Afroperspectivismo em Psicoterapia
Afroperspectivismo em Psicoterapia
Afroperspectivismo em Psicoterapia
ISSN: 1676-3041
ISSN: 1808-4281
Universidade do Estado do Rio De Janeiro
DOI: https://doi.org/10.12957/epp.2019.49293
Maiara da Silva***
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Vitória, Espírito Santo, Brasil
RESUMO
Apresentamos a intervenção do projeto de extensão “Gestalt-Terapia, escuta
e acolhimento psicológico de grupos”, realizado desde 2018 por alunos
extensionistas negros do Curso de Psicologia da Universidade Federal do
Espírito Santo utilizando a abordagem Gestáltica. O objetivo é desenvolver a
prática do acolhimento psicológico de grupos, para homens e mulheres
negras, principalmente universitários. Para tanto, foram realizados 07
encontros no ano de 2018 (04 participantes) e 15 encontros no ano de 2019
(07 participantes), sendo 04 mulheres e 07 homens, com idades entre 19 e
45 anos. Os encontros aconteceram no Núcleo de Psicologia Aplicada em
horário noturno. Os principais recursos terapêuticos são provenientes da
expressão verbal e corporal, entretanto, músicas, vivências e atividades de
colagens foram agregadas. Os resultados parciais indicaram que os
encontros grupais proporcionaram cuidado e reconhecimento de si, do
mundo e do outro, e melhora da autoestima na população assistida. Os
participantes reconheceram muitos processos que interrompem as trocas
afetivas, como resultado do racismo estrutural que a população negra
brasileira vivencia. A consciência corporal e afetiva possibilitou uma
reaproximação dos afetos positivos entre pessoas negras, de modo a
reafirmar as características positivas dessa população.
Palavras-chaves: racismo, juventude negra, autoestima, autoimagem.
ISSN 1808-4281
Dossiê
Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro v. 19 n. 4 p. 927-946
Gestalt-Terapia
Andrea dos Santos Nascimento, Gabriela Faria de Souza,
Maiara da Silva, Mário Silva de Oliveira
ABSTRACT
We present the intervention of the extension project “Gestalt-Therapy,
listening and psychological reception of groups”, conducted since 2018 by
black extension students of the Psychology Course of the Federal University
of Espírito Santo using the Gestaltic approach. The objective is to develop
the practice of psychological group reception for black men and women,
mainly university students. To this end, 07 meetings were held in 2018 (04
participants) and 15 meetings in 2019 (07 participants), 04 women and 07
men, aged 19 to 45 years old. The meetings took place at the Center for
Applied Psychology at night time. The main therapeutic resources came from
verbal and body expression, however, songs, experiences and collage
activities were added. The partial results indicated that the group meetings
provided care and recognition of self, of the world and the other, it also
improved self-esteem in the assisted population. The participants recognized
many processes that interrupt affective exchanges as a result of the
structural racism that the black Brazilian population experiences. Body and
affective awareness made it possible to re-approach positive affections
among black people in order to reaffirm the positive characteristics of this
population.
Keywords: racism, black youth, self-esteem, self-image.
RESUMEN
Presentamos la intervención del proyecto de extensión “Terapia Gestalt,
escucha y acogimiento psicológico de grupos”, realizado desde 2018 por
estudiantes negros extensionistas del Curso de Psicología de la Universidad
Federal do Espírito Santo utilizando el enfoque Gestáltico. El objetivo es
desarrollar una práctica de acogimiento psicológico de grupos, para hombres
y mujeres negros, principalmente estudiantes universitarios. Para esto, fue
realizado 07 encuentros en el año de 2018 (04 participantes) y 15
encuentros en el año de 2019 (07 participantes), siendo 04 mujeres y 07
hombres, con edades comprendidas entre 19 y 45 años. Los encuentros
ocurrieron en el Núcleo de Psicología Aplicada en horario nocturno. Los
principales recursos terapéuticos provenían de la expresión verbal y
corporal, sin embargo, se agregaron la música, las experiencias y
actividades de collage. Los resultados parciales indicaron que los encuentros
grupales proporcionaron cuidado y reconocimiento de sí mismos, del mundo
y del otro, y mejoraron la autoestima de la población asistida. Los
participantes reconocieron muchos procesos que interrumpieron,
destacándose los intercambios afectivos como resultado de un racismo
estructural que la populación negra brasileña experimenta. La consciencia
corporal y afectiva posibilitó una reaproximación de los afectos positivos
entre personas negras, a modo de reafirmar las características positivas de
esta populación.
Palabras clave: racismo, juventud negra, autoestima, autoimagen.
Resultados e discussão
“Meu pai não aceita meu cabelo, diz que eu fico feio com ele
grande, mas eu não raspo, é bonito assim.” (Zumbi dos
Palmares, 22 anos).
“Eu não pegava sol, porque eu não queria ficar mais preta.
Uma vez fui a praia e na volta minhas primas falaram que eu
estava mais preta, eu corri para minha mãe chorando e
perguntando se eu estava mais preta. Minha mãe me acalmou
dizendo que não havia como ficar mais preta. Eu não tomava
café com medo de ficar mais preta.” (Jacimba Gaba, 19 anos).
“Teve ocasiões em que eu estava tão cansado que só
conseguia pensar em como queria ser branco, pois as coisas
seriam mais fáceis.” (Zumbi dos Palmares, 22 anos).
Gomes (2017) afirma que o corpo negro deve ser entendido não
apenas em sua existência material, mas também em sua dimensão
simbólica e política. O movimento percebido no grupo reflete os
efeitos do processo mais amplo descrito pela autora, que descreve
que aos poucos ter um corpo negro no Brasil e expressar a negritude
Considerações finais
Referências
Notas
* Professora doutora da Universidade Federal do Espírito Santo. Responsável pela
disciplina de Gestalt-Terapia. Pesquisadora das áreas de orientação sexual e de
gênero, violência contra a mulher, cultura e negritude brasileira.
** Psicóloga clínica. Formação pelo Instituto de Gestalt de São Paulo em
andamento.
*** Graduanda do 8° período do curso de Psicologia pela UFES. Atua como
extensionista voluntária no Projeto de Extensão “Gestalt-Terapia, escuta e
acolhimento psicológico de grupos”.
**** Graduação em Teologia. Estudante de Psicologia. Especialização em Gestão e
Políticas e Segurança Pública. Atua como voluntário no Projeto de Extensão
“Gestalt-Terapia, escuta e acolhimento psicológico de grupos”.
1
Em 2017 foram selecionados para extensionistas um estudante branco e uma
estudante negra para a atividade no ano seguinte. O estudante branco foi um dos
idealizadores do projeto, entretanto seu desejo, assim como o da coordenadora,
era que os dois facilitadores do grupo fossem pessoas negras. Esse aluno só aceitou
ser extensionista após uma, das duas vagas, não ter sido preenchida por outra
pessoa negra, havendo, portanto, uma vaga disponível. Ao final de 2018 para
exercício em 2019, foram selecionados dois estudantes negros retintos, sendo um
do sexo masculino e outro do sexo feminino.
2
Tássia Reis. (2016). Da Lama / Afrontamento (part. Stefanie). Outra Esfera. São
Paulo: Tássia Reis / Independente.