica após a identificação do
80
desenvolvimento infantil em risco, como no caso da criança com suspeita de TEA. Em 2016 o
ministério da saúde lançou o documento sobre estimulação precoce na AB, devido ao grande
número de casos de microcefalia no país. Este documento nos ajuda a ver qual papel da atenção
básica na primeira infância e nos apresenta que é muito mais do que só identificar, mas também
tem o papel de contribuir com a formação da família para que sejam agentes de cuidado efetivo
de suas crianças, como destaca em um dos papeis dos profissionais de saúde.
Além disso os documentos específicos da pessoa com TEA, nos mostram que a
intervenção precoce começa na AB. O protocolo do Estado de São Paulo por exemplo, destaca
que:
Casos de menor gravidade devem ser mantidos em tratamento pelas UBS, Equipes de
Estratégia de Saúde da Família (médicos de família, enfermeiros, dentistas), com
apoio do NASF; ações de matriciamento do CAPS são importantes para a manutenção
dos casos no território. O CAPS é responsável pelo projeto terapêutico e a referência
em saúde mental para o cuidado ao TEA e, quando necessário, o CAPS pode acionar
outros pontos da rede, como serviços universitários ou referências específicas para
atendimento ao TEA (SÃO PAULO, 2014).
A partir destes encontros foi possível estreitar os vínculos entre profissionais e assim
facilitar a realização do cuidado em saúde dessas famílias acompanhadas. Destacamse aqui
alguns exemplos como: mensagens de WhatsApp entre especialidade e atenção básica, tirando
dúvidas sobre marcos do desenvolvimento infantil, sobre encaminhamento, fluxo de
encaminhamento, documentos burocráticos, que acabam por evitar idas e vindas desnecessárias
dessas famílias pelos equipamentos de saúde. Além de facilitar o contato direto com agentes
comunitários de saúde em relação aos casos específicos de famílias em acompanhamento no
SIPTEA.
Vale lembrar que esta pesquisa foi desenvolvida em um período atípico em virtude da
Pandemia COVID19 que tomou o ano todo de 2020 e adentra em 2021, e na qual os meios de
comunicação e redes sociais virtuais tem sido fundamental para continuar o cuidado das
famílias em acompanhamento.
Os atendimentos as famílias do SIPTEA de forma remota foram possíveis uma vez que
o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO publicou a
RESOLUÇÃO Nº 516, DE 20 DE MARÇO DE 2020 autorizando os atendimentos no formato
de Teleconsulta, Telemonitoramento e Teleconsultoria e especifica no artigo 1: “§ 1º A
Teleconsulta consiste na consulta clínica registrada e realizada pelo Fisioterapeuta ou Terapeuta
Ocupacional à distância”
Neste período de março de 2020 até março de 2021 os atendimentos se deram por meio
de teleatendimento por meio de aplicativos de mensagens diretas como whatsapp, lives nas
redes sociais criadas como o canal do youtube “SIPTEA AUTISMO” e utilização do google
forms (plataforma gratuita do google para criação de formulários) para inclusão de
questionários de triagem para o serviço, e foi possível incluir questionários de rastreio para
diagnóstico como MCHAT, ATEC e ABC para que os pais respondessem em casa com
tranquilidade, ou para os terapeutas utilizarem durante os encontros.
Como resultado desta pesquisa fica a sugestão para que o município possa continuar o
matriciamento em cada unidade de saúde da família, como ocorreu em janeiro e fevereiro do
ano 2020, antes da pandemia do COVID19. Para contribuir com esses encontros de prática
colaborativa em educação permanente foi elaborado um livreto de apoio para que cada agente
de saúde entregue às famílias acompanhadas com crianças de 0 a 3 anos. Este livreto tem o
propósito de auxiliar o processo do desenvolvimento infantil de qualquer criança pequena,
intitulada “Minha USAFA cuida de mim”. E pode ser replicado em qualquer município
interessado.
Ao mesmo tempo que esta pesquisa trouxe contribuições para a prática do SIPTEA na
educação permanente em saúde, passamos a refletir sobre a educação em saúde para as famílias
em acompanhamento no SIPTEA. Juntamente com as mudanças no processo de educação
permanente com a rede de cuidado foi elaborado como produto deste mestrado um livreto para
formação teórica e pratica dos cuidadores dessas crianças, intitulado de “ABA para famílias”.
Tal material já está em uso desde abril de 2020, as famílias recebem o material impresso e em
arquivo digital para leitura em seus parelhos celulares ou computadores. Como o SIPTEA
trabalha com intervenção implementada pelos pais/cuidadores, o livreto traz o apoio teórico,
associado a todo processo dessas famílias na aprendizagem prática da intervenção precoce na
rotina domiciliar.
Para concluir este estudo vamos refletir sobre a base de qualquer intervenção quando se
fala na saúde da pessoa com deficiência. O plano terapêutico singular, apareceu nos resultados
dessa pesquisa como algo que parecia distante da realidade diária dos entrevistados, alguns
profissionais tiveram tal experiência, porém não eram frequentes. Quando analisamos os
documentos oficiais do nosso pais, observamos que o PTS é indicado na atenção básica para os
casos complexos, mas quando se fala em pessoa com deficiência, tal mecanismo se faz
obrigatório (BRASIL, 2016b, BRASIL, 2012a, SÃO PAULO,2014). O plano terapêutico é um
84
recurso que irá contribuir com a produção do comum daquele cidadão em toda rede de cuidado,
e existe aí o desafio para tornar essa construção coletiva e em parceria com a própria pessoa
com deficiência, como foi a experiência do profissional 9, onde conseguiu reunir vários
equipamentos da rede para ajudar uma adolescente mãe de um bebe com paralisia cerebral
descrito na página 78 e 79.
85
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma esta pesquisa deixa registrado o SIPTEA, como serviço de intervenção
precoce e treinamento de pais no âmbito do SUS, bem como suas ações de matriciamento e
educação permanente em saúde na rede de cuidados. Esperase que este serviço e esta
abordagem em educação permanente sirvam de exemplo a quem necessitar.
87
REFERÊNCIAS
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2012/lei/l12764.htm>.
As informações a seguir estão sendo fornecidas para sua participação voluntária neste
estudo, que tem por objetivo geral compreender a percepção dos profissionais da atenção
básica em saúde acerca da identificação precoce do transtorno do espectro autista no intuito
de aprimorar o cuidado partilhado entre o Serviço de Intervenção Precoce no Transtorno do
Espectro Autista com a Atenção Básica em saúde. Para tanto, serão entrevistados profissionais
da atenção básica, cuja participação deve ser voluntária e as entrevistas agendadas de acordo
com a disponibilidade de cada participante e realizadas nas dependências da rede municipal
de saúde, em local reservado e de melhor conveniência ao entrevistado. O tempo previsto para
cada entrevista é de, no máximo, 40 minutos. Será também realizado um grupo focal com
profissionais da equipe de Núcleo Ampliado da Saúde da Família (NASF), com duração de
no máximo 1hora e 30min. O grupo focal será agendado de acordo com a disponibilidade de
todos os participantes e será realizado no CERPG.
Em qualquer etapa deste estudo, você terá acesso à profissional responsável pela
pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. A Pesquisadora Lucimara Patricia Patti
pode ser encontrada no telefone: (13) 997182134 ou por email: [email protected]. E a
Orientadora é a Profa. Dra. Stella Maris Nicolau que pode ser encontrado no endereço Rua
Silva Jardim, 136. Vila Mathias – Santos – SP. Telefones: (13) 32290275 (11)996074314 ou
por email: [email protected].
Ao término da pesquisa, os resultados serão disponibilizados.
Este termo será assinado em duas vias originais sendo uma para o participante e outra
para a pesquisadora.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em
contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua Francisco de Castro nº 55, Vila
Clementino, CEP 04020050, (11) 5539 7162 e 5571 1062, – email: [email protected].
97
Eu, Lucimara Patricia Patti o, certifico que expliquei a (o) Sr. (a)
_________________________________________________________________, acima, a
natureza, propósito e benefícios associados à sua participação nesta pesquisa e que respondi
todas as questões que me foram feitas. Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o
Consentimento Livre e Esclarecido deste participante.
● NOME:
● IDADE:
● GRADUAÇÃO EM:
● TEMPO DE FORMAÇÃO:
● PÓS GRADUAÇÃO EM: ANO:
● TEMPO DE TRABALHO NESSE SERVIÇO:
Roteiro de entrevista semiestruturada para profissionais da atenção básica: